sábado, 28 de dezembro de 2013

A Copa das utopias - ALBERTO DINES

GAZETA DO POVO - PR - 28/12

Em matéria de balanços e retrospectos anuais, a Economist surpreendeu novamente ao oferecer aos céticos e estressados espalhados pelo mundo nova e alentadora avaliação. Otimista, esperançosa – eminentemente jornalística –, a nova aferição é plural, premia apenas os grandes coletivos. Com isso, diz o último editorial do ano numa estocada na decadente competidora (a americana Time), evita-se celebrar, como o Homem do Ano, um tirano como Vladimir Putin (2007) ou um satânico Adolf Hitler (1938).

Focado em façanhas e fenômenos econômicos, o secular jornal (como orgulhosamente se classifica) despreza de forma ostensiva a deletéria econometria com seus enganosos arranjos, índices e rankings numéricos. Escapa assim de nomear o Sudão do Sul como campeão do PIB – aumento esperado de 30% em 2013, por causa de uma queda de 55% no ano anterior.

A preferência – evidentemente política – procura escapar de eventuais armadilhas da realpolitik caso a Ucrânia recebesse o galardão em detrimento do seu povo gelando nas ruas de Kiev para derrubar o caudilho Viktor Yanukovich, sobrevivente da “revolução laranja” contra suas fraudes eleitorais.

O critério básico para a escolha do “País do Ano” são as inovações capazes de inspirar outras nações e, assim, pelo exemplo e emulação, melhorar o mundo. A palavra não é mencionada para evitar preconceitos, mas este campeonato criado pela Economist pela primeira vez na história do jornalismo destina-se a escolher a “Utopia do Ano”: o Uruguai.

Chamada de “Suíça do Atlântico Sul” na primeira metade do século passado, esmagada por dois gigantescos vizinhos e arrasada por uma feroz ditadura militar que se alongou durante 12 anos, voltou a ser uma nação econômica e politicamente sólida, social-democrata, secular, imunizada contra os delírios infantis que campeiam à volta.

O presidente José Mujica ficou preso 14 anos e, depois de libertado, tal como Mandela, soube estimular a conciliação e a reconciliação. No Brasil, a simplicidade e o encanto do estadista uruguaio manifestam-se quando vai de sandálias a uma solenidade oficial, com as unhas malcuidadas à mostra. Já os jornalistas da Economist preferem louvar a sua humildade ao considerar como “experiência” a avançada legislação recém-aprovada que legaliza e regula a produção, distribuição e consumo da maconha, uma formidável reversão no combate ao crime organizado.

O respeito internacional não se adquire em showrooms internacionais: esta é a mensagem embutida na escolha do Economist. A passarela de Davos, na Suíça, não fabrica admirações, nem consagra lideranças. Carisma é algo que vem de dentro, está no olhar, no gesto, na entonação, mesmo quando não se entende o que está sendo prometido ou sonhado.

A redação da Economist lançou no mercado das percepções uma nova Copa do Mundo. E o Uruguai nos bateu novamente.

Além dos caças - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 28/12

Eduardo Brick, especialista do Núcleo de Estudos de Defesa, Inovação, Capacitação e Competitividade Industrial da Universidade Federal Fluminense, em vez de comemorar ou criticar a compra dos novos caças Gripen suecos pela Aeronáutica, prefere uma visão pragmática e de longo prazo. Por mais paradoxal que a afirmação possa parecer, diz ele, essa decisão não será importante para a defesa do Brasil nos próximos 20 anos, e sim para daqui a 30 a 50 anos.

Nesse raciocínio, o país simplesmente não tem no momento recursos humanos, tecnológicos, industriais e financeiros para se opor a eventuais ameaças. Mas pode aproveitar a oportunidade para desenvolver sua Base Logística de Defesa (BLD). Esse, diz ele, pode ser um dos principais benefícios da escolha do Gripen - a ampliação da capacitação industrial e tecnológica não só da Embraer como de muitas empresas de sua cadeia produtiva em produtos cuja tecnologia o Brasil ainda não domina.

Portanto, Eduardo Brick acha que o planejamento de hoje deve visar, prioritariamente, a um horizonte mais longínquo, não importando se o Gripen não é uma das mais eficazes armas existentes hoje. O que importa é que essa aquisição pode ser um importante instrumento para o Brasil se capacitar para conceber e desenvolver aeronaves de combate amanhã.

Do ponto de vista de desenvolvimento econômico e social, a BLD, apesar de sua finalidade precípua não ser essa, ressalta Brick, é instrumento importantíssimo de política industrial, por vários motivos:

A) Atua no limiar do desenvolvimento tecnológico;

B) Políticas industriais de conteúdo nacional para defesa são necessárias por questões de garantia de suprimento de itens críticos (que são cerceados pelos países que detêm essas tecnologias) e não oneram a economia como um todo.

C) A capacitação industrial construída tem uso dual. Ele cita o exemplo da Embraer, que, após décadas procurando se capacitar com produtos de uso militar, conseguiu desenvolver jatos comerciais e ser importante ator no mercado internacional de produtos civis.

Para o especialista da Universidade Federal Fluminense, a defesa nacional na era pós-industrial depende de dois instrumentos fundamentais: as Forças Armadas (FFAA) e a Base Logística de Defesa (BLD) . A construção de qualquer uma delas é uma tarefa de décadas, mas a criação da BLD pode ser mais difícil devido à aceleração do desenvolvimento tecnológico, que causa obsolescência rápida de qualquer produto de defesa.

Portanto, diz Brick, não é sensato, nem financeiramente exequível, manter grandes estoques de produtos de defesa, exceto, evidentemente, se houver iminência de conflito, mas, sim, de capacidade industrial para inovar continuamente.

A Estratégia Nacional de Defesa define, muito apropriadamente, diz ele, que a construção e sustentação de uma BLD adequada às necessidades brasileiras são um dos seus eixos fundamentais. Não se pode esquecer, ressalta Eduardo Brick, que o Gripen é apenas um projeto de cerca de R$ 11 bilhões, em um programa de R$ 1 trilhão, valor estimado para o Plano de Articulação e Equipamentos de Defesa (Paed), em 20 anos.

Na sua avaliação, com a atual estrutura de governança da BLD brasileira, o país corre um sério risco de sofrer um apagão de gestão se o orçamento aumentar, e o Paed realmente deslanchar. Há nada menos que seis ministérios envolvidos, numa estrutura caótica .

No caso de recursos humanos, a necessidade monta a vários milhares de profissionais, principalmente engenheiros, altamente qualificados e experientes em definição de requisitos e especificações, teste e avaliação de sistemas, gestão de projetos complexos, negociação de contratos, entre outras coisas.

Inventores de guerras - DEMÉTRIO MAGNOLI


FOLHA DE SP - 28/12

A linguagem do 'conflito étnico' é arma eficiente no arsenal de elites políticas com interesses próprios


"Eu não acredito em conflito étnico! Os grupos que atuam no Congo agem como criminosos por interesses próprios de poder e dinheiro." Carlos Alberto dos Santos Cruz não é antropólogo, mas general. Contudo, a sentença do comandante brasileiro das forças de paz no leste do Congo, proferida dois meses atrás perante 15 embaixadores das potências do Conselho de Segurança da ONU num morro exposto ao sol escaldante, deveria ser inscrita, como um alerta, nos manuais universitários. Nela, encontra-se a chave para decifrar a violência não apenas no Congo, mas também no Sudão do Sul.

Segundo a narrativa convencional, o país é vítima de um conflito étnico entre os nuers, liderados pelo vice-presidente afastado Riek Machar, e os dinkas, representados pelo presidente Salva Kiir. Nessa forma de contar a tragédia, as noções de "tensão étnica" e "ódio étnico" emergem como dados da natureza: no fim das contas, imaginamos, as coisas são assim mesmo nesses lugares bárbaros... Ninguém registrou, entretanto, que os protagonistas principais do conflito --os dinkas-- foram inventados como etnia separada menos de um século atrás, pela engenharia social do colonialismo britânico.

Tudo começou como um equívoco de um explorador europeu que, incapaz de entender a língua local, tomou o nome de um dos chefes tribais por denominação genérica de um povo, reunindo clãs distintos na "etnia" dinka. Depois, na década de 1920, enquanto missionários cristianizavam os nativos, regulamentos da autoridade britânica organizaram o Sudão Meridional em distritos administrativos de base étnica. A política colonial tinha a finalidade de separar fisicamente a população islamizada do norte sudanês dos grupos agropastoralistas do sul, traçando um limite para a influência árabe-muçulmana no vale do Nilo. Nela, encontram-se as sementes das duas guerras civis sudanesas que devastaram o país durante meio século, até a secessão negociada do sul, em 2011.

