sábado, 27 de outubro de 2012

O fim da farsa Biografia do guerrilheiro Carlos Marighella desmonta a versão oficial do assassinato do militante comunista e confirma reportagem de ISTOÉ



Alan Rodrigues
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PÁGINAS HISTÓRICAS
Dividido em 43 capítulos, o livro-reportagem discorre
sobre os tropeços e triunfos do ex-líder da ALN
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O regime militar instalado no Brasil em 1964 e que se manteve no poder por mais de 20 anos deixou um saldo macabro de 475 mortos – 163 deles ainda desaparecidos. Entre os militantes assassinados nos anos de chumbo está o guerrilheiro Carlos Marighella, líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), cuja história da morte, em 1969, sempre esteve envolta em mistérios. A versão oficial dá conta de que o guerrilheiro foi abatido dentro de um automóvel depois de sacar uma arma e resistir à prisão. Logo em seguida, ainda de acordo com essa versão, teria acontecido um tiroteio entre as forças públicas e seguranças da ALN, que resultou na morte de outras duas pessoas.
Agora, depois de mais de quatro décadas, o jornalista Mário Magalhães contraria tudo o que já foi publicado sobre o caso. Em “Marighella, o Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo” (Companhia das Letras), o autor desmonta a tese oficial ao revelar que Marighella estava desarmado ao ser morto dentro do carro. O jornalista ainda conta na publicação que a troca de tiros entre os policiais e os guerrilheiros nunca aconteceu, pois Marighella estava sozinho. Entre as 588 páginas da obra, Magalhães revela que o ex-deputado comunista não andava armado. Tampouco escoltado por seguranças. “Foi fogo amigo”, afirma Magalhães no livro.
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EXCLUSIVO
Em reportagem do dia 7 de março deste ano - edição 2208 -,
ISTOÉ desmanchou a tese oficial sobre a morte de Marighella 
Sua convicção está amparada em uma investigação rigorosa com 256 pessoas entrevistadas em nove anos de pesquisa. Ao desmontar a farsa da morte de Marighella, o livro confirma reportagem de ISTOÉ, publicada em março, que revelou o teatro montado pelos policiais para esconder como de fato foi assassinado o líder da ALN. “Eu vi os policiais colocando o corpo do Marighella no banco de trás do carro”, afirmou o fotógrafo Sérgio Vital Jorge.
Temido por sua valentia e coragem, Marighella era considerado o inimigo número 1 dos militares. Perseguido pelas forças de repressão nacional e monitorado tanto pela agência de inteligência americana CIA como pela russa KGB, Mariga, como era tratado pelos amigos, foi um dos mais destacados revolucionários do século XX. Os policiais tratavam-no como o Che Guevara nacional. Entre as passagens da vida do guerrilheiro contadas pelo autor, chama a atenção um paradoxo: Marighella não acreditava no triunfo da guerrilha na cidade, mas, sim, que as ações urbanas estavam fadadas ao fracasso. “Pouco antes da morte, ele preparava-se para ir para o meio rural”, diz Magalhães.
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"Chequei obsessivamente cada versão. O livro não
promove o personagem principal da história"

Mário Magalhães, autor do livro
Para esquadrinhar os passos de Marighella, o autor debruçou-se sobre mais de 600 títulos, além de garimpar material em 32 arquivos públicos e privados espalhados pelo País. Em um dos 43 capítulos, ele mostra, por exemplo, que o chefe da ALN teve que se tratar com remédios e sessões de análise quando se tocou de que o líder russo Josef Stalin era um engodo. A publicação revela também o lado romântico do guerrilheiro, a partir dos conflitos da paixão, ciúmes e agruras de uma vida em sobressalto. “Chequei obsessivamente cada versão, sabedor das traições e idiossincrasias da memória”, afirma Magalhães. “O livro não promove o personagem principal da história, ou é um libelo de oposição a ele. O trabalho é uma reportagem que escrutina seus triunfos e tropeços, grandezas e pequenezas, os altos e baixos próprios da espécie humana”, diz Magalhães.


Leia um trecho do livro:

37. É melhor ser alegre que ser triste
“Atenção: está no ar a Rádio Libertadora. De qualquer parte do Brasil, para os patriotas de toda parte. Rádio clandestina da revolução. O dever de todo revolucionário é fazer a revolução. Abaixo a ditadura militar.”
Em vez das exclamações implícitas na mensagem, o gravador de rolo capta a voz feminina com a dicção contida, e não de pregoeiro. É proposital: se falar com alguns decibéis a mais, Iara Xavier Pereira arrisca desvendar à vizinhança o segredo mais bem guardado dos oponentes armados da ditadura: o paradeiro do inimigo público número um.
“Ouçam Carlos Marighella desmascarando a provocação da carta falsa a dom Agnelo, cardeal de São Paulo”, anuncia a garota de dezessete anos.
“O atentado é obra da direita”, ele acusa, lendo o script que redigiu. “Seus autores devem ser procurados entre os homens da ditadura militar que inspiram assassinatos como o do padre Henrique Pereira Neto, da equipe de dom Hélder Câmara no Nordeste. Nossa posição ante a Igreja é de absoluto respeito à liberdade religiosa e pela completa separação entre a Igreja e o Estado.”
Enquanto o guerrilheiro dá o seu recado, um motor de carro ou motocicleta ronca defronte à casinha branca do subúrbio de Todos os Santos, onde ele se refugia nesse agosto de 1969. Um tom acima da locutora, o foragido pronuncia “fachismo” à antiga, e não “fascismo”, e jamais se promove com o título de “comandante”. Seu sotaque baiano contrasta com o da carioca quatro décadas mais jovem, que introduz o “Correspondente Libertador”:
“Atenção: as gravações em fita das transmissões da Rádio Libertadora devem ser ligadas aos sistemas de alto-falantes dos bairros e subúrbios e irradiadas para o povo, mesmo que para isso tenhamos de empregar a mão armada.”
Na Casa de Detenção do Rio de Janeiro, Marighella vivenciou em 1936 e 1937 a distração dos presos políticos com a Rádio Libertadora, cuja reencarnação homônima ele tenta estabelecer como porta-voz guerrilheira. Já dispôs de microfones potentes, como o da Constituinte de 1946. Nos novos tempos, só na marra para ser ouvido. Desde abril de 1969, no início das sessões improvisadas de gravação com Iara, ele tenciona reverberar os manifestos da aln nas praças públicas. O auge do arrojo foi dias atrás, na tomada da Rádio Nacional, que Marighella festeja em um trecho, alertando para riscos excessivos:
“Temos avançado com audácia e com cautela. Não desafiamos o inimigo e só agimos quando estamos perto do êxito. Não travamos combate em campo raso. [...] Reconhecemos que somos infinitamente mais fracos.” 
Nem por isso abaixam a cabeça, e a organização se tonifica. Na segunda quinzena de agosto de 1969, ele e Iara intercalam apelos com vinhetas instrumentais. Todas pertencem a um disco do Milton Banana Trio que toca na vitrolinha da sala. Das doze faixas, Marighella seleciona quatro. A mais executada é “Está chegando a hora” (“Cielito lindo”, no original mexicano), cuja versão jazzística evoca os versos “o dia já vem raiando, meu bem, eu tenho que ir embora”. Há “Roda-viva”, de Chico Buarque (“Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”). E “Vesti azul”, de Nonato Buzar, hit consagrado por Wilson Simonal (“Vesti azul, minha sorte então mudou”). Por último, uma espécie de epitáfio acidental, ainda que com o long-play exclusivo de melodias, sem as letras: “Samba da bênção”, de Vinicius de Moraes e Baden Powell, o da profissão de fé “é melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz no coração”. Antes e depois das músicas, Iara divulga com acento intimista o manuscrito incendiário de Marighella:
“A Ação Libertadora Nacional organiza a guerrilha, o terrorismo e os assaltos, no combate sem trégua que faz à ditadura militar e ao imperialismo dos Estados Unidos. [...] O lema da Ação Libertadora Nacional é gta. Quer dizer guerrilha, terrorismo e assalto. Gê-tê-a, gê-tê-a, gê-tê-a...”
O mesmo Marighella exorciza o léxico assacado por seus perseguidores:
“A polícia nos acusa de terroristas e assaltantes, mas não somos outra coisa senão revolucionários que lutam à mão armada contra a atual ditadura militar brasileira e o imperialismo norte-americano.”
A quimera das emissões guerrilheiras não vingaria, embora as fitas de Marighella tenham viajado, como uma que alcançou o Ceará, com sambas de Martinho da Vila entre as alocuções.
As duas janelas da casa ficam sempre fechadas, não só durante as gravações. Adentra-se na residência humilde passando por uma portinhola escoltada por um muro baixo de pedra e ferro, vencendo um pequeno pátio e caminhando por um corredor à direita. Ali se abre a porta, que dá para a sala, onde Marighella lê e escreve sobre uma mesa. O imóvel sem área livre nos fundos e com muros laterais espichados foi alugado por uma tia de Iara, irmã de sua mãe, Zilda. A menina conheceu o ilustre camarada dos pais quando tinha por volta de três anos. Não se esqueceria de sua “risada gostosa, do fundo da alma”. Marighella só ensaia dispensar o humor ao encrencar com as minissaias de Iara:
“Tá faltando pano!”
O zelo paternal com a filha mulher que ele não teve permaneceu quando a aluna do Colégio Pedro ii ingressou na organização. Já que Iara insiste em seguir para Cuba, onde os irmãos Iuri e Alex treinam, Marighella sugere que se dedique ao ensino superior regular da ilha, pois a almejada revolução no Brasil dependerá de profissionais qualificados. A fim de afastá-la das lições armadas, argumenta com a escoliose que a acomete. A adolescente bate pé e decola para o curso de guerrilha na virada de agosto para setembro. Antes, encomenda roupas à costureira, e o Preto, como ela e muitos companheiros chamam Marighella, inventa:
“Quem anda de minissaia é até preso em Cuba.”
A bainha de um vestido cai até pouco acima do joelho, demasiado tecido para a moda vigente. Tanto que o secundarista Aldo de Sá Brito provoca:
“Iara vai para o convento, vai ser freira.” 
Ela reproduz fitas cassete na sala do aparelho de Todos os Santos quando repara outro movimento na sala apertada: ao embalo de uma canção do rádio, Zilda e Marighella dançam juntinhos.


INFORMAÇÕES:

Na segunda-feira 29, será realizado o lançamento do livro “Marighella, o Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo”, às 19h30, na loja da Companhia das Letras no Conjunto Nacional (Avenida Paulista, 2073), em São Paulo.
Na terça-feira 30, o autor  Mário Magalhães dará um curso sobre o Marighella na loja da Companhia das Letras, no Conjunto Nacional .

Cerveja com suco de limão e tequila. Será?


