sábado, 12 de maio de 2012

Ditadura promoveu queima de arquivo em série, diz Guerra


Enviado por Ricardo Noblat - 
12.05.2012
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21h47m
POLÍTICA


No livro, "Memórias de uma guerra suja", ex-delegado do DOPS, Cláudio Guerra cita pelo menos duas mortes para preservar regime
Tales Faria e Wilson Lima, iG
Durante a abertura política no Brasil, a ditadura militar promoveu uma “grande queima de arquivo” comandada por líderes do regime com receio de que no futuro algumas execuções de integrantes da esquerda fossem denunciadas publicamente. A informação é do ex-delegado Departamento de Ordem Político Social (DOPS) do Espírito Santo, Cláudio Guerra, no livro “Memórias de uma guerra suja”.

Os novos salários na CBF (por Juca Kfouri)



O o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, ganhava R$ 90 mil na entidade, além de R%$ 110 mil no COL.
Não se sabe se José Maria Marin teve mantido o mesmo salário no Comitê Organizador Local da Copa do Mundo, mas sabe-se que, na CBF, ele se deu um aumento que o elevou a R$ 160 mil.
Marin também criou um cargo para Marco Polo Del Nero, o de Assessor Especial, e o remunera com R$ 130 mil mensais, bem mais que os R$ 70 mil do Diretor de Seleções, Andrés Sanchez, que faz o que pode para não perder o emprego.
Aliás, a dupla Marin/Nero acaba de elogiar a dupla Andrés Sanchez/Mano Menezes no sítio da CBF.
O mesmo havia sido feito com o então supervisor da seleção feminina, Paulo Dutra,  há  quase 20 anos no cargo, mas que, dez dias depois dos elogios, foi sumariamente demitido por Marin, assim como seu superior, Célio Belmiro.

Em nome da fé



09:39:09

Foto: Google Imagens

Sabem aquele respeitadíssimo médium João de Deus, recentemente entrevistado pela apresentadora mais famosa do mundo, a Oprah Winfrey?

Pois é. Esse mesmo! Ele é o mais novo alvo de alguns integrantes da CPI do Cachoeira. Não que ele seja um homem de malfeitos. Muito pelo contrário, o médium é conhecido internacionalmente justamente pelo bem que faz ao próximo, através das milagrosas curas.

É que, por ser amigo de Cachoeira, João de Deus teria sido levado pelo bicheiro num jatinho particular até Caracas para atender o presidente Chávez.

O que a Polícia Federal e esses parlamentares da CPI querem descobrir é quem pagou pela viagem.

E, com isso, chegar a novos interlocutores políticos do Cachoeira.

Especula-se que seria aí que o mensalão cruza com o bicheiro. Será?

Tenda dos milagres
Procurada pela coluna, a assessoria de imprensa do médium confirmou que João de Deus atende “várias personalidades internacionais, inclusive chefes de Estado”.

Mas só que o médium, segundo ainda sua assessoria, “jamais daria nomes dos pacientes, por questões éticas”.

O exorcista 3
Se eu fosse da CPI, chamaria o médium, mas para tirar o mau espírito incorporado no senador Fernando Collor.

Dia desses, o ex-presidente teve um surto psicótico, durante uma sessão secreta da CPI, que assustou até os mais incrédulos dos ateus. ...

— Eu estou aqui pelo Poli- carpo! Eu só quero o Policarpo! O Policarpo é meu!

Zifio, totalmente incorporado, de olhos esbugalhados, estava se referindo ao jornalista Policarpo Júnior.

Acalmado por um passe, um colega perguntou:

— Suncê tá mió, mifio?

Por Jorge Bastos Moreno

Fonte: Jornal O Globo - Coluna Nhenhenhém - 12/05/2012

SENSACIONAL - A semana: Escolinha do professor Vital do Rêgo



O “Veta, Dilma” da Camila pode custar R$ 130 bilhões por ano. “Pensa, Dilma!”