Os dinkas passaram a agir como uma comunidade étnica na hora da independência sudanesa, em 1956, por oposição ao regime pró-egípcio instalado em Cartum, e continuaram a fazê-lo nas guerras civis subsequentes. Nesse curto intervalo histórico, inventaram-se tradições imemoriais, descreveu-se uma cultura étnica específica e cultivou-se a crença de que Deus atribuiu aos dinkas a missão de governar a porção meridional do Sudão. O conceito de "identidade étnica", estranho aos grupos que habitavam essa região do Nilo Branco no momento da colonização, converteu-se em ferramenta de coesão de uma elite que almeja controlar o aparelho estatal do Sudão do Sul.

Max Weber, que morreu em 1920, compartilhava o dogma de sua época sobre a existência de raças humanas. Contudo, não caiu no conto naturalista da etnicidade. Seu argumento era que a etnia origina-se da crença numa ascendência comum. Essa abordagem abriu-lhe a vereda para examinar as consequências de tal crença sobre as ações políticas individuais e coletivas. Mais tarde, sociólogos e antropólogos analisaram os processos de construção política da etnicidade em diferentes contextos sociais. O general Santos Cruz está certo: a linguagem do "conflito étnico" é uma arma eficiente no arsenal de elites políticas com "interesses próprios de poder e dinheiro".

O leste do Congo não é Ruanda, que não é o Sudão do Sul --e, evidentemente, nenhum desses lugares se parece com o Brasil. Mas deveríamos prestar maior atenção nesses conflitos distantes, aprendendo alguma coisa com a "pedagogia da etnia" que, aplicada ao longo de décadas, ensinou as lições da identidade, da diferença e do ódio aos dinkas, aos hutus e aos tutsis. Sob o influxo das políticas de raça, nossas universidades e escolas incorporaram a linguagem envenenada dos inventores de guerras. O MEC tem razão: precisamos olhar mais para a África.

2014, o ano que não será novo - PAULO PAIVA

O Estado de S.Paulo - 28/12

O fim de ano sempre traz um clima de otimismo. Seria de esperar o mesmo para a economia brasileira em 2014. Enfim, assim tem sido nos últimos anos, comparando as estimativas do relatório Focus das últimas semanas do ano findo com o desempenho da economia no ano seguinte. Existem ainda outras razões para otimismo. O cenário internacional indica tendência de recuperação da economia americana. A economia europeia caminha para sua recuperação e muitas das economias asiáticas manterão níveis relativamente elevados de crescimento. Não há sinais de crises relevantes no cenário internacional.

Internamente, há expectativas de eventos que poderiam contribuir para um crescimento maior da economia. São exemplos os impactos da Copa do Mundo sobre as atividades da cadeia produtiva do turismo em todas as suas dimensões e das concessões já realizadas e programadas para a infraestrutura. Ademais, como será um ano de eleições gerais, espera-se, como comprova a história, aumento dos gastos públicos nas três esferas de governo, o que poderia adicionar alguns pontos porcentuais na combalida economia. Também, por ser ano eleitoral, o governo não deverá apertar a política monetária para conter a aceleração da inflação. Ao contrário, manterá todos os estímulos à expansão do consumo, visando a garantir baixo o desemprego e alta a avaliação popular do governo.

Esse quadro de otimismo contrasta com a realidade. No final deste ano as previsões para o crescimento em 2014 são as mais baixas dos últimos cinco anos. As estimativas do mercado não passam de 2%, sugerindo crescimento mais baixo que em 2013. Ronda o País a possibilidade de um rebaixamento da avaliação das agências de rating, com o olho na deterioração das contas públicas e no desmonte do tripé de política macroeconômica. O desequilíbrio fiscal continuará em 2014. Suas principais causas (crescimento do salário mínimo, aumento do emprego e salários no governo e desperdício nos gastos públicos) não serão enfrentadas em ano eleitoral. O superávit primário continuará sendo uma ficção da contabilidade criativa. Dificilmente haverá espaço para o governo usar os gastos públicos para estimular o crescimento econômico, como observou Affonso Pastore em artigo neste jornal (10/11).

O programa de concessões não tem atraído investimentos externos. Ao contrário, o modelo adotado compensa a baixa taxa interna de retorno com financiamento subsidiado do BNDES, que utiliza recursos transferidos pelo Tesouro, resultando em aumento da dívida pública. A expansão das concessões é, assim, limitada e tem efeitos negativos sobre o equilíbrio fiscal. Ademais, o ciclo de investimentos em infraestrutura indica que as concessões realizadas este ano não impactarão a economia em 2014. Elaboração de projetos, aprovação de licença ambiental e negociação de financiamento com o BNDES serão necessárias para o início das obras. Os impactos positivos somente virão nos próximos governos.

Sobra, então, a possibilidade dos efeitos da demanda aquecida. Como o desemprego é baixo, o crescimento da economia depende do aumento da produtividade, que, por sua vez, deriva da elevação do grau de escolaridade da mão de obra, da inovação e do uso de novas tecnologias. Nada que aconteça no curto prazo.

Assim, não há razões para esperar variação mais alta do PIB em 2014. Será a inflação que tenderá a crescer pelas mesmas razões que tem crescido em 2013: pressão dos preços de serviços e alimentos. Sem desemprego e com os impactos da Copa na expansão do consumo, o governo continuará a fazer uso do controle dos preços administrados, como energia, gasolina, diesel, transportes urbanos, etc., para conter o nível de inflação próximo ao limite superior da meta. Como será ano eleitoral, só sobrarão promessas: do governo, anunciando novos investimentos e concessões, e da oposição, oferecendo mudanças e prosperidade fáceis aos eleitores. A economia, no melhor cenário, seguirá como em 2013. Não haverá 2014. Para o reencontro com a realidade, aguarde por 2015, se puder.

Um Brasil bolivariano? - ARMANDO CASTELAR


CORREIO BRAZILIENSE - 28/12

Ao longo deste ano, diversas vezes me perguntaram se via alguma chance de o Brasil seguir por um caminho bolivariano, como o da Argentina e o da Venezuela. A pergunta em geral traduz certa ansiedade com a economia do país, por conta de indicadores ruins de crescimento e inflação.
Parte da dificuldade em lidar com essa questão é que nem todos têm a mesma visão do que é o modelo bolivariano. Muitos parecem preocupados com o risco de uma alta da inflação, com a concomitante intervenção nos institutos de pesquisa de preços, como ocorreu na Argentina com o Indec, o IBGE de lá.

Como se sabe, a inflação oficial na Argentina é de 10%, enquanto a inflação real supera os 25%. Isso não ocorre no Brasil, mas por aqui também há uma distância entre a inflação dos preços livres (7,3% nos últimos meses) e a dos preços controlados pelo governo (1%), o que mascara a inflação real. Isso vai continuar em 2014, com a decisão de adiar o aumento da energia elétrica para depois das eleições.
Nas contas públicas há o número oficial e aquele que o mercado utiliza. Até nas contas externas há dificuldade de conhecer o número real, devido a só em 2013 se registrarem importações ocorridas em 2012.

Também há gente preocupada com a crescente divisão entre uma América Latina do Pacífico e outra do Atlântico e a percepção de que estamos cada vez mais nos alinhando com esta última. A Aliança do Pacífico, um acordo comercial do qual participam Chile, Colômbia, México e Peru, e ao qual devem se associar Costa Rica e Panamá, compreende o primeiro grupo. Esses países têm economias abertas, inflação baixa, bom ambiente de negócios, atitude amigável em relação ao capital estrangeiro e crescimento do PIB que é o dobro do nosso.

A parte "atlântica" da América Latina congrega os países do Mercosul, que inclui a Venezuela e no qual pode entrar a Bolívia, além de Equador e Nicarágua. São países com políticas econômicas de má qualidade, economias fechadas, inflação alta, elevado intervencionismo estatal e baixo crescimento econômico.
Muita gente associa o bolivarianismo a uma opção ideológica, calcada na intervenção estatal na economia. O bolivarianismo é, porém, acima de tudo, pragmático. A sua essência está na disposição do governo de sacrificar os fundamentos econômicos e institucionais do país para se preservar no poder. Nesse sentido, o bolivarianismo é uma versão contemporânea do populismo latino-americano de meados do século passado.

