sábado, 21 de abril de 2012

Carne na brasa (por Miriam Leitão)


Enviado por Míriam Leitão - 
21.4.2012
 | 
9h00m
COLUNA NO GLOBO


O maior grupo brasileiro de carne, o JBS, foi notificado pelo Ministério Público do Mato Grosso pela compra de 3.476 cabeças de gado de fazendas embargadas pelo Ibama, instaladas em áreas de preservação ou flagradas em trabalho escravo. Joesley Batista, o presidente do grupo, me disse que está mais preocupado com a vida humana em risco no Brasil, porque 5 milhões de bois são abatidos por ano sem inspeção sanitária.
— As árvores derrubadas hoje podem afetar a vida humana daqui a 50 anos, mas, neste momento exato, brasileiros estão comendo carne de frigoríficos municipais sem qualquer fiscalização. O veterinário assina o bloquinho de notas, fingindo que fiscalizou, e nem olha o boi. É uma calamidade. Terríveis doenças podem ser contraídas, como a teníase, que leva à loucura. O hospício está cheio de doido que comeu carne que as autoridades não fiscalizaram — diz Joesley.
O Brasil virou o campeão mundial do mercado de carne no mundo, o BNDES colocou muito dinheiro público no projeto de concentrar e globalizar o setor. O JBS foi escolhido para ser o maior. Analisei o tema, li relatórios, falei com ONGs, Ministério Público, BNDES, e tive uma conversa de duas horas e meia com o presidente do maior frigorífico do Brasil e do mundo.
Joesley garante que fez esforço e aumentou o controle para eliminar da sua cadeia produtiva as fazendas envolvidas em crime.
— Se o JBS não comprar o bicho, outros compram. Todo mundo compra. Eu fico sendo o chato. Assinei o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público, por isso sou vigiado, mas e os que não assinaram? O BRF, empresa grande e emblemática também, tem duas plantas de abate de bovino em Mato Grosso, mas não assinou o compromisso que assinamos. O Carrefour, Pão de Açúcar, Walmart não querem saber de onde vem a carne — afirma.
Em 2009, houve uma ofensiva contra o desmatamento e outros crimes da pecuária. O Greenpeace divulgou relatório provando a ligação dos grandes frigoríficos com produtores que praticavam crimes de trabalho escravo, desmatamento ilegal, invasão de terra indígena. A ONG Repórter Brasil também investigou e denunciou. O Ministério Público Federal iniciou a campanha “carne legal”. O MP, em vários estados, iniciou ações contra frigoríficos.
Os grandes supermercados assumiram compromissos públicos de que só comprariam carne de quem vigiasse sua cadeia produtiva. Foi assinado um acordo dos grandes frigoríficos de que em seis meses eles eliminariam esses crimes da sua cadeia produtiva. Não cumpriram. Ganharam novo prazo. Marfrig e Minerva não foram apanhados em novos casos, mas o JBS, sim. O MP do Acre iniciou uma Ação Civil Pública contra o JBS, em abril de 2011, por comprar de produtores com crimes ambientais e trabalhistas, mas, em seguida, o grupo assinou um TAC, que estará completamente em vigor apenas em setembro. Já no Mato Grosso, em outubro de 2011, o MP notificou a empresa porque comprovou pelo Guia de Transporte Animal, que o JBS havia abatido 3.476 cabeças de gado de 34 fazendas que cometeram crimes: 13 delas, propriedades embargadas pelo Ibama; outras, por desmatamento ilegal de produtores que grilaram terras dos indígenas Marãiwatsede; e uma (144 bois), da lista suja do trabalho escravo. Depois da notificação, a empresa não comprou mais desses produtores.
— Não somos certificadores de frigorífico, mas os compradores internacionais nos perguntam se o JBS compra de produtores com atividades ilegais. Dizíamos que ele estava com um prazo para cumprir o acordo. Agora, informamos que eles não estão cumprindo — diz Paulo Adário, do Greenpeace.
A ONG lançou a campanha “Salve a sua pele”, na Feira de Bolonha, na Itália, no fim de 2011, e fez um desfile de modelos denunciando aos compradores de couro essa conexão.
Joesley Batista diz que os sistemas de informação dos órgãos públicos sobre as fazendas são falhos:
— Muitas vezes, na hora que eu compro o boi a fazenda não está na lista do Ibama nem do Ministério do Trabalho. Depois do abate, ela entra. Por isso, melhorei o sistema de fiscalização e já até devolvi boi comprado. Mas aí o outro vai e compra. Digo sinceramente, 90% do tempo eu me preocupo com outro problema gravíssimo que é a saúde humana em risco no Brasil.
A denúncia que ele faz sobre a inspeção sanitária é de fato grave. Isso não abona os outros erros. O ideal é atacar os dois problemas.
Joesley me entregou um relatório com os seguintes números: há 206 frigoríficos no Brasil que têm inspeção sanitária federal. Que é bem feita e rigorosa, segundo ele. Há 422 frigoríficos que só têm inspeção estadual. Há níveis diferentes de qualidade da fiscalização. Minas é o pior estado, segundo Joesley. Os municípios fiscalizam 762 estabelecimentos:
— Existe um sistema de padrão internacional, o Riispoa, de inspeção. Ele só é cumprido pelos fiscais do Ministério da Agricultura. Nos estados, há alguma exigência. Nos municípios, o que acontece é brincadeira. Ninguém olha nada. Das 35 milhões de cabeças de gado abatidas por ano no Brasil, 20 milhões estão sob inspeção federal, os outros 15 milhões são abatidos com pouca ou nenhuma análise. Os brasileiros que comem essa carne estão correndo riscos.

