domingo, 27 de dezembro de 2015

A sangue frio - VESPEIRO



by fernaslm
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A semana que passou foi a da definição dos papéis dos diversos atores da tragédia brasileira. Personagem por personagem, cada um veio à boca do palco para dizer à sua descendência e à História: “Eis aqui o que eu sou...
Renan Calheiros e o PT oficializaram a lambuzagem de mucosas em que vinham entretidos, nascida das suas “afinidades eletivas”. Tendo construido, os dois, a sua trajetória política em cima do tripé corrupção, violência e exploração da miséria, quase sempre à margem da lei, a aproximação da polícia que vem no seu encalço desde Curitiba tornou claro que uma eventual afirmação do império da lei sobre o padrão histórico de negação dele na tradição brasileira configuraria, inapelavelmente para ambos, o fim final da picada.
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A admissão formal da superação das variações do discurso com que cada um justificava os seus “malfeitos” em troca de uma garantia mutua de impunidade impos-se, assim, como um imperativo de sobrevivência. Renan Calheiros e Dilma Rousseff são, agora oficialmente, a perna direita e a perna esquerda do PT, que não permanecerá em pé se qualquer das duas vier a ser quebrada.
Ao dar com exclusividade a Eduardo Cunha o que já estava devendo ha muito mais tempo a Renan Calheiros, o “porteiro do impeachment”, Rodrigo Janot também confirmou o que já sinalizara: ele é o procurador geral de Dilma Rousseff antes de ser o procurador geral da república.
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Completou o quadro o “Eu também, Brutus! Eu também!” com que oito ministros do Supremo Tribunal Federal sacramentaram, na quinta-feira passada, o “Ato Institucional” que resulta no virtual “fechamento” da Câmara Baixa do Congresso Nacional mediante a suspensão autocrática da vigência do artigo 51 da Constituição e a determinação de que, seja o que for que os representantes eleitos dos 204 milhões de brasileiros venham a decidir, mesmo por maioria de 2/3, bastam metade mais 1 dos “liderados” do “porteiro do impeachment” plantado no Senado – e em alguns casos até uma simples decisão solitária dele – para anulá-la como se nunca tivesse sido tomada.
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O 18 de dezembro entra para a História como a data em que se tornou inapelável a falência múltipla das instituições e da segurança jurídica sem as quais não ha sustentação da vida econômica que Dilma Rousseff já vinha antecipando com os repetidos julgamentos de si mesma endossados pelos “seus” juristas e pelos “seus” legisladores em frente às câmeras de televisão, acompanhados da condenação como “golpe” a ser enfrentado com uma conflagração aberta qualquer afirmação em contrário dos juristas e dos legisladores do Brasil, agora calados por ordem superior e sem possibilidade de apelação.
O “AI-6” do STF é, portanto, apenas o encerramento formal da etapa deste desastre que interessa exclusivamente a Brasília e aos jornalistas brasiliocêntricos. Para a falecida economia do Brasil Real que não pode ser matada mais do que já está morta ele é apenas o atestado de óbito.
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Como se ha de recordar, ninguém impôs o ex-ministro Joaquim Levy ao flagelo Dilma Rousseff, foi ela própria quem o escolheu. Versado em aritmética que é, como todo bancário que se preze, não demorou muito para que ele demonstrasse incontestavelmente até para alguém com as características de Dilma Rousseff e da gente que a cerca quais eram e para onde nos levariam os numeros que estavam postos e a impossibilidade física de continuar fazendo das palavras atos que enchessem de novo o Tesouro Nacional esvaziado, mesmo oferecendo, por cima dos 15% a que já chegamos, a pele de todos os brasileiros vivos e ainda por nascer a quem se aventurar a nos emprestar dinheiro que valha alguma coisa.
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Foi aí – nessa demonstrada e re-demonstrada inexistência de alternativa para sair desse buraco sem uma reforma profunda do Estado – que a questão realmente “pegou”, deixando o país paralisado à espera de que Dilma e cia. se refaçam do choque. Pois, de fato, como o Estado brasileiro é o PT e, mais especialmente, a gordura mórbida de que ele vem sendo recheado nos últimos 13 anos; como tudo que resta ao PT é essa rarefeita militância que ele ainda consegue a duras penas por na rua constituída pelo funcionalismo público “enfiado” e mais as agremiações diretamente assalariadas do Estado que a imprensa condescende em continuar chamando de “movimentos sociais”, a escolha muito prática e concreta que se apresenta ao PT é reduzir o tamanho do PT para reabrir espaço para o Brasil, ou deixar que o Brasil exploda.
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Esta é a faceta menos compreendida da tragédia brasileira: a massa da opinião pública não conhece esses numeros que o ministro Levy passou um ano exibindo nas lousas das salas de reunião do Planalto e que se mostraram bastantes para convencer até mesmo o PT de que não ha alternativa para salvar o Brasil da mutilação senão incluir na crise também e principalmente os eternos “sem crise” que sempre as fabricam mas nunca as vivem. Tendo se autocondenado à amplificação do que lhe dizem fontes oficiais, à reprodução das denuncias e dossies a que lhe “dão acesso” as partes em conflito ou a relatar o que fazem a Policia Federal e as células ainda vivas do Poder Judiciário, a imprensa brasileira simplesmente não tem trabalhado o mapeamento do Estado petista e suas medidas auto-explicativas que, postas ao lado das medidas do Brasil Real em desmoronamento, conduzem automaticamente às respostas certas. E isso desfoca e dispersa a força de pressão sem a qual não se corrigirá o rumo a favor do Brasil.
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Com o “ataque em pinça” da semana passada o PT comunicou à nação a sua decisão. Com a manobra que excluiu formalmente dessa discussão todos os representantes eleitos dos 204 milhões de brasileiros, o Supremo Tribunal Federal deixa, na prática, aos agentes patológicos da doença instilada nas veias da economia brasileira a decisão em circuito fechado com a sua própria representação política, da sua remoção ou não da corrente sanguínea que parasitam.
Conformar-se com essa violência é um caminho sem volta.
FONTE - http://vespeiro.com/2015/12/22/a-sangue-frio/

CHARGE DO SPON - Lula o invejoso....


CHARGE DO SPON - Natal dos Silva...


