terça-feira, 21 de março de 2017

COMO OS CANALHAS FRAUDAM A DEMOCRACIA


 
Percival Puggina – 17.03.2017

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Percival Puggina

A tentativa de instituir o voto em lista fechada é a manobra mais descarada desde o início das operações da Lava Jato. Supera, em despudor, a missão do “Bessias” levando a Lula o ato que o homiziaria no ministério de Dilma. É mais desavergonhada do que a “anistia do caixa 2”. A democracia dos canalhas alcança seu apogeu com algo tão indecente na motivação, tão contra a democracia na concepção e tão escancaradamente desonesto que estará coberto de razão o cidadão que registrar, na polícia, um boletim de ocorrência.

A ideia e a intenção estão em todos os noticiários desta sexta-feira 17 de março. Seus promotores, grandes figurões da política nacional, estão preocupados com os prejuízos eleitorais que lhes advêm do conhecimento de seus crimes e de suas inclusões nas listas de Janot. O que conceberam pode ser descrito como um gigantesco iceberg político sem nada submerso. Da ponta à base, o mastodonte está inteiramente visível nas páginas dos jornais. Nosso país nunca adotou o voto em lista fechada exatamente pelo motivo que, agora, a organização criminosa atuante na política brasileira passou a vê-lo com bons olhos: ele esconde os candidatos e o voto deixa de ser direto e pessoal.

Com efeito, nesse sistema:

1) cada partido elabora uma lista com os nomes em disputa;

2) no dia da eleição, o eleitor escolhe e vota na lista de sua preferência;

3) o percentual de votos dados a cada lista, em relação ao total de sufrágios da eleição, define quantas cadeiras cabem a cada partido;

4) são os partidos que estabelecem a ordem dos nomes nas respectivas listas;

5) é dentro dessa ordem que as cadeiras são preenchidas (se um partido tiver direito a dez cadeiras, por exemplo, os dez primeiros nomes de sua lista serão titulares).

Com medo da reação da sociedade ante os escândalos em que estão envolvidos, os piores elementos da vida pública brasileira, candidatos preferenciais a serem varridos das urnas em 2018, encontraram no voto em lista fechada um modo de se elegerem sem necessidade de encarar individualmente os eleitores. Pretendem, com essa manobra, caciques que são, retomar suas cadeiras e preservar o foro privilegiado escondidos na lista partidária, mais ou menos como se dá comprimido para cachorro, disfarçado dentro de um naco de carne. É assim, escondidos e sem votos pessoais, mascarados, que eles querem voltar aos negócios em 2018. Antes, desfiguravam a representação política comprando votos e abusando do poder econômico com dinheiro mal havido; agora, querem continuar abastardando a democracia com o voto em lista fechada.


* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site http://www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

O Futuro das Comunidades Judaicas na Europa


O Futuro das Comunidades Judaicas na Europa


por Rabino Lorde Jonathan Sacks

O ódio que começa com os judeus nunca termina com os judeus. Isto é o que quero que entendamos, hoje. Não foram apenas os judeus que sofreram com Hitler. Não foram apenas os judeus que sofreram com Stalin. Não são apenas os judeus que sofrem com o ISIS ou a Al Qaeda ou o Jihad Islâmico. Cometemos um grande erro se pensamos que o antissemitismo constitui uma ameaça apenas para os judeus.

Trata-se de uma ameaça, antes de mais nada, para a Europa e as liberdades que este continente levou séculos para conquistar. O antissemitismo não tem a ver com os judeus. Tem a ver com antissemitas. Tem a ver com pessoas que não podem aceitar responsabilidade por seus próprios fracassos e, ao contrário, têm que culpar um terceiro. Historicamente, se você fosse cristão à época dos Cruzados, ou alemão após a 1a Guerra Mundial, e visse que o mundo não tinha se saído da maneira que você acreditava que sairia, você culparia os judeus. Isto é exatamente o que está ocorrendo hoje. E tudo o que eu disser é pouco sobre quão perigoso isto é. Não apenas para os judeus, mas para todos aqueles que valorizam a liberdade, a compaixão e a humanidade.