A Guerra das Togas informa que o Judiciário não escapou da Era da Mediocridade


Autor: Augusto Nunes - Veja

Precipitada pelas declarações de Cezar Peluso à revista Consultor Jurídico, consumou-se nesta sexta-feira, com a entrevista de Joaquim Barbosa ao Globo, a abertura da mais selvagem das frentes de combate que compõem a Guerra das Togas. Somada às batalhas paralelas, a troca de chumbo entre o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e o relator do processo do mensalão comprova que o que foi historicamente o corpo de elite do Judiciário vai sucumbindo aos estragos causados pela Era da Mediocridade na Praça dos Três Poderes. Está cada vez mais parecido com o Executivo e o Legislativo.
Enquanto os ministros foram escolhidos entre os melhores e os mais brilhantes, enquanto o preeenchimento das vagas no STF esteve subordinado à meritocracia e às exigências constitucionais que cobram dos indicados notável saber jurídico e reputação ilibada, nem o mais delirante ficcionista ousaria conceber um bate-boca semelhante ao protagonizado por Peluso e Barbosa. Ao queixar-se do “temperamento difícil” de Barbosa e qualificá-lo de “inseguro”, Peluso fez o papel do aluno brigão que provoca o colega no fim das aulas. O revide do provocado transferiu da porta do colégio para o botequim essa molecagem de gente supostamente adulta.
Na réplica ao desafeto, Barbosa temperou acusações de alta voltagem, incluindo a “manipulação de resultados de julgamentos”, com adjetivos insolentes ─ “ridículo”, “brega”, “caipira”, “tirano” e “pequeno”, por exemplo. Peluso não respondeu de imediato, mas a tréplica está em gestação. Embora recentes, parece anterior ao Descobrimento o Brasil em que os juízes só falavam nos autos. Agora falam em qualquer lugar. Falam tanto que lhes falta tempo para falar nos autos.
Se discursassem menos e julgassem mais, já teriam liquidado há anos o caso do mensalão, que segue estimulando barulhos em outras frentes da Guerra das Togas. Ao longo desta semana, todas registraram tiroteios retóricos. Numa das áreas conflagradas, ao repetir que o STF precisa definir o destino dos mensaleiros ainda neste semestre, Gilmar Mendes expôs-se ao contra-ataque de Marco Aurélio de Mello, para quem não faz sentido “julgar a toque de caixa” um escândalo descoberto há sete anos. Sem ficar ruborizado, Marco Aurélio garantiu que há na fila de espera pelo menos 700 processos tão relevantes quanto a roubalheira de dimensões siderais.
Vizinho de trincheira, Dias Toffoli murmurou que ainda não sabe se deve participar do julgamento que envolve velhos companheiros ou declarar-se sob suspeição. Como se a dúvida pudesse existir. Antes de virar ministro, Toffoli foi advogado do PT e, no governo Lula, chefiou a Advocacia Geral da União. Depois de ganhar a toga, sua namorada advogou em defesa de alguns mensaleiros. “Ele não tem o direito de ficar fora”, cobrou Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo. O parecer de Marinho atesta que, neste estranho Brasil, os companheiros é que decidem o que deve fazer um juiz do Supremo. Instado por outros ministros a apressar a entrega do serviço, Ricardo Lewandowski retrucou que ninguém o fará acelerar o ritmo de obra do PAC. Ele ainda não revelou quando vai concluir a revisão do processo ─ informação que, na avaliação mais recente, vale 1 milhão de dólares.
“Japona não é toga”, lembrou o senador Auro Moura Andrade aos ministros militares que, no fim de setembro de 1961, continuavam negando ao vice João Goulart o direito de instalar-se no gabinete abandonado pelo presidente Jânio Quadros. Com uma curta frase, o senador que presidia o Congresso ensinou que cabe ao Supremo Tribunal Federal lidar com assuntos constitucionais e reiterou a confiança dos democratas na sensatez dos ministros. Passados 50 anos, os focos de turbulência não envolvem brasileiros fardados. E os mais inquietantes se localizam na Praça dos Três Poderes.
A frase de Auro perdeu a validade num Brasil sobressaltado por juízes sem juízo. Se os ministros do STF agissem nos quartéis, haveria uma crise político-militar de meia em meia hora. Ainda bem que toga não é japona.