14:30, 26 DE OCTOBER DE 2012 
FELIPE PATURY
 NEGÓCIOS TAGS: 

O grupo Heineken está testando uma de suas marcas no Brasil, a Desperados. A cerveja, que mistura suco de limão e tequila, está sendo testada em bares nas cidades de Curitiba e de São Paulo. Se pegar, poderá ser fabricada no país.

A origem do dito mensalão… Na charge de Berzé



Viver para contar. E combater (sobre Graciliano Ramos)



Graciliano Ramos (1892-1953) era um homem de poucas intimidades. Fechado, sisudo e desconfiado, o autor de Vidas Secas concedeu poucas, raras entrevistas sobre sua vida e sua obra. Dizia não ter nada de interessante a dizer. E reservava suas impressões quase sempre amargas sobre o mundo em artigos e livros como Infância e Memórias do Cárcere, obras de referência na prosa brasileira.
Graciliano e o filho Ricardo Ramos. Foto:Acervo Graciliano Ramos/ Reprodução do livro “O velho Graça”
“Homem de poucas palavras, Graciliano é um problema para o repórter que se propõe a biografá-lo. O autor de São Bernardo nada tem de expansivo. Ainda que amabilíssimo, escolhe-se todo diante do jornalista. Tem medo, penso eu, de parecer herói a fornecer dados para a posteridade”, escreveu o jornalista Francisco de Assis Barbosa em seu livro Achados ao Vento. Barbosa foi um dos poucos repórteres a quebrar a resistência de Graciliano, numa entrevista arrancada em 1942 em que o autor, então com 50 anos, aceitou falar sobre o processo de criação literária.
Essa resistência seria quebrada outras (raras) vezes na base da teimosia e da insistência de nomes como Joel Silveira, Newton Rodrigues e Homero Senna. Analisadas hoje, as reportagens se transformaram em documentos históricos que jogam luz sobre a personalidade de uma das mais refratárias figuras da literatura nacional. A importância desses encontros levou o jornalista e escritor Dênis de Moraes a introduzir essas raras entrevistas na nova edição de O Velho Graça (Boitempo Editorial), a principal biografia sobre o autor que é relançada na esteira das comemorações pelos 120 anos do nascimento de Graciliano Ramos.