O surgimento do antissemitismo em uma cultura é o primeiro sintoma de uma enfermidade, o sinal prematuro de aviso de um colapso coletivo. Se a Europa permitir que o antissemitismo floresça, isso será o início de seu fim. E o que pretendo fazer com estes breves comentários é simplesmente analisar um fenômeno repleto de incerteza e ambiguidade, pois necessitamos de precisão e compreensão para entender por que os antissemitas estão convencidos de que não o são.

Primeiro, definamos o que é antissemitismo. Não gostar de judeus não é antissemitismo. Todos nós conhecemos pessoas de quem não gostamos. Tudo bem, isto é humano; sem perigo algum. Segundo, criticar Israel não é antissemitismo. Em conversa recente com alunos de colégio, eles me perguntaram se criticar Israel era antissemitismo. Eu disse que não. E expliquei a diferença. Perguntei-lhes: Vocês acreditam que têm o direito de criticar o governo britânico? Todos levantaram o braço. Perguntei, então: “Quem acredita que a Inglaterra não tem o direito de existir?”. Ninguém levantou o braço. Então, agora vocês sabem a diferença, disse-lhes. E todos concordaram.

Antissemitismo significa negar aos judeus o direito de existir coletivamente como judeus com os mesmos direitos que os demais. Essa negação assume diferentes formas em diferentes eras. Na Idade Média, os judeus eram odiados por causa de sua religião. Nos séculos 19 e início do 20 eram odiados por causa de sua raça. Hoje somos odiados por causa de nosso Estado-nação, o Estado de Israel. O antissemitismo assume diferentes formas, mas segue sendo a mesma coisa: a ideia de que os judeus não têm o direito de existir como seres humanos livres e iguais aos demais.

Uma coisa que nem eu nem meus contemporâneos esperávamos era que o antissemitismo reaparecesse na Europa com o Holocausto ainda tão vívido em nossa memória. A razão para não o esperarmos foi o fato de a Europa ter empreendido o maior esforço coletivo, em toda a História, para assegurar-se de que o vírus do antissemitismo jamais voltasse a infectar o corpo político. Foi um empenho colossal de legislação antirracista, educação sobre o Holocausto e diálogo inter-religioso. Contudo e apesar de tudo, o antissemitismo retornou.

Em 27 de janeiro de 2000, representantes de 46 governos de países de todo o mundo se reuniram em Estocolmo para emitir uma declaração conjunta de recordação do Holocausto e de continuação da luta contra o antissemitismo, o racismo e o preconceito. E, então, veio 11 de setembro, e em poucos dias, as teorias de conspiração inundaram a Internet bradando que tinha sido obra de Israel e de seu Serviço Secreto, o Mossad. Em abril de 2002, em Pessach, eu estava em Florença com um casal judeu de Paris, quando eles receberam uma ligação do filho dizendo: “Mãe, pai, está na hora de deixar a França. Aqui já não é mais seguro para nós”.

Em maio de 2007, numa reunião privada aqui em Bruxelas, eu disse aos três líderes da Europa, à época, Angela Merkel, Presidente do Conselho Europeu; José Manuel Barroso, Presidente da Comissão Europeia; e Hans-Gert Pöttering, Presidente do Parlamento Europeu, que os judeus da Europa estavam começando a se perguntar se havia futuro para eles na Europa. Isso foi há mais de nove anos. Desde então, as coisas só pioraram. Já em 2013, antes de alguns dos piores incidentes, a Agência de Direitos Fundamentais da União Europeia revelou que quase ⅓ dos judeus da Europa pensavam em emigrar em virtude do antissemitismo. Na França, o número era de 46%; na Hungria, 48%.

Deixem-me perguntar-lhes algo. Quer sejam judeus, cristãos ou muçulmanos: vocês ficariam em um país onde fosse necessária a presença da polícia para protegê-los enquanto fizessem suas orações? Onde seus filhos precisassem de policiais armados para protegê-los, no colégio? Onde, se usassem um símbolo de sua fé em público, estariam arriscando-se a serem insultados ou atacados? Onde, quando seus filhos chegam à universidade, são insultados e intimidados em virtude do que ocorre em alguma outra parte do mundo? Onde, quando expressam sua própria visão da situação, são silenciados, aos gritos?

Isto está ocorrendo com os judeus em toda a Europa. Em cada um dos países da Europa, sem exceção, os judeus temem pelo futuro de seus filhos. A continuar assim, os judeus continuarão a deixar a Europa, até que, excetuando-se os fragilizados e os idosos, a Europa finalmente se tornará Judenrein, limpa de judeus.

