segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

FISIOLOGISMO



AnciãoComo acreditar nesse congresso fisiológico que se esconde atrás do voto secreto, quando se trata de punir na própria carne?  Não me consta que existam votos secretos no STF, pois os exemplos sempre devem vir de cima! A respeito, Dora Kramer, uma excelente analista, pegou seu tacape indígena e girou-o, à guisa de Thor, o personagem mitológico que tinha como instrumento sua marreta, o Mjolnir, para acertar os marginais.
Costa Neto (PR-SP), João Paulo Cunha (PT-SP) e Pedro Henry (PP-MT)
Costa Neto (PR-SP), João Paulo Cunha (PT-SP) e Pedro Henry (PP-MT)
E acertou muitos. Como nosso mui apreciado Marreta® está recolhido ao facebook, que lhe toma todo o tempo, tendo deixado de distribuir suas porradas aqui em nosso jornal, temos que recorrer a Dora, que publicou, na sexta-feira passada, no Estadão, sob o título Leite derramado, uma análise sobre crises. Vocês sabem que eu não sou um redator, por assim dizer. Então, recorro à uma frase irônica do nosso coeditor: “Quem sabe, escreve. Quem não sabe, copeia”. O importante é manter nossos leitores informados.
“O que é uma crise? Depende da situação. Tanto pode refletir uma instabilidade momentânea quanto designar um momento de ruptura. A questão da perda dos mandatos dos deputados condenados no processo do mensalão não se enquadra em nenhuma das duas hipóteses.
Não há perturbações objetivas no presente nem risco de rompimentos futuros. Falar em crise institucional entre os Poderes Legislativo e Judiciário é, portanto, mera figura de retórica. Serve a um teatro montando para atender a dois interesses. De um lado, o intuito de desqualificar as decisões do Supremo Tribunal Federal. De outro, a tentativa oportunista do Congresso de fazer o papel de vítima para passar um verniz em sua arruinada imagem com o discurso de defesa do Estado de Direito. Não haverá confronto entre STF e Parlamento pela simples razão de que para isso é preciso disposição das duas partes. Se a Câmara for de fato à guerra, caso o voto de minerva do ministro Celso de Mello determine a cassação dos mandatos, vai ficar falando sozinha”. (Leia mais Leite derramado ).
Encerrando, como se pode ver, Dora sabe onde bater. Onde dói mais. O único problemas é que nossos parlamentares(?) são insensíveis. A sensibilidade deles se resume, única e exclusivamente, aos próprios bolsos. Isso é resultado de atribuírem poder de voto a analfabetos e semi-alfabetizados, extremamente sensíveis ao paternalismo…

MAIS CORRUPÇÃO



Plínio Zabeu
A  coisa  parece mesmo não ter um fim. Nem bem tenhamos chegado ao fim do que parecia inigualável – o mensalão – surgem novos indícios, sempre comprovados,  de mais e mais irregularidades, confusão, malversação do dinheiro público enfim, tudo de mau que vai acontecendo. No campo do desenvolvimento, na economia, estamos muito lentos ao contrário daquilo que nos prometeram os nossos governantes, particularmente no setor federal.
Vou avisando: Ir ao banheiro, nem pensar!
Vou avisando: Ir ao banheiro, nem pensar!
O ministro da fazenda parece nem um pouco preocupado com a situação econômica,  mas os entendidos no assunto – no Brasil e no mundo – se colocam de modo diferente. O governo inglês chegou a sugerir à presidente Dilma a demissão do ministro.  Algum motivo existiu. Vamos esperar.
Não temos como saber quando as  penalidades impostas aos corruptos serão  realmente efetivadas.  Se a Justiça determina a cassação dos mandatos deles qual a reação do poder legislativo? Quem pode mais?
E as denúncias do Valério feitas em setembro,  mas só agora divulgadas? Mais e mais podridão. Ele sabe que está correndo sério risco de vida,  mas faz de tudo para abrandar suas penas.  Dinheiro correu solto entre os  componentes  do governo e seus aliados.
Será que serviu para esconder um pouco o caso Rosemary?  As novas acusações atingirão finalmente Lula que nunca sabia de nada? O governo já está usando seus poderes para blindá-lo. Uma das saídas, caso seja mesmo envolvido, será o fato de não ter mais foro privilegiado e por isso terá que ser julgado em  primeira instância  em processo com duração prevista para décadas.
A verdade é que o ditado antigo “onde há fumaça há fogo” sempre foi verdadeiro. A  corrupção continua forte e solta entre os lá de cima. Pior de tudo é que, como sempre, seremos nós os contribuintes que pagaremos todas as contas.
Um pouco de seriedade poderia existir nessa gente.

