quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Bancos suíços buscam atuação para ganhar clientes latinos


Exame

Oportunidades mais vantajosas de investimento estão tornando o private banking um “jogo doméstico” no Brasil


Fabrice Coffrini/AFP
Bandeira suíça diante de agência do banco UBS em Berna
Bandeira suíça diante de agência do banco UBS em Berna: expansão para a América Latina
São Paulo - Bancos privados suíços tentam criar raízes na América Latina depois que, com tarifas mais reduzidas e juros mais altos oferecidos por gestores locais, os super ricos deixaram de viajar para Genebra e Zurique.
Oportunidades mais vantajosas de investimento estão tornando o private banking um “jogo doméstico” no Brasil e a proporção de fortunas enviadas para administração no exterior caiu para até 5 por cento do total, disse João Albino Winkelmann, diretor do Banco Bradesco SA.
“Muita gente costumava guardar dinheiro em Genebra, mas isso não acontece mais”, disse Winkelmann, que ajuda a administrar US$ 31 bilhões em ativos de clientes. “Muito poucos brasileiros estão mandando dinheiro para fora.”
Isso está mudando uma relação que começou no século XIX, quando bancos suíços guardavam fortunas de magnatas dos setores agrícola e de mineração. UBS AG, Credit Suisse Group AG e outros bancos suíços estão sendo obrigados a tentar aquisições já que o mercado de administração de fortunas da América Latina, hoje em US$ 3,5 trilhões, deve crescer mais de 50 por cento até 2016, segundo o Boston Consulting Group.
“As pessoas estão ficando cada vez mais ricas”, disse Gustavo Raitzin, que comanda o Julius Baer Group Ltd na América Latina. “Uma classe emergente de consumidores quer fazer investimentos líquidos e precisa de bancos e gestores de recursos, principalmente no Brasil.”

Arranjo "perdido" de Beethoven é encontrado dois séculos depois



Peça de 1820 é uma harmonia para um canto gregoriano de mil anos de idade

BBC Brasil 

BBC
Reprodução
O compositor Beethoven
Quase dois séculos depois, um arranjo até então desconhecido do compositor alemão Ludwig van Beethoven, feito para um antigo hino religioso, foi descoberto em uma biblioteca de Berlim.
Há exatamente 192 anos, o compositor escreveu uma harmonia para o canto gregoriano "Pange Lingua", modificando o tom na escala musical, segundo o professor da Universidade de Manchester, Barry Cooper, responsável pela descoberta. A passagem foi escrita em um caderno, mas já havia sido considerada um exercício ou um esboço para outra peça.

O professor Cooper reconheceu a melodia do hino e identificou a peça de dois minutos como uma obra de Beethoven até então desconhecida. Principal especialista sobre o compositor, ele disse que se tratava de um exemplo raro do compositor escrevendo música religiosa. "Fiquei muito surpreso quando descobri isso - eu não imaginava que ele havia escrito algo assim", disse ele.
"Pange Lingua"
O caderno, que está na Biblioteca Estadual de Berlim, data de cerca de 1820. E foi transcrito e publicado em 2010. Cooper disse que estudiosos de Beethoven não haviam identificado a peça antes porque "parecia uma série de notas". "Quando eu olhei para ele, pensei, hey, isso não é apenas uma série de notas, mas um hino com harmonia de Beethoven".

"Parece que as pessoas que são especialistas em canto gregoriano não olharam o rascunho de Beethoven e as pessoas que são especialistas em rascunhos de Beethoven não olharam para o rascunho. Mas ocorreu de eu saber sobre ambas coisas."
Beethoven fez pequenas alterações para a melodia de "Pange Lingua", canto gregoriano de 1.000 anos de idade, disse Cooper. A peça pode ter sido executada na cerimônia em que o patrono de Beethoven, arquiduque Rudolph da Áustria, foi feito arcebispo de Olmutz, em março de 1820, quando o compositor tinha 49 anos.
"Extraordinário"
Especialistas em Berlim haviam assumido que a peça era um esboço para a famosa Missa Solene de Beethoven, que foi escrita no mesmo período. "Ele nunca compôs música funcional - a única música litúrgica que ele escreveu foi para as duas grandes missas," disse o professor Cooper. "Então, encontrá-lo escrevendo música funcional para um culto ordinário da igreja é algo extraordinário."
O professor William Drabkin, da Universidade de Southampton, que publicou os desenhos, descreveu a peça como uma "muito rudimentar". "Quando eu fiz as transcrições do esboço, pensei que era algum tipo de exercício em contraponto", disse ele. "Eu não podia dimensioná-lo." Ele acrescentou: "A peça adiciona uma pequena contribuição para nosso conhecimento sobre o que Beethoven estava fazendo na década de 1820."

Obra de Picasso é redescoberta após ficar 50 anos em depósito


Pintura foi confundida com a tela de um artista falso devido a um erro de catalogação

iG São Paulo  - Atualizada às 

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"Mulher Sentada com Chapéu Vermelho"
A pintura "Mulher Sentada com Chapéu Vermelho", do artista Pablo Picasso, foi redescoberta nos Estados Unidos após 50 anos longe dos holofotes.
A obra, que integra o acervo do Evansville Museum, em Indiana, foi confundida com uma tela do artista falso Gemmaux - a palavra, plural de gemmail, é utilizada para designar uma mistura líquida utilizada para unir pedaços de vidro.
De acordo com o "The Guardian", a confusão ocorreu após um erro de catalogação. Entregue ao museu em 1963 pelo designer industrial Raymond Loewy, "Mulher Sentada com Chapéu Vermelho" permaneceu no depósito até que a casa de leilão Guernsey´s procurou o museu em busca de trabalhos da fase gemmaux de Picasso.
Acredita-se que Picasso foi apresentado à técnica na década de 1950 pelo artista francês Jean Cocteau.
Nas palavras do diretor do museu, John Streetman, a pintura "brilha como uma joia". Apesar de ainda não ter sue preço avaliado, a tela será leiloada em Nova York.