Como isto aconteceu? Aconteceu da forma como os vírus sempre vencem o sistema imunológico humano, ou seja, por mutação. O novo antissemitismo é diferente do antigo de três maneiras. Já mencionei uma delas. Primeiro os judeus foram odiados por sua religião. Depois por sua raça. Hoje são odiados por seu Estado-nação. A segunda diferença é que o epicentro do antigo antissemitismo era a Europa. Hoje, é o Oriente Médio e é transmitido globalmente pelos novos meios eletrônicos. A terceira é especialmente perturbadora. Vou explicar. Odiar é fácil; difícil é justificá-lo publicamente. Ao longo da História, quando as pessoas buscavam justificar o antissemitismo, fizeram-no mediante recurso à mais alta fonte de autoridade de sua cultura. Na Idade Média, essa fonte era a religião. Tínhamos, então, anti-judaísmo religioso. Na Europa pós-Iluminismo, essa fonte era a ciência. Estas eram, então, as duas bases da ideologia nazista – o Darwinismo Social e o assim-chamado Estudo Científico da Raça. Hoje, a mais alta fonte de autoridade no mundo são os direitos humanos. É por isso que Israel – a única democracia em pleno funcionamento no Oriente Médio – com uma imprensa livre e um judiciário independente – é acusada, com regularidade, dos cinco pecados capitais contra os direitos humanos: racismo, apartheid, crimes contra a humanidade, limpeza étnica e tentativa de genocídio.

O novo antissemitismo teve tamanha mutação que qualquer um de seus adeptos pode negar que seja antissemita. Afinal, dirá, “Não sou racista. Não tenho nada contra os judeus ou o judaísmo. Meu único problema é com o Estado de Israel”. Mas num mundo de 56 países muçulmanos e 103 cristãos, há apenas um único Estado judeu – Israel – que constitui ¼ de 1% da extensão de terra do Oriente Médio. Israel é o único entre os 193 países-membros das Nações Unidas que tem seu direito à existência constantemente contestado, tendo, além disso, um país, o Irã, e muitos, muitos outros grupos, comprometidos com sua destruição.

Antissemitismo significa a negação do direito dos judeus de existirem como judeus, com os mesmo direitos que todos os demais. A forma em que se reveste, hoje, é o antissionismo. Há, naturalmente, uma diferença entre sionismo e judaísmo, e entre judeus e israelenses, mas esta diferença não existe para os antissemitas. Foram judeus – e não israelenses – as pessoas assassinadas em ataques terroristas em Toulouse, Paris, Bruxelas e Copenhagen. O antissionismo é o antissemitismo de nossos dias.

Na Idade Média os judeus foram acusados de envenenar os poços, disseminando a peste e matando crianças judias para usar seu sangue. Na Alemanha nazista, foram acusados de controlar a América capitalista e a Rússia comunista. Hoje, somos acusados de dirigir a ISIS e os EUA. Todos os antigos mitos foram reciclados, do Libelo de Sangue aos Protocolos dos Sábios de Sion. As caricaturas que inundaram o Oriente Médio são clones das publicados no Der Sturmer, um dos principais veículos de propagando nazista entre 1923 e 1945.

A arma fundamental do novo antissemitismo é assombrosa em sua simplicidade. Vejam: o Holocausto jamais deverá ocorrer novamente. Mas os israelenses são os novos nazistas; os palestinos são os novos judeus; todos os judeus são sionistas. Portanto, os verdadeiros antissemitas de nossos dias são, nem mais nem menos, que os próprios judeus! E não se trata de ideias marginais. Estão disseminadas em todo o mundo muçulmano, incluindo as comunidades na Europa, e estão, aos poucos, infectando a extrema esquerda, a extrema direita, os círculos acadêmicos, os sindicatos e, até mesmo, algumas igrejas. Tendo-se curado do vírus do antissemitismo, a Europa está sendo re-infectada por partes do mundo que nunca passaram pela autoanálise pela qual a Europa passou, assim que os fatos sobre o Holocausto se tornaram conhecidos.

