domingo, 28 de outubro de 2012

A comunhão no altar da pátria, por Gaudêncio Torquato



O homem, em estado de perfeição, ensinava Aristóteles, é o melhor dos animais. Quando, porém, afastado da lei e da justiça, é o mais selvagem e impiedoso de todos, pois, destituído de qualidades morais, usa a inteligência e o talento como armas para praticar o mal.
É possível vislumbrar no pensamento do filósofo grego a inspiração que emoldura a sábia (e poética) observação do ministro Carlos Ayres Britto, por ocasião da sessão da Suprema Corte que julgou o núcleo político da Ação Penal 470 pelo crime de formação de quadrilha: “Deus no céu e a política na terra. Por quê? Porque a política é o meio pelo qual a Sociedade constrói e reconstrói o Estado. A política é o instrumento de concretização dos anseios do povo. É, acima de tudo, a forma pela qual se pode buscar o bem-estar coletivo, a manutenção da ordem e a concepção do progresso”.
Na mesma linha de salvaguarda dos primados da política no sentido aristotélico, encaixam-se a sentença do decano do Supremo, Celso de Melo, ao condenar a feroz ética maquiavélica – “os fins não justificam a adoção de quaisquer meios” – e o arremate do relator Joaquim Barbosa: “A prática de formação de quadrilha por pessoas que usam terno e gravata traz um desassossego que é ainda maior dos que consagram a prática dos crimes de sangue".
No fundo, as perorações procuram elevar ao mais alto patamar da grandeza as virtudes do homem e a noção de direitos que Alexis de Tocqueville distinguia como imanentes ao mundo político. Assim pregava: “Não existem grandes homens sem virtude; sem respeito aos direitos, não existem grandes povos e nem mesmo sociedade”.
Pelo que se viu, a histórica aula de direito propiciada pelo STF há de merecer destaque não apenas pelo fato de ter trazido à tona questões centrais sobre a mola transformadora de uma sociedade, mas pelo feito de revestir conceitos clássicos – Estado, política, ética, direitos, cidadania, liberdade, democracia – com densa camada de argumentos, cuja força reside, sobretudo, na aguda interpretação de nossa realidade política.
No seio de uma cultura eivada de mazelas históricas, treinada na arte de transformar curvas em retas, impermeável ao temor do castigo por saberem seus artífices que, flagrados em práticas ilícitas, mais cedo ou mais tarde, escaparão das teias que os envolvem, a decisão de punir altas figuras que ocuparam o centro do poder parece algo inusitado.
Punir poderosos? Inacreditável, mesmo que se projete na mente social a imagem de uma Corte de juízes probos, independentes, autônomos, iluminados pela coleção de valores alinhavados pelo filósofo Francis Bacon: “Os juízes devem ser mais instruídos que sutis, mais reverendos que aclamados, mais circunspetos do que audaciosos”.
Se alguém tinha dúvidas sobre o fator que efetivamente transforma a história das sociedades, recebeu concisa resposta na expressão da maioria dos ministros do Supremo: a igualdade dos homens.
Todos são iguais perante a lei. Por isso, urge evitar os exageros a fim de não se cair na desigualdade. A ciência política elege o igualitarismo entre os homens como essência da própria democracia. O ideal da liberdade une-se ao pilar da igualdade, condição que, por sua vez, exige práticas políticas irrigadas nas águas da ética.
Ao se anotar ali um grupo de pessoas notáveis, cada qual com seu devido aparato legal-jurídico, floresce a impressão de que o governo da justiça estende os braços a todos, sem distinção de classe, raça ou categoria. Viceja o sentimento de que há uma plêiade que cuida (e bem) da vida da ordem.
A semente plantada pela Justiça demorará a frutificar? Pode ser. Mas o traçado da política pela régua dos nossos atores não será o mesmo. Mudará de direção. Representantes do povo, agora mais atentos ao que pode e ao que não pode ser feito, se esforçarão para atenuar os vícios a que se amoldaram e cultivam.
Não se muda uma cultura política da noite para o dia. Mas a longa trajetória da ética começa, bem o sabemos, com dois ou três passos morais. E a soma de passos conjugados, no centro e nos fundões do território, conduzirá os conjuntos políticos a exercitarem comportamentos regrados por bons costumes e ações referendadas pelo império da lei.
Como pano de fundo, a consciência de que a instituição judiciária funciona sem amarras. Autônoma, independente. Palmas para a democracia.
As vastas e nem sempre bem cuidadas roças da administração pública, nas três esferas da administração, doravante deverão se iluminar por refletores do Ministério Público, o qual, por sua vez, acionará os canais da Justiça, da primeira à última instância.
A Lei da Ficha Limpa, que começa a vingar (marcando pênaltis contra infratores), e a Lei de Responsabilidade Fiscal, sobre a qual grupos de interesse se debruçam para tentar aliviá-la, funcionam como aríete contra a corrupção.
Diminuir o custo Brasil da incúria torna-se vital para avanços na frente da gestão pública. Implica, ainda, a continuidade de programas bem avaliados pelas populações. Portanto, aos alcaides que tomam posse em 2013 impõe-se o dever de realizar projetos inovadores e prioritários, dando sequência às boas ideias dos antecessores.
O preço Brasil da descontinuidade, por vontade de substituir marcas antigas por novas, se apresenta como um cancro da administração pública.
As consequências do julgamento da Ação Penal 470 já se fazem sentir na percepção do papel do Judiciário. Só não são perceptíveis aos olhos de grupos tampados por carapuça ideológica, cuja meta é a conquista do poder a qualquer custo.
Mas é inegável o pulsar coletivo, visível em exclamações que resgatam o orgulho e a autoestima, a apontar a chama cívica iluminando o canto esquerdo do peito.
Como faz bem à alma sentir o eco da expressão de José Ingenieros, em seu belo livro O Homem Medíocre: “Pátria é comunhão de esperanças, de sonhos comuns e a busca de um ideal; é a solidariedade sentimental de um povo e não a confabulação de politiqueiros que medram à sua sombra”.