(…)



Será que é racional abrir mão de 33 milhões de hectares da área de produção de alimentos, que representam quase 14% da área plantada, para aumentar em somente 3,8 pontos percentuais a área de vegetação nativa do país? Essa troca não me parece justa com os brasileiros, pois corremos um alto risco de aumento no preço dos alimentos sem um ganho equivalente na preservação ambiental. Reduzir 33 milhões de hectares nas áreas de produção agropecuária significa anular, todos os anos, cerca de R$ 130 bilhões do PIB (Produto Interno Bruto) do setor. Para que se tenha uma noção do que representam 33 milhões de hectares, toda a produção de grãos do país ocupa 49 milhões de hectares.
O Código Florestal não foi construído para agradar a produtores ou ambientalistas, mas, sim, para fazer bem ao Brasil. Agora, está nas mãos da nossa presidente, a quem cabe decidir, imune a pressões, o que é melhor para sermos um país rico, um país sem miséria, que é a grande meta da sua gestão. A utopia ambientalista, no entanto, não respeita a democracia política, muito menos a economia de mercado. Há líderes do movimento verde que pregam abertamente um Estado centralizado, com poderes para determinar a destinação dos recursos, da produção e até mesmo do consumo. Nesse tipo de sociedade autoritária, não há lugar para a liberdade e para as escolhas individuais. Salvam a natureza e reduzem a vida humana à mera questão da sobrevivência física.
Mas slogans fáceis e espetáculos midiáticos não podem ofuscar a eficiência da agropecuária verde-amarela. O Ministério da Agricultura acaba de divulgar os dados do primeiro quadrimestre de 2012. Exportamos US$ 26 bilhões, gerando superavit de US$ 20,8 bilhões. Nunca é demais lembrar que o agro exporta somente 30% de tudo o que produz. E, para isso, usa apenas 27,7% do território, preservando 61% com vegetação nativa. Qual país do mundo pode ostentar uma relação tão generosa entre produção e preservação?
Os ambientalistas, em sua impressionante miopia, ainda cobram que a agropecuária deva elevar a produtividade. Nos últimos 30 anos, com apenas 36% a mais de área, a produção de grãos cresceu 238%! Eles não consideram que os índices brasileiros já são elevados e que aumentos são incrementais.
(…)
É inaceitável que o Brasil abra mão da sua capacidade produtiva, deixando de contribuir plenamente para a redução da pobreza, já tendo a maior área de preservação do mundo.
Por Reinaldo Azevedo

A Charge de Néo Correia




Editorial de 'O Globo' na história das lutas democráticas no Brasil

Em editorial publicado na terça-feira passada, o jornal O Globo foi ao ponto crucial: "É indisfarçável a tentativa de atemorização da imprensa"
Sob o título "Roberto Civita não é Rupert Murdoch", o jornal O Globo publicou um editorial que ficará na história das lutas democráticas no Brasil. O jornal da família Marinho levantou-se contra as tentativas políticas de criminalizar o trabalho jornalístico de VEJA comparando-o à teia de ações ilícitas promovidas por publicações do australiano Murdoch na Inglaterra.
"Blogs e veículos de imprensa chapa-branca que atuam como linha auxiliar de setores radicais do PT desfecharam uma campanha organizada contra a revista VEJA na esteira do escândalo Cachoeira/Demóstenes/Delta", escreveu o jornal.
O Globo lembra que a motivação da campanha é uma vingança contra a revista por suas reportagens contundentes que desbarataram quadrilhas de corruptos e desagradaram a alas petistas. O jornal desmontou a acusação mais odiosa contra Roberto Civita, presidente do Conselho de Administração do Grupo Abril e editor de VEJA: "Comparar Civita com Murdoch é tosco exercício de má-fé".
Na sexta-feira passada, também em editorial, o jornal Folha de S.Paulo reafirmou sua convicção de que o movimento orquestrado contra VEJA tem motivações políticas: "Tampouco surgiu até agora qualquer indício de má conduta que justifique a intimação de jornalistas da revista VEJA para depor".



