terça-feira, 14 de agosto de 2012

PIB encolhido


NA CBN


No médio prazo, os bancos e consultorias sempre acham que o Brasil vai crescer 4,5%. Há pouco mais de um ano, era esse o número que as 100 instituições ouvidas pelo Banco Central previam que seria o crescimento do PIB brasileiro de 2012. Ontem, as projeções anunciadas ficaram em 1,81%. Como despencou? A previsão anterior é que não tinha qualquer sustentação.
A incapacidade de pensar a médio prazo é crônica no Brasil, seja no governo, nas empresas ou até em departamentos de bancos e consultorias que foram organizados para fazer isso, com algumas exceções. Funciona assim: o mercado está convencido de que o crescimento potencial do Brasil está entre 4% e 4,5%, por isso qualquer número no futuro fica dentro dessa faixa.
Se os departamentos econômicos ouvidos pelo BC tivessem somado a natureza da crise externa com o imobilismo do governo para tocar adiante investimentos e a falta de apetite para uma agenda de reformas, poderiam dizer, há um ano atrás, que 2012 não seria de bom crescimento. Esse curtoprazismo tem um preço. Alimenta a tendência governamental de empurrar com a barriga, convencido de que, no médio prazo, estaremos salvos.
Em termos de crescimento do PIB, 2012 é ano perdido. Vai crescer bem menos do que no ano passado. No começo de 2011, os mesmos bancos e consultorias previam que a indústria teria crescimento de 5% em 2012. Agora estão prevendo queda de 1%.
A produção de bens de capital, um indicador de investimento, caiu 12,4% no primeiro semestre. Os desembolsos do BNDES caíram 16% em 12 meses até maio. O governo investiu no primeiro semestre só 18% do que poderia. O “Valor” de ontem disse que as estatais, sem incluir a Petrobras, investiram 19,7% do que poderiam. O “Estado de S.Paulo” fez uma conta diferente: US$ 95 bi de investimentos adiados por grandes empresas, incluindo a Petrobras.
O país investe menos porque vai crescer menos, e assim cresce menos porque não investiu. O governo pensa que basta anunciar pacotes e adicionar declarações otimistas de ministros.
O mundo vai continuar dando dor de cabeça durante muito tempo porque esta é uma crise longa. Os pacotes sequenciais não estão ajudando. Agora o governo tem dito que prepara medidas mais estruturais. Neste espaço tenho batido nessa tecla faz tempo: necessidade de medidas que favoreçam a economia como um todo, não apenas alguns setores, e a importância de destravar investimentos.
Há alguma razão para que o governo não conceda à iniciativa privada o aeroporto do Galeão, já que quebrou o tabu com os aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília? No pacote que a presidente Dilma está preparando, segundo a “Veja” desta semana, será dado um “choque de capitalismo” no país. Que ela se apresse porque está quase chegando à metade do seu mandato.

Teles serão impedidas de cobrar nova chamada telefônica quando linha cair


Nova regra proposta pela Anatel para os planos 'ilimitados' prevê que usuário terá dois minutos para refazer a ligação gratuitamente se a linha cair

13 de agosto de 2012 | 23h 02
Eduardo Rodrigues, da Agência Estado
BRASÍLIA - Para tentar equilibrar as cobranças nos planos ilimitados de telefonia móvel, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) vai proibir as operadoras de cobrarem por novas chamadas para um mesmo número se a ligação cair.
Uma fonte ligada ao Conselho do órgão regulador revelou com exclusividade à Agência Estado que a proposta é dar 2 minutos para que as pessoas refaçam suas ligações sempre que houver uma queda, independentemente do motivo. Durante esse período, as operadoras não poderão cobrar pela nova chamada. "O objetivo é colocar essa regra em vigor o mais rápido possível. Os planos ilimitados são atraentes para os consumidores, mas precisam ser justos", afirmou a fonte.A medida vem uma semana depois de o Ministério Público no Paraná ter divulgado relatório de fiscalização da agência que acusava a TIM de derrubar intencionalmente a ligação dos clientes do plano Infinity para ganhar pela cobrança de uma nova chamada. A medida da Anatel atingirá todas as operadoras, mas a TIM deve ser a mais afetada.
A proposta está no chamado "circuito deliberativo" do órgão regulador e pode ser aprovada individualmente por cada conselheiro, antes mesmo da próxima reunião do colegiado na próxima quinta-feira. Após isso, a medida deverá passar por um curto período de consulta pública antes de entrar em vigor.
Mais quedas
Atualmente, as normas da Anatel preveem a gratuidade de uma nova chamada apenas nos 30 segundos iniciais de cada ligação. Mas como nos últimos meses a agência verificou um aumento considerável de quedas em chamadas mais longas, esse mecanismo será adaptado. A regra vale para qualquer tipo de telefonema originado por celulares, seja para fixos ou móveis e em chamadas locais ou interurbanas. "Para os clientes que pagam por minuto utilizado, não haverá nenhuma mudança, mas os usuários de planos ilimitados serão muito beneficiados", completou a fonte.
Para a Anatel, os 120 segundos serão suficientes para que qualquer usuário tenha condições de refazer a ligação perdida. "Sabemos que algumas pessoas têm dificuldade para digitar o número no telefone, e esse tempo também garante a recuperação da chamada em outras condições, como uma queda de bateria do aparelho ou ainda a passagem por um túnel ou outra área de sombra de sinal", exemplificou.
Perdas. Na prática, a medida pode representar perda de receita para as companhias que recebem por cada nova ligação nesses planos, mas a Anatel alega que essa perda não poderia ser computada, porque os planos de negócios das companhias já levam em consideração chamadas realmente ilimitadas. "O ganho que algumas companhias têm com essas quedas seria indevido, porque elas não entregam o que está escrito no contrato. A medida, na verdade, irá fortalecer os planos ilimitados, pois os usuários terão mais segurança ao optar por esse tipo de serviço", concluiu a fonte.
Um relatório de fiscalização da Anatel divulgado na semana passada apontou que a TIM teria faturado R$ 4,3 milhões pelo desligamento das ligações de 8,2 milhões de usuários dos planos Infinity. Após pressão do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, o processo que trata da suspeita de derrubada deliberada das ligações por parte da empresa deve ser julgado pelo órgão o mais rápido possível.
Em resposta à acusação, a TIM negou "veementemente que eventuais quedas de chamadas de seus clientes Infinity sejam motivadas por ação deliberada da companhia". A empresa afirmou também que o relatório da Anatel contém "graves erros de processamento, que alteram as informações apresentadas e levam a conclusões erradas".
A operadora controlada pela Telecom Italia é a mais agressiva no País na oferta dos chamados planos ilimitados, que não cobram por minuto utilizado nas ligações, mas sim por cada chamada efetuada. O sucesso dessa estratégia levou a TIM a assumir no ano passado o segundo lugar no mercado, ultrapassando a Claro e ficando atrás apenas da Vivo.
Apesar de os planos Infinity serem apontados pela Anatel como uma das causas do estrangulamento das redes que levou a empresa a ter suas vendas suspensas por 11 dias em 18 Estados e no Distrito Federal, executivos da companhia garantem que vão manter o modelo.
Procurado, o SindiTelebrasil, sindicato que representa as empresas, não se manifestou sobre o assunto.

