domingo, 12 de agosto de 2012

Ex-presidente Lula possui R$ 47,5 mil de multas não pagas de 2010




Lula (Foto: Divulgação)
Lula (Foto: Divulgação)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda possui cinco multas não pagas aguardando julgamento de recursos no Supremo Tribunal Federal (STF). Aplicadas antes das eleições presidenciais de 2010, as representações do DEM e do PSDB acusam Lula de ter praticado propaganda eleitoral antecipada em favor da sua então candidata Dilma Rousseff .

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), responsável por julgar as representações e estabelecer o valor das multas, as penas de Lula que aguardam julgamento no STF somam o valor de R$ 37,5 mil. O ex-presidente ainda possui mais R$ 10 mil em pendências que aguardam julgamento no TSE, em um total de R$ 47,5 mil.

Em duas das representações, o DEM alega que o ex-presidente teria utilizado seus discursos em festas da CUT e da Força Sindical do Dia do Trabalho, em São Paulo, para insinuar que a continuidade de seu governo seria com Dilma Rousseff, presente ao lado de Lula em ambos eventos em ano eleitoral.

Em outra ação, Lula é acusado pelo DEM e pelo PSDB de usar seu discurso durante a inauguração de prédios do campus da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), em Teófilo Otoni, Minas Gerais, para "propagandear que vai fazer a sua sucessão". Procurada pelo iG , a assessoria de imprensa do ex-presidente afirmou que "não comenta processos em andamento".

Em 2010, o TSE aplicou 28 multas a candidatos e partidos envolvidos nas eleições presidenciais, em um total de R$ 180,5 mil. Entre elas, estão 12 multas para a então candidata Dilma Rousseff, no valor de R$ 58 mil, e nove multas para o tucano José Serra , no valor de R$ 70 mil. Todas foram pagas, informou o tribunal.

As informações são do portal IG

Filme reconstitui bastidores da relação entre Freud e Jung


manuel da costa pinto

 

12/08/2012 - 02h30


"Um Método Perigoso" aborda de modo fiel a relação entre Freud e Jung, nos primórdios da psicanálise. Mas o que deveria ser uma virtude pode também decepcionar os admiradores de David Cronenberg. Em filmes como "Scanners - Sua Mente Pode Destruir" (1981) e "Crash - Estranhos Prazeres" (1996), o diretor canadense criou uma estética de horror científico, em que fobias e fetiches ultrapassam o campo subjetivo, materializando-se por meio da interação com a tecnologia.
No primeiro, surge uma geração de cérebros com monstruosas capacidades telepáticas; no segundo, tudo gira em torno da erotização de corpos mutilados em acidentes de carro. São mundos desviantes, com fantasmas psíquicos e fantasias sexuais que exigem um olhar psicanalítico.
Divulgação
Michael Fassbender (à esq.) na pele de Jung e Viggo Mortensen, que vive Freud
Michael Fassbender (à esq.) na pele de Jung e Viggo Mortensen, que vive Freud
Ao tratar de um momento seminal da psicanálise, porém, Cronenberg adota tom mais contido, numa narrativa que parece convencional --não fosse a personagem que insere um elemento perturbador na relação entre Jung e Freud: Sabina Spielrein.
Inicialmente, Sabina é a paciente histérica que Jung trata pela associação livre --método que, inspirado nas ideias freudianas sobre a relação entre corpo e psique, seria incorporado à clínica psicanalítica. Quando Sabina se torna amante de Jung e passa a ser seguidora de Freud, porém, Cronenberg ata o episódio histórico às dobras internas do movimento psicanalítico.
Freud via no discípulo, suíço e protestante, a possibilidade de desvincular a psicanálise dos círculos judaicos de Viena num momento de antissemitismo crescente. Jung, no entanto, rejeita o papel central que o mestre atribui à sexualidade, enveredando por investigações de mitos e fenômenos paranormais que comprometiam o projeto científico de Freud.
As cenas sadomasoquistas entre a judia russa, vivida por Keira Knightley, e Jung (Michael Fassbender) confundem as cartas. A sexualidade triunfa, mas o "affair" tem algo de parricídio ritual, de transgressão das leis impostas por Freud (Viggo Mortensen) com rigor bíblico. Mais próximo de Sade (autor libertino da "Filosofia na Alcova"), Cronenberg chafurdou os lençóis da psicanálise.
FILME
UM MÉTODO PERIGOSO ***
DIRETOR: David Cronenberg
DISTRIBUIDORA: Imagem Filmes (DVD e Blu-ray, locação)
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CONEXÕES
LIVROS
SABINA SPIELREIN - DE JUNG A FREUD ***
Reconstitui a trajetória da amante de Jung e discípula de Freud, assassinada pelos nazistas em 1942.
AUTORA: Sabine Richebächer
TRADUÇÃO: Daniel Martinischen
EDITORA: Civilização Brasileira (2012, 434 págs., R$ 54,90)
JUNG - UMA BIOGRAFIA ****
O primeiro volume da biografia do criador da "psicologia analítica" dá o devido destaque a Sabina Spielrein.
AUTORA: Deirdre Bair
TRADUÇÃO: Helena Londres
EDITORA: Globo (2006, vol. 1, 624 págs., R$ 52,50; vol. 2, 504 págs., R$ 48)
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LIVROS
POEMAS ****
Adonis; tradução de Michel Sleiman (Companhia das Letras, 256 págs., R$ 42)
Traduzida do árabe, essa antologia cobre cerca de 50 anos da obra do poeta sírio Adonis (pseudônimo de Ali Ahmad Said Esber, nascido em 1930). Associando referências da tradição islâmica a versos livres (como no fluxo narrativo de "Tumba para Nova York", em que se percebe diálogo com Walt Whitman e Lorca), sua poética incorpora temas como a viagem e o exílio.
JOÃO GILBERTO ****
Org. de Walter Garcia (Cosac Naify, 512 págs., R$ 215)
O músico e pesquisador do Instituto de Estudos Brasileiros da USP resgatou entrevistas com João Gilberto, além de perfis e ensaios sobre o compositor e cantor baiano. Além do valor histórico da antologia, chama a atenção o fato de o criador da bossa nova ter sido analisado por ensaístas vindos da crítica de arte, da literatura, da filosofia, do cinema e da arquitetura.
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DISCO
DEBUSSY, RAVEL, POULENC ****
Flavio Varani (Master Class, R$ 30, CD duplo)
A edição comemora os 60 anos de carreira do pianista brasileiro, radicado nos EUA. No primeiro disco, ele interpreta "Doze Estudos", de Debussy, e a suíte "Miroirs", de Ravel. No segundo, ao lado da pianista Maria Thereza Russo, os duos de Poulenc e de Debussy traduzem sua identificação com o repertório francês do início do século 20.
Manuel da Costa Pinto
Manuel da Costa Pinto é jornalista e mestre em teoria literária e literatura comparada pela USP. Colunista da versão impressa da revista "sãopaulo" e editor do Guia Folha - Livros, Discos, Filmes, é também editor do programa "Entrelinhas", da TV Cultura. Escreve aos domingos.