O IMPEACHMENT POR CULPA GRAVE - Ives Gandra da Silva Martins*

Ives Gandra da S. Martins
Ives Gandra da S. Martins


22/12/2015)

Está em pleno andamento a discussão sobre o “impeachment” da Presidente no Congresso Nacional, com o governo contratando juristas e liberando verbas para Deputados que a apoiam. Creio que o governo objetiva, exclusivamente, manter-se no poder, pouco importando não ter credibilidade popular para qualquer iniciativa e ter gerado a pior crise econômica e política da história nacional.

Por esta razão, volto a relembrar os fundamentos jurídicos de meu parecer de Janeiro de 2015, sobre o “impeachment”. O Superior Tribunal de Justiça, em dois acórdãos (RE nº 816.193-MG e AgRg no AGRAVO DE INSTRUMENTO nº 1.375.364-MG, decidiu que a culpa grave pode caracterizar improbidade administrativa.

No primeiro, de relatoria do Ministro Castro Meira, lê-se que: “Doutrina e jurisprudência pátrias afirmam que os tipos previstos no art. 10 e incisos (improbidade por lesão ao erário público) preveem a realização de ato de improbidade administrativa por ação ou omissão, dolosa ou culposa. Portanto, há previsão expressa da modalidade culposa no referido dispositivo”.

E, no segundo, de relatoria do Ministro Humberto Martins, há afirmação de que: “a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça reconhece que o ato de improbidade administrativa não exige a ocorrência de enriquecimento ilícito, sendo a forma culposa apta a configurá-lo”.

Desta forma, a culpa configura ato contra a probidade da administração (omissão, imperícia, imprudência ou negligência). Apesar de, a cada dia que passa, ficar mais evidente que havia uma rede de corrupção monitorada pelos altos escalões do Governo e por figuras do Partido da Presidente, quero apenas lembrar que o impeachment já poderia ter sido declarado apenas por culpa da primeira mandatária.

Basta analisar o artigo 85, inciso V, da Constituição (“impeachment” por atos contra a probidade da administração) além dos artigos 37, § 6º (responsabilidade do Estado por lesão ao cidadão e à sociedade) e § 5º (imprescritibilidade das ações de ressarcimento que o Estado tem contra o agente público que gerou a lesão por culpa ou dolo, única hipótese em que não prescreve a responsabilidade do agente público pelo dano causado) para que essa conclusão se imponha.

Ora, o artigo 9º, inciso III, da Lei nº 1079/50, com as modificações da Lei nº 10.028/00, determina: “São crimes de responsabilidade contra a probidade de administração: …. 3- não tornar efetiva a responsabilidade de seus subordinados, quando manifesta em delitos funcionais ou na prática de atos contrários à Constituição”. 2

Se acrescentarmos os artigos 138, 139 e 142 da Lei das S/As, que impõem responsabilidade dos Conselhos de Administração na fiscalização da gestão de seus diretores, com amplitude absoluta deste poder fiscalizatório, percebe-se ter incorrido S. Exa. em crime administrativo por culpa.

Há, ainda, a considerar o § 4º, do artigo 37, da CF, que cuida da improbidade administrativa e o artigo 11 da Lei 8429/92, que declara: “constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições” (grifo meu).

Ao interpretar o conjunto dos dispositivos citados, entendo que a culpa é a hipótese de improbidade administrativa a que se refere o artigo 85, inciso V, da Lei Suprema. Ora, tal omissão da Presidente Dilma nos anos de gestão como presidente do Conselho da Petrobrás e como Presidente da República permitiu a destruição da Petrobrás, ao deixar de combater a corrupção ou concussão, durante 8 anos, gerando desfalque de bilhões de reais, por dinheiro ilicitamente desviado, e por operações administrativas desastrosas.

Como ela mesma declarou, que, se tivesse melhores informações, não teria aprovado o negócio de quase 2 bilhões de dólares da Usina de Passadena, à evidência, restou demonstrada ou omissão ou imperícia ou imprudência ou negligência, ao avaliar o milionário negócio. E a insistência, no seu primeiro e início do segundo mandatos, em manter a mesma presidente da estatal, caracteriza improbidade, por culpa continuada, de um mandato ao outro.

À luz deste raciocínio, entendo – independentemente das apurações dos desvios que estão sendo realizadas pela Polícia Federal e Ministério Público (hipótese de dolo) -, que há fundamentação jurídica para o pedido de “impeachment” (hipótese de culpa). Não deixo, todavia, de esclarecer que o julgamento do “impeachment” pelo Congresso é mais político que jurídico, lembrando o caso do Presidente Collor, que, afastado da presidência pelo Congresso, foi absolvido pela Suprema Corte.

O certo é que analistas brasileiros e estrangeiros, hoje, estão convencidos de que, se não houver o impeachment, o Brasil continuará afundando, como mensalmente os índices econômicos estão a sinalizar, numa pátria de nove milhões de desempregados: o poço continua sem fundo, nesta queda livre.


*PROFESSOR EMÉRITO DAS UNIVERSIDADES MACKENZIE, UNIP, UNIFIEO, UNIFMU, DO CIEE/O ESTADO DE S. PAULO, DA ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO E DA ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, É PRESIDENTE DO CONSELHO SUPERIOR DE DIREITO DA FECOMÉRCIO-SP, FUNDADOR E PRESIDENTE HONORÁRIO DO CENTRO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

OS OVOS QUE A GALINHA VAI POR - Carlos Brickmann



Carlos Brickmann
Carlos Brickmann

DOMINGO, 27 de dezembro de 2015

Há uma famosa maldição que poucas vezes deixou de realizar-se: a de que o país que encontra um tesouro se torna seu escravo e condena-se à irrelevância. A Espanha levou tanta prata da América que se transformou no país mais rico do mundo. Mas, de potência internacional, cujo rei ocupava também o trono do Santo Império Romano, virou saco de pancadas da Holanda e da Inglaterra, e só séculos mais tarde, após a morte do ditador Francisco Franco, voltou a crescer. Portugal, cujos navios descobriram o mundo, ficou sufocado com o ouro brasileiro. Hoje, a maldição tem o nome de Doença Holandesa, Dutch Disease. A alta do preço do gás levou tantos dólares à Holanda que ficou mais fácil importar do que pesquisar, produzir e competir. Empregos e indústria sofreram juntos.

Pior do que se amarrar a um tesouro de verdade é escravizar-se a uma perspectiva de tesouro. Foi o que ocorreu no Brasil com o pré-sal: antes que as novas reservas fossem exploradas, já se distribuíam aos escolhidos os lucros que delas viriam. Contaram com o ovo, digamos, na parte interna da galinha.

