Quando foi presidente, o senador Fernando Collor (PTB-AL) celebrizou o estilo bateu-levou. Quer mudar tudo em sua nova campanha ao Planalto – creia, ele sonha com isso. Não se trata de uma obsessão, mas de uma saída estratégica. Se decidir pela reeleição, Collor disputará o cargo com o governador Teotônio Vilela (PSDB). Se optar pelo governo alagoano, concorrerá o atual vice Thomaz Nonô (DEM) e, talvez, com o futuro presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB). A amigos, disse até que aspira ter o marqueteiroDuda Mendonça na sua campanha. Duda, criador do Lulinha Paz e Amor, diz que não foi procurado pelo homem daquilo roxo.
O Ministério das Cidades já solicitou informações à prefeitura e à Caixa Econômica Federal (CEF) sobre os empreendimentos envolvidos na denúncia do jornal O Estado de S. Paulo. Segundo a publicação, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) utilizou a influência na CEF e o comando político de 80% dos municípios para favorecer, em Alagoas, a Construtora Uchôa no programa Minha Casa, Minha Vida. A empresa é de propriedade do irmão daquele apontado como laranja do parlamentar, Tito Uchôa.
Segundo a Pasta, com o recebimento das informações será dado o encaminhamento mais adequado ao caso. Em resposta ao Contas Abertas no final da semana passada, a assessoria do MCidades afirmou que qualquer denúncia de uso político do Minha Casa, Minha Vida seria “encaminhada aos órgãos de controle, e a depender da sua natureza, à Polícia Federal”. Leia mais
Pensei que levaria um tiro e morreria. Era dezembro de 2008, 20 anos após o assassinato do líder sindical e ecologista Chico Mendes.
Havia inventado naquele mês de entrevistar o fazendeiro Darly Alves da Silva, que fora condenado como mandante do crime.
Pensei bastante sobre quem poderia mediar meu encontro com o fazendeiro. Lembrei do repórter Raimari Cardoso, da Rádio Educadora de Xapuri. Deu certo e o fazendeiro aceitou nos receber.
Chovia muito quando chegamos à sede da fazenda Paraná, na BR-317. Autorizaram a nossa entrada. Ficamos esperando até que apareceu distante, no pasto, Darly Alves da Silva debaixo de um guarda-chuva preto, de boné e camisa azul.
Eu estava com uma jaqueta e dentro do bolso esquerdo carregava um gravador. Logo que a conversa começou enfiei sorrateiramente a mão no bolso para acionar o gravador. Em vez de apertar a tecla "rec", apertei na tecla "play".
O gravador começou a reproduzir outra entrevista, o fazendeiro olhou irado, levantou-se e falou para o Raimari Cardoso:
- Eu venho aqui lhe atender e você traz um comparsa. Você tá "cumpliciando?"
O tempo ficou ainda mais nublado. Inventei uma desculpa qualquer para minha falha. Argumentei que era melhor que aceitasse que a entrevista fosse gravada para evitar interpretação incorreta do que tinha a dizer sobre o crime.
Falei que deixaria com Raimari Cardoso uma cópia do áudio da entrevista, para que pudesse conferir se havia sido ou não reproduzida com fidelidade.
O fazendeiro aceitou e eu me senti aliviado. "Chico Mendes foi um mártir e eu também", disse Darly. Para quem não leu, vale a pena conferir a entrevista. Clique aqui.
A presidente Dilma Rousseff disse neste sábado no Chile que foi lançada como candidata à reeleição em 2014 pela mídia brasileira. Ao ser questiona por jornalistas se ela já é candidata para as próximas eleições presidenciais, Dilma respondeu que esta era a vontade da imprensa.
“Vocês me lançaram como candidata”, disse Dilma após uma jornalista insistir que a própria presidente deveria dizer se era ou não candidata.
A declaração foi dada na saída de um hotel em Santiago, no Chile, onde Dilma participa da reunião de cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e a União Europeia.
Andreza Matais, Matheus Leitão e Andreia Sadi(Folha)
O inquérito aberto há cinco anos e meio para investigar o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) – por supostamente ter apresentado notas fiscais frias – está parado há quase dois anos na Procuradoria-Geral da República.
Com isso, a Procuradoria nem apresentou denúncia nem arquivou o caso, surgido na esteira de suspeitas levantadas contra o senador em 2007. O inquérito corre em segredo de Justiça.
Por meio de sua assessoria, o procurador-geral, Roberto Gurgel, afirmou que o procedimento está em fase final e que “nos próximos dias” vai se manifestar. Gurgel disse que a demora deve-se ao fato de o inquérito ter 43 volumes e de ele ter priorizado, no ano passado, o processo do mensalão.
O procurador já foi alvo de críticas por ter esperado três anos para pedir investigação sobre o ex-senador Demóstenes Torres (GO), cassado por suas ligações com o empresário Carlinhos Cachoeira.
Mantida a intenção do procurador de se pronunciar logo sobre o caso, a movimentação do inquérito pode ocorrer próxima à eleição de Renan à presidência do Senado, no início do mês que vem.
PRESIDENTE…
Se confirmar o favoritismo, Renan voltará para o cargo que teve de deixar em dezembro de 2007, num acordo para preservar seu mandato.