Nova obra de Picasso é encontrada escondida sob outro quadro do artista



Desenho estava dentro da famosa pintura 'Mulher Passando Roupa', feita em 1904

EFE 

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A pintura 'Mulher Passando Roupa', de Picasso
Uma minuciosa restauração realizada pelo Museu Guggenheim de Nova York permitiu localizar uma obra até agora desconhecida de Pablo Picasso que estava sob um outro quadro do pintor espanhol, "Mulher Passando Roupa".
Na obra original, que corresponde à etapa azul do gênio espanhol, aparece uma mulher passando roupa com um ferro. Mas a restauração permitiu descobrir uma figura masculina subjacente orientada no sentido contrário do outro desenho que foi encontrada após uma análise profunda.

Os resultados obtidos graças a essa restauração, que foi liderada pela principal curadora do museu nova-iorquino, Julie Barten, permitirão "melhorar" a bibliografia e conhecer mais sobre os métodos de trabalho de Picasso.
"Mulher Passando Roupa" foi doado em 1978 ao Museu Guggenheim pelo colecionador alemão Justin Thannhauser e desde então é uma de suas aquisições mais procuradas. Um porta-voz do Guggenheim afirmou à agência Efe que por enquanto não há detalhes da identidade da pessoa que aparece no novo quadro, uma pintura que ainda está sendo investigada.
Desde os primeiros estudos realizados em "Mulher Passando Roupa", em 1989, os conservadores e historiadores da arte tinham suspeitado que por trás desta obra, datada de 1904, o pintor podia estar escondendo algo. Alguns especialistas apontaram que a imagem pode ser um retrato de Benet Soler, um alfaiate de Barcelona e amigo de Picasso, que ajudou a apoiá-lo durante os anos de vacas magras e que pintou frequentemente.
Agora, graças ao uso de dois tipos de câmeras infravermelhas, o cientista Johan Delaney foi capaz de produzir imagens muito mais detalhadas que qualquer estudo pôde ver antes, já que as novas tecnologias permitiram "ver além da superfície". "Há coisas que o olho humano não pode ver, mas, no entanto, agora os conservadores podem passar pelo que está imediatamente visível para enxergar a história oculta através das camadas de pintura", declarou o museu.
Esta descoberta também permitiu confirmar a reutilização dos quadros por parte do pintor espanhol, uma técnica que, segundo os analistas, foi utilizada ao longo de toda a sua carreira.

    Um lago que sorri, um jardim em forma de mulher gigante e outras loucuras belíssimas do paisagista Charles Jencks



    Charles-Jencks
    Charles Jencks: gênio do paisagismo (Foto: BBC)
    O currículo de Charles Alexander Jencks, nascido em 1939 em Baltimore, no Estado americano de Maryland, é de espantar qualquer um.Vamos lá: formado em literatura e arquitetura em Harvard, Phd em história da arquitetura pela Universidade de Londres; escritor especializado em arquitetura moderna, com doze livros publicados; premiado por dezenas de associações e escolas do mundo inteiro; renomado escultor, autor de obras espalhadas por prestigiadas galerias, a maioria na Escócia: professor com passagem por 40 universidades de 14 países diferentes.
    Tudo isso, porém, chama menos atenção do que as criações paisagísticas de Jencks, nas quais ele despeja toda a sua imaginação. Com inspiração eclética que abrange desde o poeta e pintor inglês William Blake (1757-1827) a ciências como a geometria, ele cria conceitos surpreendentes e os coloca em prática em jardins que parecem extraídos de (bons) sonhos.
    A cascata que conta a história do universo; apenas uma das extravagâncias do Garden of Cosmic Especulation (Foto: Charlesjencks.com)
    De William Blake às ciências
    O mais antigo e mais conhecido trabalho paisagístico entre os 14 que Jencks destaca em seu site é o Garden of Cosmic Speculation (“Jardim da Especulação Cósmica”), um complexo privado – abre apenas um dia por ano para visitas – que se espalha por área de espantosos 120 quilômetros quadrados em Dumfries, no sudoeste escocês.
    Começou a ser construído em 1989 e, nas palavras do responsável, “utiliza a natureza para celebrar a natureza, tanto intelectual quanto sensorialmente, incluindo o sentido de humor”.
    Entre as 40 atrações do deslumbrante e peculiaríssimo parque estão uma cascata em degraus que conta a história do universo, um terraço inspirado pela “distorção de tempo e espaço causada por um buraco negro” e uma série de paisagens que fazem referência a diferentes disciplinas científicas.
    Charles-Jencks
    O laguinho onde desagua a cascata (Foto: Charlesjencks.com)
    A maior forma humana já esculpida
    Mas há outros projetos de Charles Jencks que saltam aos olhos de quem procura surrealismo e beleza em jardins. Os mais notáveis são o Maggie’s Centre, em Inverness, Escócia – famoso pelo arranjo paisagístico em forma de um colar -, e, sobretudo, o Nothumberlandia, em Newcastle, Inglaterra.
    Nothumberlandia
    A mulher gigante esculpida por Charles Jencks na Nothumberlandia (Foto: Charlesjencks.com)
    Prevista para ser concluída em 2013, ganhou o nome “Godness of the North” (“Deusa do Norte”) e o apelido de “a maior forma humana já esculpida em uma paisagem”, tem comprimento de 400 metros, altura de 34 metros e se situa num parque público de 77 quilômetros quadrados.
    Vejam abaixo mais fotos de diferentes trabalhos de Charles Jencks:
    charles-jencks
    O colar esculpido no Maggie's Centre, em Inverness, Escócia (Foto: Charlesjencks.com)
    Charlesjencks
    Um lago que sorri na Galeria de Arte Moderna de Edimburgo, Escócia (Foto: Charlesjencks.com)
    O xadrez surrealista do Parque Florestal Olímpico de Wu Shi, em Pequim, China (Foto: Charlesjencks.com)
    Parque Florestal Olímpico de Wu Shi, em Pequim, China (Foto: Charlesjencks.com)
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    O DNA Garden, outra atração do Jardim da Especulação Cósmica arque Florestal Olímpico de Wu Shi, em Pequim, China (Foto: Symmetry Magazine)

