sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

POEMA DA NOITE Do quanto a longa noite de Paris não passa - Paulo Fichtner


 Pedro Lago - 
7.12.2012
 | 23h30m

As equanimidades sonham a 
si mesmas, a si mesmas, a si mesmas. 
Do casulo, a lagarta voará, 
depois mais outra e outra borboleta, 
mariposas nascendo de umas lesmas; 
todas revoarão pelo planeta! 
E, após se arremessarem a voejar, 
dispersar-se-ão ao toque da trombeta 
contra o céu lilás, roxo, azul-violeta... 
quando se prende a tarde a essa grilheta, 
o pássaro, tranquilo, volta ao lar, 
os bêbados retornam à sarjeta. 
A velha passa a noite a costurar 
vestidos que lhe assentem à silhueta, 
enquanto um manco tenta levantar 
na frente de batalha outro perneta, 
pois necessita um exército de estar 
bem onde a guerra para não mostrar. 
Quando se vive assim não há muleta 
que aguente a dor da perna que não há.

Paulo Fichtner nasceu em Porto Alegre em 1971. Formado em História e Civilização Francesa pela Sorbonne. Começou a escrever aos 14 anos de idade, com a obraCemitério. Publicou O Despertar do Paraíso (1999), Tumulto Secreto (2005), Contra o Chão e o Vento(2007) e Como quem parte (2008). 

Lya Luft: Uma educação que nos torna medíocres distraídos



Queremos, aceitamos, pão e circo, a Copa, a Olimpíada, a balada, o joguinho, o desconto, o prazo maior para nossas dívidas, o não saber de nada sério: a gente não quer se incomodar. Ou pior: nós temos a sensação de que não adianta mesmo
"Queremos, aceitamos, pão e circo, a Copa, a Olimpíada, a balada, o joguinho, o desconto, o prazo maior para nossas dívidas, o não saber de nada sério: a gente não quer se incomodar. Ou pior: nós temos a sensação de que não adianta mesmo" (Ilustração: Blog do Torcedor)
Artigo publicado na edição de VEJA que está nas bancas
MEDÍOCRES DISTRAÍDOS
Lya Luft
Lya Luft
Leio com tristeza sobre quanto países como Coreia do Sul e outros estimulam o ensino básico, conseguem excelência em professores e escolas, ótimas universidades, num crescimento real, aquele no qual tudo se fundamenta: a educação, a informação, a formação de cada um.
Comparados a isso, parecemos treinar para ser medíocres. Como indivíduos, habitantes deste Brasil, estamos conscientes disso, e queremos — ou vivemos sem saber de quase nada? Não vale, para um povo, a desculpa do menino levado que tem a resposta pronta: “Eu não sabia”", “Não foi por querer”.
Pois, mesmo com a educação — isto é a informação — tão fraquinha e atrasada, temos a imprensa para nos informar. A televisão não traz só telenovelas ou programas de auditório: documentários, reportagens, notícias, nos tornam mais gente: jornais não têm só coluna policial ou fofocas sobre celebridades, mas nos deixam a par e nos integram no que se passa no mundo, no país, na cidade.
Alienação é falta grave: omissão traz burrice, futilidade é um mal. Por omissos votamos errado ou nem votamos, por desinformados não conhecemos os nossos direitos, por fúteis não queremos lucidez, não sabemos da qualidade na escola do filho, da saúde de todo mundo, da segurança em nossas ruas.
O real crescimento do país e o bem da população passam ao largo de nossos interesses. Certa vez escrevi um artigo que deu título a um livro: “Pensar é transgredir”. Inevitavelmente me perguntam: “Transgredir o quê?”. Transgredir a ordem da mediocridade, o deixa pra lá, o nem quero saber nem me conte, que nos dá a ilusão de sermos livres e leves como na beira do mar, pensamento flutuando, isso é que é vida. Será? Penso que não, porque todos, todos sem exceção, somos prejudicados pelo nosso próprio desinteresse.
Nosso país tem tamanhos problemas que não dá para fingir que está tudo bem, que somos os tais, que somos modelo para os bobos europeus e americanos, que aqui está tudo funcionando bem, e que até crescemos. Na realidade, estamos parados, continuamos burros, doentes, desamparados, ou muito menos burros e doentes e desamparados do que poderíamos estar. Já estivemos em situação pior ? Claro que sim.
Já tivemos escravidão, a mortalidade infantil era assustadora, os pobres sem assistência, nas ruas reinava a imundície, não havia atendimento algum aos necessitados (hoje há menos do que deveria, mas existe). Então, de certa forma, muita coisa melhorou. Mas poderíamos estar melhores, só que não parecemos interessados.
Queremos, aceitamos, pão e circo, a Copa, a Olimpíada, a balada, o joguinho, o desconto, o prazo maior para nossas dívidas, o não saber de nada sério: a gente não quer se incomodar. Ou pior: nós temos a sensação de que não adianta mesmo. Mas na verdade temos medo de sair às ruas, nossas casas e edifícios têm porteiro, guarda, alarmes e medo.
Nossas escolas são fraquíssimas, as universidades péssimas, e o propósito parece ser o de que isso ainda piore.
Pois, em lugar de estimularmos os professores e melhorarmos imensamente a qualidade de ensino de nossas crianças, baixamos o nível das universidades, forçando por vários recursos a entrada dos mais despreparados, que naturalmente vão sofrer ao cair na realidade. Mas a esses mais sem base, porque fizeram uma escola péssima ou ruim, dizem que terão tutores no curso superior para poder se equilibrar e participar com todos.
Porque nós não lhes demos condições positivas de fazer uma boa escola, para que pudessem chegar ao ensino superior pela própria capacidade, queremos band-aids ineficientes para fingir que está tudo bem. Não se deve baixar o nível em coisa alguma, mas elevar o nível em tudo.
Todos, de qualquer origem, cor, nível cultural e econômico ou ambiente familiar, têm direito à excelência que não lhes oferecemos, num dos maiores enganos da nossa história.
Não precisamos viver sob o melancólico império da mediocridade que parece fácil e inocente, mas trava nossas capacidades, abafa nossa lucidez, e nos deixa tão agradavelmente distraídos.

