Explosões mataram dezenas de pessoas em duas igrejas egípcias durante as celebrações de Domingo de Ramos (9). Foram mais de cem feridos, em ações reivindicadas pela organização terrorista Estado Islâmico — um preocupante episódio semanas antes da visita do papa Francisco.

Os cristãos egípcios, conhecidos como coptas, são uma minoria no país. Falantes de uma língua que remonta aos tempos dos faraós, eles correspondem a 10% de uma população de 90 milhões. Os ataques contra seus locais de culto têm se intensificado. É um grupo também economicamente marginalizado, que concentra, por exemplo, uma comunidade de catadores de lixo no Cairo.
A precariedade da situação quase não deixa antever que esse grupo foi, nos primeiros séculos da era cristã, um de seus centros religiosos. A ideia de monges se isolarem em desertos foi criada ali e seus teólogos ajudaram a definir os rumos dessa crença em diversos de seus concílios. A importância do cristianismo egípcio é bem descrita pelo romance “Azazel”, publicado no Brasil em 2015.
É um episódio tão importante da história desse país que ainda hoje coptas costumam dizer que são herdeiros dos verdadeiros egípcios. O próprio nome “copta” está relacionado a “egípcio”, na origem dos termos em grego. O cristianismo remonta ali, segundo a narrativa tradicional, à presença de São Marcos em Alexandria em 50 d.C. Seu declínio data do século 7 e das conquistas árabes.
Monastério de Santo Antônio, no deserto egípcio. Crédito Diogo Bercito/Folhapress
Hoje a população copta se concentra no centro e no sul do Egito e é, em sua maioria, ortodoxa. A sede desse ramo está em Alexandria e seu patriarca é Tawadros — escolhido em 2012 quando seu nome foi sorteado dentro de um cálice. Outra parte desses fiéis é católica e protestante.
Houve uma série de ataques contra essa comunidade desde o golpe de Estado que removeu o islamita Mohammed Mursi do poder em 2013. Tawadros apoiou o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, na manobra. Radicais, portanto, culpam cristãos por ter tido parte na derrubada.
A situação foi agravada pelo surgimento da organização terrorista Estado Islâmico, que tem um importante braço no norte do deserto do Sinai. Com base em uma interpretação radical do Alcorão, essa facção considera cristãos como infiéis e defende sua conversão obrigatória ou morte.