domingo, 1 de julho de 2012

Fotos que são beleza pura: movimentos de dança parados no tempo


E é exatamente o que faz: sua obra inteira induz o admirador a soltar a imaginação e deixar-se levar pelo movimento flagrado. Tudo isso sem recorrer a recursos como o programa de edição de imagens photoshop, e sem nunca ter feito uma única aula sobre fotografia.
Lois Greenfield trabalha em Nova York para revistas e jornais como Sports IllustratedTimeElleVogueLife, e The New York Times, e fotografa  todas as principais companhias de dança contemporânea, incluindo o American Ballet Theatre, Alvin Ailey American Dance Theater, Paul Taylor Dance Company, Bill T. Jones / Arnie Zane Dance Company e Parsons Dance Company.
Seus trabalhos têm sido exibidos em museus e galerias ao redor do mundo.
Confira:
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Break dance 03
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‘Marcha da insensatez’, por J.R. Guzzo


01/07/2012
 às 10:35 \ Feira Livre/Revista VEJA


PUBLICADO NA EDIÇÃO DE VEJA DESTA SEMANA
J.R. GUZZO
O advogado paulista Márcio Thomaz Bastos encontra-se, aos 76 anos de idade, numa posição que qualquer profissional sonharia ocupar. Ao longo de 54 anos de carreira, tornou-se, talvez, o criminalista de maior prestígio em todo o Brasil, foi ministro da Justiça no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus honorários situam-se hoje entre os mais altos do mercado — está cobrando 15 milhões de reais, por exemplo, do empresário de jogos de azar Carlinhos Cachoeira, o mais notório de seus últimos clientes. Num país que tem mais de 800 000 advogados em atividade, chegou ao topo do topo entre seus pares. É tratado com grande respeito nos meios jurídicos, consultado regularmente pelos políticos mais graúdos de Brasília e procurado por todo tipo de milionário com contas a acertar perante o Código Penal. Bastos é provavelmente o advogado brasileiro com maior acesso aos meios de comunicação. Aparece em capas de revista. Publica artigos nos principais veículos do país. Aparece na televisão, fala no rádio e dá entrevistas. Trata-se, em suma, do retrato acabado do homem influente. É especialmente perturbador, por isso tudo, que diga em voz alta as coisas que vem dizendo ultimamente. A mais extraordinária delas é que a imprensa “tomou partido” contra os réus do mensalão, a ser julgado em breve no Supremo Tribunal Federal, publica um noticiário “opressivo” sobre eles e, com isso, desrespeita o seu direito de receber justiça.
Se fosse apenas mais uma na produção em série de boçalidades que os políticos a serviço do governo não param de despejar sobre o país, tudo bem; o PT e seus aliados são assim mesmo. Mas temos, nesse caso, um problema sério: Márcio Thomaz Bastos não é um boçal. Muito ao contrário, construiu uma reputação de pessoa razoável, serena e avessa a jogar combustível em fogueiras; é visto como um adversário de confrontos incertos e cético quanto a soluções tomadas na base do grito. É aí, justamente, que se pode perceber com clareza toda a malignidade daquilo que vem fazendo, ao emprestar um disfarce de seriedade e bom-senso a ações que se alimentam do pensamento totalitário e levam à perversão da justiça. Por trás do que ele pretende vender como um esforço generoso em favor do direito de defesa, o que realmente existe é o desejo oculto de agredir a liberdade de expressão e manter intacta a impunidade que há anos transformou numa piada o sistema judiciário do Brasil. Age, nesses sermões contra a imprensa e pró-mensalão, como um sósia de Lula ou de um brucutu qualquer do PT; mas é o doutor Márcio Thomaz Bastos quem está falando — e se quem está falando é um crânio como o doutor Márcio, homem de sabedoria jurídica comparável à do rei Salomão, muita gente boa se sente obrigada a ouvir com o máximo de respeito o que ele diz.
O advogado Bastos sustenta, em público, que gosta da liberdade de imprensa. Pode ser — mas do que ele certamente não gosta, em particular, é das suas consequências. Uma delas, que o incomoda muito neste momento, é que jornais e revistas, emissoras de rádio e de televisão falam demais, segundo ele, do mensalão, e dizem coisas pesadas a respeito de diversos réus do processo. Mas a lei não estabelece quanto espaço ou tempo os meios de comunicação podem dedicar a esse ou aquele assunto, nem os obriga a ser imparciais, justos ou equilibrados; diz, apenas, que devem ser livres. O que o criminalista número 1 do Brasil sugere que se faça? Não pode, é claro, propor um tabelamento de centímetros ou minutos a ser obedecido pelos veículos no seu noticiá­rio sobre casos em andamento nos tribunais — nem a formação de um conselho de justos que só autorizaria a publicação de material que considerasse neutro em relação aos réus. Os órgãos de imprensa podem, com certeza, ter efeito sobre as opiniões do público, mas também aqui não há como satisfazer as objeções levantadas pelo advogado Bastos. O público não julga nada; este é um trabalho exclusivo dos juízes, e os juízes dão as suas sentenças com base naquilo que leem nos autos, e não no que leem em jornais. Será que o ex-ministro da Justiça gostaria, para cercar a coisa pelos quatro lados, que a imprensa parasse de publicar qualquer comentário sobre o mensalão um ano antes do julgamento, por exemplo? Dois anos, talvez? Não é uma opção prática — mesmo porque jamais se soube quando o caso iria ser julgado.
MINISTRO REPROVADO
A verdade é que a pregação de Márcio Thomaz Bastos ignora os fatos, ofende a lógica e deseduca o público. De onde ele foi tirar a ideia de que os réus do mensalão estão tendo seus direitos negados por causa da imprensa? O julgamento vai se realizar sete anos após os fatos de que eles são acusados — achar que alguém possa estar sendo prejudicado depois de todo esse tempo para organizar sua defesa é simplesmente incompreensível. Os réus gastaram milhões de reais contratando as bancas de advocacia mais festejadas do Brasil. Dos onze ministros do STF que vão julgá-los, seis foram indicados por Lula, seu maior aliado, e outros dois pela presidente Dilma Rousseff. Um deles, José Antonio Toffoli, foi praticamente um funcionário do PT entre 1995 e 2009, quando ganhou sua cadeira na corte de Justiça mais alta do país, aos 41 anos de idade e sem ter nenhum mérito conhecido para tanto; foi reprovado duas vezes ao prestar concurso para juiz, e esteve metido, na condição de réu, em dois processos no Amapá, por recebimento ilícito de dinheiro público. Sua entrada no STF, é verdade, foi aprovada pela Comissão de Justiça do Senado; mas os senadores aprovariam do mesmo jeito se Lula tivesse indicado para o cargo um tamanduá-bandeira. O próprio ex-presidente, enfim, vem interferindo diretamente em favor dos réus — como acaba de acusar o ministro Gilmar Mendes, com quem teve uma conversa em particular muito próxima da pura e simples ilegalidade. Mas o advogado Bastos, apesar disso tudo, acha que os acusados não estão tendo direito a se defender de forma adequada.