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político e de comunicação

Arte de experimentar



Fernanda de Mello Gentil (ODia online)
A literatura criada no ambiente e contexto de um computador, independente ou em rede, é isso, mais aquilo e ainda aquilo outro. Diria mesmo que não é literatura, apenas na medida em que também é. Nós, leitores e autores, estamos tateando o que vêm por aí, descobrindo possibilidades de criação, produção e distribuição de textos e histórias. Estamos, no momento, diante de novas formas de ler e narrar abertas pelas tecnologias digitais.
Não estou falando de blogs nem e-books, um texto literário pode ser publicado em vários suportes, mas isso não o torna “literatura eletrônica” ou “narrativa digital”.
A ideia aqui é a de uma literatura que aproveita todos os recursos, contextos e possibilidades oferecidos pela tecnologia digital já na sua concepção, ou seja, que “nasce digital”. Geralmente são criações que misturam várias mídias, muitas são interativas, quase todas utilizam links e hipertextos (uma boa dica é o site da Eletronic Literature Organization).
O fato é que temos esse desafio nas mãos, contar uma história com texto, som, imagem, compartilhamento de arquivos, redes sociais, tablets e mais uma série de recursos. Talvez essa nova arte narrativa venha a ser uma produção coletiva, uma obra que une o escritor, o programador e o artista gráfico.
Ninguém sabe. Afinal, não é momento de certezas, o caminho está só começando. Sabemos que o aparecimento de uma nova tecnologia costuma trazer também uma nova arte, uma nova linguagem, como aconteceu com a fotografia e o cinema.
Ao mesmo tempo, uma tecnologia não cria automaticamente um experimento autoral ou estético, é possível levar um bom tempo até perceber como uma ferramenta ou técnica deve ser usada criativamente, como torná-la parte de uma nova linguagem, sem falar da complexidade de um meio como o digital.
A boa notícia é que existe um vasto campo a ser inventado, e vale lembrar que só se inventa errando, tentando, experimentando, quebrando a cabeça, criando sem medo. A brincadeira não é acertar de primeira. O desafio está lançado e aceito. A hora é essa. Oba!

Charge - Benett sensacional!



Cirurgia plástica - A vida repaginada dos portadores de síndromes genéticas



Pais permitem que filhos façam plásticas e acreditam que cirurgias podem melhorar a vida das crianças, mostra reportagem de VEJA desta semana

Mariana Amaro
MAIS UM MOTIVO PARA SORRIR - Paula Werneck fez redução de mamas e um tratamento nos dentes que durou quatro anos. No fim dele, chorou de felicidade: “Estou mais bonita”
MAIS UM MOTIVO PARA SORRIR - Paula Werneck fez redução de mamas e um tratamento nos dentes que durou quatro anos. No fim dele, chorou de felicidade: “Estou mais bonita” (Ernani D'Almeida)
Se existe uma área em que a humanidade comprovadamente avançou foi no tratamento de pessoas com diferenças decorrentes da formação genética. No caso dos que nascem com síndrome de Down, a forma de situá-los no tecido da sociedade e as modalidades de tratamento terapêutico, da mais simples à altamente complexa, trouxeram avanços importantes. Fonoaudiólogos aperfeiçoam a fala e cirurgiões cardíacos corrigem os problemas no coração que afetam 50% de todos os que têm a síndrome. Instrutores de ginástica dão exercícios físicos para reforçar o tônus muscular rebaixado e psicólogos ajudam a lapidar as habilidades cognitivas. A expectativa de vida de quem tem Down aumentou de 30 para 60 anos e a participação dessas pessoas na vida social também cresceu visivelmente. Mais recentes e menos comentados são os procedimentos estéticos que suavizam desalinhos físicos típicos da síndrome e também contribuem para aprimoramentos funcionais. Compreensivelmente, existe um intenso debate sobre a conveniência desse tipo de tratamento.
Paula Werneck é uma carioca de 25 anos que toca bateria, joga vôlei e trabalha em uma cantina. Sua vida melhorou em muitos aspectos. Até cinco anos atrás, ela sofria de dores de cabeça e só comia alimentos moles por causa dos dentes frágeis e pequenos. Quando a arcada dentária superior encostava na inferior, seu maxilar era todo projetado para a frente. Daí, as dores. Levada pela mãe, durante quatro anos a jovem passou por um tratamento que aumentou em 4 milímetros cada um de seus dentes. Com o maxilar reposicionado, o pescoço e o queixo de Paula ganharam novas curvas. O lábio superior também foi reposicionado e até as dobras de pele embaixo dos olhos, outra característica da síndrome, ficaram mais suaves. As dores de cabeça sumiram e o sorriso de Paula ficou mais iluminado ainda. Antes do tratamento dentário, ela já havia se livrado das dores nas costas com uma cirurgia de redução de mamas. “Algumas pessoas da minha família falavam que eu estava fazendo minha filha sofrer, que eu tinha de aceitá-la como ela era. Fui em frente porque sabia que isso ia fazer minha filha viver com mais qualidade”, diz a arquiteta Helena Werneck, mãe da jovem. “Eu fiquei mais bonita”, comemora Paula, que chegou a chorar de felicidade ao ver no espelho o resultado das intervenções. Ela está namorando pela primeira vez.
Mariela Lombard / NYDailyNewsPix
PAIS CORAGEM - Charlie Cardillo comemorou o resultado da correção nas orelhas, mas seus pais foram acusados de tentar “esconder” a síndrome
PAIS CORAGEM - Charlie Cardillo comemorou o resultado da correção nas orelhas, mas seus pais foram acusados de tentar “esconder” a síndrome
Corrigir orelhas de abano que causam embaraço às crianças ou diminuir os seios de adolescentes vergadas pela exuberância mamária não são intervenções que provoquem repúdio social. “Por que com a minha filha seria diferente?”, indaga a mãe de Paula. Pensando da mesma maneira, o corretor de imóveis Louis Cardillo e sua mulher, Samantha, americanos de Nova York, sofriam com a rejeição sentida por seu filho mais velho, Charlie, 15, cada vez que ele era chamado de Dumbo pelos colegas -- um tormento para quem tem Down, como ele, e para quem não tem. “Charlie não gostava das orelhas e falava que tinha vergonha das meninas”, relata Samantha. Um cirurgião plástico conhecido da família se ofereceu para fazer a operação. “Tínhamos forte a lembrança da cirurgia que Charlie havia feito com 1 ano, para corrigir uma cardiopatia. Quase desistimos quando pensamos em enfrentar de novo o medo da anestesia”, relembra a mãe. Tomaram a decisão com o pedido do filho. “Foi uma alegria quando tiramos os curativos. Ele sorriu, chorou e disse que estava igual ao pai.” Dias depois, Samantha e Louis receberam e-mails de pessoas que não aceitavam a cirurgia e os acusavam de tentar “esconder” a condição do filho.
A cirurgia para orelhas de abano é a mais comum em jovens com Down. “Além de corrigir as orelhas, faço um mini-lifting no rosto desses pacientes de maneira a puxar a pele para cima. Caso contrário, a orelha cai de novo”, diz o cirurgião plástico Juarez Avelar. Como a intervenção é apenas estética, uma parcela grande de médicos critica a prática. “Quem tem Down carrega no rosto um carimbo. É preciso mudar o jeito, cheio de constrangimento, como as pessoas olham para quem tem a síndrome. Não mudar o rosto deles”, diz Ana Brandão, pediatra especializada em crianças com Down do Hospital Albert Einstein e mãe de Pedro, 17, que tem a síndrome. “Muitas dessas cirurgias são dolorosas e, acredito, desnecessárias.” Entre as mais dolorosas está a de redução da língua, em razão da quantidade de terminações nervosas. Protuberante nos portadores de Down, ela tende a ficar para fora da boca. Há estudos que mostram que a cirurgia melhora a respiração, a fala e a mastigação, mas as divergências permanecem.
Os sentimentos de proteção dos pais, intensificados com os filhos especiais, e a discussão ética sobre a necessidade de certas intervenções são fatores que desaparecem no caso de cirurgias funcionais necessárias para portadores de outras síndromes genéticas, como a de Crouzon e a de Apert. Quando um bebê nasce, os seis ossos que formam o topo do crânio estão separados para que o cérebro tenha espaço para crescer. Esses ossos começam a se fechar no primeiro ano de vida. Em crianças com Crouzon e Apert, uma ou várias das fendas entre os ossos se fecham antes do tempo. Para compensar o espaço perdido, o cérebro cresce em outras direções e provoca deformidades na cabeça e no rosto. A cirurgia para mantê-las abertas precisa ser feita antes dos 2 anos de idade. Do contrário, a criança terá problemas cognitivos, de fala e de crescimento. “Colocamos molas entre esses ossos para garantir que a fissura não se fechará antes da hora de novo”, explica a cirurgiã plástica Vera Cardim, do Hospital Beneficência Portuguesa. Depois de um ano, as pequenas molas são retiradas em nova cirurgia.
A sorocabana Thais Barbosa, 19, nasceu com Crouzon e sua cabeça teve um crescimento anormal para trás, o que fez com que os ossos do rosto ficassem “afundados”. Quando completou 2 anos, Thais passou por uma cirurgia para implantar as molas. Também teve fios de aço acoplados à arcada dentária superior. Presos, internamente, a ossos do rosto, os fios forçavam a mandíbula e o nariz para a frente. No último ano, Thais fez mais duas operações, de cunho estético, para reposicionar o olho esquerdo, redesenhar o queixo com autoimplante de gordura e “puxar” os ossos da face. Valeu o sacrifício. “Mudei muito e arrumei um emprego,” responde Thais. “Antes, as pessoas ficavam me encarando e cochichando.