Os Santos sábios Mais dois se juntam ao seleto time de doutores da Igreja Católica: homens e mulheres que, além de alimentar a fé, são uma inspiração intelectual para seus fiéis



João Loes
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Ser um doutor da Igreja Católica Apostólica Romana não é para qualquer um. Em quase dois mil anos de história, a instituição deu o título a apenas 33 de seus mais de sete mil santos. Pudera, são doutores da Igreja apenas os santos que deixaram documentos que sobreviveram ao tempo e que, de alguma forma, sintetizam a doutrina católica a ponto de servirem de exemplo como vida religiosa. Nesse sentido, não surpreende também que sejam poucas as mulheres entre os doutores. Privadas de educação por milênios, nunca foi fácil para elas deixarem seu legado por escrito. Assim, hoje apenas três figuram entre os 33 doutores da igreja: Santa Teresa D’Ávila, Santa Catarina de Siena e Santa Teresa de Lisieux (leia quadro). Em breve, porém, mais uma entrará nessa seleta lista. O papa Bento XVI deve anunciar formalmente, em 7 de outubro, a alemã Santa Hildegarda de Bingen como nova doutora da Igreja Católica. “É um momento novo para a Igreja, que tenta espelhar o protagonismo que as mulheres já têm na sociedade dentro da instituição”, afirma Fernando Altemeyer, professor de teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Nesse contexto, a escolha de Santa Hildegarda como doutora é mais do que oportuna. Monja beneditina nascida em 1098 onde hoje é a Alemanha, ela é tida por alguns como representante do feminismo católico do começo do primeiro milênio. Se publicamente, como religiosa, se mostrava submissa aos seus superiores homens, no dia a dia, como administradora do mosteiro Disibodenberg, exercia autonomia consideravelmente maior do que a média, dando liberdade às monjas, compondo músicas, estudando ciências naturais e escrevendo. Entre os trabalhos que deixou, há um livro sobre medicina herbal que trata de questões femininas como cólicas menstruais, além de outros textos sobre misticismo católico e estudo da música. “Mulheres assim passaram a ser reconhecidas pela Igreja a partir do Concílio Vaticano II”, explica o padre Valeriano dos Santos Costa, diretor da Faculdade de Teologia da PUC-SP. Segundo ele, o Concílio, reunião de bispos e cardeais que completa 50 anos agora em 2012, arejou a Igreja, abrindo novos horizontes para a instituição e novas portas para as mulheres.
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ALTAR
Santa Hildegarda (1098-1179) (abaixo) deixou a música e a medicina como legado; enquanto o
jesuíta São João de Ávila (1500-1569) (acima) buscou a perfeição na sublimação das paixões humanas
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Mas, como a Igreja Católica costuma fincar as pilastras na tradição, abrindo poucas frestas para a modernidade, no mesmo dia em que Santa Hildegarda será doutorada, outro homem, o 31o, também ascenderá ao panteão de luminares da Igreja. É o espanhol São João de Ávila, nascido em 1500 numa família abastada da cidade de Almodóvar del Campo. Ainda jovem, São João seguiu o rumo da fé e, logo que seus pais morreram, ele doou tudo o que a família tinha aos pobres e saiu em missão para expandir a fé na região da Andaluzia, recém-libertada do domínio mouro. Foi fundamental na expansão da ordem dos jesuítas na Espanha e deixou cartas e livros que apresentam o caminho para a sublimação das paixões humanas. “Antes de tudo, os doutores são agentes de estímulo da doutrina vigente e de renovação da tradição”, afirma a irmã Célia Cadorin, autoridade no assunto. São ao mesmo tempo santos e sábios.
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Fotos: Shutterstock; The Bridgeman Art Library/Grupo Keystone

Em defesa da árvore Professor universitário sobe em árvore para evitar corte pela Prefeitura de São Paulo e levanta debate sobre arborização das metrópoles brasileiras


Larissa Veloso

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HOMEM DE AÇÃO
Contra as motosserras, Henrique Carneiro subiu em
uma das árvores da praça em frente à sua casa
Para a maioria dos habitantes das metrópoles brasileiras, as árvores da cidade não passam de um enfeite e essa é uma realidade fácil de constatar. Basta parar alguém na rua e perguntar se a pessoa sabe o nome das espécies próximas à sua casa ou pedir que cite apenas as principais da sua cidade. Tem até quem reclame das folhas que “sujam” a calçada ou das sombras que “protegem a criminalidade”.
Mas alguns fogem a essa regra. É o caso de Henrique Carneiro, 52 anos, para quem uma árvore não é só mais um acessório do mobiliário urbano. É por isso que na segunda-feira 6 o professor de história moderna na USP acabou subindo em um de seus exemplares favoritos para impedir que a Prefeitura de São Paulo cortasse parte de seus troncos. Próximo à casa do professor, na região do Butantã, zona oeste da capital, há uma praça com dezenas de espécies vegetais.
Muitas foram plantadas pelos próprios moradores. “As crianças brincam todos os dias nessas árvores, sobem nos galhos e brincam entre os cipós. Quando chega a primavera, ficam ansiosas para que a amoreira dê frutos. Essas espécies têm valor sentimental para nós”, enfatiza Carneiro.
"Muitos simplesmente não veem as árvores da cidade. 
Têm essa visão distorcida de que tudo é uma massa verde única"