O elemento central é gerar um aumento do consumo privado, via transferências, gasto público, preços subsidiados, aumentos reais de salários acima da produtividade etc. De um lado, isso é popular. De outro, pressiona a inflação, piora as contas públicas, aumenta o deficit externo, compromete a situação patrimonial do setor público e piora o ambiente de negócios.
Não creio que haja ilusões com relação a essas políticas levarem a uma deterioração da economia do país. Elas não são escolhidas por serem boas, mas porque geram votos no curto prazo. E, com os votos e a falta de alternância no poder, o governo domina as instituições e ganha controle sobre a narrativa do que acontece com o país. Não por outra razão, o controle da mídia é elemento tão central do bolivarianismo.

Esse controle é indispensável para a manutenção do modelo quando o bem-estar começa a cair, como resultado das más políticas. Exemplo é a narrativa do governo venezuelano de que a alta inflação no país é culpa da oposição e dos especuladores, a quem ameaça com a cadeia se subirem os preços. Há outros exemplos na Argentina, na Bolívia e no Equador.
Muita gente não acredita que o Brasil siga por esse caminho, por ter instituições mais fortes e imprensa mais livre e atuante. É um bom argumento. Mas ignora que, quando o bolivarianismo começou, a imprensa desses países também era mais livre e atuante, e as instituições, a começar pelo Judiciário, mais fortes do que são atualmente. Foi o bolivarianismo que as enfraqueceu, não a sua fraqueza que trouxe o bolivarianismo.
Se o Brasil algum dia seguir por um caminho bolivariano, o primeiro sinal disso não virá da economia. O alerta de que isso está acontecendo virá do esforço de controlar a narrativa sobre as causas de um mau desempenho econômico do país, de forma a evitar que esse leve a uma natural alternância política.

Bondades só para alguns - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 28/12

Qualquer consumidor conhece as práticas de promoções falsas do comércio, os tais descontos correspondentes "à metade do dobro do preço", feitos para pegar trouxas.

Nos espetáculos culturais e esportivos acontece o inverso disso. A maioria das pessoas é obrigada a pagar mais pela ampla distribuição de meias-entradas.

A presidente Dilma sancionou na quinta-feira, 26, lei que assegura meia entrada em espetáculos, cinemas, e eventos esportivos para idosos, estudantes e jovens comprovadamente carentes entre 15 e 29 anos.

Os cinemas, casas de espetáculos e estádios de futebol estão obrigados no Brasil a deixar disponíveis 40% dos ingressos para os beneficiários com meia entrada. Nas grandes cidades, pessoas idosas podem circular de graça pelo metrô, pelos trens e pelos ônibus.

Como já foi comentado por esta Coluna em 13 de julho deste ano, não há nada de especialmente errado nessas práticas, desde que empregadas com a devida moderação.

Os descontos a estudantes cumprem, também, a função de criar hábitos de desfrute de cultura e de esportes e, desse ponto de vista, interessam também às empresas de espetáculos e aos clubes esportivos. Em outros países também há descontos de tarifas para idosos em museus e certos eventos culturais. Mas aparentemente, o Brasil é, de longe, o campeão da modalidade.

A distorção começa e se amplia na medida em que se dissemina na sociedade a ideia de que para tudo ou quase tudo podem ser obtidas vantagens ou condições privilegiadas. Esse estado de espírito, derivado de uma concepção patrimonialista de Estado (o governo garante tudo), descamba para deformações em inúmeras outras situações. É o caso dos sistemas previdenciários (INSS e esquemas para servidores) que antecipam aposentadorias ou concedem grande número de pensões vitalícias. Também acontece quando o empresário julga sempre ter direito a subsídios e a reservas de mercado, ou quando o político acha normal usar aviões ou helicópteros pagos pelo contribuinte para levar a família à praia. Mais recentemente, verificou-se que o rombo do seguro-desemprego, num ano de quase pleno emprego, alcançou o recorde de R$ 47 bilhões (no período de 12 meses) porque a legislação facilita.

Esses proveitos, legítimos ou não, criam novas distorções. Os subsídios não se limitam a produzir efeitos apenas para os diretamente beneficiados por eles. Quase sempre se desdobram em subsídios cruzados pouco transparentes ou, então, geram deformações no sistema de preços relativos e condições de competição desleal entre setores.

Como a aritmética é inexorável, alguém tem de pagar por essas bondades. Normalmente sobra para aqueles que não conseguem se livrar da fatura. E quando fica difícil descarregar a conta sobre determinados segmentos da população, as raposas do sistema sempre acabam por aumentar impostos.

A autorização para que tanta gente rode de graça pelas cidades é uma das razões pelas quais as tarifas de condução urbana são tão altas. Como a porcentagem de estudantes e de idosos deve crescer no Brasil nos próximos anos, será inevitável, também, que a carga para os que pagam (ou deixam de ter receita integral) tenda a aumentar.

Os políticos não gostam de mexer em vespeiros eleitorais. Por isso, também não tomam a iniciativa para acabar ou, pelo menos, limitar a distribuição de tantas boquinhas.

Bagunça nos preços de energia - ADRIANO PIRES

O GLOBO - 28/12

Os mais novos prejudicados pela política de mais intervencionismo e menos mercado são as empresas do setor petroquímico, que usam a nafta como importante insumo



Há mais de uma década, o Governo vem promovendo uma bagunça nos preços da energia, através de subsídios para alguns energéticos, sem que haja uma lógica econômica ou planejamento na escolha dos “eleitos”.

No campo dos combustíveis, o Governo parece ter optado por eleger “preferidos nacionais”, como a gasolina, o diesel, o óleo combustível e o GLP, que vêm ganhando uma artificial competitividade, sem se importar com os “perdedores” como o etanol, o bunker para navio, o gás natural e o querosene de aviação. O gás natural, que compete diretamente com o óleo combustível e o GLP, vem perdendo competitividade, uma vez que seu reajuste de preço é vinculado ao mercado internacional. Isso vem provocando estagnação do mercado, impedindo investimentos no aumento da oferta e na infraestrutura de gasodutos, justo num momento em que o mundo inicia a era de ouro do gás natural.

O etanol se tornou inviável como combustível veicular, com o fim da Cide e a defasagem do preço da gasolina em aproximadamente 15% com relação ao mercado internacional em 2013. O resultado é a redução de investimentos e fechamento de usinas. O desalinhamento de preços da energia cria soluções econômicas absurdas, como a substituição do transporte de cabotagem por rodoviário de caminhão, em função da perda de competitividade do bunker, em relação ao diesel. O setor de aviação, também, se sente um patinho feio e se questiona por que só o setor automobilístico se beneficia com a política de preços dos combustíveis.

Os mais novos prejudicados pela política de mais intervencionismo e menos mercado são as empresas do setor petroquímico, que usam a nafta como importante insumo. Como a Petrobras vem enfrentando perdas no caixa para manter o diesel, a gasolina e o óleo combustível com preços artificialmente baixos, a estatal pretende incorporar os custos de importação da nafta, o que pode acarretar uma elevação de até 5% no preço do insumo.

O resultado desse intervencionismo nos preços da energia são devastadores para as empresas. No setor elétrico, a Eletrobras, ao aceitar a redução das tarifas, no processo de renovação de suas concessões, se descapitalizou, comprometendo a viabilidade financeira das suas coligadas como Furnas e Chesf. No resultado acumulado entre janeiro e setembro de 2013, o prejuízo é de R$ 787 milhões, que se compara a um lucro de R$ 3,62 bilhões registrado no mesmo período de 2012. A Petrobras passa por um verdadeiro calvário, caixa reduzido pela política de preços, endividamento crescente, queda brutal no valor de suas ações e tendo pela frente um ambicioso Plano de Negócios da ordem de US$ 240 bilhões para os próximos cinco anos. Tudo isso já causa preocupações em relação ao cumprimento de suas metas de produção de petróleo.

Os efeitos de longo prazo do abandono da racionalidade econômica em relação à política de preços da energia provocarão grande impacto no comportamento da economia brasileira nos próximos anos. Isso porque o sinal econômico dado por essa política populista e intervencionista leva as empresas a fazerem investimentos em tecnologias que consomem as energias, cujos preços são subsidiados. O resultado é um país que incentiva o transporte individual em detrimento do coletivo, é um país que beneficia as energias sujas e não as limpas, é um país rico em energia e que transforma esse insumo num fator de perda de competitividade para a indústria e promove apagões.

