segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Uma teoria simples sobre a corrupção


por , segunda-feira, 8 de setembro de 2014

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corrupcao.jpgPor que há essa percepção generalizada de que políticos são corruptos?  Qual exatamente é o arranjo que gera incentivos para que eles sejam corruptos?  Existe realmente uma maneira de ser diferente?
O intuito aqui é estabelecer uma teoria muito simples sobre a corrupção. 
O poder do estado — e, por conseguinte, o poder daqueles que detêm cargos de poder dentro da máquina estatal — é o poder de pilhar, usurpar e dar ordens.  Quem detém o poder estatal detém a capacidade de se locupletar.  A capacidade de se locupletar estando dentro da máquina estatal é a definição precípua de corrupção.  A corrupção sistemática necessariamente acompanha um governo.  Ela está presente na história de absolutamente todos os governos.  Varia apenas a intensidade e o grau de exposição e de denúncia pela mídia.
A teoria por trás destas conexões é simples.  O governo detém o monopólio da criação de leis.  E o monopólio da criação de leis gera oportunidades para se roubar legalmente.  Roubar legalmente significa aprovar uma lei ou regulamentação que favoreça um determinado grupo à custa de todo o resto da economia, principalmente os pagadores de impostos.
Grupos de interesse — por exemplo, grandes empresas, empreiteiras ou empresários com boas ligações políticas — ansiosos por adquirir vantagens que não conseguem obter no livre mercado irão procurar determinados políticos e fazer lobby para "convencê-los" a aprovar uma determinada legislação que lhes seja benéfica.  Essa legislação pode ser desde a imposição de tarifas de importação até a criação de agências reguladoras que irão cartelizar o mercado e impedir a entrada de novos concorrentes.  Pode também ser uma mera emenda orçamentária que irá beneficiar alguma empreiteira que será agraciada com a concessão de alguma obra pública. 
Em todos esses casos, o dinheiro público estará sendo desviado e desperdiçado, seja em obras superfaturadas, seja na criação de burocracias desnecessárias e que irão apenas encarecer os preços dos bens e serviços e reduzir sua qualidade.  E quanto maior o volume de dinheiro público desviado, maior é a fatia que acaba indo parar no bolso desses próprios políticos.
O fato é que o voto destes políticos em prol da criação destas legislações anti-mercado ou destas emendas orçamentárias é um bem econômico para essas empresas. 
Mas há um problema: se esses legisladores não cobrarem um preço pelo seu voto favorável — isto é, se o custo para se fazer lobby for zero —, então a demanda por legislações específicas será infinita.  Sendo assim, esses legisladores terão de elevar o preço do seu voto com o intuito de estabelecer parâmetros para os espertalhões que estão brigando pelo seu voto favorável.  Esse preço inclui contribuições de campanha, dinheiro em contas no exterior, favores corporativos, publicidade favorável, e vários outros.  Suborno e propina são apenas as formas mais cruas desse leilão.
O resultado final é uma corrupção endêmica que não pode ser eliminada.  E ela será tanto maior quanto maior for o tamanho e o escopo do estado.  Não existe algo como um governo limpo e transparente.
Senadores, deputados e burocratas reguladores — todos estão, de uma forma ou de outra, propensos a esta atitude.  Mesmo um político ou burocrata que seja genuinamente honesto pode ser acusado de conivência, pois não irá denunciar seus colegas.
Roubo e corrupção perpassam o governo em todas as suas atitudes e medidas.  Todas as atitudes e medidas do governo sempre envolvem mentiras, injustiças, malversações, delitos, propinas, subornos, favorecimentos, fraudes, deturpações, negociatas, emendas favoráveis e exploração.  E essas são apenas as coisas publicáveis.
A corrupção, aliás, já começa pela linguagem.  "Contribuições de campanha" ou "doações" são apenas um eufemismo para 'propina'.  Quem dá dinheiro a políticos o faz ou porque acredita no que eles dizem defender ou porque espera influenciar seus votos legislativos.  Tais pessoas sempre esperam ganhar algo que necessariamente virá à custa de outros.  Políticos que recebem contribuições de campanha se tornam meros porta-vozes dos interesses de seus financiadores.  O dinheiro irá ajudar o candidato a criar uma coalizão que poderá usar o poder do estado em benefício de um determinado grupo de interesse sem sofrer nenhuma resistência excessiva.  Afinal, trata-se de um roubo legalizado.  
A grande arte da política está em conseguir, simultaneamente, aplausos dos favorecidos e apoio dos que estão sendo roubados.
O político gerencia um esquema de extorsão semelhante ao da máfia.  Seu salário é pago pelas vítimas, ou seja, pelos pagadores de impostos que não têm voz ativa.  Seus "complementos salariais" — o chamado "por fora" — são pagos por grupos de interesse, o que fará com que ele espolie ainda mais os pagadores de impostos.  Tudo é feito com grande astúcia, sendo a função do político convencer as vítimas de que elas não estão sendo espoliadas.  Isso ele sempre consegue.  O político é, acima de tudo, um falso. 
Corrupção sistemática — não apenas a corrupção que envolve meios financeiros, mas também a corrupção da linguagem e das atitudes — necessariamente acompanha um governo.  Qualquer governo.  E a corrupção é endêmica porque a política é a arte da ladroagem. 
Quando eleito, um político irá se esforçar para garantir seus interesses e os interesses de seus financiadores da melhor forma possível.  Para que mais serve um governo?  Governo é roubo.  Governo é corrupção.

