quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Estadão denuncia Assembléia paulista, que paga aposentadoria e pensão a 266 ex-deputados e dependentes



Dois ex-ministros, um ex-governador e até o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, estão entre os 266 ex-deputados ou dependentes que recebem pensão vitalícia relativa à extinta carteira previdenciária dos deputados paulistas. Os vencimentos variam de R$ 10.021 a R$ 18.725 no caso de ex-deputados, e de R$ 7.515 a R$ 18.725 no caso de dependentes.
 Marin ganha R$ 16 mil
O presidente da CBF, José Maria Marin, que ganha salário de R$ 160 mil na confederação e R$ 110 mil no Comitê Organizador da Copa, ganha R$ 16.033 de pensão por dois mandatos cumpridos na Casa. A assessoria de Marin informou que ele está em viagem e não poderia comentar o assunto.
Os dois ex-ministros que recebem pensão da Assembleia paulista são Wagner Rossi – que chefiou a Agricultura no governo Dilma Rousseff – e Almir Pazzianotto – responsável pelo Trabalho no governo José Sarney. Ambos cumpriram dois mandatos na Assembleia e recebem, mensalmente, R$ 10.021, metade do salário de um deputado estadual.
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ROSSI E PAZZIONOTTO
Rossi não respondeu os contatos da reportagem. Pazzianotto, que acumula a pensão da assembleia com a do Tribunal Superior do Trabalho, afirmou que, quando entrou no Legislativo, a contribuição com a carteira era compulsória.
Candidato à Presidência da República pelo PSOL em 2010, Plínio de Arruda Sampaio também figura entre os pensionistas, embora nunca em seus 82 anos de vida tenha sido deputado estadual. Plínio foi deputado federal e foi incluído na carteira porque esta compreendia todos os parlamentares de São Paulo, estaduais e federais. Ele recebe R$ 10.021 mensais.
O ex-candidato diz que chegou a abrir mão da pensão, mas sustenta que o governo do Estado lhe afirmou que não podia por se tratar de uma “verba familiar” e, portanto, compulsória. Plínio afirma que a verba hoje o ajuda a pagar um jornal de esquerda que edita e que não usa o dinheiro para despesas pessoais.
(transcrito do Estado de S. Paulo)

Dilma diz que não se arrepende de ter nomeado Luiz Fux



Vera Rosa (Estadão)
A presidente Dilma Rousseff disse nesta quinta-feira (27) que não se arrependeu de ter nomeado o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, que condenou os réus petistas do mensalão. “Eu não me arrependo de nada. Estou muito velha para isso”, afirmou a presidente, ao lembrar que completou 65 anos, no último dia 14. “A gente só se arrepende quando é nova.”
Dirigentes do PT e até o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, contaram que, antes de ser nomeado, Fux disse a eles não haver provas no processo para condenar os petistas acusados de comprar apoio no Congresso, no primeiro mandato do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Eu mato no peito”, teria dito Fux na ocasião. Após chegar ao Supremo, porém, Fux condenou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), que presidiu a Câmara entre 2003 a 2005.
Dilma alegou que o Supremo tem autonomia e se recusou a comentar o resultado do julgamento do mensalão. “Depois que são indicados, os ministros (do STF) têm distância integral da minha pessoa, têm a autonomia pregada por Montesquieu”, disse ela, numa referência ao francês Charles de Montesquieu, importante filósofo do iluminismo.

Charge do Sponholz



HUMOR A Charge do Amarildo




Certeza da dúvida, por Miriam Leitão Miriam Leitão, O Globo


A Venezuela vive uma situação dramática. Hugo Chávez luta pela vida em Cuba, depois de quatro cirurgias. Há dúvidas sobre quem toma posse e quando, e sobre quem vai governar nos próximos seis anos.
Mas não há dúvidas sobre a divisão profunda do país, a crise econômica, a fragilidade da maior empresa venezuelana usada durante anos como arma política por Chávez.
Nos últimos 14 anos, Chávez governou alterando a Constituição quando interessava aos objetivos do seu governo, convocando plebiscito quando estava com alta popularidade para fazer as mudanças que queria, não cumprindo a vontade popular quando perdia os referendos, eliminando ou ameaçando a imprensa que não seguia o seu comando e usando o caixa da PDVSA para seus programas.
Foi tão personalista em seu projeto de poder que não criou lideranças alternativas. Mesmo agora, não há um sucessor óbvio.
Nicolás Maduro é considerado pelo próprio chavismo como um político sem a capacidade do chefe de hipnotizar as massas. Virou candidato a vice-presidente porque Elías Jaua, o último vice-presidente, foi indicado por Chávez para candidato ao governo de Miranda e perdeu a eleição.
O homem mais forte do chavismo é o presidente da Assembleia, Diosdado Cabello Rondón, companheiro de Chávez na tentativa de golpe em 1992.
Com a oposição enfraquecida pela última eleição de governadores, a Constituição está sendo interpretada da forma mais conveniente ao chavismo: a posse deve ser adiada. Henrique Capriles, lider da oposição e governador eleito de Miranda, já disse que concorda com essa solução.
Nas eleições recentes para os governos estaduais, o Partido Socialista Unido da Venezuela, o partido chavista, tomou quatro estados da oposição e agora governará 20 dos 23 estados do país.
Miranda é o único importante, o segundo maior colégio eleitoral e economicamente forte. Os outros dois estados foram Amazonas e Lara.
O governo, em 2012, abusou de novo do seu poder durante as campanhas e usou a comoção em torno da doença do presidente. O chavismo mostrou enorme força ao conseguir nas urnas um mandato para Chávez, que vai até 2019, e 20 governos estaduais.
O chavismo controla o legislativo, a Suprema Corte e o Conselho Nacional Eleitoral. As Forças Armadas também estão hoje sob controle. Logo que assumiu o poder, há 14 anos, Chávez colocou na reserva seus adversários e promoveu o então jovem oficialato que havia estado do lado dele na tentativa de golpe de 1992.
Na economia, é a crise de sempre. A inflação é a mais alta da América Latina, em torno de 30%, apesar dos preços controlados.
O país cresce este ano por força do aumento dos gastos públicos para sedimentar a campanha presidencial. A PDVSA, ordenhada ao longo dos anos, tem pouca capacidade de investimento.
A Venezuela vive unicamente do petróleo abundante em seu território.
Chávez pode tomar posse, ainda que doente, e pedir licenças sucessivas para se tratar. Maduro governaria como representante.
Mas se Chávez não vencer o câncer, e for decretada sua “ausência absoluta”, terão que ser convocadas eleições em 30 dias.
O mais forte herdeiro é Cabello. Sobre ele pairam indícios de envolvimento com o narcotráfico, mas é o homem mais poderoso no chavismo, depois do insubstituível líder. Controla o partido, uma facção importante das Forças Armadas e a Assembleia Legislativa.
O chavismo sem Chávez passará primeiro pela disputa interna pelo espólio. Nela, o movimento se enfraquecerá. Qualquer que seja o cenário, a Venezuela viverá dias de incerteza e anos de instabilidade política.

