quinta-feira, 26 de julho de 2012

Um peso, duas medidas



Quinta-feira, 26 de julho de 2012 | 15:14







 

Por Elton Santos - É no mínimo muito estranho. Uma parte de servidores - auditores e inspetores de controle interno - da Secretaria de Transparência conseguiu na justiça, o direito de não divulgarem na internet os próprios salários. As informações constam do Mandado de Segurança Nº 2012 00 2015310-0 emitido pelo Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal em favor da categoria.

Acontece que é o próprio órgão fiscalizador, o responsável pela publicação dos salários dos servidores do administrativo do DF. Nos últimos dias, inclusive, as informações do salário na internet causaram muitos embates.

Na decisão, o desembargador Mário Machado, desqualifica a divulgação dos salários na internet. "Saciará sim, a curiosidade da mídia e da sociedade, permitindo enfoques e desdobramentos que nada tem a ver com os objetivos legais", disse.

A situação chegou a ser divulgada pelo Correio Braziliense. A decisão foi comemorada pelo Sindicato dos Servidores Integrantes da Carreira Auditoria de Controle Interno do DF(Sindifico) em seu portal na web.
O secretário Carlos Higino, por sua vez, garantiu que vai empenhar esforços para derrubar a decisão do TJDFT. E que a divulgação de todos os salários é "questão de tempo".
É o que a sociedade espera.
Fonte: Redação

Ministros do Supremo exigem aumento que terá efeito cascata nos outros poderes.



Carlos Newton
A pressão em cima da presidente Dilma Rousseff é impressionante. O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Carlos Ayres Britto, insiste em defender a garantia de recursos, no Orçamento da União de 2013, para o reajuste salarial de magistrados e servidores do Judiciário.
Dois projetos que tratam de reajuste para o Judiciário estão tramitando no Congresso. Um deles cria novo plano de cargos e salários para os servidores do Judiciário e prevê reajuste médio de 36%, podendo chegar a 56% em alguns casos, com impacto de R$ 7,8 bilhões. O outro projeto aumenta os vencimentos dos ministros do Supremo de R$ 26,5 mil para cerca de R$ 32 mil.
Ayres Britto defende a tese de que não adianta ter projetos no Congresso que garantam o reajuste, porque, sem a garantia de recursos orçamentários, as propostas não se inviabilizam.
Segundo a reporter Tania Monteiro, do Estadão, a presidente Dilma teria repetido o discurso que tem feito ao longo do tempo para rejeitar qualquer tipo de reajuste neste momento. Alegou a sua preocupação com a crise econômica cujas consequências ainda não são totalmente conhecidas e que não há margem fiscal para conceder reajustes neste momento, já que o governo tem dado prioridade ao enfrentamento da crise, com preservação do emprego de quem não tem estabilidade.
Mas é claro que os magistrados voltarão à carga pelo aumento salarial. Em meio a essa saraivada de greves, a situação é preocupante. Se a presidente Dilma Rousseff aceitar a pressão do Judiciário, elevando o teto dos ministros do Supremo, haverá aumentos também no Executivo e no Legislativo, em efeito cascata. Mas país rico é assim mesmo. Pode deixar os profissionais da educação e da saúde na miséria, que ninguém liga. Mas a elite do serviço público tem sempre de permanecer privilegiada.
Que país é esse, Francelino Pereira? “É o pais dos magistrados”, diria o filósofo mineiro/piauiense, acrescentando: “São morosos e impunes, mas mandam mesmo!”

Na Saúde Pública do DF falta remédio, mais sobra água fria



18:05:39

Quem assiste pela televisão o caos vivido na rede pública de saúde do DF, não tem ideia do que muitas vezes está por trás da notícia. Um exemplo foi o cancelamento das cirurgias no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) por falta de anestésicos. Pacientes que não foram ouvidos pela imprensa local relatam que estavam em jejum das 22h de domingo até às 16h de segunda no aguardo pela chegada do medicamento. ...

Os doentes relatam que ao começarem o pré-cirúrgico, às 6h da manhã, tiveram que tomar banho gelado no hospital, uma vez que o chuveiro elétrico estava queimado. "Foi um desespero total. Tinha os profissionais que estavam todos lá, mas de braços cruzados, sem poder fazer nada", relatou ao blog uma paciente. O mais impressionante é que, em alguns casos, foi a terceira vez que a operação foi adiada.
Fonte: Redação - 26/07/2012 - 21:13

Da traição, por Paulo Coelho



qui, 26/07/12
por Paulo Coelho 
O profeta caminhava pela rua, perguntando: “não somos todos filhos do mesmo Pai Eterno?” A multidão concordava. E o profeta continuava: “e se é assim, por que traímos nosso irmão?”
Um garoto que assistia, perguntou ao pai: “o que é trair?”
“É enganar o seu companheiro de luta, para conseguir determinada vantagem”, explicou o pai.
“E por que traímos nosso companheiro?” insistiu o garoto.
“Porque, no passado, alguém começou isto. Desde então, ninguém soube como parar a roda. Estamos sempre traindo ou sendo traídos”.
“Então não trairei ninguém”, disse o garoto. E assim fez. Cresceu, apanhou muito da vida, mas manteve sua promessa. Morreu velho.
Seus filhos sofreram menos e apanharam menos.
Seus netos nada sofreram.