O CERCO CONTINUA AUMENTANDO



Laurence Bittencourt (1)
O cerco a Lula e suas relações perigosas com relação ao ilícito parecem a cada dia aumentar mais e mais. Todo santo dia a imprensa traz “novidades” com relação ao submundo da política envolvendo o ex-presidente. O sintoma da ilicitude pode ser visto agora na frase da presidente Dilma ao sair em defesa de Lula. Disse Dilma: “Lula foi quem começou o combate à corrupção”. A frase chega a ser hilária.
Lula e Joaquim Barbosa
Lula e Joaquim Barbosa
Ao ler o comentário da presidente me lembrei do ditado popular que diz: “alguém pode colocar mais fogo e depois trazer o bombeiro”. No Brasil é interessante também acompanhar as defesas que se fazem do “chefe”, inclusive na imprensa. Não há bom senso. É a defesa pela defesa. O fanatismo cego movido por um ódio ancestral, corroído por frustrações pessoais. Freud explica.
Mas é óbvio que Lula está encalacrado até o último fio de cabelo, nesse redemoinho que é o Mensalão. E sabe-se lá  mais deus o quê? Obviamente que agora o PT tem o poder nas mãos. E isso é trunfo considerável, ainda mais em se tratando de um país chamado Brasil. Basta lembrar que no Brasil é o executivo quem indica os representantes da Suprema Corte.
Bom, ainda que o horizonte não se mostre favorável a Lula, ser posto no caldeirão da corrupção que assola esse país sob o PT, ainda assim, as denuncias não param de ocorrer e pipocar. O caso “Celso Daniel” é um manto envolto em mistérios e enigmas que ainda precisa ser desvendado e esclarecido. A ponta do iceberg certamente esconde coisas escabrosas e muito mais.
Outro sintoma “visível” foi o fato de a presidente Dilma pedir aos Ministros do seu governo que defendam Lula. Dilma já em vários momentos rasgou o véu do “estadista” ou da “estadista”. Isso não é um pedido que possa ser feito por um presidente da república. Entre nós, no entanto, é o corriqueiro, por isso que também não tem grandes repercussões contrarias.
Alias o próprio Lula enquanto esteve à frente do executivo “cansou” de negar o papel da oposição, esquecendo convenientemente que ele também já havia sido de oposição e sofreu por isso. É a nossa sina. O revolucionário de ontem passa ao papel de reacionário sem nenhum problema.
Bom, mas a questão mais recente são as denúncias trazidas por Marcos Valério envolvendo o ex-presidente Lula. Aqui entre nós, o jornalista Alex Medeiros já disse a última palavra ao dizer que Marcos Valério antes um aliado de primeira hora, agora passa a ser desclassificado e tido como sem crédito.
Defesa de um lado e ataques e denuncias de outro. E o cerco continua a Lula, continua aumentando. Façam suas apostas. Estamos em um país chamado Brasil, mas o Supremo já deu provas de que pode haver vida independente, capitaneado por Joaquim Barbosa.
(1) Jornalista.laurenceleite@bol.com.br