Ricardo Cardim, ambientalista
Apesar de não prejudicarem a fiação ou a passagem, e estarem saudáveis, todas as árvores sofreriam cortes se não fosse a intervenção do professor. Em nota, a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras de São Paulo afirmou que o pedido de poda partiu do Conselho de Segurança da região, que “considerou o excesso de galhos um problema para a segurança dos frequentadores da praça” e que as podas foram recomendadas após “vistoria e laudos técnicos de engenheiros agrônomos”.
A ação isolada do professor chamou a atenção para algo que está no cotidiano da cidade, mas que pouca gente liga. “Muitos simplesmente não veem as árvores da cidade. Têm essa visão distorcida de que tudo é uma massa verde única. E depois, se você pergunta sobre meio ambiente, as pessoas dizem que apoiam sim, que é fundamental preservar. Morrem de dó quando assistem às imagens na tevê da Floresta Amazônica pegando fogo, mas não se importam de cortar uma árvore na frente de casa”, critica o ambientalista Ricardo Cardim, autor de um projeto de resgate das árvores nativas de São Paulo. “Hoje sabemos que as árvores são na verdade prestadoras de serviços ambientais urbanos”, acrescenta. Leia a íntegra da entrevista abaixo.
Nadando contra a corrente, o professor Carneiro continua atento ao menor sinal de barulho de serra elétrica perto de sua casa. Ele já inclusive entrou em contato com o Ministério Público e a Secretaria do Verde e Meio Ambiente do Estado. “Também estamos nos mobilizando para fazer um abaixo-assinado. Não vou desistir”, diz, orgulhoso e atento, o dom Quixote da pracinha.
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"As árvores são prestadoras de serviços ambientais na cidade"
Autor do blog Árvores de São Paulo e criador de um projeto para recuperar a vegetação nativa da cidade, Ricardo Cardim falou a ISTOÉ sobre o problema da falta de verde nas nossas metrópoles.
ISTOÉ - Na última semana, o debate sobre a poda indiscriminada de árvores ganhou destaque em São Paulo. O que pensa sobre esse assunto?
Ricardo Cardim - É aquela velha história: a árvore acaba sendo sempre a vítima de qualquer intervenção urbana. Se há um problema de segurança, [como alegado pela prefeitura] por que não solucionar colocando uma iluminação nova abaixo da copa das plantas? Existe uma mania nacional de colocar a árvore na cidade como um obstáculo, ou somente como um enfeite na cidade. E hoje sabemos que elas são na verdade prestadoras de serviços ambientais urbanos.
E ao invés preservar e usar o verde para gerar bem-estar, o pensamento dominante é: “vamos construir essa rua, tirem essas árvores do caminho”. Como fizeram na marginal do rio Tietê. A árvore é vista como um obstáculo ao progresso, não como uma aliada no bem-estar da cidade. Isso é algo que me lembra os anos 40 e 50 do século passado, quando havia aquele lema de que “São Paulo não pode parar”.
ISTOÉ - Como está a questão da arborização em São Paulo?
Cardim - Hoje na cidade temos áreas que têm diferenças de até 14ºC, por causa da arborização [quanto mais área verde em uma região, mais baixa tende ser a temperatura. Quanto mais áreas cimentadas e asfaltadas, maior a temperatura. Esse fenômeno é conhecido como “ilhas de calor”]. Nos últimos anos tivemos um plantio maior em São Paulo. Mas esse plantio também nem sempre é feito com cuidado. Muitas espécies são plantadas na estação seca, na qual o índice de mortalidade é muito alto.
Outro grande problema que temos é que 80% das árvores nas cidades são estrangeiras. Há uma grande “invasão” de espécies que prejudicam o nosso meio ambiente. Isso levou à extinção em massa de vários animais, que estavam acostumados a se alimentar dessas mesmas plantas durante séculos. 
Isso também faz com que a população não conheça as árvores nativas da sua região. Muita gente olha para essas espécies e acham que é um mato que está crescendo ali. 
ISTOÉ - Mas como solucionar o problema da falta de verde nas cidades?
Cardim - O primeiro fator é investimento público. O governo tem que dar o peso devido ao meio ambiente, porque esse fator está diretamente ligado à saúde do cidadão. Em segundo lugar é preciso intensificar essa campanha de conscientização. Esse trabalho não precisa ser feito só pelo governo, mas também nas ONGs e nas escolas.  É preciso que as pessoas pressionem as autoridades pela limpeza dos rios, por exemplo.
O que falta é o fazer o próprio cidadão entender que o meio ambiente também é na cidade. Que se a pessoa fizer um jardim, cuidar das árvores da sua rua, do seu condomínio, ela está fazendo muito mais do que se ficar se preocupando sobre a Amazônia. As árvores da cidade são vistas como uma coisa romântica, um enfeite para a rua, algo supérfluo. 
O que eu vejo é que muitas pessoas da terceira idade, por exemplo, são grandes inimigos das árvores, estão sempre dizendo que a árvore solta folhas na calçada, que deixa a rua escura, que arrebenta o passeio. 
ISTOÉ - Manaus ficou em último lugar no levantamento sobre arborização nas metrópoles brasileiras [leia quadro acima]. Não é uma contradição, considerando-se que esta é a capital mais próxima da floresta amazônica?
Cardim - Já estive em Manaus. É uma cidade que não tem nem saneamento básico adequado, que dirá arborização. O que tem de árvores são exemplares antigos e não foi feito um novo plantio. E pode-se notar que é uma arborização muito mal-feita.
Uma cidade que vejo bem arborizada é o Rio de Janeiro. Lá há ruas que são verdadeiros corredores verdes. Mas em âmbito nacional, ainda não há um espaço para se pensar essa questão das árvores nas cidades. 
ISTOÉ - Quais são seus projetos atuais?
Cardim - Ultimamente tenho trabalhado no resgate da mata nativa de São Paulo, além de divulgar essa questão através do blog. Eu faço um trabalho de reprodução dessas plantas, estou recriando um trecho de cerrado paulistano original. E assim também estudo as plantas que poderão ser usadas no paisagismo da cidade.
Outra ferramenta com a qual tenho trabalhado são os telhados verdes, jardins nas coberturas dos edifícios nas casas. É uma tecnologia super usada em outros países e torna a cidade mais verde. Se formos pensar, sobrou muito pouco espaço para o verde nas cidades, e a solução é levar isso para cima dos prédios. Atualmente tenho uma empresa que faz consultoria nessa área, e criamos telhados verdes com espécies da mata atlântica e do cerrado.