Pais devem estabelecer regras de estudo na volta às aulas



Uma queixa comum dos pais em relação aos filhos é a falta de responsabilidade deles com a escola. Por mais que falem e cobrem, eles pouco estudam ou fazem lição. O incômodo existe mesmo quando os resultados são positivos.
Por um lado, há a ideia do aluno perfeito, que faz as obrigações espontaneamente e estuda todos os dias, garantindo bom desempenho nas avaliações. Pelo outro, temos o aluno real, cujo  aprender é cansativo e prefere, com certa frequência, brincar a ter que se debruçar sobre cadernos e livros. Nessa categoria, encontra-se a maior parte dos estudantes.
A responsabilidade é algo que se aprende, seja pelo exemplo dado pelos pais, seja pelo exercício. Uma das maneiras de ajudar os pequenos a desenvolverem esse aspecto é orientando-os para que se organizem.
Quando o ano letivo se inicia, alguns combinados podem ser feitos com as crianças possibilitando que deem conta das tarefas escolares. Além de combinar é necessário que sejam cobradas para que as sigam. Alguns pais estabelecem regras e as escrevem em cartazes coloridos, colocando-os sobre a escrivaninha. E só. Esperam que elas as sigam. As crianças estão se desenvolvendo e precisam dos adultos para que cumpram seus deveres.
Para tanto, é necessário acordar as regras de estudo com a criança – nem ela e nem os pais sozinhos devem decidir como serão. A participação delas garante a possibilidade de cobrança caso não cumpram, visto que as aceitaram. Já a dos pais, permite a dosagem certa do estudo. Algumas crianças se empolgam tanto no início do ano que se propõem a estudar três horas diárias, sendo que mal dão conta de uma. Ou o inverso, consideram meia hora o suficiente.
Como se dará a dedicação ao estudo dependerá de cada criança. Algumas gostam de chegar da escola e já estudar. Outras precisam de um tempo de descanso, para depois pegarem os livros. Têm aquelas que não conseguem se organizar sozinhas e precisam da presença do adulto. Cada criança é uma.  Ao verificar como é seu filho, o melhor é esquecer a imagem do aluno ideal. É esse,  de carne e osso, que importará para o estabelecimento de qualquer regra.
Às vezes, porém, esses combinados precisam ser revistos. O meio do ano, após cinco meses de estudo, é um bom momento para se fazer isso. As aulas estão para começar. É hora de sentar com o filho e ver como as coisas transcorreram até então. Fazer um balanço do que foi bom e daquilo que precisa ser melhorado.
Desta forma, ajudamos os pequenos a tomarem consciência de si próprios, exercitando pensar sobre sua pessoa, além de assinalar a possibilidade que sempre existe de mudarmos as coisas. Sem contar que estimulamos para que se organizem e tenham responsabilidade com os estudos, estando junto deles. Estudo é algo para ser levado a sério.
De certo modo, o segundo semestre é um recomeço. A maneira como iniciamos algo dá o tom de como será seu ritmo. Que todos comecem com o pé direito.
Boa volta às aulas!!!

A ordem é geral, por Cristina Lobos




A presidente Dilma Rousseff deu uma ordem expressa à equipe: ninguém deve comentar o julgamento da Ação Penal 470, que é a do caso do mensalão. “Nem em off”, relatou um assessor.
O objetivo é deixar o assunto mensalão longe do Palácio do Planalto. A seus interlocutores, Dilma demonstrou que nunca quis interferir no momento do julgamento – como tentou o ex-presidente Lula. Ela disse que “esta é uma dor que tem de ser sentida”, ou seja, em algum momento o julgamento será feito. “Então que seja”, disse ela, segundo um interlocutor.
Enquanto o Supremo Tribunal estará às voltas com o julgamento, o Legislativo praticamente paralisado em recesso branco e os políticos em campanha, Dilma pretende anunciar novos programas de governo. Entre eles, está no dia 7 em reunião com empresários, o projeto de renovação das concessões de energia às atuais empresas concessionárias e, ainda, propostas de concessão nas áreas de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.

'Estou com medo', diz Jefferson sobre a cirurgia Presidente do PTB fará nesta sexta-feira cirurgia para retirada de um tumor no pâncreas; ele é um dos 38 réus do mensalão


26 de julho de 2012 | 17h 57

Luciana Nunes Leal
Aos 59 anos, o ex-deputado Roberto Jefferson, autor da denúncia do mensalão e um dos 38 réus do processo, está com medo. Confessou na manhã de quarta-feira, 25, ao se internar no Hospital Samaritano, em Botafogo, na zona sul do Rio, onde será submetido, na sexta-feira, 27, à cirurgia para retirada de um tumor no pâncreas. A uma semana do início do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), Jefferson, que teve o mandato cassado em setembro de 2005, diz que, desde a descoberta da doença, o veredito da Justiça tornou-se uma preocupação menor.

Ex-deputado Roberto Jefferson fará cirurgia para retirada de tumor no pâncreas - Tasso Marcelo/AE
Tasso Marcelo/AE
Ex-deputado Roberto Jefferson fará cirurgia para retirada de tumor no pâncreas
"Não vou falar que sou herói. Estou com medo. Não depende mais de mim, não estou mais no comando do navio. Mas estou muito bem espiritualmente", disse o ex-deputado, pouco antes de começar mais uma série de exames preparatórios. Além do tumor de 4 centímetros na cabeça do pâncreas, serão retirados também o duodeno e parte do intestino delgado e do canal do fígado. Não é só a cirurgia - que deve durar entre oito e dez horas - que preocupa Jefferson. O ex-deputado está na expectativa do resultado da biópsia, que apontará se o tumor é benigno ou maligno. Os exames indicam que o tumor não é o mais agressivo, mas o cirurgião responsável, Ribamar Azevedo, diz que é preciso esperar.
Além da retirara do tumor, Azevedo vai desfazer a cirurgia bariátrica a que Jefferson foi submetido em 2000. Será retirado o anel que estreita a entrada do estômago. "Vou reconstruir o estômago", diz o médico. Segundo Ribamar, a reversão da cirurgia é necessária porque a retirada de parte do pâncreas e de segmentos de outros órgãos diminui a absorção de alimentos e faz o paciente emagrecer. Se a redução do estômago fosse mantida, ele emagreceria além do limite saudável.
Jefferson recebeu o diagnóstico do tumor na quinta-feira, 19, dia seguinte da convenção do PTB que o reconduziu à presidência do partido por mais três anos. O comando partidário é sua principal atividade. O ex-deputado participou das negociações para as principais alianças destas eleições, como a coligação com o PRB de Celso Russomano em São Paulo. No Rio, ratificou a aliança iniciada em 2008 com o prefeito Eduardo Paes (PMDB), candidato à reeleição.
Ao contrário do acordo que diz ter firmado com os petistas para as eleições municipais de 2004, em que o PTB receberia R$ 20 milhões do PT para a campanha de seus candidatos, Jefferson afirma que as alianças atuais não envolvem financiamento. "Os cuidados hoje são muito maiores", disse o líder petebista na quarta-feira, véspera da internação, em seu escritório no Rio. Em 2005, depois de denunciar o pagamento de propina a deputados governistas, Jefferson disse ter recebido R$ 4 milhões do PT. Foi incluído no processo do mensalão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, crimes que nega ter cometido.
"Em São Paulo, o próprio PTB vai financiar seus candidatos. No Rio, o material que roda para o Eduardo Paes roda para os candidatos do PTB, não envolve financiamento. Eduardo é meu amigo, foi do PTB. Um menino correto, faz um senhor governo. Não fica em restaurantes de luxo, não frequenta as cidades do circuito dos milionários, não faz foto com guardanapo na cabeça", disse Jefferson, no tom provocativo de sempre, em referência indireta ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), de quem, em tese, também é aliado.
Entre os candidatos a vereador pelo PTB carioca está a filha do ex-deputado, Cristiane Brasil, de 38 anos, que deixou a Secretaria Especial de Envelhecimento Saudável da prefeitura para fazer campanha. Jefferson estimula a carreira política da filha, mas não quer vê-la candidata a deputada federal. "Não deixei que ela fosse para Brasília. Lá ainda tem muita gente que me odeia. Depois do julgamento do mensalão começará um novo momento", justifica.
"As pessoas me abraçam na rua, estão acompanhando tudo em relação ao meu pai, sobre a cirurgia, o julgamento. Meus eleitores são principalmente da terceira idade, o conhecem desde O Povo da TV", diz Cristiane, lembrando o programa da extinta TV Tupi onde Jefferson ganhou notoriedade como advogado dos pobres.
A tensão por causa da cirurgia não desviou o deputado da paixão pelas motocicletas Harley Davidson - tem uma Road King e uma Fat Boy - e do hábito diário de fazer exercícios para manter a forma. Na terça-feira, no Samaritano, recusou a cadeira de rodas para passar de um sala de exames a outra. Tirou a roupa de hospital, vestiu calça, camisa e sapatos e foi andando. "Não vou sair de cadeira de rodas, se posso caminhar perfeitamente", reagiu.