Vem daí a crise da saúde no Rio: com base em cálculos inflados pela participação em lucros ainda não realizados, a obter com a venda do petróleo ainda não extraído, apareceram orçamentos frágeis. Bastou que a Arábia Saudita baixasse o preço do petróleo para que o Rio ficasse sem dinheiro para a saúde, para o funcionalismo, para carregar a pesada máquina pública. Enquanto isso, há quem defenda pedaladas fiscais e contabilidade criativa.

O doente é apenas um detalhe.

A vida…

Como virou moda dizer, pedalada fiscal todo mundo já deu. Pode ser verdade; e explica boa parte dos problemas do país. Quando o orçamento é driblado, o país se torna dependente de acontecimentos continuamente favoráveis. Uma falha – a queda do preço do petróleo, a redução no preço do minério de ferro, um novo foco de roubalheira na área estatal – e a bicicleta tomba, ferindo os cidadãos.

…como ela é

Final da história: raspando o fundo dos cofres públicos, o Rio conseguiu R$ 297 milhões, que segundo o governador Pezão serão suficientes até o dia 15 de janeiro. E daí em diante? O Governo Federal criou um comitê de crise.

Pelo jeito, é melhor não ficar doente, nem dar à luz, a partir de 15 de janeiro. Pois ataduras, lençóis, leitos, remédios, equipamentos básicos continuam faltando.

Complementando

Como na clássica marchinha “Cachaça” (“você pensa que cachaça é água”), de Marinósio Trigueiros Filho e Mirabeau, podem faltar arroz, feijão e pão, mas não pode faltar “a danada da cachaça”. No Rio, mostra o jornalista Cláudio Tognolli, cirúrgico ao apontar o problema, as grávidas estão alojadas no chão do corredor do hospital, não há como atender novos pacientes, nem comprar remédios básicos.

Mas em setembro o Governo fluminense dobrou a verba para o desfile das escolas de samba no Carnaval de 2016. Além do patrocínio de ditadores africanos a quem os homenageia, há também o dobro de dinheiro público – dinheiro de quem gosta ou não de Carnaval. Que, para ir à avenida, ainda paga o ingresso.

Tudo explicado

O senador Acir Gurcacz, do PDT de Roraima, relator da Comissão Mista do Congresso que analisa o relatório do Tribunal de Contas da União sobre as contas da presidente Dilma, quer derrubar o parecer técnico (que as rejeitou) e aprová-las. Diz Gurcacz que as irregularidades (segundo o TCU, R$ 59 bilhões) foram cometidas não só pela presidente,
mas também por 14 governadores, logo é melhor aprová-las. Ou seja, os 13 governadores que cumpriram a Lei de Responsabilidade Fiscal não passam de umas bestas quadradas, onde já se viu fazer o que é certo?

Mas Gurcacz tem seus motivos: responde a mais de 200 ações na Justiça, até mesmo por estelionato. Já pagou R$ 209 mil em dinheiro público por ônibus usados que, no mercado, saem por R$ 12 mil. Para ele, o que é irregular?

Visão de futuro

Um respeitado economista, Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica (Governo
Lula) e presidente do Insper, acha que o país se preocupa com o problema errado: quem tem de cuidar da economia é o Governo, não apenas o ministro da Fazenda. Como não é isso que está ocorrendo, ele teme, no futuro, sentir saudades de 2015.

Lembrando “Apocalypse Now”, o horror! O horror!

Os mais iguais

O governador de Goiás, Marconi Perillo, PSDB, declarou-se orgulhoso por ter tido a coragem de propor a mudança das normas de aposentadoria do funcionalismo público em Goiás. Não tem sentido, disse o governador, em entrevista no dia 30 de novembro, um funcionário se aposentar com 45 ou 50 anos de idade, e receber a aposentadoria por 40 anos ou mais. “Quem paga isso é o povo”.

Perillo só abre uma exceção para a rígida defesa da austeridade: sua esposa, Valéria Perillo, que há pouco se aposentou, com pouco mais de 50 anos de idade. “Ela trabalha desde os 16 anos”, explicou. “Tinha os requisitos para se aposentar e entrou com o pedido. Isso é muito natural”. Mais natural se ela tivesse trabalhado o tempo todo. Mas, há quase 30 anos, só acompanhou o marido.

 carlos@brickmann.com.br

Twitter: @CarlosBrickmann

ISIS Vende Mulheres e Crianças Yazidis na Turquia - Uzay Bulut

  • "Algumas dessas mulheres e crianças foram obrigadas a assistirem, bem diante de seus olhos, enquanto crianças de 7, 8 e 9 anos de idade derramavam sangue até a morte, depois de serem estupradas inúmeras vezes por dia pelas milícias do ISIS". — Mirza Ismail, presidente da Organização Internacional de Direitos Humanos Yazidi.
  • "Um escritório foi fundado por membros do ISIS em Antep (Turquia) e nele mulheres e crianças sequestradas pelo ISIS estão sendo vendidas por elevadas quantias de dinheiro. Onde estão os ministros e os agentes da lei deste país que tanto falam de estabilidade"? — Reyhan Yalcindag, conceituada advogada curda, defensora dos direitos humanos.
  • "Cinco mil pessoas se encontram em cativeiros. Mulheres e crianças são estupradas e depois vendidas. Essas coisas têm que ser consideradas crimes". — Leyla Ferman, Co-Presidente da Federação Yazidi da Europa.
  • "A Turquia é signatária de diversos tratados internacionais, e ainda assim é o país número 1 quando se trata de descumprimento profissional no que tange a tratados que versam sobre direitos humanos". — Reyhan Yalcindag.
Neste mês a rede de TV alemã ARD (Consórcio das Emissoras Públicas de Rádio e TVs da Alemanha), produziu um documentário sobre o tráfico de escravos administrado pelo Estado Islâmico (ISIS) por meio de um escritório de intermediação localizado na província de Gaziantep (também conhecida como Antep) na Turquia, perto da fronteira com a Síria.
Em agosto de 2014 jihadistas do Estado Islâmico atacaram Sinjar, onde vivem mais de 400.000 yazidis. As Nações Unidas confirmaram que 5.000 homens foram executados e nada menos que 7.000 mulheres e meninas transformadas em escravas sexuais.
Ao passo que alguns conseguiram fugir ou foram libertados através de pagamento de resgate, milhares de yazidis continuam desaparecidos.