Ano Semi-novo!


 

- Charge do Humberto, via Jornal do Commercio.

Por que Pato?



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Alexandre Pato surgiu como um gênio ainda aos 17 anos numa apresentação inesquecível pelo Inter no Palestra Itália e depois, na verdade, nunca mais.
Logo trocou a carreira de jogador de futebol pela de celebridade e, milionário, ficou por aí.
Popstar, ar de desinteresse, oportunidades não lhe faltaram, nem contusões.
Seu perfil nada tem a ver com o do torcedor corintiano e é o caso de perguntar se não seria melhor esse esforço todo para tentar trazer de volta um ídolo alvinegro como Carlitos Tevez.
Não seria?
Enfim, eles devem saber o que estão fazendo…

Segura que la vem chumbo grosso


Blog do Juscelino


sábado, 15 de dezembro de 2012


Dilma Rousseff comentou com alguns ministros que achou Lula muito abatido depois dos novos tiros de Marcos Valério sobre ele, e que, um contra ataque viria por ai.
Ela disse: " Eu o conheço bem. Vai reagir atirando. Não vai se recolher". 

Por se tratar de Dilma não é um exagero dizer que essa frase seja um resultado de conversas anteriores não de cabeceira de cama assim espero, mais de quem senta lado a lado na poltrona de um avião. 

Será que o Lula ta com medo do Valério? mais medo de que se é inocente?

Talvez o medo dele seja por quê o mesmo argumento usado pelo PT para derrubar o Collor, agora volta-se contra ele. Usar dinheiro surrupiado de irregularidades para pagar suas despesas pessoais. No fundo todo politico tem seu jardim da Dinda para uma “plantinha a mais". Vai lingua presa, sai dessa “Ja que vc é o CARA”. 

O interessante é que, toda vez que o PT é pego com a boca na botija, eles sempre tentam justificar atacando os tucanos…falando de privatizações e etc…

A verdade é que o PT que era o arauto da ética da honestidade, da dignidade, na realidade foi bem o contrario do que pregava. Ou seja o governo Lulamensalão, Lularosemary, dinheiro na cueca, sanguessugas, aloprados, lulanãosabe de nada, marca a historia como um dos maiores corruptos dos últimos tempos. Digo isso por que, a cada semana um escândalo e adivinha quem esta no meio O PT…..

"Lula na verdade é mestre na arte do ilusionismo, vende a imagem de “esquerda” quando na verdade adotou a política econômica mais ortodoxa do mundo e quanto a ser honesto só rindo é só ver a quantidade de escândalos que ele não apurou e defendeu".

CRÔNICA Cartas de Paris: O fim do mundo que não aconteceu



Depois de enviar meu post da semana passada lembrei que não tinha me despedido de vocês caso a profecia Maia se concretizasse e o mundo acabasse. Se vocês estão lendo este texto é porque ele não acabou e continuamos todos aqui esperando a chegada dos próximos arautos do apocalipse.
Na França, toda esta história de fim de mundo teve muita repercussão. Não se sabe bem ao certo porque, mas em janeiro de 2011 alguém relacionou as previsões do calendário Maia a uma pequena cidade francesa chamadaBugarach (foto abaixo)
Segundo rumores ou estudos extremamente sérios, o local sairia são e salvo da hecatombe prevista pela tão avançada civilização indígena.
Em pouco tempo a cidade foi tomada por forasteiros de todos os lugares do mundo. Temendo suicídios coletivos e outras maluquices o prefeito reforçou a segurança da aldeia de pouco mais de 200 habitantes, que às vésperas do dito evento chegou a receber mais de 250 jornalistas.