Intolerância religiosa (por Drauzio Varella)


Era o que tínhamos a dizer… 


POR DRAUZIO VARELLA*

O fervor religioso é uma arma assustadora, disposta a disparar contra os que pensam de modo diverso
SOU ATEU e mereço o mesmo respeito que tenho pelos religiosos.
A humanidade inteira segue uma religião ou crê em algum ser ou fenômeno transcendental que dê sentido à existência. Os que não sentem necessidade de teorias para explicar a que viemos e para onde iremos são tão poucos que parecem extraterrestres.
Dono de um cérebro com capacidade de processamento de dados incomparável na escala animal, ao que tudo indica só o homem faz conjecturas sobre o destino depois da morte. A possibilidade de que a última batida do coração decrete o fim do espetáculo é aterradora. Do medo e do inconformismo gerado por ela, nasce a tendência a acreditar que somos eternos, caso único entre os seres vivos.
Todos os povos que deixaram registros manifestaram a crença de que sobreviveriam à decomposição de seus corpos. Para atender esse desejo, o imaginário humano criou uma infinidade de deuses e paraísos celestiais. Jamais faltaram, entretanto, mulheres e homens avessos a interferências mágicas em assuntos terrenos. Perseguidos e assassinados no passado, para eles a vida eterna não faz sentido.
Não se trata de opção ideológica: o ateu não acredita simplesmente porque não consegue. O mesmo mecanismo intelectual que leva alguém a crer leva outro a desacreditar.
Os religiosos que têm dificuldade para entender como alguém pode discordar de sua cosmovisão devem pensar que eles também são ateus quando confrontados com crenças alheias.
Que sentido tem para um protestante a reverência que o hindu faz diante da estátua de uma vaca dourada? Ou a oração do muçulmano voltado para Meca? Ou o espírita que afirma ser a reencarnação de Alexandre, o Grande? Para hindus, muçulmanos e espíritas esse cristão não seria ateu?
Na realidade, a religião do próximo não passa de um amontoado de falsidades e superstições. Não é o que pensa o evangélico na encruzilhada quando vê as velas e o galo preto? Ou o judeu quando encontra um católico ajoelhado aos pés da virgem imaculada que teria dado à luz ao filho do Senhor? Ou o politeísta ao ouvir que não há milhares, mas um único Deus?
Quantas tragédias foram desencadeadas pela intolerância dos que não admitem princípios religiosos diferentes dos seus? Quantos acusados de hereges ou infiéis perderam a vida?
O ateu desperta a ira dos fanáticos, porque aceitá-lo como ser pensante obriga-os a questionar suas próprias convicções. Não é outra a razão que os fez apropriar-se indevidamente das melhores qualidades humanas e atribuir as demais às tentações do Diabo. Generosidade, solidariedade, compaixão e amor ao próximo constituem reserva de mercado dos tementes a Deus, embora em nome Dele sejam cometidas as piores atrocidades.
Os pastores milagreiros da TV que tomam dinheiro dos pobres são tolerados porque o fazem em nome de Cristo. O menino que explode com a bomba no supermercado desperta admiração entre seus pares porque obedeceria aos desígnios do Profeta. Fossem ateus, seriam considerados mensageiros de Satanás.
Ajudamos um estranho caído na rua, damos gorjetas em restaurantes aos quais nunca voltaremos e fazemos doações para crianças desconhecidas, não para agradar a Deus, mas porque cooperação mútua e altruísmo recíproco fazem parte do repertório comportamental não apenas do homem, mas de gorilas, hienas, leoas, formigas e muitos outros, como demonstraram os etologistas.
O fervor religioso é uma arma assustadora, sempre disposta a disparar contra os que pensam de modo diverso. Em vez de unir, ele divide a sociedade -quando não semeia o ódio que leva às perseguições e aos massacres.
Para o crente, os ateus são desprezíveis, desprovidos de princípios morais, materialistas, incapazes de um gesto de compaixão, preconceito que explica por que tantos fingem crer no que julgam absurdo.
Fui educado para respeitar as crenças de todos, por mais bizarras que a mim pareçam. Se a religião ajuda uma pessoa a enfrentar suas contradições existenciais, seja bem-vinda, desde que não a torne intolerante, autoritária ou violenta.
Quanto aos religiosos, leitor, não os considero iluminados nem crédulos, superiores ou inferiores, os anos me ensinaram a julgar os homens por suas ações, não pelas convicções que apregoam.
*Publicado hoje na “Folha de S.Pauo” e excepcionalmente aqui reproduzido.

Uma rede criminosa que corrompe o País



Como o bicheiro montou um verdadeiro império empresarial para desviar verbas, fraudar licitações, lavar dinheiro e se infiltrar no poder público. Esse bilionário esquema de corrupção funciona há 16 anos e se espalha por todo o Brasil

INVESTIGAÇÃO
CPI pretende apurar o alcance do esquema de Cachoeira

Na semana passada, ISTOÉ obteve a íntegra do inquérito da Operação Monte Carlo, que resultou na prisão do bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. São quase 15 mil páginas, reunidas em 40 volumes e duas dezenas de apensos, além de 11 mil horas de gravações. Na análise do processo, do qual apenas alguns trechos eram conhecidos até então, a Polícia Federal não só traz à tona as relações promíscuas do esquema do bicheiro com autoridades nos três níveis de poder como esmiúça um império de empresas criadas com a finalidade de corromper em todo o País, desviar verbas, fraudar licitações e lavar o dinheiro ilegal. O levantamento também deixa claro que o grupo de Cachoeira vem agindo há pelo menos 16 anos e foi capaz de ultrapassar diversos governos e tonalidades partidárias. “Aqui come todo mundo, cara. Se não pagar pra todo mundo não funciona. Eu tô nisso há 16 anos!”, sintetiza Lenine Araújo de Souza, o braço direito de Cachoeira, em diálogo gravado pela Polícia Federal. ...