Uma reportagem transmitida pela emissora alemã ARD mostra fotografias de escravos yazidis distribuídas pelo ISIS (esquerda), bem como filmagens através de uma câmera escondida onde se pode ver agentes do ISIS na Turquia recebendo pagamento pela venda de escravos (direita).

No mês passado, depois que forças curdas recapturaram a região das mãos dos jihadistas do ISIS, valas comuns que, segundo consta, continham restos mortais de mulheres yazidis, foram descobertas no setor oriental de Sinjar.
Os canais de TV da NDR e SWR da Alemanha declaram em seus Websites:
"O EI (Estado Islâmico) oferece mulheres e seus filhos menores de idade em um tipo de mercado de escravos virtual com fotos ilustrativas. ... A transferência do dinheiro, segundo o repórter descobriu, acontece por meio de um escritório de intermediação na Turquia. ...
"Durante semanas a NDR e a SWR acompanharam um negociador yazidi, que em nome das famílias ficou encarregado das negociações com o EI para a soltura dos escravos e seus filhos. ... As mulheres são vendidas no mercado digital de escravos para quem oferecer o lance mais alto. O preço habitual varia entre 15.000 e 20.000 dólares americanos. Quantias no mesmo valor também são exigidas como pagamento de resgate para libertar yazidis. O dinheiro é então transferido via escritórios de intermediação e intermediários para o grupo terrorista.
"Tanto a NDR quanto a SWR acompanharam as negociações e estavam presentes quando da libertação de uma mulher e seus três filhos pequenos, com idades entre dois e quatro anos. Não se sabe quantos escravos yazidis ainda são de propriedade do Estado Islâmico. Especialistas estimam que ainda podem estar na casa das centenas".
O negociador disse à NDR e à SWR que no espaço de um ano ele transferiu mais de US$2,5 milhões para o ISIS, oriundos dos pagamentos efetuados pelas famílias de 250 mulheres yazidis e seus filhos para que pudessem ser libertados.
Ele também disse que para anunciar a venda de escravos, o ISIS coloca números nas mulheres escravas e seus filhos também escravos, publica suas fotos no aplicativo para smartphones WhatsApp Messenger.[1]
Em resposta a esses relatos, a Ordem dos Advogados de Gaziantep protocolou uma queixa-crime contra a "Organização de Inteligência Nacional da Turquia (MIT) e também contra os agentes da lei, por negligência no cumprimento do dever e desvio de conduta, por não tomarem as medidas necessárias e por não desempenharem as atividades obrigatórias no que tange à inteligência e prevenção, antes que a mídia cobrisse os incidentes citados".
A Ordem dos Advogados também exigiu que os procuradores começassem a processar e punir os criminosos envolvidos em crimes de "tráfico de pessoas, prostituição, genocídio, privação da liberdade, crimes contra a humanidade e contrabando de migrantes", de acordo com o código penal turco.
"A trágica realidade", segundo o advogado Bektas Sarkli, presidente da Ordem dos Advogados de Gaziantep, "é que Gaziantep é uma cidade superpovoada, os homens bomba atravessam facilmente a fronteira em direção à Síria e ao Iraque. Lamentavelmente Gaziantep exporta terrorismo".
Sarkli acrescenta: "quando se toma consciência da munição capturada e principalmente quando se leva em conta o dinheiro aqui transferido, fica claro que o ISIS encontra refúgio nesta cidade sem maiores problemas. Gaziantep é o centro logístico do ISIS".
Mahmut Togrul, Membro do Parlamento do Partido da Democracia Popular pró-curdo (HDP), em uma moção apresentada a Efkan Ala, Ministro do Interior da Turquia, indagou sobre o suposto escritório onde membros do ISIS estariam envolvidos em escravismo e comércio sexual. Entre as perguntas estavam as seguintes: "quantos escritórios de intermediação filiados à organização terrorista do ISIS estão localizados em Gaziantep? Caso esses escritórios de intermediação realmente existam, eles estão legalizados? Esses escritórios operam sob qual denominação? Eles estão filiados a alguma instituição"?
O Ministro do Interior Ala ainda não respondeu a nenhuma dessas perguntas.
"De acordo com a imprensa local de Gaziantep, bem como segundo a imprensa nacional" Togrul disse o seguinte: "Gaziantep se transformou em cidade de células adormecidas do grupo terrorista ISIS, onde há membros do ISIS em abundância e onde esses membros se movimentam livremente". [2]
A "Plataforma da Luta Pelas Mulheres em Cativeiro", o Congresso por uma Sociedade Democrática (DTK) e o Congresso Curdo das Mulheres Livres (KJA) em Diyarbakir também protocolaram uma queixa-crime, requerendo que os procuradores investiguem as alegações e façam com que os criminosos prestem contas à justiça.
Reyhan Yalcindag, uma conceituada advogada curda defensora dos direitos humanosassinala: "um escritório foi fundado por membros do ISIS em Antep e lá mulheres e crianças sequestradas pelo ISIS estão sendo vendidas por elevadas quantias de dinheiro. Onde estão os ministros e os agentes da lei deste país que tanto falam de estabilidade"?
"A Turquia" segundo ela "é signatária de diversos tratados internacionais, e ainda assim é o país número 1 quando se trata de descumprimento profissional no que tange a tratados que versam sobre direitos humanos".
A Co-Presidente da Federação Yazidi da Europa Leyla Ferman, fala sobre o número de genocídios dos quais os yazidis dizem terem sido submetidos através da história. "73 yazidis foram condenados a morte", segundo ela "o povo está sendo massacrado pelo Estado Islâmico. Milhares de mulheres Yazidis estão desaparecidas. Cinco mil pessoas se encontram em cativeiros. Mulheres e crianças são estupradas e depois vendidas. Hoje, devido à guerra, mulheres estão dispersas por todos os lados. Essas coisas têm que ser consideradas crimes".
Esta não é a primeira vez que a presença do ISIS em Antep aparece no noticiário.
Em novembro de 2015, após os ataques terroristas em Paris, apareceu um grupo balançando as bandeiras pretas do ISIS, tocando as buzinas de seus carros, comemorando nas ruas de Antep. A filmagem foi amplamente compartilhada nas redes sociais. Um usuário de uma das redes sociais escreveu: "essa é a Turquia que supostamente está combatendo o ISIS. Este é o comboio do ISIS em Antep comemorando o massacre de Paris".
Os yazidis, uma comunidade historicamente perseguida, é de etnia curda mas não muçulmana, a religião nativa do yazidismo está ligada às milenares religiões mesopotâmias. Os yazidis são nativos do norte da Mesopotâmia e da Anatólia, parte da terra natal dos yazidis está localizada no que é hoje a Turquia moderna, as outras partes se encontram na Síria e no Iraque.
Os yazidis ficaram expostos a campanhas de islamização forçada e assinalação, de acordo com o sociólogo turco Ismail Besikci, um conceituado especialista sobre o Curdistão:
"Em meio às deportações dos gregos pônticos durante os anos de 1912 e 1913 e o genocídio armênio de 1915, os yazidis também foram expulsos de suas terras. Do começo ao fim da história republicana da Turquia, foram utilizados todos os métodos disponíveis para islamizar os yazidis. Antes de 1915, por exemplo, Suruc era uma cidade inteiramente yazidi. Assim como o era a cidade de Viransehir. Hoje não há mais um único yazidi em Suruc. Além disso é possível ver os yazidis islamizados insultando seus patrícios que continuam sendo yazidis".
Por serem curdos, o estado não reconhece seu caráter curdo, e por serem yazidis, o estado não reconhece sua religião. O parágrafo que trata da religião na carteira de identidade dos yazidis é deixado em branco ou então marcado com um x ou - (um simples traço).
Segundo o assírio Erol Dora, Ministro do Parlamento do Partido da Democracia Popular (HDP) "levantamentos constatam que em 2007 havia apenas 377 yazidis na Turquia.
"Os yazidis, assim como com outras minorias na Turquia, também foram expostos a discriminação e discurso de incitamento ao ódio, e é por esta razão que eles tiveram que deixar suas terras. ... Seus vilarejos e suas terras foram confiscados, suas zonas agrícolas foram desapropriadas, seus lugares sagrados foram atacados. Todas essas atitudes racistas continuam sendo praticadas, o idioma, a religião e a cultura dos yazidis correm perigo de serem extintos".
Os yazidis afirmam que já ficaram expostos a 72 tentativas de extermínio ou de genocídio. Hoje eles são vítimas de mais uma tentativa de genocídio no Iraque, desta vez nas mãos dos jihadistas do ISIS.
"Segundo relatos de muitas mulheres e meninas que conseguiram fugir, com as quais eu conversei no Norte do Iraque, o número de yazidis sequestrados, em sua maioria mulheres e crianças, ultrapassou a casa dos 7.000", isso de acordo com Mirza Ismail, fundador e presidente da Organização Internacional de Direitos Humanos Yazidi, em seu discurso perante o Congresso dos EUA.
"Algumas dessas mulheres e crianças foram obrigadas a assistirem, bem diante de seus olhos, enquanto crianças de 7, 8 e 9 anos de idade derramavam sangue até a morte, depois de serem estupradas inúmeras vezes por dia pelas milícias do ISIS.
"Eu conversei com mães cujos filhos foram arrancados de seus braços pelos integrantes do ISIS. Essas mesmas mães foram suplicar pelo retorno de seus filhos, e para aumentar ainda mais a afronta, foram informadas que elas (as mães), foram alimentadas pelo ISIS com a carne de seus próprios filhos. Crianças assassinadas e depois servirem como alimento para suas próprias mães.
"As milícias do ISIS queimaram muitas meninas yazidis, vivas, por elas se recusarem a se converterem e casarem com homens do ISIS. Meninos yazidis, ainda pequenos, estão sendo treinados para serem jihadistas e homens bomba. Todos os nossos quatro templos que se encontram em áreas controladas pelo ISIS foram detonados e destruídos. Por que? Porque nós não somos muçulmanos e porque nosso caminho é o caminho da paz. E por esta razão estamos sendo queimados vivos: por vivermos como homens e mulheres da paz".
Os yazidis, um dos povos mais pacíficos do planeta, estão se debatendo para sobreviverem a mais um genocídio muçulmano, diante dos olhos do mundo inteiro.
Enquanto o mundo se mantém em silêncio, um membro da OTAN, a Turquia tem sido abertamente cúmplice de tudo isso, facilitador do terrorismo jihadista. Denúncias e testemunhos atestam que a Turquia contribuiu para a ascensão do Estado Islâmico ao permitir a travessia de combatentes e armas pela fronteira. Alguns dos combatentes se juntam ao grupo terrorista jihadista. Os relatos mais recentes revelam que dentro da Turquia, um país que acredita ser merecedor de se tornar membro da União Européia, mulheres e crianças yazidis são escravizadas e forçadas a serem escravas sexuais. Enquanto isso o governo turco não se preocupa nem sequer em emitir um simples comunicado sobre esses relatos.
É isso que acontece quando um regime nunca tem que responder pelos seus atos.
Uzay Bulut, nascida e criada como muçulmana, é uma jornalista turca estabelecida em Ancara.

