sexta-feira, 23 de novembro de 2012

David Sanborn e Phil Woods: Señor Blues




A crise do Judiciário e da magistratura



Humberto Guedes
Podemos falar de crise do Judiciário sob a ótica da magistratura, em vários ângulos. Os magistrados, aqui, são mui melhor remunerados que seriam nos países desenvolvidos, experimentando, em razão disso, distorção da realidade – poder-se-ia imaginar, muito mal comparando a Maria Antonieta, ao estranhar que os miseráveis franceses não comiam brioche, na falta de pão comum.
Suas Excelências, via de regra, ingressam na carreira mui jovens, isto impede-os de adquirir diversificado preparo intelectual, indispensável, pois o Direito é fenômeno cultural e não só um conjunto de regras de conduta, que um guardinha qualquer há de operar por mimetismo mnemônico.
Carecem, naturalmente, de refino emocional, vez que o cargo encerra peso, suportável somente pela vivência, exigindo mínimo de efetiva e inequívoca experiência como profissional do Direito, onde estará próximo das agruras da vida real.
Assim, impregnados de vida, lograriam atuar com a indispensável sensibilidade que os habilitaria, por exemplo, a conversar de igual para igual com advogados sem se sentir ameaçados, a tratar os institutos jurídicos com o “encarnamento” que somente a advocacia propicia, a pôr-se no lugar do outro, entre outras capacidades inibidas pelo “bunker emocional” em que se vêem obrigados a se guardar.
Também, falta-lhes embasamento cultural adequado, pois, fizeram-se, tão-só, operadores do Direito, estudaram Direito e ponto, com raras exceções. Donde, nas últimas décadas inadvertidamente decaíram da condição de juristas, concorrendo nefastamente à funcionalização da vida, responsável pela débâcle do último umbral da esperança social em que se consubstancia efetivametne a Justiça.
A situação, pois, é complexa, e principia por voto de humildade, justo daqueles hoje alojados nas estruturas de poder deste inestimável segmento político social, pelo qual não nos falta respeito, que é a Justiça. Assim, não se sentindo desafiados, ofendidos com a realidade acima delineada.
Soma-se, ao final, ao largo dos palácios faraônicos erigidos por todos os lados, a relação pífia de juiz/habitante, como a deficiência do número de funcionários – vive-se, neste tocante, a mentalidade feitoral de extorquir das situações o máximo proveito, com o mínimo de empenho, mesmo que com isso se mate a finalidade: Justiça rápida e barata.
Saudações, antes de tudo republicanas, de culto ao primado da liberdade, da dignificação da pessoa humana, conquanto isto nada signifique para as barulhentas mentalidades de pragmatismo, de calculismo, de funcionalização, de rentismo em voga.

OBRA-PRIMA DO DIA - FOTOGRAFIA Margaret Bourke-White (Semana dos Fotógrafos)


Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 
23.11.2012
 | 12h00m

Margaret Bourke-White foi uma pioneira do fotojornalismo. Teve sempre a sorte - ou o dom? - de estar no lugar certo na hora certa. Por exemplo, ela entrevistou Gandhi horas antes dele ser assassinado. Seu colega e amigo Alfred Eisenstaedt dizia que seu sucesso era devido ao fato dela não recusar nenhuma missão, de achar que fotografar era sempre importante.
Durante sua carreira ela foi torpedeada no Mediterrâneo, bombardeada pela Luftwaffe em Moscou, encontrada como náufraga numa ilha do Ártico, vítima de um acidente quando o helicóptero em que viajava afundou na baía de Cheasapeake.
Foi a primeira ocidental a documentar em fotos a indústria soviética depois da Revolução de 17, a criar um guia fotográfico da Tchecoslováquia e outros estados balcânicos antes que Hitler invadisse a região e desse início à II Guerra Mundial. Estava em Moscou quando a Alemanha começou a bombardear sua antiga aliada.
De 1940 a 1945 ela foi a correspondente de guerra da Revista Life. Foi a primeira mulher habilitada a servir em zonas de ocupação militar como documentarista para o Exército americano.

Única foto de Stalin sorrindo: acabara de receber o emissário de Roosevelt

Pleno blackout, o Kremlim iluminado pelo traçado das bombas e holofotes

Civis alemães obrigados pelos americanos a ver o inferno de perto em Buchenwald

sem legenda

Suicídio do tesoureiro de Leipzig, mulher e filha, para não se renderem aos aliados.