VIAGEM A PÉ PARA BRASÍLIA



 Luiz Berto
Coisas de Palmares mesmo: inventou um seleto grupo de fazer uma viagem a pé para Brasília. Quando o negócio ganhou a boca do povo, a empreitada já ia em adiantados rumos.
Agora vejam a relação dos intrépidos aventureiros:
CLIQUE NA FOTO PARA AMPLIÁ-LA
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Emanuel Castanheira, chefe da expedição; Lael Borba, Silva, Paulo Angeiras, Valmir e Nilson. O chefe, Emanuel, era filho do respeitável livreiro da cidade, Seu Odilo, que foi quem mais sofreu com as chacotas do povo. Lael Borba, halterofilista, lutador de jiu-jitsu e atleta dedicado, era o único de quem se dizia que seria capaz de levar a cabo tão temerária travessia; seu físico não deixava dúvidas. Silva, raquítico e franzino, não inspirava fé na movimentada bolsa de especulações, e isto se confirmaria depressa, como adiante se verá. Paulo Angeiras, jogador de voleibol e atleta, tinha bons pontos na tabela de cotação dos candidatos a cumprir a missão com galhardia. Valmir, o mais moço, menor ainda, não fedia nem cheirava; tanto podia chegar, pela juventude, como, pela mesma juventude, desistir do empreendimento. Nilson, filho de Seu Amaro do Cinema, era o mais bem cotado: dizia o povo que para ele não desistir era o bastante amarrar uma garrafa de aguardente na ponta de uma vara e colocar à sua frente, que ele jamais pararia de andar.
Só sei é que o fuxico se avolumou, e, com pouco tempo, Palmares inteira participava dos preparativos. O grupo utilizava a pista do outro lado do rio, que passa no Engenho Paul, para os seus treinamentos. Cronometravam, mediam, calculavam e estabeleciam metas. E o povo acompanhando tudo, fazendo anedotas alguns, a maioria estimulando e botando fogo na empreitada.
Emanuel, chefe da expedição e autor da idéia, era estudante de Medicina. Conta a lenda que ele fizera promessa de, passando no vestibular, ir a pé de Palmares a Recife. Caminhada até curta, empreendimento relativamente fácil, coisa de mais ou menos 18 léguas. Todavia, dessa caminhada para imaginar a outra, até Brasília, foi ligeiro, ligeirinho. A realização de uma estimulou o planejamento da outra. E, como tudo que se faz naquela cidade, o entusiasmo foi o ponto saliente nos preparativos. Logo, se formou a equipe. Rápido, vieram as adesões.
Glória àqueles intrépidos jovens que varariam a pé o Brasil para fazer brilhar, alto e longe, o nome de Palmares! As chacotas e pilhérias dos eternos gozadores não conseguiram empanar o brilho do empreendimento, tão inusitado e grandioso que tinha qualquer coisa de heróico. As piadas sobre as cachaças de Nilson não ofuscavam a grandiosidade do evento.
Os preparativos corriam céleres. Mapas eram esquadrinhados e rotas eram traçadas. Das roupas às provisões, passando pelo armamento, nada foi esquecido. Emanuel, aguerrido general, comandava sereno, irradiando tranqüilidade e sabedoria pelas lentes dos seus óculos de aros finos. Inspirava confiança e dava alento à expedição. Destruía, com seu lógico raciocínio, as idéias dos que se contrapunham à caminhada com argumentos estapafúrdios. Impunha-se pela paciência, ante o marulhar daquele povo que em tudo se metia e em tudo dava palpites. Mas, sejamos sensatos: quem ficaria indiferente a uma empresa dessas? As apostas corriam soltas no Pavilhão Eldorado.
A expedição se preparava. O dia da partida ia chegando. Até concentração, como os jogadores de futebol, eles inventaram, para preservar as energias. Seu Odilo, pai de Emanuel, era o mais ardoroso defensor do grupo. Da porta de sua livraria, dardejava argumentos furiosos contra os pilheriadores e incréus. Esperassem par a ver a glória do filho no regresso!
Chegou o dia tão esperado. A hora da partida se fazia presente. A cidade inteira se levantou de madrugada para vê-los partir no raiar do dia. Fogos espocavam no céu e lenços brancos acenavam das janelas. Lá iam eles para a glória.
A expedição na frente e a população atrás, enchendo a rua Coronel Austriclínio, no rumo da Ponte de Japaranduba, ganhar a pista que seguia para Maceió. Ruidosa escolta para os heróis que partiam. Estavam todos eles graves e ciosos da responsabilidade que carregavam nos ombros. A heroicidade de suas imagens ficava realçada pelo toque de cangaceirismo que havia em suas roupas: alpercatas de rabicho, calça coronha, camisa de mangas curtas e tecido leve, chapéus de palha com jugular, o cinto do embornal atravessado no peito, e os rifles na mão direita. Armamento registrado e devidamente consentido pelas autoridades competentes. Levavam também uma mensagem escrita por um senador pernambucano para ser entregue nas mãos do então Presidente Jânio Quadros.
Não usariam qualquer meio de transporte além dos próprios pés. Em cada localidade que chegassem, solicitariam, por escrito, o testemunho das autoridades locais de que haviam chegado andando, e se alimentariam do que conseguissem obter por onde passassem.
À medida que se iam aproximando de Japaranduba, a multidão ia rareando, cada um entrando em suas casas para viver, a partir de então, o emocionante acompanhamento das notícias que viriam da viagem. Os meninos atravessaram a ponte e acompanharam e expedição até depois do Engenho Japaranduba. As crianças, sobretudo elas, impavam de orgulho com os heróis municipais e ansiavam acompanhá-los em sua jornada para a glória.
Com pouco, eles estavam sozinhos. Palmares ia ficando cada vez mais para trás. Um mundo e uma missão pela frente. Nos primeiros dias, ainda em Pernambuco e até os confins do território alagoano, as pessoas que tinham carro iam vê-los na frente, levar-lhes ânimo e carinho. Os que não tinham condução própria alugavam os carros de praça e voltavam cheios de histórias, dando conta do local exato onde estavam e de como estavam, levavam recados e davam apoio logístico. À medida que se distanciavam, estes contatos foram rareando, até que se extinguiram por completo. Estavam entregues à própria sorte. Bravos astronautas que rompiam a barreira da gravidade da mãe Terra. Na Livraria, Seu Odilo ia pontilhando num imenso mapa do Brasil a jornada dos caminheiros, à medida que chegavam os telegramas de cada uma das cidades onde eles entravam.
Ainda em Alagoas, logo no início da jornada, a primeira defecção: Silva, febril e sem condições de continuar, pegou uma condução de volta e chegou desconsolado para torcer pelo sucesso dos companheiros que prosseguiam na viagem.
A Livraria era o centro nervoso do acompanhamento da viagem. Seu Odilo, cordato nos primeiros dias, foi perdendo a paciência à medida que o tempo passava, e investia furioso quando chegava alguém apressado dando conta de que “a onça já tinha comido dois na estrada”, ou que o “Nilson tinha desistido, porque a cachaça acabou-se”. Seu Odilo pendurava com orgulho os telegramas que iam chegando e até mesmo as sandálias que se iam gastando na caminhada e eram enviadas pelo correio. O avanço dos caminheiros, lento mas firme,  era que lhe dava força para suportar as chacotas dos desocupados. Todavia, a maioria torcia mesmo pelo sucesso dos rapazes e compunha uma corrente de pensamento positivo, a fim de influir decisivamente na vitória dos guerreiros.
Caminhando e confiando, lá iam eles Brasil adentro, enquanto a linha do mapa da Livraria se encompridava cada vez mais.
Já na Bahia, muito longe e muitos dias depois, mais três desistências: Lael Borba, o halterofilista em que todos confiavam; Paulo Angeiras, o atleta jogador de voleibol, e Nilson, o homem da aguardente. Não resistiram à visão dos ônibus da empresa palmarense Transportadora Rio Una, que haviam sido comprados em São Paulo e estavam indo para Palmares. Embarcaram chorosos de volta e despediram-se dos dois companheiros que ficavam. Lael Borba caminhara muitos dias com uma ferida na sola dos pés, manco, se apoiando nos artelhos; aproveitou a passagem dos ônibus e voltou tristonho.
Restavam apenas dois, entregues à própria sorte: o comandante Emanuel e o menino Valmir, em quem ninguém tinha posto fé.
* * *
Vinte anos mais tarde, eu estava em Palmares tomando cerveja num boteco com Valmir, que recordava a aventura, quando ele me confidenciou:
- No dia em que ficamos só nós dois, eu e o Emanuel Castanheira, a gente estava descansando de noite, quando ele falou que se eu quisesse desistir não tinha problema. A idéia tinha sido dele e ele iria sozinho até o fim. Eu falei que ele podia ficar sem medo: nem que a gente levasse o resto da vida pra chegar, eu não desistiria nunca. Chegaríamos só nós dois.
* * *
E foram avançando e telegrafando de lugares cada vez mais distantes. Na porta da Livraria, a roda era engrossada pelos desistentes chorosos, arrependidos, a acompanhar no mapa o avanço dos dois solitários companheiros. Os telegramas agora vinham do distante Goiás. Já estavam perto. A excitação crescia, a jornada estava próxima do final. Os solitários viajantes, caminheiros de estradas sem fim, estavam prestes a cumprir sua missão. Haviam varado muitas terras e muitos perigos.
O telegrama dando conta da chegada à jovem Capital Federal estourou como uma bomba na Livraria. Fogos foram soltados e os abraços de vitória encheram a calçada. Seu Odilo, afinal, estava vingado do ceticismo dos descrentes e das lorotas dos debochados. Os guerreiros haviam vencido a batalha!
Lembro-me que no dia da volta deles não houve aula, e fomos nós, os colegiais, esperá-los de bandeirinhas na mão. Uma ruidosa comitiva de carros seguira para o Recife, a fim de apanhá-los no Aeroporto dos Guararapes. A praça estava tomada, mas a medida que a esperada hora da chegada ia-se aproximando, as pessoas iam-se dirigindo, mais e mais, em direção à entrada da cidade, cada um querendo ser o primeiro a ver e abraçar os heróis que voltavam para casa.
Por fim, a multidão estava concentrada fora da cidade, na pista de chegada do Recife. Uma inquietação sem termo, uma ansiedade enorme, todo mundo de olho na estrada que sumia numa curva. Seu Odilo suava e tremia.
De repente, desponta lá na curva a comitiva.
- Tão chegando!
Um grito percorreu a multidão, que se pôs a correr em direção à caravana. Pararam os carros e ergueram os heróis. Estavam queimados de tanto sol, e a sua magreza realçava o porte de guerreiros vitoriosos.
Seu Odilo abraçou-se chorando ao filho, num gesto dramático, e foram os dois enrolados numa enorme Bandeira Nacional à frente do cortejo, junto com o menino Valmir. Mais comovente ainda foram os abraços dados nos companheiros que haviam desistido no meio da empreitada. Choraram todos, desabridamente, copiosamente. Uma cena inesquecível!
Com os heróis à frente, a multidão se dirigiu para a Livraria, de cujo sobrado Emanuel falaria para o povo. As bandeirinhas dos colegiais coloriam as ruas; os sorrisos se misturavam às lágrimas. A cidade era uma vibração só, na exaltação do feito daqueles palmarenses ilustres.
Quando a figura de Emanuel, abraçado ao pai, enrolado na Bandeira Nacional, surgiu no terraço do sobrado da Livraria, a multidão explodiu em palmas e vivas. Um quadro emocionante e comovedor. Sua voz rouca, não conseguiu terminar o discurso. Agradecia a homenagem e dedicava a vitória à sua gente. As bandeirinhas se agitavam, a multidão rugia.
Um dia inesquecível no calendário histórico de Palmares.
Alguns dias depois foram entrevistados pela Televisão no Recife, e deles se ocuparam todos os jornais.
Passado o impacto dos primeiros dias, a cidade foi-se habituando à convivência com seus heróis. Dias, meses e anos, até que eles se tornaram pessoas comuns; e hoje os mais novos nem sabem do feito. No Palácio das Revistas, Seu Odilo ainda conta a aventura aos curiosos que perguntam sobre uma foto pendurada na parede. Ninguém fala mais na viagem.
* * *
Vinte anos mais tarde, recordo a aventura com Valmir.
Depois de enxugar a espuma da cerveja nos lábios com as costas da mão, ele confessa com sua voz mansa, com aquela humildade peculiar a todo sapateiro:
- Hoje, Emanuel é oficial médico da Aeronáutica. Nem sei onde anda. Mas se ele aparecesse aqui, agora, me convidando para ir a pé até pro estrangeiro, eu ia de novo.
 