Lya Luft: Empregar o máximo de recursos em educação não quebra o país, coisa nenhuma: só constrói



"Sendo bom esse instinto, o fator educação terá de ser visto como o mais importante de todos na construção de um país mais justo"
"Não será governo de todos o comando dos poucos que estudaram bem, os informados, levando pela argola do nariz de bicho domesticado milhões e milhões de seres humanos cegos, aflitos ou alienados, que não sabem"
(Publicado em VEJA de 18 de julho de 2012)


O instinto animal
“Sendo bom esse instinto, o fator educação terá de ser visto como o mais importante de todos na construção de um país mais justo”

Lya Luft
Lya Luft
Alguns traduzem por “instinto animal” o que o economista inglês John Maynard Keynes na década de 30 descreveu como animal spirit, isto é, espírito animal. A tradução do termo original não importa muito, importa o que significa, e significa várias coisas: o gosto ou a capacidade pelo risco ao investir, por exemplo, quando se fala em empresários e economia.
Neste artigo tomo a expressão como nossa capacidade geral de sentir, pressentir algo, e agir conforme. Isso se refere não só a indivíduos, mas a grupos, instituições, Estados, governos. Sendo intuição e audácia, ele melhora se misturado com alguma prudência e sabedoria, para que o bolo não desande.
Não me parece muito apurado o espírito animal que, nas palavras de uma autoridade, declara que empregar 7% do PIB em educação (e 10% em mais alguns anos) vai “quebrar o país”. Educação não quebra nada: só constrói. Sendo bom esse instinto ou espírito, o fator educação terá de ser visto como o mais importante de todos. Aquele, sólido e ótimo, sem o qual não há crescimento, não há economia saudável, não há felicidade.
A verdadeira democracia só floresce no terreno da boa educação e ótima informação do povo
Uso sem medo o termo “felicidade”, pois não me refiro a uma cômoda alienação e ignorância dos problemas, mas ao mínimo de harmonia interna pessoal, e com o mundo que nos rodeia. Não precisar ter angústias extremas com relação ao essencial para a nossa dignidade: moradia, alimentação, saúde, trabalho. Como base para tudo isso, educação.
Educação que pode consumir bem mais do que 7% do PIB sem quebrar coisa alguma, exceto a nossa miséria nascida da ignorância; nossas escolhas erradas nascidas da desinformação; nossa má qualidade de vida; e a falta de visão quanto àquilo que temos direito de receber ou de conquistar, com a plena consciência que nasce da educação.
A verdadeira democracia só floresce no terreno da boa educação e ótima informação de seu povo. Pois não será governo de todos o comando dos poucos que estudaram bem, os informados, levando pela argola do nariz de bicho domesticado milhões e milhões de seres humanos cegos, aflitos ou alienados, que não sabem; e que, se quiserem boa educação desde as bases na infância, correm o risco de ser acusados de querer quebrar o país.
Precisamos medir nossas palavras: cuidar do que dizemos, do que escrevemos, e também do que pensamos e não dizemos. Podem acusar quanto quiserem os empresários, os louros de olhos azuis, as elites, os ricos, os intelectuais, não importa: mas não acusem de querer o mal da nação aqueles que batalham pela mera sobrevivência ou por uma vida melhor, num orçamento que tenha a educação como prioridade.
Para não estarmos entre os últimos nas listas de povos mais ou menos educados e saudáveis, mas plenamente inseridos no mundo civilizado
Educação já, "para não estarmos entre os últimos nas listas de povos mais ou menos educados e saudáveis, mas plenamente inseridos no mundo civilizado" (Foto: Eduardo Martino/Documentography)
Na treva da ignorância nasce o atraso
Pois não é certo que da treva sempre nasce a luz: dela brotam como flores fatídicas o sofrimento, a miséria, a subserviência.
Na treva da ignorância nasce o atraso, de suas raízes se alimenta a pobreza em todos os sentidos, financeira, moral, intelectual. Uma educação bem cuidada e fomentada, com professores bem pagos, boas escolas desde a creche até a universidade, com orientação sadia e não ideológica, mas realmente cultural, aberta ao mundo e não isolacionista, grande e não rasa, promove crescimento, nos insere no chamado concerto das nações, e nos torna respeitados – nos faz incluídos, consultados, procurados.
Na vida do país, cuidar é também iluminar a mente
Dirão que continuo repetitiva com esse tema: sou, e serei, porque acredito nisso. Precisamos ter cuidados pelos que nos governam: se nas relações pessoais amar é cuidar, na vida do país cuidar é nutrir não só o corpo e fortalecer condições materiais de vida, mas iluminar a mente.
Para que a gente possa ter esperanças fundamentadas, emprego digno, salário compensador, morando e trabalhando num ambiente saudável, aprendendo a administrar nossos ganhos, poucos ou abundantes. Para não estarmos entre os últimos nas listas de povos mais ou menos educados e saudáveis, mas plenamente inseridos no mundo civilizado.
Parece utopia, aceito isso. Mas batalharei, com muitos outros, para que ela se transforme na nossa mais fundamental realidade: simples assim.

