sábado, 11 de janeiro de 2014

NA ALVORADA DE 2014


Vittorio Medioli
Por se tratar de um começo de ano tem sempre quem se exercite com a bola de cristal. O que acontecerá? Respeito os astros, às vezes me aconselho com alguém que interpreta o firmamento, mas também acredito que nada está previamente determinado. Existe uma atração fatal num sentido determinado, mas o livre-arbítrio e o merecimento têm capacidade de vencer qualquer tendência adversa. Assim como é aconselhável iniciar a viagem com a maré a favor, ninguém poderá parar quem tem habilidade para enfrentar a maré contrária.
Já que esse é um ano de eleição presidencial, se pode sentir o palpitar nesses dias da vontade de mudança, especialmente de uma classe mais exigente, crítica, desesperançada, agora muito mais numerosa e unida pelas redes sociais de comunicação.
Mesmo com escassa capacidade de introspecção se enxergam evidências de estragos numa sociedade afastada de princípios morais mais sólidos, anestesiada circunstancialmente pela incipiente facilidade de consumo.
Na história não se encontram casos de lassidão moral associados a prosperidade, as exceções duraram pequenos lapsos e se encerraram desastradamente. Crise ética no comando se alastra desgraçadamente por todo lado.
Enquanto dura a festa parece que não haverá fim. Entretanto, a democracia sem princípios éticos é como um veículo sem freio, destinado a capotar na anarquia. Essa é uma equação ensinada nos séculos de história.
INDOLÊNCIA
Sinais alarmantes se multiplicam. Governantes mais preocupados com o poder que com a nação, apenas isso seria suficiente para desagregar qualquer projeto de nação. Mas a indolência, a falta de disposição, a ignorância e o interesse mesquinho acabam consagrando no poder quem dele almeja para se locupletar.
“No inferno – segundo Dante – os lugares piores estão reservados àqueles que, em época de crise moral, ficaram neutros”. Quer dizer que, contrariando os códigos legais, pior será no inferno para os neutros que para os próprios locupletados. A sabedoria de Dante dá um calafrio nos insossos e admoesta os políticos silenciosos.
Os partidos “históricos” perderam abruptamente o rumo da ideologia, misturam-se com mais de 40 siglas com norte nos bolsos, no poder, na vaidade que assombra a devastada área publico/política tupiniquim.
Quem se salva? Difícil de se dizer. Depois que Demóstenes Torres foi pilhado, não se consegue acreditar em mais ninguém. Até as Cassandras modernas sofrem de bipolaridade.
NA PAPUDA
Quem mais se definia ético há apenas 12 anos atrás, hoje está preso na Papuda. A ética perfuma apenas discursos de palanque, para inglês ver, para juventude sonhar e para o povão votar.
Cabe refletir: se a mais definida força partidária, autoproclamada como ética e incorruptível, está na Papuda, onde estão os honestos? Em alguns Estados os adversários se foram honestos esqueceram-se de se mostrar honestos. E, ainda, pagam o castigo que Dante previa para os “neutros” nos momentos de grave crise moral.
A disputa que se dava mostrando virtudes, hoje se trava empurrando nos adversários “dossiês” que verdadeiros, meio verdadeiros ou até integralmente fajutos dão a cota ínfima da luta política.
Há uma sensação que nos últimos anos quem detinha o poder banqueteou fartamente, delapidou o patrimônio nacional, mas os adversários “silenciosos” passaram os dias lambendo as migalhas que caíam da mesa?
Pouco interessa se isso é verdadeiro! A verdade, com polícia e tribunais “políticos”, nunca chega a público, como cupim fica roendo as colunas do sistema. O que mais conta de imediato é a “sensação” distribuída ao público, é essa que influencia o eleitor comum numa “democracia”.
MORALIDADE
Obviamente não haveria dúvida em arguir que o exercício da moralidade férrea estaria hoje gozando de preferência inconteste entre eleitores. Na sua falta, Dilma conseguiu fazer esquecer a afinidade com os inquilinos da Papuda. Situa-se no meio da geleia geral, e já que a exposição midiática de um presidente é vinte vezes aquela de um concorrente, a “notoriedade” passa a ser “virtude”, pouca importam os sinais de um governo desastrado e oportunista, focado no desfrute do poder.
Apostar agora as fichas num candidato é como atirar no escuro.
Os astros estão contra Dilma, terá muita dificuldade, dependerá mais dos adversários persistirem no erro, já que as possibilidades dela manobrar numa economia esgarçada são mínimas.
De qualquer forma o povo brasileiro pode se preparar para enfrentar as dívidas fundadas na falta de princípios éticos de governantes coniventes com a imoralidade.

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