IMPRENSA BELLE ÉPOQUE Um jornalista chamado Olavo Bilac


Por Célio Yano em 07/08/2012 na edição 706
Reproduzido do Ciência Hoje On-line, 2/8/2012
  
Um dos principais nomes do parnasianismo no Brasil, Olavo Bilac (1865-1918) teve também ativa carreira de jornalista. O livro Imprensa e Belle Époque: Olavo Bilac, o jornalismo e suas histórias ajuda a revelar esse lado menos conhecido do poeta.
A obra, de autoria da jornalista Marta Scherer, será lançada em Florianópolis dia 16 de agosto pela editora da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). A pesquisa que deu origem ao trabalho foi feita para a dissertação de mestrado de Scherer, defendida em 2008 na Universidade Federal de Santa Catarina. A partir da análise de crônicas publicadas por Bilac entre 1892 e 1908, a jornalista revela pontos de vista do autor sobre o jornalismo praticado no período.
Parte das crônicas havia sido resgatada pelo professor Antônio Dimas, da Universidade de São Paulo, na coletânea Bilac, o jornalista. Nem por isso Scherer teve pouco trabalho: dos 96 textos que utiliza como fonte em seu livro, a jornalista transcreveu 48 de jornais do acervo da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Desses, 14 ainda não haviam sido publicados em livro.
Bilac atuou como jornalista no período da chamada Belle Époque brasileira (1889-1922), quando o jornalismo passou por grandes transformações, abandonando o modelo panfletário para se profissionalizar, em moldes empresariais.
Em seu levantamento, a pesquisadora reuniu crônicas publicadas em A BruxaA CigarraKosmosO CombateCorreio PaulistanoGazeta de Notícias e O Estado de S.Paulo. Mas, segundo ela, há colaborações de Bilac em outros jornais e revistas da época. “Ele publicou em dezenas de veículos; quase todos de São Paulo e do Rio.”
Segundo Scherer, as discussões sobre o futuro do jornalismo na época de Bilac eram parecidas com as de hoje. “Ele dizia, por exemplo, que o surgimento do cinema poria fim à imprensa escrita”, conta. Algo parecido com o atual debate em torno do fim do jornal impresso, que seria substituído por plataformas digitais.Outra discussão comum na época dizia respeito ao uso da fotografia nos veículos de comunicação. Bilac acreditava que seu emprego acabaria com a necessidade de texto.
“As palavras são traidoras, e a fotografia é fiel”, escreveu na Gazeta de Notícias a 13 de janeiro de 1901. Para Scherer, o trabalho do Bilac cronista foi caindo no esquecimento a partir do movimento da Semana de Arte Moderna de 1922, que renegava autores tradicionalistas. “O Bilac poeta resistiu a essa revolução porque sua obra tinha se consolidado de modo muito forte”, diz a jornalista. “Mas não houve grande preocupação em preservar seu trabalho de cronista.”
Garoto-propaganda
Além de jornalismo, Bilac fez publicidade. Uma das campanhas que ficaram famosas é a do xarope Bromil, que veiculava propagandas com frases do poeta. Ele ainda escreveu reclames em forma de verso para fábricas de vela e fósforo, loja de tecidos e até para um fotógrafo. Certa vez, ao receber o pedido para redigir um anúncio, apresentou dois preços pelo serviço: 30 mil réis pelo texto e 200 mil por sua assinatura. “Era como um garoto-propaganda de hoje; cobrava para vincular sua imagem a uma marca”, compara Scherer.
Bilac foi também assessor de imprensa do governo, na gestão do presidente Afonso Pena (1906-1909), embora não usasse esse termo para designar o trabalho. Como jornalista oficial da Exposição Nacional de 1908, realizada no Rio para comemorar o centenário da abertura dos portos, teve uma ideia que até hoje soaria inovadora. Em um pavilhão com paredes de vidro montou a redação de um jornal institucional.
A ideia era que as pessoas que visitavam a exposição soubessem como era o trabalho dos profissionais de imprensa. A edição do Correio da Exposição produzida diante do público foi posteriormente distribuída de forma gratuita e esgotou-se rapidamente.
Jornalismo era ganha-pão
“No Rio de Janeiro é raro um homem de letras que não é jornalista; isso explica-se pelo fato de ser a literatura de jornal muito mais rendosa que a literatura de livros”, escreveu Bilac em crônica publicada na revista carioca A Cigarra, em 23 de maio de 1895. Não faltam casos de escritores da época que trabalhavam como jornalistas. O exemplo de Euclides da Cunha (1866-1909) é, talvez, o mais famoso. Sua obra-prima, o romance Os sertões, é fruto de uma série de reportagens sobre a Guerra de Canudos que fez para o jornal O Estado de S.Paulo.
Mas também trabalhavam como jornalistas quase todos os grandes escritores da época – José de Alencar (1829-1877), Lima Barreto (1881-1922) e Coelho Neto (1864-1934) são alguns deles. Para se ter uma ideia, Bilac entrou para o quadro de funcionários da Gazeta de Notícias no lugar de Machado de Assis (1839-1908) e, quando saiu, foi substituído por João do Rio (1881-1921).Muitos cronistas assinavam seus textos com pseudônimo. Bilac, por exemplo, era Fantásio, Puck, Flamínio, Belial, Tartarin-Le Songeur ou Otávio Vilar. Algumas crônicas traziam as iniciais O.B.; outras, apenas B.
***
[Célio Yano, do Ciência Hoje On-line/ PR]

Após investimento, Brasil avançou em medalhas, mas 'perdeu bonde para 2016'


Camilla Costa
Atualizado em  12 de agosto, 2012 - 15:51 (Brasília) 18:51 GMT

Arthur Zanetti. | Foto: Getty
O ginasta Arthur Zanetti surpreendeu ao conquistar o ouro para o Brasil nos Jogos de Londres 2012
Especialistas na área de economia do esporte e profissionais ligados a confederações de esportes individuais dizem que o Brasil já "perdeu o bonde para 2016", mesmo com um aumento de benefícios a atletas e o investimento na infraestrutura de treinamento.
Na reta final de Londres 2012, o Time Brasil conquistou 17 medalhas (sendo três de ouro), superando em apenas duas a previsão do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que esperava atingir o mesmo resultado da Olimpíada de Pequim 2008.

"O investimento deveria ter acontecido antes. Já deveríamos ter terminado Pequim olhando para a Olimpíada de 2016", disse à BBC Brasil Miguel Arruda, conselheiro da Confederação Brasileira de Atletismo e do clube BMF, o principal do país na modalidade.A previsão do COB, que chegou a ser considerada "modesta" pelo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, foi justificada pelo comitê pela "falta de tempo" para que as confederações pusessem seus projetos em prática desde que foi anunciado um aumento de R$ 90 milhões no investimento, em 2011.
Em Pequim 2008, o investimento governamental de cerca de R$ 1,2 bilhão culminou em 15 medalhas, duas a menos do que em Londres 2012, onde as cifras, que serão anunciadas pelo COB ainda hoje, parecem ter sido muito maiores.
Nos Jogos de Londres, a delegação brasileira manteve o bom desempenho em esportes de grupo e dupla, chegando às finais do vôlei feminino e masculino, do futebol masculino e do vôlei de praia masculino.
Com uma performance dentro do planejado no judô e surpresas positivas no boxe e na ginástica artística masculina, aumentaram a contagem de medalhas do país.
Neste domingo, o superintendente executivo do COB, Marcus Vinicius Freire, disse que atletismo e natação, que foram para menos finais em Londres, tornaram-se pontos de "atenção" e "preocupação".