Hans F. Sennholz  (1922-2007) foi o primeiro aluno Ph.D de Mises nos Estados Unidos.  Ele lecionou economia no Grove City College, de 1956 a 1992, tendo sido contratado assim que chegou.  Após ter se aposentado, tornou-se presidente da Foundation for Economic Education, 1992-1997.  Foi um scholar adjunto do Mises Institute e, em outubro de 2004, ganhou prêmio Gary G. Schlarbaum por sua defesa vitalícia da liberdade.

Tradução de Leandro Roque

Cartas de Londres: Bancos de memória


Beatriz Portugal
Despretensioso, o banco de madeira estava num canto remoto do parque. Um caminho estreito ia até ele, arbustos espinhentos de ambos os lados. Não se vislumbrava muito dali, apenas as folhagens das árvores e a grama que crescia sem controle.
Um banco como tantos outros que estão por toda a cidade, em parques e praças, na beira do Tâmisa e de ruas movimentadas, em cantos encantadores e em locais pouco memoráveis.
Bancos que os londrinos conhecem tão bem como objetos que proporcionam um lugar onde se conversa, almoça, lê, fuma, brinca, namora, briga, descansa, pensa. Seja ele um banco solitário com o qual se deparou por acaso ou um que é tido quase como um bem valioso que quando avistado vazio entre tantos outros ocupados acelera-se o passo para conseguir reivindicá-lo como seu.
Alguns tem aparência surrada e cansada, outros são novos e ainda não castigados pelo tempo, mas uma coisa que grande parte desses bancos têm em comum é que eles tem uma história para contar.
Difícil encontrar um banco que não tenha uma plaquinha com um nome, datas e uma dedicatória que, em poucas palavras, homenageia alguém. Um alguém que geralmente já faleceu mas cujo familiares adotaram o banco como um lembrete físico de quem a pessoa foi, o que gostava e o que significou.
A maioria das inscrições traz mensagens de amor e saudade, mas os dizeres também podem contar histórias, que mesmo desconhecidas, podem ser comoventes, engraçadas, tristes.
Alguns bancos ficam famosos pela placas que trazem, como a que diz: “Memorial ao marido desconhecido. Muitas vezes imaginado. Muito desejado. Nunca encontrado”.
Outros trazem conselhos: “Tire um dia, descanse um pouco e finja que o mundo é apenas para você”.
Enquanto a maioria é dedicado a falecidos, outros são para os vivos: “Agora nos meus oitenta este assento desocupei, mas caro vizinho não suspire ainda, apenas me mudei para Somerset”.
Os bancos não são sem controvérsia. Há sugestões de que se deve ter outra maneira de lembrar publicamente um ente querido – com o plantio de árvores, por exemplo. Assim, os bancos poderiam permanecer simples bancos e não memoriais capazes de tocar estranhos com a mortalidade quando o que se queria era apenas sentar.
Descobrir histórias pode ser algo melancólico, principalmente quando se depara com um banco dedicado a uma criança, como aquele que, escondido por arbustos espinhosos, escancarou a dor pungente de quem quis prestar uma homenagem: “Viveu por 35 minutos. Amado para sempre”.
A placa pode fazer daquele banco quase insuportável para alguns, mas para mim deixou claro que os bancos londrinos, apesar de simples objetos de madeira, não só capturam as vidas de centenas de pessoas, cada uma com sua própria história, mas são objetos capazes de fazer da cidade impessoal um lugar mais humano.