Naquele ano, o senador enfrentou suspeitas de que contas da jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha, eram pagas por um lobista da empresa Mendes Júnior.
Ele negou e, para provar que tinha renda para os pagamentos, apresentou notas referentes à venda de bois. Um laudo do Polícia Federal, contudo, apontou que as notas fiscais não comprovavam a capacidade financeira do senador para arcar com a pensão –na época, de R$ 12 mil mensais à Mônica.
Dizia ainda que não havia comprovação das operações de venda de gado e apontou incongruência entre a quantidade de vacinas contra febre aftosa adquiridas e o número de bois declarados.
Contatado, Renan disse que não dará entrevista até sua indicação oficial pelo PMDB como candidato à presidência do Senado. Cláudio Gontijo, suspeito de ter pago despesas de Mônica, disse que não comentaria o assunto. Ele ainda é funcionário da Mendes Júnior.
A maioria dos anúncios e das ações para promover o Viagra sempre tendem a ir para o lado bem humorado para apresentar o efeito e benefícios do remédio. E essa não foi diferente. A agência Charm de Shanghai, China, criou esses adesivos divertidos que foram colocados nas portas – precisamente nas maçanetas.
A Polícia Federal acusa homens de confiança dos prováveis presidentes do Senado e da Câmara de receber propina e traficar influência em benefício de um empreiteiro
DIEGO ESCOSTEGUY, COM MURILO RAMOS (DE MACEIÓ), MARCELO ROCHA, FLÁVIA TAVARES E LEANDRO LOYOLA
|
Distinto público: abrem-se nesta semana as cortinas para o mais bufo dos espetáculos políticos deste ano. A partir da sexta-feira, os parlamentares escolherão os presidentes do Legislativo. O voto deles é livre e secreto. Ao que tudo indica, duas estrelas da política subirão ao palco sob unânime aplauso. Na Câmara, será eleito presidente o deputado Henrique Eduardo Alves, do PMDB do Rio Grande do Norte, que há 42 anos engrandece o Parlamento brasileiro. No Senado, após cinco anos de ensaios forçados na coxia, voltará à presidência da Casa Renan Calheiros, também do PMDB, este por Alagoas. Henrique e Renan – ou Renan e Henrique, conforme pareça melhor à plateia – têm o mesmo estilo de atuação: gestos contidos, expressão ladina e repertório riquíssimo. Nos cofres da Polícia Federal, onde se encontram vários registros do trabalho dos dois, ÉPOCA descobriu uma pequena e inédita obra-prima, estrelada por ambos, mas que ficara esquecida por não tão misteriosas razões. Trechos dela também podem ser encontrados no Superior Tribunal de Justiça. Trata-se da íntegra da Operação Navalha, que, em 2007, revelou ao país a existência de um esquema comandado pelo empreiteiro Zuleido Veras, da construtora Gautama, que pagava propina a políticos e burocratas em troca de contratos com ministérios de Brasília e governos estaduais. Apenas uma minúscula fração da enorme quantidade de provas produzidas pela PF veio a público naquele momento. Na papelada, há evidências fortes de pagamentos de propina para Renan e Henrique. Ou Henrique e Renan.
As provas constituem-se de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, relatórios de vigilância dos assessores de Renan e Henrique Alves, recibos bancários, anotações em agenda – e até uma contabilidade de caixa dois, preparada pelo tesoureiro de Zuleido. Entre a miríade de episódios de corrupção, conta-se aqui o que envolveu a construção da barragem Duas Bocas/Santa Luzia, no Rio Pratagy, em Alagoas, para ampliar o abastecimento da região metropolitana de Maceió. A busca de Zuleido para liberar dinheiro para a obra mobilizou tanto Renan quanto assessores de Henrique Alves. Era uma obra de R$ 77 milhões que, depois de receber R$ 30 milhões, está parada. Nada mudou. Assim como nada mudou em Brasília, onde os personagens envolvidos nesse desvio continuam em seus cargos. E, agora, subirão a seu derradeiro e consagrador ato final. Ao espetáculo:
I – O homem está cobrando Para levar a cabo a obra do Pratagy, Zuleido precisava da influência, entre outros, de Renan. Segundo a PF, Zuleido comprara essa influência por meio de Everaldo Ferro, assessor de estrita confiança do senador. Os contatos eram invariavelmente discretos, como manda a boa etiqueta nesse tipo de negócio. Numa das conversas captadas pela PF, ainda em junho de 2006, a secretária de Zuleido lhe informa que é aniversário de Renan. “Mande um telegrama”, diz o empreiteiro. A secretária se mostra cautelosa: “Ah, mas ele não gosta muito, né? De notícia... Eu ia sugerir que o senhor ligasse para o Everaldo e transmitisse e tal”. Zuleido acata a sugestão da secretária e, minutos depois, liga para o assessor de Renan. O que segue é uma conversa de dois amigos. Diz Zuleido: “Disseram que vão resolver neste final de semana, até segunda, aquele negócio, tá?”. “Negócio” seria propina, segundo a PF. Everaldo não se contém: “Você é um irmão, rapaz!”. O empreiteiro encerra o telefonema amistosamente, sem se esquecer de Renan: “Tem de ter calma... Transmita os parabéns ao nosso amigo!”. Nas provas obtidas pela PF, constam registros de pagamentos a Everaldo, que continua despachando em Brasília, no gabinete de Renan.
