quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Mensalão: saibam por que o julgamento é um desafio para 8 dos 11 ministros, que nunca foram juízes de Direito antes de chegar ao Supremo



Ministros do STF no julgamento do mensalão (Foto: Nelson Jr./ STF)
Os ministros do Supremo Cármen Lúcia, Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes e Celso de Mello no julgamento do mensalão: nenhum dos quatro foi juiz antes (Foto: Nelson Jr./ STF)
Há um aspecto relevante no caso do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal que, por não ter visto tratado com detalhes, acho importante pinçar.
Trata-se de um processo criminal, que o Supremo, ao contrário do que acontece com a rotina da Corte, está exercendo sua “competência originária”, prevista no artigo 102 da Constituição — a competência para conhecer e julgar a causa pela primeira vez, originariamente, sem que haja passado antes por juízes de primeira instância ou outros tribunais.
A competência originária costuma ser dos juízos de primeiro grau, ou seja, de um juiz de Direito — da Justiça estadual ou federal — que primeiro examina a causa.
Neste caso, o Supremo está fazendo esse papel — de ser a primeira (e última) instância da Justiça que toma conhecimento do proceso e julga os réus. Neste caso, diferentemente de sua rotina, o Supremo não julga recurso de nenhum tipo, não se debruça sobre grandes teses jurídicas, sobre a constitucionalidade da matéria ou outras questões do tipo: julga diretamente a um grupo de réus, que estão sendo defendidos por seus advogados.
Esse tipo de julgamento é muito raro ao longo da história do Supremo, iniciada com a República, em 1899. Nos últimos anos, o tribunal julgou, aqui e ali, parlamentares cassados por corruppção — que têm direito ao foro especial de ser processados e julgados apenas pelo Supremo –, e o caso mais relevante do tipo foi, naturalmente, o do ex-presidente Fernando Collor, que terminou sendo absolvido por falta de provas em dezembro de 1994.
O caso atual é mais complicado, porque a competência originária do Supremo se exerce num processo com 38 réus, mais de 700 testemunhas ouvidas, cujos autos são constituídos por quase inacreditáveis 50 mil páginas, 234 volumes e 500 apensos, e com vários crimes diferentes sendo imputados, em graus diferentes, aos acusados.
E — vejam  bem, prestem bem atenção — a grande maioria dos ministros do Supremo não teve experiência prévia, ao longo de sua trajetória profissional, em julgar diretamente réus de crimes.
Dos 11 ministros do Supremo, apenas três são magistrados de carreira. Vamos repassar a lista, um por um, começando pelos três magistrados de carreira:
1. Cezar Peluso: juiz concursado da Justiça estadual paulista, galgou degraus da carreira e chegou ao Supremo em junho 2003 vindo do Tribunal de Justiça de São Paulo, onde era desembargador.
2. Ricardo Lewandowski: como advogado, e sem ser juiz de carreira, foi indicado para o Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, aprovado pela Assembleia Legislativa e empossado há 22 anos. Chegou ao Supremo março de 2006, vindo do Tribunal de Justiça de São Paulo, ao qual havia ascendido em 1997.
3. Luiz Fux: juiz de Direito concursado da Justiça fluminense a partir de 1983, passou, promovido, pelo Tribunal de Alçada do Rio, exerceu o cargo de desembargador do Tribunal de Justiça de 1997 a 2001 e chegou ao Supremo em março do ano passado, vindo do Superior Tribunal de Justiça, onde atuava como ministro desde 2001.
4. Celso de Mello: o ministro decano – ou seja, o que está há mais tempo na Casa, desde julho de 1989 — jamais foi juiz antes de chegar ao Supremo. Ingressou no Ministério Público paulista em 1970 e lá fez carreira até chegar ao STF. Sua experiência prévia na área criminal deve-se ao período em que atuou como promotor de Justiça.
5. Marco Aurélio: toda sua carreira pública transcorreu na Justiça do Trabalho, onde exerceu as funções de procurador e, depois, de juiz do Tribunal Regional do Trabalho da região que inclui o Rio e ministro do Tribunal Superior do Trabalho, onde atuava quando, em junho de 1990, viu-se guindado ao Supremo.
6. Gilmar Mendes: igualmente sem experiência como magistrado antes de chegar ao Supremo, desempenhou funções no Ministério Público Federal entre 1985 e 1988, integrou diferentes assessorias técnicas de órgãos públicos e foi o advogado-geral da União entre 2000 e 2002 quando, no mês de junho, passou a integrar o Supremo.
7. Ayres Britto: o presidente do Supremo nunca foi juiz em sua vida. Professor de Direito em Sergipe, foi consultor-geral do Estado nos anos 70, depois procurador-geral de Justiça nos anos 80. Quando passou a compor o  Supremo, em junho de 2003, era professor de Direito Constitucional.
8. Joaquim Barbosa: o ministro-relator do caso exerceu no passado, por concurso, cargos tão diferentes como oficial de chancelaria do Itamaraty e advogado do Serviço Federal de Processamento de Dados. A partir de 1984, tornou-se procurador da República. Está no Supremo desde junho de 2003.
9. Cármen Lúcia: todo o seu percurso se deu no Ministério Público de Minas gerais, e sempre como procuradora — e não como promotora pública, que atua no juizado criminal — até passar a integrar o Supremo, em junho de 2006.
10. Dias Toffoli: o ministro do Supremo de currículo mais pífio desde 1889 foi assessor da liderança do PT na Câmara dos Deputados por cinco anos, um dos advogados do PT em três campanhas presidenciais, foi subchefe da Casa Civil para assuntos jurídicos durante o período em que José Dirceu foi ministro (2003-1005) e advogado-geral da União de março de 2007 até outubro de 2009, quando Lula o designou para o Supremo. Quis ser juiz no passado, mas não conseguiu — reprovado que foi em dois concursos públicos no Estado de São Paulo.
11. Rosa Maria Weber: começou como juíza do Trabalho substituta no Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (sediada em Porto Alegre), galgou postos no TRT, presidiu o tribunal por um período e alcançou o posto máximo da Justiça do Trabalho em fevereiro de 2006, ao assumir o posto de ministra do Tribunal Superior do Trabalho, de onde passou ao Supremo em dezembro do ano passado.