Há uma face escura e angustiante na escola de pensamento liderada por Bastos, em sua tese não declarada, mas muito clara, segundo a qual a liberdade de expressão se opõe ao direito de defesa. Ela pode ser percebida na comparação que fez entre o mensalão e o julgamento do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, condenados em 2010 por assassinarem a filha dele de 5 anos de idade, em 2008, atirando a menina pela janela do seu apartamento em São Paulo — crime de uma selvageria capaz de causar indignação até dentro das penitenciárias. Bastos adverte sobre o perigo, em seu modo de ver as coisas, de que os réus do mensalão possam ter o mesmo destino do casal Nardoni; tratou-se, segundo ele, de um caso típico de “julgamento que não houve”, pois os meios de comunicação “insuflaram de tal maneira” os ânimos que acabou havendo “um justiçamento” e seu julgamento se tornou “uma farsa”. De novo, aqui, não há uma verdadeira ideia; o que há é a negação dos fatos. Os Nardoni tiveram direito a todos os exames técnicos, laudos e perícias que quiseram. Foram atendidos em todos os seus pedidos para adiar ao máximo o julgamento. Contrataram para defendê-los um dos advogados mais caros e influentes de São Paulo, Roberto Podval — tão caro que pôde pagar as despesas de hospedagem, em hotel cinco-estrelas, de 200 amigos que convidou para o seu casamento na ilha de Capri, em 2011, e tão influente que um deles foi o ministro Toffoli. (Eis o homem aqui, outra vez.)
Ao sustentar que o casal Nardoni foi vítima de um “justiçamento”, Bastos ignora o trabalho do promotor Francisco Cembranelli, cuja peça de acusação é considerada, por consenso, um clássico em matéria de competência e rigor jurídico. Dá a entender que os sete membros do júri foram robôs incapazes de decidir por vontade própria. Mais que tudo, ao sustentar que os assassinos foram condenados pelo noticiário, omite a única causa real da sentença que receberam — o fato de terem matado com as próprias mãos uma criança de 5 anos. Enfim, como fecho de sua visão do mundo, Bastos louvou, num artigo para a Folha de S.Paulo, a máxima segundo a qual “o acusado é sempre um oprimido”. Tais propósitos são apenas um despropósito. Infelizmente, são também admirados e reproduzidos, cada vez mais, por juristas, astros do ambiente universitário, intelec­tuais, artistas, legisladores, lideranças políticas e por aí afora. Suas ações, somadas, colocaram o país numa marcha da insensatez — ao construírem ano após ano, tijolo por tijolo, o triunfo da impunidade na sociedade brasileira de hoje.
ABERRAÇÃO IRRELEVANTEO Brasil é um dos poucos países em que homicidas confessos são deixados em liberdade. O jornalista Antonio Pimenta, por exemplo, matou a tiros sua ex-namorada Sandra Gomide, em 2000, e admitiu o crime desde o primeiro momento; só foi para a cadeia onze anos depois, num caso que a defesa conseguiu ir adiando, sem o apoio de um único fato ou motivo lógico, até chegar ao Supremo Tribunal Federal. Homicidas, quando condenados, podem ter o direito de cumprir apenas um sexto da pena. Se não forem presos em flagrante, podem responder em liberdade a seus processos. Autores dos crimes mais cruéis têm direito a cumprir suas penas em prisão aberta ou “liberdade assistida”. Se tiverem menos de 18 anos, criminosos perfeitamente conscientes do que fazem podem matar quantas vezes quiserem, sem receber punição alguma; qualquer sugestão de reduzir esse limite é prontamente denunciada como fascista ou retrógrada pelo pensamento jurídico que se tornou predominante no país. O resultado final dessa convicção de que só poderá haver justiça se houver cada vez mais barreiras entre os criminosos e a cadeia está à vista de todos. O Brasil registra 50 000 homicídios por ano — e menos de 10% chegam a ser julgados um dia.
Nosso ex-ministro da Justiça, porém, acha irrelevante essa aberração. O problema, para ele, não está na impunidade dos criminosos, e sim na imprensa — que fica falando muito do assunto e acaba criando um “clamor popular” contra os réus. Esse clamor popular, naturalmente, tem dois rostos. É bom quando vai a favor das posições defendidas por Bastos e por quem pensa como ele; é chamado, nesse caso, de “opinião pública”. É ruim quando vai contra; é chamado, então, de “linchamento moral”. A impunidade para crimes descritos como “comuns”, e que vão superando fronteiras cada vez mais avançadas em termos de perversidade, é, enfim, só uma parte dessa tragédia. A outra é a impunidade de quem manda no país. Não poderia haver uma ilustração mais chocante dessa realidade do que a cena, há duas semanas, em que a maior liderança política do Brasil, o ex-presidente Lula, se submete a um beija-mão em público perante seu novo herói, o deputado Paulo Maluf — um homem que só pode viver fora da cadeia no Brasil, pois no resto do planeta está sujeito a um mandado internacional de prisão a ser cumprido pela Interpol. É, em suma, o desvario civilizado — tanto mais perigoso por ser camuflado com palavras suaves, apelos por uma “justiça moderna” e desculpas de que a “causa popular” vale mais que a moral comum. Um dos maiores criminalistas que já passaram pelo foro de São Paulo, hoje falecido, costumava dizer que o direito penal oferece apenas duas opções a um advogado. Na primeira, ele se obriga a só aceitar a defesa de um cliente se estiver honestamente convencido de sua inocência. Na segunda, torna-se coautor de crimes. O resto, resumia ele, é apenas filosofia hipócrita para justificar o recebimento de honorários. Há um abismo entre a postura desse velho advogado e a do doutor Márcio. Fica o leitor convidado, aqui, a ecolher qual das duas lhe parece mais correta.

