terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O MOTIVO DO SUMIÇO DAS CÂMERAS DO PLANALTO: LINA VIEIRA


Augusto Nunes, na Veja


A entrevista do general Etchegoyen informa que o governo lulopetista ocultou provas e obstruiu a Justiça

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Lina Vieira(veja.com/AFP)

As incontáveis abjeções produzidas pela usina fora-da-lei que funcionou no Planalto por mais de 13 anos não cabem no noticiário jornalístico, tampouco na memória dos brasileiros. O escândalo da vez não fica na vitrine mais que algumas horas. É muita bandalheira para pouco espaço. É muita pauta para pouco repórter. É delinquência demais para um país só. É tanta obscenidade que, nesta segunda década do século 20, o que houve na primeira parece anterior ao Segundo Testamento. Isso ajuda a explicar a curta escala nas manchetes feitas pelo sumiço das câmeras de vigilância do Planalto, assombro divulgado em entrevista a VEJA pelo general Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.

A remoção dos aparelhos ocorreu no segundo semestre de 2009, informou Etchegoyen. Se tivesse consultado os jornais da época, teria descoberto que o motivo da remoção dos aparelhos teve (e tem) nome e sobrenome: Lina Vieira, secretária da Receita Federal afastada do cargo em agosto daquele ano. Entre a história protagonizada por ela e a entrevista do chefe do GSI passaram-se apenas sete anos ─ e no entanto o resgate do caso parece coisa de arqueologista. Aos fatos. Em 9 de agosto de 2009, numa entrevista à Folha, Lina Vieira fez revelações que escancaram a causa da sua substituição. Fora demitida por honestidade.

Estava marcada para morrer desde o fim de 2008, quando fez de conta que não entendeu a ordem transmitida por Dilma Rousseff, então chefe da Casa Civil, numa reunião clandestina ocorrida no Planalto: “agilizar”a auditoria em curso nas empresas da família do ex-presidente José Sarney. Em linguagem de gente, deveria encerrar o quanto antes as investigações, engavetar a encrenca e deixar em paz os poderosos pilantras. Dilma poderia alegar que não dissera o que disse. Como serial killers da verdade primeiro mentem para só depois pensarem em álibis menos mambembes, resolveu afirmar que a conversa nunca existiu.

Lina pulverizou a opção pelo cinismo com uma saraivada de minúcias contundentes. Contou que o convite para a reunião foi feito pessoalmente por Erenice Guerra, braço-direito, melhor amiga de Dilma e gatuna ainda sem ficha policial. Como confirmou Iraneth Weiler, chefe de gabinete da secretária da Receita, Erenice apareceu por lá para combinar a data e o horário da reunião. Também queria deixar claro que, por ser sigiloso, o encontro não deveria constar das agendas oficiais. ” Em depoimento no Senado, descreveu a cena do crime, detalhou o figurino usado pela protetora da Famiglia Sarney e reproduziu o diálogo constrangedor.

“Foi uma conversa muito rápida, não durou dez minutos”, resumiu. “Falamos sobre algumas amenidades e, então, Dilma me perguntou se eu podia agilizar a fiscalização do filho de Sarney”. No fecho do depoimento, repetiu a frase com que o abrira: “A mentira não faz parte da minha biografia”. As informações que fornecera permitiriam a qualquer investigador de chanchada esclarecer a delinquência em poucas horas. Mas Franklin Martins, ministro da Propaganda de Lula, achou pouco. “O ônus da prova cabe ao acusador”, declamou. “Cadê as provas?”.

Estão no Palácio do Planalto, reiterou Lina. Como dissera durante a inquisição dos senadores, ela chegou sozinha para o encontro noturno, teve a placa do carro anotada ao entrar pela garagem, passou pelo detector de metais, deixou o nome na portaria, subiu pelo elevador, esperou na sala ao lado de duas pessoas e caminhou pelo andar. “É só requisitar as filmagens”, sugeriu. “Não sou invisível. Não sou fantasma”. Logo se soube que, no sistema de segurança instalado no coração do poder, todo mundo virava fantasma um mês depois de capturada por alguma câmera. Numa espantosa nota oficial, o bando fantasiado de governo confessou que as imagens eram guardadas por 31 dias.

Haviam sido destruídas, portanto, as cenas do entra-e-sai de outubro e novembro de 2008, entre as quais as que documentaram as andanças de Lina Vieira. E os registros na garagem? Esses nunca existiram. Como o serviço de segurança à brasileira confia na palavra dos visitantes, tanto as placas dos carros oficiais quanto a identidade de quem zanza por ali não são registradas em papéis ou computadores. O porteiro limita-se a perguntar ao motorista se há uma autoridade a bordo. Assim, o governo não tinha como atender às interpelações de parlamentares oposicionistas.

Conversa de 171. Acobertados pela mentira, os sherloques a serviço da bandidagem destruíram as gravações. A ex-presidente fantasiada de mulher honrada enquadrou-se, sempre em parceria com Lula, nos crimes de ocultação de provas e obstrução da Justiça. As câmeras foram escondidas em lugar incerto e não sabido. Nunca mais deram as caras no palácio. Nos sete anos seguintes, os quadrilheiros com direito a foro privilegiado agiram com a desenvoltura de quem se livrara até daquele simulacro de esquema de vigilância. Deu no que deu.