CASO “ROSE” — INSISTO, VOLTO AO ASSUNTO: silêncio sepulcral de Lula é atitude pusilânime e de desrespeito ao país


Ricardo Setti

O escândalo "Rose" coloca Lula numa zona de sombras: ele precisa se explicar (Fotos: Conteúdo Estadão)
Este post foi originalmente publicado na terça, dia 4. Como continua valendo — e como! –, republico, com alguns acréscimos.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, compareceu hoje, terça, dia 4, a sessão conjunta de duas comissões da Câmara dos Deputados para, supostamente, dar explicações sobre a Operação Porto Seguro da Polícia Federal, essa mesma que flagrou o balcão de tráfico de influências e outras mimosidades montado pela amigona de Lula, Rosemary Noronha, em pleno escritório da Presidência da República em São Paulo — como se ainda fossem necessários ainda mais escândalos, e justamente num gabinete desse calibre, para que o descaramento do lulalato chegasse ao fundo do poço.
Tal qual se esperava, o depoimento de Cardozo não passou de um nhenhenhém vazio, como se pode constatar pela reportagem do site de VEJA a respeito. O que poderia tanto dizer o ministro, aliás, se ele não sabia de nada até o escândalo explodir?
Ministros, figurões do PT, porta-vozes e sabujos vários só virão a público para confundir, e não para explicar, como diria Chacrinha.
Querem encobrir, querem ocultar, querem proteger o chefe.
Ninguém precisa deles.
Quem tem que dizer alguma coisa é Lula.
Quem tem que sair de seu silêncio sepulcral — e muito significativo — é Lula.
Quem tem que dar explicações é Lula.
Quem tem que colocar a cara para bater é Lula.
Foi Lula quem colocou a amigona “Rose” nesse gabinete da Presidência em São Paulo, que ele próprio inventou não se sabe com qual finalidade — ou talvez até se saiba, agora.
Foi Lula quem, encerrado seu mandato, pediu expressamente à presidente Dilma que mantivesse “Rose” no posto onde ela protagonizava suas maracutaias.
Foi Lula quem frequentou durante anos esse gabinete enquanto a pouca vergonha com a coisa pública corria solta. Ele, claro, supostamente não sabia.
Mas Lula, que passou uma vida — uma VIDA — apontando o dedo para culpados disso e daquilo, foge da raia.
Arranjou viagem ao exterior para desaparecer do mapa, voltou e deu um jeito de se esconder da imprensa — inclusive dos encarregados do noticiário policial –, da opinião pública, dos cidadãos brasileiros. (Quanto a sua vida pessoal, a dona Marisa, ninguém tem nada com isso.)
Essa atitude de Lula é pusilânime, é covarde, é cínica e mostra uma vez mais desprezo para com o comportamento republicano, a democracia, o Estado de Direito, e desrespeito ao país.
É esse o mesmo Lula que, arrogante, disse que iria “ensinar” a FHC como deve se comportar um ex-presidente?
Só mesmo rindo, para não chorar pelo estado das coisas “neztepaiz”.
Não sei mais o que é preciso acontecer para que os fanáticos do lulopetismo retirem o “deus” de Marta Sulicy do pedestal.
Desta vez, nem para aparecer na TV e se dizer “traído” e apunhalado pelas costas, como quando do mensalão.

MENSALÃO: Minha Nossa Senhora! Mal dá para crer que Lewandowski pense em criminosos condenados exercendo normalmente seu mandato de deputado. Mas é verdade!


Ricardo Setti

Ministro Ricardo Lewandowski: com a insustentável leveza de quem dá um piparote numa bolinha de papel, admite deputados criminosos desempenhando normalmente seu mandato na Câmara  (Foto: José Cruz)
Ministro Ricardo Lewandowski: com a insustentável leveza de quem dá um piparote numa bolinha de papel, admite deputados criminosos desempenhando normalmente seu mandato na Câmara. Minha Nossa Senhora! (Foto: José Cruz)
Amigas e amigos do blog, comecei minha carreira de jornalista como foca, sem receber salário, aos 19 anos. Hoje tenho mais de 60. Deveria estar acostumado a tanta barbaridade “neztepaiz” mas, apesar do couro duro que adquiri ao longo das décadas, não consigo deixar de boquiabrir-me com o que ocorre em nossa vida pública.
Não adianta, não consigo.
É o caso da espantosa, inacreditável tese levantada no Supremo Tribunal pelo inevitável ministro relator do processo do mensalão, Ricardo Lewandowski.
Como muitos de vocês sabem, Lewandowski acha que o Supremo não pode tomar a iniciativa de cassar os mandatos dos mensaleiros condenados que são deputados, como é o caso, por exemplo, do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha.
Ele faz uma interpretação da Constituição, aparentemente minoritária no Supremo, segundo a qual só a própria Câmara poderia retirar o mandato de deputados condenados criminalmente, embora a própria Carta coloque a condenação criminal entre os casos de perda de direitos políticos — e, sem direitos políticos, ninguém pode exercer o mandato de deputado.
Ninguém, a meu ver, explicou melhor a dificuldade de interpretação que a própria Constituição provocou do que o Reinaldo Azevedo, razão pela qual recomendo fortemente a leitura deste post dele.
Mas, voltando ao caso propriamente dito: como jovem repórter em Brasília, recebi durante um bom período a incumbência de cobrir o Judiciário, a começar pelo Supremo Tribunal. Lá, conheci grandes figuras de ministros, como Luís Galotti, Gonçalves de Oliveira, Lafayette de Andrade, Hermes Lima e Evandro Lins e Silva.
Tive o privilégio de ser aluno de um dos maiores ministros da história do Supremo, Victor Nunes Leal, com quem, além disso, meu falecido Pai, grande advogado, colaborou sem remuneração para formatar o que hoje são as Súmulas de Jurisprudência do tribunal.
Posso dizer, então, que alguma familiaridade tenho, ou tive, com o Supremo — e com um Supremo cujos ministros mostraram grande coragem durante a ditadura militar, volta e meia contrariando a vontade dos generais. Não por acaso, houve medidas arbitrárias e violentas contra a Corte, como o aumento por ato de força do número de seus integrantes e, posteriormente, a cassação de ministros.
Então, essa é uma razão mais para ficar boquiaberto diante de um ministro do Supremo que, com cara limpa, tranquilamente, com a insustentável leveza de quem dá um piparote numa bolinha de papel, sugere que — caso prevaleça sua tese, e na hipótese (não improvável) de a Câmara NÃO cassar os mensaleiros – deputados condenados como criminosos pela própria Corte possam dormir na cadeia e, durante o dia, mediante uma licença especial, participar das sessões da Câmara!
E pensar que esse senhor, Lewandowski, em dois anos mais será o PRESIDENTE do Supremo!!!

O grande sábio e o imenso tolo


Por um acaso do destino, um velho e sábio professor e um jovem e estulto aluno se encontraram dividindo bancos gêmeos num ônibus interestadual. O estulto aluno, já conhecido do sábio professor exatamente por sua estultície, logo cansou o mestre com seu matraquear ininterrupto e sem sentido. O professor aguentou o quando pôde a conversa insossa e descabida. Afinal, cansado, arranjou, na sua cachola sábia, uma maneira de desativar o papo inútil do aluno. Sugeriu:

- Vamos fazer um jogo que sempre proponho nestas minhas viagens. Faz o tempo passar bem mais depressa. Você me faz uma pergunta qualquer. Se eu não souber responder, perco cem pratas. Depois eu lhe faço uma pergunta. Se você não souber responder, perde cem.
- Ah, mas isso é injusto! Não posso jogar esse jogo – disse o aluno, provando que não era tão tolo quanto aparentava -, eu vou perder muito dinheiro! O senhor sabe infinitamente mais do que eu. Só posso jogar com a seguinte combinação: quando eu acertar, ganho cem pratas. Quando o senhor acertar, ganha só vinte.
- Está bem – concordou o professor – pode começar.
- Me diz, professor – perguntou o aluno , o que é que tem cabeça de cavalo, seis patas de elefante e rabo de pau?
O professor, sem sequer pensar, respondeu:
- Não sei; nem posso saber! Isso não existe.
- O senhor não disse se devia existir ou não. O fato é que o senhor não sabe o que é – argumentou o aluno – e, portanto, me deve cem pratas.
- Tá bem, eu pago as cem pratas – concordou o professor pagando -, mas agora é minha vez. Me diz aí: o que é que tem cabeça de cavalo, seis patas de elefante e rabo de pau?
- Não sei – respondeu o aluno. E, sem maior discussão, pagou vinte pratas ao professor.
Moral: A sabedoria, nos dias de hoje, está valendo 20% da esperteza.
(Do blog do Millôr)

A SEGUNDA MELHOR COISA DO MUNDO



Hélio GarciaTalvez um dia conte aqui a versão de meu avô prá primeira melhor. Sou um homem privilegiado, não me canso de falar isso. Nascido e criado em cidade do interior de MG (onde existe realmente o TREM), beira-rio (o tal aos fundos de minha casa), canoa, ruas de pé-de-moleque à época, bois soltos nas ruas sendo levados ao matadouro (farra), fazendas, sitios e chácaras de avós, tios e primos à vontade pros fins de semana e férias escolares, cachoeiras,EU de Alem riachos, pescarias, caçadas (ainda era permitido), brincadeiras nas ruas e praças com aquele cheirinho da Rainha (Dama) da Noite. Festinhas, bailinhos, bailes, responsabilidade afinal, Faculdade, Trabalho, Casamento, filhos, netos, aposentado. Tenho que dar razão ao meu avô materno: BCBD meu neto, Banho, Comer, Beber e Dormir. Um bom banho, comida da roça, da vovó, da mamãe, dos restaurantes mais sofisticados, de um pé de fruta; da água aos bons vinhos, licores, cervejas, às camas com colchões de palha, capim até os mais ornamentados e macios dos hotéis pela vida. Por que sou privilegiado…..? Porque nunca temos as cinco melhores coisas da vida juntas, ao mesmo tempo, concomitantemente agrupadas. Estou próximo a desfrutar delas em altíssimo nível e estilo, convidado formalmente que fui pelo meu amigo ultramarino o Bispo de Cretania, Don Giuseppe Perleto Roccaverano para uma visita por tempo indeterminado à sua residência de campo, nas Terras Altas. Tendo adquirido uma aeronave de fabricação brasileira, capaz de atravessar o Oceano Atlântico (sem escalas), avisou-me hoje, que a Empresa Brasileira mandará um pequeno jato executivo para meu traslado um dia antes do embarque, na próxima semana. Além das fotografias já anexadas aos e-mails recebidos, brindou-me com mais algumas, notadamente a da sala de banhos do Castelo-Casa de Campo. Vieram outras dos aposentos a mim reservados, mas fica prá outro papo. E O BLOG CONTINUA SENDO CULTURA.
Até o século de Luiz XIV os banhos eram tomados numa única tina, enorme, cheia de água quente. O chefe da família tinha o privilégio do primeiro banho na água limpa. Depois, sem trocar a água, vinham os outros homens da casa, por ordem de idade, as mulheres, também por idade e, por fim, as crianças. Os bebês eram os últimos a tomar banho. Quando chegava a vez deles, a água da tina já estava tão suja que era possível “perder” um bebê lá dentro. É por isso que existe a expressão em inglês “don’t throw the baby out with the bath water”, ou seja, literalmente, “não jogue fora o bebê junto com a água do banho”, que hoje usamos para os mais apressadinhos. Limpo como na Idade Média, época que cultuou a higiene.  A higiene não é uma descoberta dos tempos modernos, mas “uma arte que o século de Luiz XIV menosprezou e que a Idade Média cultuou com amor”, escreveu a historiadora Monique Closson, autora de numerosos livros sobre a criança, a mulher e a saúde no período medieval. da época”. O zelo pela higiene veio abaixo no século XVI, com a Renascença e o protestantismo. Milhares de manuscritos, diz Closson, ilustram o costume medieval. Bartolomeu o inglês, Vicente de Beauvais, Aldobrandino de Siena, no século XIII, com seus tratados de medicina e de educação “instalaram uma verdadeira obsessão pela limpeza das crianças”. Eles descrevem todos os pormenores do banho do bebê: três vezes ao dia, as horas, temperatura da água, perto da lareira para não pegar resfriado, etc..
As famosas Chroniques de Froissart, em 1382, descrevem a bacia no mobiliário do conde de Flandes, de ouro e prata. As dos burgueses eram de metais menos nobres e as camponesas em madeira. A Idade Média atribuía valor curativo ao banho, como ensinava Bartolomeu o Inglês no Livro sobre as propriedades das coisas. Na idade adulta os banhos eram quotidianos. Os centros urbanos tinham banhos públicos quentes copiados da antiguidade romana. Mas era mais fácil tomar banho quente todo dia em casa. Na época carolíngia os palácios rivalizavam em salas de banho com os monastérios, que muitas vezes tinham ambulatórios para doentes e funcionavam como hospitais. Em Paris, em 1292, havia 27 banhos públicos inscritos. São Luis IX os regulamentou em 1268. Nos séculos XIV e XV, os banhos públicos tiveram um verdadeiro apogeu. Bruxelas, Bruges, Baden, Dijon, Digne, Rouen, Strasbourgo, Chartres… grandes ou pequenas as cidades os acolhiam em quantidade. Eram vigiados moral e praticamente pelo clero que cuidava da saúde pública. Os hospitais mantidos pelas ordens religiosas, eram exímios e davam o tom na matéria. Regulamentos, preços, condições, etc., tudo isso ficou registrado em abundantes documentos, diz Closson. Dentifrícios, desodorantes, xampus, sabonetes, etc., tirados de essências naturais, são elencados nos tratados conhecidos comoervolários feitos nas abadias. Historiadores como J. Garnier descreveram com luxo de detalhes os altamente higienizados costumes medievais. As estações termais também eram largamente apreciadas. Flamenca, romance do século XIII faz o elogio da estação termal de Bourbon-l’Archambault. Imperadores, príncipes, ricos-homens os freqüentavam na Alemanha, Itália, Países Baixos, etc. A era do ensebamento começou com o fim da Idade Média e durou até o século XX, conclui Monique Closson. Ao menos até que os movimentos hippies, ecologistas, neo-tribais, etc. voltaram a pôr na moda andar sujo , sem barbear, vestido com blue-jeans e outras peças que estão ou fingem estar em farrapos ou com manchas, que vemos todos os dias na rua, nos transportes, aulas e locais de festa!
Banhos na Idade Média – Romanos e Árabes haviam trazido para a península práticas que, em Portugal, iriam perdurar mesmo na Idade Média. Banhar o corpo, porém, não implicava então um estrito conceito de limpeza. Na Grécia, o banho era uma extensão necessária da prática de ginástica: um banho revigorante, frio e breve. Em Roma e no Islão estava implicita a ideia de repouso e de convívio: uma prática social, um ritual simbólico. O banho comunal na Idade Média e o banho Turco, nas numerosas formas que assumiu na Europa, tinham fins semelhantes. A isso se refere Georges Vigarello em “O Limpo e o Sujo”: «Em setembro de 1462, o duque Philippe le Bon ofereceu um jantar aos embaixadores do rico duque da Baviera e do conde de Würtenberg e mandou servir cinco pratos de carne para festejar nos banhos». A ideologia cristã, no entanto, viria a instaurar preconceitos e a impor uma outra moral e consequentes novos costumes. Não que a igreja não se ativesse à limpeza dos corpos. Mais temia, contudo, pela sujidade das almas: os hábitos promiscuos eram uma porta aberta ao pecado. Havia assim que evitar os banhos públicos, locais «propícios à devassidão e ao amolecimento dos costumes» (“A Sociedade Medieval Portuguesa” de A.H. de Oliveira Marques).