Decisões erradas estão por trás do baixo crescimento - - Míriam Leitão


 Míriam Leitão - 
17.12.2012
 | 
15h18m
NA CBN


O Brasil caminha para ter crescimento de 1% este ano e inflação perto de 6%, é um resultado muito ruim. Nos dois anos de governo de Dilma Rousseff, daria uma média de 1,8% e inflação próxima do teto da meta.
O país precisa retomar o crescimento de forma vigorosa. O mundo atrapalhou bastante, por causa da crise, mas grande parte desse baixo desempenho é provocada pelas decisões erradas do governo, que não investe nem o que está no Orçamento. Segundo o site Contas Abertas, foram investidos 40% do previsto, muito pouco.
Outras decisões tomadas também tumultuaram o ambiente econômico pela maneira como foram feitas. O modelo de privatização dos aeroportos, por exemplo, mudou algumas vezes. A queda do preço da energia é positiva para a competitividade das empresas, mas a renovação das concessões foi feita de forma tumultuada. Primeiro, o governo anunciou um percentual de redução; depois, chamou as empresas do setor para conversar. Há erros gerenciais em outras áreas também, o que faz com o que o país cresça pouco.
Em entrevista ao "Valor", Márcio Holland, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, diz que está tudo maravilhoso. Que o investimento crescerá 8% no ano que vem, por exemplo. O experiente jornalista Cristiano Romero, então, questionou o que ele tinha falado, que estamos numa fase forte de investimento. Mas Holland afirmou que a expansão acumulada nos últimos 8 anos era de 60%.
E ele voltou a dizer que é natural um pouco mais de inflação - uma velha tese contra a qual o Brasil se bate há muitos anos. Inflação de 6% é muito alta, ele deveria estar preocupado com esse número.
Essa entrevista mostra, portanto, como o governo está conformado com o desempenho baixo, achando que está aumentando o investimento, quando não está, além de criar confusão em várias áreas, adiando investimentos no setor privado.
Me preocupa o fato de o Ministério da Fazenda estar conformado com uma situação de baixo crescimento e inflação alta.

Consultoria da Copa-2014 obteve enriquecimento ilícito com verba do Esporte, diz TCU



Rodrigo Mattos
Do UOL, em São Paulofael Krieger/UOL
  • Ministério do Esporte, comandado por Aldo Rebelo, não poderá renovar contrato com consultoria
    Ministério do Esporte, comandado por Aldo Rebelo, não poderá renovar contrato com consultoria
O Ministério do Esporte fez pagamentos indevidos para a consultoria Consórcio Copa-2014, segundo decisão do TCU (Tribunal de Contas da União). Isso levou o tribunal a determinar que houve "enriquecimento ilícito" por parte das empresas integrantes do grupo e a indicar que deve requisitar pedido de devolução de dinheiro. O contrato também não poderá ser renovado.
A pasta pagará um total de R$ 48 milhões por quatro anos de consultoria relacionado ao Mundial. Isso graças a um reajuste de 82% no preço inicial, que era de R$ 13 milhões, mais uma renovação por dois anos. Essa prorrogação e o inchaço dos valores do contrato também foram condenados pelo tribunal.
Datado de 10 de dezembro deste ano, o acórdão do TCU lista uma série de irregularidades nos serviços prestados pelo Consórcio Copa-2014, composto pelas empresas Valeu Partners, Arcadis Logos e Galo PPM. Isso mesmo depois de o próprio tribunal ter pedido, há um ano, providências ao Ministério do Esporte em relação à fiscalização desse acordo.
Agora, o TCU identificou como pagamentos indevidos da pasta às empresas custos relacionadas a despesas de viagens dos funcionários do Consórcio, como passagens e diárias. Além disso, o organismo afirmou que profissionais foram contratados como pessoa jurídica, mas a consultoria cobrou do governo como se houvesse taxas e impostos da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas).

