Segundo especialistas, experiência dos profissionais mais velhos e baixa qualificação dos mais jovens prolonga a carreira de pessoas com 50 anos ou mais. Foto: Usace Europe District/Flickr
As pessoas com 50 anos de idade ou mais estão conquistando cada vez mais espaço no mercado de trabalho. Essa parcela da população saltou de 16,7% dos indivíduos ocupados no Brasil em 2003 para 22% em 2011, aponta a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na quinta-feira 26. Ao todo, os ocupados somam 22,5 milhões, melhor resultado dos últimos oito anos.
A pesquisa, realizada nas regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, também mostrou que as pessoas com 50 anos ou mais aumentaram em 4% a sua participação na população em idade ativa no último ano. Elas já somam 12,6 milhões, de um total de 42 milhões de indivíduos em atividade (pessoas acima de dez anos).
David Tadeu Morettini, mestre em administração de empresas e especialista em recursos humanos, aponta que, entre outros fatores, o aumento da proporção desta faixa etária entre a população ocupada se deve à mão-de-obra pouco qualificada no mercado de trabalho brasileiro. “Com isso, as pessoas com mais experiência e, logo, mais idade, conseguem prorrogar sua carreira por já estarem treinadas.”
O IBGE define como população ocupada, pessoas que tinham um trabalho na época da pesquisa. Neste grupo, há uma subdivisão entre empregados (indivíduos que prestam serviços, com ou sem carteira assinada, a um empregador em troca de remuneração), autônomos sem empregados, empregadores e não remunerados.
Das quase cinco milhões de pessoas ocupadas nesta faixa etária nas regiões metropolitanas analisadas, cerca de dois milhões estão no mercado de trabalho de São Paulo, 1,4 milhão no Rio de Janeiro e 527 mil em Belo Horizonte. Ao todo, esse número é 36,4% maior que o da população ocupada entre 18 e 24 anos, que soma apenas 3,1 milhões de jovens.
Essa diferença, segundo Denise Delboni, doutora em administração de empresas e especialista em recursos humanos, se deve ao prolongamento da carreira de indivíduos mais velhos, geralmente de baixa renda, mantidos no mercado por causa de sua experiência. “Isso acaba impedindo pessoas jovens, entre 18 e 24 anos, de conseguir emprego”, diz. E completa: “Os jovens de baixa renda, geralmente, não são qualificados, e têm dificuldades em competir com os mais velhos, vistos como mais vantajosos pelas empresas.”
Os especialistas apontam ainda outro fator para a maior proporção de pessoas com 50 anos ou mais na população ocupada: o valor da aposentadoria. O teto máximo de cerca de 3,5 mil reais para trabalhadores do setor privado não seria atrativo, uma vez que a maioria das pessoas, principalmente de baixa renda, se aposenta com um valor abaixo do máximo permitido.
Mas a população mais velha também traz outras vantagens aos empregadores. “Ela está mais aculturada ao mercado de trabalho e mais comprometida, até porque precisa do emprego”, aponta Delboni. “O jovem é mais instável, tem sempre um plano B.”
“Essa pessoas tendem a faltar menos e se sujeitam com mais facilidade a ganhar um salário um pouco menor, algo mais difícil para uma pessoa jovem e em ascensão no mercado”, completa Morettini.
Segundo o IBGE, a proporção de pessoas ocupadas no grupo de 25 a 49 anos e de 15 a 17 anos de idade, registrou um aumento menor que a faixa de 50 anos ou mais: 0,9% e 0,7%, respectivamente. Isso ocorreu também, aponta o órgão, pelo envelhecimento populacional.
Cinquentões e ativos
Desde 2003, aumenta a participação de indivíduos acima de 50 anos na distribuição de pessoas em idade ativa. Há oito anos, essa faixa populacional era de 23,3%, passando para 30,1% em 2011. Uma alta que pode ser explicada, além da insatisfação com a aposentadoria, pela necessidade de empreender para permaner no mercado.
“Empresas de alguns setores, como a construção civil, não contratam pessoas com mais de 50 anos”, diz Delboni. “Isso pode impulsionar o empreendedorismo por necessidade, a pessoa vai fazer algum outro trabalho e continuar ocupada, mas sem salário.”
De acordo com Morettini, há espaço também para aqueles com interesse e aptidão para investir em um negócio por vontade prória. “Hoje há uma facilidade maior para isso, o mercado está em ascensão. A terceirização é muito elevada no Brasil e isso abre portas para montar um negócio.”
As regiões metropolitanas do Rio de Janeiro (33,7%), Porto Alegre (30,1%) e São Paulo (29,5%) possuem a maior porcentagem desta população entre os indivíduos em atividade. No número geral, São Paulo tem quase cinco milhões de pessoas nesta faixa e o Rio de Janeiro, 3,5 milhões.