A descentralização dos negócios e o uso extensivo de laranjas deram capilaridade nacional à atuação de Cachoeira. Embora o bicheiro mantenha o controle das empresas por meio de um núcleo formado por parentes e amigos próximos, a PF identificou pelo menos 149 pessoas que em algum momento estiveram ou ainda estão associadas à quadrilha. Normalmente, a máfia de Cachoeira participa de licitações que já consideram ganhas, à base, é claro, de pagamentos de propina para autoridades e servidores estratégicos. A análise desse império de dimensões bilionárias indica que Cachoeira, nos últimos anos, usou especialmente empresas ligadas à área de medicamentos para se aproximar de governos em, no mínimo, nove Estados. O objetivo do empresário-bicheiro era abocanhar uma bilionária fatia da verba pública destinada à compra de medicamentos genéricos. Para isso, criou o laboratório Vitapan, com sede em Anápolis (GO), que rapidamente se tornou um dos principais fornecedores nacionais de genéricos. O laboratório foi uma espécie de cartão de visitas de Cachoeira para se infiltrar em governos estaduais e municipais. Hoje, a empresa está avaliada em R$ 100 milhões, tem convênios até com a Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e está associada a outros grandes do setor, como a Neo Química e o laboratório Teuto Brasileiro. A Neo Química está hoje nas mãos do grupo Hypermarcas do empresário Marcelo Henrique Limírio, sócio de Cachoeira no Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF), que produz testes laboratoriais e faturou R$ 10 milhões em 2010, segundo a PF. Limírio também é sócio do senador Demóstenes Torres no Instituto de Nova Educação, faculdade criada em Contagem, e doou R$ 2,2 milhões para as campanhas de Demóstenes e do governador de Goiás, Marconi Perillo.

Ao longo dos últimos 16 anos, Cachoeira aprimorou e diversificou esse esquema. Mas, no início de suas atividades, ele usava empresas de gestão de loterias, seu core business, para fazer a aproximação com o poder público. Com a empresa Capital Bet, ele venceu sozinho a concorrência para a distribuição de bilhetes de loterias no Rio Grande do Sul, em 2001, na gestão Olívio Dutra. Com a Gerplan, que controlava a loteria em Goiás, entrou no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. O modus operandi incluía fraudes nos prêmios das loterias e suborno de autoridades, como foi revelado no escândalo Waldomiro Diniz, que desembocaria na CPI dos Bingos.
 
ALVO
Senador Demóstenes Torres reaparece no Congresso e gera tumulto

Hoje as organizações de Cachoeira possuem tentáculos que vão muito além da loteria e do jogo do bicho. Entre os negócios com fachada legal mais lucrativos de Cachoeira, está a construção civil. Até aqui desconhecida do mercado, a Mapa Construtora firmou contratos com prefeituras do Ceará e de São Paulo. Na capital paulista, a empreiteira é a responsável pela construção do edifício que vai abrigar o arquivo geral da USP – contrato de R$ 2,1 milhões. Na cidade cearense de Vartoja, firmou convênios de R$ 1,8 milhão para a construção de uma escola infantil e uma quadra esportiva, que ainda não saíram do papel. Outra empresa do grupo do bicheiro, a Trade Construtora, obteve contrato de obras públicas em Anápolis, na atual gestão do petista Antônio Gomide. A Trade foi condenada pela Controladoria do Estado a devolver R$ 360 mil por irregularidades. Esses contratos, no entanto, representam uma pequena parcela do lucro de Cachoeira no setor.

A partir de rastreamentos bancários feitos pela PF, sabe-se agora que boa parte dos recursos públicos que irrigaram o esquema do bicheiro saiu de contratos da Construtora Delta, líder de repasses do governo na área do Ministério dos Transportes. Segundo a PF, Cachoeira seria “sócio oculto” da Delta, articulando negócios conjuntos com a empreiteira, discutindo planilhas de obras, compartilhando funcionários e, inclusive, despachando da própria sede da empresa. Um dos diálogos interceptados pela PF mostra como Cachoeira e a Delta fizeram um consórcio para a compra da empresa Ideal Segurança, responsável pela segurança de aterros sanitários controlados pela Delta, por R$ 199 milhões. Em outro grampo revelador, até agora inédito, descobre-se que o ex-diretor do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) Luiz Antônio Pagot foi monitorado clandestinamente por pelo menos dois anos. “Tem mais de um ano que o tal do Pagot tá no grampo, entendeu?”, conta o espião Dadá ao bicheiro, em 11 de julho de 2011. Questionado por ISTOÉ, Pagot confirmou que, quando estava no comando do Dnit, foi informado por um delegado amigo sobre a existência de grampos no gabinete em Brasília e em seu escritório em Cuiabá (MT). A deflagração da Operação Monte Carlo indica que Cachoeira trabalhou pela demissão de Pagot e da cúpula do Ministério dos Transportes. Agora, suspeita-se que a Delta pode ter tido acesso a informações privilegiadas de dentro do Dnit, responsável pelas maiores obras da empreiteira.