Obras da Copa - Outubro de 2012

Foto 4 de 12 - A Arena Pernambuco está com intervenções no sistema viário e estacionamento, estrutura de concreto, instalações e acabamento. Três partidas da Copa das Confederações e cinco da Copa de 2014 estão previstas para o estádio. Na parte de mobilidade urbana estão nos planos dois BRT?s, um terminal de ônibus e dois corredores expressos, como a Via Mangue. O porto da capital pernambucana contará com um Terminal de Passageiros, orçado em R$ 25,7 milhões. A única obra prevista pela Infraero no aeroporto Gilberto Freyre é a construção de uma nova torre de controle, com conclusão prevista para dezembro de 2013. Mais Ministério do Esporte/Portal da Copa
"Na mesma linha, não cabe o argumento de que a validade da subcontratação seria condição suficiente para afastar a alegação de dano ao erário. Conforme se demonstrará nos itens que seguem, a metodologia utilizada pelo consórcio aponta a ocorrência de superfaturamento em razão da inclusão de custos não incorridos, relacionados a insumos de mão de obra, resultando na aferição de lucros excessivos e no consequente enriquecimento ilícito do Consórcio Copa 2014", afirmou o tribunal.
Por cada empregado, a consultoria teria faturado de cerca de R$ 7 mil a mais, segundo o relatório. Pior, o relatório do TCU diz que há indícios de que foram pagos profissionais os quais não há comprovação de que tenham, de fato, prestado os serviços.
Por conta do aumento desses custos, entre outros, houve as revisões do contrato. Primeiro, acrescentou-se 25% ao valor inicial. Depois, houve um reajuste de 45%. Na sequência, aconteceu a prorrogação do compromisso por mais dois anos.
No processo do TCU, o Consórcio Copa-2014 alegou que a instituição do GECOPA (Grupo Especial da Copa), no governo federal, aumentou suas tarefas, que se tornaram também operacionais, e não só consultivas. Por isso, a consultoria argumentou que houve os aditivos dos contratos.
"Cita as interações realizadas pelo consórcio com o GECOPA, o qual, composto por diversos ministérios, demandaria pessoal alocado para as interações e a realização de atividades pertinentes à Copa do Mundo de 2014. Defende que o impacto daqueles atos não seria previsível e que tais fatos, de consequências imprevistas, teriam impactado diretamente no contrato", diz trecho do relatório sobre a posição do Consórcio.
Já o Ministério, também no processo, alegou estar adotando medidas saneadoras para medição com exatidão dos serviços prestados pela consultoria. Entre elas, está a definição de critérios para aceitação de comprovantes para pagamentos de despesas extras, instituição de planilha para acompanhar os custos do contrato e detalhamento dos profissionais envolvidos na execução dos serviços.
Em sua defesa, a pasta ainda requer a continuidade do contrato alegando que tem "papel de coordenador das ações do governo federal para o evento". E defendeu "a necessidade dos consultores na condução dessas ações e ressalta a escassez de recursos humanos do ministério que impossibilitaria a realização de ações rotineiras de preparação do evento".
Mas o TCU pediu a tomada de contas especial para apurar o dano ao erário. E determinou que sejam retidas as garantias apresentadas pela consultoria para eventual devolução de dinheiro. Um organismo do tribunal chegou a pedir o encerramento imediato do contrato. Mas o acórdão final foi apenas que o compromisso não seja renovado após julho de 2013, data de seu final. 