Como tais absurdos chegaram a ser críveis? Estamos entrando em um campo vasto e complexo, e eu escrevi um livro sobre o mesmo; mas a explicação mais simples é a que segue. Quando coisas ruins acontecem a um grupo, seus integrantes podem fazer uma destas duas perguntas: “O que fizemos de errado?” ou “Quem nos fez isto?”. Todo o destino do grupo dependerá da pergunta que escolherem. Se perguntarem, “O que fizemos de errado?”, terão dado início à autocrítica essencial a uma sociedade livre. Se perguntarem “Quem nos fez isto?”, esse grupo se terá definido como vítima. E, a seguir, procurará um bode expiatório a quem culpar por todos os seus problemas. Classicamente, esse tem sido o grupo dos judeus.

Antissemitismo é uma forma de fracasso cognitivo que ocorre quando determinados grupos sentem que seu mundo está saindo do controle. Teve início na Idade Média, quando os cristãos perceberam que o Islã os vencera em lugares que eles consideravam seus, o principal deles, Jerusalém. Foi quando em 1096, a caminho da Terra Santa, os Cruzados primeiro se detiveram para massacrar as comunidades judaicas no Norte da Europa. No Oriente Médio nasceu na década de 1920 com o colapso do Império Otomano.

Na Europa o antissemitismo ressurgiu, na década de 1870, durante um período de recessão econômica e ressurgente nacionalismo. E está reaparecendo na Europa, atualmente, pelas mesmas razões: recessão, nacionalismo e uma reação contrária aos imigrantes e outras minorias. O antissemitismo ocorre quando a política da esperança abre caminho para a política do medo, que rapidamente se transforma em política do ódio.

Isto, então, reduz problemas complexos a simplicidades. Divide o mundo em preto e branco, vendo todas as falhas de um lado e todos os complexos de vítima do outro. Seleciona um grupo, entre centenas de criminosos, a quem culpar. O argumento é sempre o mesmo. Nós somos inocentes; eles são culpados. Daí se deduz que, para sermos livres, eles, os judeus ou o Estado de Israel, precisam ser destruídos. Assim se iniciam os grandes crimes.

Os judeus eram odiados por serem diferentes. Eram a minoria não-cristã mais visível em uma Europa cristã. Hoje, somos a presença não-muçulmana mais visível em um Oriente Médio islâmico. O antissemitismo sempre se tratou da incapacidade de um grupo de dar espaço à diferença. Nenhum grupo que adote essa linha jamais poderá, nem irá criar uma sociedade livre.

Portanto, terminarei aonde comecei. O ódio que começa com os judeus nunca termina com os judeus. O antissemitismo é contra os judeus apenas de forma secundária. Primariamente tem a ver com o fracasso de alguns grupos em aceitar a responsabilidade por seus próprios fracassos, e de construir seu próprio futuro com seu próprio esforço. Nenhuma sociedade que promoveu o antissemitismo manteve a liberdade, os direitos humanos ou a liberdade religiosa. Toda sociedade movida pelo ódio começa buscando destruir seus inimigos, mas termina destruindo a si própria.

A Europa, hoje, não é fundamentalmente antissemita. No entanto, permitiu que o antissemitismo penetrasse através dos novos meios eletrônicos. Falhou em reconhecer que o novo antissemitismo é diferente do antigo. Não estamos, hoje, de volta à década de 1930. Mas estamos chegando perto de 1879, quando Wilhelm Marr fundou a Liga de Antissemitas, na Alemanha; de 1886, quando Édouard Drumont publicou La France Juive; e de 1897, quando Karl Lueger se tornou prefeito de Viena. Estes foram momentos-chave na disseminação do antissemitismo, e o que precisamos fazer, hoje, é recordar que o que foi dito naquele então sobre os judeus está sendo dito, hoje, sobre o Estado Judeu.

A história dos judeus na Europa nem sempre foi feliz. O tratamento que esse continente deu aos judeus agregou certas palavras ao vocabulário humano: disputas, conversão forçada, Inquisição, expulsão, auto da fé, gueto, pogrom e Holocausto – palavras escritas com lágrimas e sangue judeu. E, com tudo isso, os judeus amavam a Europa e contribuíram para enriquecê-la com alguns de seus maiores cientistas, escritores, acadêmicos, músicos, formadores da mente moderna.

Se a Europa se deixar ser arrastada novamente por essa mesma estrada, essa será a história contada em tempos vindouros. Primeiro vieram atrás dos judeus. Depois dos cristãos. Depois dos gays. Depois dos ateus. Até que não houvesse nada da alma da Europa, a não ser uma lembrança distante, moribunda.