Argentina: recrutam-se criminosos para participar de atos pró-governo de Cristina Kircher


Ricardo Setti

NAS RUAS Rubén Pintos toca bumbo: bandido solto em San Telmo (Foto: Divulgação)
NAS RUAS -- Rubén Pintos toca bumbo: assassino livre, leve e solto em San Telmo, Buenos Aires, para se apresentar com grupo peronista
Reportagem publicada na edição impressa de VEJA
RECRUTAM-SE ASSASSINOS
Aliados de Cristina Kirchner tiram condenados da prisão para participar de atos de apoio ao governo argentino
Os governos peronistas historicamente se sustentaram no uso de grupos à margem da lei, capazes tanto de organizar manifestações chapas-brancas como de surrar opositores. A presidente argentina Cristina Kirchner conseguiu fazer pior. Um dos muitos movimentos pretensamente populares ligados a ela convoca condenados pela Justiça para engrossar eventos cristinistas fora da prisão.
De acordo com uma reportagem do jornal Clarín, assassinos e estupradores que cumprem pena ganham indultos periódicos para tocar instrumentos de percussão e gritar urras para a presidente. Dois deles provocam especial ojeriza entre a população. Um é o ex-baterista da banda Callejeros, Eduardo Vásquez, condenado a dezoito anos de prisão por queimar e matar a mulher, Wanda Taddei. Outro é Rubén Pintos, torcedor do River Plate que cumpre pena perpétua pelo assassinato de Gonzalo Acro, fã do mesmo time.
Em junho, os dois assassinos foram flagrados no Museu Penitenciário, no bairro de San Telmo, em Buenos Aires, tocando em um evento do grupo peronista e kirchnerista Vatayón Militante (“batalhão militante”, na gíria portenha).

OJERIZA POPULAR: Eduardo Vásquez, que queimou e matou a mulher, toca bongô em evento do Vatayón Militante (Foto: Divulgação)
OJERIZA POPULAR: Eduardo Vásquez, que queimou e matou a mulher, toca bongô em evento do grupo kirchnerista "Vatayón Militante" ("batalhão militante)
Com cerca de cinquenta integrantes, o Vatayón Militante realiza atividades em cárceres desde novembro do ano passado. A agrupação prega a ressocialização dos detentos por meio de atividades culturais, o que está previsto em lei. Dá aulas de tango e teatro. Muitos dos eventos, porém, têm fins claramente políticos.
O refrão de uma das músicas cantadas em um desses encontros dizia: “Borombombom, borombombom, esses tambores… são de Perón”. Fotos dos atos mostram o personagem Nestornauta, inspirado no ex-presidente Néstor Kirchner e criado por outro movimento, o La Cámpora. Esse grupo, sob a liderança de Máximo Kirchner, filho de Cristina e Néstor, já tem 7 000 afiliados e simpatizantes em cargos na burocracia estatal. O Vatayón Militante e o La Cámpora fazem muitos de seus eventos políticos em conjunto.
A aprovação para as saídas temporárias dos presos é dada por graúdos do governo. Cristina as defendeu e negou que tenham propósito político. Outro que apoia a prática é o chefe do Serviço Penitenciário Federal, Víctor Hortel. Ele foi visto apresentando-se na cadeia em um grupo musical ao lado de criminosos como Pablo Díaz, que estuprou e matou com 26 punhaladas a jovem Soledad Bargna, em 2009.
INDIGNADOS Os pais e a irmã de Soledad Bargna, estuprada e morta por Diaz, um dos presos do Vatayón
INDIGNADOS -- Os pais e a irmã de Soledad Bargna, estuprada e morta por Diaz, um dos presos do "Vatayón" kirchnerista
O crime, aliás, foi cometido em um passeio anterior fora da prisão. Por lei, as permissões temporárias só podem ser dadas quando o condenado já cumpriu metade da pena, o que não é o caso de Díaz.
“Deus queira que ele não tenha saído de novo”, lamentou o pai da vítima, Guilhermo Bargna. “Tudo isso fere a memória da minha filha.

Por pressão de Lewandowski e Marco Aurélio, ainda não dá para saber como será o julgamento. Entenda, ou não!, a confusão