CONCLAMAMOS OS LEITORES A CINCO MINUTOS DE SILÊNCIO



Ralph J. Hofmann
Estamos propondo cinco minutos de silêncio em todas as cantinas, pubs, trattorias, pizzarias salas de degustação e outros locais dedicados à enologia pelo passamento  de seis anos de trabalho, suor e dedicação e arte.
Tendo sido uma morte causada por um crime sugerimos que os culpados, se apreendidos, sejam condenados ao afogamento em barris de vinho da uva americana conhecida por Concord ou Izabel, que seus corpos sejam esquartejados e suas partes engastadas em blocos de acrílico expostos  em aeroportos e entradas de cidade como aviso a quem queira emulá-los um dia.cantinaSoldera
Vândalos destroem 62 mil garrafas de vinho antigo na Itália
Vândalos destruíram mais de 62 mil garrafas de Brunello di Montalcino, do selo exclusivo Soldera, na vinícola Casse Basse, na Toscana. Os vândalos abriram as torneiras de 10 barris enormes da produção dos últimos seis anos e deixaram o vinho ir embora pelo ralo. Eles invadiram a propriedade na noite de domingo e, quando os funcionários entraram na cantina na manhã de segunda-feira, não encontraram mais nada dos seis anos de trabalho, a não ser poças de líquido vermelho no chão. O total perdido, de acordo com uma declaração da família Soldera, foi de 62.600 litros.

CISTERNAS COMO FONTE DE SEDE



Adauto Medeiros
Assisti pela televisão uma entrevista em que o entrevistado parecia ser uma pessoa que ocupa um cargo de confiança. Era um cidadão mostrando a solução da seca através de cisternas. Informava como os referidos tanques tinham capacidade de receber 16,00 m³ de água, mas como a água vem de cima (dos telhados) só encherá se chover.
Disse também, o referido cidadão com jeito de quem ocupa cargo de confiança, que as cisternas tinham capacidade para 16,00 m³ e isso era o suficiente para 5 pessoas durante cinco meses, é claro, se chover, o que, infelizmente, não é o nosso caso, pois todos nós nordestinos sabemos e conhecemos a regularidade das chuvas, e ainda mais, sabemos também qual a quantidade de chuvas para encher a cisterna do ilustre burocrata das águas.exemplo-de-impluvium
Ou seja, podemos concluir que como não funciona o planejamento do governo, sempre vai dar em água. É só acompanharmos os índices de crescimento econômico e da inflação revelados pelos nossos agentes públicos bem situados em cargos de confiança para vermos que o planejamento de governo não funciona. Ou seja, os cargos são de confiança, mas as pessoas que ocupam os cargos não merecem a menor confiança.
Talvez o nosso feitor das águas não saiba que segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde -, o que é estipulado é 200 litros de água por pessoa diariamente, isso em se tratando de pobres, pois os ricos consomem 500 litros diários de água. Esta é a norma inclusive para o calculo das adutoras.
Como o nobre o burocrata reserva 21,3 litros diários por pessoa, logo esses números vão está muito distantes dos da OMS.
Agora sinceramente não acredito que as pessoas que administram o Brasil não saibam desses números, como também não acredito que seja mau caratismo ou mesmo falta de informação. O estranho é que esses burocratas são pessoas de toda confiança, não só no preparo para o cargo, como também de ilibada conduta ética e moral. Aliás, no serviço público, para ser ético e moralmente responsavel o dito cujo recebe um salario especial. Será mesmo que se pode comprar honestidade com dinheiro?
Quem deve saber mesmo são os 25 mil cargos de confiança que existem no Brasil. Acredito piamente na gratificação para sermos honesto, haja visto o exemplo da segunda dama do Brasil que dirigia o escritório da previdência em São Paulo.
Por falar nisso, penso que se São Paulo – o santo -, soubesse que falariam tanto em seu nome recentemente, talvez tivesse desistido da missão de pregar o cristianismo.
(1) Engenheiro civil e empresário. adautomedeiros@bol.com.br
(2) Foto: Um impluvium romano construído há mais de 2mil anos, que era uma cisterna destinada a recolher a água da chuva, com uma diferença é que em Roma, sempre choveu regularmente

GERAL As senhoras do Astoria, por Maria Helena RR de Sousa


Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 
7.12.2012
 | 16h09m

É incrível, não é Maria Helena, que as pessoas não sintam que a filosofia política em Niemeyer tem tanta importância ante seu legado arquitetônico quanto o paletó puído de Beethoven teve na 9ª Sinfonia. José do Carmo Rodrigues (Obra-Prima de ontem)