A televisão francesa fez programas especiais sobre o assunto que também virou conversa de bar.
Durante a última semana, era comum ouvir um “até a semana que vem, se o mundo não acabar...”, e todos os encontros faziam referência ao evento cabalístico, “happy hour fim de mundo”, “celebremos o inverno, meu aniversário e o fim do mundo (ou não?)”, “Jantar lá em casa, porque talvez seja o último”.
A sociedade ficou totalmente contaminada pelo clima apocalíptico. Um colega disse que tinha muitas coisas para organizar antes do fim do mundo, por isso não poderia participar da festa de fim de ano da redação (reconheço que nunca ouvi desculpa mais esfarrapada e criativa), meu marido disse que tinha decidido jogar na loteria, o que indicava que ele não estava disposto a mudar seus hábitos, já que faz isso cada semana, e minha sogra ligou para se despedir, afinal “on ne sait jamais”.
Eu, pessoalmente, apesar de não acreditar na profecia, gastei todo meu último salário do ano em compras de Natal, como se não houvesse amanhã.
O mundo finalmente não acabou, para alívio ou desespero dos que acreditaram. Se você refletiu sobre o que gostaria de fazer nos últimos dias de sua existência, o ideal é colocar tudo isso em prática em 2013.
E eu aproveito este último post do ano de 2012, que foi tão rápido e intenso (o ano, não o post) para desejar a todos um ótimo começo de ano e agradecer pela companhia.
E agora posso dizer com (quase) certeza absoluta: nos vemos no ano que vem.

Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela estará aqui conosco todas as quintas-feiras.

Charge do Duke (O Tempo)



OBRA-PRIMA DO DIA - PINTURA Giotto e a Arte da Pintura



Giotto foi a primeira entre as grandes personalidades da pintura florentina. Ele diferia da maioria de seus antecessores ou sucessores em vários aspectos: além de ter dado à pintura a chancela de Arte, foi arquiteto, escultor, versejador e compositor espirituoso.
Seu lugar como Mestre dos Mestres está assegurado enquanto pelo menos vestígios do que ele desenhou e pintou estiverem ao alcance da humanidade.
E é como pintor que ele foi superior a todos os outros. Mil anos o mundo levou entre o declínio da Arte Antiga e a chegada da pintura como a conhecemos, criada por ele. Antes dele as figuras podiam ser valiosas, elaboradas, brilhantes, belas, símbolos elaborados, com mensagens fortes. Mas não tinham vida real. Não eram gente como a gente.
Giotto foi um fenômeno inimitável e sem segundos durante mais de 200 anos. Ele abriu um caminho que por mais de dois séculos, até a aparição de Fra Angelico e dos primitivos flamengos, foi só dele.
"Evidente que ele pintou a Madona, São José e o Cristo, mas principalmente ele pintou a mamãe, o papai e o bebê". John Ruskin, um dos maiores críticos de Arte de todos os tempos.