O alvo mais direto da armação política é Policarpo Junior (foto acima), diretor da sucursal de VEJA em Brasília e um dos redatores-chefes da revista; um dos mais competentes jornalistas investigativos do Brasil, ele foi alvo de campanha movida por corruptos históricos.
O ex-presidente e atual senador por Alagoas Fernando Collor pediu sua convocação para depor na CPI.
Policarpo não é propriamente admirado entre aqueles políticos que se movem nas sombras do poder. Como repórter, foi autor de inúmeras reportagens que revelaram gigantescos esquemas de desvio de dinheiro público e abreviaram a carreira de muitos corruptos. É dele a reportagem que deu origem ao escândalo do mensalão.
A justificativa para convocar Policarpo? Segundo Collor, o impoluto: "Esclarecer eventuais ligações com a quadrilha".
Bastaram os dois primeiros depoimentos na CPI para derrubar a farsa collorida. Os delegados federais Raul Alexandre e Matheus Rodrigues, responsáveis pela investigação, foram categóricos em afirmar que Policarpo agiu apenas em busca de informações, não trocou favores com o investigado e fez o que se espera de um bom jornalista: obteve informações dentro dos limites legais em benefício do interesse público.

Uma CPI para a Mídia



A campanha do PT contra a imprensa reincide em velhos jargões autoritários do passado, cometendo, desta vez, um erro crasso: o de querer fulanizá-la. O repórter de Veja, Policarpo Junior, tornou-se o alvo da atual investida. E o que fez ele?
Cumpriu sua função. Ouviu uma fonte – no caso, Carlinhos Cachoeira -, em assuntos no quais o contraventor tinha mais informações que a própria polícia. Separou o joio do trigo e utilizou o que convinha às investigações que fazia.
Qualquer um que já tenha exercido o ofício sabe que é indispensável ouvir todos os lados envolvidos numa história. Não importa se a informação está no inferno: terá que buscá-la onde estiver. O que fará com ela são outros quinhentos.
Policarpo publicou-a, prestando um serviço público; Demóstenes Torres, o senador, vendeu-a a um contraventor.
Tim Lopes, o repórter martirizado pelo narcotráfico carioca, subia os morros e conversava com bandidos, em busca de notícia. Contribuiu, e muito, para expor ao público o mapa do crime organizado do Rio de Janeiro e suas conexões.
O crime, porém, não se faz presente apenas nas favelas e periferias. Há muito, chegou às instituições e frequenta a Praça dos Três Poderes. Se o repórter quer mapear esse submundo, será inútil conversar com políticos ficha limpa (que também os há).
Eles podem apenas compartilhar sua perplexidade, não informá-lo, já que não circulam no submundo. Dependendo do assunto, terá que conversar com gente ainda pior que Cachoeira.
O equívoco de fulanizar a luta contra a imprensa decorre de algo simples: se for comprovado que o jornalista delinquiu, o órgão para o qual trabalha simplesmente o demitirá, preservando-se. O mau jornalista passa, mas a imprensa fica.
Supor que investindo contra esse ou aquele jornalista intimidará a instituição é, acima de tudo, burrice. Exemplo disso foi o que ocorreu em 2009, quando a imprensa divulgou a farra das passagens aéreas no Congresso.
Descobriu-se que diversos parlamentares faziam uso indevido daquele privilégio. Alguns, então, decidiram contra-atacar, na expectativa de inibir a ação da imprensa, revelando o nome de jornalistas que haviam beneficiado.
Acabaram prestando um serviço à própria imprensa, que, ao demitir os repórteres infratores, mostrou-se desconectada de suas práticas. O mau jornalista passa, mas a imprensa fica.
Os petistas que decidiram eleger Policarpo como meliante e a revista Veja como instância conspirativa apenas melhoraram o currículo de ambos.
Dependendo de quem acusa e das alegações que faz – é o caso presente -, as acusações transformam-se em atestado de idoneidade. Policarpo não precisa de defesa.
Sua carreira e o próprio teor dos diálogos gravados pela Polícia Federal – em especial quando Cachoeira queixa-se a um comparsa de que o repórter não retribui as informações que recebe e que já desistiu de o cooptar - o isentam.
Já com seus acusadores dá-se o contrário, embora tenham razão num ponto: de fato, faz-se necessária uma CPI da Mídia. Urgente.
Não a pretendida pelos acusadores do repórter de Veja, mas uma que exponha a rede estatal de blogs, pagos com dinheiro público, que aparelha a internet, para difamar adversários e viabilizar um projeto político que começa pela censura aos meios de comunicação e não se sabe onde pretende parar.
Ou por outra, sabe-se muito bem.