Beatriz Portugal é jornalista. Depois de viver em Brasília, São Paulo e Washington, fez um mestrado em literatura na Universidade de Londres e resolveu ficar

O poderoso chefão do Paulo Roberto ficará impune?



Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

Nem o mais justo e perfeito idiota consegue acreditar que Paulo Roberto Costa e o a turma de doleiros conectada por Alberto Youssef sejam os líderes máximos de um esquema que lavava mais de R$ 10 bilhões em negociatas com empresas estatais (principalmente a Petrobras) e empreiteiras, envolvendo poderosos políticos, artistas famosos e até craques e dirigentes de futebol.

A pergunta que deveria ser respondida pelo processo da Operação Lava Jato é: Quem é o poderoso chefão acima de Paulo Roberto Costa (agora convertido em um temível delator premiado) e Alberto Youssef (que já foi um dedoduro beneficiado no escândalo do Banestado, que só pegou alguns doleiros como bodes expiatórios e poupou centenas de políticos que se beneficiavam de um grandioso esquema de corrupção)?

Dificilmente, tal pergunta fatal será respondida no Brasil da impunidade e da injustiça ampla, geral e irrestrita. Aqui é a terra onde o crime organizado compensa e muito para seus gestores públicos e privados. As denúncias, com provas, feitas por Paulo Roberto Costa ao Ministério Público Federal e ao juiz Sérgio Fernando Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, seriam suficientes para provocar uma compulsória revolução na República Sindicalista do Brazil, sob criminoso regime capimunista.

Infelizmente, deve acontecer o de (mau) costume: os bodes expiatórios serão punidos para poupar quem está acima deles. A Lava Jato comprovou que o Mensalão era roubo de galinha da vizinha faladeira. O esquema operado pela dupla dinâmica Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, pelo volume movimentado de grana, deveria ser batizado de “Diarião”.  

Chamá-lo de “mensalão 2” é ingenuidade. Até porque o tal “mensalão” nunca deixou de operar, apesar do espetaculoso julgamento pelo Supremo Tribunal Federal que transformou Joaquim Barbosa em herói nacional apenas porque cumpriu o dever de julgar duro com políticos que davam mole para a corrupção. Na Ação Penal 470, quem efetivamente puxará cana por um bom tempo é Marcos Valério (que aparentemente continua quietinho na cadeia, com sua voz delatora providencialmente abafada, para não se tornar companheiro do Celso Daniel).


O “Diarião” do Paulo Roberto Costa e do Alberto Youssef é um sistema bilionário de lavagem de dinheiro que operava diariamente, envolvendo os nada santos nomes de mais de dois terços do senado, quase metade da câmara dos deputados, vários governadores e prefeitos. Sem falar nos empresários, artistas, boleiros e outras personalidades menos votadas cujos nomes podem emergir do oceano de lama investigado pela Lava Jato.

Por mexer com tanta gente graúda é que o caso tem elevado risco de acabar “travado” por “ordens superiores”. Alguém duvida do risco de impunidade? Será que todos os delatados, com provas, por Paulo Roberto Costa vão cair de quatro nesta dança dos famosos? Alguém descrê da chance de ocorrer mais um surto de rigor seletivo, punindo apenas as rêmoras para poupar os tubarões?

O juiz Sérgio Fernando Moro, conhecido nos bastidores da Justiça Federal pelo apelido de “Homem de Gelo”, não deseja uma reedição do Banestado... Mas será que o “sistema” permitirá que o magistrado consiga levar o escândalo até às últimas consequências judiciárias? Ou já tem “puderoso” de plantão derretendo o “Iceman” da mesma forma como fizeram com o Joaquim Barbosa – forçado a tirar o time de campo prematuramente?

O caldo e o rescaldo da Lava Jato comprovaram que o capimunismo brasileiro é um regime de esgoto a céu aberto, com improvável previsão de saneamento básico no curto prazo. A grana fácil do “diarião” continua circulando escancaradamente. Só isto justifica os milhões que surgem do nada, providencialmente lavado e esquentado por esquemas contábeis, para abastecer campanhas eleitorais milionárias. A cada dois anos, os diaristas ou mensaleiros se locupletam cada vez mais...

Se nada de mais sério, institucionalmente falando, acontecer nesta semana, pode anotar que pouco ou nada acontecerá no futuro menos próximo. Mesmo se borrando de medo, apertadinhos e com os deles na reta, os políticos agiram com o cinismo de sempre, diante das delações bombásticas do Paulo Roberto. Veja o que declarou a companheira dele nos tempos do Conselho de Administração da Petrobras. A Presidenta Dilma Rousseff, em campanha reeleitoral milionária, só faltou jurar ontem que precisa de mais informações para “tomar as providências cabíveis”:

“Asseguro que tomarei todas as providências cabíveis. Não com base em especulações. Acho que as informações são essenciais e são devidas ao governo. Caso contrário, a gente não pode tomar medidas efetivas”.