 
A apresentação de Jesus no templo

O massacre dos inocentes

A fuga para o Egito

A entrada em Jerusalém

Capella degli Scrovegni, Padova, Italia

UM JUDICIÁRIO DE COSTAS PARA POLÍTICA. NOSSO SISTEMA CONSTITUCIONAL DEVE ADAPTAR-SE AS NOSSAS REALIDADES SENSÍVEIS

Leonardo Sarmento - Blog Mosaico de Lama

A moralidade pública encontra-se em colapso e as instituições políticas sistemicamente carcomidas. As funções executiva e legislativa ignoram solenemente seus deveres de probidade e de lealdade que seus mandatos lhes impeliriam.
Acordo político tornou-se a alcunha publicável para conluio. A política dos freios e contrapesos (checks and balances) imaginada para uma mútua fiscalização entre as funções de poder tornou-se um dos meios para se escambiar vantagens indevidas para seus membros. A ética esperada pela sociedade, mas constitucionalmente exigida de forma expressa transmudou-se em risos sarcásticos reveladores do mais profundo desprezo pela sociedade conferidora de seus mandatos.
A certeza de que a política negociada pode superar a ordem jurídica em sua legalidade estrita comanda os sentimentos cínicos das funções políticas de poder. Some-se a isso um ordenamento notadamente permissivo aos crimes de poder, onde as caóticas e vetustas imunidades garantem mandatos e impunidades como regra.
Resta o judiciário, dentre as funções de poder a menos política. Certamente a única com certo grau de credibilidade, em especial onde a política não atingiu sua essência, indubitavelmente onde as investidas se revelam mais caras e recalcitrantes.
A sociedade de hoje deve tomar conhecimento da imperiosa necessidade de se fazer separar a política do direito.
Os Estados contemporâneos desenvolvidos perceberam que religião e Estado devem manter-se respeitosamente afastados para o bom funcionamento deste. Percebeu-se ainda, que a “ratio decidendi” não pode restar fundamentada por razões religiosas em um Estado laico, no máximo a se considerar como um “obter dictum” sem maiores relevâncias, que apenas razões sociais e do direito posto que se subsumirem ao caso são servíveis a um pronunciamento judicial válido.
A política, no entanto espraia-se como um vírus letal, que alcança do almoxarifado de uma pequena repartição pública a sala da presidência da república de forma avassaladora. E quais as formas palatáveis antivirais capazes de conferir o mínimo controle das práticas antidemocráticas, antirrepublicanas e atentadoras da moralidade pública que a política proporciona? Um judiciário forte e independente, calcado na meritocracia de seus membros, impenetrável pela política; além de uma sociedade instruída capaz de entender os instrumentos de nossa embrionária democracia, preferencialmente de forma cumulativa.
Saindo da utopia que se revela a segunda ventilada hipótese, passemos a única que se mostra possível em nossa atual estrutura pouco discernida de sociedade, mas nem por isso com uma participação de menor importância desta neste processo de mudança. A sociedade deve ser informada pela própria sociedade, não esperemos que o Estado cumpra este papel, de que prerrogativas da função que sejam arguidas com torpeza para se alcançar impunidades dos membros de poder não podem mais prosperar em um Estado Democrático de Direito. Que os cargos públicos comissionados, não concursados, nomeações políticas devem ser uma exceção indesejada pelo sistema com a característica da provisoriedade, até que novo concurso público seja implementado. Que a função judiciária reste intocada pelas demais funções de Estado para que não adoeça pela letalidade viral da política.
Hoje, alguns dos membros de maior hierarquia de nosso judiciário restam pressionados pela política a partir de seus julgamentos calcados em suas persuasões racionais motivadas. O julgamento do mensalão tomado pela política em todos os seus momentos, do oferecimento das denúncias até além da publicação do acórdão, por certo, fez-nos clarividenciar o quão sujeitos estão os membros que compõem a Casa Constitucional aos atropelos de quem pratica a má política.
Membros da Casa lamentavelmente afastaram-se das provas dos autos ao proferirem seus votos e partidarizaram-se com a permissividade da política. Alguns votos que beiraram o constrangimento foram proferidos na busca de uma “dívida política” que o sistema não pode mais tolerar. Os mais fracos tornam-se reféns de uma perniciosa política capaz de transformar um julgamento na maior Casa do judiciário em um julgamento político de interesses.
A estes, lembremos, publiquei artigo onde defendo a possibilidade deimpeachment. Trago o amparo constitucional e subsumo a hipótese normativa ao caso concreto, vale conferir:http://www.juristas.com.br/informacao/artigos/e-cabivel-processo-de-impeachment-por-parcialidade-de-ministro-no-julgamento-do-mensalao/1366/
Após a nomeação política para ministro do Supremo de Dias Toffóli, antigo advogado do PT e amigo de seu nomeante, imaginou-se que o mesmo caminho pudesse ser tomado por Dilma em relação  Fux. Nos bastidores é consabido que Fux teve acesso por intermédio da função executiva interessada de poder de todo o processo do mensalão, e que a partir do momento que Fux disse não ter visto razões para se incriminar os membros do partido da situação teria sido ele indicado ao cargo. Hoje, Fux é visto como traidor por não haver votado segundo os interesses do partido da situação, convive com ameaças e tem seu passado como magistrado investigado pormenorizadamente a fim de se encontrar qualquer deslize que retire sua credibilidade e quiçá dê azo a um processo de impeachment.
É neste compasso que defendo como remédio antiviral o fim das nomeações essencialmente políticas no judiciário para que não se proporcione que se barganhe com a ética e com as razões juridicamente possíveis de se decidir, para que não se criem decisões juridicamente insustentáveis a partir das provar carreadas aos autos como se observou minoritariamente entre alguns ministros. Para que as razões de direito se mantenha hígidas diante das pressões advindas da política má praticada.
A nomeação deve ser votada entre os próprios ministros que escolherão segundo comprovados aspectos delineados pela meritocracia. Entendo que o judiciário basta-se em si mesmo, que desnecessária seria qualquer espécie de aprovação de qualquer outra função enlameada pelo que a política traz de pior. Desta forma, eliminaríamos qualquer comprometimento que se distanciasse de suas imperiosas missões finalísticas traçadas pelo texto constitucional. Não se barganhariam, não se negociariam, cargos, em troca de decisões jurídicas parciais. Não se corromperia com a mesma facilidade que o sistema proporciona a conduta que deveria ser proba de um membro de poder por “dívidas de gratidão”. As nomeações seriam comprovadamente meritórias e ainda evitar-se-ia que a incapacidade comprovada alçasse voos além de suas possibilidades por serem mais flexíveis a parcialidades.
Como venho defendendo fazemos parte de um Estado Democrático de Direito e não de um Estado Político seja ele democrático ou não.

Os benefícios do mensalão, por Carlos Chagas


O país fica devendo ao Supremo Tribunal Federal não apenas a condenação de bandidos que avançaram em recursos públicos, formaram quadrilha, praticaram corrupção ativa e passiva e, acima de tudo, compraram deputados com mensalidades de 30 mil reais, muitos até agora desconhecidos, em troca de votarem com o governo Lula. Tudo é salutar, em especial quando se tem como próxima a prisão por muitos anos de 25 mensaleiros, alguns em regime fechado.