CONTRA O TERROR , por Osias Wurman


ARTIGO PUBLICADO HOJE, 13-08-2012, EM O GLOBO- OPINIÃO


OSIAS WURMAN

O terrorismo do ditador Assad, da Síria acumula o indiscriminado assassinato de civis inocentes. Cerca de 21 palestinos, incluindo duas crianças, foram mortas no campo de refugiados de Yarmuk, situado na zonal sul da capital, Damasco. O apoio do governo iraniano ao tirano sírio vem sendo fundamental no retardamento de sua inquestionável derrocada final. Diversos atentados contra civis, em todo mundo, trazem o DNA do terror institucional iraniano.
O ataque que aconteceu a um ônibus de turismo lotado de israelenses, no aeroporto de Burgas, uma estância de férias tranquila na Bulgária, aumentou a consciência sobre este perigo. Em fevereiro deste ano, a esposa de um diplomata israelense ficou gravemente ferida com a explosão de uma bomba em Nova Déli, na Índia. Um ataque simultâneo em Tbilisi, na Geórgia, foi interceptado a tempo. Em outubro de 2011, os EUA frustraram um complô contra o embaixador da Arábia Saudita em Washington e, há poucas semanas, as autoridades cipriotas detiveram um agente do Hezbollah que planejava um ataque. Há um denominador comum nessas atividades terroristas: o Irã, Guarda Revolucionária iraniana, ou ao seu aliado, a organização libanesa Hezbollah. Os terroristas presos ou eram cidadãos iranianos ou integ rantes do Hezbollah. Alguns foram detidos enquanto estabeleciam infraestruturas terroristas para ataques futuros e outros, em posse de armas ou explosivos, pouco antes de completar seus planos hediondos.
O uso do Hezbollah como braço terrorista do Irã não é novidade. Há vinte anos a embaixada israelense em Buenos Aires, na Argentina, foi bombardeada, matando 29 e ferindo 300 inocentes. Dois anos mais tarde, em 1994, o Centro Comunitário Judaico argentino (Amia), também foi bombardeado, matando 85 pessoas e ferindo centenas. Uma investigação do governo argentino determinou que o ataque foi realizado pelo Hezbollah, com o apoio de líderes do governo iraniano.Há poucas semanas, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, expressou publicamente seu total apoio ao presidente Assad e ameaçou Israel e, por implicação, outros países.Nos últimos tempos, a Guarda Revolucionária iraniana e o Hezbollah posicionaram suas bases para ataques em cinco continentes, em aproximadamente 24 países. Seus t erroristas estão prontos para atacar em qualquer lugar: Europa, América, África e Ásia. Eles possuem uma rede global apoiada pelo Irã e agentes clandestinos treinados para atingir seus objetivos nefastos.
Os Estados Unidos reconheceram o Hezbollah como uma organização terrorista em 1995, juntamente com o Canadá, Holanda, Egito e Bahrein. A ala militar do Hezbollah foi igualmente reconhecida pelo Reino Unido, Nova Zelândia e Austrália. Chegou a hora do restante da Comunidade Internacional seguir o mesmo exemplo. O Brasil certamente se juntará ao clamor por justiça e civilidade entre as nações.

OSIAS WURMAN é cônsul honorário de Israel no Rio

Brasil terá seu primeiro museu sobre a história da Inquisição



A inquisição chegou a Portugal em dezembro de 1496. Portanto, o Brasil "nasceu" durante plena Inquisição Íbero-lusitana, que durou quase três séculos e meio. Milhares de judeus portugueses foram forçados à conversão ao catolicismo sob pena de morte. Eram os chamados cristãos-novos, “Marranos”, “Anussim” ou mesmo “Criptos-Judeus”, que esperavam encontrar no Brasil um lugar mais seguro para se viver, longe das fogueiras inquisitoriais. Entretanto, em 1591, o país recebeu o inquisidor português Heitor Furtado de Mendonça, que instalou uma extensão do Santo Ofício para perseguir, processar, deportar, torturar e condenar esses imigrantes e seus descendentes, dos quais muitos terminaram executados nas fogueiras da Inquisição, em Lisboa. Este será o tema do primeiro Museu da História da Inquisição do Brasil, cuja inauguração ocorrerá no dia 19 de agosto, em Belo Horizonte. O objetivo é contribuir para a inclusão social e o combate à intolerância religiosa.
O espaço oferecerá ao público uma biblioteca com mais de 350 obras, constituída por uma coletânea de raríssimos livros sobre a Inquisição, datados de 1637, e outros documentos originais anteriores a esta data. Também contará com um miniauditório com recursos de multimídia onde serão apresentados filmes sobre o período, além da exposição de fotos, gravuras, textos e objetos. Também haverá um banco de dados para pesquisas sobre a história e origem do povo judeu como um dos colonizadores do Brasil, coletando e listando nomes e sobrenomes judaicos desses importantes colonizadores, dos quais muitos foram condenados e executados pela Inquisição. O museu ainda vai exibir vestuários da época e um pedaço do rolo de uma Torá que sobreviveu à perseguição inquisitorial na Espanha, tendo sido usada ainda por muitos anos por judeus sefaraditas durante a Idade Média. Uma sala do museu, chamada “Memorial dos Nomes”, é dedicada aos brasileiros. Nela constarão os nomes e números dos processos de condenação dessas vítimas da crueldade e da intolerância religiosa. O projeto é uma iniciativa da Associação Brasileira dos Descendentes de Judeus da Inquisição (ABRADJIN), instituição que já conta com mais de mil associados.
 Mais informações: site.