Zuleido precisava também de Henrique Alves. Nesse caso, aproximou-se de Francisco Bruzzi, assessor e braço direito do deputado, que era líder do PMDB na Câmara. Bruzzi é o maior especialista do Congresso em emendas parlamentares. Em março de 2007, intensificam-se as cobranças de propina. Zuleido precisava obter a liberação do dinheiro para a obra que tocava em Alagoas. Recebe pedidos de todos os lados: de gente ligada a Renan, de gente ligada a Henrique Alves. Às 8h43 do dia 9 de março, Zuleido liga para o celular de Bruzzi. Tenta tranquilizá-los. “O material está chegando hoje à tarde.” Bruzzi fica aliviado: “Ainda bem, porque o homem está me cobrando”. Quem seria esse “homem”? Não fica claro no diálogo. Mas o único chefe de Bruzzi era o deputado Henrique Alves. Horas depois, às 13h29, Zuleido telefona a Tereza, uma de suas assessoras, e explica que o dinheiro da propina estava a caminho de Brasília. Segundo a PF, parte (R$ 100 mil) do butim foi entregue a Ivo Costa, assessor do então ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau – quando se descobriu esse pagamento, ainda em 2007, Rondeau foi demitido. Mas o restante do pagamento (R$ 20 mil) ficou em segredo. Esses R$ 20 mil, diz Zuleido nas gravações, cabiam a Bruzzi: “Tá indo aí (o dinheiro)… Você vai passar pra Bruzzi, tá?”. Tereza confirma: “Ok… Esse outro (Bruzzi) é só ligar para ele e ele passa aqui, né?”. “É”, diz Zuleido. Às 16h56, Zuleido, temendo possível confusão na entrega do dinheiro, pede a um funcionário que reforce com Tereza qual é a correta distribuição da propina: “100 para Ivo e 20 para Bruzzi”. Dois minutos depois, Florêncio Vieira, o tesoureiro da empreiteira, liga para Zuleido. O chefe o orienta a entregar o dinheiro: “Leva 120 para lá (para Brasília). É 20 de Bruzzi e 100 de Ivo. Entendeu?”. Florêncio confirma – e embarca com o dinheiro para Brasília. Estava sendo seguido pela PF.
Florêncio chega à capital às 21h30. Bruzzi e Tereza, a assessora de Zuleido, o aguardam no salão. Eram observados por agentes da PF. Bruzzi está de calça jeans azul e camisa branca social, com as mãos cruzadas para trás. As imagens produzidas pela PF mostram o desembarque de Florêncio, carregando uma mala marrom. Ele entrega um envelope pardo para Tereza, que, momentos depois, ainda no saguão do aeroporto, vai ao encontro de Bruzzi – e joga o envelope numa sacola de plástico que ele segurava.
II – O Pacotão do Rei Leão Ainda no dia 9, a PF seguiu Zuleido do aeroporto de Salvador, onde um tesoureiro da Gautama lhe entregara R$ 145 mil, até Maceió. Segundo a polícia, Zuleido entregou o dinheiro a Adeílson Bezerra – secretário de Infraestrutura de Alagoas e presidente do diretório municipal do PMDB em Maceió, indicado para ambos os cargos por Renan – no escritório particular deste. Levava o pacote de dinheiro dentro de uma bolsa preta. Zuleido ficou cerca de 40 minutos no escritório. Voltou a Salvador na mesma noite. No dia seguinte, às 10h45, Adeílson diz a um amigo: “Nós tamos descendo lá para a casa do Renan para conversar com ele rápido, porque ele vai viajar, vai para a fazenda. Aí eu vou conversar com ele, dar um pacotão do Rei Leão”. Os delegados da PF suspeitam que o tal pacotão contivesse os R$ 145 mil entregues por Zuleido a Adeílson, descontada a comissão retida pelo secretário. Dias depois, Adeílson, também preso na operação, foi a Brasília se encontrar com Renan. Enquanto isso, no dia 14, dois integrantes do esquema mostram-se preocupados com a liberação do dinheiro do governo. Nas gravações, eles confirmam que Adeílson virou secretário do governo de Alagoas “porque Renan o colocou lá”. E, para garantir a liberação do dinheiro de emendas, combinam falar com Everaldo Ferro.
As propinas de Zuleido surtiram efeito. No dia 23 de março, conforme já veio a público, a PF captou uma conversa de Renan com Flávio Pin, diretor da Caixa que acabara sendo preso na operação. Na conversa, Renan diz a Pin, cuja função no esquema era facilitar o repasse de recursos públicos à Gautama, que pedira à então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que o governo liberasse dinheiro para as obras da barragem do Rio Pratagy – justamente as que eram tocadas pela Gautama de Zuleido. “Liguei para a ministra Dilma e vou também falar com o presidente, para ver qual é a solução”, diz Renan. Pin conta estar se esforçando. Diz Renan: “Ótimo. Muito obrigado mesmo e vamos trabalhar nessa construção aí”.