Traduzindo o Dilmês: quem está agora sob pressão e sob risco de acabar afastado do caso é o juiz Sérgio Moro e os membros do Ministério Público Federal que processam e investigam a Lava Jato.

O esquema defensivo da governança do crime organizado tentará jogar no magistrado e nos promotores a culpa pelos vazamentos midiáticos dos depoimentos sigilosos e dos dados criptografados dos processos da Lava Jato.

Em resumo: O Pinguim e o Charada, com o apoio político e institucional do Coringa, da Mulher Gato e da Hera Venenosa, pedirão a cabeça do Batman, do Robin e do mordomo Alfred...

A solução pela impunidade, invertendo-se o papel dos acusadores e acusados, parece a mais “pragmática”, já que não há vagas suficientes para centenas de políticos ladrões no presídio de Gotham City...

O clima ficou mais seco e pesado na corrupta cidadezinha do Planalto Central, onde todos os beneficiários de “diariões” e “mensalões” sabem de tudo, mas sempre se fingem de ignorantes...

Do jeito que a coisa se desenha preta no horizonte perdido, é melhor o Bruce Waine pedir socorro urgente para a velha amiga Águia – que tem inteligência e operacionalidade para esmigalhar as ratazanas...

O filme promete ser divertido... Mas o roteiro não está definido... Contrariando o primeiro teorema do Robin, no Brasil, o crime ainda compensa – e muito...

Enquanto  isso, nos bastidores da batcaverna, ficam sem respostas as perguntas que não querem calar:

Onde está a galinha dos ovos de ouro negro?

Vão pegar o poderoso chefão do “Diarião” da Lava Jato, da Porto Seguro, do Mensalão e por aí vai?

Ou será que o super-bandido continuará impune, como de costume?


Independence Day?

No Brasil, quem conquistou a independência financeira foi a bandidagem...

Por isso, a parada continua indigesta neste 7 de setembro...

E o Sargento Garcia, quando voltar do desfile, promete resolver tudo que estiver a seu alcance para o bem estar da Pátria...



© Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 7 de Setembro de 2014.

CHARGE DO SPONHOLZ

proPinoduTo…



FIQUE BRAVA, GENTE BRASILEIRA!


Mauro PereiraMauroPereira


Como resultado natural da inexorável ação do tempo, a idade vai se acumulando e nos transforma em testemunhas privilegiadas de um conjunto de fatos e acontecimentos que constroem nossa história. Até aí, nada de extraordinário. No entanto, ainda que inadvertidamente, esse estoque fabuloso de informações captadas pelas nossas retinas ao longo de nossa existência e arquivadas no HD de capacidade ilimitada do nosso cérebro espetacular, nos dá a falsa sensação de que somos guardiões da sabedoria e, vencidos pela soberba, em determinados momentos chegamos até a imaginar que já vimos de tudo nessa fugaz experiência terrena.

Ledo engano. Em sua infinita benevolência a natureza nos concede o dom da longevidade, mas, como contrapartida, impõe o exercício da humildade. E nesse aspecto ela é pródiga em nos ensinar que por mais longeva que seja nossa caminhada a vida se renova e renasce todos os dias revelando eventos que julgávamos inconcebíveis. Jamais imaginei, por exemplo, que assistiria a uma das mais degradantes etapas de nossa história política.  Mas os quase doze anos da desastrada e corrupta administração petista provam que o malfeito de ontem se reinventa a cada amanhecer, cada vez mais bem feito.

Paralisado pela incompetência crônica que não perdoa nenhum dos quase quarenta ministérios e sufocado por um rosário interminável de denúncias de corrupção, o governo federal e sua base alugada dedicam mais tempo tentando minimizar os estragos da bandalheira institucionalizada do que na solução dos graves problemas conjunturais e estruturais que se acumulam e ameaçam perigosamente o futuro do País. Acuados,refugiam-se covardemente nas maravilhas de um país de araque que existe apenas no imaginário  deturpado dessa malta que, liderada por uma das maiores fraudes políticas que já se teve notícia, utiliza-se da mais indecente campanha publicitária para ludibriar os brasileiros.