Eike nunca cumpre o que promete, diz ex-sócio


 01/07/2012 11:36


João Carlos Cavalcanti, que apresentou a mineração para Eike, conta ao site de VEJA porque processa ele e diz que não se surpreende com falta de resultado das empresas X

Ana Clara Costa, de 
Oscar Cabral/Veja
Eike Batista
Eike Batista: ex-sócio conta porque processa o bilionário
O geólogo baiano João Carlos Cavalcanti foi, por duas vezes, sócio de Eike Batista. A primeira, no início dos anos 1990, quando tentaram implantar um projeto de abastecimento de água mineral, que fracassou. A segunda, e derradeira, ocorreu no início de 2000, quando montaram o embrião da MMX. Eike prometeu investimentos que, de acordo com Cavalcanti (mais conhecido por J.C.), não tinha a intenção de cumprir. Por isso, o homem mais rico do Brasil carrega nas costas um processo de 22 milhões de reais movido pelo ex-sócio. “Não tenho nada contra ele. Só quero que me pague”, diz o geólogo, cuja fortuna estimada pelo mercado em mais de 2 bilhões de reais foi conseguida graças a sua habilidade em encontrar jazidas de minério Brasil afora.
Apesar de antagonistas, ambos guardam semelhanças: o misticismo, o gosto pela aventura, um relacionamento estreito com o PT e o apreço pelo luxo – tanto Eike quanto J.C. ostentam mansões, jatinhos e Ferraris. “A diferença é que eu cumpro o que prometo. O Eike não cumpre nada”, diz o empresário. O faro para os negócios também os une. J.C. criou e vendeu diversas empresas ligadas à mineração, como a Bahia Mineração, a Sul Americana de Metais e a GM4. Foi sócio de Daniel Dantas nesta última e o considera um empresário “que cumpre o que promete”. Além disso, detém participação no grupo Votorantim – empresa que considera a mais séria do país.
Recentemente, em mais uma de suas mirabolantes descobertas, desvendou uma jazida de neodímio na Bahia – que é um dos 17 elementos que compõem o grupo de minerais chamado terras raras, utilizadas na fabricação de aparelhos de alta tecnologia. A descoberta é a primeira do Brasil e, segundo J.C., o território guarda a mesma capacidade de exploração que a região de Batou, na China – atualmente o local onde estão 97% das terras raras do mundo. A capacidade total da jazida pode chegar a 28 milhões de toneladas, na avaliação do geólogo. Se o potencial se concretizar, ele calcula que o valor da reserva pode chegar a 8,4 bilhões de dólares – um patrimônio digno de um bilionário da Forbes. “Mas a Forbes já não me interessa”, diz.
Durante a entrevista, concedida na noite desta quinta-feira, Cavalcanti comparou Eike a "um meninão" que precisa botar a culpa em alguém sempre que um negócio seu não vai bem. "O Paulo Mendonça será a bola da vez, sobretudo depois dessa queda nos preços das ações. Aconteceu algo parecido com o Rodolfo Landim. Ele o contrariou, quis aparecer mais que o Eike, começou a falar demais e foi detonado. Já o Paulo, até pouco tempo atrás, era chamado pelo Eike de Mr. Oil. Não creio que continue assim", disparou. Naquela mesma hora, o conselho de administração da OGX enviava fato relevante ao mercado para comunicar a derrocada de Mendonça, que até então presidia a petroleira.
Como o senhor conheceu Eike Batista?
Conheci o Eike há muito tempo, com ele me dando um cheque pré-datado. Estava desenvolvendo uma pesquisa na região amazônica para a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e ele estava envolvido com a exploração de ouro por lá. Quando ele quebrou, quis entrar no segmento de abastecimento público de cidades e criou a empresa Água Certa. A intenção do Eike era criar uma rede de abastecimento de água mineral. Como eu já tinha trabalhado com isso na Brahma, antes da compra da Antarctica, ele me convidou para montarmos esse projeto juntos. A ideia era criar campos de abastecimento de água mineral em todo o Brasil. E eu descobri para ele onde estavam as jazidas de água.
Por que o projeto não deu certo?
A parte de licitações se mostrou mais complicada do que esperávamos. Além disso, as estatais de saneamento não queriam abrir espaço para essa iniciativa e ele acabou se desfazendo do negócio.
Quando vocês se desentenderam?
Em 2002, descobri uma jazida de minério de ferro em Caetité, na Bahia. O Eike ficou sabendo e me procurou. Para explorar essa área, montamos em sociedade a IRX, que veio a ser o embrião da MMX. Ele detinha 80% do negócio e eu, 20%. Nosso plano previa um alto investimento em pesquisa antes de começar a explorar, mas ele não cumpriu isso. Como era majoritário, tinha de investir algo em torno de 10 milhões de dólares. Mas como o Eike não coloca dinheiro próprio em coisa nenhuma, ficou me enrolando, até que em 2005 o Ministério de Minas e Energia (MME) acabou retirando a licença de pesquisa das terras. Perdemos a jazida. Se ele tivesse cumprido o que prometeu, a exploração teria me rendido cerca de 200 milhões de dólares.