O modelo é feito de botox, maquiagem e remendos - ROLF KUNTZ

O Estado de S.Paulo - 28/12

Maquiagem, botox e remendos são os principais componentes do chamado modelo de crescimento em vigor há uma década, aperfeiçoado nos últimos três anos e pelo menos tão eficiente quanto a pedra filosofal procurada pelos alquimistas. Segundo se dizia, essa pedra, ou fórmula, poderia transformar em ouro metais menos valiosos. Com o tal modelo, o governo converteu um déficit primário de R$ 6,2 bilhões num superávit mensal de R$ 28,8 bilhões, um recorde. A mágica foi realizada basicamente com a inscrição de duas receitas atípicas - R$ 15 bilhões do bônus de concessão do campo de Libra, no pré-sal, e R$ 20,4 bilhões de pagamentos do novo Refis, o programa de parcelamento de impostos atrasados. Com esse resultado em novembro, a administração federal terá uma chance muito maior de fechar o ano com R$ 73 bilhões de resultado primário, o dinheiro destinado ao pagamento parcial dos juros da dívida pública.

As contas de novembro do governo central foram apresentadas pelo secretário do Tesouro, Arno Augustin, principal auxiliar do ministro da Fazenda, Guido Mantega, no setor de alquimia contábil. Mas o modelo composto principalmente de botox, maquiagem e remendo serve também para embelezar a inflação e as contas externas. Por sua aplicação variada, esse instrumento sintetiza as propriedades da pedra filosofal e do Bombril, o das mil e uma utilidades. O noticiário do dia a dia tem confirmado suas virtudes.

Neste ano o Brasil acumulou um superávit comercial de US$ 1,02 bilhão até a terceira semana de dezembro, segundo as últimas informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. No fim de novembro o saldo acumulado era um déficit de US$ 93 bilhões. O resultado continuou fraquinho nas duas semanas seguintes, mas na terceira foi registrada mais uma exportação de plataforma de exploração de petróleo e gás, no valor de US$ 1,15 bilhão. Pronto. De repente, a conta comercial passou do vermelho para o azul. Mas essa plataforma, como outras exportadas neste ano e em 2012, nunca deixou o País, porque a operação é meramente contábil e seu propósito é a geração de um benefício fiscal.

Neste ano, até a terceira semana de dezembro, as exportações dessas plataformas proporcionaram receita de US$ 7,73 bilhões, 351,41% maior que a obtida com o mesmo produto um ano antes. Terá sido um surto de sucesso comercial ou uma emergência na conta de comércio exterior? Outro detalhe notável: em 2013, essas plataformas foram a maior fonte de receita com as vendas externas de manufaturados.

Automóveis de passageiros apareceram em segundo lugar, com US$ 5 bilhões, e óleos combustíveis em terceiro, com US$ 3,46 bilhões. Em seguida apareceram partes e peças para veículos e tratores (US$ 3,1 bilhões) e aviões (US$ 3,02 bilhões). Mas todos esses produtos foram para fora. Muitos brasileiros devem ter voado, no exterior, em aviões da Embraer. Muito mais difícil será encontrar uma daquelas plataformas.

Sem essa operação quase milagrosa, o saldo comercial até a terceira semana de dezembro teria sido um déficit de US$ 6,71 bilhões. O resultado teria sido menos mau, é claro, se parte das importações de petróleo e derivados tivesse sido contabilizada - corretamente - em 2012, em vez de só aparecer neste ano (esta é mais uma bizarria das contas brasileiras). Mas esses produtos de fato foram comprados e chegaram ao País. Se essas compras tivessem entrado nas contas de 2012, o saldo comercial do ano passado teria ficado abaixo dos US$ 19,4 bilhões oficialmente registrados.

Problemas da Petrobrás, incluída a necessidade de importação de óleo e derivados, também têm relação com o uso do modelo de botox, maquiagem e remendo. Preços dos combustíveis têm sido politicamente contidos, há anos, como parte do esforço para administrar os índices de inflação (coisa muito diferente de combater as pressões inflacionárias). Essa política impôs perdas à empresa, reduziu sua geração de caixa e diminuiu sua capacidade de investir com recursos próprios. Além disso, prejudicou os investimentos na produção de etanol, porque a contenção dos preços da gasolina se refletiu na formação de preços do álcool. Depois de muita pressão, os novos dirigentes da Petrobrás conseguiram autorização para elevar os preços, mas em proporção inferior à necessária. A depreciação das ações da empresa, nas bolsas, é consequência dessa e de outras interferências políticas na administração da estatal.

O modelo de enfeite foi aplicado amplamente no esforço de controle dos índices de inflação. O governo forçou a redução das tarifas de eletricidade ao impor às concessionárias um novo esquema de renovação de contratos. Também manobrou para retardar os aumentos de passagens de transporte público e para anular, no meio do ano, os ajustes concedidos.

Esse esforço produziu algum efeito imediato. Os indicadores de inflação subiram mais lentamente durante alguns meses, mas a quase mágica logo se esgotou. Os índices de preços ao consumidor voltaram a aumentar cada vez mais velozmente a partir de agosto. O IPCA-15, uma espécie de prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo, a medida oficial de inflação, acumulou alta anual de 5,85% até dezembro. Se o resultado final do IPCA será igual ou inferior ao do ano passado (5,84%) só se saberá no começo de janeiro, quando conhecidos os números de todo o mês de dezembro. Mas, na melhor hipótese, a inflação será muito parecida com a do ano passado e as pressões continuarão fortes em 2014.

Nenhuma pessoa informada leva a sério o tabelamento de preços, o disfarce das contas externas e o enfeite das contas públicas. Operações atípicas podem gerar ganhos fiscais imediatos, mas corroem a credibilidade de quem governa. Com botox e maquiagem, alguns números ficam mais apresentáveis para os ingênuos. Paras os outros a cara do governo se torna cada vez mais disforme.

O General da Dilma - JORGE BASTOS MORENO

O GLOBO - 28/12

Que Mercadante, que nada! O queridinho da presidenta Dilma Rousseff agora é o ex-chefe de Logística do Ministério da Defesa e atual secretário Nacional de Defesa Civil, general Adriano Pereira Júnior.
Nestes dias, principalmente, com a chuva castigando metade do país, todas as informações são repassadas à presidente pelo general Adriano, que dá também a mesma atenção aos governadores das áreas atingidas.
Como comandante do Leste, o general participou ativamente dos últimos desastres climáticos do Rio e da desocupação das áreas comandadas pelo tráfico.
A cotação do general está tão alta que seu nome já foi especulado até para ser o comandante do Exército. Apesar de burocraticamente vinculado ao Ministério da Integração Nacional, que é a grande cobiça do PMDB, o general Adriano despacha diretamente com a presidente Dilma.
Duvido que o PMDB queira esse cargo. É só problema!

Pezão
Encontrei Pezão saindo do Complexo do Alemão em mais um dia de trabalho (ou campanha?).
Disse-me que estava muito mais entusiasmado do que antes, principalmente pela animação de Cabral, que ontem — ufa! — finalmente bingou o dia 31 de março como data de deixar o governo.
Cabral, na avaliação de Pezão, é a fênix da política: renasce das cinzas, sempre. Eu acrescento: e sempre pronto para outra.
Se bem que há uns dois meses que seus adversários não comemoram qualquer mancada sua.
Sérgio Cabral, como candidato a senador, quer criar uma grande caravana para percorrer o estado, incluindo na comitiva a ilustre presença do senador Francisco Dornelles.
No Senado, não há quem exerça o mandato com tanta dedicação.

Lindinho

Falei com Lindbergh quando este estava a caminho de Minas, onde passa a festa de fim de ano com a família.
Mal eu disse “alô”, e o candidato petista ao governo do Rio me detalha os planos para soluções de problemas crônicos do estado.
Lindinho fala como se já fosse governador.
Sua, já nem digo esperança, tranquilidade está no fato de ser ele a via entre a volta ao passado, com Garotinho, e a permanência de um presente cheio de altos e baixos.
Tudo bem que ele represente o novo, mas um novo que já aprontou no jardim de infância da administração municipal.
Isso não vai passar incólume.
E o novo não vai poder bater tanto no passado nem no presente.
O passado e o presente são futuros para a Dilma.

Furo
O Country Club é cheio de exigências para aceitar até as mais ilustres personalidades do Rio como sócios.
Mas a coluna acaba de descobrir a fórmula mais fácil para se entrar no fechadíssimo clube de bacanas.
Candidate-se e se eleja presidente da República.
É que, pelos estatutos, todos os ex-presidentes da República são sócios natos.
Se não frequentam, é porque não querem, viram Sarney, Collor, FH e Lula?!
( O que não faz a falta de notícia!)

