domingo, 23 de dezembro de 2012

‘Não creia em bruxas, mas que as há, ah há!’, por José Nêumanne



PUBLICADO NO ESTADÃO DE 19 DE DEZEMBRO
JOSÉ NÊUMANNE
Em Paris, cenário favorito para desabafos de presidentes petistas, Dilma Rousseff fez uma digressão interessante sobre suas convicções pessoais a respeito de corrupção de agentes públicos: ela é a favor de tolerância zero para pôr fim aos malfeitos dos larápios, mas contra a “caça às bruxas”. O combate sem trégua é dirigido indiscriminadamente contra quem desafiar seu indômito espírito republicano e a vigilância que ela anuncia para evitar malversação do erário. A exceção refere-se a seu ex-chefe, padrinho e antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, sobre quem quaisquer suspeitas, por mais que apoiadas em provas ou evidências, são por ela consideradas uma “indignidade”.
A tolerância zero da presidente não garante lisura na gestão do dinheiro público, mas revela seu estilo de mando. É de todos conhecida a curtíssima extensão do pavio da chefe de governo: suas explosões de mau gênio são tão estridentes que os impropérios atravessaram os geralmente indevassáveis salões e corredores palacianos, tornando-se famigerados. Quanto à corrupção propriamente dita, sua reação é, sem nenhuma intenção de desrespeitá-la, pavloviana: cada auxiliar de alto escalão que não tenha a proteção de sua benquerença, ao ser denunciado, é logo demitido. Os que habitam os desvãos secretos de seus afetos não recebem tratamento isonômico. É notório o caso do ministro Fernando Pimentel, cujo cargo foi mantido sem que nunca tivesse sido esclarecido de que sabença dispõe para justificar os altíssimos preços pagos por suas palestras. Para poupá-lo a chefe chegou a levar um ícone da antiga moral petista, o ex-ministro Sepúlveda Pertence, a renunciar à Comissão de Ética da Presidência da República, após não reconduzir membros interessados na contabilidade da consultoria de seu auxiliar do peito.
Nem protegidos de seu padrinho foram poupados quando denunciados pelos adversários da “mídia”. Só que, depois, ninguém seria alcançado pelos braços da punição penal, donde se conclui que a perda de cargo é a pena máxima para amigos.
Isso, é claro, não vale para os inimigos de ocasião. Não há delito de que seja acusado um companheiro petista que não desperte a sanha de sua base de apoio parlamentar a apontar com seu dedo em riste na direção do ex-presidente Fernando Henrique, cujo único crime reconhecido é a filiação ao PSDB. Se bem que neste momento o referido tucano venha sendo acompanhado por novos desafetos, como o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, acusado de alta traição por ter sido nomeado pelo petista Lula, confirmado por Dilma e, apesar disso, ter apresentado um libelo acusatório que terminou levando o Supremo Tribunal Federal (STF) a condenar os petistas Dirceu, Genoino e Delúbio.
A “caça às bruxas” não atende aos requisitos mínimos da lógica e da verdade. Haverá, de fato, uma onda de delação, premiada ou não, no momento no Brasil? Vamos aos fatos: o operador do mensalão, que, conforme o PT da presidente, nunca existiu, Marcos Valério Fernandes, procurou o Ministério Público Federal (MPF) para contar que depositou dinheiro da corrupção na conta do ex-segurança e ex-aloprado Freud Godoy supostamente para pagar contas pessoais de Lula. Será verdade? A ministra do STF Cármen Lúcia disse que duvida. Dilma não hesitou: fora do País, sendo recebida pelo presidente da França, François Hollande, não apenas desmentiu, como deu ordens, segundo noticiário confiável, para seus ministros saírem em defesa do companheiro-mor.
Estarão corretas as insignes damas republicanas? É simples responder à questão. Basta abrir um inquérito, saber se de fato o depósito foi feito e exigir que o destinatário, caso seja confirmado, conte o que fez com o dinheiro. Aí a polícia, sob as ordens do solerte dr. José Eduardo Martins Cardozo, poderia aproveitar a ocasião para inquirir o mesmo acusado a respeito de sua participação na falsificação de um dossiê contra o tucano José Serra na eleição de 2006.
Em vez de mandar a Polícia Federal investigar, contudo, obediente às ordens emanadas de Paris, o dr. Cardozo absolveu imediatamente o padrinho da chefe: “Do ponto de vista jurídico, isoladamente, esse depoimento não tem nenhum significado. Foi produzido por uma pessoa que já estava sendo processada, condenada no julgamento, feito visivelmente na tentativa de tumultuar esse processo. Esse depoimento não tem valor probatório”.
Homem de confiança de Lula no governo atual, o ministro que chefia a Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, sentiu-se à vontade para se acumpliciar com a comandante, batendo duro no delator: “O que mais nos impressiona neste momento é como uma pessoa que foi condenada a longos anos de prisão, por ser o cérebro e o provocador de dois processos, de repente, num gesto de desespero para tentar amainar sua pena, é tomado de tamanha credibilidade. O que este senhor tem revelado, particularmente a respeito do presidente Lula, é de uma falácia, de uma falsidade, impressionantes. Me impressiona a credibilidade que se dá a esse cidadão nessa hora, tanto nos detalhes quanto no conteúdo mais profundo”. Trata-se de uma deslavada aposta na amnésia ampla e geral: todos sabem que o dito desqualificado patrocinou uma romaria de banqueiros também condenados no processo do mensalão a gabinetes do alto comando federal no primeiro governo Lula, entre os quais o do chefe da Casa Civil à época, José Dirceu. Se crime não houve, criminoso há? E de que autoridade moral se investe alguém que nega credibilidade à palavra de um réu e atribui a um colega de banco dele no julgamento a aura de mártir injustiçado?
Terá Valério nomeado Rosemary Nóvoa de Noronha, denunciada pelo MPF, para chefiar o gabinete da Presidência da República em São Paulo? Terá sido em seu nome que ela nomeou figurões da burocracia federal? Sob sua égide terá praticado os delitos de que é acusada? Ou será, por acaso, ela a bruxa que Dilma não quer que cacem?

KURTINHA DO GRANDÃO.




Magu
Ainda da minha pesquisa pós fim de mundo, tem o garotinho com seu dinamarquêsKURTINHO

NAO SE PREOCUPEM COM O CÃO.
EU O TENHO SOB MEU CONTROLE.