Se o objetivo de Eike era ter uma mineradora, porque optou por não explorá-la?
Ele usou argumentos furados, como, por exemplo, de que não havia infraestrutura para escoar o minério. Ora, quando Carajás foi descoberta, também não havia uma logística adequada. No entanto, quando seu potencial foi conhecido, o governo militar construiu a ferrovia Norte-Sul para viabilizar o projeto. Ninguém investe em infraestrutura antes de conhecer o potencial do minério. Tanto que, no caso da MMX, também não havia logística. Eles estão construindo. Mas até agora, não saiu de lá nenhum quilo de minério.
O senhor acompanhou o início da OGX?
Sim. Acompanhei desde o início, pois foi na mesma época em que eu ficava muito no escritório dele. Ele pegou relatórios do governo federal, de estatais, como a CPRM, reorganizou-os, mudou a capa, traduziu e foi para o Canadá apresentá-los a fundos de pensão. Com base naquilo, conseguiu levantar 500 milhões de dólares e voltou ao Brasil para participar dos leilões da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Com esse dinheiro, ele conseguiu arrematar as jazidas marginais da Petrobras.
Aquilo que a ANP colocou em leilão não era bom. Não eram as melhores jazidas. Mas ele soube valorizar isso. Trouxe os melhores executivos da Petrobras, a começar pelo Rodolfo Landim, que entendia tudo de perfuração. Vi muitos grandes nomes passarem por lá. Quando ficava sabendo que um profissional estava se destacando no mercado, Eike mandava trazer para a OGX pagando muito bem. Por outro lado, quando o cara não dava o resultado que ele esperava, ele humilhava, colocava apelido, e tudo mais. Parece um meninão.
O senhor acredita que seja possível extrair os tais 5 mil barris/dia dos poços da OGX, conforme a última previsão da empresa?
É possível que sim. Nenhum poço que veio da Petrobras deve render mais que isso. Se a capacidade fosse de 40 mil barris/dia, como ele disse no início, porque a Petrobras iria se desfazer? Não faz sentido. O Eike nunca mexeu com isso antes, não sabe como funciona e pegou jazida com pouca capacidade. Agora ele solta fato relevante para informar cada cheiro de gás que ele sente nos poços.
Por que nenhum investidor contestou os dados dos projetos do Eike, como essa capacidade de 40 mil barris/dia, por exemplo?
Isso é porque ele é o queridinho do investidor estrangeiro. Ele tem cara de alemão, fala cinco línguas e é muito cativante. E tem um paizão, que é o senhor Eliezer Batista. Esse sim é um grande homem, um superdotado. Além disso, o Eike é um baita marqueteiro que vendia enciclopédia na Alemanha. E um cara que consegue vender enciclopédia, vende qualquer coisa. Não dá para negar que é muito esperto e consegue conquistar o investidor, o governo, todo mundo. Ele arrematou o terno do Lula em um leilão em São Paulo e, no dia seguinte, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberou 150 milhões de reais para que reformasse o Hotel Glória. Ele consegue o que quer.
Mas, teoricamente, quem entende do mercado de óleo e gás não deveria saber dos riscos de uma empreitada como essa? Como ninguém desconfiou da capacidade de um poço descartado pela Petrobras?
Pois é, deveria. O problema é que os banqueiros e o mercado financeiro não entendem de petróleo. Não há geólogos trabalhando como analistas, nem engenheiros de minas. Há economistas que não entendem nada desse setor e não acertam nada. Eles entendem de números, indicadores, mas não sabem como as coisas funcionam realmente.
O senhor tem raiva do Eike?
Não, não tenho nada contra ele. Só quero que me pague os 22 milhões de reais que me deve.
Acredita que ele vai recuperar a credibilidade junto ao investidor?
Não sei. Acho difícil. A única coisa que ele produz realmente hoje é um macarrão muito bom no Mister Lam, um restaurante chinês que ele abriu, onde também há um camarão maravilhoso. Encontrei-o lá há um ou dois anos, antes de entrar com a ação na Justiça. Conversamos e ele me disse que ia ultrapassar o Bill Gates. Mas não vai. Acho que o universo vai começar a dar o troco nele. Ele precisa ser mais simples, menos arrogante, prometer menos, ajudar mais. Tanto o Bill Gates quanto o Carlos Slim, o Lakshmi Mittal e o Warren Buffett são homens simples, que dedicam um bom tempo e dinheiro à filantropia. O que o Eike faz? Que hospital ele construiu? O que retribuiu para a sociedade?
O senhor também foi sócio de outro executivo conhecido, Daniel Dantas, do Banco Opportunity. Ele e Eike Batista possuem traços em comum? 
Não há comparação. O Daniel Dantas cumpre tudo o que promete. Em todos os negócios que fiz com ele, sempre cumpriu. É um sujeito discreto, reservado e inteligentíssimo. É um dos maiores criadores de gado do país e vai começar a produzir minério em 2014, explorando jazidas no Piauí.