“Ele pagava tudo!” PUBLICADO NA EDIÇÃO IMPRESSA DE VEJA



RODRIGO RANGEL
Durante sete anos, o empresário Marcos Valério assombrou os petistas com a possibilidade de revelar segredos que guarda do tempo  em que era recebido com todas as honras de autoridade nos gabinetes mais exclusivos de Brasília. Condenado a quarenta anos de  prisão, ele foi à Procuradoria-Geral da República e prestou um longo e estarrecedor depoimento. Contou que o PT cobrava propina de empresas que tinham contratos com o Banco do Brasil, que o partido recebeu dinheiro ilegal do exterior, que o governo foi  chantageado por criminosos e que ele, que sabia de tudo isso, foi ameaçado de morte para manter o silêncio ─ informações  verossímeis, mescladas com acusações graves, que permitem supor que a quadrilha do mensalão era maior, movimentou muito mais dinheiro do que se descobriu até hoje e tinha tentáculos fora do Brasil. A revelação mais surpreendente, no entanto, envolveu o ex-presidente Lula. Marcos Valério já havia dito que Lula não só sabia como autorizara o funcionamento do maior esquema de corrupção política da história. Agora, o publicitário afirma que dinheiro do mensalão também pagava contas pessoais do ex-presidente.
Marcos Valério era o principal operador da quadrilha que desviou 150 milhões de reais dos cofres públicos para subornar parlamentares e comprar apoio político no Congresso. Pagará na cadeia pelos crimes que cometeu. Parceiro preferencial do PT que  ascendeu ao poder, o publicitário também é um exímio jogador, um especialista na arte da ameaça. Quando o mensalão foi descoberto, ele cobrou dos petistas milhões de reais em troca do seu silêncio. Quando o caso se tornou um processo judicial, mercadejou o mesmo silêncio em troca de ajuda no STF ─ se não a absolvição, pelo menos a condenação a penas brandas. O ex-presidente Lula, que se comprometera a redimir os mensaleiros, não conseguiu cumprir a promessa. Condenado, Valério passou a revelar seus segredos. À medida que a prisão se aproxima, ele conta mais detalhes desse enredo criminoso. Valério pode estar  mentindo? Pode. Mas pode estar falando a verdade, como quando listou os beneficiários do mensalão.
Na semana passada, o jornal O Estado de S. Paulo divulgou o teor do depoimento prestado pelo empresário à Procuradoria-Geral da  República, em setembro, no qual ele afirma que o mensalão pagou despesas pessoais do então presidente. É a primeira vez que um dos protagonistas do esquema faz essa acusação direta. Valério contou aos procuradores que fez dois pagamentos no início de 2003. Em ambos os casos, disse ele, o dinheiro foi depositado na conta de uma empresa de segurança cujo dono é Freud Godoy, amigo e segurança de Lula desde os tempos de sindicalismo. Valério não detalhou os pagamentos. Disse apenas que um deles foi de cerca de 100 000 reais. A CPI dos Correios, que investigou o mensalão, já havia mapeado uma dessas transferências feitas por uma das agências de Marcos Valério para a empresa de Freud Godoy, mas até hoje não se sabia o destino do dinheiro. Em depoimento à Polícia Federal, Godoy disse ter prestado serviços de segurança à campanha presidencial de 2002, embora tenha admitido que sua empresa não possuía um funcionário sequer. Quando foi receber o pagamento devido, o PT teria recomendado que ele procurasse Marcos Valério. O publicitário agora desmente essa versão. O dinheiro, segundo ele, tinha o ex-presidente Lula como destino.
Freud Godoy gozava da intimidade de Lula. No primeiro mandato, ele chegou a ter uma sala dentro do Palácio do Planalto. Também transitava com desenvoltura pela máquina partidária. Sua empresa de segurança, a Caso, a mesma que recebeu dinheiro de Valério,  virou uma espécie de sucursal do partido e aparece como destinatária de dinheiro da Bancoop, uma cooperativa habitacional dirigida  por petistas, e de recursos da verba indenizatória à disposição dos parlamentares. Godoy se tornou um receptor privilegiado de dinheiro público e privado. Segundo Valério, ele era apenas um caixa intermediário: “Ele (Freud) é cozinha desse sujeito (Lula). Ele  pagava tudo! Era o cara que carregava tudo pra ele”, disse o operador do mensalão, com a credencial de quem, como Godoy, tinha  trânsito livre nos escaninhos do poder. Além de afirmar que o mensalão pagou despesas pessoais de Lula, Valério confirmou no depoimento à Procuradoria informações divulgadas por VEJA em setembro. Ele manteve a versão de que o ex-presidente avalizou os empréstimos fraudulentos contraídos pelo PT para subornar parlamentares e acusou Paulo Okamotto, diretor do Instituto Lula, de ameaçá-lo, inclusive de morte, caso implicasse o ex-presidente no esquema.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ainda não anunciou que providências tomará a partir das revelações de Valério. Só  deve fazer isso depois de encerrado o julgamento do mensalão no STF. Marcos Valério, agora oficialmente delator e em busca de  proteção das autoridades, se define como um alvo ambulante. “Eles vão me matar”, disse, aos gritos, referindo-se aos integrantes da  cúpula petista, antigos parceiros e agora seus inimigos íntimos. Só uma investigação rigorosa será capaz de tirar essa dúvida ─ e  verificar até que ponto a biografia do ex-presidente da República foi maculada. Para passar a história a limpo, porém, basta respeitar  a velha máxima e seguir o rastro do dinheiro que foi depositado pelo operador do mensalão nas contas da empresa de Freud Godoy. Já houve uma tentativa nesse sentido. O elo entre Valério e Godoy fora objeto de investigação no inquérito em curso no STF para apurar aquilo que não ficou esclarecido no processo do mensalão. O ministro Joaquim Barbosa, relator também desse inquérito, chegou a autorizar a quebra do sigilo bancário da empresa de Freud. O extrato da conta poderia indicar o destino dado ao dinheiro. Mas, num lapso, o número da conta enviado ao banco junto com a ordem judicial de quebra de sigilo estava errado. Resultado: a  polícia encerrou o inquérito sem receber os extratos da empresa de Freud. A falha foi atribuída a um perito que integrava a equipe  encarregada do inquérito.
O ex-presidente Lula não quis falar sobre o caso. Em Paris, disse apenas que eram “mentiras” as declarações de Valério. A presidente  Dilma Rousseff foi-lhe solidária: “Considero lamentáveis as tentativas de desgastar a imagem do presidente Lula”. Estimulados pelos dois maiores líderes do partido, os petistas foram a campo para evitar uma investigação sobre as novas informações. Lançaram mão  de dois argumentos. Valério, por ser condenado, por ser um “delinquente”, não merecia crédito. Pelo mesmo raciocínio, não merecem crédito as críticas que faz à Justiça o mensaleiro condenado à prisão José Dirceu. Os petistas também ecoaram a cantilena da necessidade de defesa do legado de Lula no combate à miséria e à desigualdade social. Não é disso que se trata. O ex-presidente  está sendo acusado de beneficiar-se pessoalmente de um esquema de corrupção. O foro, portanto, é o criminal. Como ninguém está acima da lei, nem mesmo os recordistas de popularidade, só uma investigação rigorosa será capaz de demonstrar se Valério fala a verdade ou age como um desesperado diante da iminência de passar boa parte da vida na prisão.
As contas do presidente
Valério diz que repassou dinheiro para pagar contas pessoais de Lula
Já se sabia que, em 2003, a empresa Caso, de Freud Godoy, amigo e assessor do ex-presidente Lula, recebera um  depósito de 98 500 reais da SMPB, a agência usada por Marcos Valério como caixa clandestino do mensalão.  Perguntado, Godoy (ao lado) jurou que o dinheiro era um simples ressarcimento por serviços de segurança prestados à  campanha presidencial do PT de 2002. No depoimento à Procuradoria-Geral da República, no entanto, Marcos Valério  revelou que o dinheiro enviado por ele ao amigo de Lula tinha outra finalidade: quitar despesas pessoais do ex-presidente. Se o publicitário exibir provas de que fala a verdade, Lula também teria se beneficiado dos recursos públicos  desviados pelos petistas para o caixa do mensalão. Valério conta mais. Segundo ele, Freud Godoy pagava todas as  despesas do ex-presidente.
Ameaça de morte
O braço-direito de Lula teria ameaçado Valério para que ele mantivesse o silêncio
Marcos Valério também revelou em depoimento que foi ameaçado de morte por Paulo Okamotto (acima), o atual diretor  do Instituto Lula e amigo do ex-presidente. Valério relatou no depoimento que Okamotto o procurou em 2005, dias  depois das primeiras revelações sobre a existência do escândalo do mensalão. No encontro, o braço-direito do  presidente teria dito que procurava o publicitário por ordem de Lula com o objetivo de transmitir-lhe um recado: “Ou  você se comporta, ou você morre”. Traduzindo: para continuar vivo, Valério deveria manter segredo de tudo o que sabia sobre o mensalão. Além da ameaça, ele garante que recebeu uma contrapartida financeira pelo silêncio. O PT teria  repassado 4 milhões de reais para bancar as despesas com os advogados do publicitário.
Caso Santo André
Lula e Gilberto Carvalho eram vítimas de chantagem
Reportagem de VEJA já havia revelado que Marcos Valério contava que fora convocado pelo PT, em 2003, para dar fim  a uma chantagem contra o governo Lula e, principalmente, contra o seu então chefe de gabinete, Gilberto Carvalho  (acima). O empresário Ronan Maria Pinto, segundo o publicitário, ameaçava envolver o partido, o presidente e o chefe  de gabinete no até hoje misterioso assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel (no alto). No depoimento, Valério confirmou que o então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, lhe pediu 6 milhões de reais para resolver o problema. Ele reafirmou que não quis se envolver na história, mas que o dinheiro da chantagem acabou sendo pago pelo pecuarista  José Carlos Bumlai (à direita), outro amigo do ex-presidente Lula, por meio de um empréstimo contraído no Banco  Schahin.
Um negócio da China
O PT recebeu 7 milhões de reais clandestinamente da Portugal Telecom
Uma das evidências processuais mais contundentes para mostrar como se organizava a quadrilha chefiada pelo  ex-ministro José Dirceu foi uma reunião ocorrida em Lisboa, que teve a participação de Marcos Valério e do então presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta (na foto com o ex-presidente Lula). Já se sabia que o motivo do encontro era buscar dinheiro para entregar ao PTB de Roberto Jefferson. Em seu depoimento, Valério acrescenta detalhes da  operação. Ele revela que o ex-presidente Lula e o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, combinaram que uma  fornecedora da Portugal Telecom em Macau, na China, transferiria 7 milhões de reais aos petistas. Valério disse que o  dinheiro entrou no Brasil pelas contas de publicitários que prestaram serviços a campanhas do PT.
Colaborou Robson Bonin