Fado
Queixa-me ao telefone o Serra: como eu e metade dos homens acima dos 50, ele toma anticoagulantes, e um simples arranhão ou gengivite causa sangramentos desagradáveis.
( Não faço mais coluna em período sem notícia. O que você tem a ver com isso?)

Motivo
Mas o sangramento de Serra tem, sim, tudo a ver com a política, principalmente a paulista.
É só Aécio marcar encontro com ele, acontece hemorragia na boca do Serra.

Transição
Esperta é a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.
Já almoçou com todos os nomes especulados para suceder a ela.
Assim, quando o anúncio for feito, ela já terá passado o serviço para o sucessor.

Ano bom!
Feliz ano novo para Dilma, Marina Silva, Aécio Neves, Eduardo Campos e,
também, para o José Serra — a gente sempre se surpreende com ele. Muitas notícias em 2014!

Primeiro ato - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 28/12

A largada de 2013 dos tucanos está praticamente definida. Será em Curitiba, em 12 de janeiro, aniversário de 30 anos do primeiro comício pelas eleições diretas para presidente da República. Na época, o governador era José Richa, já falecido, então do PMDB, e um dos fundadores do PSDB, mesmo partido do seu filho e atual comandante do estado, Beto Richa. O prefeito de Curitiba era Maurício Fruet, pai do atual administrador da cidade, Gustavo Fruet, do PDT. E Tancredo Neves, avô do senador Aécio Neves, era aquele que, ao lado de Ulysses Guimarães, percorria o país em campanha para que a população pudesse escolher livremente seu comandante. Agora, são os filhos e neto pegando o bastão da democracia como um valor a ser arraigado na campanha de 2014.

Drible ao desgaste
A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, avisa que as licitações das ferrovias só saem depois que o Tribunal de Contas da União (TCU) der a palavra final sobre o modelo adotado pelo governo. “Eles têm sido parceiros e faremos em conjunto”, diz a ministra. Mais amistosa impossível.

Não escapa uma
A espera pelo parecer do TCU atingirá inclusive a Fico — Ferrovia de Integração do Centro Oeste, que está pronta para ser licitada. O que caminhará um pouco são os estudos sobre outros três ou quatro trechos. Moral da história: essa leva de licitações cairá lá pelo período eleitoral.

Queridinha
Perguntada sobre a decisão da ministra do TCU Ana Arraes, que acusou o governo de privilegiar a Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP), a ministra Gleisi se referiu ao trabalho feito pela empresa do antigo assessor de Antonio Palocci como “um sucesso”. A EBP é privada e, para quem não se lembra, foi citada em um relatório do TCU como detentora de informações e acesso privilegiado a dados governamentais que lhe permitiram arrematar vários projetos.

Sem perdão
A maioria dos parlamentares que comparece à Secretaria de Relações Institucionais por esses dias periga sair de mãos abanando. Muitos chegaram ali depois de o Ministério da Saúde dizer que não poderia liberar os recursos porque os municípios contemplados pelas emendas estavam incluídos no cadastro de inadimplentes. Nesse caso, não tem choro nem vela que dê jeito.

Previsões
Na confraternização de fim de ano com os jornalistas, o presidente do PMDB, Valdir Raupp (RO), apostou que o pastor Everaldo, pré-candidato a presidente pelo PSC, não terá 2% dos votos.

De castigo I
O vice-líder do governo, Luciano Castro, do PR de Roraima, era um dos dez parlamentares que faziam fila ontem na antessala da ministra Ideli Salvatti atrás das últimas emendas ao Orçamento. “Eles prometem e não cumprem. Aí, a gente fica aqui”, diz ele.

De castigo II
A coluna flagrou Luciano Castro na antessala antes do meio-dia. Por volta das 14h, ele continuava no mesmo lugar. “A fila aqui não anda. Continuo esperando.”

Liberados…
Quem recebeu tapete vermelho lá foi o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Foi atendido diretamente pela ministra, com direito a quase uma hora de audiência, enquanto a fila do lado de fora só aumentava. Vinte e dois parlamentares passaram pela Secretaria de Relações Institucionais ontem.

…e contemplados
Outro que saiu feliz e contente foi o deputado Cláudio Cajado (DEM-BA). Integrante da Comissão Mista de Orçamento, ele foi logo cedo e saiu com uma cara de felicidade de fazer inveja a outros que não tiveram a mesma sorte.

Água morro abaixo - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 28/12

A ação do governo para responder a tragédias naturais, como as enchentes no sul de Minas e no Espírito Santo, virou combustível na disputa eleitoral entre PT e PSB. O partido de Eduardo Campos acusa Gleisi Hoffmann (Casa Civil) de ter segurado desde março de 2012 a edição da medida provisória que acelera o repasse de recursos para combater desastres. A ministra nega que os estudos tenham começado no ano passado e diz que foram iniciados no segundo semestre deste ano.

Ataque 1 O líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), diz que Dilma Rousseff encomendou a MP após as enchentes na região serrana do Rio, no início de 2012. Em março, o ministro Fernando Bezerra (Integração), do PSB, teria enviado o estudo técnico para a Casa Civil.

Ataque 2 "A ministra Gleisi e a presidente Dilma devem uma explicação ao povo brasileiro sobre por que medida tão importante dormitou um ano e nove meses nos escaninhos da Casa Civil", diz o aliado de Campos.

Defesa 1 Gleisi Hoffmann nega que exista na Casa Civil qualquer estudo da Integração Nacional datado de 2012 sobre a MP. Segundo a ministra, o governo vem, desde 2011, agilizando o repasse de recursos antidesastres, por meio de várias medidas.

Defesa 2 Ela lista a criação do cartão que permite que prefeituras saquem em até 48 horas, sem firmar convênio, recursos para as primeiras medidas após tragédias, e a inclusão de convênios para reconstrução de cidades no RDC, o regime diferenciado de contratação.

Defesa 3 Gleisi diz, ainda, que os estudos para a nova MP, editada quinta-feira, começaram no início do segundo semestre, e que a demora de alguns meses se deveu a recomendações da Controladoria Geral da União.

Toma lá Na visita que fez ontem a Governador Valadares (MG), Dilma disse que foi à região a convite dos prefeitos, pois o governador Antonio Anastasia (PSDB) não pediu ajuda ao governo federal.

Dá cá Já aliados de Anastasia afirmam que a bacia do rio Doce, fortemente atingida pelas chuvas, foi indicada pelo governo do Estado em 2012 para receber recursos do Plano Nacional de Defesa Civil, mas não foi priorizada pelo Ministério do Planejamento.

A voz O ministro Aloizio Mercadante (Educação), cotado para assumir a Casa Civil no início do ano, ganhou na Esplanada o apelido de "Bigode Grosso", numa referência a Pedro Lima, participante do "The Voice Brasil" que tinha essa alcunha e foi para a final, mas não venceu.

Cult 1 Além da lei que regulariza o comércio ambulante de comida na cidade, o prefeito Fernando Haddad sancionou o projeto que amplia de 70% para até 100% o abatimento de imposto (ISS e IPTU) para quem patrocinar projetos culturais.

Cult 2 As condições do abatimento serão definidas por decreto. Estima-se que, caso a isenção seja total para as 24 categorias contempladas pela lei, a verba disponível chegue a R$ 800 milhões. Hoje, ela é de R$ 10 milhões.

Trégua "Parabenizo o prefeito por ter pensado mais na cidade do que nas questões partidárias", disse à coluna o vereador tucano Andrea Matarazzo, autor dos dois projetos de lei sancionados pelo prefeito petista.

A laço 1 Quase ninguém apareceu na reunião do Conselho Municipal do Meio Ambiente, na segunda-feira, que discutiu estudos de impacto ambiental das obras de terminais e corredores previstos no Mobilidade Urbana, projeto da prefeitura para melhorar o transporte público.

A laço 2 O quórum foi obtido no "estilo arrastão": funcionários e conselheiros foram levados ao local, de última hora, em uma van.

com ANDRÉIA SADI, BRUNO BOGHOSSIAN e JULIO WIZIACK

tiroteio
"A rebelião na Assembleia Legislativa do Maranhão copia a do presídio de Pedrinhas. O governo não controla nem um, nem outro."

DO DEPUTADO FEDERAL DOMINGOS DUTRA (SDD-MA), sobre a pressão de deputados estaduais por emendas, que quase travou a votação do Orçamento.

contraponto


Sambinha da paz
No jantar de confraternização dos deputados, ficaram na mesma mesa o ruralista Alceu Moreira (PMDB-RS) e Ivan Valente (PSOL-SP). Os dois protagonizaram um bate-boca na Câmara em outubro, na votação da PEC da demarcação das terras indígenas, que quase virou pancadaria.