Sócio ou não da Delta, está cada vez mais claro que a empreiteira fazia a ponte com outras empresas do grupo de Cachoeira para facilitar o toma lá dá cá com o mundo político. A Delta também tem contratos em Anápolis, que abrangem obras rodoviárias e coleta de lixo. Nos contratos das duas empresas a PF vê o dedo do deputado federal Rubens Otoni (PT), flagrado em vídeo negociando com Carlinhos doação de R$ 100 mil para o caixa 2 de sua campanha eleitoral. Otoni, aliás, está na lista da PF de beneficiários do jogo do bicho. Foi denunciado que o senador Demóstenes Torres recebia 30% do faturamento da jogatina comandada por Cachoeira. Só que esse montante, na verdade, era repartido entre os deputados Leréia (PSDB), Jovair Arantes (DEM) e o próprio Rubens Otoni, segundo as investigações.

O caso mais flagrante, talvez, seja o repasse de R$ 26,2 milhões feito pela Delta à empreiteira Alberto e Pantoja Construções. Sem negócios reais e funcionando num endereço fictício, a empresa destinou R$ 17,8 milhões às companhias Midway Int. Labs. e Rio Vermelho Dist., que injetaram capital na campanha do deputado federal Sandes Júnior (PP-GO), do ex-senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO), do governador Marconi Perillo (PSDB-GO) e da vereadora Miriam Garcia (PSDB-GO). Também foram beneficiados políticos do Distrito Federal, de Pernambuco e São Paulo. Já a Emprodata Administração de Imóveis, também uma empresa de fachada, repassou ao menos R$ 100 mil à Asfalto Brasília Ltda., que injetou R$ 175 mil na campanha da deputada Jaqueline Roriz (PMN).

Outra empresa do esquema, a MZ Construções efetuou depósitos de R$ 520 mil na conta da Negocial Fomento Mercantil, que doou R$ 20 mil para a campanha do deputado federal Augusto Coutinho (DEM-PE). A gráfica Laser Press, também usada pela quadrilha, foi doadora da campanha do deputado Edson Aparecido (PSDB-SP). O argumento usado pela Delta é de que tais repasses não têm relação com as campanhas políticas, são apenas pagamentos a alguns dos milhares de fornecedores da empresa. Faria sentido, não fosse a proximidade de Carlinhos com a empreiteira.

Por fim, o levantamento da Operação Monte Carlo também indica que Cachoeira passou a investir em imóveis rurais para a criação de gado, recurso usado como meio para a lavagem e evasão de capitais. Seu patrimônio inclui ao menos 31 imóveis, incluída aí uma fazenda de gado nelore. Cachoeira também vinha fazendo investimentos pesados em empreendimentos imobiliários, turísticos e até na implantação de cidades. A preferência é por áreas ainda não regularizadas, pelas quais ele poderia subornar autoridades e servidores para conseguir a regularização e depois revender o imóvel com uma valorização exponencial. Um dos maiores negócios na mira de Cachoeira é uma fazenda de dez milhões de metros quadrados no Distrito Federal. A área está sendo cogitada a abrigar uma extensão da cidade-satélite de Vicente Pires. Num diálogo interceptado pela PF, Gleyb Ferreira, gerente do esquema Cachoeira, trata da negociação com um grupo de São Paulo de metade da fazenda, avaliada em R$ 1,07 bilhão e cuja regularização será acertada com a Terracap na base da propina. Outra parcela estaria sendo negociada com o grupo Brookfield, que, segundo suspeita a PF, teria o ex-governador José Roberto Arruda como representante informal no DF. “Se o pessoal da Brookfield também abrir as pernas e começar com muito rolo, eu passo para São Paulo”, diz Gleyb.




 