Escrevo artigos para o Blog do Noblat desde agosto de 2005, a convite de seu titular. E antes disso já era frequentadora assídua, a ler artigos, crônicas, cartas, matérias, poesia, enfim, tudo que aqui era publicado. E a comentar, o que era extremamente prazeroso. Pleno estouro do mensalão, assunto era o que não faltava. Ou discussões.
Havia radicais de um lado e do outro. Às vezes isso parecia arquibancada do Maracanã em dia de Flamengo x Vasco. Ninguém diria que eram todos cidadãos do mesmo país que, em seu pleno juízo, deveriam estar unidos contra os malfeitores. Palavra ainda a ser criada...
Parecíamos mais Alemanha e França disputando a Alsácia. Chegávamos ao ponto do ridículo.
Mas os motivos eram ao menos nobres, quer dizer, os Lulas juravam, como juram até hoje de pés juntos, que Luiz Inácio da Silva tirara o Brasil da fome e da miséria, por isso merecia ser adorado, fizesse o que fizesse. E como ele ainda por cima não fazia nada errado...
O radicalismo continua, mas sinto certo artificialismo na galera, até porque os da oposição perderam a garra, já que não têm nem programa nem nomes a quem defender.
Talvez seja por isso que, adrenalina acumulada e maus bofes em níveis estratosféricos, a homenagem a Oscar Niemeyer tenha sido tisnada por palavras e pensamentos absolutamente deploráveis! Li aqui coisas do arco da velha, tipo:
que ele foi um benemérito que construía de graça para países comunistas; que aqui só mamava do governo; que foi um traidor do Brasil pois amava Cuba mais do que ao nosso país; que as curvas de suas obras não tinham nada a ver com o corpo da mulher, mas com as cúpulas do Kremlin!
Lembrei-me de uma cena inesquecível presenciada por mim há mais de 50 anos. Aqui no Rio, fronteira Ipanema/Leblon, havia um bom cinema, o Astoria. Que naquela semana exibia o filme russo Quando voam as cegonhas.
Filme romântico, uma linda história que me fez chorar baldes. Parênteses para explicar que antigamente ao fim da sessão as luzes se acendiam, a grande maioria dos espectadores saía e a sessão seguinte levava um bom tempinho para ser iniciada.
Eu saia com minha amiga quando ouvimos uma senhora dizer para a outra: Mas que filme chato! E a outra: Pudera! Russo não entende nada de amor!
Voltei-me para a dupla e ia recomendar-lhes que entrassem na Casa Reis ao lado do cinema e comprassem Anna Karenina, mas ao olhar para o semblante das duas, vi logo que seria inútil. De amor só entediam os musicais americanos ou as novelas mexicanas, claro.
Zé do Carmo, tenho a impressão que aquelas senhoras do Astoria hoje diriam: E Beethoven lá entendia de música, surdo e mal ajambrado?

CISTERNAS COMO FONTE DE SEDE




Adauto Medeiros
Assisti pela televisão uma entrevista em que o entrevistado parecia ser uma pessoa que ocupa um cargo de confiança. Era um cidadão mostrando a solução da seca através de cisternas. Informava como os referidos tanques tinham capacidade de receber 16,00 m³ de água, mas como a água vem de cima (dos telhados) só encherá se chover.
Disse também, o referido cidadão com jeito de quem ocupa cargo de confiança, que as cisternas tinham capacidade para 16,00 m³ e isso era o suficiente para 5 pessoas durante cinco meses, é claro, se chover, o que, infelizmente, não é o nosso caso, pois todos nós nordestinos sabemos e conhecemos a regularidade das chuvas, e ainda mais, sabemos também qual a quantidade de chuvas para encher a cisterna do ilustre burocrata das águas.exemplo-de-impluvium
Ou seja, podemos concluir que como não funciona o planejamento do governo, sempre vai dar em água. É só acompanharmos os índices de crescimento econômico e da inflação revelados pelos nossos agentes públicos bem situados em cargos de confiança para vermos que o planejamento de governo não funciona. Ou seja, os cargos são de confiança, mas as pessoas que ocupam os cargos não merecem a menor confiança.
Talvez o nosso feitor das águas não saiba que segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde -, o que é estipulado é 200 litros de água por pessoa diariamente, isso em se tratando de pobres, pois os ricos consomem 500 litros diários de água. Esta é a norma inclusive para o calculo das adutoras.
Como o nobre o burocrata reserva 21,3 litros diários por pessoa, logo esses números vão está muito distantes dos da OMS.
Agora sinceramente não acredito que as pessoas que administram o Brasil não saibam desses números, como também não acredito que seja mau caratismo ou mesmo falta de informação. O estranho é que esses burocratas são pessoas de toda confiança, não só no preparo para o cargo, como também de ilibada conduta ética e moral. Aliás, no serviço público, para ser ético e moralmente responsavel o dito cujo recebe um salario especial. Será mesmo que se pode comprar honestidade com dinheiro?
Quem deve saber mesmo são os 25 mil cargos de confiança que existem no Brasil. Acredito piamente na gratificação para sermos honesto, haja visto o exemplo da segunda dama do Brasil que dirigia o escritório da previdência em São Paulo.
Por falar nisso, penso que se São Paulo – o santo -, soubesse que falariam tanto em seu nome recentemente, talvez tivesse desistido da missão de pregar o cristianismo.
(1) Engenheiro civil e empresário. adautomedeiros@bol.com.br
(2) Foto: Um impluvium romano construído há mais de 2mil anos, que era uma cisterna destinada a recolher a água da chuva, com uma diferença é que em Roma, sempre choveu regularmente

PROFISSIONAL DE ALCOVA



Giulio Sanmartini
A moçoila de apelido Rose, que com seu calor pacifica o chefe, quando este era presidente da República, levava em todos o setores do país e do exterior, suas partes pouco pudendas, para o desfrute de Luiz Inácio.
Nas 28 viagens internacionais que fez ao seu lado, como integrante da comitiva oficial, o acesso irrestrito ao superior incluía visitas à cabine privativa do Aerolula, de onde – conta um colaborador do governo – ela saía toda prosa. “O chefe agora vai descansar. Não quer ser incomodado.”.
A mesma fonte informou que nessas visitas o chefe se lançava com tal ímpeto às carnes fartas da companheira de trabalho, que chegava a causar turbulência na aeronave.alcova
Mas ainda tem mais, quando Lula foi eleito presidente criou para a sua auxiliar direta (e ponha direta nisso) escritório para a Presidência da República em São Paulo. Coube a ela decorá-lo. Aí é que a coisa pega; um observador menos incauto poderia pensar que esse escritório fosse o local de trabalho de Lula quando estivesse em São Paulo, todavia quando vemos o gabinete (foto) nota-se  a falta de escrivaninhas e cadeiras, vêem-se somente  sofás com almofadões e um poster do pomba endiabrada de Caetés, mostrando suas habilidades futebolísticas e com pose de quem entra no gol com bola e tudo.
Por esse motivo a Rose, deveria estar exercendo o cargo de titular não no escritório, mas na alcova da Presidência em São Paulo.
Na  fotografia a Rosemary, usa pendurada no cordão do pescoço uma mariposa, símbolo de sua profissão.