Nessas entrevistas Graciliano analisa os chamados romances sociais, o papel do escritor na sociedade, a relação entre arte e ideologia, fala sobre sua vida no Nordeste e sobre a sua vida política. E se queixava da repercussão de seus livros, como fez a Newton Rodrigues em 1944: “Acho que as massas, as camadas populares, não foram atingidas e que nossos escritores só alcançaram o pequeno-burguês. Por quê? Porque a massa é muito nebulosa, é difícil interpretá-la, saber do que ela gosta. Os escritores, se não são classe, estão em uma classe que não é, evidentemente, a operária”.
Mal sabia o autor que, 120 anos após seu nascimento, se tornaria leitura obrigatória em qualquer escola de qualquer cidade do País.
Para o biógrafo, a introdução dessas entrevistas no texto original, publicado pela primeira vez em 1992, ajudou a clarear um lado ainda pouco conhecido do escritor, menos sisudo e mais amigável, como é descrito por familiares e amigos que conviveram com ele até o fim da vida, quando trabalhava em três turnos para sobreviver: de manhã, escrevendo livros e artigos, à tarde, como inspetor federal de ensino no Rio de Janeiro, e, à noite, como redator do jornal Correio da Manhã.
“No fim da vida, Graciliano havia se tornado uma referência importante para os jovens jornalistas. Ele conversava muito com os jovens, deixava suas impressões sobre os textos, e isso produzia um encantamento naquela geração. Esse lado do Graciliano aparecia ainda de forma tímida na descrição de um homem quase sempre avesso e desconfiado”.
Quebrar esta imagem de sertanejo retraído e avançar nas memórias legadas pelo autor, afirma Dênis de Moraes, foi um duplo desafio. Parte desse resgate aconteceu graças às entrevistas feitas à época com amigos, filhos e a viúva, dona Heloísa, a quem a quarta edição é dedicada. Hoje a maioria das fontes está morta. E o relançamento da obra, diz o autor, ajuda a tirar o livro do confinamento, já que estava esgotado havia anos (a última edição é de 2003) e era encontrado praticamente apenas em bibliotecas.
O escitor e jornalista Dênis de Moraes, autor de “O Velho Graça”, a biografia de Graciliano Ramos. Foto: Divulgação
É a chance de os novos e futuros leitores conhecerem mais de perto uma história tão grandiosa quanto a própria obra. Graciliano, hoje tema de celebrações pelo País – inclusive da próxima Flip, a Feira Literária de Paraty, quando são lembrados os 60 anos de sua morte – deixou não apenas livros de referência, mas um histórico de conduta e coerência admirável para os padrões atuais. No livro, por exemplo, sabe-se que, enquanto os escritores da primeira geração modernista colhiam os louros da Semana de 1922, Graciliano ajudava os moradores de sua cidade, Palmeira dos Índios, a combater o temido bando de Lampião. Como figura pública, Graciliano legaria também lições que não cabiam nos livros, como quando foi eleito prefeito (após o assassinato do antecessor), enquadrou os coronéis locais, deu fim a regalias e promoveu um mutirão para limpar as ruas das cidades, tomadas por animais criados ao ar livre. As medidas atingiram até mesmo seu pai, Sebastião, o temido negociante descrito emInfância que o açoitara num dia em que não encontrara um cinturão – e que, ao pedir clemência, ouviu: “O senhor me desculpe, mas prefeito não tem pai”.
Os relatórios sobre sua gestão na prefeitura, sempre escritos em linguagem coloquial e tomados por ironias, eram objeto de admiração por Alagoas, ressoaram no Rio de Janeiro e chegaram às mãos de um certo Augusto Frederico Schmidt, famoso poeta e editor, que se apresentara em carta ao então prefeito perguntando se o autor daqueles relatórios não teria na gaveta algum romance que valesse ser publicado. Graciliano tinha: Caetés, livro que seria renegado pelo autor até o fim de sua vida. “Esta desgraça das Alagoas”, era como se referia, nas dedicatórias, ao romance de estreia.
Para Dênis de Moraes, este lado do escritor, que gostava de causar choque no interlocutor, era apenas “tipo”. Um tipo capaz de dizer que Machado de Assis era apenas um escritor menor “metido a inglês” e, na frase seguinte, se render ao autor de Dom Casmurro. Ou de dizer em carta a um amigo, sem meias palavras, que os filhos andavam bem, o mais velho até já lia manchetes de jornais, mas que o mais novo era de uma “ignorância assustadora”. Ou quando, já consagrado, repreendia o filho Ricardo simplesmente por pinçar num texto a palavra “algo”, “um crime confesso de imprecisão”, nos termos do autor.
Este humor amargo acompanharia Graciliano até o fim da vida, inclusive nas passagens mais dolorosas, quando nos anos 1930 é vítima de uma verdadeira caça aos comunistas promovida por Getúlio Vergas – isso antes mesmo do Estado Novo e muito antes de o autor entrar, oficialmente, para o Partido Comunista Brasileiro. Os motivos da traumática prisão, com passagem pela desumana Ilha Grande, no Rio de Janeiro, são até hoje um dos mistérios a envolver a biografia do autor. Na nova edição, Dênis de Moraes introduziu duas referências a Getúlio Vargas que ajudam a entender o período histórico ainda mal digerido. Uma delas é uma carta ao ditador escrita em 1938 por Graciliano e jamais entregue ao seu algoz. Nela, ele faz uma espécie de acerto de contas: “Ignoro as razões por que me tornei indesejável na minha terra. Acho, porém, que lá cometi um erro: encontrei 20 mil crianças nas escolas e em três anos coloquei nelas 50 mil, o que produziu celeuma. Os professores ficaram descontentes, creio eu. E o pior é que se matricularam nos grupos da capital muitos negrinhos. Não sei bem se pratiquei outras iniquidades. É possível.”
Era uma referência ao curto período em que atuou como Diretor de Instrução Pública em Alagoas, espécie de Secretaria da Educação na época. O Graciliano homem público descrito por Moraes é um sujeito combativo, inconformado com a situação encontrada em seu estado, como quando visita uma escola em Maceió e descobre que lá não havia alunos. Os motivos: não era possível frequentar as aulas com fome, sem uniforme nem sapatos. “Ele manda comprar a merenda, vai na loja de tecido, sem dinheiro e sem orçamento, compra os metros do tecido, corta (porque ele trabalhava com comércio e sabia como cortar), e manda as costureiras fazer o uniforme para os alunos. E depois vai para a sapataria e encomenda os pares de sapato, manda entregar ao colégio e o colégio reabre”, relembra Moraes.
O outro acerto de contas é o encontro entre Graciliano e Getúlio Vargas descrito ao biógrafo pelo jornalista e escritor Antonio Carlos Vilaça, introduzido agora na nova edição. Segundo o relato, Graciliano se encontrou com o ditador durante um passeio noturno pela praia do Flamengo. Diferentemente de Fabiano, o sertanejo de Vidas Secas que reencontra o Soldado Amarelo e perde a chance de se vingar por ter sido, pouco antes, trapaceado no jogo, o escritor é cumprimentado pelo presidente e dá, ao seu jeito, a sua resposta. Graciliano se nega a devolver o cumprimento. Para Dênis de Moraes, a passagem ajuda a quebrar uma certa animosidade sobre o autor que, ao fim da vida, era criticado por ter trabalhado como inspetor federal do governo Vargas – cargo para o qual foi indicado pelo amigo Carlos Drummond de Andrade e que exerceu com dignidade até o fim da vida, segundo o autor – e por ter colaborado com a revista Cultura Política, produzida pelo Estado Novo, mesmo após a sua prisão. “Se ele fosse um homem de certezas fúteis, ele teria se aproveitado do encontro pra se aproximar de Getúlio. Mas passa direto.  Esse episódio, como atesta Villaça, é prova da dignidade e coerência dele”, diz Moraes.
Coerência que seria observada também em outra faceta de Graciliano, quando ele passa a militar no Partido Comunista. O livro descreve Graciliano como um admirador contido, obediente mas crítico da experiência soviética (ele morreria antes de conhecer o relatório Kruschev, quando são descritos os crimes da ditadura Stálin). No partido, Graciliano sofreria pressões para fazer da literatura um panfleto, algo que sempre recusou. E causou constrangimento durante uma viagem com correligionários à União Soviética, quando não mediu palavras para contestar a ausência de Tolstói na galeria dos grandes escritores russos.
Observada hoje, essa coerência, somada à postura combativa, serve como guia a quem quiser atravessar um período histórico sem abrir mão das convicções, seja como homem público, como militante, como intelectual engajado ou pretenso literato. Nada disso seria necessário para que o Graciliano autor fosse alçado à prateleira dos grandes nomes nacionais. Sua obra bastaria. Mas não para ele. Porque, para escrever era preciso fazer como as lavadeiras de Alagoas, “que começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer, colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes”. “Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. (…) Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar. A palavra foi feita para dizer”. Para Graciliano, “dizer” ou viver não eram escolhas, mas partes de uma mesma ação: a ação transformadora de seu tempo. Num país em que pensar é quase uma provocação, nada poderia ser mais subversivo.