Falta de renovação

O atletismo participou de somente três finais, no revezamento 4x100 metros feminino, no arremesso de peso e no salto em distância masculino, e terminou os Jogos sem medalha pela primeira vez desde 1992. Em Pequim, foram sete finais e um ouro.
Segundo Arruda, o desempenho se deve à pouca quantidade de atletas de alto rendimento em condições de competir em Olimpíadas - e o quadro não deve melhorar até 2016, por causa da dificuldade de renovação da equipe brasileira.
"No atletismo é possível que tenhamos resultados piores (no Rio 2016) do que em Londres. Os atletas que vão competir no Rio já estão em competições nacionais e os resultados que estamos observando são ínfimos. Temos que tirar leite de pedra dos poucos atletas que a gente tem."
"Nosso contingente de atletas em Londres é bom, mas se você fizer um corte de idade, terá poucos deles em 2016. A performance deles já está baixa, por causa do avanço da idade. Na minha opinião, não há tempo. 2016 já passou. Já perdemos o bonde no atletismo", afirmou à BBC Brasil.
Maurren Maggi em Londres 2012. | Foto: Reuters
Maurren Maggi não conseguiu medalha no atletismo; país 'perdeu o bonde' na modalide
A ginástica artística, que participou de seis finais em Pequim, foi a somente duas em Londres e obteve o ouro surpreendente de Arthur Zanetti. No entanto, o especialista Marco Antonio Bortoletto, da Unicamp, também aponta a falta de renovação nas equipes como um problema para o Rio.
"Sou bastante cético quanto a isso. Acho que esse investimento já deveria ser feito e talvez não dê tempo para o Rio. Os centros de treinamento já deveriam estar prontos para que nossas categorias infantil e de base pudessem treinar.", disse à BBC Brasil.
"Se olharmos para o que era há dez anos, melhorou muito, mas não o suficiente para sermos uma potência. E Diego, Arthur e Sasaki são exceções e devem ser tratados como tal. São talentos acima da média e é por isso que chegaram onde chegaram, mesmo não tendo as condições necessárias."

Investimento tardio

A equipe britânica, que competiu em todas as modalidades e ganhou 65 medalhas, sendo 29 de ouro, também atribui o bom desempenho principalmente ao investimento financeiro no esporte de alto rendimento, que quadruplicou no ciclo olímpico de Atenas 2004 a Pequim 2008.
Em Atlanta 1996, tanto a Grã-Bretanha quanto o Brasil tiveram 15 medalhas cada. No ciclo seguinte, quando o governo britânico passou a destinar parte dos lucros com a Loteria Nacional no esporte pela primeira vez, a delegação dobrou seu número de medalhas e conquistou 28 em Sydney.
O Brasil fez o mesmo em 2001, quando o governo sancionou a lei Agnelo Piva, destinando 2% da arrecadação da loteria para o COB e o Comitê Paralímpico.
Mas entre 2004 e 2008, o investimento do governo britânico quadruplicou e, em Pequim, o país deu um salto de 17 medalhas em relação a Atenas. Agora, com um aumento de 30 milhões de libras (cerca de R$ 95 milhões) no orçamento destinado ao esporte, os britânicos chegaram a 65 medalhas.
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, admite que os investimentos do governo brasileiro foram tardios em relação às metas do país para 2016, quando o COB chegou a prever a conquista de 30 medalhas. Mas ele afirma que o país chegará ao resultado planejado para 2016 pela "necessidade".
"O investimento deveria ter começado antes do que começou, mas é preciso também dizer que se o dinheiro é essencial, ele não é tudo. É preciso que a aplicação dos recursos se dê dentro de um planejamento, de metas e nos detalhes que definem a medalha", disse o ministro à BBC Brasil.
"Mais do que possível (chegar ao resultado previsto para 2016), é necessário. Nós precisamos melhorar o nosso desempenho pra 2016."
Após o encerramento dos Jogos de Londres, a presidente Dilma Roussef deve anunciar um "Plano Medalha", que aumentará ainda mais os recursos destinados ao esporte de alto rendimento no país.
O programa deverá ter como foco modalidades os esportes individuais, que distribuem mais medalhas e são o "ponto fraco" do time Brasil. Segundo Rebelo, outro programa, chamado até agora de "Bolsa-Técnico" destinará recursos para a equipe de especialistas que acompanha os atletas.
Aldo Rebelo diz que o foco no aumento do número de medalhas acontece, além da pressão do país-sede, por causa do efeito "pedagógico" sobre as novas gerações.
"O bom desempenho no esporte de alto rendimento cria uma cultura, tem um efeito pedagógico e educativo sobre as crianças e sobre os jovens. Essas referências estimulam a prática nao só do esporte de alto rendimento, mas da atividade física, do esporte de lazer."

Esporte de base

De acordo com o ministério do Esporte, a prioridade do atendimento do Bolsa-Atleta são os atletas olímpicos e paralímpicos. Em 2012, o benefício passou a contemplar também os atletas já consagrados, independentemente de terem outros patrocínios.
Atualmente, 42% dos atletas olímpicos e 85% dos paralímpicos de alto rendimento que já obtêm bons resultados em competições nacionais e internacionais de sua modalidade recebem a bolsa.
"É um erro pensarmos que vamos colocar dinheiro em quatro anos e vamos criar muitos atletas. Um atleta não se forma da noite para o dia."
Paulo Montagnet, coordenador do Grupo de Estudos Avançados em Esporte, da Unicamp
No entanto, especialistas afirmam que, sem investimentos maiores nas categorias de base, será difícil trazer mais medalhas para o país nos próximos Jogos.
"Não há condição biológica de formar um atleta num espaço menor do que 10 anos. É o tempo que a estrutura física demora para se adaptar às cargas dos treinamentos. Nos esportes coletivos é um pouco diferente, mas os esportes individuais demandam mais da capacidade física, isso é determinante", diz Miguel Arruda.
Paulo Montagner, coordenador do Grupo de Estudos Avançados em Esporte da Unicamp, afirma que o investimento do Brasil no alto rendimento é de ordem parecida ao de outros países, mas critica o que considera o pouco esforço para criar uma estrutura de esporte escolar, que possa revelar novos atletas.
"A discussão mais errada que podemos ter é querer fazer com dinheiro público mais medalhas em 2016. Financiamentos esportivos em um país saudável devem passar por políticas de longo prazo. É um erro pensarmos que vamos colocar dinheiro em quatro anos e vamos criar muitos atletas. Um atleta não se forma da noite para o dia", disse à BBC Brasil.
"O país tem que investir em esporte de rendimento, sim. Porque é bonito, é motivador. Mas é preciso proporcionar esporte. O que adianta agora as crianças quererem fazer ginástica artística e não terem onde fazer? Esse é o papel do Estado."
O COB recebe 85% dos recursos da Loteria Nacional. Desse total, 10% vão para o esporte escolar e 5%, ao universitário, segundo dados do Ministério do Esporte. "Em relação à necessidade, é pouco, mas em relação ao que tínhamos, é muito", disse Aldo Rebelo.