Boa notícia do Senado: projeto pretende acabar com nepotismo e reeleições de cartolas do esporte



PARCERIA NA FITA Depois do escândalo, Teixeira e Havelange já renunciaram aos cargos na CBF e no COI (Foto: Wilton Junior / AE)
Ricardo Teixeira, 23 anos à frente da hoje CBF: a família comandando por 41 anos o futebol brasileiro; Havelange, que lá permaneceu 18 anos, depois entronizou o genro (Foto: Wilton Junior / AE)
Millôr Fernandes escreveu uma vez que se deve sempre ler a seção dos obituários dos jornais, porque “às vezes, temos surpresas agradabilíssimas”.
Pois aconselho a que se leia sempre que possível as informações da Agência Senado, porque ali, volta e meia, surgem boas notícias.
Vejam abaixo a notícia a que se refere o título — se é que a nefanda “bancada da bola” não vai acabar com as boas intenções do projeto, que evitaria barbaridades como João Havelange reinando por 18 anos à frente do futebol brasileiro e mais tarde colocando o próprio genro, na época um joão-ninguém, Ricardo Teixeira, que lá permaneceu por mais 23 anos. Quase meio século de nepotismo:

Da Agência Senado
Projeto que impede a reeleição ilimitada de dirigentes de federações e confederações esportivas e restringe a quatro anos a duração máxima de um mandato está em análise na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado (CE).
A proposta (PLS 253/12) do senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) também proíbe a nomeação de parentes para ocuparem cargos nas instituições. De acordo com o parlamentar, muitas das associações são comandadas por “verdadeiras dinastias” que se perpetuam por décadas no poder.
“A candidatura de parentes de ocupantes de postos diretivos é beneficiada pelo prestígio decorrente do parentesco. Para tanto, prevemos que as hipóteses de inegibilidade se apliquem aos cônjuges e parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do dirigente eleito para o mandato com exercício imediatamente anterior às eleições”, explica Cássio.
O projeto altera a chamada Lei Pelé (Lei nº 9.615, de 24 de março 1998) que estabelece hipóteses de inelegibilidade para cargos e funções eletivas ou de livre nomeação de dirigentes de entidades desportivas.
“A alternância no poder, além de procedimento de cunho democrático, pode prevenir a prática de abusos continuados, assegurando a igualdade entre os candidatos em disputa”, argumenta o senador no projeto.
Proposta similar
Outro projeto que propõe a limitação dos mandatos de presidentes de federações e confederações também está em análise na comissão: oPLS 328/10.
Conforme a proposta, de autoria do então senador Alfredo Cotait, “os clubes, federações, confederações e outras associações esportivas não poderão receber subvenções e quaisquer outras verbas do orçamento federal e de empresas sob controle estatal federal se os mandatos de seus presidentes e outros diretores excederem a duração de quatro anos, admitida a reeleição para período de idêntica duração em um único mandato subsequente”.
Se passar pela CE, o projeto, que tem como relator o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), será encaminhado à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), sendo que nesta em decisão terminativa [ou seja, não precisará passar pela votação de todos os senadores, salvo se houver requerimento neste sentido.].

O guerrilheiro de festim combate na casa da mãe e o detetive de chanchada esquece o mensalão para investigar as alianças do PT


Lula avisou mais de uma vez que, tão logo deixasse a Presidência, enfim teria tempo para provar que o mensalão fora uma farsa engendrada por oposicionistas decididos a apeá-lo do poder. Mais de uma vez, José Dirceu avisou que, para impedir que um julgamento político resultasse na condenação de um inocente, trataria de mobilizar o que chama de “forças progressistas e movimentos populares”. É compreensível que o sumiço simultâneo do chefe supremo e do comandante militar do PT, que se estendeu por 15 dias, tenha levado a companheirada aos limites da excitação. O que andaria fazendo a dupla?

As explicações oficiais só serviram para ampliar a ansiedade coletiva. Ninguém acreditou que Lula saíra de cena para recuperar-se de sequelas do tratamento do câncer na laringe, nem que Dirceu resolvera conceder-se uma folga para voltar com a corda toda às vésperas do julgamento no Supremo Tribunal Federal. Na cabeça dos devotos da seita lulopetista, o ex-presidente estava completando o desmonte da trama golpista e o o ex-chefe da Casa Civil coordenava na clandestinidade a montagem do exército de voluntários.
Tanta excitação para nada, frustraram-se todos com a reaparição dos desaparecidos. No domingo, o Estadão revelou o que fizera Dirceu nas duas semanas anteriores. Na primeira, esqueceu as reuniões com líderes das forças progressistas para reencontrar os amigos de Cruzeiro do Oeste, cidade do interior paranaense onde se escondeu durante cinco anos na década de 70. Ali, com o nome de Carlos Henrique Gouveia de Mello e disfarçado de comerciante, o revolucionário diplomado em Cuba combateu a ditadura entrincheirado na caixa registradora do Magazine do Homem.
Disso já se sabia. O que só se soube agora é que o combatente em férias passava horas a fio sentado na mesa do boteco localizado em frente da loja de Clara Becker, vendo a mulher trabalhar. Foi por isso que ganhou o apelido de “Pedro Caroço”, o personagem da música de Genival Lacerda que fica o tempo todo de olho na butique dela. O amigo que revelou essa técnica de combate também contou que Dirceu só soube que o filho havia nascido ao voltar de outra pescaria ─ e de mais uma batalha contra cardumes de lambaris.
Depois do passeio em Cruzeiro do Oeste, o líder de massas imaginárias adiou a mobilização dos  movimentos populares para repousar uma semana em Passa Quatro, cidade mineira onde nasceu. Em vez de combinar com os oficiais a hora e o local do começo da luta nas ruas, preferiu entrincheirar-se na casa da mãe ─ um lugar sempre aconchegante e seguro. Como registra o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, pelo menos conseguiu o apoio dos parentes. Todos prometem rezar unidos para que o pecador da família escape do merecidíssimo castigo.
Lula voltou na segunda-feira, para a reunião com dirigentes do PT que convocara na véspera. Os convocados esperavam ouvir novidades espetaculares sobre o mensalão. Ouviram perguntas tão relevantes quanto o passeio de Dirceu. “Estamos com a Vanessa Graziotin em Manaus?”, quis saber já na abertura dos trabalhos. Nem esperou pela resposta para a segunda interrogação: “Fechamos com o PCdoB em Florianópolis?”. Como o mensalão nem deu as caras na conversa, é possível que Lula tenha resolvido ressuscitar a primeira mentira: ele nunca soube de nada.
Os companheiros passaram 15 dias sonhando com a volta do mobilizador de multidões e do investigador genial. Reencontraram um guerrilheiro de festim e um detetive de chanchada. Todos se merecem.