No dia 10 de abril, um dos operadores do esquema, que não é identificado pela PF, diz a Deníson Tenório, que trabalhava com o secretário Adeílson, que conversara com Renan – e que os recursos para as obras saíram “por interferência” do senador. “Obra para sair no retrato, né?”, diz Deníson. No dia 11 de abril, Zuleido teve uma reunião com Bruzzi. Dois dias depois,Bruzzi mostra seu empenho: diz a Zuleido que foi ao Ministério da Integração tentar liberar o dinheiro da obra – mas o governo de Alagoas estava com uma pendência junto à Pasta. Semanas depois, no dia 25 de abril, Zuleido encontra-se com Bruzzi, que lhe dá as boas-novas: conseguiu liberar a restrição que constava no Ministério da Integração. O dinheiro do governo federal, oxigênio financeiro da turma, poderia voltar a cair nas contas da empreiteira de Zuleido.
Em Brasília, é difícil saber quais políticos têm poder real sobre a liberação de dinheiro
Entre os dias 13 e 16 de abril, Adeílson esteve hospedado num hotel em Brasília, a negócios. Numa batida na casa de Adeílson, a PF encontrou o extrato da conta dessa estadia. Quem pagara a conta? Cláudio Gontijo, amigo de Renan e lobista da construtora Mendes Júnior – que também tinha contrato com o governo de Alagoas, firmado com burocratas apadrinhados por Renan, e pagava contas pessoais do senador. No dia 1o de maio, Adeílson, segundo este confidenciou a Zuleido num telefonema, estava embarcando de Maceió rumo a Brasília, num avião particular, ao lado de Renan. Horas antes, Adeílson avisara ao governador de Alagoas, Teotônio Vilela, que iria conversar com o senador: “Tô lhe ligando porque eu quero a sua permissão para (ir) a Brasília hoje com Renan”. “Tudo bem”, diz o governador.
Em 16 de maio, um dia antes de a PF pôr na rua a Operação Navalha, os diálogos revelam que havia uma disputa no governo e no Congresso pelas propinas do esquema – algo comum em Brasília, em razão da quantidade de burocratas e lobistas que concentram o poder de liberar ou travar recursos. Para empreiteiros como Zuleido, que vivem de obras públicas, é díficil saber com exatidão quais políticos e burocratas controlam, e em qual proporção, o poder de liberar os recursos públicos. Naquele dia, Zuleido recebe uma ligação de Ernani Soares, um dos operadores do empreiteiro em Brasília. Ernani diz ter recebido uma reclamação do ministro Silas Rondeau – e culpa Bruzzi, que, para faturar mais, estaria tentando resolver a vida de Zuleido nas camadas intermediárias do Ministério de Minas e Energia, sem que o chefe tivesse de depender de Rondeau. Ernani transmite a Zuleido o “recado” de Rondeau: “Diga a Zuleido que agora tem dono essa p... Se ele (Zuleido) acertou comigo, está acertado. Não mexa embaixo (no ministério). Quem foi que mexeu?’”. Ernani põe a responsabilidade em Bruzzi. “Não, não, de jeito nenhum. Bruzzi está fora, totalmente fora”, diz Zuleido, e acrescenta que não autorizou Bruzzi a negociar por ele no ministério.
III – O jardim de inverno do PMDBBruzzi não estava tão por fora. No dia seguinte, a PF apreendeu, na sede da Gautama em Brasília, cópias de recibos de depósito em nome de Bruzzi. Ele aparece como beneficiário de dois depósitos que somam R$ 16 mil, realizados em agências de dois bancos diferentes. Existe ainda um terceiro depósito no valor de R$ 34 mil, em que a titular da conta é a mulher de Bruzzi, Maria Lúcia. As operações bancárias são de outubro de 2003. Bruzzi era um operador fundamental no esquema de Zuleido – e de quem quer que se disponha a obter recursos de emendas parlamentares por meio do PMDB. Ele trabalha numa sala minúscula, dentro do conjunto ocupado pela liderança do PMDB na Câmara dos Deputados. Fica atrás do jardim de inverno que orna o Salão Verde, a poucos passos do plenário. Economista de 64 anos, Bruzzi tem um espaço físico muito menor que seu poder. Pelas mãos de Bruzzi passam sugestões de gastos do PMDB que ultrapassam R$ 1 bilhão por ano. Ele é paparicado pelos deputados porque ajuda a emplacar emendas para dirigir parte desses recursos públicos a suas regiões. Mas Bruzzi não cuida apenas disso. Um deputado quer ser membro de determinada comissão? Chame o Bruzzi. Notícias sobre vagas em cargos comissionados na Esplanada? Bruzzi terá a resposta. Empresários ou lobistas querem conversar? É com Bruzzi. Junto com a confiança dos chefes, Bruzzi conquistou o poder de indicar a eles os apaniguados políticos adequados para ocupar determinados cargos.