Reinaldo Azevedo

Vocês já devem estar sabendo a essa altura, mas vamos lá. O relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa, propôs o razoável: que a votação de se desse por grupos de acusados, uma sugestão racional e objetiva, dado o tamanho do processo. Ele se pronunciaria sobre, digamos assim, um primeiro lote. Em seguida, votaria Ricardo Lewandowski, o revisor — e aí, então,  a sequência conhecida: do mais recente membro do tribunal para o mais antigo.
Conforme o esperado — e todos os jornalistas e advogados que conheço fizeram esta aposta —, Ricardo Lewandowski protestou, secundado por Marco Aurélio, que não perdeu a chance de, depois de ter chagado ao limite, dar mais um passo — acho que a frase é de Millôr, a ver.
Lewandowski, que tem atuado de forma sistemática, determinada, inconteste, para atrasar o julgamento, acusou o relator de estar seguindo a ótica da acusação, admitindo a existência, então, dos núcleos. Joaquim protestou e se disse ofendido. Ora, digamos que fosse assim… Pergunto ao doutor: o relator está impedido, por acaso, de achar que os tais núcleos existiram e, pois, de concordar com “ótica da acusação”? Estamos, afinal, na hora do voto. Ou Lewandowski acha que a única coisa legítima a fazer é seguir os seus passos, a saber: seguir a ótica da defesa?
Bastaria a ele, Lewandowski, chamado a falar sobre um primeiro grupo de réus, negar que os núcleos tivessem existido, contestando, então, como já anunciou que vai fazer, o voto do relator. Mas quê… Ele anunciou a disposição de ler o seu voto inteiro, o que, estima-se, consumiria de três a cinco sessões… Chegou a dizer que a proposta é antirregimental. Se ele apontar que artigo do Regimento Interno do Supremo está sendo violado, a gente pode começar a debater.
Marco Aurélio também se opôs — Dias Tóffoli e Luis Fux votaram contra a proposta do relator. Os demais se alinharam com uma solução intermediária, de autoria de Ayres Britto, presidente da Casa: cada um vota como quiser —  ou o voto na íntegra ou por partes. Sei… Então é questão de tempo: vem confusão das bravas por aí. Por quê?
Se cada um vota como quiser, ninguém pode impor ao relator que leia tudo de uma vez, certo? Barbosa lê agora uma parte da denúncia e vai se posicionar sobre um grupo de réus. Para e passa a bola adiante.  E Lewandowski? Pode se negar a votar naquela que seria a sua vez? Pode decidir ler o seu voto de uma vez? Os demais ministros contrários à proposta podem fazer o mesmo?
Encerrada a primeira parte da sessão, repórteres perguntaram a Britto se o revisor poderia votar, então, antes do relator — porque é o que acontecerá se Lewandowski resolver ler o seu voto inteiro. Britto observou que não seria um comportamento muito ortodoxo, mas anuiu com a possibilidade.
Objetivo explícito
Marco Aurélio de Mello está exibindo ao menos a virtude de não esconder a existência de uma estratégia: tirar Cezar Peluso da votação!  Na sessão, fez referência explícita ao eventual voto do ministro, que pode permanecer no tribunal só até o dia 3 de setembro, quando faz 70 anos, sugerindo que ele não pode votar só uma parte do processo.
Por Reinaldo Azevedo

Lewandowski, a fera ferida, ameaça até renunciar à revisão. Ou: Das entranhas e das “EXtranhas” da Justiça



Já que estamos na fase das citações e que a MPB é grande referência intelectual do julgamento, Lewandowski está a um passo de sair cantarolando pelo salão:
Acabei com tudo
Escapei com vida
Tive as roupas e os sonhos
Rasgados na minha saída…
Mas saí ferido
Sufocando meu gemido
Fui o alvo perfeito
Muitas vezes
No peito atingido…
(…)
Caetano não gosta de mim, mas eu não ligo: sua interpretação de “Fera Ferida”, dos Carlos — Roberto e Erasmo —, é uma lindeza. Pois bem… Lewandowski está como fera ferida no tribunal. O homem, acreditem!, ameaçou não brincar mais e levar a bola pra casa. Sim, ele ameaçou renunciar à revisão do processo — numa tentativa de melar o jogo. Como já entregou o seu trabalho, entendo que a revisão já está feita — e sem precisão: não percebeu que havia lá um problema processual, né?, do réu que, de fato, havia tido cerceado seu direito de defesa.
Vamos ver se vai mesmo fazê-lo. Vamos ver se vai se negar a ler o seu voto na sua vez. Vamos ver se vai querer ler o voto inteiro e se antecipar ao relator. Vamos ver o show.
AdiamentoLewandowski sabe muito bem que tentou por duas vezes adiar o processo para o ano que vem, atendendo a um chamamento que não vem das entranhas da Justiça, mas das, lá vou eu brincar com as palavras: “EXtranhas”.
Esse “x” aí é uma brincadeira que a etimologia explica. A palavra “estranho” vem do latim “extraneus”, “aquilo que vem de fora”. E a pressão para que o mensalão não fosse julgado em 2012, por óbvio, vinha de fora das paredes da Justiça. Como o julgamento está aí, a força “EXtranha” faz de tudo para mandá-lo para o beleléu. 
A pressão era apenas explícita. Agora é arreganhada.
Por Reinaldo Azevedo

O mais aguerrido zagueiro do time que joga para atrapalhar o julgamento do mensalão

Augusto Nunes


Quando pendura nos ombros a toga de ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio de Mello se proíbe de falar língua de gente. Jamais concorda. Anui. Nunca discorda. Discrepa. Não  pondera. Obtempera. Nem pergunta. Argui. E se recusa terminantemente a acrescentar alguma coisa: o dicionário ambulante prefere aduzir.
É natural que incontáveis espectadores da TV Justiça não consigam entender o palavrório, que Marco Aurélio faz questão de temperar com expressões em latim e citações de sumidades jurídicas. Como não há tradução simultânea, muita gente nem desconfia que está em ação o mais aguerrido zagueiro do time que joga para atrasar, atrapalhar ou, se possível, obstruir até o fim dos tempos o desfecho do processo do mensalão.
Nos primeiros minutos da sessão inaugural, o ministro Ricardo Lewandowski e o advogado Márcio Thomaz Bastos, atacantes da equipe em que Marco Aurélio brilha como xerife da pequena área,  tramaram a obscena tabelinha que adiou por um dia o desfecho do processo que se arrasta desde 2007. Pelo que se viu nesta quarta-feira, cumpre a Marco Aurélio impedir com botinadas na lógica e no bom senso que se recupere o tempo perdido.
Se a estratégia der certo, Cezar Peluso, um juiz de carreira que não costuma fechar os olhos a provas e evidências, não conseguirá votar antes da aposentadoria compulsória marcada para 3 de setembro. “Por que dar tanta importância à participação de um ministro?”, desdenhou Marco Aurélio na semana passada. “Já julgamos vários casos relevantes com oito ministros. Ou menos”. O Marco Aurélio das entrevistas aos jornais é bem mais claro que o Marco Aurélio de toga. Sorte dos interessados em saber o que vai pela cabeça dos 11 do Supremo.
O zagueiro entrou oficialmente em campo em maio, com uma pergunta assombrosa sobre o processo do mensalão. “Por que julgar a toque de caixa?”, fingiu espantar-se. Como se decidir em setembro de 2012 um caso descoberto em junho de 2005 fosse coisa de Usain Bolt. Marco Aurélio declarou-se incapaz de enxergar diferenças entre o mais importante processo judicial da história do Brasil e outros 700 estacionados na fila de espera do Supremo Tribunal Federal.
“Não devemos ceder à turba, que quer justiçamento, e muito menos à pressão política, que tenta adiar o julgamento”, recitou em maio. Como revela o post reproduzisdo na seção Vale Reprise, o falatório confirmou que o autor discurso que denunciou o Brasil do faz de conta já transferira residência para o país da fantasia malandra. E por lá continua, atestam as jogadas ensaiadas com Ricardo Lewandowski para obstruir o avanço da votação.
Há dias, avisou que cairia fora de uma das sessões para comparecer a um seminário em São Paulo agendado no início do ano. “Sou homem de cumprir o combinado”, jactou-se. Sabe-se lá o que combinou fazer no julgamento do mensalão. Sabe-se lá o que combinou. O certo é que está cumprindo o combinado. Pior para o Brasil decente.
Maus atores o país tem de sobra. O que anda em falta é bom juiz.