São salutares esses resultados, como a demonstrar estarem as coisas mudando, sendo a lei igual para todos – ou quase todos.
Ressalte-se, porém, outro grande benefício para a sociedade, a partir do início do julgamento. A participação de figuras exponenciais na lambança serve para mostrar as entranhas do PT, um partido que se dizia diferente mas acabou flagrado nos mesmos crimes de outros. Deixou de existir aquele funesto perigo de a legenda dos companheiros tornar-se absoluta, à maneira de nazistas e comunistas, tanto faz. Interrompeu-se uma progressão infernal.
Da mesma forma, as revelações que ainda se sucedem estão servindo para golpear de forma definitiva o culto à personalidade que vinha transformando o Lula numa espécie de semi-deus, messias situado acima do bem e do mal. Sabendo ou não do que se passava à sua sombra, autorizando ou não o mensalão, o ex-presidente aparece agora como homem comum, sujeito aos percalços e às tentações de todos nós. Estamos escapando do mito que um dia elevou tantos ditadores às alturas, para depois despencá-los nas profundezas. Melhor assim.
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VOLTA LOGO, “SEU” AMADOR
Entre quantos já se foram, quantos fazem falta monumental? Milhões. Vamos citar um, o “seu” Amador Aguiar, que não usava meias e fundou o maior banco privado de nossa crônica, o Bradesco. Como seria bom se estivesse de volta, exprimindo sua preocupação maior, de cuidar e atender o correntista como se fosse sócio majoritário da instituição.
Agora é diferente. No final de novembro a gerente de minha modesta conta corrente procurou-me. Como sempre, trazia propostas para aplicações que, dizia ela, me fariam mais rico. Ou menos pobre, acrescentei. Acatei, como todos os anos, aquela mudança de cifras e números cuja maior vantagem ficará para minha mulher, no caso de haver chegado meu fim do mundo particular. A quantia poderia ser liberada de imediato, sem necessidade de inventário.
Como a demonstrar uma atenção digna das festas de fim de ano, a jovem presenteou-me com um regalo: cancelaria o meu cartão de crédito Visa Platinum Prime, que funciona nas horas de aperto, trocando-o por outro, Visa Prime Infinite. Sem saber direito a diferença, agradeci e fiquei esperando. Realmente, na primeira semana de dezembro, em nossa residência, chegaram o meu cartão e o de minha mulher, dependente. A nova senha deveria ser esperada em três dias.
O mês quase terminou sem os números. E sem cartão, com o velho cancelado e o novo sem funcionar. Ontem, depois de intermináveis ligações com centrais que tocam música e custam a atender, fui atendido. A primeira informação foi de que eu deveria procurar a agência onde tenho conta, em Brasília, onde moro há 40 anos, lá utilizar o cartão e pronto. Como, sem senha?
Logo depois, mudou tudo, em outra central que me localizou: uma suposta terceira pessoa havia solicitado, quem sabe recebido, em meu nome, um outro cartão de dependente. Uma tal Rosa, cujo sobrenome omito, residente na rua Tomé, num jardim em São Paulo. Possivelmente uma meliante, mas caso eu não tivesse buscado informações a respeito da senha perdida, ficaria tudo como estava, ou seja, mais um mês sem que pudesse utilizar o cartão, justamente na época de comprar presente para os netos, no Natal. E com um risco dos diabos de que dona Rosa estivesse se fartando de usar indevidamente o meu nome, coisa ainda a conferir.
Prometeram que em três dias tudo estará normalizado, com dois novos cartões e senhas. Por tudo isso, capaz de estar acontecendo com outros incautos, entrei agora à tarde na igreja e acendi uma vela para São Amador. Será que ele está proibido de descer para dar uma ajeitadinha no seu banco?