Tentei, aqui, dar voz àqueles que não têm voz. Falei em nome dos assassinados de Roma, Sinti, dos gays, dos dissidentes, dos deficientes mentais e físicos, e de um milhão e meio de crianças judias assassinadas em virtude da religião de seus avós. Em seu nome, digo a vocês: vocês sabem onde essa estrada acaba. Não se deixem arrastar por ela, novamente.

Vocês são os líderes da Europa. Seu futuro está em suas mãos. Se não fizerem nada, os judeus partirão, a liberdade europeia morrerá e haverá uma mácula moral no nome da Europa que toda a eternidade não bastará para apagar. Detenham-na, enquanto ainda há tempo.

Transcrição de um discurso do Rabino Lorde Jonathan Sacks na Conferência “O Futuro das Comunidades Judaicas na Europa”, no Parlamento Europeu, Bruxelas, em 27 de setembro de 2016.

Tradução Lilia Wachsman

Rabino Lorde Jonathan Sacks - Rabino Chefe das Congregações Hebraicas Unidas da Commonwealth e Av Beit Din (presidente) do Beth Din de 1991 a 2013. Em 2009, foi recomendado para um pariato vitalício, com assento na Casa dos Lordes, com o título de Barão Sacks de Aldgate na City of London. Desde que deixou o cargo de Rabino Chefe, o Rabino Sacks vem trabalhando como Professor de Pensamento Judaico na Universidade de Nova York, Professor de Pensamento Judaico na Yeshiva University e Professor de Direito, Ética e Bíblia no King’s College de Londres.

"Os megassalários da elite burocrata" , por Gil Castello Branco


O Globo

Em janeiro, de amostra de 287 desembargadores paulistas, 256 tiveram rendimentos líquidos acima de R$ 50 mil


É conhecida a história de Henry Ford, engenheiro americano que revolucionou a indústria automobilística. Criou a “linha de montagem”, aumentou a produtividade, reduziu custos e democratizou o automóvel. Pagava bem aos seus funcionários, mas repetia com frequência: “Não é o empregador quem paga os salários. Ele só os entrega. Quem paga os salários é o cliente.” Faz sentido...

A administração pública, porém, não funciona assim. A burocracia parece um fim em si mesma. Com o país em recessão e mais de 12 milhões de desempregados, as despesas com pessoal do governo federal podem ser as primeiras a extrapolar as regras da PEC do teto. Ou seja, para acomodar a expansão das despesas com os servidores, o governo terá que cortar em outros setores como obras, equipamentos, programas sociais etc.

Nada é mais grotesco, porém, do que os megassalários recebidos por uma minoria de privilegiados. O artigo 37, inciso XI, da Constituição Federal determina que as remunerações nos Três Poderes, bem como os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Nos municípios, o teto é o salário do prefeito. Nos estados, o subsídio do governador para o Executivo e dos desembargadores para o Judiciário, aplicável aos membros do Ministério Público, procuradores e defensores. Mais claro, quase impossível!

No Brasil, entretanto, diz-se que a Constituição não é para ser cumprida, e sim interpretada. Dessa forma, é considerada “extrateto” uma série de penduricalhos “legalmente” instituídos. A transparência também não é das melhores. A título de exemplo, em São Paulo, no maior tribunal estadual do país, as tabelas de detalhamento da folha de pagamento estão disponibilizadas em 201 páginas, em PDF e sem ordem alfabética. O contracheque dos magistrados paulistas tem como paradigma o valor de R$ 30.471,11. Em janeiro de 2017, entretanto, de uma amostra de 287 desembargadores, 256 tiveram rendimentos líquidos acima de R$ 50 mil, após todos os descontos. Uma desembargadora amealhou líquidos R$ 107.485,00.

O tribunal explica que “existem vantagens pessoais albergadas pelo princípio da irredutibilidade de vencimentos e que são pagas em consonância com as Resoluções 13 e 17 do Conselho Nacional de Justiça”. Além disso, “magistrados e servidores do Judiciário fazem jus a verbas indenizatórias (auxílios previstos em lei) e ao abono de permanência, que se agregam ao total da remuneração que não estão submetidos ao teto constitucional”. Enfim, tudo legal!