Charge do Duke (O Tempo)



O grande circo místico, por Nelson Motta


NELSON MOTTA


No Brasil, golpistas tentam derrubar ex-presidente. A piada é boa, mas a coisa está feia.
O ministro Gilberto Carvalho já avisou que o bicho vai pegar e Zé Dirceu quer a militância nas ruas para defender Lula e o PT. De Paris, Lula já rosnou que vai voltar a percorrer o Brasil com suas Caravanas da Cidadania, como fez nos anos 90, para falar direto com o povo sobre o país maravilhoso que construiu e a herança maldita que recebeu, para satanizar as elites, a direita, a mídia e a Justiça. Ou para desmentir que protegeu Rose Noronha e os irmãos Vieira ? 

Qual será a motivação da caravana, seu apelo ao público, seus slogans e palavras de ordem? Com alguma ironia, talvez possa se chamar Caravana da Verdade, e sirva para dizer que são mentiras todas as acusações. O mais difícil é imaginar multidões lotando as praças, sem um show de graça de um artista popular ou sorteio de um carro, só para ver Lula falar bem dele mesmo e mal de seus adversários. 

Lula ama o palanque, é seu habitat natural, seu altar, onde se sente melhor do que nos gabinetes, nos palácios ou nos parlamentos, porque só tem que falar, esbravejar e gritar — o que ele mais sabe e mais gosta de fazer. Para um ser mitológico metade homem-metade palanque, diante da multidão amestrada, não há compromisso com a lógica e a verdade, todas as bravatas são bem-vindas, todas as demagogias são aplaudidas, sem responsabilidades nem consequências. 

Sem estar em campanha por algum cargo, ou causa, a não ser ele mesmo, Lula vai precisar da "mídia golpista" para dar dimensão nacional à sua luta contra... a "mídia golpista". Porque, se depender só da TV Brasil e dos blogueiros estatizados, só a militância vai ficar sabendo. 

As velhas elites já estão acostumadas a apanhar de Lula, a doar para suas campanhas, e a se dar bem nos seus governos, mas as novas elites sindicais e partidárias não estão preocupadas com as velhas, são progressistas, estão ocupadas com seu próprio progresso.
A direita, como se sabe, ou não existe no Brasil, ou então é tudo que contraria qualquer opinião do Zé Dirceu. O maior perigo da caravana é virar circo.
Publicado no Globo de hoje.

HUMOR A Charge do Chico Caruso




Não expulsem o torcedor, por Tostão



Tostão (O Tempo)
É evidente que muito dinheiro público, que seria usado para obras importantes, sem nenhuma relação direta com a Copa do Mundo, tem sido desviado para o Mundial e para a Olimpíada.
Não existe dinheiro para a merenda escolar em Natal, mas não falta para a construção do estádio, que tem grandes chances de se tornar um elefante branco. O prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, quer a transferência de R$ 80 milhões da educação para despesas com a Copa do Mundo.
Existem três obras importantíssimas e urgentes que precisam ser realizadas em Belo Horizonte e em cidades próximas, que já deveriam estar prontas há muito tempo e que não saem do papel: o metrô de Belo Horizonte, as melhorias do Anel Rodoviário, onde ocorrem desastres quase todos os dias, e a construção de uma nova BR-381, uma estrada assassina, uma calamidade pública.
Recusei o prêmio de R$ 100 mil e a aposentadoria especial dadas pelo governo aos campeões do mundo de 1958, 1962 e 1970 porque não quero ter esse privilégio. Como qualquer cidadão, vou requerer minha aposentadoria. Tenho direito. Na época, fomos bem premiados pelo título. Os atletas campeões que passam por dificuldades precisam ser ajudados pelo governo, por meio da Previdência Social, e pelas entidades governamentais de apoio aos ex-atletas, que já existem. A CBF e os clubes têm também obrigação de ajudar seus ex-jogadores.
Temo que os novos estádios construídos para a Copa elitizem o futebol. Para isso não ocorrer, é necessário vender ingressos com preços diferentes. Quem quiser mordomia que pague por isso. Os torcedores humildes têm direito de pagar preços razoáveis, além de ter segurança e conforto.
Corre-se o risco de a torcida se comportar como se estivesse em um teatro, todos sentadinhos, bem comportados, sem vibração e sem identificação com o futebol e com os clubes. O verdadeiro torcedor, apaixonado por seu time, não pode ser expulso.
Os responsáveis pela manutenção dos novos estádios, os clubes e os torcedores têm que preservar e tratar os estádios com carinho. Para isso, o público tem que ser bem tratado.
É um absurdo colocar o Brasil em 18º lugar no ranking da Fifa.
Teremos dois clássicos na próxima fase da Copa dos Campeões da Europa, entre Barcelona e Milan, e entre Real Madri e Manchester United. Em jogos mata-mata, pode haver surpresa. A eliminação do Barcelona pelo Chelsea, no ano passado, foi, pelas circunstâncias, uma das maiores zebras da história do futebol. O Barcelona era muito melhor, jogava em casa, tinha um jogador a mais, ganhava por 2 a 0, perdia muitos gols e ainda Messi errou um pênalti.

O pecado da gula, por Mary Zaidan



Na última quinta-feira, na mesma cerimônia em que a presidente Dilma Rousseff anunciou a concessão dos aeroportos do Galeão e de Confins para a iniciativa privada, o País ganhou mais uma empresa estatal, a Infraero Serviços. O filhote da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária será a 128ª estatal brasileira, 25ª criada nos anos Lula-Dilma.
No final do governo militar, o País chegou a ter 213 estatais. Em 1990, eram 186. Em 2000, com a privatização de 41 delas, fusão e fechamento de outras, baixou para 103.
De 2003 para cá, a máquina pública só cresceu. E de forma alucinante: mais ministérios (hoje são 39), mais comissionamentos, mais conselhos consultivos, mais estatais.
Determinado a partidarizar o Estado e com voracidade ímpar por cargos, o PT chegou a criar uma estatal-fantasma, a Empresa Brasileira de Legado Esportivo Brasil 2016, e a ressuscitar a Telebrás, em 2008, com autorização de Lula para a emissão de R$ 200 milhões em ações.
A ex megaestatal de telefonia iria tocar um arrojadíssimo programa de banda larga barata, relançado sem a Telebrás dois anos depois, e do qual também não se tem mais notícia.
Tudo na conta dos brasileiros que, só neste ano, já pagaram mais de R$ 1, 4 trilhão emimpostos.
Na festa dos aeroportos, Dilma voltou a dizer, sem se constranger com a mentira, que o País voltará a crescer forte em 2013, que quer um “Pibão” e que está reduzindo tributos.
Balela. Sob sua égide, a carga tributária passou de insuportáveis 35% do PIB para o impudor de 36%. Uma das maiores do planeta.
Com uma política de incentivos seletiva, recém-renovada para automóveis e linha branca, e um desacerto desconcertante em áreas cruciais como energia elétrica e petróleo, também não é possível assegurar crescimento alvissareiro em 2013, muito menos um “Pibão”.
E não serão mais estatais a processar milagres. Até porque a maior parte delas ou perde dinheiro por ingerência governamental, como aconteceu com a Eletrobrás e a Petrobrás, ou é símbolo de ineficiência.
Isso sem falar na tal da probidade, artigo cada vez mais raro. A Infraero Serviços, por exemplo, nasce no seio de uma empresa que, neste ano, teve 10 funcionários - cinco deles ex-diretores - denunciados pelo Ministério Público Federal por superfaturamento de R$ 1,2 bilhão em obras de 10 aeroportos do País.
Repassar para a iniciativa privada aeroportos, portos, estradas é um grande avanço para o PT, partido que demonizou privatizações. É a revisão da ideologia fracassada de que o Estado tudo faz.
Pena que, para satisfazer a gula do PT, a contrapartida seja a de que o Estado tudo pode.


Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan

Congresso ignora STF e submete Estados ao risco de perder repasses de R$ 50 bi do FPE


 









Provocado pelos governos de quatro Estados (RS, GO, MT e MS), o STF decidiu, no dia 24 de fevereiro de 2010, que o artigo 2º da Lei Complementar 62/89 é inconstitucional. Esse artigo fixa os critérios para o rateio do FPE, o Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal. É por meio do FPE que a União reparte com os governos estaduais uma fatia do que arrecada com o Imposto de Renda e o IPI. Preocupados em não secar as caixas dos Estados do dia para a noite, os ministros do Supremo, em decisão unânime, deram ao Congresso um prazo para aprovar uma nova regra: 31 de dezembro de 2012.
Decorridos dois anos e dez meses, o Legislativo não cumpriu a ordem judicial. Deputados e senadores foram ao recesso sem acomodar regras novas no lugar das normas condenadas. Com isso, criou-se um vácuo legal que sujeita os Estados ao risco de deixar de receber em 2013 as verbas do FPE. Coisa de R$ 50 bilhões. É uma cifra quase dez vezes maior do que os valores envolvidos na polêmica sobre a repartição dos royalties do petróleo.
Virou moda entre os congressistas reclamar da intromissão do STF nos assuntos da da política. Na semana passada, o Supremo estava posto em sossego quando o deputado Alessandro Molon (PT-RJ) decidiu provocá-lo para brecar a votação do veto de Dilma Rousseff à Lei dos Royalties. Submetido à petição do parlamentar, o ministro Luiz Fux decidiu que o veto petrolífero deveria entrar na fila. Antes de analisá-lo, os congressistas teriam de votar todos os vetos antecedentes.
Verificou-se que havia nas gavetas do Congresso outros 3.059 vetos. Os mais velhos vinham do governo FHC. Aguardavam por uma deliberação havia 12 anos. Um vexame. Sobretudo se considerado o fato de que a Constituição obriga o Congresso a deliberar sobre os vetos num prazo máximo de 30 dias. Ao inacreditável somou-se a impensável tentativa de simular, em poucas horas, a pseudovotação de uma cédula de 463 folhas com todo o passivo de vetos acumulados em mais de uma década.
No caso do FPE, a vergonha é ainda maior. Criado pelo Congresso Constituinte, o fundo foi inserido no artigo 159 da Constituição de 1988 com o nobre propósito de promover o equilíbrio entre as unidades da federação. No artigo 39 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, anotou-se que o Legislativo aprovaria num prazo de um ano lei definindo as fontes de financiamento do fundo.
Pois bem. No ano seguinte, 1989, aprovou-se a tal Lei Complementar 62. O problema é que os critérios para o rateio do dinheiro nasceram de um consenso precário. Levaram-se em conta a estrutura demográfica e a realidade socioeconômica da época. E decidiu-se que 85% do FPE seriam direcionados aos Estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O restantes 15% iriam para os do Sul e do Sudeste.
Como haveria um censo do IBGE em 1990, escreveu-se na lei que a metodologia valeria apenas até 1991, quando o Congresso votaria novas normas. Já lá se vão 20 anos. E nada. Foi por essa razão que, sentindo-se prejudicados, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul bateram às portas do STF. Relator das ações, o ministro Gilmar Mendes concluiu que a inconstitucionalidade do artigo 2º da Lei Complementar 62/89 foi produzida por “omissão legislativa”. Seu voto foi seguido pela unanimidade dos colegas.
Ao descumprir o prazo fixado pelo Supremo para o preenchimento da lacuna, o Congresso tornou-se um omisso reincidente. E não foi por falta de matéria prima. A pedido do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), uma comissão de especialistas coordenada por Nelson Jobim, ex-constituinte de 88 e ex-presidente do STF, sugeriu uma saída para a encrenca, inserindo-a num pacote de reformas do chamado pacto federativo.
O embrulho continha três propostas de emendas constitucionais, um projeto de lei ordinária, um projeto de resolução do Senado e quatro projetos de lei complementar –entre as propostas, uma que desatava o nó do FPE. Tomadas no seu conjunto, os projetos previam um cruzamento de compensações. Nessa fórmula, seriam assegurados aos Estados a receita do FPE de 2012. O que passasse desse valor seria rateado sob novos parâmetros. A transição seria suave. Estados que perdessem dinheiro no FPE seriam compensados com outras fontes de receita.
Repassado a Sarney numa cerimônia com pompa, o pacote dos especialistas perdeu-se nas circunstâncias. Deu em nada. O senador Walter Pinheiro (BA), líder do PT, foi designado relator do pedaço da reforma que tratava especificamente do FPE. Ajusta daqui, reajusta dali levou à mesa uma proposta. Em essência, aproveitou o trabalho da comissão e fixou regras que valeriam até 2015. Ou seja: os congressistas ganhariam tempo.
No gogó, vários líderes puseram-se de acordo com os termos da proposta de Pinheiro. Na prática, o projeto estacou. A duas semanas do início do recesso, passou-se a considerar a hipótese de Sarney pedir formalmente ao STF uma dilatação do prazo que vence em 31 de dezembro. As férias chegaram e a solicitação não foi feita.
Do nada, surgiu um parecer de assessores técnicos do Senado. A peça sustenta a tese de que, mesmo sem uma nova lei, os critérios do FPE continuariam valendo para 2013. “Além desse parecer, há uma posição do TCU a respeito”, diz o líder do PSDB, senador Alvaro Dias (PR). Walter Pinheiro, mais inquieto, avalia que os Estados entrarão em 2013 numa situação de absoluta insegurança jurídica. A julgar pelo aviso que o ministro Gilmar Mendes deu em evento ocorrido no próprio Congresso, a insegurança é, a essa altura, também financeira. Repare aqui.
Ouvido pelo blog, um ministro do STF informou que vale o que está escrito no acórdão expedido pelo tribunal em 2010. Como assim? “As regras do rateio do FPE expiram no final do ano”, disse o magistrado. “O processo transitou em julgado. Não há que falar em prorrogação de prazo.”
Ele prosseguiu: “Se a União continuar repassando os recursos em 2013, vai fazê-lo à revelia do Supremo, por sua conta e risco. Suponha que um daqueles Estados que acionaram o tribunal, obtendo ganho de causa, peticione para pedir o cumprimento da decisão judicial. O Supremo não pode simplesmente lavar as mãos. Acusam-nos de judicializar a política. É bobagem. Não agimos de ofício. Somos provocados. Quem provoca o STF? Neste caso, como em tantos outros, a resposta é a mesma: os políticos.”
Irônico, o ministro recordou que uma das ações que levaram o STF a deliberar sobre o FPE foi protocalada pelo Mato Grosso numa época em que o Estado era governado por Blairo Maggi. “Paradoxalmente, ele hoje é senador da República.”
- Em tempo: Aqui, notícia veiculada no portal do STF com o relato da sessão em que o rateio do FPE foi declarado “inconstitucional.”