A exposição da intimidade de Carlinhos Cachoeira



Pedro Estevam Serrano

Justiça

30.06.2012 12:24


Circulou pela maioria dos principais veículos de imprensa o conteúdo de gravações obtidas nas investigações do bicheiro Carlos Cachoeira que trazem diálogos dele com sua atual companheira, Andressa Mendonça, pelos quais se revela a existência de um affair amoroso entre ambos ainda na constância do casamento da moça.
As investigações têm revelado que Carlos Cachoeira cometeu crimes graves. Comandou uma quadrilha que praticou crimes contra a administração pública de várias tipificações, operou jogos de azar, obviamente com toda violência que acompanha o entorno deste tipo de atividade marginal.
Se demonstrada sua culpa nos processos hora em andamento, ele tem que ser punido com todo rigor da lei, tanto ele quanto os demais membros de sua quadrilha, mesmo os que ora ocupam importantes cargos e mandatos públicos.
Ocorre que todo este conjunto de maus procedimentos e pecados de Cachoeira não justificam a exposição ampla e indevida de sua intimidade na mídia. Com até mais razão, a exposição da intimidade de sua companheira que, pelo visto, ao menos até o que agora se sabe, não cometeu crime algum, é uma personagem do noticiário mais por sua beleza do que por qualquer outro fato especial.
A intimidade é direito garantido à qualquer pessoa por nossa ordem constitucional, mesmo ao pior dos marginais. O sigilo de interceptações telefônicas é algo relevantíssimo para a eficácia das investigações. Divulgar dados que nada tenham a ver com elas e dizem respeito a vida íntima dos investigados é um delito gravíssimo por parte dos funcionários públicos que guardavam as gravações.
Muitos poderão alegar que é a posição social de Cachoeira que leva a que se observe esta vulnerabilidade de seu direito, que investigados pobres não teriam a mesma atenção. Ora, neste caso específico, é a exposição pública do caso que nos faz observar a agressão evidente ao seu direito fundamental a intimidade, e não sua posição social privilegiada.
A nosso ver, os jornalistas que divulgaram a informação não cometeram delito jurídico algum. É evidente, por outro lado,  que não o fizeram para atender qualquer interesse publico mais nobre, apenas à perversão humana de saber da vida alheia e de agregar traços de sensualidade proibida à novela midiática que esses casos rumorosos se transformam. De qualquer modo, estavam no legitimo exercício de sua profissão.
A responsabilidade pela divulgação é do Estado e de seus agentes. A Policia Federal tem todas as condições de saber  facilmente quais os agentes públicos facilitaram ou propiciaram tal divulgação. Uma investigação desse tipo deve ocorrer não apenas para preservar os direitos dos investigados, mas para punir o crime ocorrido na divulgação e para garantir a lisura nos procedimentos estatais em processos como este.

Risco latino - por Miriam Leitão

Enviado por Míriam Leitão - 
1.7.2012
 | 
9h00m
COLUNA NO GLOBO


A entrada da Venezuela como membro pleno do Mercosul é uma ironia, na semana em que o Paraguai é suspenso. O que o Paraguai fez a Venezuela faz sistematicamente. No Paraguai, o Congresso deu um golpe e derrubou o presidente usando uma lei que está na Constituição mas que fere princípios democráticos, como o do direito de defesa. O governo Chávez tem feito frequentes violências à democracia com roupagem de legalidade.
A ameaça atual da América Latina é exatamente a de golpe que não parece golpe. A presidente Dilma congratulou o bloco pela decisão de afastamento do Paraguai, na mesma reunião em que aproveitou a ausência do Paraguai para aprovar a entrada da Venezuela como membro pleno do Mercosul. Seria cômico, se não fosse sério. A cláusula democrática do Mercosul é valiosa, deveria ser respeitada, deveria ser a base do bloco, mas a entrada da Venezuela esta semana a desmoraliza. Em toda a região há riscos para a democracia, mas o maior é na Venezuela, onde Hugo Chávez, em campanha para reeleição, está no poder há 14 anos.
Há fatos cujo desenrolar pode definir que tipo de compromisso têm alguns países da região com os valores e princípios democráticos. O caso mais recente é o do Paraguai, que isolado do Mercosul fará sua campanha eleitoral. A torcida é para que seja uma eleição livre e limpa e que o eleito em abril de 2013 fortaleça as instituições. O novo governante Federico Franco virou o mais forte candidato nessa eleição.
O México está realizando eleições hoje e o resultado mais provável é a volta do PRI ao poder depois de dois mandatos em que esteve afastado. O partido está voltando à presidência através de uma eleição legítima, em que seu candidato, Enrique Peña Nieto, foi mais convincente que os outros. O governo do presidente Felipe Calderón foi marcado por uma escalada sem precedentes da violência no país. O Exército, convocado para o combate às drogas, foi acusado de inúmeros atos de desrespeito aos direitos humanos.
O PRI durante mais de 70 anos manipulou as instituições para permanecer no poder. Realizava eleições fraudulentas. Seus tentáculos se espalharam pelo país e, através da corrupção e das fraudes eleitorais, o partido foi mantido no poder por décadas. Perdeu a presidência há 12 anos, quando o presidente Ernesto Zedillo, após conduzir uma eleição com neutralidade, reconheceu a derrota. Agora, o PRI e o México têm a chance de reescreverem essa história sob o comando de uma nova geração de políticos.
A Venezuela enfrenta os resultados da desmontagem lenta das instituições, executada por Chávez na última década e meia. Pela primeira vez está havendo uma eleição com um candidato forte de oposição, mas as instituições dominadas pelo presidente estão, de novo, criando regras casuísticas para favorecê-lo. A maior ameaça para Chávez não vem da oposição mas de sua saúde.
Na América Latina, tem havido ameaças sucessivas à democracia e essa é uma região com histórico de surtos autoritários. A Argentina reduziu a liberdade de imprensa, seja com leis aprovadas no Congresso, seja pelo cerceamento econômico. A Venezuela mudou a Constituição várias vezes para favorecer Chávez. O governo enfraqueceu os outros poderes e atacou a imprensa. Tudo funciona como se o sistema fosse democrático, mas os poderes não são independentes, a imprensa é encurralada, a justiça eleitoral muda as regras para beneficiar o presidente.
Equador e Bolívia, em intensidades diferentes, adotaram medidas chavistas para favorecer o ocupante da presidência. Não têm a força de Chávez, não foram ao extremo da Venezuela, mas usam a mesma estratégia.
Os que são favoráveis a Chávez, Rafael Correa e Evo Morales argumentam que tudo o que eles fizeram foi dentro da Constituição. Portanto, não seria antidemocrático. O mesmo argumento é usado, pelo outro lado político, para justificar a forma como Fernando Lugo foi tirado do poder. Curiosa concordância. O que aconteceu anos seguidos na Venezuela e o que acontece no Paraguai respeitam formalismos, mas não são democráticos. Essa é a sutileza da nova ameaça à democracia na América Latina.
A reação do Brasil de desaprovação do que houve no Paraguai foi correta e poderia ter sido o início de uma nova fase da diplomacia brasileira, mas virou apenas mais uma contradição. O Senado paraguaio era o único obstáculo à aceitação da Venezuela como membro pleno do Mercosul.
Na economia, os países com mais problemas são Venezuela e Argentina, que enfrentam uma onda de inflação com baixo crescimento e desordem fiscal. Colômbia, Peru e Chile têm mantido a dívida e o déficit sob controle e estão com previsões de crescimento de 4,5%; 5,8% e 4,4%, respectivamente. O Peru, governado por Ollanta Humala, tem uma meta de inflação de 1% a 3% e considerou alta quando a taxa chegou a 3,4% no ano passado. No Brasil o Banco Central comemorou 6,5%. Mas, na região, o principal problema não é a economia, mas a garantia do respeito às regras democráticas. A maior ameaça hoje não é mais o golpe clássico, mas a manipulação da democracia contra a própria democracia.