Sem pressa



Cronograma do mensalão
Enquanto Ayres Britto tenta sem sucesso usar o tempo que sobra no julgamento do mensalão para agilizar o processo, há quem não demonstre o mínimo de preocupação com o cronograma.
Que o diga Dias Toffoli. Ontem, até mesmo na hora de retornar ao plenário após o intervalo, ele caminhava a passos lentos e ia dizendo:
- Vamos devagar, devagar…
Por Lauro Jardim

Remessas milionárias



Andrea: ex do Cachoeira e dona do laboratório
Os dados enviados pelo Banco Central à CPI mista do Cachoeira mostram que o laboratório Vitapan, o mais robusto dos negócios aparentemente lícitos do bicheiro Carlinhos Cachoeira (que hoje está no nome de sua ex-mulher Andrea Aprígio), mandou para fora do país cerca de 3,8 milhões de dólares, entre 2002 e 2012.
São 557 operações de remessa e ingresso de recursos no período, sendo a grande maioria de remessas e apenas 185 000 dólares em ingresso de divisas. Pelos dados em poder da CPI, o laboratório ligado ao bicheiro enviou recursos para uma infinidade de países. Os principais destinos dos recursos foram os Estados Unidos, Alemanha e a… Índia.
O laboratório também mandou remessas para as Ilhas Virgens, Suíça, Israel, Noruega, China, República Tcheca e Itália.
Por Lauro Jardim

Assim não, ministro Celso de Mello! Ou: Na sexta, Lewandowski tem viagem “inadiável”


Vou voltar ao assunto porque, francamente, fiquei um tanto constrangido com a fala de ontem de Celso de Mello, decano do STF, por todos reconhecido como um ministro cumpridor dos seus deveres. Os advogados desta segunda fizeram intervenções mais breves, e sobraram 69 minutos, que poderiam ter sido usados para a fala de outros defensores. Desde o primeiro dia estava claro que a escala fora feita na hipótese de uma fala de ATÉ uma hora. Por isso mesmo, ela é flexível.

Ayres Britto cometeu um primeiro erro ao indagar ao plenário se deveriam continuar ou não. Ora, por que não? O que impedia? Marco Aurélio foi o primeiro a dizer um “não”, conforme o esperado, e alegou, se não me engano, uma questão de “costume” ou algo assim. Referia-se a quê? A que norma? Celso de Mello entrou em seguida para lembrar o excesso de trabalho e coisa e tal. Certamente não é o único assoberbado. Mas esbarrou numa questão lógica: se os advogados tivessem falado por até uma hora, aquela sobra de tempo não existiria, certo, ministro? Considerando que ela pertencia ao processo do mensalão, devo entender que ele decidiu agilizar outros trabalhos?
Ora, dado o tamanho do julgamento do mensalão, não só se deve dispensar a ele todo o já parco tempo que lhe cabe — sem sequestrar preciosos minutos para outros afazeres — como será necessário, e isso ficará logo claro, dispensar-lhe ainda mais horas, não é?
Os dias seguintes serão confusos. Na quinta, numa sessão já encurtada por causa das sessões do TSE, o ministro Joaquim Barbosa deve começar a ler as preliminares de seu voto. Depois, creio, será preciso estabelecer um modo para que vote por blocos, núcleos, etapas, sei lá eu. O mais sensato seria, entendo, que todo o julgamento se desse por partes.
Lewandowski e a viagem inadiávelDesde o início, cometeu-se um erro ao não se marcarem sessões às sextas-feiras. Ora, se não fossem necessárias, bastaria suspendê-las. Vejam o caso: o ministro Ayres Britto tentou marcar uma sessão extra para a próxima sexta. Quem não pôde? Ricardo Lewandowski, que afirmou ter uma viagem “inadiável”. Como é dia útil — lá na roça de onde venho, todo mundo trabalha às sextas (no meu blog, também aos sábados, domingos e feriados…) —, suponho que seja coisa ligada ao tribunal, né? E suponho também que a Casa o dispensaria de tal missão. A essa altura das coisas, inadiável é só tirar o pai da forca.
O que querem? Empurrar esse troço setembro adentro? Ora, é evidente que os ministros já têm firmadas as suas convicções e seus votos praticamente redigidos. As defesas podem, no máximo, servir a um ajuste aqui, outro ali. Todos os atos que resultem em atraso e procrastinação ficam, lamento — é a lógica da ordem dos fatos —, com o indisfarçável cheiro da manobra para tirar um ministro do julgamento: Cezar Peluso, que completa 70 anos no dia 3.
Todo cuidado é pouco, não é? Mesmo aqueles de biografia respeitável devem tomar cuidado para não ser confundidos nestes dias de bruma. Ninguém quer atropelar o devido processo legal coisa nenhuma! Todas as excelências sabem que estão prontos para votar. Inaceitável e golpista é criar dificuldades artificiais para que isso não aconteça. Ou me digam onde está o furo desse pensamento.
Por Reinaldo Azevedo

Naquela festa, circulou a informação de que o voto de Lewandowski já conta com 1.400 páginas


Naquela festa de Brasília na noite de sexta, avançando pela madrugado do sábado, houve quem assegurasse: o cartapácio do ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo do mensalão (e autor de um “voto alternativo”, como ele mesmo alardeou, para escândalo do bom senso), segundo o próprio estaria dando a entender, já alcançaria 1.400 páginas. Se isso for mesmo verdade, considerando que ele levou 80 minutos para ler as 70 de uma simples questão de ordem, só ele ocuparia 1.225 minutos dos colegas — mais de 20 horas, nada menos de quatro dias (e olhe lá…). Ontem, como a gente viu, ele não quis acelerar o processo em ao menos uma horinha… Num dado momento, reclamou de excesso de trabalho. Se for como dizem, o homem anda mais prolífico do que Gabriel Chalita.

Essa gente pode não acreditar, mas há algo mais do que petistas interessados e interesseiros de olho na coisa. Há a história.
Por Reinaldo Azevedo

Ideb 1 – A vergonha da educação e, de novo, a proposta intelectualmente criminosa das cotas nas universidades federais



O governo divulgou os dados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira) de 2011 dos ensinos fundamental e médio. No primeiro caso, houve um avanço (falarei a respeito em outro post). No ensino médio, tem-se uma tragédia. Vejam quadros com síntese de dados publicados pela Folha Online.
 