Liberdade de imprensa Controle da mídia: “tirania será barrada”, diz Barbosa



O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Basrbosa, afastou, em entrevista nesta quinta, qualquer risco de abuso na formulação de normas que busquem o controle da atividade de imprensa e da mídia em geral. O ministro ressaltou que existe uma "incontrolável tentação tirânica da maioria" e lembrou que Judiciário existe para garantir o equilíbrio entre as instituições. ...

Ressalvando que não desceria a detalhes "sobre medidas em cogitação", Barbosa destacou que a Justiça entrará em ação contra iniciativas que afetem a liberdade de imprensa: "Se isso ocorrer, num país com instituições consolidadas como o Brasil, existe uma instituição para impedir, que é o Judiciário. Qualquer tentativa de domesticar a imprensa, poderá ser coibida pela mesma via."

Desde o início do julgamento do mensalão, setores do PT defendem como prioridade a criação de normas para controlar a mídia. A idéia chegou a constar como prioridade em nota oficial do comando da legenda, em reação a condenações de ex-dirigentes e ao que petistas classificam de campanha para "acabar com o partido".
Fonte: R7 - Christina Lemos - 22/12/2012

Operação Porto Seguro - Aérea ‘falida’ tem vínculo com irmão de Rose


Fundada em 2009 e autorizada em 2011 pela Agência Nacional de Aviação Civil a transportar carga, a Viação Aérea Panamericana (VAP) enfrenta turbulências: foi despejada judicialmente há dias por falta de pagamento do aluguel da mansão na capital paulistana. No local funcionaria um escritório de Edson Lara Nóvoa, irmão de Rosemary, a “Rose”, que indicou o diretor afastado da Anac, Rubens Vieira. ...


Céu azul

A Anac autorizou a VAP a transportar malotes. A razão social da empresa do irmão de Rose registra também importação de aeronaves.

Alternativa
Outra empresa se instalou no local, ao lado do Banco do Brasil. A Serasa registra a VAP como “endereço alternativo” de Edson Nóvoa.

Fora do ar
Edson não foi encontrado. Na casa dele, uma mulher que não quis se identificar se disse “surpresa” com a VAP, e tirou o telefone do gancho.

Família unida

Ele, “Rose” e a sobrinha Mirella, ex-Anac, têm apartamentos da Bancoop, cooperativa habitacional suspeita de fraude com o PT.

Caixa de Pandora - AGU do "B"



10:16:54

Não é só Weber Holanda que pertence à chamada "banda podre" da AGU. Entre outros fichas-sujas está Roberto Giffoni, do Departamento de Assuntos Extrajudiciais. Ele foi denunciado na Caixa de Pandora e responde por formação de quadrilha, corrupção e lavagem de dinheiro.

Por Claudio Dantas Sequeira
Fonte: ISTOÉ - Coluna Brasil Confidencial - 23/12/2012

'Cota não resolve problema da educação. Ela cria ilusão'



A estudiosa afirma que, apesar da propaganda acerca da reserva de vagas, a esmagadora maioria dos jovens seguirá sem lugar na universidade pública

Eunice Durham, professora de antropologia da USP (Carol Carquejeiro)

Em agosto, a presidente Dilma Rousseff assinou a chamada lei das cotas, que reserva 50% das vagas de universidades federais a estudantes oriundos de escolas públicas de ensino médio. Nesta semana, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, lançou um programa de inclusão social para as três universidades públicas paulistas, USP, Unicamp e Unesp – apontadas nos rankings internacionais como centros de excelência em pesquisa no Brasil. "Embora a proposta pareça um pouco melhor do que a lei federal, está longe de ser a solução", diz a antropóloga Eunice Durham. ...

Ex-secretária de política educacional do Ministério da Educação, membro do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP e estudiosa do ensino superior, Eunice acusa a nova proposta de carregar o mesmo discurso e enganos revelados em 2002, quando foi adotada pela primeira vez no país o mecanismo de reserva de vagas (por raça, então), na UFRJ. "Tanto as cotas raciais como as cotas sociais são remendos demagógicos", diz. "Existe uma grande desigualdade educacional entre pobres e ricos, negros e brancos. Mas a questão é que isso está sendo combatido no lugar errado. Querem consertar as desigualdades do Brasil na porta da universidade, sendo que o problema se origina na educação básica."

Para quem acha que a posição é ideológica, a professora oferece números. "Mesmo com toda essa propaganda de que a universidade agora está de portas abertas para os alunos da rede pública, 95% da população jovem vai seguir fora da universidade pública." Mais efetivo e justo, defende a antropóloga, seria a criação e manutenção, pelas universidades públicas, de cursos pré-vestibulares que preparassem os estudantes da rede pública para o ingresso no vestibular. "Desde que a universidade chegou ao Brasil, as famílias ricas recorrem a esse tipo de aulas adicionais para garantir que seus filhos tenham o conhecimento necessário para passar no vestibular. Por que não oferecer a mesma oportunidade para os pobres?", indaga a estudiosa. Confira a seguir trechos da entrevista que ela concedeu ao site de VEJA.

Como docente da USP e membro da comunidade acadêmica, como a senhora recebeu a notícia de que a universidade deve aderir ao programa de cotas do estado? Embora pareça um pouco melhor do que a lei federal, a proposta do governo estadual está longe de ser a solução. A ideia pode até ser aproveitada, mas precisa ser melhor analisada. Não podemos implementar um plano assim, sem testar outras alternativas.