Nesse país de faz de conta, a poupança interna se sustenta nos depósitos de brasileiros que ganham em média 400 reais por mês, foram construídas milhões de creches, todo brasileiro tem direito a um aeroporto pessoal, a universidade é a extensão do lar do estudante e a incorruptível Petrobras realizou investimentos de tamanha monta que garantiu a extinção definitiva do desemprego. No Brasil de verdade, entretanto, nos deparamos com um cotidiano assustador que convive com a falência da Saúde, o caos da Educação, a cruel indiferença com o Saneamento Básico e a absoluta falta de Segurança Pública, entre outros desastres.

Dissimulados, procuram desesperadamente esconder a dura realidade retratada no suplício de milhões de pessoas que têm como única fonte de renda, e de sobrevivência, uns trocados advindos de programas sociais direcionados mais para a preservação de algum ganho eleitoral do que resgatar a dignidade dos seus beneficiários.  As reportagens mostrando o desespero de municípios que imploram por hospitais e equipamentos médicos, agravadas pelos dados imorais publicados pelo IBGE dando conta de estados brasileiros onde praticamente inexiste a implantação de rede de tratamento de esgoto, dimensionam com exatidão o atraso e o subdesenvolvimento a que estamos atrelados.

A implementação de um estado de exceção legalizado pelo resultado das urnas, é uma realidade que nem em sonho ousei admitir. Mas o paternalismo rasteiro das bolsas-qualquer-coisa indica que pode! Nessa democracia indecente o lulopetismo entoa odes inspiradas saudando as bem-aventuranças de uma sociedade pluralista; entretanto, sucumbe à contradição quando recorre à prática do contorcionismo gramatical valendo-se da perfeição homônima do vocábulo “poder”. Às vezes, admite-o como verbo apenas para massagear o ego e conjugá-lo somente no presente da primeira pessoa do singular: “Eu posso!”. O tempo todo, porém, revoga o abstrato e o cultua como artigo definido combinado com substantivo concreto: “O poder!”. O som dessa combinação ordinária os fascina e dita o ritmo frenético que emprestam à marcha hegemônica que dá curso aos seus delírios ideológicos. Maquiavélicos irrecuperáveis, louvam a liberdade de expressão defendendo a volta da censura à imprensa.

Apesar de estupefato e temeroso com as consequências dessa nova concepção comportamental e de retrocesso democrático, reconheço, porém, que nada supera a oportunidade ímpar de ter assistido a evolução da mais infeliz das etapas da política brasileira. Jamais sequer cogitei da possibilidade de conviver com uma casta de políticos tão ineptos, irresponsáveis, oportunistas e corruptos e, concomitantemente, testemunhar o desempenho medíocre de um governo que, além de amasiar-se com a promiscuidade ideológica e flertar despudoradamente com a prostituição política, não se envergonha de recorrer ao flagelo da fome e ao suplício da miséria para amealhar algum dividendo eleitoral.

Nunca na história deste pais se contabilizou tantas denúncias de corrupção, gestão temerária e ação fraudulenta como as colecionadas pelos facínoras que têm comandado a nação brasileira. Embora poucos (ou quase nenhum) foram presos, em tempo algum tantas autoridades foram levadas às barras da justiça.  Mais dia menos dia a casa cai e eles terão de prestar conta dos seus atos.

Infelizmente, o Brasil foi transformado na pátria dos vigaristas, no reduto de vendilhões e no paraíso de velhos (e novos) comunistas que abominam o capitalismo e detestam a burguesia, mas não abrem mão da felicidade, nem da facilidade, que ambos propiciam.

Atônita ante a nova configuração social que se vislumbra, com a confiança um tanto quanto abalada no que se refere a ação do Judiciário e aturdida diante desse desenrolar interminável de falcatruas, a maioria da sociedade parece que abriu mão de ser uma metamorfose ambulante para ter uma opinião formada sobre nada. Amorfa, tem se mostrado incapaz de reagir às provocações debochadas que lhe são disparadas diariamente contribuindo, dessa forma, para que seus agressores a considere definitivamente subjugada ou, pior, cúmplice de suas patifarias.

Ou nos levantemos contra essa era da mediocridade e estanquemos o mal que essa malta vem fazendo ao nosso País, ou não nos restará sequer o consolo de sonharmos com um Brasil decente, soberano, desenvolvido e democrático.