Paraguai afirma que usará 50% da energia de Itaipu


Agência France Press

Suspenso do Mercosul

11.08.2012 11:11


Federico Franco afirmou que o Paraguai usará a parte que corresponde ao seu país da energia de Itaipu. Foto: Norberto Duarte/AFP
ASSUNÇÃO (AFP) – O presidente do Paraguai, Federico Franco, reiterou na sexta-feira 10 em uma entrevista coletiva que utilizará toda a energia elétrica que corresponde ao seu país das hidrelétricas binacionais Itaipu e Yacyretá, que compartilha com Brasil e Argentina respectivamente.
“Esta decisão não tem volta. Somos donos de 50% da energia em Itaipu e Yacyretá. Não vamos usar nossas 10 turbinas em Itaipu da noite para o dia, mas vamos preparar o envio dessa energia para os pólos de desenvolvimento”, disse.
Itaipu tem 14 mil megawatts de potência instalada e é considerada uma das maiores do mundo ao lado da chinesa Três Gargantas. Yacyretá produz 3,5 mil megawatts.
De toda a produção da usina, 90% é consumida por Brasil e Argentina, que suspenderam o Paraguai como sócio pleno do Mercosul em reação à destituição do presidente Fernando Lugo no dia 22 de junho.
“Este governo tomou a decisão de lutar para que nós possamos utilizar a energia que corresponde ao Paraguai”, reiterou na cidade de Ayolas, onde está localizada a hidrelétrica Yacyretá. “Quero que Brasil e Argentina entendam que é uma decisão soberana nossa. Somos coproprietários. Somos donos de 50% da energia gerada em Itaipu e em Yacretá. ”
Segundo o presidente paraguaio, antes que o país possa fazer uso desta energia é preciso preparar seu envio para os pólos de desenvolvimento. Franco afirmou ainda que “ceder a energia, a matéria-prima de sua produção agrícola e pecuária é um círculo vicioso”, porque deixa como resultado a falta de trabalho, a migração e a pobreza. “A partir de agora vamos estimular a instalação de indústrias para dar trabalho as nossas famílias para fomentar a unidade da família paraguaia”, concluiu.
O porta-voz da Chancelaria brasileira, Tovar Nunes, havia lembrado na quinta-feira 9 ao Paraguai que a distribuição energética de Itaipu está sujeita a um acordo binacional. “A geração de energia em Itaipu, a distribuição e os preços são fruto de um acordo bilateral que está em vigor”, afirmou.
“A energia que o Paraguai não consome passa para o Brasil, mas com um pagamento, não existe cessão de energia. O Brasil não consegue a energia de Itaipu gratuitamente”, disse Nunes, ao lembrar que em 2011 entrou em vigor uma revisão do acordo que triplicou de 120 para 360 milhões de dólares o pagamento anual do Brasil pela energia à qual o Paraguai tem direito e não consome.

Coadjuvantes e beneficiários


Delfim Netto

Crise financeira


Seria pretensioso dizer que os economistas foram  a causa da crise. Mas alguns ajudaram a criar a fantasia dos “mercados perfeitos”. Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP
Com todos os desdobramentos da crise que domina a economia mundial, o Brasil vive hoje uma situação melhor do que a maioria dos países. Isso porque entendeu desde o início, em 2008, ser condição essencial garantir o emprego para não afundar com os outros. Na defesa desse objetivo fundamental, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscou não apenas salvar os empregos, mas aumentar o seu nível, criando as condições para a expansão do consumo e uma rápida melhora dos padrões de renda na sociedade.
Deixando perplexos os governos “desenvolvidos” e seus economistas (ainda mais desenvolvidos), que confundiam a salvação nacional com o socorro à banca, o operário Lula conduziu uma política que levou o Brasil a uma situação bastante confortável em matéria de emprego. Uma situação que contrasta totalmente com os procedimentos na grande maioria dos países desenvolvidos, onde as considerações em relação à proteção dos níveis de emprego foram solenemente ignoradas.
Na preparação e na expansão dos fatos que levaram à eclosão da crise em 2008, não existem inocentes: os governos falharam miseravelmente; o setor financeiro sem regulação, como o velho escorpião da fábula, cumpriu o seu objetivo matando o setor real da economia. E alguns economistas, gloriosamente, “teorizaram matematicamente” a alta qualidade dos malfeitos…
Seria ridículo e pretensioso dizer que os economistas foram causa eficiente da crise. Eles foram apenas coadjuvantes (e algumas vezes beneficiários) do processo. Ajudaram a criar uma “ideologia” que pretendia dar base “científica” ao papel do mercado financeiro na aceleração do desenvolvimento econômico e do bem-estar do mundo, desde que convenientemente “desregulado”.
A mensagem construída a partir da fantasia dos “mercados perfeitos” tinha como consequência subliminar a aceitação da ideia segundo a qual “os governos não são a solução, são o problema”! Mas é ridículo, também, isentá-los de qualquer responsabilidade.
Produziram trabalhos científicos na Academia, onde se faria “ciência pela ciência”, na qual não é proibido inventar universos que não existem, como uma sociedade com um único produto, com uma função agregada de produção domesticada, com um agente representativo a incorporar todos os consumidores e os produtores, mas onde não há o crédito ou as Bolsas de Valores.
Fui muito criticado em um artigo que foi parar na “rede” (onde a ignorância não tem freios) por economistas do mainstream, cuja grande ambição era desconstruir Keynes, apoiados em uma formalização matemática enganosa, sem ligação com o mundo vivo.
Já em 1936, Keynes introduzira o crédito e a Bolsa de Valores em seu modelo, que é um prodígio de antecipação do importante papel dessas duas instituições no processo capitalista, destacando a inerente instabilidade das Bolsas. Seu pensamento revela a genial intuição, aliada ao domínio da realidade, ao dizer que, “quando o desenvolvimento do capital em um país transforma-se em subproduto de atividades de um cassino, ele não será benfeito”.
Paradoxalmente, nesse processo no qual parece não haver ator que tenha sido sua causa eficiente, há quem esteja a receber a conta do malfeito. São os mais de 30 milhões de desempregados nas ruas, recusando-se a pagar as “falhas” dos governos – a serem provavelmente corrigidas nas urnas – e as “falhas” do mercado financeiro, cujos responsáveis esperam ver julgados e condenados pela Justiça. Acreditaram que “os governos e os mercados sabiam o que faziam”. Desempregados, continuam sendo ignorados pelos estudos mais recentes de economistas ainda presos ao paradigma destruído pela crise.
Não se estuda o “verdadeiro” custo social do desemprego. Insiste-se em continuar a estimar os efeitos sobre o bem-estar (o consumo) produzidos pelas flutuações do PIB, na velha e abusada tradição de Robert Lucas (Prêmio Nobel de 1995!), para quem as flutuações do emprego são pouco mais do que “ataques de vagabundagem que, ciclicamente, atingem a mão de obra”. Chega-se à conclusão de que sobre este ser inefável e metafísico – o consumidor representativo – “o custo social é pequeno”.
As estimativas variam fortemente porque todos conhecem – mas ninguém leva a sério – a afirmação do economista C. Otrock: “É trivial fazer o custo do bem-estar produzido pela variação do PIB do tamanho que cada um quiser, simplesmente escolhendo uma forma conveniente da preferência do consumidor…