[1] Por meio de registros de chats, documentos, fotografias e declarações de testemunhas, a filmagem da ARD mostra Abu Mital, um homem yazidi que trabalha como intermediário para o ISIS comprando uma mulher yazidi, seus três filhos com idades entre dois e quatro anos e um menino de 11 anos do ISIS e devolvendo-os às suas famílias.
Mital entrou em contato e negociou com membros do ISIS na Internet e acertou o preço para a compra da mulher e das crianças. Em seguida ele se dirigiu para a província de Gaziantep no sudeste da Turquia. Durante sua visita ao escritório em Gaziantep ele foi filmado com uma câmera escondida. No escritório havia uma série de máquinas de contagem de dinheiro. O escritório empregava somente sírios.
O ISIS exigiu US$20.000 pela mulher e US$15.000 pelo menino de 11 anos. A filmagem mostra Mital entregando o dinheiro aos sírios dentro do escritório, que então contaram o dinheiro usando as máquinas de contagem de dinheiro.
Após entregar o dinheiro, ele foi a um hotel na Síria onde aguardou receber uma mensagem pelo WhatsApp. Em seguida ele foi informado que seria contatado para a entrega da mulher e das três crianças. Quando os membros da família yazidi se encontraram com seus parentes na Síria, eles caíram em prantos. (Fonte: "canal de TV alemão filma o Tráfico de escravos do EIIL na Turquia", 3 de dezembro de 2015, Today's Zaman.)
[2] Outras perguntas que fazem parte da moção de Togrul:
"Considerando que o montante que o ISIS aufere com o tráfico de escravos de mulheres e de crianças esteja correto, quem é o intermediário que transfere o dinheiro? Que meios ele utiliza para transferir o dinheiro para o ISIS?
"O governador tem conhecimento do escritório de venda de escravos do ISIS em Gaziantep? Caso tenha, ele emitiu algum comunicado ou fez alguma apuração?
"Quantas mulheres e meninas yazidis que o ISIS sequestrou na região curda do sul do Iraque ingressaram na Turquia e em Gaziantep?
"O senhor dispõe de informações sobre o número de mulheres yazidis e de outras mulheres refugiadas que se encontram em Gaziantep e em que local elas estão abrigadas?
"Quantas células do ISIS foram atacadas até agora? Quantas pessoas foram detidas nessas células? O senhor teve acesso ou tomou conhecimento se os membros dessa organização terrorista se envolveram no tráfico de escravos de mulheres e crianças yazidis?
"Quantas células filiadas ao ISIS há em Gaziantep? As unidades da inteligência turca têm dados sobre essa matéria? Caso tenham, por que elas não intervêm na organização terrorista ISIS que faz tráfico de escravos? O fato delas não intervirem não significa que elas são cúmplices?
"A organização terrorista ISIS usa Gaziantep como base. Que tipo de precaução seu ministério planeja tomar contra isso"?