Há dois anos, os contatos de Bruzzi e suas sugestões para o Orçamento fizeram parte de outro escândalo. A Operação Voucher, da Polícia Federal, prendeu 35 pessoas suspeitas de participar de um esquema de desvio de R$ 4 milhões em recursos públicos. Parlamentares dirigiam emendas para o Ministério do Turismo, mas parte do dinheiro era encaminhada para empresas e entidades ligadas aos políticos e a funcionários do ministério. O principal algemado na ocasião foi o secretário executivo Frederico Silva Costa, o número dois na hierarquia da Pasta na ocasião. E quem colocara Fred, como era conhecido, num cargo tão bom? O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves. Por sugestão de quem? De seu assessor Francisco Bruzzi. E de onde Fred e Bruzzi se conheciam? De tanto tratar de emendas com Fred, quando este ocupava outro cargo no Turismo durante o governo Lula, Bruzzi achou que promovê-lo a secretário executivo no governo Dilma seria uma mão na roda para anteder aos anseios político-financeiros do PMDB. “Ele(Frederico) sempre atendeu com eficiência às demandas do PMDB e às solicitações da liderança”, afirma Bruzzi. Bruzzi convenceu o deputado Henrique Eduardo Alves a bancar Fred. Em troca, Fred prestava contas a Bruzzi do que se passava no ministério. Apesar de ser o número dois da Pasta e ostentar uma sala grandiosa, quando Bruzzi o chamava, Fred ia até a apertada sala de Bruzzi. A confiança de Henrique Eduardo Alves em Bruzzi é absoluta. É certo que, com a ascensão de Henrique à presidência da Câmara, o poder de Bruzzi crescerá junto. As filas vão aumentar, a agenda vai ficar lotada e a salinha será insuficiente. Ah, quantos Freds eles não poderão fazer?
Procurado por ÉPOCA, Bruzzi disse não se lembrar a que se referem os depósitos. “Não sei do que se trata.” Bruzzi afirmou que era amigo de Zuleido Veras, o empreiteiro dono da construtora Gautama, pivô do escândalo. Mas relutou em contar detalhes sobre a amizade. Bruzzi disse que ajudou o empresário. “Naquela época, eu sugeri algumas ideias. Posso ter ajudado em orientações técnicas do que fazer aqui e ali. Eu posso ter feito alguma coisa em termos de captação de recursos externos, mas não me recordo exatamente o quê. É muito tempo atrás. Mas foi só isso. Foi um determinado serviço, em determinada época. Acabou. Nunca mais.” Procurado por ÉPOCA, Renan Calheiros não quis conversa: “Obrigado pela cobertura. Obrigado por tudo. Obrigado”. O deputado Henrique Eduardo Alves também não quis se pronunciar.
Por que, diante de provas tão contundentes, a PF não pediu investigação específica à Justiça em relação aos próceres do PMDB? Em Brasília, a resposta apenas se sussurra. Mas o diretor de Inteligência da PF no momento das investigações, delegado Renato Porciúncula, a quem os delegados do caso remetiam as provas, tinha parentes próximos com cargos de confiança no Senado. A mulher e o enteado de Renato Porciúncula eram funcionários comissionados do Senado. A mulher estava na presidência da Casa desde 2004, quando José Sarney era o presidente, e o enteado fora nomeado para um setor administrativo em agosto de 2006, já com Renan na presidência. Procurado por ÉPOCA, o delegado Renato Porciúncula afirmou desconhecer qualquer interferência de políticos no andamento das investigações da Operação Navalha. Ele afirmou ainda não se recordar das pessoas mencionadas pelo repórter. “Só os delegados da investigação tinham o domínio dos detalhes da apuração”, afirmou. Aplausos, por favor.
O Senado do Chile tem uma comissão permanente para pensar os Desafios do Futuro. Nela reúnem-se senadores e público para imaginar as alternativas adiante e orientar o país na sintonia com os rumos do mundo.
Nos dias 17, 18 e 19 deste mês, essa comissão organizou o II Congresso do Futuro, com 52 pensadores e políticos, além de um público de cerca de 300 pessoas, para discutirem os cenários em áreas tão distintas quanto à nanobiotecnologia, que vai revolucionar especialmente o próprio conceito de medicina; a política, como será feita a participação política no futuro; a saúde dos oceanos e dos rios; o mundo pós-energia fóssil; as novas fronteiras da vida, inclusive com a inteligência artificial e o potencial genético; as novas fronteiras do universo, inclusive o potencial de viagens espaciais e a exploração espacial; os desafios da alimentação, tanto para eliminar a fome, como para evitar a obesidade e o envenenamento por comidas prejudiciais à saúde; e a evolução da moral e da conduta humana.
O evento permitiu aos senadores situarem suas atividades e responsabilidades em defesa do Chile, levando em conta o que vai mudar no mundo nos próximos anos.
Para um brasileiro, ficou o sentimento de frustração porque ficaremos de fora da produção para mercados de trilhões de dólares nas áreas da biotecnologia; da exploração espacial, do domínio das novas fontes de energia; da criação no ramo da inteligência artificial; e até perder o que já temos como exportadores de alimentos e minerais, diante das novas formas de alimentação e da engenharia metalúrgica.
Depois de três dias de debates, os senadores chilenos presentes, ou os que tomarão conhecimento dos debates pela televisão, ficarão com a sensação do esforço que devem fazer para que o país deles tente se sintonizar com a realidade mutante do mundo em direção ao futuro.