Quais os problemas das políticas de cotas? Tanto as cotas raciais como as cotas sociais são remendos demagógicos. Entendo que os problemas que elas visam combater são reais. De fato, existe uma grande desigualdade educacional entre pobres e ricos, negros e brancos. Mas a questão é que isso está sendo combatido no lugar errado. Querem consertar as desigualdades do Brasil na porta da universidade, sendo que o problema se origina na educação básica. Não é o vestibular que discrimina. O vestibular é talvez o mecanismo mais justo de seleção. Só passa quem tem capacidade de passar, não há beneficiados. O filho do senador e o filho da doméstica fazem exatamente a mesma prova. Agora, se os que passam são majoritariamente provenientes da parte mais rica de população é por culpa do sistema público, que é de péssima qualidade. Não é o vestibular que é elitista – é o sistema básico que é desigual.

Hoje, cerca de 80% dos alunos da educação básica estão matriculados na rede pública. Não é natural desejar que universidades federais e estaduais atendam também a essa população? A questão primordial é que as cotas não dão conta de incluir toda essa gente. Posso citar alguns números: no estado de São Paulo, menos de 30% dos jovens estão matriculados no ensino superior – há, portanto, pelo menos 70% de excluídos. Dos 30% incluídos, as universidades públicas atendem apenas 15% do total de matriculados, isto é, 4,5% dos jovens – menos de 5%. As cotas não mudam esse cenário porque não criam vagas, elas apenas fazem a redistribuição. Querem criar um programa para incluir mais negros nesse porcentual de 4,5%, mas isso em nada vai alterar o nível crucial de exclusão que temos. Eu sou contra cota racial: ela penaliza outra parte da população que também precisa de estímulos: os brancos pobres.

As cotas são uma falsa ideia de inclusão, então?
 Exatamente. Mesmo com toda essa propaganda de que a universidade agora está de portas abertas para os alunos da rede pública, 95% da população jovem vai seguir fora da universidade pública. Por isso as cotas são demagógicas. Elas não lidam com o problema, elas criam uma ilusão.

E qual é o verdadeiro problema? 
No Brasil, existe uma cultura de que ensino superior é sinônimo de universidade. Criou-se esse mito de que todo mundo precisa ser doutor e que curso técnico profissionalizante é algo menor, degradante. O país precisa oferecer cursos diferenciados para populações diferenciadas. Tem gente quem quer aprender sobre as coisas e tem gente que quer aprender a fazer coisas. Temos que oferecer escola para todo mundo, ou você acha que todo mundo precisa estudar física quântica na USP? O Brasil tem que decidir se quer colocar todo mundo na universidade ou se quer criar um ensino superior que ofereça condições para dar à maioria da população a condição para continuar os estudos depois do ensino médio, aprender uma profissão, se inserir no mercado de trabalho e exercer uma cidadania responsável. Mas você vê alguém discutindo isso? Eu não vejo. Só vejo um monte de gente querendo sair bem na foto dizendo que vai colocar mais meia dúzia de estudantes nas universidade federais e estaduais. E achando que com isso vai resolver o problema da educação no Brasil.

Equacionar esses problemas levaria anos. O que fazer pela população pobre, majoritária nas escolas públicas, que está no ensino médio e precisa ser incluída no ensino superior? A solução mais imediatista que vejo é a criação, por parte das universidades públicas, de cursos pré-vestibulares de qualidade para alunos de baixa renda empenhados em ingressar no ensino superior. Alunos das próprias instituições poderiam atuar junto a professores como tutores e, estudantes que almejam ser professores, por exemplo, poderiam fazer estágio nesses cursos. Desde que a universidade chegou ao Brasil, as famílias ricas recorrem a aulas adicionais para garantir que seus filhos tenham o conhecimento necessário para passar no vestibular. Por que não oferecer a mesma oportunidade para os pobres? Esse pré-vestibular permitiria checar quais são as reais dificuldades dos alunos e os métodos mais eficazes para saná-las, pensando em depois replicá-los para a rede pública de educação básica.

O programa do governo estadual prevê que os alunos realizem um curso prévio, de dois anos, antes de ingressar nas universidades, uma espécie de 'college' que garantiria um diploma de nível superior. Isso não seria suficiente? O programa prevê apenas que os que forem selecionados passem pelo curso. Não adianta nada privilegiar meia dúzia de pobres. É preciso oferecer oportunidade de crescimento a muito mais jovens. Pelo sistema que eu proponho, mesmo os jovens que não ingressarão na universidade pública terão a oportunidade de suprir as deficiências que acumularam ao longo da vida escolar. E estarão assim mais preparados para o mercado de trabalho.

Mas a senhora considera que os 'colleges' poderiam ser uma alternativa às universidades no futuro?
 Eu sou a favor da criação de ‘colleges’. Seria uma proposta revolucionária para o ensino superior brasileiro, mas não pode ser um 'college' emendado a um projeto de cotas para a universidade. Nos Estados Unidos, eles funcionam bem e atendem a mais da metade da população. Mas, no Brasil, o projeto ainda está muito cru. É preciso discuti-lo, saber como seria implantado, sua vigência e avaliação. Do jeito que foi apresentado, me parece apenas a resposta a uma pressão demagógica.

Indicadores internacionais mostram que as universidades públicas paulistas são a elite do ensino superior brasileiro, instituições dedicadas ao ensino e à pesquisa. As cotas podem afetar a qualidade dessas universidades? 
Eu acredito que sim. Existem algumas pesquisas que apontam o contrário. Elas, em geral, dizem que alunos cotistas têm desempenho inclusive superior aos não cotistas. Isso tem a ver com resiliência, a capacidade do estudante de se adaptar e vencer os obstáculos quando lhe é dada oportunidade. Mas no momento que essas pesquisas foram realizadas, as cotas tinham outra dimensão, incluíam um percentual muito menor de alunos. Agora estamos falando que metade de uma universidade será formada por alunos oriundos de uma escola de má qualidade. Não há como prever o futuro, mas acredito que a qualidade de uma instituição não depende apenas de bons professores, mas também do ingresso de bons alunos.



Por Nathalia Goulart
Fonte: Veja.com - 23/12/2012

O tempo é o senhor da razão! Leia aqui uma previsão de quem gosta de mandar na economia brasileira.