Se insistir no jogo perigoso, o companheiro Marco Maia pode acabar expulso de campo


Augusto Nunes

Na sessão que encerrou o julgamento do mensalão, o Supremo Tribunal Federal aprovou por unanimidade a suspensão dos direitos políticos de todos os condenados, incluídos os deputados federais João Paulo Cunha, Pedro Henry e Valdemar Costa Neto. Em consequência disso, decidiu o ministro Celso de Mello, os parlamentares criminosos devem deixar o Congresso. “A perda do mandato resultará da suspensão dos direitos políticos, causada diretamente pela condenação criminal do congressista transitada em julgado, cabendo à casa legislativa à qual pertence o condenado meramente declarar esse fato extintivo do mandato legislativo”, ensinou o decano do STF.
“Reações ou susceptibilidades partidárias não podem justificar afirmações politicamente irresponsáveis e juridicamente inaceitáveis, segundo as quais não cumprirão uma decisão do STF”, avisou Celso de Mello. Não parou por aí a advertência endereçada ao companheiro Marco Maia, militante do PT e presidente da Câmara ─ nessa ordem : “É inadmissível o comportamento de quem, não demonstrando o devido senso de responsabilidade, proclama que não vai cumprir a decisão do Supremo”. Quem se atrever a afrontar o Supremo, completou o ministro, será responsabilizado penalmente.
O fim do mais importante julgamento da história do STF (que será tema de outro post) não encerrou o jogo perigoso. O desfecho depende de Marco Maia. Se tiver juízo, seguirá as regras determinadas pela Constituição. Se ficar com a bola e tentar driblar o juiz, arrisca-se a consumar um desastroso gol contra e acabar expulso de campo.