Por Claudio Dantas Sequeira

Fonte: Revista IstoÉ - Edição nº 2215 - 21/04/2012

Faltou aprofundar a história da guerra dos juros



Por Rolf Kuntz em 17/04/2012 na edição 690 - Observatório de Imprensa
Daria uma história quase épica a tentativa da presidente Dilma Rousseff de enquadrar os bancos e fazê-los baixar os juros dos empréstimos. Todos os jornais deram destaque ao assunto. Publicaram a bronca presidencial, registraram as alegações dos banqueiros e noticiaram o corte de juros pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal. Mostraram a atitude quase desafiadora do presidente da Federação Brasileira das Associações de Bancos, Murilo Portugal, ao apresentar ao Ministério da Fazenda uma lista de 22 reivindicações. Na sexta-feira (12/4), registraram a reação indignada do ministro Guido Mantega.
Em vez de levar uma proposta de redução das taxas, os banqueiros apresentaram exigências. Mas o governo, garantiu o ministro, não atenderá às cobranças, porque os bancos, segundo ele, têm uma ampla margem de lucro e podem muito bem reduzir o custo dos financiamentos.
No sábado, a presidente apareceu de novo nas primeiras páginas. No dia anterior, em discurso na Confederação Nacional da Indústria (CNI), havia voltado a bater nos bancos, acusando-os de entravar o crescimento econômico.
Ganhos de escala
Todos os jornais contaram esses fatos, mas sem ir muito além do confronto aberto entre o governo e o setor financeiro, exceto em editoriais e colunas. Alguns avançaram em certos detalhes, ao expor a argumentação dos banqueiros. Mostraram as alegações, conhecidas há muito tempo, a respeito da importância de alguns componentes do spread, isto é, da diferença entre os juros pagos pelos bancos na captação de recursos e as taxas cobradas quando emprestam aos clientes.
A descrição mais clara da composição do spread está numa tabela publicada em dezembro num relatório do Banco Central (BC). Mas os detalhes, nesse caso, são pouco favoráveis ao setor financeiro. O item mais importante é a margem líquida dos bancos, cerca de um terço (32,7%) da diferença entre o custo pago e o custo cobrado pelos bancos. Impostos indiretos representaram 21,9%. Depósitos compulsórios, subsídios cruzados, encargos fiscais e Fundo Garantidor de Crédito somaram 4,1%. Custo administrativo, 12,6%. Inadimplência, 28,7%. Mas o peso deste item diminuiu nos últimos anos. Com juros bem mais baixos, o risco do calote será provavelmente muito menor, se nenhuma farra de crédito ocorrer. Essa tabela foi um dos dados mais interessantes da cobertura do Estado de S.Paulo na sexta-feira (12).
Os jornais ainda apresentaram, além de todos esses pontos, opiniões a respeito do corte de juros pelos dois bancos federais – uma tentativa do governo de forçar as instituições privadas a reduzir suas taxas por efeito da concorrência.
Segundo alguns analistas, foi mais um exemplo de voluntarismo de efeitos duvidosos. Mas houve divergências. Alguns apoiaram a iniciativa governamental, ressalvando, no entanto, a diferença de status entre o Banco o Brasil e a Caixa. O primeiro é uma empresa aberta, com ações no mercado. É preciso respeitar seus acionistas minoritários. Não há essa restrição no caso da Caixa, uma instituição controlada inteiramente pelo setor público. Também foram explorados problemas de implementação das políticas. O Globo mostrou o despreparo dos dois bancos para executar, no Rio de Janeiro, a prometida redução dos juros.
Mas o assunto valeria um tratamento mais amplo e com maior respaldo técnico. Depósitos compulsórios e impostos indiretos são de fato muito pesados e quanto a isso os banqueiros têm razão. Admitido esse fato, a conclusão ainda é pouco animadora. Se esses custos forem atenuados, nada garantirá a queda dos juros. Este é o ponto mais importante de toda a história. Diminuída a chamada cunha fiscal e reduzidos os compulsórios, poderá até ocorrer um aumento dos lucros bancários, porque o mercado financeiro é altamente concentrado e a competição é pouco intensa.
Vários movimentos de concentração ocorreram desde a segunda metade dos anos 1960, com fusões, compras e quebras de bancos pequenos. Pode ter havido ganhos de escala e redução dos custos unitários, mas o resultado principal foi sempre o aumento de poder dos maiores grupos.
Força temida
O último grande surto concentrador começou com a eliminação, nos anos 1990, dos grandes ganhos proporcionados pela inflação. Em 1996, os 10 maiores bancos detinham 50,8% dos ativos do setor. Em 2010, a fatia cresceu para 80,9%. Vários estudos mostraram os efeitos da concentração bancária sobre a concorrência. Os maiores grupos acabam sendo diferenciados não só pela dimensão de seus ativos, de suas operações e de suas redes de agências, mas também pela tecnologia e pelos serviços.
A concentração foi geralmente apoiada pelas autoridades financeiras e quase sempre mal vista pelos funcionários encarregados da defesa da concorrência. O processo criou instituições mais sólidas, mas diminuiu a competição e aumentou o poder dos grandes grupos. Não se vencerá esse poder só com discursos, broncas e pressões ocasionais. A redução de juros dos bancos estatais poderá produzir algum efeito, mas há limites para essa política.
Quebrar a estrutura de poder do sistema financeiro será um trabalho complexo. Os banqueiros têm mostrado sua capacidade de resistência em todo o mundo e a reforma global do sistema financeiro é mais lenta e menos ambiciosa, na prática, do que se imaginou no auge da crise.
No Brasil, a concentração torna a força dos bancos ainda mais temível. A imprensa poderia ter aberto um debate com maior alcance, procurando autores dos vários trabalhos sobre concentração bancária publicados nos últimos anos.
***
[Rolf Kuntz é jornalista]

Os 7 pecados capitais do dinheiro



Todo mundo comete algum pecado quando se trata de administrar a própria grana. Confira as recomendações de especialistas para amenizar pequenas transgressões

Chrystiane Silva (chsilva@abril.com.br)  
Crédito: Marcelo Almeida
Gula por tecnologia - Crédito: Marcelo Almeida
Gula por tecnologia
Atire a primeira pedra quem nunca cometeu um pecado quando o assunto é dinheiro. Pode ser a inveja de alguém que tem um investimento que rende mais do que o seu ou a vontade de comprar muito, mas muito mesmo, sem conseguir se controlar. Os sete pecados capitais — gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça e vaidade — fazem parte do cotidiano e todo mundo pode pecar em algum momento da vida. 

A origem deles é antiga, surgiram no século 6, quando o papa Gregório Magno (540-604 d.c.) deu origem à lista dos sete pecados capitais, usando como referência as cartas do apóstolo Paulo, escritas durante suas visitas religiosas às comunidades coríntia e romana. no século 13, a igreja católica reconheceu oficialmente esses pecados como infrações de caráter do homem. no mundo das finanças, os problemas começam quando esses pecados prejudicam sua relação com o dinheiro. 