Alto padrão: saiba quais são as ruas mais caras de Porto Alegre


Maiores negociações imobiliárias residenciais estão centralizadas nos bairros Bela Vista, Petrópolis e Moinhos de Vento

Elencar as ruas residenciais mais caras de Porto Alegrenão é tarefa das mais fáceis. Primeiro, é importante considerar que existem duas formas de valorar um endereço: o primeiro é a nobreza do ponto; o segundo, as quantias envolvidas nos negócios imobiliários. Hoje, os bairros apontados com unanimidade como os que concentram as ruas mais valorizadas da capital gaúcha sãoMoinhos de VentoPetrópolis e Bela Vista. A listagem a seguir foi produzida com ajuda de Octavio Gomes de Freitas, diretor da Don Investimentos Imobiliários, e ratificada por outros profissionais da área, que serão citados ao longo da matéria. 

1 – Rua Marquês do Herval (Moinhos de Vento)
Daniel de Los Santos / Haluz
Com imóveis usados, novos e lançamentos, o metro quadrado na Marquês gira em torno de R$ 9,5 mil. Um dos motivos dessa valorização é o lançamento de empreendimentos de alto padrão, como o Marquis Moinhos, da Uma Incorporadora, ainda em fase de construção. As vendas iniciaram com investimentos a partir de R$ 10 mil o metro quadrado, podendo o valor final chegar a R$ 8 milhões. Certamente essas cotações influenciam diretamente para que a Marquês do Herval conste em primeiro lugar na listagem. 

2 – Av. Cel. Lucas de Oliveira (Bela Vista) 
Daniel de Los Santos / Haluz
Esse é um exemplo do quão relativa é a valorização das ruas. A parte alta da Cel. Lucas de Oliveira (entre aCasemiro de Abreu e a Anita Garibaldi) possui valores de mercado em torno de R$ 9,4 mil o metro quadrado. “Em qualquer outro ponto – e principalmente a partir da Protásio Alves em direção à Ipiranga – o valor é completamente diferente, muito abaixo. Naquele trecho há uma concentração de prédios de alto padrão, o que eleva os preços”, explica Gomes de Freitas. 

3 – Rua Dinarte Ribeiro (Moinhos de Vento)
Daniel de Los Santos / Haluz

Nesta rua se localizam parte dos bares e cafés característicos do bairro, bem como bons negócios: a média dos valores do metro quadrado é de R$ 9,3 mil, sendo que há alguns lançamentos e imóveis usados.

4 – Rua Eng. Teixeira Soares (Bela Vista)

5 – Rua Eng. Veríssimo de Matos (Bela Vista)

6 – Rua Antônio Rebouças (Bela Vista)

7 – Rua Eng. Olavo Nunes (Bela Vista) 
As quatro ruas se encontram no miolo do bairro, onde estão concentrados os lançamentos imobiliários de alto padrão dos últimos anos. As negociações desta zona ficam entre R$ 8 mil e R$ 7,2 mil a média do metro quadrado. 

8 – Eng. Álvaro Nunes Pereira (Moinhos de Vento)Segundo Marcelo Sanvicente, sócio-gerente da imobiliáriaSanvicente, o maior apartamento da cidade está fixado no condomínio Georges V, lançado em 1988. O edifício possui dez apartamentos com áreas privativas de mais de 800 metros quadrados. É esse o tipo de empreendimento que valoriza esta parte específica do bairro Moinhos de Vento, que também engloba as ruas Barão de Santo Ângelo eSanto Inácio, três ruas paralelas poupadas dos cafés e restaurantes. 

9 – Av. Luiz Manoel Gonzaga (Petrópolis)Esta e a primeira quadra da Av. Bagé (entre a Carlos Gomes e a Av. Guaporé) centralizam o mercado de alto luxo do bairro Petrópolis. É a única rua fora dos bairros Moinhos de Vento e Bela Vista que figura na listagem das treze, mas os valores das negociações não ficam para trás: em torno de R$ 7 mil o metro quadrado, sendo que os prédios novos se sobressaem.  

10 – Rua Barão de Santo Ângelo (Moinhos de Vento)

11 – Rua Santo Inácio (Moinhos de Vento)
Mesmo sendo carentes de lançamentos imobiliários, as ruas Barão de Santo Ângelo e Santo Inácio figuram na listagem justamente pelos motivos referidos anteriormente: além da qualidade de suas construções, a nobreza de seus arredores é um fator que influencia no mercado imobiliário. Os compradores escolhem morar nesta zona, muitas vezes estando dispostos a pagar o preço do status da rua. O valor médio do metro quadrado varia entre R$ 6,5 mil e R$ 6,3 mil.

12 – Rua Luciana de Abreu (Moinhos de Vento)Tal qual a Dinarte Ribeiro, a Luciana de Abreu também é local de diversas lojas, cafés e restaurantes. Na maioria, os imóveis são usados e custam em média R$ 6 mil o metro quadrado.