Olimpíadas - Duas pratas, duas medidas


Matheus Pichonelli


A derrota da seleção masculina do vôlei, neste domingo 12, foi um dos mais amargos reveses que já assisti em Olimpíadas. Quem acompanhou as partidas contra a Argentina e a Itália sabe o quanto o time de Bernardinho merecia a vitória, principalmente por causa dos desfalques de Vissotto e Dante, na última hora, e das recuperações incompletas de Giba e Ricardinho. Wallace e Bruninho caminhavam a passos largos para se tornarem os grande heróis da conquista: chamados na hora certa, davam conta do recado e brilhavam como nunca. Faltou, literalmente, combinar com os russos – que no terceiro set mudaram a estratégia, atuaram como kamikazes e deram o chamado nó tático que determinou o destino da competição: 3 a 2 de virada quando o Brasil tinha três pontos na frente para matar o jogo no terceiro set…
Não tenho dúvidas de que os jogadores de vôlei mastigariam a rede para ficar com o ouro. No futebol, mal sujariam os calções…Foto: AFP
O Brasil, como na véspera havia acontecido no futebol, perdia um ouro praticamente certo. E este é o único ponto em comum entre as duas derrotas. Para a seleção de vôlei, aquele era realmente o jogo da vida. O último do vitorioso Serginho, que há pelo menos uma década tem dado o sangue e a vida para a equipe. Quem viu a explosão dos atletas – os olhos arregalados a cada ponto conquistado, a seriedade na hora da orientação tática, a concentração e o choro no apito final – testemunhou o golpe num time que estava vivo, vacilante mas vibrante, que acabava de tomar uma entortada do destino.  Essas são as derrotas mais doídas que se pode sofrer.
A seleção de futebol, como a do vôlei, não tinha a obrigação de vencer. Mas, ao ser derrotado, não reagiu como um time vivo. A derrota para o México na final por 2 a 1 é praticamente um documento histórico: quem quiser entender o que tem sido o futebol na era Neymar só vai precisar de 30 segundos de vídeo. Os 30 segundos iniciais. A displicência esportiva brasileira poucas vezes foi tão bem retratada: num lance só, o lateral Rafael Silva evitou duas vezes fazer o mais simples: recuar uma bola apertada para o zagueiro mandar pra frente. Ele preferiu driblar (porque, no meio de tanta estrela, também precisa posar bem na foto) e ficou sem espaço; apertado, jogou a bola na fogueira como último recurso. Resultado: gol de Peralta.
Como Rafael, o time teve uma partida inteira para se redimir. O que se viu foi um Neymar tentando sempre o drible desnecessário. Um Alex Sandro apavorado (como se a camisa amarela tivesse o peso de uma bigorna). Um Damião isolado. Um Marcelo em mais um dia de Felipe Mello (a psicopatia da equipe só mudou de posição). Um Sandro inexistente. Um Oscar apático. E um Rafael Silva com a displicência de sempre, sem acertar um cruzamento e ainda assim tentando dar toque de letra no campo de defesa quando a equipe perdia por 2 a 0 – por muito menos já vi jogador ser dispensado de clubes médios por insuficiência técnica. Rafael tem menos de 23 anos, uma medalha de prata pela seleção e uma certa moral em campos europeus, onde defende o todo poderoso Mancheter United. Ainda assim, acabou se tornando um retrato do futebol  moderno, em que a seleção é mais um entreposto do que a chance da vida.
Foto: Martin Bernetti/AFP
Há muito pouco tempo, chegar à seleção era coroar anos e anos de vitórias por um clube.  Era a chance de se mostrar para o mundo. De ficar entre os melhores no que de melhor se faz em todo o País. Hoje, a seleção é quase uma pedra no caminho. A projeção do futebol brasileiro na era da globalização criou uma ponte direta entre os clubes de formação e a Europa – este sim o destino final, que engorda as burras, paga os salários, cobra alto rendimento, garante altíssimas transações. A ponto de não haver hoje um esquadrão nacional no mesmo nível de Barcelona ou Real Madrid.
Para a maioria dos jogadores desse time, a Olimpíada não era vitrine, não era vida e morte, não era nada. Era a interrupção das férias. Um desafio de verão (europeu) no caminho da fortuna. Lucas e Oscar assinaram transações milionárias no meio da competição, Thiago Silva e Rômulo, às vésperas. Hulk e Neymar foram sondados – e passaram mais tempo respondendo perguntas sobre propostas do que pensando em futebol. O time, enquanto isso, vencia adversários fracos – não sem percalços, como na quase vexatória vitória contra Honduras com dois homens a mais em campo.
Mano Menezes errou e muito. Apostou nas peças erradas. Enxergou em Hulk, um touro de corrida incapaz de pensar e carregar a bola, uma liderança inexistente. Apostou em Alex Sandro (sic) e deixou Ganso e Lucas no banco. Tinha nas mãos uma geração brilhante e levou a campo um time derrotado – não pela medalha de prata, mas pela própria preguiça e arrogância.
Romário tem razão quando diz que Mano não é treinador para a seleção por não saber escalar, convocar, botar o time para funcionar. Mas o papel dele não era esse: o papel dele era mais parecido com o de bedel de colégio responsável pela segurança dos alunos ricos em viagem de excursão. Os clubes, de origem e de destino, são como as madames que entregam os filhos aos cuidados da escola e dão as instruções: não o coloque na mesma Vila Olímpica de qualquer judoca; não o faça correr e se desgastar; lembre de dar a ele a mamadeira na hora certa; não esquece do sucrilhos pela manhã; e, se ele chegar quebrado em nosso departamento médico, a culpa é toda sua. Os diamantes de Mano ficaram até bem na foto, mas jogaram como estrelas de cristal. Entraram e saíram de campo com as roupas perfumadas e limpas. É até possível imaginar a seleção mexicana na preleção: “vamos pegar os playboys e fazer nosso jogo”. Foi o que aconteceu: mais ou menos igual a quando os moleques descalços da rua davam cambaus homéricos nos riquinhos de chuteira e caneleira da rua de cima. Para o time brasileiro, Olimpíada e Jogos Abertos do Interior eram praticamente a mesma coisa.
No vôlei, por outro lado, não tenho a menor dúvida de que qualquer atleta mastigaria a rede para ficar com o ouro. Não deu, paciência. Mas uma coisa é certa: o time masculino de futebol, que já teve líderes de verdade como Cafu, Dunga e Romário, hoje não tem um jogador com a mesma hombridade de um Serginho, o líbero da seleção de vôlei que, horas após a derrota, ainda chorava, ainda cerrava o punho, os olhos arregalados, e ainda lamentava o revés. A prata no vôlei foi mais dolorida porque todos ali mereciam um lugar melhor na história da Londres 2012. Quanto à equipe de futebol, era melhor nem ter perdido tempo. Salvo Damião, poucos dali se dariam ao trabalho de sujar as meias e o calção por uma medalha de ouro que você, e só você, torcedor, tanto esperava.
PS: Para cada tristeza, uma alegria: o bicampeonato das meninas do vôlei, lideradas por Sheila e Jaqueline, é daquelas campanhas que não esqueceremos jamais. E o improvável bronze de de Yane Marques no pentatlo moderno foi o bronze mais doce de toda a Olimpíada. Mais do que nunca é preciso mirar o exemplo dessas mulheres que foram à luta e brilharam.