Em 12 de julho de 1994, 7 dias depois do parto do Plano Real, um conhecido economista publicou na Folha de S. Paulo um artigo sobre o recém-nascido. Teria vida breve, garantiu o autor. Mas provocaria um desastre de tal porte que o Brasil demoraria algumas décadas para sair da UTI.
Vale a pena ler a análise feita pelo economista.
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AS FANTASIAS DO REAL
Diga-se o que quiser do Plano Real, pelo menos num aspecto ele foi bem sucedido. Conseguiu excitar a imaginação popular e passar a impressão de algo novo e diferente dos planos anteriores.
Os arquitetos do real não pouparam sua imaginação para lançar velhas ideias com aparência de novas, como o Comitê da Moeda, Banco Central independente, ou a dolarização com conversibilidade, mesmo que nada disso tenha sido utilizado.
Chegaram ao ponto de reinventar os reis ou reais, uma nova moeda fantasiada do dólar e garantida por um lastro que não exerce nenhum papel prático, uma vez que o real não é conversível, a não ser o de dar a impressão de que o real vale tanto quanto a moeda norte-americana.
E todo esse barulho para quê? Para vestir com roupagens sofisticadas e muitos truques de ilusão, mais um ajuste tradicional, calcado no corte de gastos sociais, numa contração dos salários, num congelamento do câmbio e outros ativos e, sobretudo, num forte aperto monetário com taxas de juros estratosféricas.
A parte mais imaginativa do plano, que foi a superindexação da economia pela URV, revelou-se a mais perversa, porque passou a ideia de que os salários estavam sendo perfeitamente indexados e resguardados da inflação. Quando, na verdade, foram colocados em desvantagem na conversão para a URV em relação a preços, tarifas e vários outros custos e ainda perderam os reajustes automáticos que a lei salarial lhes garantia.
De primeiro de julho em diante os salários serão pagos em real, que tem a aparência de ser uma moeda indexada, como se tivesse herdado as virtudes da URV, porém é uma moeda desindexada e totalmente vulnerável a corrosão inflacionária do real.
A regra de conversão dos salários pela média e dos preços, tarifas e outros custos pelo pico, matou dois coelhos de uma só cajadada. Reduziu preventivamente a demanda dos assalariados, que poderia aumentar com a queda brusca da inflação e comprimiu os custos salariais, dando uma folga para os preços.
Com esses artifícios, os preços têm chance de apresentar alguma estabilidade por algum tempo, porque desfrutarão de um conjunto de custos estáveis, como salários, tarifas, matérias-primas importadas, aluguéis e tudo o mais que foi congelado por até 12 meses, sem a aparência de estar congelado.
E aqui também a ilusão funcionou, porque vendeu-se a ideia de que o plano não utilizou o congelamento, quando, na verdade, congelou o câmbio, tarifas, aluguéis e contratos. Só não congelou mesmo os preços e deixou os salários no limbo de um semicongelamento, com o ônus de correr atrás do prejuízo que será causado pela inflação do real.
Portanto, mais do que um plano eficiente e bem concebido, o real é um jogo de aparências, que pode durar enquanto não ficar evidente que as contas do governo não vão fechar por causa dos juros altos, que o mercado sozinho não é capaz de conter os preços dos oligopólios sem uma coordenação das expectativas por parte do governo, que os salários não manterão o poder aquisitivo por muito tempo, que o real não vale tanto quanto o dólar.
Mas não se deve subestimar a eficiência das aparências e dos jogos de prestidigitação nas artimanhas eleitorais. As remarcações preventivas dos preços, junto com os congelamentos, permitirão uma inflação moderada em julho e, talvez, uma ainda menor em agosto, numa repetição da trajetória dos preços por ocasião da implantação da URV, que subiram muito em fevereiro, na véspera da fase dois, elevando os índices de inflação de março, e depois caíram em abril e só voltaram a subir em maio e junho.
A questão é saber em quanto tempo o grosso da população irá perceber que uma inflação moderada por si só, acompanhada por um aperto monetário e recessão, não melhora sua situação, não cria empregos e, na ausência de uma lei salarial e correções automáticas, pode ser tão deletéria quanto uma inflação de 30% a 40% com indexação.
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O texto acima  foi escrito por ninguém menos que Guido Mantega. Passados 18 anos, o autor não pediu desculpas pelo que escreveu, não se declarou envergonhado com o papel de Cassandra nem pediu perdão aos leitores que tentou iludir. Agora Dilma e seu Ministro estão assustados com as sombras no horizonte. O que será do Brasil se o governo resolver enfrentar o perigo com algum “Plano Mantega”? Oremos!…
Lembra do sociólogo pedindo para esquecer o que ele havia escrito? São todos iguais.
(Texto enviado por Mario Assis)