Serviço:
O velho Graça - uma biografia de Graciliano Ramos
Autor: Dênis de Moraes
Orelha: Alfredo Bosi
Quarta capa: Wander Melo Miranda
Páginas: 360
ISBN: 978-85-7559-292-2
Preço: R$ 52,00

O ESCÂNDALO SCAJOLA NA ITÁLIA E O FUTURO DA ÁREA DE DEFESA NO BRASIL


 Blog do Mauro Santayana


O La Stampa, italiano, compara a uma “Caixa de Pandora” a investigação em curso naquele país, iniciada nesta semana, sobre o “canal direto” que  existiria entre o ex-ministro do Desenvolvimento do Governo Berlusconi, Claudio Scajola – acusado de propósito de corrupção em uma malograda venda de fragatas italianas ao Brasil – e o então Ministro da Defesa do Governo Lula em 2010, Nelson Jobim.
Naquele ano – em que a Itália insultava publicamente o Brasil devido ao Caso Battisti – já causara estranheza a  carona aceita pela Marinha Brasileira, ao embarcar, em Fortaleza, em um navio aeródromo italiano, helicópteros e marinheiros brasileiros destinados ao Haiti.
Agora, estoura na imprensa italiana, com grande destaque, a investigação sobre a projetada venda de fragatas FREMM, franco-italianas, ao Brasil. Além da busca, autorizada pela justiça, em vários endereços de Roma e Nápoles, foi efetuada também a prisão de um funcionário de alto escalão da Finmeccanica (grupo estatal italiano fabricante de armamentos), Paolo Pozzessere, envolvido em outra ponta do caso - a venda de armas e helicópteros ao Panamá.  
O escândalo Scajola-Finmeccanica evidencia, mais uma vez, em que plano se coloca a colaboração entre as empresas ocidentais de defesa   – a maioria delas controladas por seus respectivos governos – e o nosso país.
A idéia é, sempre, a de obter a fabricação, lá fora ou aqui mesmo, de encomendas destinadas às Forças Armadas brasileiras, desde que não se transfira tecnologia e que se assegure  baixíssimo índice de  conteúdo nacional.  
Para isso, sempre que necessário, adquire-se o controle de empresas brasileiras, algumas detentoras de projetos já desenvolvidos com as nossas forças armadas, para entrar com mais segurança no mercado. 
Em caso de conflito futuro do Brasil com algum país da OTAN ou com os Estados Unidos, bastará usar a tática do “último tango no front”, aplicada exemplarmente à Argentina em seu conflito com a Inglaterra nas ilhas Malvinas. Suspende-se a fabricação de armamento e a reposição de peças e munição para as armas e para os aviões e navios vendidos anteriormente, já que  a lealdade dessas empresas sempre estará com seus donos, os governos de seus respectivos países.   
Devemos seguir o exemplo europeu, que ancorou  sua estratégia de defesa em empresas estatais como a DNCS francesa (que nos vendeu os submarinos Scorpéne), a BAE britânica (que nos vendeu três fragatas recentemente) e a franco-alemã-espanhola EADS (que controla a Helibrás, e que nos prometeu  passar a tecnologia de construção de helicópteros a partir de 2020). O Brasil precisa - quem sabe usando a AMAZUL como base - constituir  estrutura pública própria para a pesquisa, o desenho e a construção de material bélico.
     Com essa empresa, nacional e estatal, teríamos escala para aproveitar
a tecnologia desenvolvida pelas nossas próprias indústrias de armamento, que estão sendo adquiridas a ritmo avassalador por multinacionais estrangeiras. E poderíamos  estabelecer, finalmente, parceria estratégica com os BRICS para o desenvolvimento de toda uma nova geração de armamentos.

Na terça-feira, mesmo dia em que estourou o escândalo Scajola na Itália, o presidente russo Vladimir Putin declarou, à saída da reunião de uma comissão governamental, que Moscou tomou a decisão de estreitar sua cooperação técnica e militar com os outros países dos BRICS:  “nossa cooperação militar e técnica com essas nações deverá atingir  patamar mais elevado, que leve em consideração o alto do potencial tecnológico, industrial e científico dessas nações. A cooperação com a Índia, por exemplo, não se limita à venda de armamento russo. A pesquisa e a concepção conjunta e a produção sob licença de material destinado a terceiros países é cada vez mais freqüente.”

      Esse assunto poderá ser abordado na visita que a Presidente Dilma Roussef fará a Moscou, em dezembro. O governo russo estaria disposto a reabrir  seu mercado para as carnes brasileiras em troca da exportação ou da produção conjunta de armamentos. Para voltar a participar do Programa FX, de aquisição de caças para a Força Aérea, os russos aceitariam compartilhar a tecnologia dos aviões Sukhoi 35, venderiam a Brasília seus  mísseis anti-aéreos Tor, e renovariam o convite para que o Brasil participe do acordo do PAK-FA T-50, como sócio pleno do caça-bombardeio de quinta geração que estão desenvolvendo junto com a Índia, para entrar em operação por volta de 2018.
  

Lucros cessantes



Vamos brincar?