13 – Rua Gal. Oscar Miranda (Bela Vista)Fazendo parte do miolo do bairro, a Oscar Miranda é o ponto mais alto do Bela Vista e possui diversos condomínios novos. A média do metro quadrado chega a R$ 6 mil.

Regiões nobresAfinal, como é que se define o quão nobre pode ser uma região? Segundo especialistas imobiliários do segmento alto padrão, essa definição é formada única e exclusivamente pelo mercado: quanto se está disposto a desembolsar para morar num determinado local. “O que valoriza uma rua são os imóveis construídos nela. Não adianta erguer o melhor edifício da cidade num bairro pouco valorizado. Para se conseguir o maior valor possível num negócio, o melhor empreendimento deve estar na melhor zona”, resume Sanvicente. 

Apesar disso, Gomes de Freitas esclarece que não é uma premissa verdadeira concluir que o imóvel mais caro de Porto Alegre está situado na rua que consideramos aqui a número um da lista, no caso, a Marquês do Herval. Assim, para ser possível listar treze ruas, foi necessário considerar uma condição mais concreta, no caso, a análise da média dos valores do metro quadrado dos imóveis comercializados em cada uma delas. 
Ou seja, uma avenida que tenha exclusivamente lançamentos ficou na frente de outra que não tinha novos empreendimentos. “Existe uma diferença muito grande entre o valor do metro quadrado do novo e do usado. Por isso, quando há lançamentos numa rua, ocorre uma distorção na média. Assim, não se pode dizer que o bairro Bela Vista vale mais do que o Moinhos de Vento... Não, isso acontece porque existem mais prédios novos no Bela Vista”, define Freitas. 

Patricia Longhi, sócia-diretora da 2day Pesquisa e Inteligência de Mercado, ressalta que as ruas que se sobressaem, especialmente no Bela Vista, são as que possuem atualmente empreendimentos de alto padrão sendo lançados. “Surgindo outros espaços na região, certamente eleva-se a média do metro quadrado de outras ruas também”, defende. Sabendo disso, deve-se considerar a listagem de forma temporal e totalmente 
variável. 

São inúmeros os fatores que contribuem no valor final do metro quadrado dos imóveis, além da óbvia localização do edifício. É necessário esclarecer, portanto, que as ruas listadas aqui são as que concentram, em média, os melhores negócios quando se compara os valores dos metros quadrados. 

Também se deve considerar que existem em outros locais imóveis com valores parecidos aos citados acima. Porém, estamos mensurando a rua como um todo considerando, como já dito, a média negociada pelo metro quadrado, e não alguns empreendimentos específicos situados nelas.  

Cozinha: espaço ideal para as refeições do cotidiano


Iluminação, ventilação e circulação são pontos importantes na hora de projetar o ambiente

Hoje, a cozinha é o local onde é possível realizar as refeições do dia a dia, assim como a sala de estar é um local de encontro e de convívio da família. Mas a também é um ambiente de trabalho, portanto, a funcionalidade deve ser sempre priorizada. “E não adianta ter uma cozinha bonita se ela não se ajustar à rotina dos moradores. Muitos fatores precisam ser considerados no projeto da cozinha: os alimentos que lá serão preparados, a quantidade de pessoas que farão uso dela e a freqüência com que será limpa...”, afirma a arquiteta Ana Paula Naffah Perez, diretora de projetos da C+A Arquitetura e Interiores.
cozinha pense imóveis
Sendo assim, para a preparação das refeições, a iluminação é um fator muito importante. Sempre que possível, deve-se aproveitar a luz natural, que não distorce a cor dos alimentos. Para isso, abusar das janelas é a dica. No espaço determinado para o preparo dos alimentos, geralmente, são acrescentadas lâmpadas fluorescentes compactas amarelas ou lâmpadas incandescentes para corrigir a cor.
cozinha pense imóveis
Pontos de luz devem ser colocados nos locais mais importantes da cozinha, como a área do fogão e a mesa. “Os principais desafios do projeto de interiores de uma cozinha são obter o máximo de conforto e ter um espaço aconchegante com uma boa distribuição de espaço”, diz Ana Paula.
cozinha pense imóveis
Para a organização, o uso de armários para guardar os objetos é uma excelente solução para manter a cozinha arrumada.
cozinha pense imóveis
Em espaços maiores, é possível optar pela utilização de uma bancada extensa, onde se possa fazer, pelo menos, uma refeição por dia. A bancada deve servir de apoio a todas as atividades realizadas na cozinha, então deve ser feita de um material resistente. “O granito, além de duradouro, é fácil de limpar e quando conjugado com móveis de madeira: o efeito é muito bonito. Os laminados em madeira também podem ser boas opções para a confecção das bancadas, bem como os materiais resinados, como o silestone e o corian”, explica a arquiteta.
Nas cozinhas onde há falta de espaço, deverão criar-se condições de arrumação, sem retirar a amplitude do local. Uma opção é prolongar a bancada, fazendo dela um elemento multifuncional.
cozinha pense imóveis
Os cantos da cozinha são locais perfeitos para transformarem-se em zonas de refeição. A área de refeições pode ser projetada também utilizando uma mesa ao lado da parede, ao lado de uma porta de vidro ou ainda no centro da cozinha.
cozinha pense imóveis
Dentre os quesitos mais importantes na hora de projetar uma cozinha estão também a ventilação e a circulação. Deve-se evitar que a cozinha se torne um corredor de passagem. "No espaço para preparar alimentos só devem estar as pessoas que estiverem cozinhando”, defende a arquiteta Ana Carolina M. Tabach, diretora de projetos da C+A Arquitetura e Interiores.
cozinha pense imóveis
Para os móveis, se a opção for o emprego da madeira, pode-se utilizar pinho, carvalho, faia ou teca. A madeira desperta muito o interesse das pessoas, mas sua manutenção é complicada, pois os armários têm tendência a acumular gordura. “Outra possibilidade para estes ambientes é intercalar alguns móveis, brancos ou de madeira, com gavetas e portas em inox. Além de um efeito bonito, o espaço fica mais claro e mais fácil de ser limpo”, explica Ana Carolina.