Ruy Fabiano é jornalista

'O que me chamou a atenção é que o Collor endoidou'


POLÍTICA

Ricardo Noblat

Do deputado federal Sílvio Costa (PTB-PE), membro da CPI do Cachoeira, em entrevista ao programa Ponto Final, da TV Jornal do Commercio, de Pernambuco:
* “O futuro do Demóstenes é a cadeia. O problema é que esse martírio dele deve durar mais uns 90 dias, por conta do regimento da casa”.
* “A CPI não vai dar em pizza. Não tem como dar. Já aprovamos a convocação de 60 pessoas. Alguém vai abrir o jogo”.
* "O deputado federal Onix Lorenzoni (DEM-RS) solicitou e obteve aprovação para a quebra de sigilo telefônico dos diretores da Delta em 23 estados onde tinha contratos com os Estados".
* “O que me chamou a atenção é que o Collor endoidou. Ele quer pegar a Veja e o Gurgel [Procurador Geral da República] de todo jeito. Ele demonstra ter raiva de todos os poderes constituídos. Ele está muito nervoso. O povo de Alagoas deu a ele uma segunda chance e ele não fez nenhuma autocrítica”.
* Sobre o deputado federal petista Cândido Vaccarezza. “Ele disse que iria para cima do Gurgel (para ajudar a defender os mensaleiros do PT), mas isto é um tiro no pé”.
“Também não concordo com a campanha que estão fazendo contra o Policarpo (diretor da Veja). Qual o mal dele falar com Cachoeira? Jornalista tem direito a manter suas fontes."

Eu fracassei" não pode se transformar em "eu sou um fracasso"



Jovem economista com estudos focados no comportamento humano, Tim Harford fala sobre a importância do erro e vários outros temas em entrevista ao Administradores.com

Por Rodolfo Araújo, www.administradores.com.br

Tim Harford é dos mais originais autores de uma nova geração de economistas que foca suas atenções no comportamento humano. Autor de "O economista clandestino" e "A lógica da vida", lançou recentemente"Adapt: why success always starts with failure" (FSG, 2011 - ainda sem previsão de lançamento no Brasil), no qual faz uma verdadeira ode ao erro.
Sua justificativa para tal é simples: o erro é componente irrevogável do processo de tentativa e erro, consagrada fórmula do método científico, cujos resultados inequívocos impulsionam a ciência. Enquanto isso, a Administração nega seus valores, apostando na claudicante e sempre incompleta expertise de gestores bem-intencionados, porém míopes.
Nesta ilustrativa entrevista, concedida ao nosso colunista Rodolfo Araújo, Harford explica por que é tão difícil livrar-se de velhos conceitos, como é possível aprender através do erro e por que é tão difícil entregar-se a ele.
Algumas das ideias testadas são contraintuitivas, mesmo depois de comprovadas. Como podemos superar nossa tendência de manter o status quo e duvidar de conceitos radicalmente novos?
Não é fácil. Só quando eu estava terminando os últimos rascunhos de Adapt foi que percebi que cada capítulo tinha um herói – alguém que lutou bravamente para testar algo novo. A tarefa deles não era fácil: do engenheiro que foi executado pela polícia secreta de Stalin, ao Coronel americano que, depois de desafiar os dogmas de Donald Rumsfeld na Guerra do Iraque, era repetidamente preterido nas promoções. Eles foram heróis porque é preciso um certo grau de heroísmo para desafiar ideias e poderes arraigados.
Por que atualmente prestamos mais atenção nestas ideias – por mais contraintuitivas que pareçam – do que fazíamos no passado? Por que a Economia Comportamental demorou tanto tempo para aparecer e questionar os princípios da Economia Tradicional?
A Economia Comportamental já existe há algum tempo. Aprendi as ideias de Daniel Kahneman no meu curso de graduação em Oxford, em 1993. Kahneman ganhou o Prêmio Nobel de Economia há quase uma década. E Richard Thaler, autor de Nudge, escreve uma coluna sobre a disciplina numa das mais importantes publicações de economia desde 1980, se não estou enganado. Creio que seja uma questão de percepção popular, acentuada mais pelo fato de a crise financeira ter arranhado a reputação da Economia Tradicional, do que pela forma como a Economia Comportamental procura explica-la.
Imagem: Fran Monks/ divulgação