Cresce número de igrejas para gays no Brasil



O Mensalão e o MensaLula



Sebastião Nery
RECIFE – Em 1969, logo depois do AI-5, Carlos Petrovich, diretor do Curso de Teatro da Universidade de Brasília, ocupada e estrangulada pela ditadura, convidou Ariano Suassuna, o gênio rebelde pernambucano de “A Pedra do Reino” e “Auto da Compadecida”, para uma palestra. O auditório estava cheio de arapongas do SNI. Suassuna contou uma história.
Em Patos, na sua Paraíba, havia um tropeiro muito alto e forte, de mãos enormes, pernas arqueadas e botas cravadas de ferro, chamado João Grande. Levou uma tropa para uma cidade vizinha, depois sentou-se no bar, pediu uma cerveja e ficou ali olhando a praça e o povo.
Percebeu que, na calçada em frente, as pessoas vinham andando e, de repente, quando chegavam diante de uma casa, desciam da calçada, davam uns passos na rua, subiam de novo a calçada e seguiam. Foi ver o que era.
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JOÃO GRANDE
Era a casa de delegado, que tinha posto uma placa na porta, proibindo qualquer pessoa de passar pela calçada da casa dele, para não fazer barulho, porque ele gostava de tirar uma soneca a tarde toda. João Grande ficou indignado. Arrancou a placa e começou a andar na calçada proibida, batendo forte no chão suas botas cravadas de ferro.
O delegado saiu de lá de dentro como uma fera, olhos esbugalhados, abriu a porta, viu aquele homenzarrão de botas barulhentas, afinou a voz:
- Boa taaaaaarde!
E não disse mais nada. Na calçada, já pronto para descer, andar pela rua e subir novamente a calçada, como fazia o dia inteiro, a semana toda, vinha vindo um homenzinho pequenininho, trotando, quase correndo, um cesto na cabeça, equilibrado numa rodilha de pano. Quando viu a cara amofinada do delegado, parou, olhou para ele e gritou: – “ Olha o abacaxi”!!!
Nunca mais o homenzinho do abacaxi desceu da calçada do delegado. Nem ele nem ninguém. João Grande jogou a placa na rua e voltou para Patos com suas mãos enormes e as botas cravadas de ferro.
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LULA
Lula, o delegado valentão que na hora H não sabe de nada, afina e dá no pé, organizou um bando, comandado pelo Rui Falcão, para assustar o pais, ameaçando “jogar o povo na rua” se, acabado o “Mensalão” do PT, a Polícia Federal e o Ministerio Público, junto com o “Mensalinho” do PSDB mineiro (Eduardo Azeredo), investigarem o “Mensalula” : o escândalo de Lula com a Rose.Têm até slogan fascista:“Mexeu com ele, mexeu comigo”.
No começo, o “Mensalão” do PT também “não ia dar em nada”. Terça, no “Painel” da “Folha” , a Vera Magalhães deu-lhe um panetone:
- “Operação Portugal – A Policia Federal deve concluir em janeiro investigação preliminar aberta para apurar a procedência de denúncia, feita pelo deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), de que Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, teria levado 25 milhões (!) de euros para Portugal em mala diplomática. Por meio de acordos de cooperação, a PF pediu informações à alfândega portuguesa e ao Banco Espírito Santo, para onde teria sido levado o dinheiro, segundo o deputado.
Garotinho formalizou o pedido de averiguação à PF no dia 6, depois de publicar a acusação em seu blog. Ele também encaminhou ofício ao Ministério das Relações Exteriores pedindo informações sobre todas as viagens a Portugal durante o governo Lula”. (Vem mais Gurgel ai!).
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DELINQUENTES
E a Junia Gama, no “Globo”: – Para o cientista político do Insper/SP Humberto Dantas, é uma incoerência do PT criticar Marcos Valério pelo fato dele ter sido considerado um criminoso pelo Supremo:
- “O que o José Dirceu tem de diferente do Marcos Valério em relação ao crime que cometeram? Foram julgados rigorosamente no mesmo processo e incriminados de maneira muito semelhante. Por que a sociedade tem que achar que o José Dirceu foi um injustiçado e que o Valério é um delinquente? Participaram das mesmas aberrações” (Vem mais cheque ai!).

Taquígrafos em polvorosa


Revista Piauí, edição 74-mes de novembro/2012

Não queira saber quanto ganham os servidores do Senado
por Clara Becker

Com cara de adolescente e porte mirrado, Guilherme Oliveira não tem o tipo físico que se espera de alguém com o apelido que ele ganhou nos corredores do Senado Federal, “Guilherme Canalhão”. A alcunha colou depois que o brasiliense de 22 anos começou a consultar o salário dos noventa funcionários do setor de taquigrafia.
Repórter na ONG Contas Abertas, Oliveira analisa os portais de transparência disponibilizados em cumprimento à Lei de Acesso à Informação, em vigor desde maio. Em busca de distorções e supersalários, o jovem passa o dia vasculhando os salários de servidores sem que eles saibam.
Oliveira desfrutou do anonimato enquanto navegou pelos contracheques dos poderes Executivo e Judiciário. Ninguém foi tirar satisfação – nem lhe deu apelidos carinhosos – quando ele entrou no Portal da Transparência do Governo Federal para ver que Dilma Vana Rousseff ganha 19 818,49 reais líquidos. A presidente não ficou sabendo da consulta.
Nas duas casas do Legislativo, contudo, os servidores têm acesso aos dados de quem consultou seus salários. Quando o pesquisador preenche um cadastro com nome, e-mail, endereço, CPF e até o número de IP do computador de onde acessa o serviço, não sabe que o pesquisado terá acesso às suas informações.
“Tive que preencher o cadastro noventa vezes e levei duas horas para consultar o salário dos taquígrafos”, disse Oliveira. “Se você precisar consultar o mesmo servidor mais de uma vez, terá que preencher de novo.” Enquanto isso, no Senado, o alvoroço que reinava no setor de taquigrafia aumentava a cada nova investida de Guilherme Canalhão. “Ele ainda não entrou no meu. Já entrou no seu?”, queriam saber os funcionários.
Até que, em 10 de outubro, uma servidora não se conteve e ligou para tirar satisfação com o xereta impertinente. “É o Guilherme que está falando? Aqui é uma servidora da taquigrafia do Senado. Queria saber se foi você que acessou meu contracheque ontem.” O rapaz confirmou. “E ficou satisfeito com o que viu?” Sim, ele tinha ficado. “Então passe bem.”
Foi aí que Oliveira se deu conta de que não estava mais invisível. Assim como ele, outros curiosos levaram um susto quando receberam insultos após a consulta.