    Lya Luft: Os que não votaram



     Artigo publicado na edição impressa de VEJA que está nas bancas

    Os que não votaram

     OS QUE NÃO VOTARAM
    As notícias de todos os lados me dizem que o número de brasileiros que não votaram, isto é, abstenções ou votos nulos, cresceu grandemente, chegando a mais de 25% dos eleitores.
    Nestes dias tumultuados de novidades — com a atenção daqueles que pensam e observam presa no Supremo, que salva algo da nossa moral e dignidade, ou com um brevíssimo espreitar no segundo turno das eleições, com seu jogo nada original de busca pelo poder —, fiquei refletindo sobre a razão dessa abstenção, pois a votação é obrigatória, coisa que, aliás, considero erro e atraso.
    Se não tivermos liberdade de eleger nossos líderes, representantes, governantes, não deveriam nos forçar, ou recorreremos à abstenção.
    Lya Luft
    Lya Luft
    Quanto a ela, vejo dois motivos possíveis. Primeiro, descrença e desalento. A proliferação de partidos e o troca-troca de legendas, além das fusões, alianças e conluios, nos desorientam e desestimulam.
    Afinal, quem é quem, nessa sopa de letrinhas, quem tem quais projetos, que linha, que espinha dorsal, que conduta e quais propostas são originais, reais e vão ser executadas?
    Os inimigos figadais aqui e ali dançam um minueto, antigos aliados hoje cruzam punhais em duelos estranhos ou cômicos, figuras inusitadas ou velhíssimos figurões desfilam, mas a gente não sabe direito a que vieram ou como voltaram aos palcos.
    Em segundo lugar, talvez falte interesse em saber, em deslindar, em escolher e decidir. Ou melhor, os interesses e as seduções são outros.
    Não nos abalam corrupção, falta de ética, despreparo, improvisações, o extraordinário nivelamento por baixo a corroer nossas universidades, agora com aumento das cotas, que nos farão descer ainda mais na posição entre as piores do mundo.
    Muito mais do que melhorar o país, queremos consumir.

    O time do STF



    AS QUESTÕES JURÍDICAS MAIS PALPITANTES DO JULGAMENTO DO MENSALÃO QUE ESTÃO A SE DEFINIR E QUE PODERÁ ENCAMINHÁ-LO PARA UM RODÍZIO DE PIZZA EM BRASÍLIA COM RELAÇÃO A ALGUNS DOS RÉUS


    É tradição do judiciário pátrio tomar por base a pena mínima prevista no Código penal para a dosimetria das penas em processos criminais, é a denominada pena-base. Aplicando-se o sistema ou método trifásico por nós adotado, da fixação da pena mínima (1ª fase), seguir-se-á a fase das agravantes e atenuantes (arts. 61 a 68 CP), se houver (2ª fase), e por último as causas de aumento e diminuição de pena, com critérios presentes no CP restrito a alguns tipos penais (3ª fase).

    Ok, mas e o mensalão nessa estória, onde entra a questão de interesse? Propriamente no momento da dosimetria das penas, episódio que revelará a quais interesses se procedeu majoritariamente toda esta inelutável "ginástica intelectual" dos senhores ministros, se atenderão mais as suas convicções jurídicas ou mais aos apelos políticos do poder.

    Consigno desde já, que o MPF e o Supremo Tribunal Federal revelaram-se morosos, não me exacerbo em dizer que prevaricaram nos termos do art. 319, CP. Foram irrazoáveis sete anos para se iniciar o tão aguardado julgamento do mensalão, tempo suficiente para praticar impunidades e tornar uma prestação jurisdicional tendente a ineficácia.

    Dos sete crimes apontados pelo PGR aos 37 réus na Ação Penal nº 470, quatro estão prescritos desde 2011, caso o Supremo condene os réus a pena mínima prevista em abstrato. O exemplo mais emblemático que se poderá denotar referida prevaricação perceber-se-á no crime de quadrilha, que em abstrato prevê como reprimenda de 1 a 3 anos de reclusão.

    E como funciona o cálculo prescricional? Em apertada síntese, até o recebimento da denúncia da PGR pelo Supremo, conta-se a partir da pena máxima em abstrato, em sendo abaixo de 4 anos, a prescrição dar-se-á em 8 anos, o que faria prescrever apenas em 2015, até aí nenhum problema aparente.

    A "question iuris" surge a partir da decisão dos senhores ministros, a partir do proferimento de seus votos, pois neste momento levar-se-á em conta a pena aplicada em concreto, que se for a pena mínima ou um pouco além da mínima, no caso de formação de quadrilha, não ultrapassando 2 anos, a prescrição dar-se-á em 4 anos e não mais em 8, quando crimes como a mencionada formação de quadrilha, corrupção ativa, corrupção passiva, peculato e evasão de divisas estarão prescritos nos termos do art. 109, CP, e o "ius puniendi" do Estado indelevelmente frustrado ao lado de parcela da sociedade com a função judiciária como mais uma função desacreditada de poder perante segundo o olhar social.