Os Amigos do Marcola – Petralhas, setores da imprensa, Ministério Público, Defensoria e, indiretamente, governo federal se juntam para atacar Segurança Pública de SP. Eles têm preconceitos e agenda política; eu tenho os números e os fatos


26/07/2012
 às 6:39


Brasileiros e, muito especialmente, paulistas! A canalhice que se arma contra a Polícia de São Paulo precisa ser caracterizada e denunciada. Querem um dado da equação que está sendo omitido? Se o índice de homicídios do Brasil fosse igual ao do estado, 28.302 vidas seriam poupadas por ano. Leiam o texto, façam o debate e enfrentem a canalha petralha e seus serviçais com números, com dados.
*
Escrevi ontem à noite um texto sobre os números da violência em São Paulo — e alguns outros ainda antes disso por conta da histeria contra a polícia do Estado patrocinada por alguns setores — e isso inclui parcela considerável da imprensa. Ainda não se decidiu se a polícia é branda demais e permite que os bandidos atuem livremente, aterrorizando a população, ou se é violenta demais e mata demais, atingindo, de vez em quando, quem não é bandido. Na dúvida, abraçam-se as duas teses. Tudo vale a pena se é para achincalhar a polícia, atingir o governo do Estado e, no fim das contas, fazer política. Qual é a verdade? Nem uma coisa nem outra. Nem o estado está à mercê da bandidagem — isso é uma vigarice política! — nem a polícia sai matando a esmo. A divulgação dos números levou alguns tontos a imaginar que eu pudesse, sei lá, me dar por vencido. Quem sabe finalmente eu me rendesse… Por quê? Eles endossam tudo o que tenho escrito a respeito e desautorizam os terroristas e chicaneiros.
Decidi manter o texto de ontem à noite logo abaixo deste porque são complementares. Se o número de assassinatos dolosos (homicídios mais latrocínios) havidos no estado no primeiro semestre se repetir no segundo, o estado de São Paulo fechará o ano com 4.714 casos, o que representará 11,42 mortos por grupos de 100 mil. Vejam o quadro que está no post abaixo deste. Em 2010, com 13,9, São Paulo já tinha a terceira melhor marca do país. São assassinadas, em média, 50 mil pessoas POR ANO no país, o que é um escândalo! Em um ano e meio de guerra civil síria, já lembrei aqui, morreram 17 mil. O Brasil tem 190 milhões de habitantes. São 26,3 mortos por 100 mil. Eis o primeiro grande contraste: o índice nacional corresponde a 2,3 vezes o do Estado. Façam a conta: se os mortos por 100 mil do país fossem iguais aos de São Paulo, em vez de 50 mil homicídios, haveria 21.698 — seriam poupadas 28.302 vidas. Nada menos!
“Ah, mas a violência cresceu neste primeiro semestre em relação ao primeiro semestre do ano passado!” Cresceu, sim! Jamais escrevi que não — até porque não tinha os dados. Mas vejam que coisa: os latrocínios, que são os casos que mais mobilizam o noticiário e que atemorizam as pessoas — e não sem motivos — tiveram até uma ligeira queda. Não obstante, tem-se a impressão de que as pessoas estão morrendo como moscas por aí. “Então está tudo bem, Reinaldo, nada com que se preocupar???” Ora… É claro que o aumento é, sim, preocupante. Mas é preciso haver senso de proporção.
O Estadão estampa hoje na primeira página: “Homicídios crescem 47% em São Paulo”. Refere-se a números só da capital. Pior: é um dado do mês de junho na comparação com maio. Essa evolução mês a mês não quer dizer grande coisa nem quando sobe nem quando cai. Na sua coluna na Folha Online, Gilberto Dimenstein não perdeu a chance: “Vivemos uma calamidade”. Este senhor decreta a existência de uma “calamidade” no estado que deve ter hoje o segundo ou terceiro melhor índice de homicídios do país.
Não, não estou querendo dar uma de Poliana, não! Existe o aumento de ocorrências, e ele tem de ser pesquisado e demanda ações da polícia — não me atrevo a dizer quais porque não sou especialista da área. Mas daí a querer caracterizar uma situação de perda de controle? Tenham paciência! Hoje, um procurador (leiam posts abaixo) pedirá nada menos do que o afastamento do comando da PM, aí por conta das duas mortes havidas na semana passada, em duas abordagens desastradas. CONTRA OS NÚMEROS, CONTRA AS EVIDÊNCIAS, CONTRA UMA POLÍTICA DE SEGURANÇA QUE TEM UM HISTÓRICO, pretende-se decretar a existência do caos — ou da “calamidade” — no estado. Hoje, na CBN, se é que já não o fez ontem, Dimenstein dará curso a seu alarmismo.  Só que há uma notícia chata pra ele: EU TENHO MEMÓRIA.
Dimenstein e os fatosEu gosto que lembrem as coisas que escrevi. Eu mesmo o faço. Está chegando aí “O País dos Petralhas II”, como sabem. E também gosto de lembrar o que outros escreveram. Querem ver como são as coisas?
No dia 12 de abril de 2010 — SIM, TAMBÉM ERA UM ANO ELEITORAL —, o sr. Dimenstein escreveu isto aqui, ó, que vai em vermelho. Leiam com atenção!
Assassinos contra Serra
O slogan “Pode Mais” de José Serra é, do ponto de vista de marketing, ótimo. Um fato, porém, é capaz de arranhar a força dessa mensagem: os assassinos de São Paulo.

Tenho comentado aqui por várias vezes que a pior notícia da gestão Serra foi o aumento da violência, especialmente o roubo, que, no passado, bateu recorde. Na semana seguinte em que Serra oficializa sua candidatura presencial, sabemos que a taxa de homicídio aumentou 12% nos três primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período de 2009.
Uma das grandes conquistas de São Paulo – e, em especial da cidade – foi a queda contínua dos homicídios, agora revertida. Diga-se que, em comparação com as grandes cidades, o índice é baixo. Mas é um tema que, certamente, vai entrar no debate sucessório, caso as estatísticas não mudem rapidamente.
Pode-se explicar, em parte, o roubo pela crise econômica –mas não a taxa de assassinato. Nesse caso, pelo menos até aqui, Serra pôde menos.
Voltei
Viram só? Dimenstein jogava a responsabilidade pelo aumento de homicídios nas costas de Serra. Na campanha eleitoral, Dilma Rousseff e Marina Silva se referiram aos números de São Paulo — que já estavam entre os melhores do país — como se fossem negativos. Sabem o que aconteceu em 2010? O ano fechou COM A MENOR TAXA DE HOMICÍDIOS DA HISTÓRIA!!! Pela primeira vez, o estado atingiu a marca de 10 homicídios por 100 mil habitantes — na capital, chegou a ficar abaixo disso. Obviamente, Dimenstein não se desculpou com Serra. Com a mesma ligeireza engajada com que escreveu a coluna de 2010, escreveu a de ontem. Serra era candidato em 2010 e é agora. E Dimenstein continua o mesmo.
Bom mesmo é governar o Rio!Não vou entrar numa guerrinha ridícula, como pretendem alguns. Até porque não acho que o Rio pertença mais aos fluminenses do que a mim. Já disse que não reconheço essas categorias. Minha pátria de verdade é a Fazenda Santa Cândida, entenderam? É lá que corre o rio da minha aldeia. Todo o resto é terra estrangeira. Mas como negar? Bom é governar o Rio!
Sim, a taxa de homicídios caiu lá também. Mas ainda é o dobro da de São Paulo — e, obviamente, não se ouve falar em calamidade! Uma policial é assassinada numa área dita “pacificada”, e o assunto merece o tratamento de exceção. Mais: a presidente Dilma Rousseff enviou uma carta à família da moça — no que fez muito bem, diga-se! — e falou na construção “da paz”. Há áreas em Niterói em que os índices de violência cresceram mil por cento por conta da migração dos bandidos que deixam as favelas “pacificadas” do Rio. Mas não se fala, em nenhum momento, em descontrole ou calamidade. A “pegada” das reportagens sempre indica um poder público no controle da situação, por mais periclitante que ela se mostre.
Mas São Paulo??? Ah, São Paulo, vocês sabem, esta à beira da desordem e da anomia. AINDA QUE OS DADOS DEMONSTREM QUE ISSO É ESTUPIDAMENTE MENTIROSO! Comecem uma contagem regressiva: vamos ver quanto tempo vai demorar para a ministra Maria do Rosário falar uma bobagem… Os blogs sujos, financiados por estatais, estão fazendo a festa, se refestelando na lama. 
Concluo
Olhem aqui: houve, sim, crescimento no número de homicídios no estado. A polícia tem de tentar saber por quê, identificar as áreas, estudar as ocorrências etc. Mas não se esqueçam disto: São Paulo segue tendo uma das melhores e mais eficientes polícias do país, COMO REVELAM OS NÚMEROS. Não caiam na conversa daqueles que preferem se comportar como aliados objetivos de Marcola.
Façam o debate munidos com dados! Chutem o traseiro retórico de prosélitos e petralhas vigaristas! Ah, claro! Eu ainda voltarei a este assunto, à campanha pela descriminação da maconha na TV, à pressão dos cretinos para que o Brasil prenda menos bandidos em vez de prender mais, a todas as boas ideias que matam destes supostos humanistas de miolo mole.
Por Reinaldo Azevedo