Em repúdio a mais um escândalo de grandes proporções envolvendo as maiores autoridades da República, o Brasil que presta haverá de fazer retumbar pela vastidão das urnas eletrônicas o grito dos indignados. Com certeza ele chegará aos ouvidos moucos daqueles que têm ultrajado a nossa pátria e coberto de vergonha toda uma nação e os fará perceber no horizonte da esperança o raiar de um novo tempo. O da decência.  Que venha esse tempo!

Há uns quatro ou cinco anos eu escrevi um texto afirmando que “os desatinos que vêm assolando  nosso país há praticamente nove anos, infelizmente demandarão o esforço de gerações para recolocá-lo nos trilhos do desenvolvimento. No entanto, apesar de todos os percalços, haveremos de ver triunfar a lisura e a retidão.  Ainda que tardia, despida da toga servil maculada pela gratidão irrestrita, a história se incumbirá de fazer justiça a esses vendilhões da pátria. É só uma questão de tempo”. Hoje, esse tempo já não me parece tão distante como me parecia em 2010.

 Fique brava, gente brasileira!

Novo combustível deixa CPI da Petrobras explosiva


Depoimentos em que ex-diretor envolve parlamentares em esquema de corrupção tira do marasmo CPIs que agonizavam por falta de quórum. Oposição quer íntegra de declarações e direcionar investigação para suspeita de propina na compra de refinaria, avalizada por Dilma

Agência Senado
Com depoimento marcado para quarta na CPI mista, Cerveró é um dos pivôs da polêmica compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras
Estacionada com o esvaziamento do Congresso no período eleitoral, a CPI mista da Petrobras volta a se reunir esta semana movida por um novo combustível que promete torná-la explosiva: o envolvimento de parte da cúpulado Congresso e da base aliada no esquema de corrupção operado pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, segundo ele mesmo declarou à Justiça. Ao envolver ministros, governadores e dezenas de parlamentares – o número varia conforme a fonte –, no desvio de recursos da companhia, Paulo Roberto arrastou o Legislativo para a crise em que o Executivo, por meio da maior empresa brasileira, estava mergulhado. Mas o foco, no que depender dos oposicionistas, continuará sendo o Planalto.