MARCO DA PACIÊNCIA


Walter Marquart

…OU como distribuir o suor dos outros; dilapidar e deixar os transtornos vicejarem.
Teremos mais uma tarde a dedicar à TV Câmara. Já sabemos que houve crimes, esta faceta ninguém discute; baseado nas defesas anteriores haverá a repetição verborrágica, grande abundância de citações, não para esclarecer, mas para confundir e esconder tudo na moita da bajulação (haja saco). Continuaremos, no processo do mensalão, vendo a construção da grande pira onde a verdade se transformará em fumaça e a corrupção servirá de incensório para incensar os “libertadores” e libertos, verborrágicos e criminosos. Os crimes já foram pagos pela população, a grande castigada. Não houve dinheiro público, mas oriundo de publicidade, ta?
Desrespeito foi transformado em virtude, atributo institucional. Quando a “democracia” instituiu marcos regulatórios, planos econômicos tão sucessivos quanto inúteis, agências reguladoras, códigos, leis, controles e multiplicação de diretores, cargos de confiança e ministros, na verdade aumentamos a carga tributária com os recursos do público, passando-os às mãos dos maus governantes, e estes não estavam preocupados com os transtornos. Basta como exemplo, perguntar como, de automóvel ou caminhão, viajar nas nossas rodovias e voltar sem arranhões (exceção das rodovias paulistas)
Li um texto de Jorge Serrão (alertatotal – foto) alertando/afirmando que “as obras realizadas no País tiveram um acréscimo de 45 % em relação ao preço contratado” (o sobreprêço acertado na inicial é desconhecido), mas cotejando as obras e seus custos, na Europa, China, Chile, etc, podemos afirmar que 66 % do valor das obras “alimentam” o crime organizado, partidos políticos, corruptos e corruptores. Estão asfaltando o caminho onde são realizadas as marchas da insensatez. Desde há muito tempo, se tivéssemos construído três vezes mais (pois sem o roubo era possível), estaríamos desfrutando dos serviços de primeiro mundo. Lamentavelmente a corrupção comeu os serviços, água, esgoto, asfalto (de 1ª) ou a drástica diminuição da carga tributária.
O STF cometerá um crime de lesa pátria, também ele passará a ser julgado, se absolvições ocorrerem para não respingar nas biografias dos reais culpados, as desconhecidas ou conhecidas altas esferas da República. Fico rezando para que, após este julgamento (do mensalão), a Eliana Calmon (Presidente do Conselho Nacional de Justiça) não seja chamada a perquirir pessoas ou atos.
Cabe, neste momento, ao STF e não aos políticos, ensinar ao povo que o voto é muito importante e que sem a volta da proporcionalidade do voto não se justifica falar em democracia. O Brasil continuará a ser regido pela “democracia” do Maranhão do Sarney. Não! Não podemos esperar que o Legislativo, do próprio Sarney, acabe com a desproporcionalidade do voto. Cabe ao STF e não aos partidos políticos (até agora silenciaram) que no lugar do consenso arraigado sobre a teoria que só podem ser condenados os PP e P, a justiça condene mais dois Ps: partido político e políticos.
À tarde (novamente?) tudo ficará justificado e provado que houve muitos crimes, mas os doutos defensores não apontarão nenhum criminoso. Continuaremos a enganar o povo com o ufano de que acabamos com a miséria, milhões passaram a pertencer à classe média (com rendimentos de 600 reais?). E a meta, transformar o Brasil em um enorme Maranhão, se concretizará.
Todos esperam que não, mas teremos uma má tarde, assistiremos exemplos da arte verborragica, muita vaidade, vã filosofia e o monumental escracho da verdade e da justiça. Ao final serão galardoados os inimputáveis políticos e gestores públicos brasileiros, para gaúdio da corrupção que, livre e solta, continuará com a sua pândega. Fala sério!
Eu quero que os fatos desmintam tudo o que está acima. Sou um errado errante que o Plano Cruzado destruiu. Quem não era informal e não quis desviar-se da formalidade, a Comissão da Verdade não cuidará.