Empresa brasileira já é a quarta distribuidora de armas nos EUA



Gaúcha Forjas Taurus avança no mercado americano e busca expandir vendas globais

22 de dezembro de 2012 | 18h 00

Roberto Simon - O Estado de S.Paulo
O Brasil tem um papel cada vez mais importante no mercado armamentista dos EUA: a marca gaúcha Forjas Taurus tornou-se a quarta maior distribuidora de armas no país da National Rifle Association, ao lado de gigantes como Smith&Wesson. Um em cada cinco revólveres comprados por americanos em 2012 veio da fabricante brasileira, que hoje vende mais nos EUA do que no próprio Brasil.
Massacre de Newtown motivou programa de venda voluntária de armas da polícia de New Jersey - Mel Evans/AP
Mel Evans/AP
Massacre de Newtown motivou programa de venda voluntária de armas da polícia de New Jersey
Essa rápida expansão no território americano é parte de uma estratégia maior da holding Taurus, que nos últimos anos vem adotando uma estratégia mais agressiva para ampliar exportações. Segundo a diretora de relações com investidores, Doris Wilhelm, no topo da lista de destinos cobiçados pela empresa está África e América Central – segundo a ONU, as duas regiões do mundo com maior número de mortes por arma de fogo.
A lei militar brasileira impede que a indústria bélica nacional revele o número de armas exportadas, tampouco os destinos exatos das vendas. Divulgam-se apenas "blocos geográficos" para onde vão esses produtos. Em 2012, 55% das armas da Taurus foram vendidas ao "bloco norte-americano" (EUA, Canadá e México). A empresa tinha uma receita líquida de US$ 409 milhões em 2009. Este ano, impulsionada pelas exportações, ela deve fechar nos US$ 700 milhões.
Doris afirma que os EUA são o maior mercado da Taurus e o único em que a esmagadora maioria das vendas é para pessoas, e não forças estatais de segurança pública e militar. "Estamos falando de um mercado de consumo: civis americanos comprando armas como hobby, esporte, caça e defesa pessoal. A cultura americana é ‘outro bicho’. A Segunda Emenda (da Constituição) garante o direito de portar armas e defender sua propriedade."
A empresa brasileira tem uma fábrica no norte de Miami desde 1983. No ano passado, comprou por US$ 10 milhões a Heritage Manufacturing, especializada em réplicas de armas do velho oeste, usadas em uma modalidade conhecida como "plinking" – tiro ao alvo com latinhas em locais abertos, ao clássico estilo cowboy do deserto.
New York Times afirmou na terça-feira que a Taurus seria uma possível compradora da fabricante do fuzil AR-15 Bushmaster, usado no massacre de Newtown. A companhia brasileira diz que a informação é "meramente especulativa".
Nos dois dias úteis após a tragédia, as ações da Taurus caíram cerca de 10%. Segundo analistas, o mercado "teme" a aprovação de restrições a esse comércio.
Mas, como as demais empresas do setor de armamento nos EUA, a Taurus acabou beneficiada pela débâcle econômica de 2008 e pela polarização política no governo Barack Obama. O motivo é psicológico: em meio à sensação de insegurança, americanos tradicionalmente compram mais armas. O pânico após o furacão Katrina fez com que 2005 fosse o ano mais lucrativo às empresas do setor.
Top 4. Segundo Matthias Nowak, pesquisador do centro Small Arms Survey (SAS), com sede na Suíça, o Brasil é desde 2001 o quarto maior exportador das chamadas "armas pequenas", categoria que abrange revólveres, pistolas, submetralhadoras, fuzis de assalto, entre outros. O País é colocado atrás apenas de EUA, Itália e Alemanha e à frente da Rússia, maior herdeira da indústria bélica soviética.
Para analistas, são essas as "verdadeiras armas de destruição em massa" – as que mais provocaram mortes no mundo. Segundo o centro suíço, os últimos dados disponíveis são de 2009 e indicam que o Brasil exportou US$ 382 milhões dessas armas. Mas Nowak acredita que a cifra real seja muito maior e critica a falta de informações públicas.
Bruno Langeani, do Instituto Sou da Paz, também reclama da falta de transparência e afirma que "não há mais sentido" em vetar a divulgação dessas exportações, pois vários compradores revelam os números.
"Ao investir no fortalecimento da indústria bélica nacional, o governo Dilma Rousseff torna ainda maior a necessidade de transparência", defende.
No ranking do SAS que avalia o acesso à informação sobre essas exportações em cada país, o Brasil tem hoje nota 7,5 em uma escala crescente de o a 25. Em 2009, era de 8,5; em 2006, era 9.
Empresa busca expansão na África e América Central. Com uma nova estratégia para diversificar exportações, a Taurus está de olho em mercados de regimes africanos em transição política e países da América Central em luta contra o narcotráfico. Essas regiões têm o maior índice de homicídios por armas de fogo do mundo, segundo o escritório da ONU para controle de drogas e crime (UNODC). ONGs como a brasileira Sou da Paz temem que parte das armas acabe nas "mãos erradas".
A Taurus diz fornecer armas para governos, de acordo com as normas do Exército e submetida ao direcionamento político do Itamaraty. "Se a arma vai parar em outro destino, nós não temos o menor controle sobre isso. Cabe ao Itamaraty julgar que o governo não é confiável", diz Doris Wilhelm, da Taurus. 

Mais de 3 mil inquéritos da PF apuram desvio de verba pública em prefeituras



Investigações da Polícia Federal envolvem quase 500 prefeitos e ex-prefeitos sob suspeita

22 de dezembro de 2012 | 19h 30
Fausto Macedo - O Estado de S.Paulo
A Polícia Federal conduz 3.167 inquéritos sobre desvios de recursos e corrupção envolvendo prefeituras em todo o País. Estão sob investigação 484 prefeitos e ex-prefeitos por violação ao Decreto Lei 201/67, que define os ilícitos de responsabilidade de administradores municipais.
levantamento realizado pela Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado (Dicor) – braço da PF que aloja setores estratégicos da instituição, inclusive o serviço de análise de dados de inteligência e a divisão de repressão a crimes financeiros.
O Maranhão é o Estado onde a PF mais trabalha, com um acervo de 644 inquéritos relativos a fraudes em gestões municipais. A Bahia está em segundo lugar, com 490 inquéritos, seguida de Ceará (296), Piauí (285), Pará (196) e Pernambuco (194).
"Certamente esses Estados, por serem mais carentes, com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) muito baixo, acabam recebendo mais recursos da União, verba vinculada, e aí, obviamente, nessas regiões pode ocorrer mais desvios", disse o delegado Oslain Campos Santana, chefe da Dicor. Em São Paulo, são 96 os inquéritos sobre gestores que atropelaram a lei; em Alagoas, 83; e no Rio de Janeiro, 60.
Além de prefeitos e ex-prefeitos, são investigados 182 servidores municipais, 87 secretários municipais e 63 funcionários que ocupam cargos de comissão.
Esses dados são relativos apenas à atuação da PF – centenas de outros prefeitos e ex-prefeitos são réus em demandas movidas pelo Ministério Público nos Estados, que detém competência para propor ações com base na Lei da Improbidade.
Conluio. Oslain Santana é um policial tarimbado. Já passou por setores sensíveis da corporação e lugares remotos do País desde que ingressou na PF, há 17 anos. Ao analisar as informações relativas aos malfeitos das prefeituras, ele faz uma ponderação. "Muitas vezes pode ser que não tenha crime de prefeito ou envolvimento do ordenador de despesa. Pode ter havido um conluio entre empresários que formam cartel para fraudar licitação."
Ele observa que, com tantos inquéritos, a polícia acaba contrariando interesses. "Não temos partido. A corrupção é própria do ser humano. As instituições são boas, os homens não são tão bons assim."
O mapeamento abrange ainda os inquéritos sobre crimes de violação à Lei 8.666/93 (licitações) e contra a administração pública – peculato, concussão (extorsão por servidor público), corrupção passiva e ativa, tráfico de influência e inserção de dados falsos nos programas de informação. Esses inquéritos estão à parte das investigações referentes exclusivamente às administrações municipais.
Tais ilícitos são praticados com recursos da União em todos os níveis da administração municipal, estadual e federal, e todos os Poderes, que somam 8,1 mil inquéritos, ou 10% do volume de investigações sob responsabilidade da PF.
Ex-deputados. Neste lote do levantamento estão na mira da PF 34 ex-deputados federais, que perderam o foro privilegiado perante o Supremo Tribunal Federal, uma vez que não exercem mais o mandato. Também são investigados nesse bloco 384 servidores públicos federais da administração direta e indireta e 1.633 agentes públicos municipais.
Por fraude à Lei de Licitações a PF mantém em curso 1.958 inquéritos. Peculato (quando o funcionário público desvia bens da administração) é alvo de 1.944 inquéritos, seguido da corrupção passiva (504), ativa (94) e concussão (145).
Em valores globais, todos os contratos sob apuração – os das prefeituras e os dos demais órgãos de governo – somam R$ 11,651 bilhões. "Não quer dizer que esse seja o montante desviado, é bom que fique claro. O valor se refere aos contratos que estão sob investigação", assinala Oslain.
Especificamente com relação às prefeituras, a PF usa como instrumento legal para enquadrar gestores à margem do decoro o Decreto Lei 201, que dispõe sobre a responsabilidade dos prefeitos e vereadores e prevê 23 situações que provocam danos ao erário – apropriação de bens ou rendas públicas, desvios em proveito próprio ou alheio, deixar de prestar contas anuais, ordenar ou efetuar despesas não autorizadas por leis, fraudes à licitação, e outros. A sanção vai de 2 anos a 12 anos de prisão.
"São elevadíssimos os recursos que a União repassa para os municípios, principalmente através de convênios nas áreas de educação e saúde", diz Oslain. O delegado lembra que a PF não atua isoladamente. Grande parcela dos inquéritos instaurados tem base em auditorias da Controladoria-Geral e do Tribunal de Contas da União.