Crônica - O suspiro



Menalton Braff

Menalton Braff

Ex-professor, é contista, romancista (com 18 obras publicadas) e cronista.
Volte aqui, ela me dizia apontando com o lápis uma passagem na partitura que não tinha saído boa. Eu voltava com a paciência que é permitido exigir de uma criança,  enquanto ela suspirava. Muitas vezes a surpreendia com os olhos parados na barra do infinito e suspirando ruidosamente. Nestes momentos, a picardia infantil inventava brincadeiras, como tocar alguma coisa diferente do que mandava o Método. Às vezes ela percebia a brincadeira e suspirando exigia que voltássemos ao exercício. Às vezes, raras vezes, pois quase sempre continuava com os olhos parados em uma lembrança, uma preocupação que eu não poderia imaginar qual fosse.
Naquele tempo eu não sabia ainda o que é suspiro. Foto: Galeria de Rafael Minguet/Flickr
Sem conhecimento da vida, eu chegava em casa pedindo para trocar de professora, porque Dona Carminha não parava de gemer. Naquele tempo eu não sabia ainda o que é suspiro, coisa que só mais tarde aprendi, como se diz, a ferro e fogo e na própria carne.
Hoje, desconfiado de que as palavras andaram me escondendo suas entranhas por muito tempo, fui atrás do Michaelis. E lá encontrei, para “suspiro”, entre outras acepções: 1) Pequeno orifício para extração de um líquido em pequena quantidade. 2) Pequeno bolo com clara de ovo batida, açúcar e amêndoas ou nozes moídas. 3) Respiradouro. 4) Respiração forte e mais prolongada que a ordinária, provocada por alguma paixão, como amor, saudade, tristeza etc., e entrecortada com estremecimento.
Claro, era isso mesmo. Principalmente entrecortada com estremecimento.
Não troquei de professora nos três anos seguintes. Pouco aprendi de piano e muito menos do amor, pois naquele tempo ainda achava que suspiro e gemido eram a mesma coisa. Ainda acho, mas já percebo diferentes razões para gemidos e, quanto aos suspiros, já sei que são invariavelmente o resultado de alguma opressão do peito, alguma dor difusa, não localizada.
Uma tarde de sol preguiçoso e tímido, a lição foi interrompida pelo choro sacudido de Dona Carminha. Voltei para casa assustado. Coisa misteriosa, aquela, um adulto chorando. Minha professora não devia ter passado dos dezoito anos, mas só não achava que fosse uma velha porque não tinha cabelos brancos. Voltei assustado e sem ter dado a lição do dia. No jantar, relatei com detalhes (o lenço, a baba, a mancha de umidade na blusa) a cena a que assistira à tarde. Me pareceu que ficaram todos consternados e condoídos, repetindo: “Coitada de Dona Carminha, abandonada pelo noivo.”
Pouco tempo depois, acho que numa tarde de sol tão preguiçoso e tímido quanto a tarde em que ela, em vez de suspirar, resolveu chorar, recebeu-me com muita alegria e disse-me entre sorrisos que era nossa última aula. Ela estava de partida. Não entendi muito bem o que se passava, mas fiquei, por obra de um instinto que toda criança tem, muito contente. Não teria mais de aturar seus gemidos.
Não faz muitos anos, tive notícias de Dona Carminha por intermédio de um primo seu que encontrei por acaso em um Simpósio. Foi morar no Rio de Janeiro, teve três filhos e amou o marido até o último dia de sua vida. Fiquei contente, com a notícia, pois já diferencio suspiros de gemidos, e aquele malquerer infantil sempre me doeu um pouco pela vida a fora. E o primeiro noivo?, perguntei. Ninguém mais soube de seu destino.
Lá pelo meio do mês passado, mobilizaram-se todos os redatores do país para falar de namorados e de amor. Principalmente em propagandas comerciais. Numa delas tropecei mais uma vez com a idéia da eternidade do primeiro amor. Então me lembrei de Dona Carminha.