    Faço lembrar, que caso prescrito esteja, haverá a automática extinção da punibilidade do réu segundo o critério temporal, não sendo considerado condenado e não carregando o réu qualquer antecedente criminal.

    Por isso, aos ativistas que torcem contra a sensação de impunidade dos réus nos "crimes de colarinho branco" devem mover suas energias no sentido de iluminar os senhores ministros para aplicação da pena além do mínimo, mais propriamente além dos 2 anos, que não mais prescreveria em 4, mas passaria a prescrever em 8 anos, sendo certo que para condenar além do mínimo necessária será a fundamentação. Critérios não objetivos como a monta financeira envolvida ou mesmo a repercussão do caso, não atendem aos critérios que o Supremo utiliza para majorar a pena. A meu entendimento, agravantes que podem ser consideradas no caso do mensalão são a existência de abuso de poder e a violação de dever inerente ao cargo.

    Ressalta-se um ponto salutar para se alcançar penas mais gravosas capazer de superar, ultrapassar os males da prescrição punitiva do estado. Os ministros que absolveram os réus, que nitidamente votaram por razões políticas com o Governo Federal, não participarão da fase de dosimetria das penas, das reprimendas. Este é o entendimento que tem prevalecido em respeito a uma mínima lógica esperada. Desta forma, Lewandowski e Tóffoli, que praticamente absolveram  todos os réus de quase todos os crimes imputados pelo PGR restarão limados desta fase, na lógica de quem absolve não pode apenar.

    Passo neste instante para análise do crime de quadrilha em especial, tipificado no art. 288, CP. Minha visão sobre esta temática é cognitivamente bem definida e entendo ser esta a melhor exegese para que o intérprete da norma que tenha o ofício de prestar jurisdição assim proceda. O delito de quadrilha, formal e de perigo, envolve a associação de no mínimo 4 pessoas (contando inimputáveis e pessoas não identificadas) com fim de cometer crimes. Consigno que não se faz necessário que tais delitos arquitetados logrem êxito, venham a se concretizar para que se subsuma a tipificação penal, sendo o crime de quadrilha um crime autônomo. É, portanto, um crime plurissubjetivo de condutas paralelas, que tutela a paz pública em uma associação estável e permanente, uma associação sólida estruturalmente e temporalmente durável. A ausência deste último requisito desclassifica-se o delito para mero concurso de agentes.

    Do exposto, não há como desclassificar, a meu ver, as condutas dos mensaleiros que se auxiliavam mutuamente na busca de seus planejados fins criminosos. Alegar a inexistência de uma associação estável e permanente como propugna o quarteto Rosa Maria Weber, Carmen Lúcia o bravo Lewandowski e Dias Toffoli, é, a meu sentir, querer ver chifre em cavalo na crença da existência de unicórnios. Co-autoria de pelo menos 2 anos é algo esdrúxulo, surreal a se alegar, por isso abstenho-me de discorrer.

    Quanto a paz pública, esta é abalada quando se busca a modificação das consciências dos representates do povo para que votem não de acordo com os seus representados (o povo), mas de acordo com os interesses do Governo Federal. Não há necessidade de se tratar de um crime de índole violenta, armas por exemplo qualificariam o crime de quadrilha. Por isso a paz pública indubitavelmente restou seriamente abalada.

    Restou amplamente comprovado pelo chefe do MPF, que a associação era permanente e iria se manter enquanto o Partido dos Trabalhadores perdurasse no poder, no objetivo de comprar com o dinheiro público a consciência de membros do legislativo para a aprovação dos projetos de interesse do Governo Federal. Da própria denominação "mensalão", já se deduz com certa obviedade, que a finalidade da associação perdurou como perduraria, não fosse denunciado, publicizado, por um dos beneficiários passivos do esquema que veio a se sentir prejudicado nos seus recebimentos. Deixo anotado, que bastaria a associação, ainda que não se conseguisse praticar o crime pretendido, é um crime formal.

    Desta feita, abstraindo-se elucubrações de alguns dos senhores ministros movidos por outros interesses que não o de julgar de acordo com a subsunção da norma aos fatos, causar-me-ia espécime qualquer jurisconsulto, positivista kelseniano ou não, que sustentasse uma tese criativa defensiva que discrepasse da existência do crime de quadrilha no caso mensalão.

    Por último, trago à baila, o que hoje parece ser a maior dúvida do plenário do Supremo tribunal Federal, o "modus procedendi" da Corte constitucional com relação aos inúmeros empates que a aposentadoria do ministro Cezar Peluso no interregno do julgamento fez acarretar, já que deixou a composição plenária em número par, e claro, não se pode esquecer das criativas interpretação de fatos provados que conseguiram perpetrar alguns ministros.

    Duas são as teses de interesses que se digladiam, embora uma terceira me pareça a mais correta. A questão deverá ser suscitada ao final do julgamento, já que até o último voto é possível a alteração de votos já proferidos, como fez Lewandowski gerando mais alguns empates ao absolver os poucos que havia condenado, modificando seu voto e passando a entender pela inocorrência do crime de formação de quadrilha em relação a todos os réus. Deverá ser ao fim suscitada questão de ordem para que o plenário se pronuncie.