Redução da pena: a justificativa



Começam as decisões declarando a nulidade das leis votadas pelo Mensalão


Marcelo Nogueira

O Juiz da 1ª Vara da Fazenda de Belo Horizonte sentenciou, no processo nº 0024.12.129.593-5, determinando o reajuste no pagamento de pensão de um servidor público morto em 2004. Para tanto, declarou a nulidade dos efeitos da reforma previdenciária por vício de decoro parlamentar decorrente do Mensalão. Como se sabe, as votações da reforma previdenciária, da reforma tributária e da Lei de Falências, correspondem aos períodos com maior movimentação de dinheiro no esquema.
A sentença só vale em relação ao caso específico tratado no processo, mas demonstra que o próprio Judiciário não concorda com a posição de alguns ministros do Supremo que já se manifestaram afirmando que a compra de votos não seria suficiente para invalidar tais leis.
No artigo “As Leis Mensaleiras”, publicado aqui no Blog no início de outubro, demonstramos os fundamentos da nulidade por vício de decoro parlamentar, com base na Constituição Federal e na jurisprudência da própria Corte, através da teoria dos poderes implícitos e da motivação dos diplomas legais como fonte de inconstitucionalidade.
A sentença mineira acrescenta à discussão a teoria da árvore dos frutos envenenados, amplamente utilizada pela Corte.
A tendência é de que se avolumem as ações judiciais buscando a declaração de nulidade das leis mencionadas. O tema ainda não chegou ao STF, mas é previsível que alguns ministros tentem solucionar a questão através da teoria do fato consumado, em nome da segurança jurídica, para evitar o impacto nas contas públicas. Mas, para isso, terão que enfrentar os fortes argumentos da corrente contrária que considera inadmissível que uma votação “comprada” seja válida no Estado Democrático de Direito.
Enquanto o Supremo não enfrenta a questão, qualquer juiz ou tribunal possui competência para exercer o controle difuso ou incidental da constitucionalidade ao apreciar, incidentalmente, com ou sem provocação da parte, questão relacionada à (in)constitucionalidade das leis.
Marcelo Nogueira, advogado no Rio de Janeiro, membro do Instituto Brasileiro de Direito Tributário, editor de Dicas do Nogueira no Facebook e no Twitter.

O incrível golpe da Refinaria de Manguinhos, que liga José Dirceu e Sérgio Cabral



Francisco Bendl
Fico espantado em ver que pessoas que possuem discernimento, senso crítico, consciência política, postam-se em defesa do Zé Dirceu, o chefe da quadrilha que assaltava os cofres públicos!
Impressionante assitir e ler as tentativas de minimizarem a importância do julgamento que condenou o meliante e seus cúmplices e, mesmo assim, os sectários petistas não desistem de seus desserviços à Nação brasileira criando versões fantasiosas sobre o caso, agora enfatizando como “espetáculo midiático” a tarefa dos ministros do Supremo neste processo que merece o destaque que o acompanha!
 Uma imagem que diz tudo…
Se é assim, trago à Tribuna uma notícia que circula pela Internet sobre mais um golpe do Zé Dirceu contra o País! Aos equivocados defensores do Zé Dirceu, o corrupto chefe de quadrilha, quero registrar esta informação muito importante e que vai deixá-los muito confusos, espero.
Certamente alguns sectários que ainda possuem resquícios de decência deverão abandonar esta proteção incondicional ao meliante ex-ministro da Casa Civil, imagino, pelo menos.
O assunto é muito grave, portanto, e retrata mais uma faceta do mau caráter deste indivíduo que está riquíssimo com as negociatas que a sua função lhe propiciou, e ainda tem o caradurismo de se dizer “inocente” com relação às provas que abundam o mensalão.
O tema é a Refinaria de Manguinhos, vulgarmente conhecida como a Lavanderia de Zé Dirceu, Marcelo Sereno e deste pústula que governa o Rio, Sérgio Cabral! Há quatro anos, o braço direito de Zé Dirceu, Marcelo Sereno, adquiriu na bacia das almas a Refinaria de Manguinhos. A refinaria que pertencia ao grupo Peixoto de Castro estava falida e tentavam vendê-la a qualquer preço.
Agora, o “desgovernador” Sergio Cabral anunciou a desapropriação da refinaria entre 170 e 200 milhões de reais, na maior operação de lavagem de dinheiro nunca antes vista no Brasil!
O grupo integrado por José Dirceu e  Marcelo Sereno comprou a refinaria por R$ 7 milhões e a desapropriação custará quase TRINTA VEZES  o valor da aquisição, em menos de quatro anos!!!
Um pequeno lucro que as benesses do poder concederam ao ex-chefe da Casa Civil, que ele entendia como sua, lógico!
Com a palavra os defensores do mensalão e, especialmente, do quadrilheiro Zé Dirceu e sua mente diabólica para enganar incautos e incultos brasileiros que ele é um homem “íntegro”!
Ele “integra” bandos de criminosos e ladrões e efetivamente não é uma pessoa confiável!

RELEVANTE VALOR SOCIAL É O CAZZO!