Inclusive como fazer política, em um tempo no qual a comunicação entre eleitor e eleito já não é mais feita a cada quatro anos via comícios, mas instantaneamente, por meio das modernas ferramentas; e em um momento da história no qual o presente já é parte do futuro e o político deveria levar em conta não apenas o local e a próxima geração, mas também o longo prazo e o mundo inteiro.
Mas se os senadores chilenos ficam angustiados, imagine o senador brasileiro que, depois de sua palestra sobre o futuro, volta para participar de uma eleição, a fim de eleger uma nova direção do Senado, sem saber o que ela propõe para o futuro da própria Casa.
Um Senado sem consciência de sua plena responsabilidade para com o futuro, como se a política permitisse apenas acordos capazes de manter o funcionamento do país, no presente.
Enquanto todo mundo está mudando ao redor, o Senado parte para uma eleição destinada a manter o costume do velho ritmo de pensar somente nas artimanhas, que o passado nos viciou.
Cristovam Buarqueé professor da UnB e senador pelo PDT-DF.
Há pouco menos de um século, o escritor Raúl Scalabrini Ortiz tentava entender e destrinchar os pormenores do ”bicho” portenho no seu livro “O Homem que está sozinho e espera”.
“Toda referência de um homem a uma mulher por parte de um portenho é marrenta. Seus juízos são cheios de animosidade, provocações discordantes e com um sorriso cético roubando a flor do lábio”, Ortiz escreveu.
Um passeio pelas velhas ruas do bairro de Almagro, Centro ou Boedo, e outros bairros ainda não desfigurados pelo turismo, nos revela bares e cafés com a presença de maioria masculina.
São homens soturnos e solitários, acompanhados apenas pelo jornal e café, em uma cena que já faz parte da alma da cidade.
Uma metrópole construída à beira de um ataque sentimental, e sob a mirada inquietante de uma relação desfeita, nos dá o mapa de um amor levado às últimas consequências no livro “O Passado”, do escritor portenho Alan Pauls.
Nele, Buenos Aires comporta até uma célula terrorista operando sob a chancela de um clube de “Mulheres que amam demais”, não difícil de imaginar na capital que arde como arde.
Buenos Aires é uma cidade de encontros e desencontros, como ilustrou com maestria o filme “Medianeras”, de 2011, uma bela sugestão para entender as relações contemporâneas portenhas.
Outra perturbadora e poética visão sobre o amor e a cidade pode ser vista no clássico filme dos anos noventa “O lado escuro do coração”.
Nele, o protagonista se embrenha pelos bares e becos escuros da capital em busca de “uma mulher que saiba voar”.
No ano passado, os solteiros no país totalizaram 15 milhões, superando todos os demais grupos. Em Buenos Aires, segundo uma pesquisa do Governo da cidade, quase metade da população está “solita”.
Agora, soma-se, aos grupos de viúvos e divorciados, uma categoria à parte: os “abandonados”. Depois de encontrar seus objetos encaixotados na casa que compartilhava com a mulher e voltar a morar com os pais, o músico argentino de 35 anos Roberto Lázaro decidiu dividir sua experiência e criar “O Clube dos Homens Abandonados por Mulheres” (foto abaixo).
Foto:/ arquivo pessoal /Facebook)
"Achei que nós (os abandonados) podíamos nos unir nesta dor", disse essa semana à jornalista Marcia Carmo, da BBC Brasil.
O clube para ”losers” assumidos já tem mais de mil fãs no facebook e se reúne, em média, uma vez a cada 15 dias. Lázaro se transformou em uma celebridade local, graças a entrevistas e ao hit que compôs sobre sua experiência no youtube.
Buenos Aires não apenas é uma cidade de encontros e desencontros, mas principalmente de encontros excepcionais, onde até os abandonados acham companhia para dividir suas dores de cotovelo.
Gabriela G. Antunesé jornalista e nômade. Cresceu no Brasil, mas morou nos Estados Unidos e Espanha, antes de se apaixonar por Buenos Aires. Na cidade, trabalhou no jornal Buenos Aires Herald, mantém o blog Conexão Buenos Aires e não consegue imaginar seu ultimo dia na capital argentina. Estará aqui todos os sábados.
Episódios como o das babás discriminadas em clubes sociais e o da criança negra que foi destratada e quase expulsa de uma concessionária da BMW no Rio demonstram que o racismo, apesar de resolvido legalmente, já que é crime, ainda constitui um problema no dia a dia das relações interpessoais, onde às vezes se manifesta explicitamente.
O sociólogo Florestan Fernandes dizia que o brasileiro tem preconceito de ter preconceito. Em outras palavras, o Brasil seria um país com racismo, mas sem racistas, como revela uma pesquisa em que 87% das pessoas entrevistadas afirmaram haver racismo, mas só 4% se confessaram racistas.
Muitos alegam que se trata de “racismo cordial”, bem diferente do que existe nos EUA, por exemplo. Seria mesmo cordial ou, ao contrário, é velado, camuflado, que quando flagrado se disfarça, alegando engano ou má interpretação?
Na tal loja da Barra, o gerente de vendas viu o menino de 7 anos assistindo a televisão enquanto os pais adotivos, brancos, escolhiam um carro. Sem saber que pertenciam à mesma família, não teve dúvida. Na certa era um moleque de rua que ia pedir dinheiro, incomodar os clientes.