fonte -  http://pt.gatestoneinstitute.org/7126/isis-turquia-escravos

Descaminho do Rio - MIRIAM LEITÃO

COLUNA NO GLOBO


POR MÍRIAM LEITÃO
Abateu-se sobre o Rio a síndrome conhecida como a “maldição do petróleo”. Estados e países produtores cometeram tantas vezes esse erro no passado, que é impressionante que ele seja repetido. Mas foi. Quando o preço do barril subiu, o estado e as cidades produtoras não previram que ele poderia cair e tampouco fizeram uma reserva de contingência.
Qualquer estado ou país que viva da riqueza do petróleo tem que entender duas coisas: que ela é finita, e que oscila. Os preços do petróleo, que no início do século chegaram a US$ 20 o barril, subiram e ficaram acima de US$ 100 por muito tempo. Aquele era o momento de o Rio se preparar para a eventualidade de perder receita, criando reservas para se preparar para a realidade que vive hoje e que provoca o descalabro da Saúde.
Ele não fez isso e, pior, passou a sofrer, por incentivo do ex-presidente Lula, um ataque dos outros estados a esta receita. O governo federal, ao propor o novo marco regulatório, estimulou o conflito federativo que acabou redundando na nova divisão do bolo dos royalties e participações especiais.
Só não ficou pior porque foi possível evitar que a redivisão pegasse inclusive a exploração de petróleo iniciada antes da mudança do marco regulatório. Mesmo assim era um indício de que a melhor época passara e que o Rio precisava ter no seu planejamento estratégico o cenário da queda de uma parte da arrecadação.
O preço do petróleo começou a cair com a exploração do gás de xisto — ou, como preferem os especialistas, o gás de folhelho — e depois se acentuou com a volta do Irã aos principais mercados. Esses novos sinais continuaram sendo ignorados, até que se chegou ao petróleo de pouco mais de US$ 35. E pior, houve o fator complicador da queda dos investimentos em novas produções provocada pela crise da Petrobras, após a descoberta dos absurdos cometidos pelo governo petista na empresa.
Quando a Petrobras parecia um pote de ouro, o governo do PT montou a estratégia de tirar da empresa o financiamento para seu projeto de manutenção do poder. Felizmente as instituições brasileiras estão trabalhando para investigar e punir os responsáveis pela extração de dinheiro coletivo. Mas a soma da crise corporativa com o recuo no preço do petróleo piorou a queda na receita do Rio de Janeiro.
Tudo bateu este ano, mas a crise estava desenhada há tempos. Faltou, portanto, planejamento administrativo para se preparar para a falta de recursos que impede o cumprimento de compromissos normais. O ajuste do Rio tinha que ter começado bem antes, com a redução do gasto para preservar as atividades essenciais. Agora, o estado está vivendo um fim de ano horroroso, com a Saúde em colapso, sendo socorrido pela prefeitura da capital e pelas doações do governo federal. As transferências regularizaram a situação por enquanto, aliviando as agruras dos pacientes, mas a crise é maior.
O problema da economia é nacional. Cai a arrecadação do Tesouro e de todos os estados por causa da recessão, que se prolongará no ano que vem. Mas o Rio tem um componente da crise que é específico e decorre da falta de planejamento quando a arrecadação de royalties e participação especial do petróleo havia aumentado. Aquele era o melhor momento para usar uma parte da receita em um fundo de contingência. O dinheiro, porém, foi em parte usado para a previdência dos funcionários. De novo, era o estado gastando os recursos com ele mesmo.
O mundo tem muitos exemplos de países que usaram como permanente a riqueza temporária e volátil do petróleo. O caso mais agudo de utilização errada é a Venezuela que agora despenca numa recessão que pode chegar a 10%. O governo chavista usou para seu projeto de poder, tentou calar a classe média subsidiando fortemente a gasolina e cometeu todos os erros clássicos em países produtores de petróleo. A Noruega, por sua vez, continua como um dos poucos exemplos virtuosos nesta área. O país montou fundos com uma engenharia financeira a preservar o principal para as futuras gerações e para o momento em que o petróleo não vai mais remunerar o país. O mundo avança para se afastar dos combustíveis fósseis nas próximas décadas. O Rio precisa encontrar um caminho sustentável.

Comunismo e Fascismo - Irmãos Siameses - Carlos Ilich Santos Azambuja

sábado, 26 de dezembro de 2015



“Primeiro a sentença, depois o veredicto!”, gritou a Rainha (“Alice no Pais das Maravilhas”)

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos I. S Azambuja

O comunismo e o fascismo são filhos da I Guerra Mundial, inimigos gêmeos, embora seja verdade que Lenin estivesse preparando suas concepções políticas desde o início do século. Todavia, também muitos dos elementos que deram forma, uma vez articulados, à ideologia fascista, preexistem à guerra. O Partido Bolchevique tomou o poder em 1917, graças à guerra, e Mussolini e Hitler constituíram seus partidos nos anos imediatamente seguintes a 1918, como resposta à crise nacional produzida pelo resultado da guerra.