    A 1ª tese é a tese consentânea com o RISTF, mais propriamente com seu art. 13, IX. O regimento expressa-se no sentido de que o desempate deve-se dar através do voto de qualidade do presidente da Casa, que, portanto, faria prevalecer às razões de seu voto, prevendo o RI a possibilidade de exceções expressas. Para alguns, esta metodologia de desempate revela-se contrária ao Estado Democrático de Direito, apesar de ser a metodologia constante no RI da maior Corte de Justiça do país, uma Corte Constitucional por essência de um Estado Constitucional Democrático de Direito.

    A 2ª tese é a tese aplicada para o caso do julgamento de Habeas Corpus pelo Supremo, mais propriamente a tese do "in dubio pro reo", onde absolve-se o réu em caso de dúvida. Acontece, que esta tese, em tese, como disse, é aplicada pelo Supremo apenas para o desempate nos julgamentos de HC, segundo prescreve o art. 146, par, único do RISTF, e não para ações penais originárias, como é a Ação Penal 470.

    O fundamento para aplicação do princípio do "in dubio pro reo" encontra-se no art. 615, Par 1º, CPP, e em uma interpretação analógica extensiva, na previsão do RISTF que é específica para o HC.
    A tese do "in dubio pro reo", a meu sentir, não é a correta fundamentação que deveria ser ventilada pela defesa ou por Lewandowski e Toffoli, pois a dúvida não é sobre a existência do fato ou autoria, sobre o fato juridicamente relevante, mas sim quanto ao resultado do julgamento. Caso contrário, o réu ganharia gratuitamente um voto a mais pela sua absolvição proferida por uma "entidade divina", o que seria no mínimo exótico. Aqui não se fala em ônus da prova, dúvida, mas em "favor rei".

    A melhor fundamentação encontra-se no art, 5º, LVII, CF. Por este artigo, presume-se a inocência do réu até o trânsito em julgado da sentença, que apenas pode ser afastada se houver prova plena do cometimento do delito. A sentença condenatória transitada em julgado é a que modifica do "status" de inocente para culpado, já absolutória deve ser proferida a partir da dúvida ou da certeza da inocência do delito, pouco importado, reafirma a inocência transformando a presunção em sentença absolutória.

    Desta forma, com o empate na ação pena originária, a presunção de inocência não transmudou-se na certeza da culpa para condenação, não possuindo a força modificativa para alterar o "status" de inocência do réu para culpado, Portanto, em se optando por prestigiar o princípio da presunção de inocência, manter-se-á o "status" inicial de inocência, tendo em vista não que teria o MPF logrado êxito em seu mister acusatório, em respeito ao art, 5º, LVII da CRFB. Esta é sem dúvida alguma a interpretação jurídica mais técnica segundo a ausência de uma previsão expressa.

    Não acredito que prospere a tese do voto de qualidade do presidente do Supremo. Em vencendo a tese mais técnica que expus, ou mesmo a tese enferma por atecnia, mal ajambrada, alardeada pelos patronos de alguns dos réus via imprensa (ambas com o mesmo resultado finalístico), cria-se uma nova presunção, a de que o julgamento do mensalão terminará em algum dos muitos rodízios de pizza de Brasília para alguns dos réus. Que sejam corteses os senhores patronos dos réus e do partido do Governo federal, que não esqueçam dos amigos Lewandowski e Tóffoli por gratidão ofertando-lhes uma merecida e generosa fatia.

    Por tratar-se de presunção relativa, ainda confio que as pizzarias estejam fechadas e que não haja comemorações senão as da sociedade voltando a crer que a prestação jurisdicional se faz de forma igualitária, sem descriminação, que não se diferencia seus cidadãos pelo grau de instrução, pelas quantias bancárias amealhadas ou pelo poder angariado...

    Herança Suzane von Richthofen não deve ficar sem dinheiro quando deixar a prisão



    Apesar de brigar na Justiça por herança de pais, avó deixou bens para condenada

    Mesmo após matar os pais, Suzane von Richthofen continua brigando com o irmão Andréas por metade da herança. Um processo, porém, pode impedir que a condenada receba os bens dos pais. Mesmo sem a decisão da Justiça, é possível antecipar que a jovem não deve ficar sem dinheiro quando deixar a prisão. ...

    Investigação feita pelo Jornal da Record mostrou que Suzane recebeu da Previdência Social uma pensão pela morte do pai, que é de cerca de R$ 1.000 por mês. Um documento mostra que a avó paterna, Margot, mesmo depois do crime, não deserdou a neta e incluiu o nome de Suzane no testamento. Ela deixou uma casa, avaliada hoje em R$ 500 mil, um automóvel e R$ 50 mil em uma conta bancária.

    A avó também deixou para Suzane parte das joias da família Richthofen. Segundo o inventário, Manfred, o pai de Suzane, que era filho único, guardava as joias no cofre de um banco da avenida paulista, hoje lacrado pela Justiça.

    Herança dos pais

    O patrimônio que agora Suzane disputa com o irmão inclui o casarão da família num bairro nobre de São Paulo. O pai de Suzane e Andreas comprou o imóvel por R$ 330 mil reais em 1998. A casa foi a prova do sucesso de Manfred, que era diretor de engenharia da Dersa, a empresa que controla a construção de rodovias em São Paulo. O orgulho do engenheiro era ter dirigido as obras da primeira fase do rodoanel, que movimentaram bilhões de reais.

    O Ministério Público de São Paulo chegou a investigar a suspeita, nunca confirmada, de que Manfred desviava dinheiro das obras para contas na Suíça, uma delas destinada a Suzane. O dinheiro também irrigaria o caixa dois de campanhas políticas. A investigação foi arquivada por falta de provas.

    O homem que faz a defesa de Suzane, Denivaldo Barni, foi advogado da Dersa e colega de trabalho do pai dela na empresa. Ele sempre esteve ao lado de Suzane e não quer dar entrevistas. Existem estimativas de que a herança disputada por Suzane e Andreas envolve imóveis que valem hoje mais de R$ 10 milhões. Mas isso é incerto, depende das flutuações do mercado.