A 27ª vítima, por Dorrit Harazim



Dorrit Harazim, O Globo
Pontualmente às 9h30 da manhã da sexta-feira passada os sinos tocaram 26 vezes. Em compasso lento, de pranto nacional, igrejas de todo o país sinalizaram a memória dos mortos fuzilados uma semana antes, à mesma hora, numa escola da Costa Leste dos Estados Unidos.
Na Casa Branca, o minuto de silêncio foi observado em privado pelo presidente Barack Obama.
Em Connecticut, estado em que ocorreu a matança, o governador Dannel Malley e dignitários se alinharam na escadaria da sede do governo, apesar da forte chuva, e permaneceram em silêncio por 10 eternos minutos.
Na pequena Newtown de 27 mil habitantes, onde a população adulta tem comparecido a 3 ou 4 serviços fúnebres diários para honrar as 20 crianças e 6 adultos fuzilados na escola, o silêncio e as 26 badaladas ajudaram a interromper a tétrica rotina.
As árvores plantadas em frente ao batalhão do Corpo de Bombeiros da cidade são 26. São “2” e “6” os números estampados em dois imensos balões atrelados às extremidades da ponte da cidade.
Todas as faixas, desenhos, mensagens, velas, bichos de pelúcia, buquês de flores que brotaram em Newtown honram os “26 anjos que nos guiarão”. Essas 20 crianças e 6 adultos viverão para sempre na memória local.
Só que foram 27 os fuzilados pelo jovem Adam Lanza, de 20 anos. Sua primeira vítima daquela tenebrosa sexta-feira 13 de dezembro foi a própria mãe, morta em casa com quatro tiros de rifle calibre .22 na cabeça.
Só depois o surtado Adam rumou para a escola fundamental, onde executou as outras 26 vítimas.
Um único tributo, rabiscado numa folha de papel colada num pedaço de madeira, presta homenagem a Nancy Lanza em Newtown. “Outros se consolam mutuamente por escolhas que você teve de fazer sozinha. Quem nunca errou atire a primeira pedra”, diz um trecho do texto.
A mãe do assassino foi enterrada três dias atrás numa cidade vizinha, em cerimônia privada, restrita a 25 familiares. Ela tinha 52 anos, era divorciada e recebia uma pensão anual equivalente a R$ 578 mil para a educação e cuidados com o filho problemático.
Como se sabe, tanto o rifle de assalto Bushmaster M4 com o qual Adam executou a matança como as outras quatro armas encontradas em sua casa pertenciam à mãe e estavam devidamente registradas.
A sra. Lanza seguia com convicção os preceitos de quem, nos Estados Unidos, se declara “adepto da sobrevivência” — grupo de pessoas em permanente estado de alerta para a erupção do caos social no país.
Estocar mantimentos e armas e aprimorar a pontaria para se proteger do perigo fazem parte dos cuidados essenciais dessa tribo.
Parentes próximos contam que por ocasião de reuniões em família Nancy indagava com frequência se todos estavam devidamente preparados para o dia em que a economia do país entrasse em colapso.
Vizinhas com quem compartilhava rodadas semanais de baralho contam que em 15 anos de convivência nunca foram convidadas para a casa da mãe do assassino. Um paisagista do bairro relembra sempre ter recebido o pagamento da sra. Lanza na soleira da porta.
Com o filho, a adepta da sobrevivência fazia exercícios regulares de tiro numa academia da cidade.
Segundo análise de dados estatísticos feita por Nate Silver, o festejado guru da mídia que acertou todas as previsões da reeleição de Obama no mês passado, a variável mais confiável para se prever a intenção de voto de um eleitor, nos Estados Unidos, é a posse de armas.
Gênero, raça, faixa etária, renda familiar, educação, religião, domicílio — nenhum desses fatores é tão determinante na intenção de voto quanto a posse de armas.
Mais da metade dos casais com filhos pequenos que votam no Partido Republicano tem armas em casa. Entre eleitores democratas, esse número cai para “apenas” um em cada quatro casais. A média nacional americana está em três armas por domicílio.
Basta assistir à televisão nos Estados Unidos para saber que a cada ano 34 civis são mortos por armas de fogo. Em apenas seis meses, esse total iguala o número de militares americanos mortos nas guerras do Iraque e do Afeganistão.
Nancy Lanza tinha, em casa, um filho problema e cinco armas. Inicialmente os moradores de Newtown a prantearam como vítima inocente, a ser computada e incluída nos memoriais. Pouco a pouco, sua memória começa a ser deslocada da condição de vítima para a de corresponsável pela tragédia de Newtown.
O problema não era apenas o filho, o morto de número 28 da chacina.
Menos de duas horas após o término do momento nacional de silêncio, o CEO da Associação Nacional do Rifle, a robusta entidade que promove e defende o armamento individual de todo cidadão, saiu da retranca que mantivera desde o massacre.
“Só uma pessoa do bem com uma arma na mão é capaz de deter uma pessoa do mal que tem uma arma na mão”, declarou sem pestanejar Wayne LaPierre, em entrevista coletiva.
Culpou a mídia, os videogames e a indústria do entretenimento pela matança e aproveitou para lançar novo apelo para que toda escola americana adote seguranças armados.
Na véspera, um aluno de 13 anos, residente em St. Lucie, na Flórida, fora preso por ter postado uma mensagem no Facebook ameaçando “levar uma arma para a aula amanhã e atirar em todo mundo”.
Nos últimos 10 anos ocorreram 62 chacinas no país. Nancy Lanza foi cumpridora das leis em vigor.

Dorrit Harazim é jornalista