Em dado momento Moreira se levantou e surpreendeu ao começar a cantar músicas do repertório do sambista Martinho da Vila, acompanhado por deputados de esquerda, como Jandira Feghali (PC do B) e Jean Wyllys (PSOL), ambos do Rio. Valente não se arriscou, mas aplaudiu.

--Provou-se que quem canta os males espanta! --disse o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN).

Uma mão lava a outra - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 28/12

Para evitar que o PP faça uma coligação com o PT na eleição presidencial, tucanos e socialistas acenam com o apoio à senadora Ana Amélia para o governo gaúcho. Alegam que a neutralidade viabilizaria um reforço político para enfrentar o governador petista Tarso Genro. O objetivo de Aécio Neves e Eduardo Campos é o de ter direito de usar o palanque eletrônico do PP nos estados.

Cardozo e Gleisi sob ataque do Cimi
O Cimi está divulgando na rede uma avaliação do sociólogo Maurízio Lazzaroto com críticas ao governo Dilma. Uma delas diz: "Desde março de 2013 nenhuma terra indígena foi demarcada e medidas foram adotadas no sentido de rever estudos realizados pela Funai". O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) é atacado por pressionar pela revisão da área Indígena Mato Preto (RS). A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) é censurada por "dar à Embrapa a incumbência de elaboração de laudos técnicos para se contrapor aos estudos de identificação e delimitação de terras da Funai". O Cimi é presidido pelo Bispo do Xingu, Erwin Kräutler.



"O eleitor cansou do Nós x Eles.
O PSDB virou freguês do PT. A única chance de ganhar da presidente Dilma somos nós"
Beto Albuquerque Líder do PSB na Câmara dos Deputados


Afinando a matraca
Conselheiro do tucano Aécio Neves, o deputado Bruno Araújo (PE), quer que o partido pare de dar murro em ponta de faca. Acha, por exemplo, improdutivo criticar o Mais Médicos. Ele afirma que "o programa tem o apoio da população". Além disso, para quem é atendido na ponta o debate sobre o regime de contratação dos cubanos não importa.

Nada de novo
Os políticos mais antigos não creem que a eleição mude a correlação de forças no Congresso. Preveem que o PMDB manterá o domínio no Senado. E na Câmara, mesmo elegendo a maior bancada, o PT dividirá o poder com o PMDB.

O ritual
A assessoria da presidência do STF explica que não há ilegalidade na transferência dos condenados do mensalão para Brasilia. "Os presos têm que se apresentar ao juiz que os prendeu", diz. E sustenta que não seria produtivo delegar a prisão para vários juízes e que direitos e benefícios de presos precisam ser analisados.

A plataforma de lançamento
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) fará do ato de governar o ponto alto de sua campanha. Sua agenda prevê inaugurações e entrega de obras. No campo político, quer manter os aliados mesmo quando estes apoiem a presidente Dilma.

Pescando no interior
Com base instalada na capital, os candidatos do PT, Alexandre Padilha, e do PSD, Gilberto Kassab, começam o próximo ano percorrendo o interior paulista, onde os tucanos sempre foram fortes. O petista também vai em busca de um vice.

Cavalgando a Fiesp
Presidente da Fiesp e candidato do PMDB ao governo, Paulo Skaf, vai rodar São Paulo no cargo até junho, quando deixa a entidade. Seus planos não descartam novas inserções comerciais na TV como no caso do IPTU da cidade de São Paulo.

O GOVERNO está recebendo relatos pelos quais os médicos cubanos estão mobiliando suas casas com presentes que recebem da população.

NOVO RODEIO - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 28/12

O restaurante Rodeio nos Jardins vai passar por reforma completa. A matriz, que funciona na esquina da Haddock Lobo com a Oscar Freire, terá a área de recepção ampliada e ganhará um bar maior e novos salões, fogareiros e banheiros. As obras começam no início do ano e serão realizadas por partes, de modo que a casa continue em funcionamento.

NOVO RODEIO 2
"Tudo será feito dentro de uma logística que não atrapalhe o dia a dia do restaurante", explica a proprietária Silvia Levorin. A previsão é inaugurar as novas instalações depois da Copa do Mundo. A responsável pelos trabalhos é a arquiteta Erlise Tancredi, que integrou a equipe de Isay Wienfeld no projeto do Rodeio do shopping Iguatemi.

ALUGA-SE
A unidade da Lanchonete da Cidade na rua Amauri, no Itaim, fechou as portas. Segundo Ricardo Garrido, sócio da empresa, o encerramento das atividades se deu "por incompatibilidade dos valores de locação do imóvel". As outras quatro lojas da rede continuam funcionando.

MÃO BOBA
A secretária municipal de Políticas para as Mulheres, Denise Motta Dau, levou à pasta de Transportes a ideia de instalar câmeras em ônibus para coibir assédio a passageiras em São Paulo. A proposta, que teve boa aceitação na equipe de Jilmar Tatto, prevê que os novos coletivos tenham equipamentos capazes de identificar os autores de ofensas a mulheres.

MENOS BRILHO
A Copa do Mundo de 2014 deixou este Natal de São Paulo menos iluminado. "As empresas estão segurando investimentos para o ano que vem por conta do Mundial e não apostaram na decoração natalina como nos anos anteriores", explica Marco Scabia, da Mix Brand Experience, empresa responsável por grandes projetos de iluminação em outros anos.

MENOS BRILHO 2
Segundo Scabia, 2013 é atípico, já que tradicionais patrocinadores ficaram de fora do Natal. Como não são contemplados pelas leis de incentivo, os projetos natalinos são 100% bancados com verbas de marketing. No Natal pré-Copa, a Mix foi contratada pela Prefeitura de SP para fazer a Praça de Natal na avenida Paulista e pelo shopping Center Norte para construir um Papai Noel de 20 m. No "Guinness", é o maior do mundo.

TÔ DE MAL
Cássia Kis e Cauã Reymond, que serão mãe e filho na minissérie "Amores Roubados", combinaram de não se falar fora de cena para incorporarem os personagens. "Foram quatro meses trabalhando o abismo que existia entre os dois. Ele [Cauã] pisou fundo. Fui desprezada e solenemente ignorada. Ele conseguiu me anular. Doeu para caramba", revela a atriz.

ELA É TOP, CAPA DE REVISTA
Aline Weber, 24, é a única modelo brasileira a figurar no Top 50 Models, ranking do site models.com, em 2013.

Foi a escolhida para um ensaio sensual para a revista "GQ" de janeiro. "Há dias em que me acho sexy, e em outros, não." Louríssima, ela conta que hoje se sente mais segura e se tornou menos ciumenta. A catarinense namora o modelo paulista Matheus Strapasson há oito anos.

TRABALHADO NO BRILHO
O designer de joias Raphael Falci reuniu amigos em almoço comemorativo de fim de ano, no restaurante Chez Oscar, nos Jardins. O estilista Marcelo Sommer, a designer Pietra Bertolazzi e o jornalista Ricardo Gaioso foram ao evento, que também contou com a presença da empresária Helena Linhares.

SORTE EM DOBRO
Leandro Hassum e Camila Morgado estiveram na pré-estreia do longa "Até que a Sorte nos Separe 2", que é protagonizado por eles e entrou em cartaz ontem. Kiko Mascarenhas e Rita Elmôr também atuam no filme dirigido por Roberto Santucci.

CURTO-CIRCUITO
A mostra "O Cinema de Maurice Pialat" termina amanhã, no CCBB-SP. Sessões a partir das 14h.

Boni será o homenageado do camarote da revista "Rio Samba e Carnaval" na Sapucaí em 2014.

A Prefeitura de SP recebe, em seu site, sugestões para o plano municipal de saúde LGBT até 17 de janeiro.

A Escola de Música de SP comemora 45 anos com programação na Praça das Artes de 20 a 31 de janeiro.

O Ecad recebeu seis certificações do Ibope aprovando as metodologias de amostragem usadas pelo órgão.

Quanto vale o show? - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 28/12

Roberto Carlos é, merecidamente, um sucesso, com agenda sempre cheia.
Veja só como anda o cachê do Rei. Um show seu custa cerca de R$ 3 milhões. Mas, se for em datas especiais, como réveillon, chega a R$ 6,5 milhões.