Estadão Online fez uma síntese dos dados do ensino médio. Leiam. Volto em seguida.
Por Rafael Moraes Moura e José Eduardo Barella:
A qualidade do ensino médio piorou no Distrito Federal e em nove Estados brasileiros, aponta o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2011, divulgado nesta terça-feira, 14, pelo Ministério da Educação (MEC). Apesar de a meta nacional ter sido atingida para esta etapa de ensino (3,7), os sistemas estaduais de dez unidades da federação apresentaram índices inferiores aos conferidos na edição de 2009. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) estipulou uma meta nacional de 5,2 para ser alcançada no ensino médio em 2021.
Na comparação Ideb-2011 com Ideb-2009, considerando apenas as redes estaduais, caíram de desempenho Rondônia (-0,4), Acre (-0,2), Pará (-0,2), Paraíba (-0,1), Alagoas (-0,2), Bahia (-0,1), Espírito Santo (-0,1), Paraná (-0,2), Rio Grande do Sul (-0,2) e o Distrito Federal (-0,1). O ministro da Educação, Aloizio Mercadante admitiu que o fraco desempenho do ensino médio no Ideb é “um imenso desafio” para o ministério. Segundo ele, os problemas são conhecidos e o governo prepara ações para enfrentá-los. “Um fator claro é a estrutura curricular, muito extensa”, disse. “São 13 disciplinas, que chegam a 19 se consideradas as disciplinas complementares. São muitas matérias.”
Outro fator é o número elevado de estudantes do ensino médio matriculados no ensino noturno. “O rendimento já é comprometido porque muitos desses alunos trabalham e, com tantas disciplinas, eles ficam destimulados”, afirmou o ministro. De acordo com o Inep, a rede estadual é responsável por cerca de 97% da matrícula do ensino médio na rede pública, o que torna a questão uma responsabilidade dos governos locais. O avanço do Ideb no ensino médio é mais lento que o observado no ensino fundamental.
Embora o Ideb do ensino médio tenha subido de 3,6 para 3,7 (considerando todas as redes de ensino), o índice das redes estaduais ficou estável – manteve-se em 3,4. O Ideb da rede privada é de 5,7. A distância do Ideb das redes estaduais para o do sistema privado, que hoje é de 2,3 pontos, já foi de 2,6 pontos, conforme dados do Ideb de 2005. Segunda melhor do País, a rede estadual de São Paulo ficou com 3,9 em 2011, ante 3,6 em 2009. Santa Catarina é a unidade da federação que obteve a maior nota – 4,0; Alagoas, a que obteve a pior – 2,6.
Além de Alagoas, a rede estadual apresenta Ideb inferior a 3,0 em outras cinco unidades da federação: Pará, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Sergipe. Os maiores saltos numéricos nos dois últimos Ideb ocorreram nas redes estaduais de Goiás, que passou de 3,1 para 3,6 (aumento de 0,5), e no Rio de Janeiro (0,4), que subiu de 2,8 para 3,2. Na distribuição por regiões, a média dos Estados do Norte (3,1) e do Nordeste (3) fica abaixo da do Centro-Oeste (3,3), Sudeste (3,6) e Sul (3,7). Na rede privada, o maior Ideb no ensino médio é o de Minas Gerais e Paraná, que é de 6,1.
VolteiSim, leitor, a escala vai de zero a 10, mas não se deve tomar o topo como referência. Considera-se que o patamar 6 já caracterizaria uma educação própria de país desenvolvido. “Então estamos perto!” Não! Estamos longe! Nesse tipo de medição, cada décimo pode levar tempo — às vezes, anos. É preciso deixar claro que as metas do Brasil são bastante modestas e trazem embutido o que eu chamaria de “crime do realismo conformado” (no post seguinte, em que tratarei do ensino fundamental, explico o que quero dizer).
Vejam o retrato do ensino médio no país. A presidente Dilma Rousseff e o ministro Aloizio Mercadante querem despachar esses alunos para as universidades. Como evidencia a lógica elementar, se não há pressão pela melhoria do ensino médio, por que ele vai melhorar? A quase garantia de vaga na universidade, sem qualquer crivo de natureza intelectual, concorre, por óbvio, para o rebaixamento da qualidade do ensino público.
A rigor, à medida que se estreitam as vagas reservadas ao ensino privado — e a lei faz isso de maneira radical —, sabem o que tende a acontecer, e isso também é elementar, lógico e fatal? Um acirramento da concorrência entre as escolas privadas e um distanciamento ainda maior do ensino público. Como não haverá tantas vagas nas universidades públicas para os melhores, esses estudantes, com um desempenho intelectual muito superior ao daqueles que tiveram vagas garantidas nas universidades públicas, migrarão para o ensino privado. Na prática, Dilma e Mercadante estão empurrando a qualidade para as escolas privadas e a mediocridade para as públicas. Não é questão de gosto. É uma lei da física!
Vocês vão se cansar de ler especialistas a apontar problemas no ensino médio e coisa e tal. Outra hora trato do assunto. Acho que o debate está meio vesgo, mas não entro nele agora. Quero destacar o óbvio: sem que se faça, então, uma reforma para valer no ensino médio, como se pode pensar na tal lei de cotas? É uma sandice! Para começo de conversa, escolas no país inteiro — INTEIRO! — deveriam cumprir um currículo mínimo. O Enem poderia ter forçado essa uniformização, mas não está acontecendo. Esse trabalho tem de ser coordenado.
Eis aí. Esses números miseráveis são o resultado da omissão criminosa na área da educação. E Dilma e Mercadante se mostram dispostos a passar o problema, sem resolvê-lo, para o terceiro grau.
Por Reinaldo Azevedo

A vadiagem pode deixar de ser contravenção penal. Deve ter gente comemorando…


(Ilustração: www.adore-sport.com

Vocês viram?
A Câmara dos Deputados aprovou projeto retirando da Lei das Contravenções Penais – e, portanto, banindo do universo penal brasileiro — a figura da “vadiagem”. Ainda falta passar pelo Senado, mas lá não deve ser diferente.
Alguns escreveram grossa bobagem, ao mencionar “o fim do crime de vadiagem”. Não se trata de crime, mas de contravenção penal — infração criminal de menos gravidade, como tantas outras definidas na lei.
Diz a atual lei, em seu Capítulo VII, “Das contravenções relativas à polícia de costumes”:
“Art. 59. Entregar-se alguem habitualmente à ociosidade, sendo válido para o trabalho, sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, ou prover à própria subsistência mediante ocupação ilícita:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses.
Parágrafo único. A aquisição superveniente de renda, que assegure ao condenado meios bastantes de subsistência, extingue a pena.”
O que deve ter de gente comemorando

A coisa se complica para Dias Toffoli: o jornalista Ricardo Noblat diz ter testemunhas das ofensas e baixarias ditas pelo ministro do Supremo



O jornalista Ricardo Noblat (Foto: Reprodução TV Câmara)
Amigas e amigos do blog, o jornalista e blogueiro Ricardo Noblat, a quem o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, se referiu em termos ofensivos e de baixo calão durante uma conversa sem saber que o ofendido a ouvia, avisa que tem testemunhas do fato, diferentemente do que muita gente chegou a sugerir ou mesmo a afirmar.
Noblat informou sobre o fato em uma resposta ao fiel leitor deste blog Pedro Luiz Moreira Lima, enviando, ele próprio, um comentário para nós, que transcrevo:
Resposta ao leitor Pedro Luiz Moreira Lima (13/08/2012 às 22:15): não, não fui o único a ouvir o ministro me xingar.
Dois juristas de muito prestígio em Brasília estavam ao lado do ministro quando ele me xingou.
Uma senhora, parente de um deles, ficou parada e perplexa diante do ministro ouvindo o que ele dizia.
Minha mulher ouviu.
Eu ouvi.

