Carlos Brickmann -01/11/217
O ministro da Justiça, Torquato Jardim, mudou o jogo: no país em que bois voadores fizeram a fortuna de Eduardo Cunha, em que fazendas de muitos andares abrigaram os bois de apartamento de Renan Calheiros, no país dos bois anônimos e de hábitos pouco comuns, Jardim deu nomes aos bois e apontou seu papel na insegurança pública do Rio. Em notável entrevista a Josias de Souza (https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/ ), Jardim disse que o governador Pezão e seu secretário da Segurança perderam o controle das forças de segurança e que o que define o comando da PM é um acerto com deputados estaduais e o crime organizado. Disse mais: “Comandantes de batalhão são sócios do crime organizado no Rio”.
Há o que fazer? O ministro acredita que ações com tropa federal podem ajudar um pouco, mas que só haverá condições para um combate efetivo ao crime organizado a partir de 2019, com outro governador, outro secretário. Com os atuais dirigentes, não há jeito: disse Jardim que ele, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, e o secretário do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general Sérgio Etchegoyen, já tiveram duras conversas com Pezão, sem êxito. Antes que a situação melhore, ainda deve piorar: na opinião do ministro, os atuais bandidos estão cedendo espaço às milícias, quadrilhas que envolvem policiais. Cada milícia tem seu espaço, dificultando ainda mais o restabelecimento da segurança pública no Estado.
Nós, não
O ministro Torquato Jardim diz estar convencido de que o assassínio do tenente-coronel Luiz Gustavo Teixeira, comandante do 3º Batalhão da PM carioca, que emocionou o país, não está bem contado. Não foi, acredita, a consequência de reação a um assalto. “Ninguém me convence de que não foi acerto de contas”. O governador Pezão e o secretário da Segurança, Roberto Sá, garantiram que o Governo do Rio não negocia com criminosos.
O rigor da lei
O ministro da Justiça é uma autoridade e se responsabiliza pelo que diz. Fez acusações pesadas ao governador do Rio, incluindo opiniões sobre um assassínio que a Polícia fluminense diz estar empenhada em esclarecer. Neste momento, está reunida na Câmara dos Deputados a Comissão de Segurança Pública, que convidou o ministro Torquato Jardim a depor. Hoje? Amanhã, embora seja feriado? Não, nada disso: imagina-se que ele vá falar no dia 8, quarta-feira que vem. Morre mais gente no Rio, nas mãos das quadrilhas, do que em países onde há guerra civil. Para que pressa?
Poderes unidos
E não é só o Legislativo – inclusive as Excelências da oposição ao governador, que deveriam estar interessados em desdobrar rapidamente o caso – que se recusam a qualquer esforço extraordinário. O alto comando da Câmara, sob a chefia do presidente Rodrigo Maia, está no Oriente Médio, diz-se que a serviço – embora nada esteja acontecendo de diferente por lá, embora Maia seja o substituto legal do presidente Michel Temer, que acaba de deixar o hospital. O Poder Judiciário, no momento em que o governador de um dos principais Estados do país sofre pesadas acusações de um ministro, entrou de folga (e, ainda por cima, legalizou-a).
O Direito em repouso
O Dia do Servidor Público, 28 de outubro, caiu num sábado. Como não dá para repousar duas vezes no mesmo dia, o Supremo transferiu o feriado para esta sexta, dia 3, em que supostamente haveria trabalho normal. Com isso, a folga do STF já começa hoje, porque 1º de novembro é feriado para o Judiciário; o dia 2, amanhã, é Finados; e o dia 3, que não era feriado, agora é um supremo feriadão. E não vale só para o Supremo: o STJ aderiu. Não é por ter 60 dias anuais de férias e cinco feriados além dos válidos para o restante da população que as togas devam sofrer a perda de um feriado.
Bico fechado, tá?
O caro leitor não deve reclamar da nova folga dos togados. Se tivesse se dedicado mais aos estudos, em vez de ficar reclamando do pouco empenho dos supremos escolhidos, poderia ter alcançado o conhecimento jurídico de um Dias Toffoli; ou, versando-se em comunicação, talvez pudesse igualar-se à esfuziante oratória de um Marco Aurélio. Esforçando-se na arte do bom relacionamento, emularia, é possível, um Gilmar Mendes, E, caso tivesse mergulhado na leitura do clássico de autoajuda Como fazer amigos e influenciar pessoas, de Dale Carnegie, ficaria em melhores condições para pleitear um lugar de destaque, como o de Ricardo Lewandowski. Não conseguiu tão boa posição? Quem mandou não estudar o que deveria?
É coisa deles
Um fato da maior importância para o Brasil ocorreu no Exterior: dois dirigentes da campanha de Trump são investigados pelo FBI por permitir interferência de outros países na eleição. Um já está preso, outro ainda não.