    O juiz encarregado de decidir sobre o inventário de Manfred e Marísia chegou a tomar uma decisão. Na sentença, decretou que Andreas ficaria com bens equivalentes a R$ 786 mil. A parte de Suzane seria de R$ 1,86 milhão. Os valores não são atualizados.

    Mas, na prática, todo o dinheiro ficaria com Andreas, porque Suzane, antes do julgamento, anunciou que desistiria da herança dos pais. Mas, chamada a depor no processo, Suzane voltou atrás. Em 13 de agosto de 2007, disse: "A depoente manifesta seu desejo de ser considerada herdeira de seus pais, desistindo da renúncia à herança".

    Ação

    Para afastar a irmã do dinheiro dos pais, Andreas move uma ação para considerar Suzane indigna da herança, o que está previsto na legislação brasileira, já que ela foi condenada pela morte de Manfred e Marísia.

    Ele ganhou em primeira instância, mas Suzane recorreu. A disputa pode se arrastar por mais alguns anos.

    Assista ao vídeo: 

    Fonte: R7 com Jornal da Record - 25/10/2012

    Genoino perderá sua Medalha do Pacificador



    O julgamento do Mensalão se transforma em dor de cabeça para o Exército. Militares na reserva começam uma ativa campanha via internet para pedir ao General Enzo Peri, comandante da Força Terrestre, que promova a cassação, ex officio, da Medalha do Pacificador concedida a José Genoíno Netto (ainda assessor especial do Ministério da Defesa, pois não teve seu pedido de exoneração ratificado pela Presidenta Dilma Rousseff, apesar da condenação por corrupção ativa no STF).
    O Decreto nº 4.207, de 23 de abril de 2002, que regulamenta a concessão da maior honraria dada pelo Exército, é bem claro em casos como o de Genoíno. O Artigo 10 prescreve que perderá o direito ao uso da Medalha do Pacificador e será excluído da relação de agraciados o condecorado nacional ou estrangeiro que: a) tenha sido condenado pela Justiça do Brasil, em
    qualquer foro, por sentença transitada em julgado, por crime contra a integridade e a soberania nacionais ou atentado contra o erário, as instituições e a sociedade brasileira; c) tenha praticado atos pessoais que invalidem as razões da concessão, a critério do Comandante do Exército.
    O General Enzo fica em uma encruzilhada. Se cassa a medalha de Genoíno, arruma uma briga imensa com sua comandante-em-chefe Dilma Rousseff – que até agora ignora, sem confirmar no Diário Oficial, o pedido de exoneração feito publicamente por Genoíno, na semana passada.
    Se Enzo mantém a medalha com o condenado no Mensalão, além de ficar queimado com seus pares, acaba desrespeitando o Decreto nº 4.207, que lhe confere poder de cassar, ex officio, a medalha do condecorado nacional que “tenha cometido atos contrários à dignidade e à honra militar, à moralidade da organização ou da sociedade civil, desde que apurados em sindicância ou inquérito”.
         Artigo enviado por Mário Assis, com dados dos sites:
    *Alerta Total e montedo.com  /  http://sociedademilitar.com

    A versão de Jefferson: quando, como e por que ele decidiu detonar o mensalão.