A interpretação dos fatos, por Merval Pereira


Merval Pereira, O Globo

Enão se diga que todos combinaram entre si, pois aqui e ali há insinuações de uns contra os outros, cada um querendo salvar a sua pele. Mas, ontem, houve um advogado que se portou de maneira diferente, provavelmente porque conhece bem aquele tribunal.
Inocêncio Mártires Coelho, procurador-geral da República no governo Figueiredo, representando o ex-deputado José Borba, propôs-se simplesmente a pôr uma dúvida na cabeça dos ministros do STF:
“Se conseguirmos abalar a convicção desses julgadores, certamente estaremos servindo à causa da justiça e do Estado de direito, não há lugar para soberanos e nem para tiranos, assim como no amplo discurso do debate de nada valem os argumentos de autoridade.”
Mas ele não apresentou qualquer dado novo para abalar convicções, apenas tratou de ressaltar a impossibilidade de um juiz ser imparcial:
“(...) Parece mais cauteloso, até para reduzir os efeitos perversos, aceitar que todo julgador é parcial. Parcial porque só vê as coisas das perspectivas em que ele se encontrar, no pedaço de realidade que ele recorta. Porque tem ampla liberdade para escolher as normas aplicáveis ao caso e mais liberdade ainda para valorar os fatos da causa.”
E mesmo os fatos, segundo Nietzsche, lembrou ele, não existem, mas, sim, a interpretação dos fatos. Segundo ele, “por mais que se esforce para ser objetivo, o juiz estará sempre condicionado pelas circunstâncias em que atua”.
Mártires Coelho foi mais longe na tentativa de retirar do inquérito todo resquício de consistência: “Por mais cuidadoso que seja, (qualquer inquérito) é sempre uma peça de ficção e como tal deve ser tratado. Não é a realidade mesma, é apenas uma narrativa, em que há muitas outras possíveis, mas igualmente falíveis, sobre fatos que ocorreram fora dos autos, mas que não equivalem à realidade.”
Ele lembrou dito muito usado no mundo jurídico, “o que não está nos autos não está na vida”, para contradizê-lo: nem sempre a vida está nos autos, o que seria um limitador para a decisão dos juízes. E, citando “o intuitivo Lucio Bittencourt”, disse que “a interpretação deveria ser considerada a última fase do processo legislativo”.
O julgamento, uma grande oportunidade de estabelecer marcos de valores, morais, éticos, políticos, para a vida nacional, como diz a corregedora do Conselho Nacional de Justiça, terá que ser decidido por interpretações dos juízes diante de um borbotão de fatos que, conectados, resumem o estado indigente de nossa vida política. 
Os advogados tratam o caixa dois de campanhas eleitorais como “conduta corriqueira, socialmente consentida”, lamenta Eliana Calmon, para quem o escândalo “soa como corrupção”.
A tese do “domínio final do fato”, que levou o procurador-geral a acusar o ex-ministro José Dirceu de “chefe da quadrilha”, serviu também para que o advogado de Roberto Jefferson, Luiz Francisco Barbosa, acusasse o ex-presidente Lula como o verdadeiro mandante dos crimes cometidos.
“Não só sabia como ordenou o desencadeamento de tudo isso que essa ação penal escrutina. Aqueles ministros eram apenas executivos dele.”
Para provar sua tese, Barbosa fez relato ligando fatos e consequências, apelando para o bom-senso dos juízes, pois não tem “atos de ofício” que provem sua acusação. E acusou Gurgel de prevaricação por ter “sentado em cima” de um pedido formal para incluir Lula entre os réus do mensalão.
A sequência, segundo Barbosa, foi esta: dirigentes do BMG pediram audiência com Lula, que dias depois emitiu medida provisória permitindo a bancos em geral entrar no mercado de crédito consignado.
Um advogado interpretou, todavia, que só podiam oferecer crédito consignado os bancos que já operavam nessa área. Os dirigentes foram novamente a Lula, que emitiu decreto reiterando a permissão pela qual o BMG entrou nesse mercado.
E em seguida o PT obteve empréstimos do BMG e do Banco Rural. “É evidente o entrelaçamento entre esses fatos”, disse ele.