analista judiciário do TSE Weslei Machado recebeu, em setembro, 18 451,78 reais líquidos. No começo de outubro, ele quis saber quanto ganha um servidor do Legislativo com o cargo correspondente ao seu. Estranhou ter que preencher um cadastro, mas achou que seus dados estariam seguros.Consultou ao acaso o salário da taquí-grafa Herivenilde Pereira de Andrade(22 268,90 reais líquidos). Ficou em choque quando, poucas horas depois, recebeu um e-mail malcriado. “Ué, como ela sabe que eu fiz a consulta?”, perguntou-se.
“Seu interesse pelo meu salário é mesmo público?”, inquiriu a remetente. Ela disse que, por questões de segurança, podia saber quem havia acessado seus dados, mas não tinha como saber por quê. “Se alguém que conheço acessa meus dados, então é bisbilhotice. Só por isso pergunto.”
Professor de direito constitucional e eleitoral, Weslei Machado retrucou que estava exercendo seu direito de cidadão ao fiscalizar os valores gastos pelo Senado, que é a casa da fiscalização dos outros poderes. Uma hora depois veio a tréplica da taquígrafa: “Venia permissa. Se eu o conhecesse, chamá-lo-ia simplesmente de fofoqueiro. Ratione legis, você é um fiscal. Ratione personae, apenas um bisbilhoteiro.”
Machado não se fez de rogado. “Entrei com uma ação popular por crime de injúria e com uma ação indenizatória por danos morais.”
A polêmica chegou atrasada ao Senado. Desde julho é possível baixar, em menos de dez minutos, o banco de dados de quase 65 mil servidores do Executivo. O Legislativo entrou em guerra contra a divulgação nominal dos vencimentos. O sindicato dos servidores das duas casas recorreu à Justiça alegando que a exposição do nome dos funcionários violaria seu sigilo fiscal e a preservação da intimidade e os poria em risco. O anonimato dos servidores do Senado na internet foi garantido por uma liminar da 17ª Vara Federal do Distrito Federal.
A Advocacia-Geral da União entrou com um pedido de suspensão de liminar e um agravo contra a decisão. Só em setembro a liminar foi derrubada e, no dia 1º de outubro, os salários passaram a ser divulgados nominalmente. Mas à moda do Legislativo, onde quem consulta é também consultado.
O presidente do sindicato, Nilton Paixão, defende que, por uma questão de segurança, a transparência tem que ser de mão dupla. O modelo é uma fonte inesgotável de confusões. “Vou, sim, correr atrás de todo mundo que consultar meu salário”, defendeu-se uma taquígrafa que recebe 20 974,38 reais líquidos por mês. “Tenho que saber se é ou não bandido.”
O secretário-geral da ONG Contas Abertas, Francisco Gil Castello Branco, não acredita na hipótese de uma quadrilha que consulte portais de transparência. “O salário dos servidores da Prefeitura de São Paulo é divulgado desde 2009 e não houve aumento de violência”, argumentou. Para ele, essa reação é sinal de que o Legislativo tem mais a esconder do que os outros poderes. “É certo uma taquígrafa ganhar mais que a presidente da República?”
Seja como for, em Brasília a história rendeu muita conversa de cozinha, sobretudo nos dias que se seguiram à liberação dos dados. As consultas deixaram um rastro de amizades desfeitas, familiares magoados e uma enxurrada de e-mails desaforados. Uma servidora descobriu que a colega que vivia filando seus cigarros ganha muito mais do que ela. Mas o rebu está arrefecendo, segundo um servidor com holerite de 12 693,98 reais líquidos. “Agora que todo mundo já sabe que a gente sabe, ninguém mais acessa.”
Nem todos se deram mal com a exposição dos salários. Um servidor comissionado acabou se livrando de um golpe do baú. Já estava com a data do casamento marcada quando seu noivado foi subitamente desfeito. Entendeu o motivo assim que entrou no Portal da Transparência e viu que sua noiva havia consultado seu salário. Ela decerto imaginava que desposaria um taquígrafo com salário de cinco dígitos e se decepcionou ao constatar que o futuro cônjuge ganhava minguados 3 206,76 reais, sem descontos.

De volta às ruas?