Parada da Vitória em Berlim: Jhukov, entre Patton e um oficial inglês.

Bourke-White tem fotos em muitos museus e é reconhecida como uma das grandes em sua arte. Mas creio que testemunhar o que testemunhou, e deixar para a posteridade os documentos que deixou, foi seu maior feito. Ela, ao contrário do que possam pensar, sofreu para fazer algumas dessas fotos, mas se declarou grata por ter entre ela e o que via sua Leica que lhe serviu de escudo contra o horror.
Margaret Bourke-White nasceu em junho de 1904 e faleceu em agosto de 1971.

OLHA A SACANAGEM AÍ GENTE!!!



Giulio Sanmartini
A coisa começou em 26 de maio de 2007, quando da revista Veja, noticiou que o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL- foto), recebia recursos da empreiteira Mendes Junior, através do lobista Cláudio Gontijo, que pagava, em dinheiro vivo pensão para Mônica Veloso, com quem tinha uma filha fora do casamento. Eram R$ 4,5 mil de aluguel de um apartamento de quatro quartos em Brasília e mais a pensão mensal de R$ 12 mil.
Dois dias depois Renan da Tribuna do Senado pede perdão à família e desculpas ao lobista, pela exposição de seu nome.
Em 6 de junho daquele ano, o Conselho de Ética do Senado instala processo contra Renan por quebra de decoro parlamentar.
Passada uma semana, o primeiro relator do caso Renan, senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA) apresenta parecer no qual diz que não há provas contra o peemedebista e sugere o arquivamento do processo.
Revista “Veja” em 4/8 publica nova reportagem contra Renan na qual informa que o senador é sócio oculto de uma empresa de comunicação em Alagoas. Ele teria usado laranjas e pago R$ 1,3 milhão em dinheiro vivo, parte em dólares, para virar sócio de duas emissoras de rádio em Alagoas, que valem cerca de R$ 2,5 milhões.
Mas numa vergonhosa manifestação de corporativismo, com  votação a portas fechadas  e secreta, seus colegas senadores o absolveram e ele continuou sentado na sua cadeira senatorial.
Passado 5 anos, como se nada tivesse havido, esse pulha está manobrando para voltar à presidência do Senado.
A grande sacanagem, está armada com a omissão da presidência da República. Renan ficou com o nome marcado, por isso não é o candidato preferido pelo Planalto, mas como ele ainda tem grande influência no PMDB, a “presidenta” resolveu não se envolver temendo que  uma  ação contra ele acabe produzindo seqüelas.
Entendo que o país esteja passando por uma fase de puro surrealismo, uma vez que o poder Executivo teme um comprovado corrupto. “Quosque Tandem…?” (Até quando?)