Fascinados, EUA aguardam julgamento da “rainha das drogas” mexicana


Por Paul Harris

Imagem de Sandra quando foi presa em 2007. A Suprema Corte mexicana autorizou sua extradição para os EUA. Foto: Divulgação da Polícia Federal Mexicana / AFP
Ela é elegante, atraente e aprecia Botox e as coisas boas da vida – mesmo na prisão. Mas a fantástica carreira de Sandra Ávila Beltrán, a suposta baronesa das drogas mexicana, parece fadada a terminar em uma prisão norte-americana.
Ávila foi extraditada na semana passada para os Estados Unidos, onde enfrentará acusações relacionadas a uma vasta rede de tráfico de drogas e ao obscuro poder do terrível cartel de Sinaloa. Ela chegou a Miami no fim da semana para se apresentar a um tribunal da Flórida.
Conhecida como a “Rainha do Pacífico” por sua imensa influência nas rotas de tráfico de drogas, Ávila é uma das figuras mais excêntricas que surgiram nos últimos anos na indústria do narcotráfico mexicano, cuja violência extrema já causou 60 mil vítimas desde que a ofensiva do governo teve início em 2006. “É uma personagem curiosa. É a primeira chefona realmente sexy a chamar a atenção da mídia. Além de elegante e vaidosa, existe um fascínio por ela por ser mulher”, diz Howard Campbell, especialista em tráfico de drogas mexicano da Universidade do Texas em El Paso.
Há muito tempo os mexicanos são fascinados por Ávila, que é tema de uma popular balada sobre drogas, ou “narcocorrido”, gravada pela banda Los Tucanes, de Tijuana. “A Rainha das Rainhas” inspira o verso: “Quanto mais bela a rosa, mais afiados os espinhos”.
Ávila é famosa por apreciar boas roupas, e dizem que recebia a visita de um médico na prisão mexicana para lhe aplicar injeções de Botox. Ela queixou-se de que as regras prisionais que a impediram de receber em sua cela a comida enviada por restaurantes vizinhos infringiam os direitos humanos. E acreditava que servia de inspiração para a popular novela da TV mexicana, “La Reina del Sur”, sobre uma bela jovem envolvida no perigoso mundo dos cartéis.
Mas na vida real Ávila não é mais tão jovem. Não se sabe exatamente qual é sua idade – acredita-se que tenha pouco mais de 50 anos –, mas passou praticamente toda a vida envolvida com o obscuro mundo dos cartéis. É provável que ela seja a terceira geração de traficantes pertencentes a uma família com extensas conexões no comércio de drogas. E é sobrinha de Miguel Ángel Félix Gallardo, famoso chefão da droga mexicano que hoje cumpre uma sentença de 40 anos.
Talvez por suas relações familiares e conjugais, e por seus dotes físicos, acredita-se que Ávila tenha galgado os escalões do cartel de Sinaloa ao especializar-se em lavagem de dinheiro. Mas era um mundo perigoso – dois maridos dela foram assassinados.
Embora apaixonar-se pela Rainha do Pacífico seja potencialmente letal, também pode gerar uma carreira lucrativa. Os investigadores acreditam que seu romance com o traficante colombiano Juan Diego Espinosa tenha sido um elo vital entre o país sul-americano e o cartel mexicano de Sinaloa. Acreditam também que tenha dado a Ávila o controle do fluxo de narcóticos da Colômbia para os portos do Pacífico no México, o que lhe rendeu o famoso apelido e financiou um estilo de vida de carros luxuosos e restaurantes finos.
Grande parte do fascínio de Ávila se deve ao fato de ser mulher. Costuma-se ver o tráfico de drogas como algo dominado por machões e alimentado por testosterona, mas os especialistas dizem que as mulheres sempre tiveram um papel importante no negócio das drogas mexicano.
No ano passado, a imprensa mexicana divulgou que Enedina Arellano Félix tornou-se a primeira chefe de cartel ao assumir a organização de Tijuana. Esse fenômeno também contamina a cultura popular. No último filme de Oliver Stone, Selvagens, a bela atriz mexicana Salma Hayek faz o papel de uma implacável chefona das drogas.
Hoje, Ávila ganhou a atenção de todos. Após anos de atividade, ela foi presa no México em 2007 e condenada por lavagem de dinheiro, embora alegasse ser uma mera dona de casa que ganhava dinheiro vendendo roupas e em bicos no mercado imobiliário. E o juiz concluiu que não havia provas suficientes para uma condenação por tráfico de drogas.
Desde então as autoridades norte-americanas esperavam sua extradição. Ávila fez de tudo para impedir, até uma tumultuada campanha na mídia. Escreveu um livro e chegou a dar uma entrevista em 2009 para um jornalista da TV americana, Anderson Cooper, culpando o governo mexicano pelo crescimento do comércio de drogas. “É óbvio e lógico. O governo tem de se envolver em tudo o que é corrupto”, ela disse.