Alô, Rio!
São Paulo saiu na frente na organização de grandes eventos de exibição pública dos jogos na Copa.
A prefeitura quer fazer sete festas e negocia com a Fifa para conseguir equipamentos. Por enquanto, já acertou a doação de um telão de 120 metros quadrados, além de quatro telões de apoio, para a Fan Fest que
será realizada no Vale do Anhangabaá Por fim...
A Fifa anuncia em janeiro que está disposta a dar mais equipamentos para as cidades-sede realizarem exibições públicas dos jogos.
Dos mais de 20 patrocinadores da Copa, apenas sete (Coca-Cola, Oi, Ambev, Hyundai, Johnson &
Johnson, Itaú e Sony) apoiam estes eventos populares.

Sob o sol de Angra
FH e Aécio Neves estão descansando em Angra, no Rio.

Vida e obra
O acervo do saudoso clarinetista Paulo Moura (1932-2011), vai ser lançado na internet em fevereiro.
Após dois anos de trabalho, discografia, cartas, partituras e fotos foram digitalizadas e estarão disponível ao público de graça.

No mais
Sabe qual foi o assunto mais comentado, em 2013, no Facebook no Brasil? As manifestações de rua.
No mundo, o campeão foi o Papa Francisco.

Viva Búzios!
O arquiteto Jairo de Sender, num momento de distração, teve o seu iPhone roubado, quinta passada, às 18h, dentro de uma loja na Rua das Pedras, em Búzios, no Rio.
A polícia examinou o vídeo da câmera de segurança da loja e, acredite, seis horas depois o telefone foi localizado e entregue ao dono.

Lagoas limpas
O TJ do Rio cassou as liminares que impediam a Secretaria estadual do Ambiente de lançar o edital de licitação para revitalizar as lagoas da Barra e de Jacarepaguá.
O secretário Carlos Minc publicou ontem o novo edital. As obras vão custar R$ 640 milhões e devem começar em fevereiro.

Como se sabe...
Houve suspeita de fraude na licitação anterior. Cinco dias antes de a secretaria anunciar o consórcio vencedor, a revista “Época” adiantou o resultado.

Polícia na Baixada
A pacificação avança na Baixada. Depois de Caxias, Nova Iguaçu será a segunda cidade da região a ganhar uma companhia destacada da Polícia Militar.

Mais tecnologia
O Instituto Estadual do Cérebro, menina dos olhos do secretário Sérgio Côrtes, inaugurou ontem a sala híbrida cirúrgica com ressonância magnética, cuja tecnologia vai permitir que o exame de imagem seja realizado durante a cirurgia.
Coisa de Primeiro Mundo.

Calma, gente!
De um ambulante mal-humorado, na Praia do Pepê, na Barra, ontem, para um cliente que perguntou se a cerveja estava gelada:
“Se fosse pra vender quente, eu estaria vendendo café.”

Gal e o afilhado
Assim que encerrar, no início do ano, a turnê de Recanto, Gal Costa começa a trabalhar em um novo CD. E, de novo, ele terá produção de Moreno Veloso, seu afilhado.
Gal quer gravar jovens compositores e fazer um disco com som mais contemporâneo.

Mãos ao alto!
Acredite. Passar cinco noites durante o carnaval em um hotel na Praia dos Carneiros, em Pernambuco, pode custar até R$ 9 mil.
Já no Waldorf Astoria, em Nova York, no mesmo período, sai a R$ 3.027,00.

Cena carioca
Um policial militar que fazia ronda, outro dia, no Jardim São João, no Centro de Niterói, perdeu as estribeiras com uma mulher que buzinava insistentemente na sua frente e soltou esta:
“Vai lavar uma roupa.”
Parece machismo. E é. 

O fantasma que ronda a Argentina - LUIS MAJUL

O GLOBO - 28/12

Este é o pior fim de ano da última década. E não apenas para o governo, mas para a maioria dos argentinos. Quase todos os consultores que medem as expectativas sociais e medem as preferências dos eleitores o confirmam. Um deles, trabalhando para os líderes políticos de diferentes partidos e, em particular, por um dos candidatos presidenciais aspirante com mais chances para 2015, terminou de processar os dados de dezembro. Eles são terríveis.

Foram obtidas respostas de 1.100 argentinos em todo o país, não incluídos apagões e saques ocorridos até 14 de dezembro. Há um dado realmente assustador. Se denomina percepção da inflação. É o aumento do custo de vida “calculado” pelas pessoas. Para este 2013, superou 43%. E, para o próximo ano, os entrevistados acreditam que vá exceder 50%. Ou seja: muito além dos limites em que a inflação começa a se tornar incontrolável.

Mas isso não é tudo. Quando perguntados sobre a situação atual do país em comparação com os últimos três meses, 45% responderam “pior”, 40% “igual” e apenas 11% disseram que “melhor”. Com um pouco menos de pessimismo percebem a situação na própria casa: 28% acham que está pior, 50%, igual, e 17% enxergam melhoria. Mas as expectativas sobre o país, e sua situação doméstica, tendem a ser muito negativas para os próximos três meses.

Em outras palavras, é o quadro mais pessimista desde que a consultoria vem perguntando, há quase uma década: 28% disseram que a situação econômica e social vai piorar, 41% acham que permanecerá a mesma e 27% prevêem melhoria.

A imagem positiva da presidente está em colapso, apesar da decisão oficial de fazê-la aparecer apenas para comunicar uma “boa notícia”. Sua imagem despencou em pelo menos dez pontos percentuais.

Parece bastante claro, se você presta atenção nos resultados de pesquisas recentes, que a bala de prata que teria o novo chefe de gabinete, Jorge Capitanich, já foi disparada. E errou o alvo. Também está claro que o mau humor social aumenta com a percepção de casos de corrupção que a Justiça não condena.

Se a eleição para presidente fosse hoje, nenhum candidato governista, exceto Daniel Scioli, teria a menor chance de passar para o segundo turno. A pesquisa destaca primeiro Sergio Massa, com mais de 26%; em segundo, Daniel Scioli, com quase 19%; em terceiro lugar, Hermes Binner, com mais de 11%, e, em quarto lugar, Mauricio Macri, com quase 9% . Muito abaixo ficam Jorge Capitanich, com 5%, e Julio Cobos. E, em uma terceira etapa, aparecem José Manuel De la Sota, Florencio Randazzo, Sergio Urribarri, Jorge Altamira e Elisa Carrió.

Mas, além dos personagens, há outro grande dado econômico sobre os qual tampouco dá para ser muito otimista. É a distorção de preços relativos. A consultoria Melconian & Santangelo possui número contundentes. Analisa a inflação acumulada em dezembro de 2001 a novembro de 2013 e compara com outros preços. Registra uma grande confusão, um problema estrutural difícil de resolver. Entre 2001 e 2013, o nível geral de preços subiu 681%; a carne, 1.226%; alimentos em geral, 1.135%; o dólar oficial, 530%; o dólar paralelo, 875%; salário privado e formal, 902%; o salário informal, 758%; os combustíveis, 744%; pão, 824%; aluguéis, 350%; medicamentos, 294%, e, as tarifas, 144%.

Vejamos as tarifas. O transporte por ônibus, trem e metro aumentou 156%. E o gás, água e luz, apenas 120%. Isso explica, em parte, a falta de energia contínua ou, o que é o mesmo, a razão pela qual as distribuidoras de energia elétrica não investem. A resposta é óbvia: congelaram a margem de lucro por quase dez anos.

Se as tarifas na Argentina houvessem seguido o ritmo da inflação, nas casas mais pobres, de baixo consumo de energia, a conta de luz teria tido um aumento de 1.650%; para o consumidor pequeno-médio, 480%; para o consumidor médio-grande, aumento de 190%. Os únicos que estão pagando eletricidade pelo que se supõe que vale são alguns dos maiores consumidores, mas eles respondem por apenas 10% da demanda. E isso não é suficiente para os distribuidores decidirem fazer a infraestrutura necessária para evitar apagões.

A pergunta por trás da pesquisa de Melconian & Santangelo é a mesma que se fazem os mais próximos do governo e a maioria dos economistas com algum senso comum: como e em que contexto se vai harmonizar os preços? O ajuste será feito pelo governo que se vai ou por aquele que vai chegar? A rebelião policial nas províncias desencadeada pelos grandes atrasos salariais não deveria ser considerada uma demonstração do que pode vir a acontecer?

A história recente da Argentina mostra que uma distorção de preços como essa pode acabar em um “Rodrigazo”. O fantasma de um desfecho violento preocupa a cúpula da Igreja e o Papa Francisco. Alguns meses atrás, antes mesmo da operação de Cristina Kirchner, Jorge Bergoglio vinha falando com líderes políticos do governo e da oposição. Pedia a todos a mesma coisa: que orem por ele e façam todo o possível para que esta Argentina cada vez mais pobre e mais injusta não termine em um banho de sangue.