Reflexão de beira de urna: a galinha e o político



A diferença entre a galinha e o político é uma questão de tempo. A galinha cacareja e entrega sua mercadoria na hora. O político também cacareja. Mas só daqui a quatro anos você vai saber se ele botou o ovo.
- Ilustração via Miran.

Estopim do escândalo do mensalão, Correios viram feudo político do PT


Após comando do PTB e do PMDB, desalojados em meio a denúncias, petistas dominam cúpula da empresa; ex-ministro José Dirceu e deputado João Paulo Cunha influenciaram escolha de dirigentes

27 de outubro de 2012 | 17h 28
Eduardo Bresciani e Fábio Fabrini, de Brasília
Uma das fontes do escândalo do mensalão, o aparelhamento político na estatal Correios continua, sete anos depois. Após passar pelas mãos do PTB e do PMDB, desalojados do comando em meio a denúncias de corrupção, a empresa virou feudo do PT, cujos líderes indicaram nomes para os principais cargos de direção.

Wagner Pinheiro de Oliveira ocupa cargos por sugestão de caciques do PT há pelo menos 20 anos - WILSON PEDROSA/ESTADÃO-14/9/2011
WILSON PEDROSA/ESTADÃO-14/9/2011
Wagner Pinheiro de Oliveira ocupa cargos por sugestão de caciques do PT há pelo menos 20 anos
Condenados pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão, o ex-ministro José Dirceu e o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) influenciaram a escolha dos dirigentes. O principal exemplo é o presidente da empresa, Wagner Pinheiro de Oliveira, que deve sua nomeação ao ex-ministro Luiz Gushiken, absolvido no julgamento em curso no Supremo, e teve ainda a sustentação do grupo liderado por Dirceu.
Sindicalista vinculado à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e filiado ao PT, Pinheiro ocupa cargos por sugestão de caciques do partido há pelo menos 20 anos. A ligação com o ex-chefe da Casa Civil, segundo a assessoria do próprio ex-ministro, vem desde a década de 1980, quando o presidente dos Correios era funcionário da legenda na Assembleia Legislativa de São Paulo e Dirceu, deputado.
Nomeado no início do governo Dilma Rousseff com a missão de "sanear" a estatal após o escândalo de lobby e tráfico de influência que derrubou a ex-ministra Erenice Guerra (Casa Civil), o presidente dos Correios recebeu elogios de Dirceu em seu blog. Em janeiro de 2011, o ex-ministro da Casa Civil se referiu a ele como exemplo de gestor público "testado e aprovado".
Outro réu com influência na administração dos Correios é João Paulo Cunha. Graças a ele, o petista Wilson Abadio de Oliveira ascendeu à diretoria regional da estatal na Região Metropolitana de São Paulo, a mais rentável do País. A indicação causou uma crise na bancada do PT, no início de 2011, porque Cunha não consultou os colegas sobre a nomeação.
Ex-chefe dos Correios no Rio Grande do Sul, Larry Manoel Medeiros de Almeida assumiu a vice-presidência de Gestão de Pessoas graças à indicação da ministra da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Maria do Rosário (PT-RS). Ele já foi multado pelo TCU em R$ 1,5 mil por irregularidades em licitações e na execução de despesas quando atuava na regional gaúcha. Almeida não recorreu da condenação, quitando o débito.
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, escalou seu ex-auxiliar no Planejamento, Nelson Luiz Oliveira de Freitas, para a diretoria de administração. Na cúpula dos Correios os petistas encontraram espaço para alojar também, como assessor especial, Ernani de Souza Coelho, marido da ex-senadora Fátima Cleide (PT-GO). Ele acumula ainda a presidência do conselho deliberativo da Postalis, o bilionário fundo de pensão dos funcionários.
O presidente dos Correios tem ainda outros auxiliares com carteirinha do PT. Seu chefe de gabinete, Adeilson Ribeiro Telles, é militante da legenda e, assim como o patrão, sindicalista com forte atuação na CUT. Na presidência da Postalis, Pinheiro colocou Antonio Carlos Conquista, seu ex-chefe de gabinete na Petros e filiado ao PT paulista.
Estatuto. O aparelhamento decorre também de um rearranjo institucional, que deu margem a mais apadrinhamento em cargos-chave. Mudanças feitas no Estatuto dos Correios, no ano passado, permitiram à atual diretoria nomear funcionários de outros órgãos públicos para funções técnicas e gerenciais, antes exclusivas de servidores de carreira, cujas remunerações variam de R$ 13,3 mil a R$ 18,7 mil.
Com isso, petistas de outros setores da administração puderam se abrigar na estatal. O Estado obteve a relação dos ocupantes desses cargos na administração central da empresa, em Brasília. Boa parte foi preenchida por militantes ou ex-militantes do PT.
Na chefia da Universidade dos Correios, Pinheiro alojou a professora Consuelo Aparecida Sielski Santos, filiada ao PT catarinense, cedida pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia.
Para assessorar Larry na vice-presidência de Gestão de Pessoas, escalou Alexandre Vidor, militante do partido no RS. Na Comunicação Social, foi alocado Felipe de Angelis, também do PT gaúcho. A vice-presidência de Administração abriga, como assessor, Idel Profeta Ribeiro, ligado à legenda em São Paulo.

Wilson Simonal canta Nem Vem Que Não Tem



Wilson Simonal

Ouça Nem Vem Que Não Tem, de Orlando Moraes

A comissão da ética tétrica, por Elio Gaspari



Elio Gaspari, O Globo
José Paulo Sepúlveda Pertence tem 74 anos, ralou durante a ditadura, foi nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal em 1985 e lá ficou até 2007, quando Lula colocou-o na direção da Comissão de Ética Pública da Presidência da República. Repetindo: Comissão de Ética Pública da Presidência da República.