Páginas da vida, por Nelson Motta



Nelson Motta, O Globo
Um velho amigo escritor de novelas está vivendo na vida real um dramalhão que nunca havia lhe passado pela imaginação de ficcionista.
Depois de 25 anos de convivência, sua fiel cozinheira Luzia, que ele considera a verdadeira mulher de sua vida — pois sobreviveu a três esposas diferentes —, lhe fez uma confissão-bomba.
Aos 20 anos, mãe solteira e desempregada, Luzia deu à luz duas meninas. Foi acompanhada na gravidez e no parto por um bondoso médico casado com uma pediatra. O casal não podia ter filhos e propôs a Luzia que lhes desse as gêmeas em adoção.
Sem trabalho, sem recursos e sem família, já seria duríssimo criar uma filha sozinha, como criar duas?
Com os pais adotivos elas poderiam crescer numa boa família com todas as condições de lhes dar uma vida confortável e afetuosa e lhes proporcionar uma boa formação pessoal e profissional.
Luzia hesitou muito, sofreu muito para decidir, mudou de ideia várias vezes, e, quando as meninas tinham dois meses, no último momento, com o coração partido, decidiu ficar com uma e entregou a outra aos pais adotivos, assumindo o compromisso de jamais procurá-la.
Mudou de cidade e trabalhou duro por trinta anos para dar uma boa educação à filha, hoje casada e com um filho. Mas mesmo mantendo o compromisso de não se aproximar, o coração de mãe de Luzia sempre acompanhou à distância a vida da outra filha e de sua família.
Sabe que hoje ela é médica e tem dois filhos, mas o pai adotivo morreu e a mãe está muito doente. E decidiu que é hora de conhecer a filha e os netos.
Mas não pode telefonar ou bater na sua porta e dizer “mamãe chegou”. O escritor sugeriu que o melhor seria uma carta contando toda a história. E aí a filha poderia, como nas novelas, encontrar sua mãe biológica.
Ou não. E se ela a odiasse por tê-la dado em adoção, temia Luzia. Ou talvez fique feliz com uma irmã gêmea e uma “nova” mãe, o escritor a animava.
Coube a ele a mais importante missão dramatúrgica de sua vida: escrever a carta de Luzia contando à filha toda a verdade. Como ela reagirá? Luzia se reunirá com suas filhas e netos num final feliz? Fim de capítulo.

Nelson Motta é jornalista

Porto Seguro: Weber diz que há mais procuradores envolvidos


‘Não quero citar nomes’, diz ex-advogado-geral adjunto, que foi indiciado pela PF



BRASÍLIA — O ex-advogado-geral adjunto da União José Weber Holanda Alves disse nesta quinta-feira não ser “vilão nessa história”, em referência à Operação Porto Seguro da Polícia Federal, e apontou a participação de outros procuradores da União no esquema de compra e venda de pareceres jurídicos investigado pela PF. Em entrevista ao GLOBO, por telefone, Weber defendeu o ministro-chefe da Advocacia Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, responsável por sua indicação ao cargo de advogado-geral adjunto.
— O ministro é um homem de bem, honrado — disse Weber, que evitou comentar o depoimento de Adams no Senado, na quarta-feira.
Aos senadores na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Adams subiu o tom contra o ex-braço-direito e apontou uma “relação promíscua” nos casos que envolveram a AGU na Operação Porto Seguro.
— Estou como vilão nessa história e eu não sou vilão. Outros procuradores estão envolvidos e não se fala sobre eles. Não quero citar nomes — afirmou Weber.
AGU identifica 40 atos de Ex-advogado-Geral
O ex-advogado-geral adjunto não disse se a referência era aos outros dois consultores jurídicos indiciados pela Polícia Federal — um do Ministério da Educação, Esmeraldo Santos, e outro da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Glauco Moreira — ou a procuradores que não apareceram nas investigações. Diante da insistência do repórter, questionou:
— Você leu o inquérito? Há outras pessoas no inquérito. Só sai meu nome na imprensa. Estou precisando trabalhar e vocês não estão deixando.
Weber afirmou que Adams “não está sendo acusado de nada” e que, desde a deflagração da Operação Porto Seguro, não teve mais contato com ele. Disse que está lendo o inquérito e que, só depois, vai falar sobre as acusações e as medidas e o tom adotados por Adams.
A AGU identificou 40 atos de Weber, desde a nomeação para o cargo de adjunto, em 2009, com alguma validade jurídica e repercussão em outros atos do órgão. A cúpula da AGU só divulgou o conteúdo de sete atos, relacionados à Ilha de Bagres, concedida ao ex-senador Gilberto Miranda (PMDB-AM). Weber e Miranda foram indiciados pela PF por corrupção passiva e ativa, respectivamente, por suposto favorecimento na concessão de ilhas a Miranda.
Aos senadores na CCJ, Adams detalhou as providências adotadas apenas em três casos em que houve manifestações de Weber: as concessões das Ilhas dos Bagres, em Santos (SP), e das Cabras, em Ilhabela (SP), ao ex-senador Miranda, além do caso referente aos interesses da empresa Tecondi na área portuária de Santos. O GLOBO apurou mais dois casos.
AGU abre sindicância para apurar concessão
Após a Consultoria Jurídica da União em São Paulo, vinculada à AGU, sinalizar que reprova a concessão à Miranda da Ilha Caneu, em Santos, o processo foi transferido para a AGU em Brasília. Segundo Weber, isso ocorreu a partir da manifestação de uma empresa do ex-senador. O pedido foi “dirigido ao ministro”, mas o despacho coube ao advogado-geral adjunto.
Em outubro de 2011, Weber fez um parecer sobre concessão de áreas da União a empresas e pessoas físicas em que não colocava objeção à medida, chamada de aforamento. O documento foi remetido a São Paulo. A Secretaria de Patrimônio da União (SPU) no estado, vinculada ao Ministério do Planejamento, decidiu pelo aforamento de Caneu a uma empresa de Miranda, tanto da área seca quanto da área de mangue. A decisão está suspensa desde a deflagração da Operação Porto Seguro.
Entre os indiciados, está a ex-superintendente da SPU em São Paulo Evangelina Pinho.
— Fiz o despacho com base numa interpretação jurídica, em tese. Nem citei nomes de empresas — sustentou Weber.
A AGU também apura se Weber influenciou a troca do comando da Procuradoria Seccional da União (PSU) em Santos, área de interesse de Miranda. Weber admitiu ter conversado sobre a PSU em Santos com o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira, apontado como chefe da quadrilha. E disse ter sido consultado na AGU sobre indicações para o cargo.
— Paulo Vieira era diretor do Conselho da Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo) e falava sobre muitos assuntos — afirmou.
Em resposta ao GLOBO, a AGU informou que abriu sindicância para apurar os fatos relacionados à Ilha Caneu. “O despacho foi feito sem que Weber de Holanda tivesse competência para isso, portanto o ato é nulo. O ministro Adams não tinha conhecimento de que Weber havia enviado o despacho para São Paulo”.
Sobre a mudança na PSU em Santos, em 2011, a AGU disse que o então procurador manifestou interesse em se afastar do cargo. “A Procuradoria Geral da União, em conjunto com a Procuradoria Regional da União da 3ª Região, sugeriu o nome de uma advogada após entrevista e avaliação do perfil. Ela estava lotada à época na Corregedoria da AGU.” A PSU em Santos não quis se manifestar.