Via fantasma assusta aves - FERNANDO REINACH


O Estado de S.Paulo - 28/12

Fantasmas e almas penadas são invisíveis. Basta um barulho estranho numa noite escura para eles surgirem em nossa imaginação. Os pássaros não são diferentes, basta ouvir um ruído estranho e eles fogem. Para os pássaros, a alma penada é o ruído produzido pelas estradas, produto de nossa civilização. Os ecologistas desconfiavam que as estradas assustavam os pássaros, mas só agora, com a construção de uma estrada fantasma, puderam comprovar a exatidão de suas suspeitas.

É impressionante a quantidade de estradas que o homem construiu desde que descobriu a roda. Imagine que você coloque um alfinete em qualquer lugar nos EUA. Em 83% dos casos, ele vai estar a menos de 1 km de uma rua ou estrada por onde trafegam carros.

As estradas têm sido muito estudadas pelos biólogos. Sabemos que muitas espécies são atropeladas, paralisadas no meio da pista pelo ruído ou pela luz dos faróis. Mas essas são as espécies menos prejudicadas. Há animais terrestres que não ousam cruzar uma estrada asfaltada. Em alguns casos, o isolamento das populações de cada lado da estrada é tão radical que, aos poucos, as duas populações vão se tornando diferentes. Assim como Darwin observou que populações de pássaros isoladas nas diferentes ilhas do Oceano Pacífico deram origem a diferentes espécies, uma dia, talvez, tenhamos o lagarto do norte da Transamazônica e o lagarto do sul da Transamazônica.

Pássaros sobrevoam estradas sem problema, mas, como usam pios e trinados para se comunicar, os cientistas desconfiavam que o barulho das estradas alterava seu comportamento. Mas como estudar o efeito do ruído se as estradas estão próximas de habitações humanas, de fontes de luz e outras perturbações ambientais? A solução foi construir uma estrada fantasma.

Em uma reserva ecológica em Idaho, nos EUA, os cientistas escolheram um trecho de 500 metros na crista de uma longa montanha e colocaram 15 grupos de alto-falante ligados a amplificadores. Para abastecer de eletricidade o sistema foram usados grupos de baterias. Esses sistemas de som foram interligados de modo a garantir que havia uma fonte de som a cada 30 metros. A estrada fantasma, só detectada por nosso sistema auditivo, estava pronta.

Em seguida, os cientistas gravaram o som de carros passando por várias estradas e fizeram uma colagem das gravações. O som gravado foi tocado nos alto-falantes espalhados pela estrada imaginária. Sua intensidade e distribuição foram ajustadas cuidadosamente. O som era raro e esporádico durante a noite, aumentava de manhã, permanecia ao longo do dia e diminuía ao entardecer, tal como ocorre nas estradas verdadeiras.

O outono é a época de migração dos pássaros que passam pela região. Os cientistas já sabiam que os pássaros ficam menos de oito dias na reserva onde estava localizada a estrada fantasma. Por esse motivo, decidiram que a estrada operaria (teria som) por quatro dias seguidos e ficaria inexistente (sem som) por outros quatro dias. Isso se repetiu durante um período de três meses, entre 19 de agosto e 9 de outubro de 2012.

Durante esse tempo, um grupo de observadores, acampados no local 24 horas por dia, identificou e contou os pássaros que pousavam ao longo da estrada e nos seus arredores. Essas pessoas identificavam os pássaros visualmente ou pelo som e marcavam o local e a hora em que haviam observado o animal. Dessa forma foi possível determinar quantos pássaros de cada espécie pousava em cada ponto ao longo da estrada (e a que distância da estrada), em cada hora do dia e da noite. Comparando os dados obtidos nos dias em que a estrada estava presente (com barulho) com os dados dos dias em que ela estava ausente (silenciosa) foi possível avaliar em detalhes o efeito do ruído da estrada sobre os pássaros.

Foram observadas 59 espécies de pássaros ao longo da estrada, mas somente foram analisados os dados das 22 espécies mais frequentes. Dessas, 13 espécies claramente evitavam pousar na região da estrada fantasma quando ela estava ligada. Além disso foi observado um gradiente muito claro: a medida que o ruído aumentava, o número de pássaros diminuía. Esse efeito foi detectado a até 300 metros de cada lado da estrada. O mais interessante é que os pássaros que produzem piados e gorjeios parecidos com os ruídos da estrada eram os que mais evitavam pousar perto da estrada. Pássaros que produziam sons com comprimentos de onda muito diferentes do ruído dos carros não evitavam tanto a estrada fantasma.

Esses resultados demonstram que o barulho típico de uma estrada, mesmo na ausência da estrada propriamente dita, afasta os pássaros do local. Quanto maior o nível do ruído, mais distantes ficam os pássaros, e quanto mais parecido com o ruído da estrada for o canto de um pássaro, mais ele vai evitar pousar perto da via.

Talvez você ache esse efeito pequeno. Mas lembre: o efeito nocivo aos pássaros se estende por 300 metros de cada lado da estrada. Se 83% dos locais nos EUA estão a menos de mil metros de uma estrada, é fácil deduzir que em uma grande fração do território dos EUA o ruído das estradas já altera o comportamento dos pássaros. Um prato cheio para os estudos de impacto ambiental.

A palavra é gentrificação - ZUENIR VENTURA

O GLOBO- 28/12

Há cinco anos, o ‘NY Times’ não sugeriria aos turistas estrangeiros hospedarem-se em quartos compartilhados de lugares como a Rocinha durante a Copa do Mundo



Trata-se de um neologismo, uma importação inglesa que ainda não consta de nossos dicionários, mas que tem frequentado o debate de urbanistas e arquitetos sobre favelas. O termo significa algo como “enobrecimento” e ocorre quando os efeitos colaterais desse processo — valorização do espaço e das construções, aumento dos aluguéis e bens de serviço — empurram os moradores tradicionais para mais longe, substituindo-os por outros de maior poder aquisitivo. Mais ou menos o que está ocorrendo depois que as UPPs ocuparam uma centena de comunidades. Há cinco anos, o “NY Times” não sugeriria aos turistas estrangeiros hospedarem-se em quartos compartilhados de lugares como a Rocinha durante a Copa do Mundo. Se por um lado o fenômeno de revitalização estimula a economia local, oferecendo novas oportunidades na área do comércio — abertura de lojas, pensões e restaurantes —, por outro produz um aumento no custo de vida que atinge as camadas mais pobres.

Esse processo de duas faces ocorre ou ocorreu em várias metrópoles, como Paris, por exemplo, para só citar o plano do Barão de Haussman, que inspirou a grande reforma urbanística de Pereira Passos no Rio, o Bota-Abaixo, que expulsou a população do Centro para o Morro do Livramento. O Trio de Ouro recebeu com resignação a Presidente Vargas, cantando: “Lá vem a nova Avenida/Remodelando a cidade/Rompendo prédios e ruas/Nosso patrimônio de saudade./É o progresso e o progresso é natural.” A discussão continua. Será natural o progresso de consequências nocivas para os moradores? Como avançar sem destruir patrimônios de saudade? Pode-se alegar que, se não fosse assim, o Rio não teria removido sua degradada herança colonial. Mas pode-se argumentar também que foi por causa dessa visão excludente que surgiu um problema cuja solução ainda desafia as autoridades, o das nossas favelas.

Hoje, de certa maneira, a gentrificação está ocorrendo também em bairros “nobres”, variando apenas de grau. Em Ipanema e Leblon, por exemplo, a prefeitura teve que baixar decreto para impedir a descaracterização de suas identidades, limitando o licenciamento de agências bancárias e farmácias. Estas então são tantas (alguém contou 13 só na Visconde de Pirajá, próxima uma da outra) que o templo da boêmia de Tom e Vinicius parece ser agora dos hipocondríacos. Enquanto isso, as padarias estão desaparecendo. Esta semana a Martinica fechou as portas, o que já tinha acontecido há tempos com a Eldorado. Resta a da Visconde de Pirajá com Joana Angélica, que pode ter o mesmo fim. Especula-se que no terreno, junto com o da vizinha Chaika, que não existe mais, será construído um shopping.

Símbolos dessa mudança de usos e costumes é o fechamento das livrarias Letras & Expressões, em Ipanema e Leblon, para dar lugar a duas drogarias. Em vez de livros, drogas — lícitas, bem entendido, mas de qualquer maneira drogas.