Espírito de competição, por Delfim Neto



É natural, é salutar, que a autoridade econômica procure estimular os nossos empresários a aumentar os seus investimentos, não se deixando intimidar pela onda de negativismo que muitas vezes rola do exterior e vem fazer “marola” nas praias brasileiras. É preciso entender, entretanto, que sendo necessário, sempre, quase nunca é suficiente.
Neste momento, particularmente, quando emplacamos o quarto ano de uma crise financeira planetária, é isso o que está acontecendo: o incentivo é importante, mas é preciso lembrar que já faz tempo que retiramos do empresário nacional as condições isonômicas que o animem a novos investimentos. E por que tantos se retraem?
Porque ainda temos um nível de carga tributária exagerado, mesmo com as medidas de desoneração que o governo vem tomando; porque persistem as taxas de juro extravagantes (apesar do bem-sucedido esforço do governo Dilma baixando sistematicamente a Selic) e porque nós temos ainda uma taxa de câmbio sobrevalorizada, embora tenham sido colocadas em prática medidas importantes para corrigi-la.
É fundamental devolver, especialmente aos empresários da indústria, as condições objetivas de competitividade que os induzam a fazer os investimentos necessários para aumentar a produção e enfrentar a concorrência externa. Hoje somos vítimas da importação de um pessimismo influenciado principalmente pela queda das ações nas bolsas de valores. Um empresário que vê a ação na bolsa valer menos que o seu custo de reposição, não vai fazer o investimento.
As medidas que o governo vem tomando para despertar o “espírito animal” dos empresários e estimular os investimentos, particularmente a redução das taxas de juro, vão ter o seu efeito nas cotações. Uma coisa é certa, no entanto: o ânimo de investir só funciona quando o empresário acredita que vai ter demanda e taxas de retorno adequadas. Cada um dos empresários tem compromisso com ele mesmo e a maioria o tem com os investidores. A empresa responde a seus acionistas e só vai investir na medida em que as taxas de retorno sejam a melhor alternativa no mercado.
É muito bom quando o governo reduz a taxa de juros, toma iniciativas de desoneração tributária e age para dar mais equilíbrio ao câmbio, porque tudo isso cria perspectivas de melhorar a demanda e, portanto, estimula o investimento na produção. Não há razão para que as autoridades monetárias e fiscais deixem de participar dos esforços para reanimar o espírito empresarial para o crescimento, como está fazendo, principalmente, o ministro Guido Mantega. A oposição ao governo faz a sua crítica para minimizar os resultados, muitas vezes apoiando-se no pessimismo que tomou conta dos negócios em países que são nossos importantes parceiros comerciais e hoje enfrentam dificuldades dramáticas para sair da crise.
Ainda esta semana o governo Dilma trabalhou para obter a aprovação, na Câmara Federal, de Medidas Provisórias que ampliam benefícios fiscais a serviços essenciais e a alguns setores industriais e do agronegócio, no âmbito do programa Brasil Maior. Elas precisam ainda passar pelo Senado, onde se espera sejam votadas no início de agosto (sem grandes expectativas de oposição) e em seguida vão à sanção presidencial. Entre as medidas, contam-se as seguintes: a) Institui regime especial de tributação para a construção de escolas de educação infantil, isentando as obras até 31 de dezembro de 2018 dos impostos de Renda, PIS/Pasep, Cofins e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. b) Isentando os produtos da Cesta Básica do pagamento do IPI e PIS/Cofins. c) Desoneração em folhas de pagamento nos setores hoteleiro, de transporte terrestre de passageiros e de carga aérea e marítima. d) Ampliação dos financiamentos para a modernização das embarcações pesqueiras nacionais.
Trata-se, sem dúvida, de estímulos importantes para melhorar as condições de competitividade na indústria e na agricultura, mas insisto que o despertar do “espírito animal” dos empresários pode ser antecipado, sem comprometer o equilíbrio fiscal nos próximos 12 meses, se o governo for capaz de ampliar, com a cooperação dos estados, os prazos de pagamento dos impostos que são recolhidos, em média, sete semanas antes de o produtor receber a fatura!
É um aumento líquido de caixa, especialmente nas pequenas e médias empresas, que acelerará os efeitos das medidas já adotadas e reduzirá o pessimismo no setor empresarial.
Delfim Netto

Cirurgia para diabetes, Por Drauzio Varella



Limites. Promissora, a cirurgia bariátrica para curar o diabetes não é isenta de riscos. Foto: Pedro Presotto
O diabetes segue na esteira da epidemia de obesidade. No mundo, perto de 8,3% dos adultos sofrem da doença, prevalência que aumentará para 10% em 2030. Nos casos de obesidade grave, a prevalência chega a 23%. O tratamento com medicamentos permite controlar os níveis sanguíneos de glicose, desde que os pacientes percam peso, sigam dietas rigorosas, abandonem a vida sedentária e tomem os remédios com regularidade, prescrições que poucos conseguem seguir à risca.
O descontrole da glicemia está associado a complicações graves: infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, insuficiência renal, cegueira, neuropatia periférica e amputação de membros. Paradoxalmente, a insulina e outros medicamentos empregados no tratamento hipoglicemiante provocam aumento de peso, o que dificulta a normalização da glicose.
É pensamento mágico imaginar que alguém seja capaz de controlar a glicemia por muitos anos, unicamente à custa de remédios. Nos anos 1990, quando as operações para redução de volume do estômago (cirurgias bariátricas) começaram a ser indicadas para o tratamento da obesidade, os cirurgiões verificaram que muitos pacientes entravam em remissão do diabetes sem haver necessidade de medicá-los. Essas observações demoraram mais de dez anos para ser levadas a sério, havíamos aprendido na faculdade que a doença é incurável. Naquele tempo, quem poderia imaginar que os cirurgiões curariam diabetes?

No fim de abril, foram publicados dois estudos randomizados no The New England Journal of Medicine, nos quais um grupo de diabéticos obesos recebeu tratamento medicamentoso convencional, enquanto o outro foi encaminhado para a cirurgia bariátrica. O primeiro estudo, coordenado por um grupo da Cleveland Clinic, acompanhou, durante dois anos, 150 adultos obesos com diabetes descontrolado. Eles foram sorteados para receber os medicamentos convencionais ou a cirurgia bariátrica, realizada segundo duas técnicas diferentes.
Depois de dois anos, o grupo submetido à cirurgia havia emagrecido de 25 a 29 quilos, enquanto os que foram tratados clinicamente perderam, em média, 5,4 quilos. Entraram em remissão completa do diabetes 75% a 95% dos pacientes operados (variação de acordo com o tipo de cirurgia), contra nenhum dos casos tratados clinicamente.
O segundo estudo foi conduzido por um grupo da Universidade de Roma em conjunto com colegas da Cornell University. Sessenta portadores de diabetes diagnosticados há mais de cinco anos, também foram divididos em dois grupos: as mesmas duas técnicas, de cirurgia bariátrica versus tratamento clínico convencional.
Depois de um ano, a glicemia estava rigorosamente controlada em 37% a 42% dos operados; naqueles tratados clinicamente, menos de 6% apresentavam glicemias normais. Em ambos os ensaios, a cirurgia bariátrica obteve controle metabólico superior ao dos hipoglicemiantes. Em nenhum deles houve óbitos ou complicações cirúrgicas graves.
Isso quer dizer que devemos reduzir o estômago de todos os portadores de diabetes? A resposta é ainda não. Os resultados publicados até agora se referem a um pequeno número de pacientes acompanhados durante um ou dois anos, períodos curtos para avaliar uma condição crônica como o diabetes.
Embora seguras em mãos experimentadas, cirurgias bariátricas não são desprovidas de complicações; deficiências de micronutrientes como vitamina B12 e ferro são algumas delas. Há pacientes que se adaptam mal à nova realidade e desenvolvem quadros psiquiátricos; a incidência de alcoolismo entre os operados aumenta.
Há ainda a dúvida sobre o significado das remissões induzidas pela cirurgia: seriam temporárias ou representariam curas definitivas?
A International Diabetes Federation reconhece a cirurgia bariátrica como tratamento adequado para os casos de diabetes do tipo 2 em obesos, nos quais a glicemia não é controlada pelos tratamentos medicamentosos disponíveis.