Enquanto o país assiste inebriado ao julgamento da quadrilha do mensalão, Pertence disse o seguinte ao repórter Fernando Rodrigues:
“Não creio que isso vá transformar a História do Brasil. O que se passa para o leitor de jornal, o telespectador ou o leitor de revistas é que é histórico porque se está condenando. Mas isso é relativo.”
Põe relativo nisso. No final de setembro Pertence demitiu-se da presidência da Comissão de Ética. Por falta de quorum, ela não se reunia desde julho, pois a doutora Dilma não preenchia quatro vagas abertas. Quando a doutora nomeou dois conselheiros desconsiderando as sugestões de Pertence, ele foi-se embora. (Fica por conta da sua proximidade com os comissários o fato de o terem passado na máquina de moer carne, atribuindo sua contrariedade a um pedido frustrado de nomeação de um filho.)
No mesmo dia em que o Supremo Tribunal Federal condenou 25 réus do mensalão, a nova Comissão de Ética reuniu-se e, por unanimidade, arquivou dois processos que tramitavam contra o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel.
Numa denúncia mostrava-se que a partir de 2009, pouco depois de deixar a prefeitura de Belo Horizonte, Pimentel recebera R$ 2 milhões ao longo de dois anos por serviços de consultoria.
Um de seus clientes, a construtora Convap, desembolsou R$ 514 mil por sete meses de serviços contratados (R$ 73,4 mil mensais). Outro freguês, a Federação das Indústrias de Minas Gerais, pagou-lhe R$ 1 milhão por nove meses de trabalho, ou R$ 111 mil mensais.
Pimentel explicou que, descontados os impostos, sua Bolsa-Consultoria rendera-lhe R$ 50 mil mensais, “remuneração compatível com o mercado de executivos”. O doutor faturou cerca de US$ 550 mil da Fiemg. (A mais famosa consultoria do mundo, chefiada pelo ex-secretário de Estado Henry Kissinger, em 1986 cobrava US$ 420 mil anuais aos seus maiores clientes.)
A segunda denúncia era mequetrefe. Em outubro do ano passado Pimentel viajou na comitiva da doutora Dilma para a Bulgária e precisava comparecer a um seminário privado em Roma. À falta de um avião de carreira, recorreu ao empresário que patrocinava o evento e descolou um jatinho.
A Comissão de Ética justificou os dois arquivamentos. Quanto ao avião, o doutor Américo Lacombe, seu presidente e relator do processo, disse o seguinte à repóter Luiza Damé:
— Ele não tinha outra opção. Ou ia no avião ou não ia, faltava ao compromisso. Temos uma resolução da comissão dizendo que a autoridade pode usar aviões dos patrocinadores dos eventos desde que eles não tenham interesse sob julgamento dessa autoridade. No caso, não havia. Então, arquivamos.
Com a Bolsa-Consultoria, Lacombe foi mais radical:
— A quantia que ele recebeu foi pequena, em dois anos, R$ 50 mil ao mês. Qualquer profissional liberal ganha isso.
Não foram R$ 50 mil, e Lacombe sabe disso. Essa cifra, como diria o ministro Joaquim Barbosa, é advocacia da defesa.
Nas palavras de Pimentel: “Não embolsei R$ 2 milhões. Entrou mesmo R$ 1,2 milhão, R$ 1,3 milhão, que dividido por 24 (meses) equivale a R$ 50 mil mensais. Estamos falando de uma remuneração absolutamente compatível com o mercado de executivos hoje no Brasil.”
Pimentel subtraiu os impostos pagos. Que o acusado se defenda assim, tudo bem, mas o presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República só pode endossar esse raciocínio se acha que o imposto devido não sai da renda.
Isso é pouco diante do outro argumento. R$ 50 mil mensais não são uma “quantia pequena”, muito menos “qualquer profissional liberal ganha isso”.
O doutor Lacombe é juiz aposentado. Enquanto trabalhou para a Viúva, jamais viu um contracheque desse tamanho. Um advogado “qualquer” batalha para fechar o mês com R$ 5 mil, um décimo da Bolsa-Consultoria líquida de Pimentel.
O destino da quadrilha do mensalão só transformará o país se for o início de um processo de moralização. A conduta da Comissão de Ética mostrou que o espetáculo do mensalão pode vir a ser apenas um suspiro.
Em 1969 três jovens queriam transformar o país. Américo Lacombe era um juiz federal de 32 anos. Passou um ano na cadeia e foi demitido por ter acolhido em sua casa militantes da Ação Libertadora Nacional. Um deles fora baleado durante um assalto a banco em São Paulo. (Essa informação está no livro “Marighella — O guerrilheiro que incendiou o mundo”, do repórter Mário Magalhães, que começou a chegar às livrarias).
Outro jovem, “Jorge”, tinha 19 anos. Militava na VAR-Palmares e, em abril de 1970, tentou sequestrar o cônsul americano em Porto Alegre. A operação fracassou, mas num aparelho da organização havia um manifesto no qual narrava-se a confissão feita pelo diplomata no cativeiro que não houve.
Em Belo Horizonte, “Jorge” era colega de movimento estudantil de “Vanda”, que também militara na VAR até ser presa três meses antes do sequestro fracassado. Se a operação tivesse dado certo, “Vanda”, aos 23 anos, talvez tivesse entrado na lista dos presos a serem libertados em troca do cônsul. 
Nesse caso, Dilma Rousseff só teria voltado ao Brasil em 1979, com a anistia. Sua carreira política teria sido outra, “Jorge” não seria ministro do Desevolvimento e jamais conseguiria uma Bolsa-Consultoria de R$ 2 milhões, pois até 2009 seu patrimônio não chegava a R$ 1 milhão.
Queriam mudar o Brasil, e deu no que deu. Ou melhor: deu no que está dando.