Decisão é do Congresso, dizem parlamentares


STF discute se deputados condenados no mensalão devem ou não ter seus mandatos cassados

06 de dezembro de 2012 | 20h 25
JOÃO DOMINGOS - Agência Estado
Em reação ao voto do relator do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, congressistas de vários partidos insistem que a palavra final sobre a perda do mandato dos parlamentares condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) é deles. Afirmam que a Constituição lhes dá essa prerrogativa, conforme estabelecido pelo parágrafo segundo do inciso sexto do artigo 55.
"Eu não estou comentando qualquer voto do Supremo. Estou falando sobre o que a Constituição determina. Quem faz o ato da perda do mandato é a Câmara, no caso dos deputados, e o Senado, no caso de senadores. Isso está muito claro", disse o presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE).
O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), disse que a Câmara vai cumprir a lei. "Se vier uma decisão do Supremo pela cassação dos mandatos, competirá à Câmara abrir o processo e dar a palavra final. Isso é o que estabelece a Constituição". Ao saber que o relator do processo, Joaquim Barbosa, anunciou que se for decretada a perda o Supremo não vai entrar em choque com o Legislativo, apenas comunicar que houve a cassação, Tatto disse que não esperava outra coisa da Corte. "Não vou dizer que é um recuo. Apenas que é o reconhecimento do que diz a Constituição".
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), viajou para o Rio Grande do Sul e não comentou o voto de Joaquim Barbosa. Mas ele já havia adiantado que lutaria pelo cumprimento do artigo 55 da Constituição e que não decretaria a perda do mandato de quem vier a ser cassado pelo STF. Antes, vai instaurar o processo, exatamente como deseja Joaquim Barbosa. Já o futuro líder do PT, José Nobre Guimarães (CE), preferiu ser cauteloso. "Vamos esperar o voto de todos os ministros para depois comentar".
Esta não é a primeira vez que o Congresso entra em choque com a Justiça. Em 2007, mesmo sem uma lei formal, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu impor a fidelidade partidária na legislação eleitoral no Brasil. Ao julgar uma ação do DEM, o TSE decidiu que o mandato pertencia ao partido. Isso fez com que as legendas que se sentiam prejudicadas com o troca-troca partidário requeressem a cassação do mandato dos infieis e sua posterior substituição pelos suplentes. No mesmo ano, o STF estabeleceu o entendimento de que a fidelidade partidária passaria a ser a norma. Mas só valeria para a cassação dos mandatos de parlamentares que trocaram de partido após a decisão do TSE.
Outro motivo de choque foi a Lei da Ficha Limpa. Muitos candidatos foram pegos por ela no meio da campanha eleitoral de 2010. Impedidos de tomar posse, eles recorreram ao TSE e ao STF, alegando que a norma só deveria valer para as eleições seguintes, porque não poderia retroagir para prejudicar. O Supremo decidiu que eles tinham razão. Desse modo, recuperaram o mandato os senadores João Capiberibe (PSB-AP), Jáder Barbalho (PMDB-PA) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), entre outros políticos. 

Escândalos não viajam: quando voltar ao Brasil, Lula vai encontrar o caso Rose à espera das explicações que não há



“O presidente Lula se sentiu esfaqueado pelas costas”, repetiu nesta quinta-feira Paulo Okamoto, tesoureiro particular e amigo íntimo do palanque ambulante que desligou o serviço de som desde a aparição de Rosemary Noronha no noticiário político-policial. Se fosse uma facada de verdade, o ataque teria  interrompido rudemente o sono sem culpas  que só é permitido aos bebês de colo, coisa que Lula deixou de ser há mais de 60 anos, aos homens justos, estirpe a que jamais pertenceu, ou a pecadores desprovidos do sentimento da vergonha. Mas foi uma facada retórica: Okamoto está querendo dizer que, como sempre, o velho amigo não sabia de nada.
Se não necessita de cuidados médicos, Lula precisa encontrar com urgência explicações que não há ─ o que torna o caso mais aflitivo, talvez até mais perigoso do que o escândalo do mensalão. “Quando não se sabe o que fazer, melhor não fazer nada”, ensinou dom João VI. Quando não sabe o que dizer, o animador de comício mais falante do Brasil encomenda um surto de mudez malandra e sai de cena. Atropelado em 23 de novembro pelas descobertas da Operação Porto Seguro, ordenou a Okamoto que espalhasse a fantasia da faca e caiu fora do palco. Passados 15 dias, ainda não deu um pio sobre a enrascada em que se meteu ao lado de Rose.
Em duas semanas, recuperou a voz duas vezes, mas para falar de coisas sem parentesco com a fábrica de espantos que instalou no escritório paulista da Presidência da República. Em 27 de novembro, apareceu no Rio para uma festa da Pirelli. Depois de receber um prêmio entregue pela atriz Sophia Loren, cumprimentou-se por ter promovido a pobres 28 milhões de miseráveis e  avisou que “o Brasil não vai desperdiçar o século XXI como fez com o século XX”. Sobre Rose, nem uma vírgula.
No dia 29, ressurgiu em São Paulo num encontro de catadores de lixo e enfeitou a conversa fiada com cifras ainda mais hiperbólicas. “Muita gente não quer entender por que se levou 40 milhões de pessoas para a classe média, por que se gerou quase 20 milhões de empregos”, queixou-se. “Neste país, as notícias ruins são manchetes, as notícias boas saem pequenininhas”. Sobre os quadrilheiros que nomeou a pedido de Rose, nem um suspiro.
Sumido há sete dias, vai passar os próximos 15 longe do cenário dos crimes. Embarcará hoje rumo ao Qatar e promete voltar ao Brasil perto do Natal, depois de escalas na França, na Alemanha e na Espanha. Não precisou esconder-se tão longe no inverno de 2005, quando descobriu que o slêncio e o sumiço poderiam livrá-lo do afogamento no pântano do mensalão. Nesta primavera, a reprise da mágica de picadeiro só serviu para confirmar que é bem menos penoso suportar tempestades entrincheirado no gabinete presidencial.
Um ex-presidente não circula por ruas interditadas aos brasileiros comuns, precedido por batedores e escoltado pela multidão de agentes de segurança. Não voa no Airbus que se chamava AeroLula nem dispõe de uma frota de helicópteros. Não emudece impunemente quando lhe dá na telha. Um ex-presidente não se refugia em palácios e escala algum ministro para lembrar aos jornalistas que o Primeiro Servidor da Pátria tem coisas mais importantes a fazer. Não adia a hora da verdade com a inauguração de quadras prontas, creches inacabadas ou pedras fundamentais.
Pela primeira vez, Lula viu-se em apuros fora do poder. Pela primeira vez, viu-se acossado por acusações e suspeitas amparadas em fatos e documentos. Foi ele quem promoveu Rosemary Noronha a autoridade da República, foi ele quem exigiu que Dilma Rousseff mantivesse no cargo a vigarista de estimação, foi ele quem transformou delinquentes em diretores de agências reguladoras, foi ele quem confundiu interesses públicos com prazeres privados. Cedo ou tarde, e em direito a ditar as regras da entrevista, terá de tentar provar que não tem culpa no cartório.
Não será fácil, advertem numerosos e-mails enviados por Rosemary Noronha aos parceiros de quadrilha. Num recado sem data a Rubens Vieira, por exemplo, a mulher que se apresentava com “namorada do Lula” orienta o comparsa em campanha por uma diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil. “Vou tentar falar com o PR na próxima 3a.feira na sua vinda a São Paulo. Se vc estiver aqui em São Paulo, posso te colocar no Evento de 3a.feira a tarde pelo menos vc cumprimenta só para ele lembrar de vc, aí eu ataco! Bjokas”.
Às 13 horas de 17 de março de 2009, Rubens ficou sabendo que as coisas andavam muito bem: “O PR falou comigo hoje e disse que na terça-feira, quando voltar dos USA, resolve tudo do seu caso e disse que a Mirelle precisa começar a trabalhar logo. Fiquei Feliz!” Filha de Rose, Mirelle não demorou a ganhar um empregão na Anac. Nunca começou a trabalhar. São apenas duas amostras. Há mais, muito mais.
Nos próximos 15 dias, a viagem poupará o ex-presidente de cobranças constrangedoras. Mas escândalos não viajam, nem ficam menores se os protagonistas fingem que não o enxergam. Quando voltar ao Brasil, Lula encontrará à sua espera o caso Rose. A assombração estará do mesmo tamanho. Ou maior.