O ódio recíproco de um pelo outro foi fundamental para o desenvolvimento dos dois movimentos. O fascismo alimentando-se do medo do comunismo e vice-versa. Isso, todavia, não impediu a União Soviética de ter tido boas relações com a Itália de Mussolini até meados dos anos 30 e de dar apoio à direita alemã em 1920 contra os vencedores da 1ª Guerra Mundial. Posteriormente, a Alemanha de Hitler e a União Soviética, entre 1939 e 1941, durante a 2ª Guerra Mundial, foram aliados, como veremos a seguir. Por outro lado, a estratégia de “classe contra classe”, ditada pelo Komintern ao Partido Comunista Alemão, constituiu-se em fator de força para a  ascensão de Hitler ao Poder, em 1933, pois dividiu a esquerda alemã.

O mais interessante é a comparação interna das duas ideologias. Embora o fascismo não tivesse o mesmo pedigree filosófico do marxismo, os dois nasceram, como partidos de massa, na mesma época, logo depois da 1ª Guerra Mundial. A vitória da Revolução Bolchevique, na Rússia, foi uma resposta em nome do proletariado, e a chegada de Hitler ao poder, em 1933, na Alemanha, constituiu outra resposta, em nome da Nação.

Bolchevismo e fascismo, no entanto, tiveram a mesma matriz e o mesmo projeto de acabar com a dominação da burguesia. As duas ideologias se caracterizaram por um extraordinário voluntarismo, porque julgavam que a tomada do poder permitiria revolucionar as condições do contrato social, submetendo a economia ao controle do partido e suprimindo a liberdade das pessoas.

O Komintern, que, repetimos, nada mais era do que a vontade de Stalin transmitida a todos os partidos comunistas do mundo, facilitou, de certo modo, o desenvolvimento da extrema-direita, face às táticas que aprovou e difundiu, para poder denunciar o fascismo. Por absoluta carência de idéias sobre o que seria a sociedade comunista, essa esquerda bolchevista refugiou-se nas facilidades proporcionadas pelo antifascismo, uma palavra-de-ordem que unia comunistas e não-comunistas.    


Um adolescente de hoje, no Ocidente, não seria capaz de conceber as paixões nacionais que levaram os povos europeus a se matarem uns aos outros durante quatro anos. A I Guerra Mundial foi uma luta travada entre Estados soberanos em nome de paixões nacionais, embora esse seu caráter não pudesse ser vislumbrado na época, e seus prolongamentos menos ainda. Esta foi a fundamental diferença com a II Guerra Mundial, quase que inscrita antecipadamente nas circunstâncias e nos regimes da década de 30 e, por isso, tristemente dotada desse eco tão duradouro, que a prolongou até a queda do Muro de Berlim. Ou seja, até nós.

O bolchevismo viu-se fortalecido na Europa por sua radical oposição à guerra, desde seu início, em 1914, e teve a vantagem de conferir um sentido a esses anos terríveis graças ao prognóstico precoce que fez sobre eles. Isso concorreu de forma eficaz para levá-lo à vitória revolucionária de Outubro. Ao caráter feroz da guerra, ele ofereceu remédios não menos ferozes. O que a hecatombe teve de inaudita encontrou, através de Lenin, responsáveis e bodes expiatórios: o imperialismo, os monopólios capitalistas, a burguesia internacional. Com isso, os bolcheviques definiram, em proveito próprio, que seriam esses os inimigos a serem derrotados: uma classe internacional, que deveria ser vencida pelo proletariado mundial.

Em 1917, o que contava era a proclamação bolchevique da revolução mundial. De um “putsch” bem sucedido, dirigido por um chefe comunista audacioso, no país mais atrasado da Europa, a conjuntura fez dele um acontecimento modelo, destinado a orientar a História Universal, exatamente, como em seu tempo, fez a Revolução Francesa. Através do cansaço geral da guerra e da cólera dos povos vencidos, a ilusão que Lenin forjou com sua ação logo viria a ser compartilhada por milhões de pessoas.

Enquanto os bolcheviques tomaram o poder aproveitando-se da anarquia, os nazistas, em 1933, o tomaram brandindo o temor à anarquia. Ambos submeteram a si o Estado e, através dele e, principalmente, do partido, passaram a controlar toda a sociedade Ambos criaram um “inimigo do povo”: o burguês, para Stalin, e o judeu, para Hitler, pois era necessário que a eventualidade de uma conspiração contra o Estado permanecesse onipresente, a fim de que o povo ficasse mobilizado e o regime, eternizado. 

A ironia é que os dois regimes totalitários, idênticos quanto à sua pretensão de Poder absoluto, apresentavam-se cada um como sendo opositor ao perigo representado pelo outro

Em toda a Europa, os militantes revolucionários remobilizados pela situação política, achavam que Lenin lhes oferecia um modelo. Assim, rapidamente foi efetuada a bolchevização de uma parte considerável da esquerda européia, bolchevização essa que, embora tenha fracassado em levar seus partidários ao Poder, deixou partidos e idéias feitas sob um modelo único em toda a Europa e logo depois em todo o mundo.

Em seguida, foi esquecido o que a Revolução Bolchevique tinha de russo pelo que ela tinha de universal. Sobre o Palácio de Inverno, dos czares, a estrela vermelha com a foice e o martelo passou a encarnar a revolução mundial, e as peripécias da História iriam reduzindo ou dilatando, a cada geração, o prestígio desse mito, sem nunca extinguí-lo, até que Gorbachev, o último dos bolcheviques, se encarregasse, inadvertidamente, de fazê-lo com a ajuda de duas palavrinhas: “perestroika” e “glasnost”.

O fascismo, por sua vez, surgiu como uma reação do particular contra o universal; do povo contra a classe; do nacional contra o internacional. Embora em suas origens ele seja inseparável do comunismo, combateu seus objetivos ao mesmo tempo em que imitou seus métodos.

O exemplo clássico é o da Itália. Fundador do fascismo em março de 1919 - mesma época em que Lenin fundava a III Internacional -, Mussolini pertencera à ala revolucionária do movimento socialista em seu país. O fascismo, com seus grupos de combate paramilitares, somente nos anos 20 e 21 ganharia extensão nacional, na batalha contra as organizações revolucionárias de trabalhadores agrícolas do norte da Itália. Uma verdadeira guerra civil que mostrou, pela primeira vez, a fraqueza do Estado liberal frente às duas forças em luta.