Schwarzenegger voltará a viver Conan no cinema



Poetas buscam inspiração até no jogo do bicho



O compositor mineiro Geraldo Theodoro Pereira (1938-1954) e seu parceiro Wilson Batista usaram um dos temas mais populares, o jogo do bicho, para fazer a letra do samba de breque “Acertei No Milhar”, gravado por Moreira da Silva, em 1940, na Odeon.
 Geraldo Pereira
 Wilson Batista
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ACERTEI NO MILHAR
Wílson Batista e Geraldo Pereira
- Etelvina, minha filha!
- Que há, Jorginho?
- Acertei no milhar
Ganhei 500 contos
Não vou mais trabalhar
E me dê toda a roupa velha aos pobres
E a mobília podemos quebrar
Isto é pra já
Passe pra cá
Etelvina
Vai ter outra lua-de-mel
Você vai ser madame
Vai morar num grande hotel
Eu vou comprar um nome não sei onde
De marquês, Dom Jorge Veiga, de Visconde
Um professor de francês, mon amour
Eu vou trocar seu nome
Pra madame Pompadour
Até que enfim agora eu sou feliz
Vou percorrer Europa toda até Paris
E nossos filhos, hein?
- Oh, que inferno!
Eu vou pô-los num colégio interno
Telefone pro Mané do armazém
Porque não quero ficar
Devendo nada a ninguém
E vou comprar um avião azul
Pra percorrer a América do Sul
Aí de repente, mas de repente
Etelvina me chamou
Está na hora do batente
Etelvina me acordou
Foi um sonho, minha gente
(Colaboração enviada pelo poeta Paulo Peres – site Poemas & Canções)

Charge do Duke (O Tempo)



SER ELEGANTE



Magu
Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância do comportamento. É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza. É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto. É uma elegância desobrigada. É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam. Nas pessoas que escutam mais do que falam. E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca. É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas. Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros. É possível notá-la em pessoas pontuais. Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas. Também é muito elegante quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não.
É sempre elegante: Oferecer flores. Não ficar espaçoso demais. Você fazer algo por alguém, e este alguém jamais saber que você teve que se arrebentar para o fazer. Não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro. Não falar de dinheiro em bate-papos informais. Retribuir carinho e solidariedade. O silêncio, diante de uma rejeição. A gentileza: Atitudes gentis falam mais que mil imagens. Por exemplo, abrir a porta para alguém. Ou dar o próprio lugar para alguém sentar. E oferecer ajuda, então, é um suprasumo.
Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do Gesto. Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, nem estar nele de uma forma não arrogante. Sorrir, sempre é muito elegante e faz um bem danado para a alma. Olhar nos olhos, ao conversar, é essencialmente elegante. Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo. A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver, que independe de status social: é só pedir uma licença para o nosso lado “brucutu”, que acha que “com amigo não se deve ter estas frescuras.” Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os desafetos é que não irão desfrutá-la.
Educação enferruja por falta de uso!

O INÍQUO CALHORDA MORALIZA?