“Aqui não é o lugar para você, saia”, ordenou. Na nota em que tenta se justificar, a empresa diz que não foi bem assim, que houve por parte do casal “um mal-entendido”.
Porém, a mãe Priscilla garante que não, que foi um bem entendido gesto de racismo: “Se fosse uma criança branca, ele mandaria sair da loja?”
No facebook, para onde o casal levou seu protesto e lançou a campanha “Preconceito racial não é mal-entendido”, a reação foi imediata. Cerca de 16 mil internautas se manifestaram com mensagens de apoio.
Tomara que a proporção seja essa: que para uma loja que pratica o racismo haja milhares de pessoas contra.
Porém, pior ainda do que essas atitudes explícitas, que pelo menos despertam repulsa, é a situação social, econômica e cultural da população não branca no país. Tratadas com naturalidade, as desigualdades raciais no campo da saúde, da educação e do mercado de trabalho são tão iníquas que em alguns casos parecem saídas da novela “Lado a lado”, um retrato fiel e competente da luta contra a intolerância racial e religiosa após a abolição da escravatura e no começo da República.
Apenas um exemplo: o risco de morte por doenças infecciosas é hoje 43% maior entre as crianças negras com menos de um ano de idade do que entre as brancas. Isso equivale a expulsar da cidadania, senão da vida, toda uma geração de negros.
José Dirceu, em recente artigo, acusa a imprensa e as oposições de pretenderem desconstruir o PT. Com todo o respeito às agruras do ex-ministro e deixando que PSDB e penduricalhos respondam por eles, vale registrar a injustiça praticada contra a mídia. Não somos nós que erodimos o PT: é o partido que se desconstrói.
Quando fundado, vinte e três anos atrás, o PT entusiasmou meio mundo. Seria uma legenda diferente, despojada dos vícios que caracterizavam o quadro partidário, empenhada na construção de um país novo.
Não apenas os trabalhadores e os jovens aderiram. Houve grande adesão à proposta nos planos filosófico e ideológico. A chamada intelectualidade aplaudiu a promessa de uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais igualitária. Relevou-se, até, certo desconforto diante do sectarismo de alguns dos fundadores.
O diabo é que o radicalismo foi crescendo até a imposição de um comportamento automático a todos os companheiros. Diretrizes viraram ucasses. Começaram as expulsões e as defecções. Estas, até, em maior número. O que era para ser um fórum de debates virou um batalhão em ordem unida. Qualquer passo errado significava desligamento. A Igreja pediu para sair, cientistas, escritores e profissionais liberais escafederam-se, em grande parte. Parlamentares, também. Em nome da pureza dogmática sufocaram as divergências e as discussões.
Adiantou muito pouco o PT fatiar-se em grupos variados. Todos são obrigados a reger a mesma partitura, deixando a impressão de que se dividiram apenas para cuidar do espólio, depois de alcançarem o poder.
Assim, dr. Dirceu, não somos nós, da imprensa, a desconstruir o PT. É o próprio partido, cultor do Manifesto Antropofágico.
LIÇÕES DE GRACILIANO
O inesquecível Graciliano escreveu certa vez: “há tanta gente tentando salvar o país que só por milagre deixarão de acabar com ele…”
ESQUECERAM O PRINCIPAL
O PSDB disse horrores do recente pronunciamento da presidente Dilma, acusando-a de enganar o país, de adotar iniciativas demagógicas, de estar antecipando a campanha sucessória e tudo o mais. Só não registraram, os líderes tucanos, a ferida aberta e exposta na fala presidencial, que foi conceder redução de 18% nas tarifas de energia pagas pelo cidadão comum e de 32% para as empresas. A medida dá bem a conta de quem realmente influi no governo do PT. Também, como esperar protestos do partido que implantou o neoliberalismo entre nós?
CARGA EXPLOSIVA
Para continuar no PSDB, duas singulares e possíveis renovações poderão incendiar o partido. Caso José Serra assuma a seção paulista e Aécio Neves, a nacional, assistiremos duas presidências em conflito e o afastamento cada vez maior do sonho de outra. A da República…
Pelo tom de ofensiva política que a presidente Dilma Rousseff adotou ao anunciar o corte nas tarifas de energia elétrica, e com base também na reportagem de Raymundo Costa publicada no Valor de quinta-feira 24, parece existir efetivamente um problema entre a atual e o ex-presidente da República.
Dilma teria dito a um interlocutor que seu mandato é de oito anos, o que obviamente implica em sua nova candidatura em 2014. Como evidentemente não teria cabimento qualquer pergunta nesse sentido, a afirmação teria sido uma resposta à movimentação de Lula no plano da articulação política do governo que ele acha necessário tomar novo rumo? É possível e, neste caso, um confronto se aproxima.
Pois caso Lula deseje ser novamente candidato, e diante de disposição revelada por sua sucessora, pode surgir um quadro singular em matéria eleitoral: a convenção do PT poderia ter que decidir o impasse. Mas não seria, tampouco poderia ser, uma decisão fácil. Ao contrário. Pela primeira vez alguém que ocupa a presidência da República teria o seu destino nas mãos dos convencionais, que definiriam a questão. Mas sob este prisma ocorreria uma ruptura. Difícil Dilma tomar a iniciativa de romper com Lula, já que foi ele quem transferiu sua força e sua imagem para torná-la vitoriosa nas urnas. É apenas uma hipótese.