Quando escolhemos uma teoria para testar, corremos o risco de sermos enganados pela falácia da explicação única – segundo a qual deixamos de ver outras causas para uma mesma consequência. Esta teoria da seleção natural não pode nos confundir na identificação de uma falsa relação de causa e efeito, baseada em simples coincidências?
Sim, é verdade: uma das partes mais difíceis do processo de tentativa e erro reside em descobrir o que realmente está errado. Esta é uma das razões pelas quais dediquei uma boa parte do livro em descrever o que conta como evidência, nos campos onde as evidências são consideradas de forma séria – como a Medicina – e a importância dos testes controlados quando fazemos tais experiências.
Em Prevenindo colapsos financeiros, ou: Dissociando, você usa a Teoria dos Sistemas Complexos e a analogia do queijo suíço*. Max Bazerman escreveu um livro inteiro sobre Surpresas Previsíveis (Predictable Surprises, Harvard Business School Press, 2008) e em Blink (Little Brown, 2005), Malcolm Gladwell diz que ao menos seis erros são necessários para ocorrer um acidente aéreo. Se todos os sinais da iminência de um desastre estão diantes de nós, por que ainda somos incapazes de preveni-los?
Em parte isso se deve à forma como as informações estão organizadas dentro de um sistema. Eu menciono um acidente terrível numa plataforma de petróleo, Pipper Alpha, no qual faltava uma informação crítica a respeito de uma bomba hidráulica desmontada. Ainda não se tem certeza sobre o motivo disso. Também cito a arquitetura da informação em Three Mile Island (usina nuclear americana que derreteu parcialmente em 1979), onde os engenheiros observavam 700 indicadores luminosos e mais de 100 alarmes, com a tarefa de descobrir o que estava acontecendo. Problemas semelhantes ocorreram durante a crise financeira – enquanto o Lehman Brothers se equilibrava à beira de um colapso, os reguladores simplesmente não sabiam quais eram as conexões entre o banco e os outros players, então não conseguiam enxergar o real impacto de uma quebradeira. O que precisamos é de sistemas de informações melhores.
Uma questão parecida é "o que acontece nas organizações quando as pessoas enxergam problemas"? Elas se manifestam ou permanecem em silêncio? Frequentemente, mesmo em acidentes graves – financeiros ou industriais – alguém viu o problema e ou não disse nada, ou soou o alarme e foi ignorado ou mesmo perseguido. Precisamos melhorar neste aspecto.
Quando você discute a questão ambiental, perguntando se a pessoa deve usar o transporte público ou não (já que o ônibus faz o seu trajeto independentemente de você estar nele ou não), você chega perto do Paradoxo de Sorites**. Isto justificaria muitas ações que poderiam resultar num desastre. Como os indivíduos – e a sociedade – devem se comportar ao se deparar com tais dilemas?
Cedo ou tarde a pessoa perceberá o que realmente faz a diferença e dispara a necessidade de outro ônibus precisar circular. O custo marginal de uma pessoa é gigantesco. O custo marginal de uma segunda pessoa é praticamente zero. A saída para o Paradoxo de Sorites é tirar a média dos dois: digamos que o custo de uma pessoa é $100 e o custo marginal de outras 99 é zero; então o custo marginal médio é $1. Isso é lógico do ponto de vista econômico, mas também satisfaz o bom senso. É um desses casos nos quais a teoria abstrata só atrapalha.
A Teoria dos Jogos diz que quando você muda as regras de um jogo, os participantes adaptam suas estratégias para se agarrar ao status quo. Como os reguladores podem prever melhor as consequências de suas (boas) intenções? É um problema de incentivos mal desenhados?