Jacques Gruman (Carta Maior)
Um estudante acaba de ser assassinado no restaurante do Calabouço ! Há notícias de outros que foram espancados e desapareceram. Vamos ficar parados ? Não ! Todos à manifestação do dia 26 de junho, no centro!
 Vladimir Palmeira discursa
Passeata dos 100 mil Lá estava eu, ano do grande funil terrorista que era o vestibular, virgem de política, reproduzindo nos cursinhos da Tijuca a convocação do movimento estudantil para o que seria a histórica Passeata dos 100 mil. Nas salas apinhadas, aquele frangote falante, cravejado de espinhas e voz insegura de adolescente, devia parecer uma figura meio exótica. A maioria estava preocupada mesmo é com fórmulas e bizus (alguém se lembra disso ?) para entrar na faculdade. Não importa. Eu estava feliz. Saí de nitritos e nitratos e nadei com a História. A primeira vez a gente não esquece.
Da passeata, me lembro do clima solidário, igualitário. Caminhamos pela avenida Rio Branco, saudados pelo papel picado que nos jogavam dos prédios, personalidades lado a lado com anônimos. Paulo Autran, Odete Lara, Tônia Carrero, Milton Nascimento, Torquato Neto e tantos outros não tinham qualquer privilégio. Vladimir Palmeira, líder estudantil e orador brilhante, hipnotizou a massa na Cinelândia.
Que diferença com as passeatas chapa branca dos royalties do petróleo ! Manifestantes trazidos de ônibus (sem a mais remota ideia do que fariam), ponto facultativo em repartições públicas, grande concentração de papagaios de pirata. Pior: tal como acontece no carnaval do sambódromo, criaram um cercadinho VIP para as celebridades, separado dos simples mortais por cordas e seguranças. Também a exemplo do carnaval, os VIPs ganhavam uma pulseirinha verde. Como ironizou o jornalista Elio Gaspari, é possível que em próximas passeatas se criem três classes: primeira, executiva e turista. É a forma de fazer política do atual governo fluminense e seus cúmplices de tantos partidos, priorizando holofotes midiáticos e comemorando gordas vantagens em Paris, lencinhos na cabeça e dancinhas surrealistas.
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EFEITOS COLATERAIS
Trinta anos depois do grande ato de resistência contra a ditadura, num gesto premonitório, o Partido dos Trabalhadores abalroa uma decisão soberana de seus militantes fluminenses e elimina a candidatura de Vladimir Palmeira ao governo do Rio. A intervenção impunha o apoio do partido ao Garotinho (!), símbolo do oportunismo, do atraso, do fisiologismo e da corrupção (Trabalho do vidente José Dirceu). Em nome de votos, prostituiu-se a construção de uma nova forma de entender e praticar política. Os efeitos colaterais, devastadores, jamais desapareceram.
Em 2002, as ruas voltaram a falar. E alto. Um impressionante movimento de massa, com grande mobilização, elegeu Lula presidente. Estava ali acumulado um imenso capital político, que, se bem utilizado, poderia desequilibrar a correlação de forças a favor do campo popular. A esquerda, mesmo que com algumas reservas, apoiou a coalizão que levou o companheiro ex-metalúrgico ao Planalto. No meio do caminho, porém, havia uma pedra, quero dizer, uma Carta aos Brasileiros. A partir dela, o tênis foi substituído pelo cromo alemão.
O PT lutou, pertinaz e caudalosamente, para sair das ruas, enrolar as bandeiras e fazer a política dos gabinetes. Aprendeu rapidamente a dominar a ginga da política burguesa, transformando a participação popular num ritual mecânico, que se resume a teclar um número, de tempos em tempos, na cabine eleitoral. Ritual que envolve caríssimos esquemas propagandísticos, de preferência oscarizáveis, e arquiteturas suspeitíssimas de financiamento.
Ajudou, melancolicamente, a despolitizar campanhas eleitorais, usando a linguagem da classe dominante, terceirizando militância, substituindo o debate público das questões estruturais por promessas tecnocráticas e ilusões economicistas. Perdeu, compreensivelmente, quadros históricos e de peso político e acadêmico. Mesmo em datas caras ao movimento operário, como o 1º de maio, seu comportamento é lamentável, espetacularizando a memória de um evento trágico e que é, ou deveria ser, referência para uma pedagogia consistente sobre a luta de classes. Comete o terrível equívoco que ajudou a destruir a experiência soviética: confunde partido com governo.
Há motivos de sobra para ir às ruas. Desde o descalabro da saúde pública às chamadas pequenas questões cotidianas. As lideranças petistas, no entanto, aderiram, faz tempo, ao burocratismo economicista. Nesse aspecto, seguem o figurino, e é muito triste constatar isso, de certo discurso da época da ditadura militar.
Dou dois exemplos, relacionados à educação. Em recente discurso a sindicalistas, Lula mencionou, com orgulho, o grande aumento do número de vagas nas universidades durante a gestão petista. Uau, diriam os apologistas. Devagar com o andor. O MEC acaba de suspender o vestibular para 207 cursos por má qualidade. Também foram anunciadas restrições para o ingresso de estudantes em 185 instituições de ensino superior que tiveram mau desempenho em avaliações do ministério. A greve dos profissionais de ensino em 2012, uma das maiores da história sindical, tinha, entre outras motivações, a melhoria da qualidade de ensino (assunto que passou longe do ex-presidente).
Outro caso. O último exame do CREMESP – Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo reprovou quase 55% dos formandos. Eles acertaram menos de 60% das questões, resultado “preocupante” para um dos dirigentes do Conselho, já que indica problemas na formação e incapacidade para exercer a medicina com boa qualidade. Despejar números não é suficiente, enfim, para compreender a realidade. (Nºs reluzentes, realidade decadenta)
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DESPOLITIZAÇÃO
Depois do julgamento do mensalão, surgem vozes dentro do PT a falar no retorno às ruas. Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, convocou a militância para defender, nas ruas, o companheiro ex-metalúrgico e o PT. Ele está convencido de que “o povo vai se mobilizar em defesa do nosso Lula, do nosso projeto”. José Dirceu, condenado a quase onze anos de cadeia por formação de quadrilha e corrupção ativa, declarou ter sugerido que “fizéssemos uma manifestação em fevereiro, colocando 200 mil pessoas na rua”. Conversou com Lula sobre a necessidade de estimular uma “comunicação e uma cultura de esquerda no país”.
Em tempo: falou com o homem errado. Lula já declarou que não é e nunca foi de esquerda. Chegou a comparar o esquerdismo a uma espécie de patologia senil. Luiz Inácio também já tornou pública sua preguiça para o estudo, “leitura é coisa chata”. Esse voluntarismo messiânico, aliás, é ruinoso para a esquerda.
Depois de passar anos desprezando a mobilização popular e tendo renunciado à educação política das massas, o PT estaria redescobrindo o poder das ruas ? Dois filhotes dessa dúvida:
a) Isso aconteceria caso alguns de seus quadros importantes não tivessem sido condenados pelo STF ? Em outras palavras: a “esquerdização” não obedece apenas a uma circunstância ?
b) É possível ressuscitar uma militância acomodada e que se habituou a louvações, caça a conspiradores e ordens de cima ?
2013 promete.