Ralph J. Hofmann
O promotor do transporte de moeda em cuecas, homem sem valor moral ou ético nenhum e ainda por cima deputado federal José Guimarães  (foto -PT-CE) anuncia que seu partido irá lutar pela “regulamentação das comunicações’ no país “quer queiram quer não queiram”.
O parlamentar mostra desprezo pela constituição brasileira, pela declaração dos direitos do homem e por qualquer norma de supervisão da ação de governos que se tenha notícia.
Mesmo com uma imprensa livre foi possível ao governo do Brasil acomodar os órgãos de imprensa para eleger-se três vezes a despeito de ser voz corrente no país que ocorria um mensalão, que vastas quantidades de dinheiro eram desviadas dos cofres públicos, e mesmo ele José Guimarães conseguiu eleger-se a despeito de seu vínculo com os “dólares na cueca”.
Além desse incidente o deputado é investigado por desviar ais de R$ 100 milhões do Banco do Nordeste.
Decididamente uma figura lapidar para falar sobre uma reportagem publicada pela revista Veja que associou Lula ao crime do mensalão. Guimarães disse ainda que a situação “foi além do limite”, e que, por causa disso, o PT teria que enfrentar a questão.
O mais surpreendente é que uma pessoa com este perfil, neste país ande pela rua e ainda ameace a imprensa sem perigo de ser apedrejado.
Por outro lado no Rio Grade do Sul o governo Tarso Genro, aparentemente com apoio da assembléia pretende entrar em 2013 com uma lei de mordaça da empresa a título de “regulamentação das comunicações”.
A vida de jornalistas independentes, contrários à ação desmiolada e criminosa de certos governantes já é difícil, haja visto a quantidade de processos que precisam enfrentar com seus parcos recursos enquanto o PT e suas filiais dispõem de fortunas imensas para manterem batalhões de advogados cerceando seu trabalho num flagrante abuso de poder econômico.
Até quando o povo brasileiro assistirá isto de braços cruzados.  O STJ desamarrou um nó, mas as próximas nomeações da presidente Dilma não auguram nada bom para aquela instituição. Podemos esperar um retorno da impunibilidade a não ser que o senado passe a vetar a nomeação de micos de realejo para aquele tribunal.
E certamente, grande parte da imprensa que desde já não se manifesta contra esta imposição de nulidades fiéis ao regime no STJ não vai abrira  a boca para reclamar.
Por quanto tempo a Veja e a imprensa nanica dos Blogs e Newsletters poderão resistir?

CLÁSSICOS DO MAGU



Magu
Peter Ilyich TCHAIKOVSKY (*1840/†1893). Hoje apresentaremos a bela Quinta Sinfonia, de 1888, de Tschaikowsky, em Mi Bemol, do op 64, obra completa, considerada pelos musicólogos como uma das peças que define a Era Romântica. O maestro é Leonard Bernstein, dirigindo a Orquestra Sinfônica de Boston.  Os movimentos são:
1 Andante-Allegro con anima ∮ 2 Andante cantabile ∮ 3 Valse-Allegro moderato ∮ 4 Finale-Andante maestoso-Allegro vivace
Abram a tela grande, a imagem e o som são muito bons, em 360p
(1) Foto: Leonard Bernstein em ensaio com a Sinfônica de Boston

Dirceu, eu quero lhe usar - rsrsrsrs


Foto

Projeto prevê implosão do antigo prédio da Ospa


Um edifício comercial deverá ser erguido no endereço, na Avenida Independência, na Capital

Antigo lar da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), o Teatro Leopoldina e o prédio que o abriga, localizado na Avenida Independência, em Porto Alegre, deverá ser implodido. Para o seu lugar é prevista a construção de um edifício comercial.

Ronaldo Bernardi / Agência RBSImóvel está deteriorado e preocupa a comunidade do bairro Independência
A Comissão de Análise Urbanística e Gerenciamento (Cauge) aprovou o projeto do prédio comercial na última quarta-feira, mas ainda não há uma data certa para que o edifício existente seja derrubado. A possibilidade de implosão se deve às condições da estrutura, que está deteriorada. Nos últimos anos, além de preocupar a comunidade do bairro Independência quanto ao seu abandono, o prédio se tornou um fardo para os proprietários.
"Até o ano passado eu ainda tinha escritório ali", afirmou Paulo Eduardo Creidy Satt, neto do construtor do imóvel, o imigrante libanês Abdalá Adalberto Creidy.

Casa Cor Rio 2012 resgata história de imóvel no Flamengo

Posted: 26 Oct 2012 09:31 AM PDT
Na edição deste ano, a 22ª Casa Cor levou aos seus visitantes um pouco da história da cidade maravilhosa. Deu vida a um dos imóveis do bairro do Flamengo mais glamouroso do ponto de vista arquitetônico. O casarão de 1926, onde abrigou o Hotel Balneário Sete de Setembro e a sede do internato da Escola de Enfermagem Anna, recebeu as propostas de arquitetos, decoradores e paisagistas do século XXI, que fizeram um contrapondo entre passado e presente.
O objetivo da Casa Cor de ‘resgatar a história do imóvel no Flamengo, respeitando as características arquitetônicas’, foi totalmente atingido. No térreo foi preservada a função hoteleira, com recepção, lobby, salas, restaurante e café. Os outros pavimentos foram ambientados com lofts, estúdios, o modo de vida dos moradores em condomínio, finalizando com espaços comerciais e de lazer – lojas, escritórios, salas de cinemas, wine bar e adega.
Na Casa Cor Rio, na Avenida Rui Barbosa, 762, aproximadamente 85 profissionais entre arquitetos, decoradores e paisagistas criaram 53 ambientes diferentes, para desenvolver o tema “arte de bem receber”, em 5.400m2. Um assunto em pauta na capital carioca às vésperas dos eventos esportivos em, 2014, com a Copa do Mundo, e em 2016, com as Olimpíadas. Período em que o serviço de hotelaria estará a todo vapor e osimóveis no Rio de Janeiro despertando ainda mais o interesse dos investidores.

22ª Casa Cor Rio de Janeiro, agosto e outubro 2012

Local: Avenida Rui Barbosa, 762 – Flamengo

Quais são e onde estão as raízes da violência urbana?