O Crime Institucionalizado se reinventa e ameaça



Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

O que é pior? O Crime Institucionalizado, que comanda a máquina estatal pela hegemonia econômica e política? Ou sua variante marginal, o Poder Paralelo, que substitui os governos em algumas funções, e promove a violência, o medo e o terror, também sustentado pela matriz político-econômica que controla a superestrutura do Estado? Resposta objetiva: ambos são péssimos para a cidadania, porque são faces diferentes da mesma coisa que promove a insegurança jurídica.

Organizado institucionalmente para praticar a corrupção sistêmica, o esquema criminoso vive em simbiose com a máquina estatal. Opera em harmonia cínica ou em conflito aberto, dependendo das circunstâncias e conveniências. O crime só se organiza em parceria com integrantes do Estado e com a colaboração oculta de tentáculos no sistema financeiro. A ação delitiva tem um “parceiro” de primeira categoria: a omissão. No final das contas, são criminosas a bandidagem, a conivência com ela e a falta de combate efetivo a ela.

No Brasil, o Crime Institucionalizado tem a função primordial de manter a Nação subdesenvolvida e artificialmente na miséria. A superestrutura criminosa é controlada de fora para dentro do País. O Crime tem papel estratégico. Cumpre uma “missão” ideológica. Por isso, não é fácil combater e neutralizar as variadas organizações criminosas. Além de serem camaleônicas, seus verdadeiros chefões dificilmente são identificados e combatidos. No “enxugamento de gelo”, enquanto se elimina alguma peça criminosa, outras resistem, sobrevivem, se reinventam e seus tentáculos se multiplicam.

A base da sacanagem é a insegurança jurídica. Ela garante, ao mesmo tempo, a impunidade ou rigor seletivo (poupando quem interessa e punindo quem convém). A máquina judiciária e os aparelhos repressivos policiais e financeiros legitimam o Crime Institucionalizado. Não importa o debate inútil se a desgovernança criminosa ocorre de forma dolosa (intencional) ou culposa. É preciso ficar claro que o Crime Institucionalizado só será efetivamente combatido e neutralizado se a cultura criminosa for banida pela maioria esmagadora da sociedade brasileira. Ou seja, o Crime prevalecerá se não houver mudança no psicossocial e na estrutura estatal.

Em tempos de Lava Jato, a boa novidade é que os podres poderes são abertamente questionados pelas pessoas comuns, nas repartições públicas, nas ruas e nas redes sociais. Agora, o “acidente” mortal de avião com o relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal serviu para botar medo na bandidagem estatal, ao mesmo tempo em que escancarou os males causados por nossa insegurança jurídica. Não haveria qualquer problema com a morte de um supremo magistrado se não houvesse o abjeto foro privilegiado para julgamento de autoridades e políticos corruptos.

A insegurança jurídica também fica evidente na polêmica sobre a sucessão do trabalho de Teori Zavascki. Ministros do STF já usam seus canais amigos na mídia para criticar a possibilidade de a presidente Cármen Lúcia avocar para si a homologação das delações premiadas dos 77 diretores da Odebrecht, antes de terminar o recesso do judiciário, em 31 de janeiro. Nas redes sociais, a torcida é para que a ministra tome logo esta decisão.

Nos bastidores do STF, o desejo é contrário: que Cármen Lúcia faça a redistribuição da relatoria da Lava Jato, em sorteio entre os 10 ministros, talvez excluindo ela mesma, que preside a Corte Suprema. O Presidente Michel Temer já deixou claro que não indicará ninguém para a vaga de Teori, antes que o STF resolva a pendenga com a Lava Jato.

A tendência é que Cármen Lúcia justifique a ululante urgência e promova a redistribuição imediata da relatoria da Lava Jato. Podem migrar para a segunda turma do STF, que cuida da Lava Jato, os ministros Marco Aurélio ou Luiz Fux – nesta ordem de preferência. Se o STF preferir postergar a decisão – o que parecerá temerário perante a opinião pública -, o Presidente Temer pode nomear o novo supremo magistrado. Os cotados são Ives Gandra Filho, Alexandre Moraes e Grace Mendonça.

As organizações criminosas não têm a menor pressa de que o STF tome uma decisão. Quanto mais demorar, melhor para os bandidos. A lentidão beneficia os infratores e as infindáveis chicanas de seus super bem pagos defensores. O dinheirão roubado pela estrutura criminosa está prontinho para ser reinvestido na aquisição de empresas estatais ou na formação de parcerias público-privadas... O Crime se reinventa...       

Mangueirão

Releia o artigo de domingo: Que “acidente” mataria a Lava Jato?


Mamando na teta


Clamor das ruas




© Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 23 de Janeiro de 2017.

FONTE - http://www.alertatotal.net/2017/01/o-crime-institucionalizado-se-reinventa.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+AlertaTotal+%28Alerta+Total%29