O interesse da oposição no assunto, que atinge diretamente aliados da presidenta Dilma Rousseff (PT), como os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), deve suspender parcialmente o recesso branco no Congresso e restabelecer o quórum na CPI.
A menos de um mês do primeiro turno da eleição, os oposicionistas pretendem dar novo rumo às apurações sobre a polêmica compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. De acordo com relato da revista Veja, Paulo Roberto disse que houve corrupção e que o negócio foi utilizado para abastecer caixa de partidos e pagar propina a alguns dos personagens envolvidos. A transação foi avalizada pela então ministra Dilma Rousseff, que comandava o conselho administrativo da empresa.
Um dos pivôs desse caso, o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró é esperado pela CPI mista nesta quarta-feira, quando será questionado sobre as declarações de seu ex-colega. Cerveró é o autor do parecer que embasou a decisão do conselho administrativo de aprovar a compra da refinaria nos Estados Unidos. Uma negociação que causou prejuízo bilionário à companhia e que, segundo Dilma, só ocorreu por causa do relatório “tecnicamente falho” que omitiu duas cláusulas consideradas prejudiciais à empresa brasileira. O documento era assinado pelo então executivo.
Nos próximos dias, Paulo Roberto Costa, que foi preso na Operação Lava Jato, deverá contar sua versão sobre o caso às autoridades que o ouvem na chamada delação premiada – mecanismo que prevê a redução da pena e até o perdão judicial quando o acusado colabora efetivamente com as investigações. Líderes da oposição já anunciaram que vão pedir à comissão que solicite a íntegra das declarações feitas pelo ex-diretor de Abastecimento. Eles também querem que o Paulo Roberto preste esclarecimentos diretamente à CPI.
Transferência de imóveis
Em depoimento à CPI da Petrobras do Senado, em maio, Nestor Cerveró disse que não agiu de má-fé ao ter tirado do resumo do contrato informações sobre as duas cláusulas e que não teve a intenção de ludibriar os integrantes do conselho. O ex-diretor da estatal declarou ainda que a compra de Pasadena foi boa para a Petrobras. Chamado desta vez a esclarecer a transferência de imóveis a parentes logo após o caso vir à tona, Cerveró também deverá ser questionado sobre outra reportagem desta semana da revista Veja.
A publicação classifica como “nebulosa” a compra de um apartamento de R$ 7,5 milhões por Cerveró no Rio. O negócio, segundo a revista, envolveu a abertura de uma empresa offshore no Uruguai, o uso de um laranja para representá-la no Brasil e a criação de uma empresa fantasma em Saquarema (RJ).
Delação premiada
A falta do número mínimo de integrantes presentes foi o motivo do cancelamento das últimas reuniões das duas CPIs da Petrobras – a mista, formada por deputados e senadores – e a do Senado – desde o início boicotada pela oposição. Desta vez, porém, será diferente. O coordenador jurídico campanha de Aécio Neves, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), e os líderes do PPS e do Solidariedade na Câmara, os deputados paranaenses Rubens Bueno e Fernando Francischini, já anunciaram que vão apresentar requerimentos para que a CPI tenha acesso aos depoimentos de Paulo Roberto. “O depoimento do ex-diretor vai nos ajudar a entender essa organização criminosa que agia dentro da Petrobras. As informações repassadas por Paulo Roberto Costa vão ser muito importantes para o trabalho na CPI”, disse Francischini.
O líder do PPS considera fundamental que a CPI acelere a convocação do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, já aprovada pelo colegiado, para que ele esclareça as denúncias contra cada um dos parlamentares que mencionou na delação premiada. Para ele, caso haja indícios comprometedores, congressistas como Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves, Cândido Vaccarezza (PT-SP), João Pizzolatti (PP-SC), Romero Jucá (PMDB-RR) e Ciro Nogueira (PP-PI) deverão ser investigados pelos Conselhos de Ética da Câmara e do Senado.
“Primeiro, precisamos saber quais parlamentares realmente estão envolvidos no esquema. Feito isso, os Conselhos de Ética da Câmara e do Senado deverão instalar processos para apurar cada caso, dando espaço para a defesa e punindo caso necessário. O país precisa de uma resposta forte do Congresso Nacional”, disse Rubens Bueno.
Políticos citados
A edição da revista Veja desta semana traz a relação de políticos que, segundo a semanal, foram apontados por Paulo Roberto Costa como beneficiários de um esquema de corrupção na estatal operado por ele em sua passagem pela diretoria de Abastecimento, entre 2004 e 2012. Segundo a revista Veja, o ex-executivo entregou, ao todo, os nomes de três governadores (considerando-se aí a atual governadora Roseana Sarney e os ex-governadores Sergio Cabral e Eduardo Campos), um ministro (Edison Lobão), um ex-ministro (Mário Negromonte), seis senadores e 25 deputados, além do secretário de finanças do PT, José Vaccari Neto (confira a lista dos mencionados).
O esquema, relata a publicação, partia de grandes empresas que, para fechar contratos milionários com a Petrobras, transferiam parte do lucro a funcionários da estatal, a partidos da base do governo e a políticos. Antes de chegar ao destino final, o dinheiro era lavado por doleiro, diz a revista.
Números divergentes
Os números dos envolvidos pelo ex-diretor no esquema variam conforme a apuração. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, Paulo Roberto disse que 32 parlamentares, um governador e cinco partidos políticos recebiam 3% de comissão sobre o valor de cada contrato da estatal. O único nome mencionado na reportagem do Estadão é o do presidente do Senado, Renan Calheiros.
De acordo com a Folha de S. Paulo, 61 congressistas e pelo menos um governador receberam dinheiro desviado da empresa. A exemplo de Veja, a Folha cita o envolvimento direto de três partidos da base de Dilma: PT, PMDB e PP.
Supremo
Por envolverem parlamentares e ministro de Estado, os depoimentos serão remetidos ao Supremo Tribunal Federal (STF), responsável por andar andamento e julgar processos contra autoridades federais. Réu em duas ações penais – uma sobre ocultação e destruição de documentos e outra sobre corrupção –, o ex-diretor da Petrobras aceitou a delação premiada para escapar de uma pena que poderia chegar a 50 anos.
Um dos principais alvos da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, Paulo Roberto é acusado de ter recebido propina e de participar de um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões. Ele está preso em Curitiba, mas, pelo acordo firmado, deverá ser posto em liberdade com uma tornozeleira assim que concluir a série de depoimentos.

http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/novo-combustivel-deixa-cpi-da-petrobras-explosiva/