Giulio Sanmartini
Há poucos menos de seis anos, no dia 6/11/2006, um sorridente e tranqüilo Delúbio Soares, estava em sua fazenda, comprada não se sabe como, festejando seu 57° aniversário. Aí resolveu dar uma de adivinho, garantindo que passado  o tempo, o mensalão se reduziria a uma alegre e inócua piada de salão.
Todavia, a dosimetria da pena que levará o comparsa Marcos Valério a passar um bom período encarcerado, serviu de aviso para o chefão José Dirceu e seus lugares tenentes, José Genoino e  o próprio Delúbio que a trio terá o mesmo destino.
Na foto pode-se ver um Dirceu irritado que cobra de Delúbio a tal piada de salão que o outro, por mais esforço que faça  não consegue lembrar.
Mas o advogado de Dirceu, José Luiz de Oliveira Lima, resolveu esse problema, ao criar uma historinha realmente hilariante e obscena. Ele vai apelar para o artigo 66 do código penal que reza: “A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei”.
Portanto será enviado um memorial ao Supremo Tribunal Federal STF, que tentará comprovar  “relevante valor social” do réu. Esse argumento provoca frouxos de risos, pois estabelece  que atos terrorista, assaltos e seqüestro de pessoas, sejam atos de relevante valor social.
Oh! Dirceu, não adianta chorar, a nega ta lá dentro.

Saiba como usar o seu FGTS para comprar um imóvel



Postado por: Redimob  |  26/10/2012 10:12:11
Fonte: Terra


Há quatro formas de usar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) com imóvel residencial: para dar entrada na compra de um novo ou usado, para abater a dívida, zerar o saldo devedor ou pagar parte de cada parcela do financiamento.
O saque, porém, está vinculado a uma série de regras da Caixa Econômica Federal. As principais estão ligadas ao conceito básico do FGTS - estar voltado para moradia:
- É necessário ter contribuído por ao menos três anos para o Fundo, mesmo que não sejam consecutivos;
- O imóvel não deve custar mais de R$ 500 mil;
- O comprador não pode ter nenhum financiamento ativo no Sistema Financeiro de Habitação (SFH) nem ser dono de outro imóvel, concluído ou em construção;
- O dinheiro tem de ser usado num imóvel na cidade em que comprador mora.
- O recurso tem de ser aplicado na aquisição de um imóvel residencial ¿ não pode ser comercial, não pode ser reforma ou ampliação e não pode ser terreno que não esteja vinculado à construção imediata de uma casa.
Mesmo cumpridos esses requisitos, se você já tem o dinheiro da entrada e quer usar o FGTS para amortizar, liquidar ou pagar parte do valor das prestações, a Caixa impõe algumas regras.
O financiamento tem de estar no nome do trabalhador, e o contrato deve estar oficializado em cartório de registro de imóveis - como o nome de todos os envolvidos na compra.
Para diminuir ou zerar o saldo devedor, é necessário estar com as prestações do financiamento em dia e não ter usado o FGTS para nenhum fim nos últimos dois anos.
É possível ainda reduzir em até 80% o valor de cada parcela, num limite de 12 consecutivas (pode-se incluir aí até três prestações em atraso). Ao fim de um ano, há a possibilidade de solicitar novamente o abatimento - e novamente com o limite de 12 mensalidades seguidas. O processo pode se repetir, sempre com novas consultas à Caixa, até que seja sacado todo o Fundo.
Custos
Se o financiamento foi obtido num banco que não seja a Caixa Econômica Federal, o comprador do imóvel terá de pagar taxas para usar o FGTS - os encargos, que incluem os custos de intermediação da Caixa, variam de R$ 250 a R$ 1.350, dependendo do valor do imóvel.
Nas operações financiadas pela Caixa, não há desembolso extra - somente as taxas do próprio financiamento

Livre pensar é só pensar (Millôr Fernandes)



Defesa alega ‘valor social’ de José Dirceu na tentativa de reduzir pena


Advogado do ex-ministro de Lula encaminha novo memorial ao Supremo



José Luís Oliveira Lima, advogado de José Dirceu, e Antonio Carlos de Oliveira Castro, o Kakay, advogado de Duda Mendonça, conversam na entrada do plenário do STF
Foto: O Globo / André Coelho
José Luís Oliveira Lima, advogado de José Dirceu, e Antonio Carlos de Oliveira Castro, o Kakay, advogado de Duda Mendonça, conversam na entrada do plenário do STFO GLOBO / ANDRÉ COELHO
BRASÍLIA - Em novo memorial encaminhado ao STF, a defesa do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu apelou ao passado político do petista para buscar reduzir a pena a ser estabelecida pelos ministros do tribunal. Dirceu foi condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha. José Luis Oliveira Lima, advogado de Dirceu, argumenta no documento que seja considerada a vida pregressa do réu e que se considere como atenuante atitudes de "relevante valor social", como prevê o Código Penal. O memorial cita a participação de Dirceu no movimento estudantil, seu enfrentamento contra a ditadura militar, sua prisão e banimento do país, a fundação do PT e eleição para vários mandatos parlamentares.
"A análise dos fatos relevantes da vida de José Dirceu se inicia na década de 60, quando era um dos líderes do movimento estudantil na luta contra um regime político violentíssimo, que desrespeitava inúmeras garantias individuais e fazia uso da tortura", diz o documento. E conclui:
"Independentemente de qualquer valoração política ou ideológica, é fato incontestável que José Dirceu atuou por décadas em prol de importantes valores de nossa sociedade, participando corajosamente do movimento estudantil que lutava contra o regime militar, atuando com destaque na fundação de relevante partido político e, ainda, exercendo mandatos parlamentares com grande comprometimento e reconhecimento".
No caso da corrupção ativa, a defesa reivindica a pena mínima de um ano, prevista no Código Penal, antes da vigência da lei nova, de novembro de 2003 sobre esse tipo de crime. Pela lei "velha", a pena vai de 1 a 8 anos. Pela "nova", é previsto para corrupção ativa pena de 2 a 12 anos. A defesa de Dirceu diz que todos os fatos envolvendo o petista teriam ocorrido e, se encerrado, em 2003, entre agosto e setembro, quando foram votadas as reformas da Previdência e a Tributária. "A denúncia afirma taxativamente que todos os parlamentares já estavam corrompidos nos dias 27/08/2003 e 24/09/2003. Essas datas, conforme acusação aceita por esta Corte, ilustram o apoio político prestado após o aludido oferecimento da vantagem indevida".