‘Só o chefe não sabia’, por Ferreira Gullar


PUBLICADO NA FOLHA DE S. PAULO DESTE DOMINGO

FERREIRA GULLAR
Falando francamente, qual é a imagem que se tem de Lula? Melhor dizendo, se alguém lhe pedisse uma definição do nosso ex-presidente da República, qual daria? Diria que se trata de uma pessoa desligada, pouco objetiva, que mal repara no que se passa à sua volta? Estou certo de que não diria isso, nem você nem muito menos quem privou ou priva com ele.
Ao contrário de alguém desligado, que entrega aos outros a função de informar-se e decidir por ele, Lula sempre se caracterizou por querer estar a par de tudo o que acontece à sua volta e, muito mais ainda, quando se trata de questões ligadas a seu partido e à realidade política em geral.
As pessoas que o conheceram no começo de sua vida política, como os que lidaram com ele depois, são unânimes em defini-lo como uma pessoa sagaz, atenta e sempre interessada em tudo saber do que se passava na área política e, particularmente, o que dizia respeito às disputas, providências e articulações que ocorriam dentro do seu partido e no plano político de um modo geral.
Isso já antes de sua chegada ao poder. Imagine você como passou a agir depois que se tornou presidente da República. Se hoje mesmo, quando já não ocupa nenhum cargo no governo nem no partido, faz questão de saber de tudo e opinar sobre tudo, acreditaria você que, no governo, deixava o barco correr solto, sem tomar conhecimento do que ocorria? Isto é, sabia de tudo menos do mensalão?
Veja bem, hoje mesmo, alguma coisa se faz na Câmara dos Deputados ou no Senado sem o conhecimento da Dilma? Os repórteres, os comentaristas políticos estão diariamente a nos informar do controle que o Planalto exerce sobre o Parlamento.
A cada problema que surge, a cada decisão importante, Dilma convoca os líderes da base parlamentar para dizer a eles como devem agir, como devem votar, que decisões tomar. Isso Dilma, hoje. Imagine o Lula, quando presidente, mega como sempre foi, mandão por natureza. Sem dúvida que estava a par de tudo e em tudo interferia, por meio de seus paus-mandados. Dá para acreditar, então, que ele só não sabia do mensalão, nem sequer ouvira falar? Claro que você não acredita nisso, nem eu.
É evidente que Lula não podia ignorar o mensalão porque não se tratava de uma questão secundária de seu governo. Longe disso, o mensalão foi o procedimento encontrado para, com dinheiro público, às vezes, e com o uso da máquina pública, noutras vezes, comprar o apoio de partidos e os votos de seus representantes no Congresso.
Não se tratava, portanto, de uma iniciativa secundária, tomada por figuras subalternas, sem o conhecimento do chefe do governo. Nada disso. Tratava-se, pelo contrário, de um procedimento de importância decisiva para a aprovação, pelo Congresso, de medidas vitais ao funcionamento do governo. Portanto, Lula não apenas sabia do mensalão como contava com o apoio dos mensaleiros para governar.
Certamente, o leitor perguntará: por que Lula, esperto como é, arriscou-se tanto? Pela simples razão de que não desejava dividir o poder com nenhum partido forte, capaz de lhe impor condições. Como é próprio de seu caráter e de seu partido, só admitia aliança com quem não lhe ameaçasse a hegemonia.
Não estou inventando nada. Todo mundo leu nos jornais, logo após a vitória nas eleições presidenciais, que José Dirceu articulava a aliança do novo governo com o PMDB.
Só que Lula não aceitou e, em seu lugar, buscou o apoio dos pequenos partidos, aos quais não teria que entregar ministérios e altos cargos nas estatais. Em vez disso, os compraria com dinheiro. E foi o que fez, até que, inconformado, Roberto Jefferson pôs a boca no mundo.
Lula, apavorado, advertiu os seus comparsas para que assumissem a culpa, pois, se ele, Lula, caísse, todos estariam perdidos. E assim foi para a televisão, disse que havia sido traído e se safou.
Bem mais tarde, com a cara de pau que o caracteriza, afirmou que nunca houve mensalão mas, ainda assim, tentou chantagear um ministro do Supremo. Afinal, por tudo isso, recebeu o título de doutor honoris causa! Merecidíssimo, claro!

OBRA-PRIMA DO DIA - PINTURA Joshua Reynolds - Retrato do Capitão Augustus Keppel (1749)



Em 1749 Reynolds fez uma longa viagem embarcado no navio comandado por seu amigo, o capitão Augustus Keppel. O primeiro porto era Minorca, uma das ilhas Baleares. Ali sofreu um tombo quando cavalgava para conhecer a ilha, o que o deixou cinco meses impossibilitado de pintar, e com uma cicatriz permanente na boca.
De Minorca ele seguiu para Roma onde ficou até 1752 estudando Arte Antiga e o Renascimento. Depois, com paradas em Florença, Bologna e Parma, ele seguiu para Veneza, onde ficou por três meses. Fez muitos esboços e estudos tentando compreender as técnicas e os segredos de Michelangelo, Raphael e dos artistas venezianos, especialmente Ticiano.
O estilo típico de Veneza, a ênfase na cor e nos efeitos da luz, teve uma influência fortíssima em sua arte, apesar dele nunca ter admitido isso, declarando sempre que o mais importante eram o desenho e a forma.
Em 1753, de volta à Inglaterra, ele se instala em Londres. A popularidade veio rapidamente. O “Retrato do Capitão Keppel”, cuja imagem mostramos hoje, foi seu primeiro sucesso. Ele pintou muitos retratos de seu amigo e de sua família, mas escolhi o primeiro que ele fez, ainda em viagem.
Em 1760 ela já era o mais procurado retratista de Londres e seus trabalhos obtinham o dobro do preço dos de Thomas Gainsborough, outro mestre inglês.
Sem dúvida nenhuma, Joshua Reynolds foi um grande pintor, um mestre do pincel e um talento artístico de primeira água, mas ele contava com outro atributo: o dom de saber vender. Entre 1750 e 1760 ele produziu o que hoje chamaríamos de uma boa campanha de marketing. Olhar os pintores em seu trabalho era um programa naquela época e Reynolds aproveitou-se disso para transformar seu trabalho num evento.
Mandou instalar em seu estúdio um espelho enorme que colocou numa posição que permitia ao modelo observar o andamento da pintura; ele nunca se sentava, pintava em pé e sempre em movimento. Homem de muitas leituras e muito educado, sabia manter com seu modelo uma conversa inteligente e agradável, o que contribuía para que o modelo suportasse as horas posando e estimulava a platéia que ia assistir o mestre pintando.

Acervo National Maritime Museum, Greenwich, Londres

CRÔNICA - Cartas de Buenos Aires: As avós cientistas



Com 106 netos recuperados (o último na semana passada), as Avós da Praça de Maio celebrarão seus 35 anos de trabalho em 22 de outubro próximo – Dia Nacional do Direito à Identidade.
Mas o presente quem ganha é a gente. Micros documentários de três minutos, contando a vida de cada uma das crianças encontradas e uma série chamada “99,99% - La Ciencia de las Abuelas”, que resgata um lado menos conhecido destas senhoras: a busca pelos métodos científicos que permitiram comprovar essas identidades.
Quando as avós começaram a buscar os cerca de 500 bebês roubados dos pais durante a última ditadura militar, ainda na década de 1970, se depararam com um problema. Tinham nada mais que fotos e lembranças.
Mesmo que os encontrassem, não haveria como comprovar suas filiações verdadeiras, tendo em vista que os pais estavam mortos ou desaparecidos.
Então se perguntaram: existe um elemento constitutivo do sangue que só aparece em pessoas pertencentes à mesma família? Foram atrás de geneticistas. Bateram em muitas portas.
Somente no ano de 1982 passaram por 12 países, entre eles França, Alemanha e Inglaterra, até que chegaram ao Blood Center de Nova Iorque e à Associação Americana para o Avanço da Ciência, em Washington.
Graças a eles,um ano depois, encontraram um método que permite chegar a um percentual de 99,9% de probabilidade, mediante análises específicas de sangue. Era criado neste momento o “índice de abuelidad”, uma novidade para o mundo científico! É bom lembrar que ainda faltava um tempo para que os segredos dos genes e do DNA viessem à tona como agora.
Em dezembro de1983, no primeiro dia hábil de democracia, as avós obtiveram uma ordem judicial para analisar o sangue de uma menina, Paula Eva Logares, que elas tinham certeza era filha de desaparecidos. Foi o primeiro caso comprovado. Nunca mais pararam.
Exigiram a exumação de cadáveres, ajudaram a criar a Equipe Argentina de Antropologia Forense, fundaram o Banco Nacional de Dados Genéticos e, principalmente, ajudaram na descoberta do DNA mitocondrial, tema sobre o qual podem dar até aulas!