Notas do cárcere



Percival Puggina
Raramente leio páginas policiais. Evito fazê-lo para não acrescentar doses extras de horror a meus próprios calafrios. Vivemos com medo, aferrolhados. Em nossas conversas habituais não faltam relatos de pavor e sangue. São apontamentos nos diários do cárcere, do cárcere em que nos recolhemos, inseguros e acossados. Há um pânico instalado no país e ele não distingue classe social nem cor da pele, campo e cidade. Como consequência, quem de nós, quando um bandido é morto no exercício de suas atividades, não exclama intimamente: “Um a menos!?”
É sobre essa síndrome que escrevo. Ela tem agentes causadores bem determinados. Não encontro pessoas com medo de serem vítimas de grandes crimes novelescos, por vingança, ciúme, herança ou dívida. O que encontro são pessoas com medo da criminalidade hoje considerada trivial, corriqueira, cotidiana. As pessoas temem ser espancadas ou mortas nas calçadas por motivo fútil. Percebêmo-nos sujeitos a isso.
Volta e meia alguém, ao nosso redor, foi parar na mala do carro ou experimentou o metal frio do revólver encostado na cabeça. Quem sai vivo de tais enrascadas ajoelha-se gratificado e lava o passeio com lágrimas de ira e júbilo. Um ano depois, os mais extremados rememoram a data, reúnem a família e sopram velinha. Festejam aniversário. São sobreviventes da criminalidade cotidiana.
O que descrevo tem tudo a ver com luta de classes, com pobres e ricos, com oprimidos e opressores. Mas não pelo motivo que lhe indicam certos analistas. É a bolorenta leitura marxista, conflituosa, da realidade social, sem a qual não conseguem pensar, que produz essa inoperância do Estado e suas consequências. É ela que responde pelo abandono do sistema carcerário e pelo desapreço às instituições policiais. É ela que redige a generosa benignidade dos códigos e os favores concedidos por leis penais que desarmam os juízes bons e compõem o arsenal dos maus. É uma leitura da realidade que minimiza aquilo que apavora o cidadão e aterroriza a sociedade. É uma leitura da realidade que legisla e atua na contramão do que todos temos o direito de exigir. Criminaliza a vítima e absolve o réu.
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INDULGÊNCIA
O bandido que nos sobressalta certamente já foi preso. O desmanche para onde vai nosso automóvel roubado durante o assalto já foi fechado várias vezes. Mas alguém no aparelho estatal não fez e não faz o que lhe corresponde. O legislador brasileiro dispõe sobre matéria penal como se vivesse numa realidade suíça. Inúmeros magistrados desvelam-se em zelos para com os bandidos. Elevam desnecessariamente os riscos a que está exposta a sociedade sob sua jurisdição.
E não faltam formadores de opinião para pedir penas brandas exatamente para esse tipo de crime cotidiano, covarde e violento, de consequências sempre imprevisíveis. Em tal contexto, conceder indultos generalizados e soltar presos a rodo é uma bofetada oficial nas vítimas.
Progressão automática de regime, na realidade brasileira? Quanta irresponsabilidade! Existe coisa mais escancarada do que o tal semiaberto? Prisão domiciliar? Estão brincando. “Mas faltam presídios!”, alegam os protetores dos apenados.
A situação dos presídios brasileiros extrai hipérboles do ministro da Justiça. Mas há dez anos o grupo do ministro governa, dá as cartas e joga de mão no país. Quem sabe Sua Excelência espera que os contribuintes, à conta própria, saiam por aí a construir presídios? Lidam irresponsavelmente com coisa seriíssima, senhores! Da rendição do Estado ante a criminalidade sobrevirão a anomia e o caos.
(Do Blog do Puggina)

POEMA DA NOITE - Ao mesmo tempo - Vitor Paiva



Ao mesmo tempo 
que declamo certezas 
as mais belas 
aquelas que, de tão plenas, 
no fundo passamos todo o tempo a desafiá-las 
e que, por não haver respostas, 
seguem, dentre incertezas, 
se oferecendo para serem desvendadas
Sou também 
o eterno será? 
que nem dito é 
Que só se sente 
Que derruba tudo com um gasto dos olhos 
E que também é belo 
(e que há de ser belo) 
mas que às vezes se confunde 
(se é confundido) 
com a solidão
Uma solidão adquirida 
(como que escolhida) 
e que, por isso, arde mais 
dói ainda mais
Mas não é
Um pouco como o sim do amor 
dos afetos 
como se o sorriso pudesse sempre mais do que o grito 
em todos os sentidos 
mesmo quando só o grito é possível, e feito 
seria melhor com um sorriso 
só isso
Não adianta querer dar jeito 
nesse incessante desrespeito que tenho 
pelo que nos confina 
à doutrina da felicidade futura 
ne fingir que nada merece alcançar 
o ponto final na caligrafia 
(até o arremate do estilo) 
Que não há poesia que resista ao esforço da voz 
já que o tempo, veloz, virá para nos embaralhar de novo 
ao início pálido
Tudo é mentira
Não sei o que falo
Só sei que amo 
que nunca encerro a pergunta 
que me divido 
e ao mesmo tempo 
me calo

Vitor Paiva (3 de março de 1983) - Além de poeta, é músico, escritor e produtor cultural. Oriundo do CEP 20000 (Centro de Experimentação Poética) é fundador e baixista da banda Os Outros. Publicou os livros de poemas 'Tudo que Não é Cavalo' em 2004, e 'Boca Aberta' em 2007. Contribuiu com crônicas e artigos para diversos meios de comunicação, dentre eles Jornal Brasil, Pasquim 21 e a Revista da MTV.