Pedro do Coutto
Numa noite, doze acidentes graves com ônibus no Rio, reportagem de Vera Araujo, O Globo de sexta-feira. Manchete principal do jornal. Crescimento incrível de assassinatos na cidade de São Paulo este ano em relação a 2011. Manchete principal também da Folha de São Paulo, matéria de Afonso Benites e Rogério Pagnan. A violência cresce e onde se localizam suas raízes? É a pergunta, já que pesquisas do IBOPE e Datafolha apontam índices de aprovação do governo Dilma Rousseff e da imagem pessoal da presidente.
O desemprego recuou, estamos em ano eleitoral, quando sempre esperanças se renovam. Mas a síntese da realidade não traduz essas manifestações. O que estará se passando? É indispensável um levantamento conjunto e profundo, uma pesquisa múltipla econômica e social que forneça as bases para um mapeamento que possa conduzir a uma interpretação ampla da fase que o país está vivendo.
Se todas as coisas que sucedem decorrem de razões concretas, é fundamental identificar-se tais razões. O problema não é de apenas segurança pública, mas de um conceito mais geral do que ela represente. Pois não se pode pensar somente na repressão, esta sucede o ato violento. Tem que ser feita, é indispensável. Porém mais importante é como evitar a violação das leis e regras sociais. Trata-se de convivência entre seres humanos. Entendimento para evitar a deflagração de uma guerra urbana, que atinge os principais centros do país.
É fundamental colocar-se instrumentos de controle preventivo nos eixos que se apresentam descontrolados. De todas as guerras, a urbana é a mais difícil e perigosa. Inclusive porque ela é declarada e praticada sem aviso, a qualquer momento, em qualquer lugar. O perigo está em toda a parte. Não é antecedido de aviso. De explicação lógica. Em nenhum local do mundo as forças de segurança podem estar em todos os pontos. Só a mensagem social veiculada pelos meios de comunicação.
Tem de ser a partir daí com o suporte de um sistema preventivo mais presente. Por isso é que se impõe o mapeamento das cidades, através de uma convergência reunindo em conjunto o Palácio do Planalto, os governos estaduais e municipais.
O meio ambiente tem que ser incluído, da mesma forma a habitação, as condições de moradia, de transporte, de assistência à saúde. Esta colocação pode parecer um sonho e talvez até seja. Mas é o único caminho para integrar as administrações públicas à população de modo geral.
O IBGE apontou a queda do nível de desemprego este ano. Miriam Leitão cimentou em sua coluna no Globo . Um avanço, mas que por si só mão resolve o gigantesco desafio colocado no momento. É preciso muito mais. Não se trata de zerar os conflitos. Mas reduzi-los. Ao contrário do que está acontecendo e colocando em risco a estrutura social, expondo-a a abalos seguidos. Uma crise que não está sendo vista como tal, incluindo sua dimensão exata.

PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA Destrutividade humana remete à Esperança?



CARLOS VIEIRA

Avenida Brasil
Há tempos uma novela não mobilizava tanto a sociedade brasileira! Avenida Brasil, escrita por João Emanuel Carneiro mostrou durante meses uma característica da alma humana – a maldade. 
A Metapsicologia, ou seja, a psicologia freudiana, mostrou a partir de achados clínicos, que nós humanos somos movidos desde o inicio da vida por dois tipos de instintos: o instinto de vida e o instinto de morte. A saúde mental vai depender da preponderância das forças de vida sobre as pressões psíquicas de morte. O amor espera-se, deve predominar sobre a destrutividade, a maldade humana, o ódio, enfim todos os sentimentos e desejos homicidas e suicidas. A questão é que amor e ódio são parte intrínseca da realidade psíquica: o amor não é sinônimo de ausência de ódio; nem o ódio anula a presença do amor. O funcionamento mental de uma pessoa tem uma natureza dialética, pois oscila entre as forças de construção e destruição. Daí, o conflito psíquico ser inerente e, o que nos resta nessa vida é desenvolver uma capacidade para administrar o conflito, e não extingui-lo. 
Avenida Brasil mostrou de uma maneira clara, objetiva, realística e às vezes cruel, esse lado perverso e mortífero da personalidade humana. Traição, ciúme patológico, ferimentos psíquicos, agressões violentas, crime, sequestro, roubo, intriga, uma série de comportamentos psicopatológicos nas várias classes da sociedade brasileira. A dramaturgia dos temas exigiu experiência e saúde mental dos atores, além de contaminar os expectadores que se identificavam, amando e odiando os personagens. 
Uma bela experiência de um elenco que a cada capitulo crescia, desenvolvia e aprimorava a arte da dramatização. 
Prezado leitor, o que quero enfatizar hoje é o que essa novela nos ensinou: ter consciência da capacidade destrutiva do homem e pensar quais as alternativas em direção ao crescimento psíquico. 
Ferimento psíquico (ferida narcísica), dor mental, ódio, ressentimento e vingança compõem uma gradação perfeita na dinâmica psíquica na história que João Emanuel escreveu. 
Alguém me falou que o compositor da novela teria se inspirado em textos de Fiódor Dostoievski (1821-1881), escritor russo, um dos ícones da literatura universal, conhecido mais publicamente por seus dois romances: Os Irmão Karamázov e Crime e Castigo. 
Pesquisando fragmentos de textos de Dostoiévski, e do belo livro – “Dostoievski, Filosofia, Romance e Experiência Religiosa, do filósofo italiano Luigi Pareyson (1919-1991), vi sentido em pensar que João Emanuel tenha tido familiaridade com a obra do escritor russo. 
Escreve Luigi Pareyson: “As páginas que Dostoievski dedica ao ‘Pesadelo de Ivan Fedorovic’ são de um poder extraordinariamente dramático e, ao mesmo tempo, de uma profundidade lucidamente filosófica e religiosa. Que o Diabo seja a personificação do sósia, isto é, da presença do mal no homem, resulta com dramática evidencia: Sou eu mesmo que falo e não tu... Tu és uma alucinação minha. És uma encarnação de mim mesmo, mas somente de uma parte de mim, de uma parte dos meus pensamentos e dos meus sentimentos, mas daqueles mais asquerosos e mais estúpidos... Insultando-te, insulto a mim mesmo! Tu és eu, eu mesmo, mas com um outro focinho. Tu dizes exatamente aquilo que eu penso e não estás em condições de me dizer nada de novo!... Mas tu escolhes os meus pensamentos mais feios... Não, tu não existes, tu és eu, eu mesmo e nada mais! És um zero, és uma fantasia minha”. Eu vejo em ti o canalha que saiu de mim; ele sou eu, eu mesmo: toda a parte baixa, vil e desprezível de mim.” (fragmentos do escrito de Dostoievski em – Os Irmãos Karamazov). 
A ideia filosófica do autor russo nem é otimista nem pessimista. Penso que é um realismo forte e cruel, pois mostra as forças do mal e do bem, coexistindo dentro do ser humano. Somos, ainda que tenhamos dificuldade de admitir: Caim e Abel. A novela trouxe essa luta, mas assim como Dostoievski, a luta interna precisa passar pela consciência e experiência da maldade para chegar ao bem. 
A alternativa, tanto na obra Fiódor Dostoievski como na novela de João Emanuel, é a capacidade de perdoar – só o perdão evita uma catástrofe maior: a loucura. Entretanto penso que para poder perdoar, antes é necessário se sentir responsável por essa parte diabólica da pessoa. Assumir a sua parte destrutiva é imprescindível para que se possa cuidar dela. 
Nosso poeta Manuel Bandeira, em 1947, denunciou o “animal” que existe dentro do ser humano em seu poema – O Bicho – quem sabe, para poder cuidar dele.
“Vi ontem um bicho 
Na imundície do pátio 
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa, 
Não examinava nem cheirava: 
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão, 
Não era um gato, 
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasilia e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London. 