O Papa é a História


Sebastião Nery

Voltaire (1694-1778) era ateu e anticlerical: “O papa é um ídolo a quem se atam as mãos e se beijam os pés”.
Bernard Shaw (1856-1950) também era ateu e anticlerical: “Por que aceitar conselhos sobre sexo vindos do papa? E isto admitindo-se que ele entenda alguma coisa do assunto – o que não deveria”.
Stalin era pior. Era ateu, anticlerical e antipapal:
- Quantas divisões o papa tem? – perguntou Stalin a Pierre Laval, primeiro-ministro da França a partir de 1942, que colaborou com os nazistas invasores e foi condenado à morte e executado depois da guerra.
Stalin tinha suas divisões. O papa tem uma coisa mais poderosa: a história, a cultura, a civilização ocidental. A Igreja é filha de Roma, como Roma foi filha da Grécia.
Em abril de 2005, aqueles milhões ali marchando lentamente, horas e horas a fio, para verem um homem morto, não estavam ali por causa do homem morto, mas por saberem, ou intuírem, que ele não era ele, João Paulo II era a história.
Quem estava ali deitado era mais um capítulo, o mais importante do fim e começo do século, da civilização ocidental, com todas as suas contradições e conflitos. Em dois mil anos, nenhuma instituição mais perene e duradoura.
O Vaticano é o Papa. E o Papa não é o Papa. O Papa é a História. Somos nós.
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CLEMENTINO
Por isso, cada Papa é outro Papa. Porque a história é sempre uma nova História. Lembrem a incrível coincidência de o papa morto ser velado na Sala Clementina, com a grande placa dourada, sobre a cabeça dele, de Clemente VIII, papa entre 1592 e 1605, depois da Idade Média, começo dos Tempos Modernos, um dos mais importantes da história da Igreja Católica Apostólica Romana.
Em apenas 13 anos, estruturou e publicou a Vulgata (a Bíblia), criou a Propaganda (desde o nome), a Congregatio de Propaganda Fide, Congregação para a Propaganda da Fé, fez o Index (proibindo todos os livros dos inimigos da Igreja), queimou vivo o dissidente Giordano Bruno, o Leonardo Boff da época.
Como João Paulo II, Clemente VIII foi um papa da História, com todos os pecados e pesadelos de seu tempo.
Proibiu e excomungou as touradas e os toureiros, legalizou o cafezinho, que em Roma era vetado como uma bebida otomana, muçulmana, anticristã (provou, gostou, liberou), mandou cortar a cabeça de Beatrice Cenci, aquela dos poetas e das tragédias, que se juntou à madrasta, ao irmão e ao amante e matou o pai, déspota que o povo em Roma odiava.
Por isso a apoiou, mas o papa a degolou em 11 de setembro de 1599, história imortalizada por Stendhal e no quadro clássico de Caravaggio. O Papa é a História.

Julgamento do mensalão está se transformando numa fogueira das vaidades


Carlos Newton

Nosso amigo e mestre Helio Fernandes certamente é quem mais conhece o funcionamento do Supremo Tribunal Federal, pois desde jovem costumava assistir a sessões no luxuoso prédio da Avenida Rio Branco, aqui no Rio, bem perto do antigo Senado Federal, que foi demolido pela insanidade administrativa que sempre assolou este país.
Helio, que hoje assiste ao Supremo pela televisão,  diz que o funcionamento do Supremo mudou muito depois que as sessões passaram a ser transmitidas ao vivo. É a mais pura verdade. Ao assistir as apresentações dos ministros e dos advogados de defesa no caso do mensalão, essa realidade fica mais do que patente.
Em meio a essa fogueira das vaidades (expressão antiga e recentemente revivida pelo escritor americano Tom Wolfe), os ministros tendem a se digladiarem cada vez mais. Marco Aurélio Mello, por exemplo, não mede as palavras e tem criticado outros membros do tribunal, inclusive o presidente Carlos Ayres Britto, por tentarem acelerar o julgamento do mensalão.
 Mello critica outros ministros
Na sessão de segunda-feira, Ayres Britto consultou os ministros sobre a possibilidade de ouvir uma defesa além das programadas para o dia. Marco Aurélio foi contra e deu entrevista à Folha ironizando o presidente e o relator Joaquim Barbosa, a quem classificou de “o todo-poderoso relator”.
Marco Aurélio disse que o “clima está tenso” na corte e fez referência ao gosto de Ayres Britto pela poesia para dizer: “Poeta geralmente é muito sereno em tudo o que faz. É contemplativo, mas nesse caso não está sendo”.
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CARNAVAL ITALIANO
O termo “Fogueira das Vaidades” nasceu na Itália, no Carnaval de 1497, quando os fanáticos seguidores do padre Girolamo Savonarola, (o mesmo que é retratado no livro “A regra de quatro”, de Ian Caldwell), reuniram e queimaram publicamente em Florença milhares de objetos, como livros, manuscritos de peças musicais, quadros, espelhos, cosméticos, roupas, mesas de jogo e outras coisas supostamente pecaminosas a que conseguiram deitar as mãos.
No Supremo brasileiro, os ministros só faltam atear fogo às vestes, como se dizia antigamente.

Faz sucesso na internet a foto do irmão de Toffoli beijando Lula


A foto foi feita na cerimônia de posse de Dias Toffoli como ministro do Supremo Tribunal Federal e circula na internet sem menção do autor do curioso flagrante. O título da mensagem é “Uma imagem vale mais que mil palavras” e a foto segue acompanhada de um texto sobre o julgamento do mensalão. A mensagem, com legenda é tudo, é a seguinte:

Este (de toga) é o ministro Toffoli (soa sinistro) que se diz apto a julgar o Mensalão.
O rapaz que beija o rosto do ex-presiMente, é o irmão do ministro Toffoli. Só para lembrar a todos os fatos acontecidos há pouco tempo. São para mostrar os motivos que garante ser este julgamento um marco histórico em nosso país, um divisor de águas. Muitas coisas serão reveladas. Ou as coisas vão endireitar, ou abutres togados que compõem a suprema corte federal da república estabelecerão uma nova era de imundícia, mentira e destruição dos valores e legimidade do trabalho honesto.
TRIBUNA DE IMPRENSA