HIPÓTESES
A política, porém, antes dos prazos improrrogáveis, alimenta-se e vive se movendo entre hipóteses. Dizer, como alguns costumam colocar que não se raciocina sobre hipóteses, não tem base na realidade. Todos raciocinam e pautam o seu pensamento sobre hipóteses, seus posicionamentos também. É natural. A possibilidade de presidentes, governadores, prefeitos, poderem sem necessidade de se desincompatibilizarem seis meses antes da eleição, criou uma força adicional para as convenções partidárias. Passaram elas a ter uma capacidade de decisão maior do que antigamente. Pois antigamente o titular do mandato não poderia disputar de novo. Não existia a reeleição. Acrescente-se que o presidente, os governadores e prefeitos não são candidatos natos como os deputados. Têm que ser confirmados pela convenção. Haja articulação e negociação política num caso de dualidade.
Como alguém escreveu outro dia, o PT encontra-se numa situação extremamente vantajosos sob o ângulo eleitoral. Possui dois nomes de alta popularidade – Dilma e Lula – em condições de disputar a presidência da República. No entanto, a vitória de Fernando Haddad pela Prefeitura de São Paulo muito acrescentou à imagem de Lula. Foi uma escolha integralmente pessoal e uma transferência incontestável de votos. No início da campanha, Haddad estava bem abaixo de Serra. Terminou vencendo disparado no segundo turno. Maior demonstração de força não poderia haver.
Inclusive o fato pode refletir junto à convenção se a dualidade efetivamente vier a se confirmar no passar do tempo. Uma vez que o prestígio individual de Luis Inácio é maior que o de Dilma e isso pode influir nas escolhas dos candidatos da legenda a governos estaduais e ao Senado. Mas são apenas conjunturas, entretanto repousando em bases lógicas, mais fortes que as raízes ideológicas. Que no caso, entre Dilma e Lula, não diferem. Portanto a motivação das bases partidárias, se o dilema se confirmar, no final da ópera, pendem mais para Lula. Mas não quer dizer que ele vá mesmo assumir a condição de candidato novamente ao Planalto. Por enquanto são especulações.
Em pelo menos cinco cidades mineiras, a escolha do novo secretariado virou um negócio de família. Em Uberlândia, Arcos, Cachoeira da Prata, São Gonçalo do Pará e Formiga, os prefeitos escolheram irmãos, filhos e mesmo primeiras-damas para ocupar importantes cargos do primeiro escalão.
Os cinco casos se juntam às nomeações de parentes ocorridas em Montes Claros, Bom Despacho, Contagem e Manga, já noticiadas pelo jornal O Tempo na última segunda-feira.
Em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, o recém-empossado prefeito, Gilmar Machado (PT), nomeou como secretária de Governo sua mulher, Rosângela Paniago.
A principal alegação apresentada pelo petista no dia em que anunciou seu secretariado foi a “atuação de Rosângela na campanha eleitoral de 2012″. Na mesma ocasião, a primeira-dama argumentou “se enquadrar em um perfil de liderança e competência”.
“CONFIANÇA”
Quem também lucrou com a eleição do marido foi Paula Araújo. Casada com o prefeito eleito em Arcos, na região Centro-Oeste de Minas, Roberto Alves (PCdoB), ela foi escolhida secretária de Integração Social do município.
Alves justificou, também no dia em que anunciou os nomes do primeiro escalão, que sua mulher teria experiência suficiente para assumir o posto. “O termo confiança já fala tudo, e, se tem alguém em quem eu confio, é a minha esposa”, declarou, ressaltando que Paula ocupou o mesmo cargo na década de 90.
Em Cachoeira da Prata, na região Central, a situação é ainda mais curiosa. Das oito secretarias, nada menos do que três são comandadas por parentes do novo prefeito, Murcio José Silva (PP), e de sua vice, Sandra Tavares (PR).
A filha do chefe do Executivo, Adriana Moreira da Silva, foi nomeada secretária de Governo, enquanto a pasta da Fazenda está sob o comando de Moredson Moreira, que é irmão do prefeito. Já o setor de educação é administrado por Silvana Maria Tavares, irmã da vice-prefeita.
O fato se repete em São Gonçalo do Pará (Centro-Oeste). O eleito Toninho André (PDT) escolheu também para a Secretaria de Educação sua irmã Maria do Carmo Guimarães.
“EXPERIÊNCIA”
Nem mesmo a pouca idade foi empecilho para que Débora Brás Almeida, de 25 anos, fosse escolhida para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Social de Formiga, na região Centro-Oeste. Ela é filha do vice-prefeito da cidade, Eduardo Brás Neto Almeida (PSDB).
A justificativa dada pela prefeitura para a nomeação foi o trabalho desenvolvido por Débora em outro órgão do município. Apesar disso, a administração municipal não soube informar que função foi essa.
Outro argumento, segundo a assessoria de comunicação de Formiga, foi a não-interferência do vice-prefeito na indicação da filha.
A opção por Débora teria partido do próprio prefeito eleito, Moacir Ribeiro (PMDB).