Com a ajuda de nove especialistas em finanças pessoais, você vai aprender como fugir dos deslizes que podem comprometer seu planejamento financeiro e a realização dos seus sonhos.


Gula por tecnologia 
Quando a Apple anunciou a abertura de sua loja de músicas e filmes no Brasil, a iTunes Store, o engenheiro civil Luiz Augusto Pacheco, de 30 anos, pressentiu que teria problemas. Entre os sete pecados capitais, ele sempre comete o da gula. Nesse caso, a gula é a sua voracidade por comprar produtos tecnológicos. 

"Na primeira semana, gastei 300 dólares comprando músicas." O sócio da Inva Capital, empresa de investimentos, em Curitiba, Paraná, sempre foi aficionado de tecnologia. Quando era adolescente teve mais de 100 jogos para videogame. Hoje, ele tem todos os produtos da Apple e já comprou a recém-lançada Apple TV. Sabendo que sua tentação são produtos eletrônicos, Luiz faz um orçamento mensal que prevê a compra desses produtos.



Quando o assunto é finanças pessoais, o pecado da gula pode ser comparado ao consumo em excesso. Quem tem gula por compras, provavelmente, é mais suscetível a cair no endividamento para adquirir imediatamente o que deseja. "Antes de cometer esse pecado é preciso perguntar: eu realmente preciso comprar isso agora?", diz Ricardo Fairbanks, consultor da Dinheiro em Foco, em São Paulo. 

Quem decide que quer comprar um carro zero-quilômetro sem ter dinheiro vai pagar juros altos. É o custo da gula. Um automóvel que vale 35 000 reais, parcelado em 60 prestações, com juros de 1,5% ao mês, vai custar 46 208 reais quando você terminar de pagá-lo. Sendo que 11 208 reais serão gastos apenas com juros. Mas o pecado da gula também pode se manifestar na hora dos investimentos financeiros. 

O guloso sempre pensa nos ganhos rápidos e muda de aplicação sem considerar que pode perder grana. "Ele acha que não corre nenhum risco", diz a psicóloga Vera Rita de Mello Ferreira, representante no Brasil da Iarep (associação internacional de pesquisas em psicologia econômica, na sigla em inglês). Esse perfil é o mais propenso a cair em fraudes financeiras.



A proporção de avarentos no país é muito maior do que se imagina. De cada 100 pessoas, pelo menos 20 preferem guardar o dinheiro em investimentos seguros e não comprar nada, segundo levantamento feito por Raphael Cordeiro, consultor financeiro, em Curitiba, Paraná. 

Os avarentos adiam o consumo, não se permitem gastar nada além do planejado e, quando decidem investir, optam pela poupança. "Eles acreditam que estão guardando dinheiro, mas na verdade estão perdendo oportunidades de ver a grana aumentar em outras aplicações mais rentáveis", diz Raphael. Uma boa solução é começar a diversificar os investimentos, colocando uma parte em renda fixa e um pequeno percentual, 20%, em ações. 

A determinação de não gastar pode fazer com que os avaros façam negócios financeiros ruins. "Eles negociam tanto a redução das taxas de investimento que ficam com poucos serviços prestados pelas corretoras", afirma a economista Alexandra Almawi, da Lerosa Investimentos, em São Paulo. Uma solução para equilibrar a vida dos avarentos é recorrer ao planejamento financeiro. Com os objetivos definidos, fica fácil gastar grana com um carro novo sem sentir culpa.




Os luxuriosos gostam de ostentar produtos caros e requintados. "A ideia de consumir para ter status é frustrante porque é um caminho sem fim", diz Jurandir Sell Macedo, consultor de finanças pessoais e professor da Universidade Federal de Santa Catarina. A luxúria é tão presente no mundo das finanças que o economista americano Thorstein Veblen fez vários estudos até sua morte, em 1929, e concluiu que o único objetivo do consumo é a ostentação.

Para ele, a acumulação de dinheiro e de bens materiais é menos uma necessidade e mais a busca de uma posição de honra na sociedade. É claro que todo mundo gosta de mostrar para o amigo o carro novo ou a roupa da moda, o problema é quando a busca do prazer do consumo é a única razão da vida. 

Eles não conseguem adiar essa busca e, por isso, geralmente, ficam endividados e investem pouco. Nesse caso, a solução é não gastar mais do que se ganha. "Mas, quando os luxuriosos decidem investir, preferem ser mais agressivos", diz Rogério Bastos, diretor da consultoria de investimentos FinPlan, em São Paulo. No entanto, a meta é ter a máxima rentabilidade para financiar seus caprichos, que são bem caros.



A preguiça é o pior pecado capital. No mundo das finanças, o preguiçoso é o principal candidato a perder dinheiro. É ele quem costuma deixar as prestações atrasar por preguiça de ir ao banco quitá-las. Com isso, paga juros. Uma alternativa, nesse caso, é recorrer ao débito automático. 