Queda do lucro da Vale mostra dependência excessiva da China


NA CBN


A Vale está lucrando bem menos: no segundo trimestre, o lucro líquido ficou em R$ 5,3 bi, o que representa um recuo de quase 50% em relação ao mesmo período do ano passado.
Esse resultado revela a excessiva dependência da China. A empresa é a maior exportadora brasileira líquida, importa pouco e exporta muito; o minério de ferro, que teve queda de preço de 29%, é o principal produto. Isso afeta o lucro da Vale e o saldo da balança comercial brasileira. Qualquer desaceleração no crescimento chinês, provoca tensão no Brasil.
Se olharmos para os dados do comércio brasileiro nos últimos anos, notamos que caiu muito a participação dos EUA nas exportações brasileiras, de 25% para 10%. Não se pode abandonar um mercado, porque ele está passando por dificuldades, Os EUA são os maiores importadores do mundo. O Brasil tem déficit comercial com o país, enquanto os EUA têm déficit com o mundo inteiro.
Temos de pensar numa estratégia que dependa menos de um país só. Não pode ser à mexicana (o México depende muito dos EUA, por questões geográficas).
A desaceleração da China afeta o preço das commodities que, por sua vez, afeta a balança comercial e a economia brasileira.

A sombra presente, por Miriam Leitão



Não direi que um fantasma ronda a Europa. Ele já chegou. Não assombra apenas a Zona do Euro, atinge também o Reino Unido. Os ingleses tiveram o terceiro trimestre de encolhimento do PIB e temem a perda da classificação de triplo A. A Espanha admite que o inevitável bate à porta: o país vai quebrar pela falência múltipla das regiões autônomas. Sem qualquer autonomia de voo, elas pedem socorro à União, que também pede socorro.
As partes da Espanha querem ser financiadas pelo Estado espanhol, que está sendo socorrido pelo comando da Zona do Euro. Até agora, o socorro não é direto. Tentou-se a ficção da ajuda aos bancos, que foi aprovada no final de junho, mas ainda não implementada. Agora, com as dificuldades das suas partes, é a própria Espanha que está totalmente encrencada.
O Reino Unido comemorava o fato de estar livre do peso da moeda comum e fazia admoestações à Alemanha por erros na condução da crise. Mas também tem alto endividamento, também tem gastos excessivos e, ontem, foi anunciado o terceiro trimestre de queda do PIB, confirmando a recessão. O número de -0,7% para o segundo trimestre do ano foi maior do que o previsto e provocou vários debates no país, além de elevar os temores de que a nota de risco possa ser rebaixada.
Mas existem diferenças. A Inglaterra sofre a crise em forma de recessão. O governo conservador vive a ironia de governar um país menor do que o que recebeu dos trabalhistas, aos quais tanto acusou de não saber administrar a crise. O que acontece na Espanha é uma crise de confiança, o risco da insolvência. Ontem, José Antonio Herce, sócio da consultoria AFI (Analistas Financeiros Internacionais) e professor de Economia da Universidade Complutense de Madri, admitiu em conversa com Valéria Maniero que a crise espanhola passou para uma nova fase. O momento atual foi consequência da demora das decisões, da piora da recessão econômica e do pedido de socorro das regiões autônomas.
— O risco mais grave é de uma estagnação da atividade e do emprego que dure anos. Isso é o que aconteceria se o Tesouro precisasse ser resgatado, e há probabilidade alta de que isso aconteça — disse Herce.
Ele acredita que com o colchão de liquidez que tem, o país aguenta até o outono — que começa no fim de setembro, mas não mais do que isso. A tentativa — aparentemente inútil — de evitar o resgate do país é para não submeter a Espanha a medidas de cortes ainda mais severas. As atuais já levaram o país a dois anos de recessão. O fantasma agora é de novos e mais profundos ajustes determinados pelos credores, através da chamada troica, que fiscalizariam as contas em caso de resgate. A Espanha tem pouquíssima chance — se é que tem alguma — de evitar o resgate pela Zona do Euro.
Ontem, a empresa espanhola Telefônica anunciou em Madri que vai suspender o pagamento de dividendos e cortar uma parcela dos salários dos altos executivos como parte do processo para se proteger da crise do país. 
A Catalunha tem 7,5 milhões de habitantes, representa 16% da população espanhola, 18,7% do PIB, mas é a região mais rica. A renda per capita é 17% superior à do conjunto da Espanha. É a mais endividada, 21% do PIB, acima de Valência e Castilla-La Mancha, por exemplo. A importância econômica da Catalunha para a Espanha é enorme.
O que Patricia Gabaldón, do IE Business School, escola de Negócios de Madri, contou ilustra bem como são esses eventos. Há sempre um círculo vicioso. No caso: a crise fez com que a capacidade de arrecadação das regiões caísse e elas tiveram dificuldade de cumprir seus compromissos financeiros; como a falta de confiança dos mercados eleva o custo da dívida, essas regiões ficaram sem capacidade de se financiar.
— Ao pedir financiamento ao Fundo de Liquidez, as comunidades autônomas terão que enfrentar condições orçamentárias duras. Uma parte importante do ajuste espanhol é transferida para as regiões. Dado o nível de dívida que já tinham, não são capazes de fazer frente aos compromissos — diz Patricia Gabaldón.
Não há solução de curto prazo para nenhum desses países em dificuldade. A Grécia caminha para sair da Zona do Euro. Hoje, os economistas se dividem apenas sobre em quanto tempo isso ocorrerá. A maioria das apostas é para o ano que vem. Isso, que antes parecia ser um grande problema, já se dá hoje como favas contadas. 
A complicação da Espanha é que o país é grande, o quarto maior, já vinha adotando medidas de austeridade que não funcionaram e está com um quadro social dramático pela dimensão do desemprego.
— A verdadeira tragédia para a Espanha e para a Europa seria deixar que as coisas chegassem ao ponto extremo em que estivesse comprometida a própria sobrevivência do euro. Isso é algo que as futuras gerações teriam o direito de censurar na atual geração de líderes europeus, que estão se mostrando dramaticamente incapazes de controlar os problemas — disse José Antonio Herce.
O fantasma da crise econômica profunda que, por contágio, atinge vários países já é uma realidade entre os europeus. O que ainda ronda a região é o do colapso da experiência de uma moeda comum.