Tom Jobim interpreta Caminho da Mata



Tom Jobim

Ouça Caminho da Mata, de Tom Jobim

Os mensaleiros venceram, por Guilherme Fiuza



Guilherme Fiuza, O Globo
O Brasil continua assistindo ao julgamento do mensalão como um filme de época. O STF está prestes a dar as sentenças, e o público aplaude a virada dessa página infeliz da nossa história, quando a pátria dormia tão distraída etc. O problema é que a pátria continua dormindo profundamente.
José Dirceu, o grande vilão, o homem que vai em cana condenado pelo juiz negro, nesse duelo que faz os brasileiros babarem de orgulho, não é um personagem do passado. Está, hoje mesmo, regendo o PT no segundo turno das eleições municipais. Ainda é a principal cabeça do partido que governa o país.
E o eleitorado não está nem aí. A campanha de Fernando Haddad em São Paulo é quase uma brincadeira com o Brasil. Um candidato inventado por essa cúpula petista que só pensa naquilo (se pendurar no poder estatal) consegue uma liderança esmagadora no segundo turno.
O projeto parasitário de Dirceu, que tem Lula como padrinho e Dilma como afilhada, pelo visto não vai sofrer um arranhão com a condenação no Supremo. O eleitor não liga o nome à pessoa.
Fernando Haddad foi um sujeito inexpressivo de boa aparência colocado no Ministério da Educação para fazer política. Sua candidatura é a menina dos olhos de Lula, mais um plano esperto dessa turma que descobriu que pode viver de palanque sem trabalhar.
O fenômeno Haddad conseguiu bagunçar a vida dos vestibulandos por três anos seguidos, com erros primários no Enem, típicos de inépcia e vagabundagem. Se fosse no Japão, o então ministro teria se declarado humilhado e se retirado da vida pública. No Brasil, vira um “quadro” forte da política.
Haddad fez com a pobre educação brasileira o que o PT sempre faz no poder: marketing do oprimido. Defendeu livros didáticos com erros de português, tentou bajular os gays com cartilhas estúpidas, fez demagogia progressista com o sistema de cotas. Enquanto os estudantes se esfolavam no Enem, ele estava nos comícios de Dilma para presidente.
Tudo conforme a lógica mensaleira da agremiação que governa o Brasil há dez anos: usar os mandatos para garimpar votos e arrecadar fundos (para pagar os Dudas lá fora, o que o Supremo já disse que está OK).
O ex-ministro Haddad é filho dos mentores do mensalão, assim como os ministros do STF Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli. Nunca se viu espetáculo tão patético na esfera superior do Estado: dois supostos juízes usando crachá partidário e obedecendo às ordens do principal réu. Contando, ninguém acredita.
Esse sistema desinibido de prostituição da democracia vai de vento em popa, porque a pátria-mãe tão distraída resolveu acreditar que a vida melhorou porque Lula é (era) pobre e porque Dilma é mulher.
O Brasil não faz mais questão de nada: nem a entrega do “planejamento” da infraestrutura à quadrilha Delta-Cachoeira comoveu os brasileiros.
O prefeito Eduardo Paes disse que o Brasil está jogando fora a chance de se organizar, e o ministro dos Esportes ficou zangado. A turma do maquinário detesta quando alguém lembra que eles não trabalham.
O ministro Aldo Rebelo é companheiro de partido do seu antecessor, o inesquecível Orlando Silva, rei das ONGs. Nas mãos do PCdoB, o Ministério dos Esportes estava aproveitando a Copa do Mundo no Brasil para montar seu pé-de-meia companheiro — o que é absolutamente normal, dentro da ética mensaleira.
Aí surgem as manchetes intrometidas e Dilma tem que encenar a faxina, a contragosto, cobrindo de elogios o companheiro decapitado e entregando a boca para um colega de partido.
Assim é em todo o primeiro escalão do governo, mas eles ficam muito chateados se alguém lembra que esse esquema malandro não serve para organizar o país para uma Copa, para uma Olimpíada ou para um futuro decente.
Enquanto a pátria continuar dormindo e sonhando com o heroísmo de Joaquim Barbosa, a república mensaleira seguirá em frente. Ninguém deu a menor bola para o escândalo denunciado pelo ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence.
Dilma Rousseff aproveitou o espetáculo no Supremo e cortou a cabeça dos dois conselheiros “desobedientes” da Comissão de Ética da Presidência. Marília Muricy e Fábio Coutinho ousaram reprovar a conduta dos ministros companheiros Carlos Lupi e Fernando Pimentel.
A presidente teve que demitir Lupi, que transformara o Ministério do Trabalho numa ação entre amigos do PDT — partido que o demitido continua comandando, em apoio ao governo popular.
Mas Pimentel, com suas milionárias consultorias fantasmas, vendidas graças aos seus belos olhos de amigo da presidente, continua vivendo de favor no Ministério do Desenvolvimento.
Um dia já houve a expectativa de que Marcos Valério, uma vez apanhado, abriria o bico. Hoje o bico de Valério não vale mais um centavo. O golpe já foi revelado, e a real academia mensaleira continua comandando a política brasileira. Testada e aprovada pelo povo.