Pra quem aprecia futebol, por Luis Fernando Veríssimo

Enviado por Luis Fernando Veríssimo - 
1.7.2012
 | 10h03m
GERAL


Pouca gente “aprecia” futebol como se fosse uma obra de arte. 
“Apreciar” significa distanciamento, um prazer puramente estético sem outro tipo de envolvimento. Quem gosta mesmo de futebol geralmente gosta desde pequeno, e tem time. É um apaixonado, e um apaixonado não “aprecia”.
Um apaixonado se envolve. E vendo esses jogos da Eurocopa me ocorreu que o sentimento mais apaixonado, portanto menos estético e mais genuíno, que se pode ter em relação ao futebol bem jogado é o ressentimento. Um apreciador do futebol se encanta com uma trama do time espanhol que vem sendo costurada lá de trás, no famoso toque-toque do Barcelona transformado em estilo nacional, e que quase sempre acaba com um atacante concluindo dentro da pequena área.
Um apaixonado — principalmente se o seu time não estiver bem — se sente afrontado pela trama perfeita. Seu pensamento é: se eles podem, por que o meu time não pode? Rancor e inveja são os sentimentos mais verdadeiros de um apaixonado por futebol vendo o bom futebol dos outros.
Quanto melhor o futebol sendo visto, maior a revolta. Onde estão o Xavi e o Iniesta do meu time? Por que um Schweinsteiger e um Pirlo estão brilhando lá e não aqui no meu meio-campo?
O toque-toque da Espanha não funcionou contra Portugal, o que nos encheu de alegria. De certa maneira, o fracasso de grandes times desagrava a mediocridade do nosso. Se Portugal pode parar a Espanha é porque a perfeição não existe e ainda temos esperança.
A Alemanha que perdeu para a Itália na quinta-feira lembrou a Alemanha da Copa da África do Sul, quando pintou como o grande time do torneio num jogo e deu vexame no outro. A grande imagem do jogo Alemanha e Itália — e nisto o apreciador e o apaixonado podem concordar — foi a do Balotelli depois de marcar o segundo gol italiano.
Vítima costumeira de insultos racistas, Balotelli arrancou a camiseta e ficou parado, uma estátua dele mesmo numa pose de guerreiro africano, ostentando desafiadoramente a sua negritude e seu orgulho até ser quase derrubado pelos companheiros no festejo do gol.
No meio da semana houve o empate do Corinthians com o Boca em Buenos Aires e um episódio que nos consola, já que só o futebol brasileiro é capaz de produzi-lo.
Um tal de Romarinho, recém-contratado pelo Corinthians, e que já fizera dois gols no Palmeiras no domingo anterior, entrou quase no fim do jogo, fez o gol do empate na sua primeira jogada e transformou-se num desses fenômenos instantâneos que nos redimem.
Já é um herói, já deve estar tratando dos seus primeiros contratos publicitários e terá um grande futuro. Infelizmente no Corinthians, e não no nosso time. Danação!

OBRA-PRIMA DO DIA (GRANDES BIBLIOTECAS) Arquitetura: Biblioteca Joanina (1728)

O Conde Athanasius Raczinsky, embaixador da Prússia em Lisboa, homem muito culto e colecionador de raridades bibliográficas que guardava em seus palácios, um dos quais viria a ser o célebre Reichstag de Berlim, foi um dos mais conceituados críticos de arte do século XIX. Em suas notas sobre o tempo que viveu em Portugal e as obras de arte que lá encontrou, deixou registrado sobre a Biblioteca Joanina: "la bibliothèque la plus richement ornée que j'aie jamais visitée".
Não há exagero algum nas palavras do conde. É uma jóia magnífica da qual a Universidade de Coimbra muito se orgulha e da qual cuida com enorme carinho.