    Circula na internet com sucesso esse texto sobre Roberto Jefferson, sem indicação precisa de autoria. É mencionado apenas que foi redigido “com informações do livro “Nervos de Aço”, em depoimento do ex-deputado a Luciano Trigo, da editora Topbooks.  O texto foi enviado ao Blog por Mário Assis.
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     “Aí eu disse pro Dirceu…”
    Quando saiu do banho, naquela manhã de 24 de maio de 2005, o deputado Roberto Jefferson, deu com o poderoso ministro da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu, sentado em sua sala, acompanhado do líder do governo no Congresso, Aldo Rabelo.
    – Bom dia, senhores – cumprimentou, frio.
    Se tivesse sido consultado, não o teria deixado subir. No dia anterior, a empregada Elza lhe dissera que Dirceu e mais quatro ministros estavam na portaria com uma urgência, mas ele os mandara voltar da porta, porque tinha chegado ao limite. Mesmo com o presidente Lula, que havia ligado à noite para pedir-lhe que retirasse a assinatura do pedido de uma CPI para investigar a corrupção nos Correios, havia sido frio:
    – Essa CPI vai ser muito ruim para o governo, muito ruim, muito ruim… – apelou o presidente, entre outras coisas.
    – Eu sei. Mas, moralmente, não me resta outra saída, presidente.
    Mas nesta manhã eles conseguiram entrar por uma traição do amigo José Múcio, que ligara antes do banho querendo uma conversa urgente e avisara aos dois que ele estava em casa. O porteiro e a empregada não tiveram peito para segurá-los na portaria. Sim, estava sozinho. Não tinha apoio de nenhum amigo nem dentro do seu partido, o PTB.
    José Dirceu, que o vinha evitando nos últimos dias e tratando direto com os deputados de seu partido os interesses do governo, inclusive evitar a CPI, agora faria o que fosse preciso para que ele retirasse sua assinatura.
    – Roberto, você não vai assinar essa CPI – foi direto ao assunto. – Você não vai fazer isso com a gente. Essa CPI é contra o governo, é para paralisar o governo. É pra atingir o presidente Lula e vai nos atingir.
    Jefferson sentou-se para encará-lo de frente.
    – Quanto a isso não tenho dúvida, Zé, porque eu sou a escada, sou ponte. O alvo é você, o alvo é o Delúbio, o alvo é o Silvinho Pereira – referiu-se ao tesoureiro e ao secretário do PT que vinham fazendo negócios em nome do governo sob orientação da Casa Civil. – A CPI vai atingir vocês. Mas não posso sair disso sem alma, não vou virar zumbi. Minha honra pessoal foi atingida.
    O deputado se sentia no fundo do poço desde que a revista Veja divulgara, havia 10 dias, uma gravação em vídeo em que seu indicado nos Correios, Maurício Marinho, embolsava R$ 3 mil reais de propina e se gabava de suas relações com ele. A partir daí, toda a grande imprensa, principalmente a revista e O Globo, haviam desabado em cima de sua reputação e ele percebera que havia dedo da Abin e da Casa Civil de José Dirceu, em conluio com jornalistas, para jogar todas as mazelas do governo nas costas do PTB.
    – Zé, não posso confiar mais em você, porque estou vendo sua assinatura, sua impressão digital nesse noticiário todo contra mim. É uma pancadaria, é um jogo montado pelo governo e tem a Abin no meio.
    – Não diga isso, Roberto, eu jamais faria isso.
    Por sorte, um dia depois da publicação bomba da revista, um anônimo deixou em sua porta uma cópia da gravação integral, de uma hora e 54 minutos, num envelope amarelo. Imaginou que fosse coisa de arapongas velhos da agência de inteligência do governo, a Abin, que ganhavam dinheiro de todos os lados em Brasília para montar dossiês. Possivelmente, os mesmos que gravaram poderiam ter enviado a sua cópia, interessado em negócios futuros. Ao vê-la e revê-la, convenceu-se de que, mais do que flagrar o funcionário, os arapongas pretendiam incriminá-lo. Faziam perguntas recorrentes sobre sua influência.
    E  o repórter Policarpo Júnior, de Veja, como os arapongas, evitava ir além das denúncias na diretoria de Marinho e chegar à poderosa diretoria de Operações, controlada por Delúbio e Silvinho, onde de fato se davam os grandes negócios suspeitos da instituição.
    “Ele está protegendo o PT”, pensou. Uma investigação oficial da Abin, patrocinada pelo governo, tinha sido paralisada também quando chegou perto dessa diretoria.
    – Eu vejo a sua mão, Zé. É coisa sua. Você sacaneou o PTB por causa dos conflitos que se instalaram entre nós, pelo acordo não cumprido do repasse de campanha e pelas nomeações que foram cumpridas e não foram feitas. Vocês estão me sufocando porque falei ao Lula sobre o Mensalão e porque não querem que o Dimas Toledo saia de Furnas.
    Em janeiro, ele dissera ao presidente, na presença de Dirceu e de seu correligionário Walfrido dos Mares Guia, que Delúbio Soares iria colocar uma dinamite na sua cadeira. Informou que eles estavam comprando deputados para fortalecer as bases do governo e que ele pessoalmente estava sendo massacrado porque não aceitara a oferta e orientara seus correligionários a fazer o mesmo.
    Cobrou 16 dos 20 milhões que o partido devia ao PTB, por uma promessa de campanha, e insistiu que as negociações que lhe interessavam era a co-participação no governo, através de nomeações de cargos nas estatais, que a Casa Civil vinha postergando.
    – Não, Roberto, você está enganado, eu não fiz isso, você está sendo injusto comigo. Não sou um homem capaz de fazer uma coisa dessas.
    No caso do presidente de Furnas, Dimas Toledo, ele havia acertado sua substituição por um homem de seu partido, Francisco Spirandel, numa outra reunião com Lula, em abril. Só que Dirceu vinha atuando nos bastidores para inviabilizá-la.
    – Isso não é papel de homem, Zé. Vocês jogam fora os companheiros de aliança como se fossem bagaço de laranja depois que já chuparam o caldo.
    De fato, estava tudo acertado para a eleição de Spirandel, na assembleia de 16 de maio. Dimas Toledo tinha laços com vários partidos e fazia em Furnas uma caixinha de R$ 3 milhões mensais, cujo maior favorecido era o PT. Mas o presidente Lula andava possesso com ele, por causa de seus favorecimentos ao governador Aécio Neves. No meio da assembleia, porém, chegou uma ordem da ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff, para suspender tudo.
    Nessa tarde, em meio à pressão da imprensa contra o seu partido e em favor de apurações nos Correios, ele decidiu colocar sua assinatura no pedido de CPI que José Dirceu agora quase se ajoelhava para tentar retirar.
    – Vejo sua mão nessa porra toda, Zé. E agora você vai ter que consertar.