Penso ser praticamente impossível prever tais consequências. É melhor ser flexível e ficar atento, tentando se ajustar aos problemas conforme eles forem surgindo. Exceto em sistemas com estruturas muito rígidas, como nos casos dos bancos e usinas nucleares, como discutido anteriormente.
No começo do livro você diz que as pessoas devem experimentar para testar suas ideias – especialmente na medicina. Mas depois aconselha para que reduzamos as emissões de carbono, apesar de não haver evidências claras dos benefícios que isto pode trazer. Isto não é contraditório?
Há muitas questões para as quais um experimento não pode fornecer uma resposta, como Archie Cochrane, um dos herois do livro, entendeu muito bem. Realizamos experimentos em áreas onde isto é possível e usamos outras evidências nas outras onde não é. Eu ainda não estou 100% convencido a respeito das evidências de que as alterações climáticas provocadas pelo homem terão consequências severas, mas há evidências suficientes para justificar algumas atitudes.
Sua ideia de um imposto sobre o carbono é interessante, mas levanta algumas questões práticas: para onde iria o dinheiro? Como você poderia impor tal carga aos países pobres? Como você fiscalizaria o pagamento, se os gases não respeitam fronteiras políticas e alguns países simplesmente não pagariam?
Não acho que seja um problema tão grave quanto você imagina. Os países precisariam acordar o valor dos impostos em relação às taxas de câmbio e ajustá-las conforme necessário. O dinheiro seria cobrado localmente e a receita ficaria com os próprios governos. Isto não seria um fardo para os países pobres – poderia substituir outros impostos. E esta taxação deveria ser cobrada da mesma maneira que outros acordos internacionais: os países aderem voluntariamente assim como fizeram na Organização Mundial do Comércio. Não estou dizendo que seja fácil, mas já tivemos outros consensos ainda mais complicados. O problema é que muitos eleitores não acreditam que as mudanças climáticas sejam um problema, de fato.
"Aceitar tentativa e erro implica em aceitar o erro". Esta frase está em perfeita sintonia com o conceito de mindset de Carol Dweck, segundo o qual as pessoas com uma mentalidade fixa não conseguem lidar com fracassos, porque eles mostram suas falhas. Logo, precisamos nos sentir confortáveis com nossas próprias fraquezas. O quão longe estamos disso e por quê?
Sou fã do trabalho da Dra. Dweck. Precisamos entender que não devemos encarar os fracassos de maneira tão pessoal. "Eu fracassei" não pode se transformar em "Eu sou um fracasso" – isto não é a forma correta de se pensar. Imagino que, naturalmente, nós lutamos contra isso, mas podemos melhorar com a prática. Descobri isso escrevendo o livro: um erro não parece tão trágico quando você começa a se perguntar o que aprendeu. Sei que isso parece cliché – falar sobre erros como experiência de aprendizado – mas é verdade. E pode ser um cliché porque é repetido muitas vezes e repetimos tantas vezes porque é uma lição difícil de ser aprendida.
* Compara os buracos de um queijo suíço às falhas de um sistema. No queijo, os buracos estão distribuídos de maneira aleatória, de forma que você não pode, por exemplo, enxergar através dele. Mas se, de algum modo, todos eles se alinharem, você conseguirá ver o outro lado. Um sistema complexo, por sua vez, pode apresentar falhas individuais que, quando ocorrem separadamente, não comprometem o conjunto. Mas quando estas falhas acontecem de forma simultânea – como o alinhamento dos buracos – pode pôr tudo a perder.
** Onde come um, comem dois. Onde comem dois, comem três. Onde comem três, comem quatro etc.