Neto 106: Pablo Javier Gaona Miranda - Foto: Fernando Gens/Télam

Não há espaço para detalhes técnicos na coluna, mas está tudo aqui, no livro “Las abuelas y La genética”,que pode ser baixado gratuitamente.
O trabalho que elas fizeram foi fundamental não somente para a restituição de identidade como para o julgamento dos genocidas. E muito mais para os geneticistas, que admitem publicamente que sem as avós não teriam chegado tão longe.

Gisele Teixeira é jornalista. Trabalhou em Porto Alegre, Recife e Brasília. Recentemente, mudou-se de mala, cuia e coração para Buenos Aires, de onde mantém o blog Aquí me quedo, com impressões e descobrimentos sobre a capital portenha. 

Quando a honestidade é insuficiente, por Carlos Tautz


POLÍTICA

O candidato é honesto, domina a dinâmica de funcionamento da máquina administrativa e é comprometido com a ética na política. Seu partido não se envolve com fraudes e é composto de pessoas bem intencionadas.
Vitorioso, ele fará uma boa gestão e sairá dela sem os arranhões morais que caracterizam quase 100% dos candidatos a qualquer coisa.
Mas, nem isso tudo garante que o Estado descentralizará renda e poder, nem que a participação da maioria oriente os rumos gerais do governo.
Em outras palavras: ser honesto é ótimo, mas insuficiente.
Mesmo que algum herói mitológico consiga fazer tudo isso, ainda estará a anos-luz de distância de administrar um Estado independente de corporações e imune às pressões que o poder econômico costuma usar para garantir que seus interesses se sobrepunham aos da maioria.
O problema não está, enfim, nas pessoas. Localiza-se no enquadramento institucional que isola a política da economia e transformar os sucessivos processos eleitorais em mera formalidade útil à manutenção de um modelo econômico que prescinde da participação popular como método de governo.
Nenhum partido do escopo eleitoral brasileiro escapa dessa lógica viciada. Uns são mais simpáticos, angariam muitos apoiadores e até mobilizam a juventude que, diz-se, é alienada. Mas, nenhum coloca como objetivo central a reforma de um Estado feito para se articular com diferentes frações do poder econômico para sua própria perpetuação.
Nestas próximas eleições municipais, poucos ainda se lembrarão daquele PT do início dos anos 1980, quando a participação da base no processo decisório era contínua, naquilo que alguns politicólogos classificavam de “partido-movimento”, ou, em sua versão mais, digamos, “progressista”, de “partido em movimento”.
Ainda que aquele PT carregasse uma espécie de gene do esquecimento de lutas sociais anteriores a ele, como se a história popular brasileira tivesse começado somente em 1979 no ABCD paulista, e que carregasse um certo nojo de tudo que dissesse respeito ao Estado, o Partido dos Trabalhadores tinha a coragem de propor o novo.
Agora, há um vazio de novidades democráticas que compromete todo o processo eleitoral, em um País que continua a exercer diversos pequenos autoritarismos como profissão de fé. A rigor, no frigir dos ovos, devemos ter em mente que as próximas eleições são apenas isso: apenas outro capítulo da mesma velha novela.

Carlos Tautz, jornalista, é coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e Controle Cidadão de Governos e Empresas