    – Roberto, isso vai passar. Vamos acertar por cima, vamos passar a borracha e fazer um acordo.
    Aldo Rabelo ficou quieto todo o tempo.
    Então Dirceu informou que o governo já estava trabalhando para inocentá-lo das denúncias nos Correios, no inquérito na Polícia Federal. A substituição de Dimas por Spirandel ocorreria num momento mais oportuno, porque havia uma enorme pressão de políticos, entre os quais o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, para mantê-lo.
    Na mesma manhã, Maurício Marinho estava sendo interrogado na PF. Por volta de 11h, no meio da conversa, a Polícia Federal já havia divulgado em seu site um boletim em que o diretor assumia integral responsabilidade pela negociação da propina e inocentava Roberto Jefferson, afirmando que, na gravação, só citara o deputado para se valorizar profissionalmente.
    Como Marinho depunha desde as 10h num depoimento sigiloso que se arrastaria até a tarde, Jefferson entendeu que a divulgação do boletim menos de uma hora depois só poderia ter o objetivo de convencê-lo. Seu advogado o trouxera no meio da conversa com Dirceu. Posteriormente, ficaria sabendo que o delegado do caso saia frequentemente da sala para dar telefonemas e dar curso ao esquema já armado com o governo: na hora que Marinho o inocentasse, fariam a divulgação imediata para a imprensa, para dar um bom argumento a Dirceu na negociação pela retirada da assinatura.
    – Bom, se é assim, não tenho problema em retirar a assinatura da CPI.
    Rendeu-se, mas acrescentou um pedido.  Para a completa restauração de sua honra, pediu a Dirceu que interviesse junto à revista Veja e ao Globo , seus principais algozes e que, no seu entendimento, estavam aliados à Casa Civil.
    – A Veja está fazendo um verdadeiro linchamento.
    – Roberto, na Veja eu não tenho nenhuma influência, porque a revista é tucana.
    – Mas e O Globo ?
    – O Globo eu acerto por cima, dá para segurar.
    – Então não tenho problema de recuar. Tiro a assinatura, mas você me dá uma saída honrosa. Estou sendo linchado nisso.
    – Vou tentar, Roberto.
    O deputado deu entrevista à imprensa e reuniu os companheiros de bancada pedindo o mesmo, embora inutilmente porque todos já resistiam a deixar o governo e nunca apoiaram a decisão de seu presidente de rejeitar o dinheiro do PT.
    No dia seguinte, porém, a oposição conseguira as assinaturas necessárias à instalação da CPI dos Correios e o noticiário contra o deputado só recrudesceu.
    Apesar de Dirceu ter prometido que dava para controlar O Globo, no fim de semana, o jornal e a revista Época, do mesmo grupo editorial, circularam com páginas pesadas de denúncias envolvendo o deputado, seus familiares e suas relações em outros órgãos de influência do PTB.
    “A mídia está envenenada – pensou. – Eles têm que dar sangue para os chacais, e o sangue vai ser o meu”.
    Como agora sua posição já não tinha importância, porque a CPI fora instalada e não passava de um peso morto para o governo, iriam jogar todas as denúncias no seu colo e no partido.
    Na sexta-feira, 4 de junho, os jornais deram que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, faria na segunda-feira (6) um pronunciamento à Nação, em cadeia de rádio e TV, para tentar impedir a CPI na Comissão de Constituição e Justiça. Iria também desmontar o esquema de corrupção na Eletronorte, nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil – exatamente as três estatais em que o PTB tinham cargos influentes.
    “Estão evacuando o quarteirão para implodir a mim e o PTB”. E o pior, agora estava claro que o presidente Lula também estava no jogo para destruí-lo. “O majestático ministro da Justiça não faria isso sem autorização do chefe”. Já não engolira uma entrevista do presidente do PT, José Genoíno, no meio da crise, dizendo que o PT precisava escolher melhor os partidos da base. “Precisamos requalificar a base”.
    Agora, via que o presidente também estava no jogo. Tentou em vão falar com José Dirceu, que estava se preparando para viajar à Espanha. Ligou para Walfrido dos Mares Guia:
    – Estou tentando falar com o Dirceu e não consigo. O ministro vai atirar no PTB na segunda-feira e acabar com a gente.
    Só então recebeu uma ligação de Dirceu, ainda no aeroporto.
    – Dirceu, você não devia estar viajando agora. A hora é horrível para você viajar. O ministro vai colocar essa bomba no colo da gente. É pra acabar com o PTB.
    – Calma.
    – Estou calmo.
    – Olha, nós temos que ver o lado do Silvinho e do Delúbio, Roberto. Vê lá o que você vai fazer.
    Ora, pensou. “Então eu estou prestes a ser massacrado em praça pública e ele preocupado com o Silvinho e com o Delúbio…”.
    – Olha, Dirceu. Eu quero que o Silvinho e o Delúbio se danem. Na volta da sua viagem à Espanha, você terá uma surpresa. Vai com Deus, porque quando você voltar a notícia vai ser outra.
    No sábado, suas assessoras ainda tentaram demovê-lo pela última vez: – Calma. Espera.
    Mas estava decidido: – Não vou esperar mais nada, vou botar pra fora essa história do Mensalão.
    Vou explodir, vou arrebentar com tudo. Eu avisei a eles e avisei ao país que ia explodir tudo. Não posso ficar no colo com um crime que não pratiquei.
    – Você pode ser cassado.
    – Não importa mais. Mais importante que o mandato é a minha honra pessoal.
    Discutiram em seguida a qual dos três grandes jornais faria a denúncia, para ser publicada na mesma segunda-feira do pronunciamento do ministro da Justiça. Descartaram O Globo , porque, argumentou, estaria se comportando como Diário Oficial. O Estado de São Paulo, embora isento, também estava embarcando na onda contra ele. Restava a Folha de S. Paulo , que, na sua opinião, vinha tratando a crise com mais cautela, sem embarcar na versão do governo.
    A assessora Íris Campos entrou em contato com Renata Lo Prete, editora do Painel, de notas de bastidores da política em Brasília. E, no domingo à tarde, enquanto Márcio Thomaz Bastos preparava seu pronunciamento e José Dirceu caminhava pela Espanha, possivelmente pensando em Sílvio Pereira e Delúbio Soares, o deputado Roberto Jefferson contava à repórter do jornal de maior circulação do país que o PT carregava malas de dinheiro para ampliar a base aliada, comprando deputados de pequenos partidos, porque não queria dividir o poder nos ministérios.
    Na segunda-feira, 6 de junho, no mesmo dia do pronunciamento do ministro da Justiça à Nação, a Folha circulou com a manchete:
    “PT pagava mesada de R$ 30 mil a partidos, diz Jefferson”
    A república petista começava a desmoronar.