Seu início foi semelhante ao de outras bibliotecas universitárias. No século XV, sua sede era em Lisboa. Enviada para o Paço Real de Coimbra, onde o então chamado Estudo iria se instalar, ocupa a sala do guarda-roupa, vizinha à Sala Grande (hoje Sala dos Capelos), passa a ser chamada de Casa do Livro e é confirmada como biblioteca pública.
O que não dura muito: com a Reforma Católica do Concílio de Trento, a biblioteca deixa de ser pública, apesar dos sucessivos estatutos assim insistirem.
Durante muito tempo, as bibliotecas importantes eram as dos colégios universitários, como o da Companhia de Jesus ou o de São Pedro, onde os autores e pesquisadores estudavam e se alojavam.
Foi só no final do século XVII, com a criação dos chamados Gerais Universitários, que a existência da biblioteca de Coimbra seria consagrada.

Mas era preciso reformar e ampliar a sala onde se encontrava, em um palácio já com 700 anos! Os livros foram então recolhidos ao segundo andar, à espera do término das obras e nisso se passaram muitos anos até que, em 1716, o reitor se dirige ao rei D. João V e lhe faz ver que ao contrário do que os Estatutos da Universidade rezavam, Coimbra não tinha uma sala à altura do acervo acumulado.
Obtida a autorização do rei, foi nesse ano que começou a construção dessa que é, sob todos os aspectos, uma das mais importantes bibliotecas do mundo. Abaixo foto do exterior, no Largo da Porta Férrea, Coimbra.


Em seu riquíssimo acervo encontram-se “A Bíblia Latina de 48 linhas”, editada em 1462; o “Livro das Horas”, manuscrito com iluminuras, de meados do século XV; “Mensagem”, único livro de Fernando Pessoa a ser editado em vida do poeta, em 1934 (o exemplar é conservado na brochura original e tem dedicatória manuscrita do Autor); “Paesi novamente retrovatti”, organizado por Francesco de Montalboddo, impresso em 1507, compila relatos de viagens de descoberta (ou redescoberta) empreendidas por portugueses, espanhóis e italianos.
Trata-se da primeira vez que se editou em italiano a terceira viagem de Américo Vespúcio. Inclui um dos primeiros relatos publicados sobre a viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Despertou grande interesse e com a presteza possível naquele tempo, foi editado também em latim e em alemão.

Universidade de Coimbra, Portugal

Dilma deveria pedir uma aula a FH, por Elio Gaspari

Enviado por Ricardo Noblat - 
1.7.2012
 | 7h35m
POLÍTICA

Elio Gaspari, O Globo

A doutora Dilma e o chanceler Antonio Patriota deveriam revisitar a estudantada em que se meteram no Paraguai, comparando os próprios erros com outro episódio, ocorrido em 1996, quando as coisas deram certo, sem espetáculo.
Durante as festividades da Rio+20, Dilma e Patriota souberam que a Câmara dos Deputados aprovara a abertura do processo de impedimento do presidente Fernando Lugo por 76 votos a um. O doutor foi mandado ao Paraguai numa comitiva da Unasul para recolocar a pasta de dentes no tubo. A embaixada do Brasil em Assunção já advertira o governo, há semanas, a respeito da gravidade da situação. Fizeram o quê? Nada.
Havia o que fazer? Em abril de 1996, o presidente Juan Carlos Wasmozy soube que o comandante do Exército, Lino Oviedo, pretendia derrubá-lo.
Pediu apoio ao Brasil, e o embaixador Márcio Dias disse-lhe que Fernando Henrique Cardoso não concordaria com um golpe. Era pouco. Ele queria ouvir isso pessoalmente. O diplomata combinou que Wasmozy iria a Brasília (pilotando seu avião), seria recebido no aeroporto pelo chanceler Sebastião do Rego Barros (dirigindo seu próprio carro) e seguiria para o Palácio da Alvorada.
Conversou com FH e retornou durante a madrugada. O presidente brasileiro entrou em contato com seu colega Bill Clinton, e ele telefonou para Wasmozy dizendo-lhe que, em caso de ameaça, deveria ir para a embaixada americana. 

Dias depois, Oviedo deu um ultimato a Wasmozy, anunciando que atacaria o palácio ao amanhecer. O presidente paraguaio foi para a embaixada americana com o ato de renúncia redigido. Lá estava o embaixador Márcio Dias, que o rasgou. (Wasmozy guardou o picadinho.) O dia amanheceu, e o golpe evaporou-se.
Tudo isso aconteceu sem holofotes ou estudantadas de um multilateralismo que no caso da patrulha dos chanceleres da Unasul serviu apenas para colocar o Brasil a reboque de uma política de ameaças inócuas.
Uma diplomacia profissional, a americana, falou o mínimo possível. Resultado: a doutora Dilma e seus companheiros fizeram a empada, compraram a azeitona, deram o mimo aos americanos e ficaram com o caroço.
Como dizia o chanceler Azeredo da Silveira, atravessaram a rua para escorregar na casca de banana que estava na outra calçada.
A diplomacia multilateral faz espetáculos, arma consensos e, geralmente, dá em nada. A bilateral, como a do Brasil no Paraguai em 1996, dá trabalho.

