Vou contar uma história para vocês:
Zé era porteiro de um prédio em um condomínio de alto padrão em uma cidade qualquer. O condomínio tinha sua convenção e regras que diziam que a portaria não poderia ficar sozinha.
Tomar decisões não é fácil, e requer alta capacidade de abstração.
Um dia um morador interfonou e solicitou ajuda do Zé para levar sua mãe já idosa ao carro, pois estava passando mal e ele não conseguia carregá-la sozinha. O Zé não pensou duas vezes e foi ajudar o morador.
No tempo em que ficou fora, alguns moradores entraram/tentaram entrar no prédio e o Zé não estava na portaria, o que causou alguns transtornos.
O Síndico, no mesmo dia, chamou o porteiro Zé e aplicou uma advertência dizendo que a portaria nunca mais poderia ficar sozinha, caso contrário ele seria demitido por justa causa.
Passando-se alguns dias o interfone do porteiro Zé tocou novamente e era uma voz desesperada solicitando ajuda para um apartamento que estava pegando fogo.
O Zé, diante da situação, ponderou que não poderia perder seu emprego, lembrou da advertência que havia tomado em outra ocasião e não foi ajudar aquela pessoa desesperada.
O fogo aumentou causando grandes transtornos no prédio.
Zé foi demitido.
Diante dessa história o que era para o porteiro Zé ter feito?
Tomar decisões no mundo de hoje não é fácil. Embora possa parecer fácil de se resolver, não é. Para tomar decisões das mais simples às mais complexas exige-se alta capacidade de abstração, que é fundamental para o pensamento autônomo.
Construir autonomia leva tempo, é um processo que começa na infância. Uma pessoa ao longo de sua vida transita da heteronomia à autonomia.
Vou explicar:
Vou explicar:
Na heteronomia as regras estão fora da pessoa, ou seja, nós obedecemos simplesmente a normas e regras dadas. Ex.: quando crianças obedecemos o sim/não, pode ou não pode. À medida que crescemos vamos adquirindo a capacidade de raciocinar, de pensar sobre as situações e tomar decisões até ao nível mais autônomo. Autonomia significa que a orientação vem de dentro (obedecer a própria consciência). Somente consegue esse nível quem tem a capacidade de abstração, que consegue transcender ao pensamento literal.
Segundo Laurence Kolberg, a construção do pensamento autônomo é um processo de 7 níveis e apenas 5% dos indivíduos adultos são verdadeiramente autônomos.
Vejam bem: Apenas 5% dos indivíduos adultos são verdadeiramente autônomos.
Mas o que isso tem a ver afinal com o meu perfil profissional?
Na complexidade da vida de hoje as pessoas estão buscando fórmulas prontas, educação “fast food” e ascensão profissional meteórica. As novas gerações, mais evidentemente, “zapeiam” em um universo de informações, mas no fundo retém-se pouco conhecimento ou aproveita-se pouco desse conhecimento.
Nunca foi tão desejado receber fórmulas prontas de “Como ter uma carreira de sucesso em 10 passos”, ou “Tenha um corpo perfeito em 5 passos”, etc. Não estamos querendo pensar. Diga logo o que preciso fazer!
Percebam, estamos diante de um grande paradoxo – se por um lado a capacidade de abstração é fundamental para estabelecer o pensamento autônomo e leva tempo, por outro, não queremos perder tempo nesse processo – queremos isso agora!
Diante desse paradoxo os prognósticos não são bons, pois estamos buscando atalhos para um caminho que não tem atalhos. O resultado são profissionais superficiais que ficam reféns de outros que digam a eles o que precisa ser feito e como.
Não estou dizendo que dicas e fórmulas não funcionam, estou dizendo que mesmo com fórmulas precisamos pensar se para mim, ou para o contexto elas se aplicam, ou como se aplicam. Ninguém melhor do que você para saber o que é melhor para você. Exerça sua autonomia.
Vejam, não é à toa que lemos em várias manchetes de revistas de renome que “faltam líderes”. Não vou me adentrar no processo histórico do porque faltam líderes, mas a construção da autonomia com certeza é um fator de peso.
O mundo precisa de profissionais que estejam dispostos a ousar e correr riscos para crescerem. Que ousem a pensar por si mesmos. Construir autonomia significa assumir a responsabilidade pelos seus atos, significa ponderar, pesar, colocar na balança os diversos fatores e ter ousadia para tomar decisões e fazer o que precisa ser feito. É isso que fará de você um profissional mais qualificado.
Você não vai acertar todas as vezes, mas eu posso garantir que será um profissional muito mais preparado para assumir o controle de sua própria vida, para galgar espaços profissionais mais promissores ou performar melhor em sua posição.
Autor
Daniele Guidoni - escreveu 5 posts para Palestrante Guilherme Machado
Psicóloga, Coach e Consultora em RH. Mestrado em Desenvolvimento de Competências. Executa trabalhos nas áreas de Gestão de Carreira e Treinamento e Desenvolvimento em empresas de porte e segmentos variados.