O brasileiro Jorge Amado


Mauro Santayana

O menino, filho do rico fazendeiro da região do cacau, que foge do colégio, torna-se repórter de polícia aos 14 anos, aprende a viver nos bordéis e nos botequins do porto da Cidade da Bahia, foi um escritor de seu povo. Ser escritor de um povo não é só contar suas estórias, belas ou tristes. É mais do que criar estilos literários, realizar experiências lingüísticas, apelar para metáforas inusitadas.
Ser um grande escritor de seu povo, como foi Michael Gold, com Judeus sem Dinheiro; John dos Passos, com Manhattan Transfer; Steinbeck, com Vinhas da Ira; Ferreira de Castro, com A lã e a neve; Érico Veríssimo, com O Tempo e o Vento, e Tolstoi, com Guerra e Paz – entre tantos outros – é incorporar na alma todos os sentimentos, bons e maus, de seus conterrâneos, no momento da recriação literária. É vivê-los nas próprias vísceras, participar de seus sofrimentos, acreditar em seus deuses e acompanha-los no momento da morte.
 Amado na lavagem do Bonfim
Jorge Amado foi o escritor da Bahia, da Bahia que dera nascimento ao Brasil e à sua literatura com o gênio cáustico de Gregório de Mattos Guerra; da Bahia que consolidou a independência, com a gesta heróica de 2 de Julho; da Bahia do irredentismo da Revolução dos Alfaiates. E, por isso mesmo, um brasileiro.
É velha a discussão entre a literatura e a política. Toda literatura – como os poemas e peças teatrais gregas – trata das relações entre os seres humanos, todas elas condicionadas pelas tensões do poder. A obra literária é sempre política. É assim que podem ser lidos os textos de Guimarães Rosa, inspirados, como se sabe, pelos relatórios da Polícia Militar de Minas, antiga Força Pública. Ao escrever seu excelente ensaio sobre o Rio São Francisco, Marco Antonio Coelho trata do assunto, ao identificar um dos personagens fortes de Grande Sertão:Veredas, o enigmático Zé Bebelo, vencido, na ficção, pela ousadia de Riobaldo. Guimarães se baseou na vida real do “coronel” Rotílio Manduca, chefe político e responsável, conforme a lenda, pela morte de mais de duzentos inimigos, no Vale do São Francisco.
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MILITANTE POLÍTICO
Jorge Amado foi um grande militante político. Ao eleger-se deputado federal pelo Partido Comunista apresentou projetos de lei como o da efetiva liberdade religiosa – ele que era rigorosamente ateu, ainda que acolhido nos terreiros de candomblé. Dele tenho a memória de um forte convívio, no Brasil e no Exterior. Fomos membros da Comissão de Estudos Constitucionais, que elaborou o anteprojeto da Constituição de 1988 e ali sempre coincidimos em nossas posições.
Ele se orgulhava de que o definissem como “o romancista das prostitutas e dos vagabundos”. Ele sempre foi o romancista do povo pobre, explorado e oprimido de nosso país.
(Transcrito do Blog de Santayana)

Suspense no PT: Dois acusados de participar da morte de Celso Daniel enfim vão a júri popular


Bruno Bocchini (Agência Brasil)

Dois acusados de participar do assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, começaram a enfrentar o  júri popular nesta quinta-feira. Elcyd Oliveira Brito, o John, e Itamar Messias Silva dos Santos serão julgados por homicídio duplamente qualificado, mediante promessa de recompensa, e pela utilização de recurso que torna difícil a defesa da vítima. No julgamento, cinco testemunhas serão ouvidas, todas a pedido da defesa.
Celso Daniel foi executado com oito tiros em janeiro de 2002. Ele sofreu sequestro quando saía de um jantar com o amigo empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, acusado de ser o mandante do crime. O corpo do ex-prefeito foi encontrado dois dias depois na Estrada das Cachoeiras, em Juquitiba, cidade vizinha de Itapecerica da Serra. De acordo com o Ministério Público (MP) do estado de São Paulo, Elcyd, que já confessou ter participado do crime, e Itamar estavam na caminhonete que interceptou o veículo de Celso Daniel, antes do sequestro.
Eles deveriam ter sido julgados em 10 de maio, quando três acusados de participação do crime foram condenados. Os advogados de Elcyd e Itamar abandonaram o júri alegando que teriam muito pouco tempo para explanar a defesa. Na ocasião, o júri decidiu por 24 anos de prisão para Ivan Rodrigues da Silva, 20 anos para José Edison da Silva e 18 anos para Rodolfo Rodrigues da Silva.
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CORRUPÇÃO DO PT
O MP mantém a tese de que o crime foi cometido porque Celso Daniel descobriu que o esquema de corrupção que existia em Santo André não servia apenas para alimentar o caixa 2 da campanha eleitoral de seu partido, o PT.
“Havia um sistema de corrupção instalado em Santo André. O objetivo desse esquema de corrupção era o financiamento para campanha do PT em 2002, período de eleição presidencial. O esquema de corrupção era aceito pelo Celso Daniel enquanto financiava o caixa 2 do PT. A partir do momento que ele descobriu que o dinheiro também era desviado para enriquecimento próprio da quadrilha, ele não concordou, passou a levantar um dossiê. Isso chegou a conhecimento dos demais e aí a motivação do crime”, disse o promotor Márcio Augusto Friggi, que faz a acusação no júri.
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SÓ FALTA O SOMBRA
Após o julgamento de Elcyd e de Itamar, restará sem julgamento apenas o acusado de ser o mandante o crime, o Sombra. Os advogados dele travam uma batalha jurídica para tentar impedir a condenação dele.
Além de questionarem a legalidade da prisão preventiva, os advogados de Sombra defendem a anulação da ação penal porque, segundo eles, o Ministério Público atuou diretamente na investigação criminal, substituindo a polícia. No entanto, já há maioria de votos (6 a 1), no Supremo Tribunal Federal, pelo prosseguimento da ação penal contra o empresário.
No caso Celso Daniel, o Ministério Público decidiu começar uma investigação própria após a polícia definir que o assassinato foi um crime comum de sequestro seguido de morte. As novas investigações apontaram que a morte de ex-prefeito teve motivação política. O caso chegou ao STF em 2004, mas o plenário só começou a analisar o habeas corpus em 2007.