No caso de Hitler, o Partido Nacional-Socialista Alemão dos Trabalhadores existia antes dele, mas somente ganhou consistência a partir de 1919, quando da filiação de Hitler, que o animou com sua eloqüência. Embora não tivesse um passado socialista, Hitler era um admirador de Mussolini, e atribuiu à doutrina um adjetivo que iria facilitar sua ascensão: nacional-socialista.

A inovação de Hitler com relação a Mussolini foi a erradicação dos judeus, símbolos, ao mesmo tempo, do bolchevismo e do capitalismo, considerados uma potência cosmopolita demoníaca. A eles, Hitler alimentou um ódio ecumênico que reunia duas abominações distintas: o ódio ao dinheiro e o ódio ao comunismo. Oferecer à abominação, conjuntamente, o burguês e o bolchevique, através do judeu, pode ser considerada a grande “invenção” de Hitler. 

Sem dúvida, o Tratado de Versalhes, ao final da I Guerra, não deixou de ter uma parte de responsabilidade sobre isso. Mas é preciso ter em conta, também, que tão logo foi dado o último tiro de canhão, defender a Nação contra a revolução comunista tornou-se mais urgente do que ensiná-la a viver em uma nova ordem internacional na qual a Alemanha já entrava enfraquecida. A prioridade do bolchevismo criou, portanto, seu antípoda: a prioridade do anti-bolchevismo.

Sem complexos de tomar emprestado o que era preciso das idéias da revolução, o fascismo passou a exaltar desmedidamente a ameaça bolchevique, e vice-versa.

Bolchevismo e fascismo entraram, portanto, quase juntos, no teatro da História. Embora ideologias relativamente recentes, hoje nos parecem - conforme o caso - absurdas, deploráveis e criminosas. No entanto, uma contra a outra fizeram a História deste século, mobilizando esperanças e paixões em milhões de pessoas.

O que torna inevitável uma comparação entre fascismo e bolchevismo não é apenas o fato de terem surgido quase simultaneamente. É também sua dependência mútua: o fascismo surgiu como uma reação ao comunismo, e o comunismo parece ter prolongado o seu tempo de vida graças ao anti-fascismo. Os Gulags, no entanto, são anteriores a Auschwitz, onde os judeus foram eliminados em escala industrial.

Embora tenham sido inimigos declarados, não deixaram de ser, também, inimigos-cúmplices. A vontade de se combaterem os uniram, como comprovou o Pacto assinado em agosto de 1939 entre Hitler e Stalin.

O regime soviético sob Stalin, no início da década de 30, no entanto, não tem precedentes em toda a História, pois não se assemelha a nada que jamais tenha existido. Nunca um Estado teve como objetivo matar, deportar ou reduzir à servidão os seus camponeses e nunca um partido substituiu tão completamente um Estado. Nunca uma ditadura teve um poder tão grande em nome de uma mentira tão completa e, contudo, tão poderosa e tão perfeita sobre as mentes, que fazia com que os que a temiam ao mesmo tempo saudassem seus fundamentos. 

A maior motivação para a cumplicidade entre o comunismo e o fascismo era a existência de um adversário comum, que as duas doutrinas inimigas exorcizavam através da idéia de que, naqueles anos, a democracia, pela qual fascistas e comunistas sempre manifestaram a mesma repulsa e que constituía o terreno ideal para a expansão de ambos, estivesse agonizante.

A sedução fundamental do marxismo era o seu caráter universalista, e o sentimento de igualdade entre todos os homens era o seu motor psicológico principal. O fascismo, por sua vez, recorreu, para destruir o individualismo burguês, apenas a frações da humanidade: à Nação e à raça. Estas, por definição, excluíam aqueles que dela não faziam parte, e até se posicionavam contra eles. Isso se refletia em uma suposta superioridade sobre os demais grupos de pessoas e de um constante antagonismo frente a eles. Àqueles que não tiveram a sorte de fazer parte da raça superior ou da Nação eleita, o fascismo propunha a opção entre a resistência sem esperança, a submissão sem honra, ou a câmara de gás.

O militante bolchevique, ao contrário, propalava ter como objetivo a emancipação do gênero humano. A revolução bolchevique pretendia-se mais universal, porque proletária. Libertaria o proletariado da única coisa que este tinha a perder: suas correntes, como escreveu Marx no Manifesto. 

Todavia, o partido, dirigido por um seleto coletivo cuja opinião do primeiro dentre eles sempre foi a preponderante, sempre se intitulou o “estado-maior da classe operária”. A dissolução da Assembléia Nacional Constituinte, em janeiro de 1918, no primeiro dia do seu funcionamento, a interdição dos demais partidos, a eliminação do discenso dentro do partido único, substituíram o poder da lei pelo poder absoluto do Secretário-Geral. A palavra-de-ordem de Lenin, antes da revolução, de “todo o poder aos sovietes”, não passou de uma palavra-de-ordem, pois jamais foi posta em prática.

Nessas condições, o espantoso não é que o universalismo bolchevique tenha suscitado, desde sua origem, tantos e tão ferozes adversários. O espantoso é que, isto sim, tenha encontrado tantos e tão incondicionais partidários, principalmente entre as classes mais instruídas.

Finalmente, resta uma referência sobre a analogia entre comunismo e fascismo: Stalin exterminou milhões de compatriotas seus em nome da luta pela criação do homem-novo, e Hitler fez o mesmo a milhões de judeus, em nome da pureza da super-raça, a raça ariana. Além disso, existiam afinidades várias e definitivas: ambos não tinham temor a Deus e eram hostis à religião e às crenças; ambos substituíram a autoridade divina pela força da evolução e do determinismo histórico; e ambos desprezavam as leis em nome de uma suposta “vontade política das massas”,  combatendo o presente sob a bandeira de um futuro redentor.

No entanto, existiam também diferenças, sendo a fundamental a de o fascismo ter encontrado seu berço em sociedades desenvolvidas, como o norte da Itália e a Alemanha; e o comunismo em “uma sociedade medieval, primitiva e amorfa” - conforme expressão utilizada por Antonio Gramsci, fundador do Partido Comunista Italiano -, o que parece comprovar que a educação e o desenvolvimento não conduzem, necessariamente, a comportamentos políticos racionais. 

Carlos Ilich Santos Azambuja é Historiador.