Nossa estranha e dolorida dificuldade para o perdão


É noite alta e eu ainda não preguei os olhos. Não vai. O sono não engata. Amanhã cedo tem trabalho que segue até tarde, como todos os outros dias da vida. Eu preciso dormir, mas é impossível e eu sei por quê. É que o meu coração está pesado e barulhento.
Agora há pouco, meu filho de sete anos me fez algo que eu entendi como incabível. Ele me disse “cale a boca” num instante de irritação infantil, egoísta e imaturo como geralmente são as crianças. Eu dei-lhe uma bronca daquelas, gritada, irrefletida, e ele me pediu desculpas, como em geral fazem os adultos de boa vontade. Mas eu não consegui perdoá-lo ali, na hora. Nem ao meu filho, a quem eu disse “não”, nem a mim mesmo eu fui capaz de oferecer um simples e providencial perdão. Estava encerrado o nosso fim de semana feliz. No tempo combinado, levei-o de volta à casa da mãe dele sem olhar-lhe nos olhos, sem beijo e nem abraço. Sem o “eu te amo”, o “tchau, até amanhã, meu filho”, de sempre. Do jeito mais infantil, egoísta e imaturo possível para um homem de quarenta anos.
Agora estou aqui, insone, doente, sofrendo a falta dele. Consumido de medo e culpa, efeitos terríveis da minha incapacidade para o perdão. E se eu morrer agora, antes de vê-lo de novo? E se me faltar a oportunidade de dizer a ele de perto, olhando-o nos olhos, que eu o perdoo, sim? E se amanhã eu não puder explicar-lhe com calma e amor e cuidado que fiquei chateado porque não se manda o papai calar a boca, mas que o papai ainda é o mesmo que o pega de segunda a sexta na escola, o espera comer a salada em nosso almoço de todo dia e o ama mais que tudo na vida?
E se eu disser e ele não acreditar em nada disso?
Se qualquer dessas coisas acontecer, a culpa será minha. Obra da minha própria e indiscutível incapacidade de perdoar, esquecer e tocar em frente.
De todas as durezas da vida, é certo que entre as maiores e mais dolorosas vive a nossa pouca habilidade para o perdão. Meu Deus! Como é duro perdoar! Aos outros e a nós mesmos, o perdão é nosso mais caro e raro trabalho.
Você e eu e todos nós somos enormes depósitos de mágoas. Nossas casas internas estão abarrotadas delas. Em gavetas superlotadas, nos porões, nos sótãos, debaixo das camas, esquecidas em caixas de papelão fechadas desde uma velha mudança, entupindo passagens em quartos mal usados, dificultando o fluxo do ar e da luz e da vida, lá estão velhos rancores e culpas, chateações e ressentimentos endurecidos com o tempo, como portas emperradas trancando a vida do lado de dentro. Esperando nosso simples e tão difícil perdão.
Explodi numa bronca desmedida em meu filho de sete anos, fui incapaz de desculpá-lo e explicar-lhe os motivos da minha ira porque tenho o coração tumultuado por passagens mal resolvidas, dores passadas, preocupações recorrentes, irritações corriqueiras e outros entulhos. Lixo puro e simples, mato, erva daninha se arraigando no quintal, firme no propósito de sabotar nossas plantas. Ódio empurrando o amor barranco abaixo.
Tudo isso porque dar e receber perdão honestamente, com a verdade das crianças, é tão difícil quanto as decisões mais complexas da vida. Aquelas que você e eu julgamos definitivas e que depois o tempo nos joga na cara o quanto são banais e corriqueiras e ridículas como roupas, móveis, objetos, arquivos e recibos sem uso que relutamos em passar adiante, mas que quando se vão deixam os bolsos, as malas, os computadores e a vida tanto mais leves. Perdoar deve ser isso mesmo, né? Decidir seguir em frente com a bagagem reduzida.
Hoje eu não consegui. Não perdoei a má-criação de meu filho na hora certa e não perdoo a mim mesmo por isso. Minha bagagem segue pesada como meu coração. Acho que não vou morrer antes de ver meu menino de novo. Não desta vez. Mas é certo que morri um pouquinho agora, insone, triste, lembrando seus olhinhos de perdão à espera da minha compreensão que não veio.
Então amanheceu. É outro dia. Tempo de tentar de novo. Perdão, meu pequenino herói. Uma hora, com todo o amor que nos cabe, este seu velho pai há de aprender.

Ciclovia de 70 mil quilômetros ligará 43 países europeus


Eurovelo conta com trechos prontos e que já podem ser explorados por viajantes. Totalidade das rotas, contudo, deve ficar pronta em 2020


De acordo com a Federação Europeia de Ciclistas (ECF), cada uma das rotas recebeu um nome que reflete as paisagens e histórias que serão encontradas pelo trajeto. Segundo a entidade, os percursos vão ligar, por exemplo, o oceano Atlântico ao Mar Negro e o Ártico ao mar Mediterrâneo.