OBRA-PRIMA DO DIA - ARQUITETURA Oscar Niemeyer - 'Fiz do meu jeito' (My Way)


Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 
7.12.2012
 | 12h00m
Passa das 5 da manhã e eu ainda não sei o que dizer hoje, aqui. Não tenho o que dizer que vocês já não tenham lido em jornais ou na Internet ou assistido na TV.
Leio coisas interessantes: que ele adorava o Sinatra e especialmente My Way. E que tocava cavaquinho. Sabia que ele gostava de reuniões com amigos e música, de bossa nova e samba. Que foi dele o cenário do musical Orfeu da Conceição, música de Tom Jobim, poesia de Vinícius de Moraes e cenário do Niemeyer!
Vamos por a cuca pra trabalhar. Você conhece algum outro caso parecido: três “monstros” em suas respectivas áreas assinando um musical? Desculpem, sou uma das privilegiadas que assistiram Orfeu no Municipal. Ser velha tem algumas vantagens...


Escolho as obras que ainda não mostrei aqui e que falam muito de perto ao meu coração. E as frases desse pensador admirável. E dois textos. Um assinado pelo Vinícius que acabara de ler um desabafo do Niemeyer sobre críticas à sua Brasília e o poetinha consola o amigo:
"Por isso, meu caro Oscar, não ligue demais aos seus detratores. A maioria deles são pintas ultramanjadas. Há, como você muito bem diz, aqueles "a quem falta uma concepção mais realista da vida, que os situe dentro da fragilidade das coisas, tornando-os mais simples, humanos e desprendidos".
E a esses, como você muito bem faz, cabe "compreendê-los sem ressentimentos". Mas há também, e infelizmente, os velhacos, os trapaceiros, os provocadores, os policiais. Com esses, é preciso ter mais cuidado. Pois eles estão aí, e partidos para a ignorância. ("Oscar Niemeyer", Vinícius de Moraes)"

O outro é um trecho de uma entrevista dada pelo nosso arquiteto ao então correspondente do The Guardian sobre Arquitetura e Design:
"Pego minha caneta, surge um edifício"
"- Claro que já dei aos meus engenheiros muita dor de cabeça ao longo dos anos, mas eles me acompanham. Sempre quis que minhas construções fossem o mais leve possível, que tocassem o solo gentilmente, que surgissem e planassem e surpreendessem. Arquitetura é invenção. Deve oferecer prazer tanto quanto funcionalidade.
- Se você só se preocupar com a função, o resultado é horrível. Muitas de minhas obras foram monumentos cívicos e políticos, mas talvez alguns tenham dado ao homem comum, ao homem sem poder, uma sensação de prazer. É isso que os arquitetos podem fazer. Mais nada".
Foto: Vanderlei Almeida/AFP/Getty Images

Quando revisitei o Museu de Arte Contemporânea, em Niterói (acima), vi claramente isso: o prazer que as pessoas têm em tirar fotos ao lado do MAC, as crianças correm felizes aquela rampa, de braços abertos como se fossem abraçar o prédio diferente, e acolhedor. Uma obra de arte, mas bastante próxima de um desenho dos Jetsons.
Visito o Museu Nacional de Brasília (Museu Nacional Honestino Guimarães) (abaixo), das últimas obras do artista, tem uma cúpula com um vão de 80 m e uma passarela elevada que o envolve por fora e o penetra serpenteando.

Foto:Imge Broker/Rex Features
Como conceito é magnífico, embora o museu ainda não seja bem um museu...Jonathan Glancey The Guardian 1/8/2007
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Casa das Canoas (hoje Fundação Oscar Niemeyer)
Tantos anos passados... E minha mulher, que levanta sempre muito cedo, volta para a cama do lado esperando dar 8:30 para me acordar. Muitas vezes finjo que estou dormindo só para ela ter o prazer de me acordar dizendo: - Oscarzinho, são oito e meia!
Foto: Haywood Magee/Getty Images - 1950
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Museu Oscar Niemeyer (Museu do Olho) Curitiba, Paraná

Oscar Niemeyer pensador:
Acho muito bom a pessoa se recolher e ficar pensando em si mesma, conversando com esse ser que tem dentro dela, que é nosso sósia, né? Eu converso com ele a vida inteira.
*Fiz o que quis. Juscelino Kubitschek nunca me disse para projetar cúpulas no Congresso, rampa no Planalto, parlatório - Até que ficou direitinho. Se não houvesse parlatório, os presidentes ficariam acenando para o povo de uma janela, como se fossem papas. Seria ridículo.
**Lembro-me da noite em que Fidel esteve em meu escritório. Convidei amigos e, à meia-noite, quando ele ia embora, o elevador enguiçou. Para pegar o outro, ele teve de passar pelo apartamento de um vizinho, que até hoje conta essa ocorrência com certo orgulho. Dá para imaginar o susto do casal ao abrir a porta e dar de cara com o Fidel? O único comunista que mora nesse prédio sou eu. Mas, quando Fidel saiu, o edifício todo estava iluminado e o pessoal batendo palmas. Dizem que é preciso a noite para surgir o dia, e foi isso que aconteceu com Cuba.
***Os caminhões de operários vinham de toda parte do Brasil querendo colaborar, pensando que iam encontrar a terra da promissão, e estão lá nas cidades satélites, tão pobres quanto antes. Não basta fazer uma cidade moderna; é preciso mudar a sociedade. Isso é que é importante.
****Sempre que viajava de carro para Brasília, minha distração era olhar para as nuvens do céu. Quantas coisas inesperadas elas sugerem! Às vezes são catedrais enormes e misteriosas - as catedrais de Exupéry com certeza. Outras, guerreiros terríveis, carros romanos a cavalgarem pelos ares. Outras, ainda, monstros desconhecidos a correrem pelos ventos em louca disparada e, mais freqüentemente, lindas e vaporosas mulheres recostadas nas nuvens, a sorrirem para mim dos espaços infinitos.
*****Nossa passagem pela vida é rápida. Cada um vem, conta sua história, vai embora e depois ela será apagada para sempre. A vida continua.
******Existem apenas dois segredos para manter a lucidez na minha idade: o primeiro é manter a memória em dia. O segundo eu não me lembro.