A revolta dos mequetrefes


RUTH DE AQUINO


RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
É revoltante a perseguição do Brasil a seus 81 senadores. Durante a vida toda, servindo a nação, eles receberam sem problema dois salários extras por ano, o 14º e o 15º. Nos valores atuais, R$ 53.400. Jamais pagaram algum imposto em cima desse valor. Zero. E, agora, vem a Receita Federal e decide cobrar deles o imposto devido nos últimos cinco anos, com multas e juros. Como se eles fossem uns mequetrefes. O Leão deu um prazo de 20 dias para Suas Excelências enviarem cópias de contracheques e comprovantes de rendimentos anuais.
Os senadores deveriam aderir à onda das greves. Virou moda servidor público partir para o confronto com a presidente Dilma e, por tabela, infernizar a população na rua, nas universidades, nos hospitais e nos aeroportos. Não importa quanto ganhem. Não importa que tenham recebido aumentos nos últimos anos acima da inflação. Aumentos maiores que os da população, engarrafada pelo poder dos sindicatos.
Uma greve dos senadores teria a vantagem de nem ser percebida, porque não faria a menor diferença para a vida de ninguém. Ou alguém acha que o país sofre durante os meses de recesso em que pagamos aos senadores para que eles não façam nada? Eles não fazem nada, e nós sofremos menos ainda.
É revoltante a Receita perseguir os senadores. Eles deveriam aderir à onda das greves. Ninguém perceberia... 
Cada senador terá de devolver R$ 64.700, fora juros e multas, referentes aos anos de 2007 a 2011. Uma fortuna! Principalmente se calcularmos a merreca mensal que eles recebem de subsídio e verbas extras. Alguns deles também ganham aposentadoria de ex-governador. Um é o presidente do Senado, José Sarney, em seu terceiro mandato – que dá exemplo ao não revelar quanto ganha.
Embora sua zelosa assessoria de imprensa se recuse a divulgar, calcula-se que, somando tudo, deve rondar os R$ 80 mil a remuneração mensal do maranhense que adotou o Amapá. Sarney recebe R$ 26.723,12 como senador, mais as aposentadorias de ex-governador do Maranhão e de servidor do Tribunal de Justiça, além das verbas extras, chamadas inexplicavelmente de “indenizatórias”. Se Sarney ganhar menos (e não mais), ÉPOCA receberá uma carta de Fernando Cesar Mesquita, da Secretaria Especial de Comunicação Social do Senado. Esperamos que ele nos informe o exato valor, discriminado, em nome da clareza.
Pelo menos cinco outros senadores, do PTB, do DEM, do PMDB, do PP e do PT, ganham, como Sarney, aposentadoria de ex-governador, que varia de R$ 11 mil a R$ 24 mil. Vários senadores, flagrados pela imprensa, decidiram abrir mão do benefício. 
Às vésperas de sair da vida pública com uma vingança na manga (deixar Renan Calheiros em seu lugar), Sarney se diz feliz porque a Receita cobrou imposto apenas em cima dos últimos cinco anos: “Se fosse de todos os meus mandatos, não seria uma facada, seria um tiro. Nem se vendesse a Ilha de Curupu, que não é mais minha, daria para pagar”. Em 1970, Sarney se tornou senador pela primeira vez.
Os senadores se insurgiram contra a cobrança retroativa. Os políticos estão inquietos com essa mania de remexer o passado em nome da moralização e da transparência. Tanto esforço para não ser tratado como homem comum, zé-ninguém, mequetrefe. E, de repente, todas as regalias são ameaçadas, e o “toma muito lá dá muito cá” passa a ser crime. Até os pares cassam mandato. Imagine ter de enfrentar a Justiça de verdade e, pior ainda, o ministro Joaquim Barbosa fazendo perguntas capciosas ao vivo, na televisão, de supetão, fora do roteiro, sem nada combinado? Por que o Brasil resolveu se tornar um país menos avacalhado e mais sério?
Essa facada da Receita Federal não ficará assim não. Se a estratégia dos réus do mensalão é jogar a culpa no próximo, no subordinado ou no morto, os senadores também não assumem culpa de nada. Dizem que o erro foi do Senado, e não deles. Exigem uma negociação coletiva.
O líder do PSDB, o senador Álvaro Dias (PR), não se conforma em retirar do próprio bolso um dinheiro que, a seu ver, é devido pela instituição. “O erro foi do Senado, e nós é que vamos pagar a conta?”, pergunta Dias, escandalizado. Provavelmente, Dias quer que a dívida dos 81 senadores com a Receita seja retirada dos cofres públicos, de nosso bolso.
Nenhuma dessas raposas políticas sabia que teria de pagar Imposto de Renda sobre o 14º e o 15º salários. Eles achavam que isso era só ajuda de custo. Porque a vida deles custa muito. Não bastam auxílio-moradia, auxílio-passagem, auxílio-telefone, auxílio-combustível, auxílio-assessor, auxílio-correio, auxílio-refeição. Precisamos fazer um mutirão, uma vaquinha para ajudar os senadores amotinados. Caso contrário, eles podem fazer greve. Já pensou? Nem vou dormir.

Paradoxo popular, por Dora Kramer


14 de agosto de 2012 | 3h 05

Nem tudo que é popular é justo, aceitável, verdadeiro ou incontestável. Disso dá notícia a História, a vida e as duas vitórias eleitorais do PT para a Presidência da República depois do advento do mensalão.

Segundo pesquisa do instituto Datafolha, maioria expressiva (73%) da amostragem de 2.592 pessoas ouvidas uma semana depois de iniciado o julgamento no Supremo Tribunal Federal considera tratar-se de um caso de corrupção e espera pela condenação dos envolvidos.
Tal convicção não decorre da perfeição jurídica do relato dos autos, inacessíveis à avaliação leiga. A acusação não convence a maioria por estar juridicamente com a razão, mas porque sua narrativa faz sentido: conta que um partido valeu-se das facilidades do poder para arrecadar muito dinheiro e com ele conseguir sustentação política de que necessitava para governar.
Houve manipulação de grandes somas onde deveriam prevalecer posições políticas; é isso que as pessoas entendem e consideram impróprio.
Uma boa parte (43%), contudo, não acredita que haverá condenação, expressando algo que pode ser visto de duas maneiras: desconfiança na eficácia da Justiça e/ou antídoto prévio a frustrações devidas a um farto histórico de impunidade.
A adesão popular à tese defendida pela Procuradoria-Geral da República não quer dizer que o resultado do julgamento no Supremo Tribunal Federal vá ou deva necessariamente atender a essa demanda.
Tampouco é possível inferir que os resultados daquelas eleições vencidas pelo PT (reeleição de Lula e vitória de Dilma Rousseff) no pós-mensalão teriam sido diferentes se o enredo tivesse sido contado com a cadência e exposição de agora, porque a mesma pesquisa registra que 50% não se deixarão influenciar pelo resultado do julgamento na hora do próximo voto, em outubro.
Algumas conclusões, porém, são admissíveis. A primeira delas: o PT está longe da realidade quando diz que a população só quer saber de novela e de olimpíadas.
A segunda: a versão de que o mensalão é fruto de uma fantasia oposicionista simplesmente não pegou.
Um último aspecto, relacionado à desconexão entre o voto e o resultado do julgamento pode, em princípio, soar estranho em face da expectativa de condenação.
Mas, se lembrarmos que o PT ganhou duas eleições presidenciais com mensalão e tudo - uma delas ainda sob o eco da CPI - vamos acabar concluindo que a população exige rigor da Justiça, mas não é tão rigorosa assim na hora de votar.
Um dado para se pensar antes de reclamar dos políticos e dos juízes.
Sujeito oculto. Muito esperto o advogado de Roberto Jefferson tentando desmontar o trabalho do Ministério Público sob a alegação de que a acusação é nula porque não incluiu o "mandante", Lula.
Como teatro, eficiente. Para o julgamento, apenas um sofisma dada a proteção garantida pela ausência do personagem nos autos.
Para a imagem de Lula, porém, o chamamento ao centro da cena naqueles termos não é tão inócuo assim.
Desalinho. Na última sexta-feira, o ministro Antonio Dias Toffoli foi a uma festa em Brasília. Ia alta a madrugada quando explodiu em pesados palavrões referindo-se ao jornalista Ricardo Noblat que acabara de sair, mas voltou a tempo de ouvir e relatar a história em seu blog momentos depois.
Talvez pela interpretação de que se tratava de um caso atinente à vida particular de Dias Toffoli, os jornais não deram repercussão ao episódio e provavelmente por esse motivo o ministro não reagiu nem desmentiu.
A gravidade aí não está no fato de os impropérios terem sido dirigidos a um jornalista, mas por terem sido proferidos em público por um julgador de instância suprema cujo papel institucional requer equilíbrio, distinção, maturidade e, sobretudo, noção de limite.