Ele também costuma pagar mais caro nas compras porque prefere as lojas de conveniência, onde os produtos têm preços maiores. O preguiçoso pode deixar o dinheiro parado na conta-corrente ou aplicar apenas na poupança porque tem preguiça de escolher outro invest imento. Quem colocou 50 000 reais na poupança em janeiro de 2011 chegou ao fim do ano com um ganho de 3 600 reais, considerando uma rentabilidade nominal de 7,20%. 

Já quem perdeu um pouco mais de tempo, pesquisou investimentos e aplicou os mesmos 50 000 reais em um fundo de renda fixa, com juros de 12% ano, taxa de administração de 1,5% e Imposto de Renda de 15%, ganhou 4 462,50 reais. "A diferença parece pequena, mas ao longo do tempo esses valores aumentam muito o saldo total", diz Rogério Bastos, consultor da FinPlan, em São Paulo. Conheça seus desejos e trace um planejamento para realizá-los.



Adeus, preguiça
A disposição que o empresário paulistano Emiliano Felipe Pedro, de 37 anos, tinha para fazer atividades circenses não se refletia na necessidade de cuidar do dinheiro. "Até os 30 anos, eu só gastava, tinha preguiça de pensar em investimentos." A situação mudou depois de viver quase cinco anos em Londres com a mulher, Rachel. 

Lá, os dois participavam de uma companhia de circo e recebiam cerca de 3 000 libras por mês. "Percebemos que a libra valia muito mais do que o real e começamos a poupar", diz. Quando voltou ao Brasil, tentou montar um grande empreendimento, que não deu certo. Depois, abriu uma agência que produz espetáculos artísticos, a TrixMix, e fez um curso de finanças pessoais. 

Hoje não perde tempo quando o assunto é cuidar da sua grana. Ele mantém 40% do patrimônio em títulos do governo comprados por meio do Tesouro Direto e o restante vai para ações e fundos imobiliários.



Mesmo quem não quer confessar sabe que lá no fundo sente inveja de alguém ou de alguma coisa. "A inveja é quando você compra o que não precisa, com o dinheiro que não tem, para causar uma boa impressão em quem você não gosta", diz o consultor financeiro Mauro Calil, da Calil & Calil, de São Paulo.

Se é assim, é natural que os invejosos acabem consumindo mais do que podem para ostentar o mesmo carro ou a mesma roupa de um amigo ou parente. "Uma das grandes molas do consumo do mundo moderno é a inveja", diz Jurandir Sell Macedo, consultor de finanças pessoais. 

No lado dos investimentos, a inveja é bastante presente e uma das causas do efeito manada do mercado financeiro. Essa é a dominação do fenômeno que ocorre quando algumas pessoas começam a ganhar dinheiro na bolsa e várias outras entram no mercado, como uma manada, para ganhar também. 

A mesma coisa acontece quando a bolsa despenca. O problema é que quem age dessa forma deixa de lado seus objetivos e sua estratégia de investimentos. "Se espelhar em alguém pode até ser saudável, se não for uma obsessão", diz Andre Novaes, presidente da Life Finanças Pessoais, em Campinas, no interior de São Paulo.



Tem gente que fica muito vaidosa em contar aos amigos que suas aplicações financeiras estão rendendo bem mais do que a média do mercado financeiro. Provavelmente, são pessoas bastante vaidosas. "Finanças pessoais é assunto particular. Você não deve falar com ninguém sobre elas no clube ou no restaurante", diz Rogério Bastos, consultor da FinPlan, em São Paulo. 

A vaidade, quando não está controlada, pode fazer com que você opte pelo consumo excessivo no presente e deixe de pensar no futuro. Para escapar da cilada dos gastos desenfreados, a dica dos especialistas é recorrer ao planejamento financeiro. "Ele vai ajudar a balizar seus gastos de forma eficiente", diz Marcos Silvestre, consultor de finanças pessoais. Se na vida as mulheres são mais vaidosas do que os homens, no mundo financeiro eles é que pecam mais. 

"A mulher é mais cuidadosa na hora de escolher seus investimentos e busca muitas informações. Já a vaidade masculina faz com que os homens acreditem que conhecem tudo e invistam com pouca informação. O risco de perder dinheiro nessas condições é grande", diz a economista Alexandra Almawi, da Lerosa Investimentos.



A bolsa de valores caiu 18% no ano passado e, provavelmente, você deve ter ouvido a história de alguém que investiu em ações, perdeu muita grana e decidiu nunca mais voltar para o mercado de capitais. 

Provavelmente, essa pessoa está cometendo o pecado da ira. Quando alguém está irado, não avalia os riscos de um investimento, age impulsivamente e, nesse caso, a possibilidade de perder dinheiro é grande.

Outra situação comum em que o pecado da ira aparece é durante o divórcio. "Nessa hora, quem está com raiva quer tirar todo o dinheiro do ex-cônjuge", diz Ricardo Fairbanks, consultor da Dinheiro em Foco, em São Paulo. É comum que os irados prefiram as aplicações financeiras que rendam mais — eles são investidores arrojados. Nesse caso, o melhor jeito de amenizar a ira é fazer a diversificação dos investimentos. 

Outra opção é criar uma carteira resistente às oscilações, comprando ações de companhias que atuem em setores correlacionados, como exportadoras e importadoras. Quando as importações crescem, o investidor ganha porque as ações estão em alta. Quando o fluxo da balança comercial muda, ele continua ganhando, só que com a alta das exportações.