Em Brasília, cidade que está sob racionamento de água, em decorrência da falta de investimentos hídricos ao longo dos últimos anos, advogada da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) recebeu, em janeiro de 2017, remuneração de R$ 95.066,17. Em fevereiro, foram R$ 53.390,76. A empresa argumentou que não recebe recursos do governo e que a Lei Orgânica do DF lhe concede liberdade para fixar salários. O que a Caesb parece não entender é que o bolso é um só. Na prática, sejam recursos do DF ou das tarifas, quem os banca é o cidadão, sem água...

Aliás, esse episódio nos leva a uma questão relevante. É de suma importância que todos os estados e a União divulguem os salários dos funcionários das suas empresas, principalmente das monopolistas. Atualmente, poucos o fazem.

Conforme pesquisa do jornalista Pieter Zalis, da revista “Veja”, em setembro do ano passado, mais de 5.200 servidores ativos do Legislativo, Executivo e Judiciário ganharam acima do teto constitucional, sem contar os aposentados, pensionistas e marajás dos Três Poderes nos estados e municípios.

Para reduzir essa farra, em dezembro de 2016 o Senado aprovou três projetos de lei que deixam claro o que está ou não incluído no tal teto. Passa a ser ato de improbidade administrativa pagar acima do limite constitucional, e os órgãos ficam obrigados a divulgar as parcelas das remunerações em dados abertos, manipuláveis e bem detalhados. Até ontem, porém, dois desses projetos ainda não tinham relatores na Câmara e o terceiro foi apensado a um de 2009. Dá para perceber que aumentar despesas é muito mais fácil do que cortá-las.

Parodiando Henry Ford, não é o governo que paga os salários dos funcionários públicos. 

Ele apenas os transfere. Quem paga são os contribuintes. E o fazem indignados por bancarem salários de marajás, tão legais quanto imorais.

Pesquisadores israelenses desenvolvem método para pegar ladrões de smartphones


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Uma equipe de pesquisa israelense desenvolveu um método que deteta exatamente como você toca sua tela touchscreen em 14 segundos, de maneira a identificar que uma outra pessoa está usando seu telefone. Estudos mostraram que senhas de smartphone não são o bastante, podendo ser facilmente descobertas por hackers, uma vez que a maioria das pessoas escolhe senhas relativamente fáceis de adivinhar.
Anualmente, mais de 3,1 milhões de americanos são vítimas de furto de smartphone e 68% deles não conseguem recuperar todas as informações roubadas. Esse foi o motivo que levou pesquisadores da Ben-Gurion University a buscar um método de verificação que detetasse os padrões exatos de toque de cada pessoa. Liron Ben Kimon, da BGU, examinou as informações coletadas de 20 usuários por um período de duas semanas. Seu modelo é baseado em como os usuários tocam a tela enquanto utilizam o dispositivo – onde eles tocam a tela e quanto do dedo a toca. Além disso, o modelo de Ben Kimon leva em consideração qual o aplicativo em uso, uma vez que a forma como as pessoas tocam a tela varia de acordo com o aplicativo – por exemplo, você tocará a tela de maneira diferente quando digita uma mensagem de WhatsApp em comparação com quando rola o seu navegador para cima e para baixo. Ademais, como usuários frequentemente tocam suas telas acidentalmente, o modelo classifica um grupo de toques para identificar um usuário em contraposição a cada toque individualmente.
Outro fator considerado pelo modelo é o histórico de cada toque – o que foi feito no dispositivo 30 segundos antes do toque atual e, mais especificamente, quais áreas da tela o usuário tocou, quais botões pressionou e qual era o consumo de energia naquele momento. Os estudos mostram que usuários não autorizados podem ser identificados em 14 segundos, após menos do que 35 toques na tela (em média, um usuário toca a tela 35 vezes em 13,8 segundos). De acordo com os pesquisadores, um criminoso que deseje roubar informações de seu dispositivo certamente irá tocar a tela mais do que 35 vezes, pois alguém que não esteja familiarizado com seu telefone precisará tocar a tela com uma frequência maior para obter as informações. Como conclusão, Ben Kimon afirma que “diferenciar o usuário de acordo com a forma como ele toca na tela é um método de verificação que é difícil de simular, pois um ladrão não pode roubar o comportamento de outro usuário”.