As classes médias na berlinda, por Fernando Henrique Cardoso

É hora de reforçar valores desses segmentos, como a honestidade

Desde abril até agora viajei bastante, saindo e voltando ao Brasil. Fui aos Emirados Árabes, ao México, ao Japão, à China e, na semana passada, ainda fui a Buenos Aires. Sempre articipando de seminários ou fazendo conferências. Lia, naturalmente, os jornais locais que tinham edição em inglês.
Por toda parte, um assunto dominante: a crise econômica. Em alguns países, mesmo com regimes políticos muito diferentes, como China e Brasil ou Argentina, alguma preocupação com a corrupção.
Nessa mesmice, li com prazer em Buenos Aires, no “La Nación”, um artigo de Marcos Aguines, “O orgulho da classe média”, reproduzido no dia seguinte no GLOBO.
Aguines desacredita da visão, que predominava nos círculos de esquerda, de que a classe média — a pequena burguesia, como era chamada — seria a Geni da História. Fascinados pelo papel revolucionário e liberador da revolução proletária e, mais tarde, pelo ímpeto das massas ascendentes, os ideólogos de esquerda — e não só eles, pois a moda pegou — não viam mais do que atraso e mesquinhez na classe média, os “desvios” pequeno-burgueses e a tibiez que lhe tirava o ímpeto para transformar a sociedade.
Provavelmente, em certas conjunturas históricas, especialmente na velha Europa, era assim que as classes médias agiam. Basta ler os romances de Balzac como “Eugénie Grandet” ou “O Pai Goriot” para sentir que essas camadas ficavam apequenadas, mesquinhas, diante da burguesia vitoriosa ou da nobreza decadente aliada à mesma.
Entretanto, terá sido essa a posição das classes médias nas Américas e nos países de imigração?
Dou a palavra a Aguines: na Argentina, tanto no campo como nas cidades, as classes médias se expandiram e começaram a construir valores que deram suporte para três culturas, “a cultura do trabalho, a cultura do esforço e a cultura da honestidade”. O mesmo, acrescento, terá ocorrido na Austrália ou no Canadá e, de outra maneira, nos Estados Unidos.
E, no caso brasileiro, terá sido distinto? Esmagadas entre a escravidão e o senhorio rural, agraciadas aqui e ali com algum título não hereditário durante o Império, as classes médias urbanas, compostas por profissionais liberais, funcionários públicos, militares, professores e poucas categorias urbanas mais, no que iriam se apoiar para manter as distinções e realizar algo na vida?
Basicamente na escola e nos valores familiares que levam ao trabalho.
Tudo com muito esforço.
Com a chegada dos imigrantes, à medida que esses, motivados pelas necessidades de trabalhar, “faziam a América”, do mesmo modo se incorporaram às classes médias trilhando os caminhos do estudo e buscando ostentar a “boa moral”.
No percurso dessa camada de imigrantes viu-se a formação de algo que poderia se aproximar de uma “burguesia pequena”, ou pequena burguesia: sua base econômica, em maior número do que no caso das populações brasileiras mais antigas, provinha de um pequeno negócio.
Ainda assim, sua inserção na sociedade e sua gradação social eram dadas pelas mesmas virtudes das antigas classes médias, a valorização do trabalho, o estudo “para subir na vida”, a honestidade.
A própria base operária brasileira, a camada dos trabalhadores, usando outros instrumentos de ascensão social, como os sindicatos, e mantendo o ideal de trabalhar por conta própria, não fugiu deste padrão: escola-trabalho-decência.
Obviamente quando a sociedade se massifica, quando os meios de comunicação, TV à frente e agora a internet, dão os compassos da dança, o quadro é menos nítido. Já não se vê com clareza que valores guiam as chamadas classes médias emergentes.
Mesmo que haja exagero na insistência com que se repete que milhões e milhões de brasileiros estão ingressando nas “novas classes médias”, pois por enquanto se trata de novas categorias de renda mais do que propriamente de uma nova “classe social”, a transformação da renda em classe é questão de tempo: esta vai se formando.
Seus membros pouco a pouco irão frequentar escolas razoáveis, criar uma teia de relações com acesso aos mesmos clubes e a gozar das mesmas facilidades de recreação, trajar-se mais ou menos de modo igual (o que já ocorre), desenvolver uma cultura de trabalho qualificado e, de novo, comportar-se valorizando a decência e a honestidade.
Como se comportarão essas classes emergentes na política quando se transformarem em uma categoria social com características, anseios e valores próprios? É provável que se juntem, nas formas de comportamento e nos valores, às classes médias preexistentes. Estas, no momento, sentem-se um tanto desconectadas da instituição que, sem ser a única, as abrigou e deu influência: o governo, o Estado.
Justamente porque a política vem sendo percebida cada vez mais como um jogo de vale-tudo, em que a moral conta menos do que o resultado.
É hora, por isso mesmo, de reforçar e não de menosprezar os valores fundamentais ditos “de classe média” — estudo, trabalho, honestidade.
Valores culturais não se impõem por lei, são modelos de conduta aos quais se juntam sentimentos positivos. Só a exemplaridade e a repetição enaltecida deles (na escola, na família, na mídia e na vida pública) vão aos poucos inculcando na mentalidade geral as formas que definem o que é bom, o que é ruim.
Minha aposta é a de acreditar, como crê Aguines, que a velha e boa classe média, que já contribuiu para a formação da nação, ainda pode ter papel relevante e será capaz de contagiar com seus valores as camadas emergentes, pois estas a eles já são predispostas: melhoraram a renda com esforço e trabalho.
É certo que o descaso em nossa vida pública pelos valores básicos das classes médias diminui as chances de que eles venham a prevalecer. Há oportunidades, entretanto, para reforçá-los. O julgamento do mensalão é uma delas. Seja qual for o resultado, se o STF se comportar institucionalmente, sem medo de condenar ou de absolver, desde que explicando o porquê e sendo transparente, pode ajudar a demarcar os limites do inaceitável.
Nem só de pão vive o homem. A decência e a honestidade são partes da vida. Convém reforçar os comportamentos que se inspiram nelas.

Fernando Henrique Cardoso é ex-presidente da República