Parceria para construir e administrar presídios atrai empresas





O estado de Minas Gerais será o primeiro ter um presidio construido e gerido via Parceria Publico Privada
Foto: Agência O Globo
O estado de Minas Gerais será o primeiro ter um presidio construido e gerido via Parceria Publico Privada Agência O Globo
SÃO PAULO - A decisão de muitos estados brasileiros de desenvolver projetos de Parceria Público-Privada (PPP) para sistemas carcerários vem atraindo a atenção de grupos empresariais de todo o país em consórcios para construir e administrar os novos presídios. Além das PPPs de Minas Gerais e Pernambuco, nada menos que cinco estados — Ceará, Goiás, Alagoas, São Paulo, Mato Grosso — e o Distrito Federal estão desenvolvendo estudos para a criação de PPPs que serão responsáveis pela construção e gerência de nove presídios e uma instalação sócio-educativa com capacidade para 21.736 presos.
Levando-se em consideração que o custo de construção de um complexo penitenciário de cinco presídios gira em torno de R$ 300 milhões, pode-se estimar que as obras das novas PPPs devam custar por volta de R$ 500 milhões. E admitindo-se os R$ 3 mil como custo médio mensal dos presos em presídios privados, o orçamento das novas instalações vai girar mensalmente em R$ 65,2 milhões, que é quanto os estados deverão pagar às empresas pela gerência do sistema. Pelo mesmo raciocínio, estima-se que os presídios administrados pela inciativa privada custem hoje aos estados cerca de R$ 40 milhões por mês. Quando estiverem funcionando, a maioria a partir de 2014, todo o sistema vai movimentar anualmente cerca de R$ 1,2 bilhão.
É um dinheiro que vem atraindo várias empresas ligadas especialmente aos setores de construção civil e segurança particular, como Companhia Nacional de Administração Presidiária (Conap), Instituto Nacional de Administração Penitenciária (Inap), Montesinos, Reviver, Yumatã, Humanizari, Auxílio, Socializa, Horizonte, os consórcios GPA e Reintegra Brasil, além de construtoras como Odebrecht e Queiroz Galvão.
— Mantendo a fiscalização nas mãos do Estado e tendo as atribuições de cada parte devidamente acertadas através de um contrato, o modelo de PPP para presídios é um negócio em que tanto a inciativa privada quanto os governos, e principalmente os presos, saem ganhando — diz Marcos Siqueira, gerente executivo de PPPs do governo de Minas Gerais.
— É uma prestação de serviço como qualquer outra — diz Rodrigo Gaiga, da GPA. — A argumentação de que não se pode privatizar o sistema carcerário porque lida com vidas humanas não resiste a uma análise do que ocorre diariamente no Brasil. Se a lógica fosse válida, não poderíamos ter hospitais e escolas privadas, porque garantir Saúde e Educação de qualidade são prerrogativas de governo.
No Paraná, a iniciativa do ex-governador Jaime Lerner no Presídio Industrial de Guarapuava foi suspensa pelo ex-governador e atual senador Roberto Requião, mas o Complexo continua sendo uma referência em termos de presídio com respeito a direitos humanos e empenho na ressocialização dos detentos por empenho do governo atual.
— Todas as experiências de privatização de presídios se mostraram positivas. E isso se dá pela administração mais eficiente dos programas assistenciais e de trabalho nessas unidades. É claro que ocorrem rebeliões, como uma recente no presídio no Amazonas, mas de um modo geral, o preso tem um tratamento melhor — diz Mauricio Kuehne, diretor do Departamento Penitenciário do Paraná.

Toquinho e Vinícius de Moraes: Adeus


Ricardo Noblat - 
17.12.2012
 | 7h30m

Toquinho

Ouça Adeus, de Chico Alves e Orestes Barbosa

Ou fala ou mofa, por Ricardo Noblat



Entretanto, deu tudo errado.
Marcos Valério acreditou que o Supremo Tribunal Federal não condenaria os mensaleiros, como lhe haviam garantido seus amigos do PT.
O julgamento se arrastaria. E quando terminasse estaria prescrita a maioria das penas reservadas aos crimes cometidos.
Condenado, ficaria livre da cadeia.
Existe regime aberto de prisão para quê? E semiaberto? Sem falar de penas alternativas.
Quem nomeou a maioria dos ministros do Supremo? Lula. Coube a Dilma nomear dois.
Contaram a Valério que vários dos ministros haviam ganhado a toga sob o compromisso de matar no peito e livrar o PT do estigma do mensalão.
Caixa 2 para pagar despesas de campanha? Fechado.
Lula concordara com a saída soprada pelo ministro Márcio Thomaz Bastos, da Justiça. Caixa 2 é tolerado como se fosse um crime menor. Ou como se nem crime fosse.
Mas pagamento de propina para que deputado votasse como queria o governo?
Mensalão com dinheiro público?
E gerenciado pelos auxiliares de maior confiança do presidente da República e que junto com ele subiram a rampa do Palácio do Planalto?
Fora os tolos, os ingênuos, os idiotas e os cúmplices, quem acreditaria que o mensalão fora montado sem o aval de Lula? À revelia dele? Pelas costas dele?
Exercício de ficção: um dia, Delúbio Soares, tesoureiro do PT, ligado a Lula a ponto de se hospedar com ele na Granja do Torto, procura José Dirceu, chefe da Casa Civil, e fala sobre um publicitário mineiro esperto com experiência em forjar empréstimos bancários e interessado em ajudar o PT.
Preocupado com a frágil base de apoio do governo no Congresso, Dirceu tem a ideia de usar as artes do mineiro para comprar votos na Câmara e apoio de partidos.
Conversa a respeito com cabeças coroadas do PT. Mas combina com todas elas esconder o assunto de Lula.
Logo de Lula!
Ninguém ao longo da história do PT ousou dar um passo importante sem antes consultá-lo. E ninguém deu um passo importante sem o consentimento dele.
Os que ignoraram a vontade de Lula acabaram expulsos do PT ou saíram para não ser.
Ora, sempre foi assim! Fim do exercício de ficção.
De volta a Valério.
Não. Lula jamais se arriscaria a ter o último capítulo de sua biografia escrito por possíveis algozes.
Valério, portanto, não deveria se preocupar com o pior. Viveria apertado por um bom tempo. Mas o companheiro Okamotto não o deixaria passar necessidades. Já lhe dera provas de que estaria sempre por perto para socorrê-lo.
A um gesto de Lula, entraria em ação.
Ainda no segundo semestre de 2005, por exemplo, quando Lula fora obrigado a pedir desculpas aos brasileiros e a se dizer traído, mesmo naquela ocasião, acuado por todos os lados, ouvindo de amigos o conselho para que abdicasse do sonho do segundo mandato, Lula não encontrou tempo para ordenar a Okamotto que ajudasse Valério?


Bastou que Valério procurasse um senador do PT, que procurou Lula, que...
É a minha história favorita! Não canso de repeti-la.
Foi assim: o senador disse a Lula que Valério estava sem dinheiro e ameaçava contar parte do que sabia sobre o esquema do mensalão.
A princípio, Lula nada respondeu. Em silêncio, por meio das paredes envidraçadas do seu gabinete, admirou uma fatia dos jardins internos do Palácio do Planalto.
Em seguida perguntou: "Você procurou Okamotto?" O senador respondeu que não. Ponto final.
Aquela não foi a primeira vez que Valério chantageou Lula. Mas só chantageia com sucesso quem é dono de segredos.
Passou para Valério a fase da chantagem. O PT e Lula não podem fazer mais nada por ele.
Condenado a 40 anos de reclusão, Valério só poderá obter benefícios em outros processos se revelar o que esconde. Ou o que diz esconder.
Se estiver blefando, azar o seu.
Mofe atrás das grades.