A aposentadoria dos professores



Nesta série de artigos que tenho escrito no GLOBO acerca da Previdência, abordei em ocasiões anteriores a questão do salário mínimo; a necessidade de adotar novas regras de aposentadoria para os jovens que ingressarem no mercado no futuro; a importância de transição para aqueles que já estão trabalhando; o aumento da idade de aposentadoria; as diferenças de gênero; a extensão do período contributivo de quem se aposenta por idade; o tema das pensões; e a aposentadoria rural. Hoje tratarei de um assunto delicado: a aposentadoria dos professores. 

Esclareço, inicialmente, que penso que poucas profissões são tão importantes quanto a do professor para a formação do ser humano. Em minhas palestras, gosto muitas vezes de citar a frase de um ilustre argentino do século XIX que, depois de ter sido presidente da República, foi nomeado reitor da universidade e começou o discurso de posse nos seguintes termos: "Fui promovido." 

Dei aulas durante 15 anos e me sinto um professor. O ponto que está em discussão é se há ou não razões para que as regras de aposentadoria desse profissional sejam diferentes em relação às que regem as demais profissões, como ocorre atualmente. 

Ortega y Gasset dizia que "na política há apenas circunstâncias históricas. São elas que definem o que deve ser feito". Na Grécia, as circunstâncias definiram a necessidade de adotar medidas dramáticas, em função da impossibilidade de honrar o contrato social prévio. As ideias que defendo visam a uma mudança suave das regras adotadas no país, para evitar um dia correr o risco de chegar a uma situação como a dos gregos ou a dos italianos, quando até as aposentadorias tiveram que ser cortadas no ajuste fiscal aplicado. 

Nossa Constituição permite reduzir em 5 anos a contagem para a aposentadoria por tempo de contribuição no caso dos professores. Isso significa que, em vez de a exigência ser de 35 anos para os homens e de 30 para as mulheres, o requisito é de 30 anos para os primeiros e de 25 para as segundas. Como a situação mais frequente é que os docentes sejam do sexo feminino, na maioria dos casos a aposentadoria no ensino fundamental pode ser conseguida com apenas 25 anos de trabalho. É pouco. 

Alguém poderia argumentar que é "justo". Por outro lado, o que dizer a profissionais que convivem diariamente com a morte ou com alto grau de estresse e se aposentam com as mesmas exigências que as de qualquer outra profissão? Será que isso é justo?

Na Argentina, por exemplo, as condições de ensino são parecidas com as do Brasil e nem por isso os professores gozam de regras especiais de aposentadoria. Por que as regras para os professores aqui são diferentes? 

A regra facilita a mentalidade de que "uma mão lava a outra". Como, de um modo geral, as condições de trabalho e os salários pagos deixam muito a desejar, é como se o Estado propusesse um pacto: "Você vai trabalhar em prédios ruins, com escassez de material e ganhando pouco, mas em compensação deixo você se aposentar cedo." O problema é que esse arranjo peculiar gera uma vítima inocente — o aluno. Como frequentemente o professor tem que lecionar em mais de uma escola para ter uma melhor remuneração, ele muitas vezes não consegue estar em seu melhor estado físico e emocional para ter condições de ministrar uma boa aula, como a que poderia dar se trabalhasse em melhores condições. 

Assim, por um lado, o Estado deixa de fazer o que se espera que faça em uma sociedade que funcione adequadamente e por outro o professor, mal pago, se aposenta precocemente por qualquer parâmetro de comparação internacional, podendo garantir um fluxo assegurado de rendimentos, no limite, aos 45 anos, tendo ainda mais 35 ou 40 anos de vida pela frente. Enquanto isso, quem enfrentará o ônus de ter professores desmotivados durante 12 anos é o aluno — que pagará as consequências pela vida toda. 

A solução para as mazelas da educação passa, entre outras coisas, por romper esse círculo vicioso. O professor precisa ter melhores condições de trabalho — e para isso é importante que os salários melhorem —, mas, em contrapartida, ele deveria ter as mesmas regras de aposentadoria que as demais profissões. Permitir aposentadorias com 48 ou 50 anos de idade simplesmente não faz sentido.
Na Argentina, as condições de ensino são parecidas com as do Brasil, e, nem por isso, o professor goza de 
regras especiais de aposentadoria. Por que aqui é diferente?
 

Publicado no Golobo de hoje. Fabio Giambiagi é economista.