quarta-feira, 27 de junho de 2012

‘A Guarânia do Engano’, por Chiqui Avalos


26/06/2012
 às 19:33 \ Feira Livre


CHIQUI AVALOS
“A história do Brasil, vista do Paraguai, é outra”
(Millôr Fernandes)
Como num verso célebre de meu inesquecível amigo Vinicius de Moraes, “de repente, não mais que de repente”, alguns governos latino-americanos redescobrem o velho e sofrido Paraguay e resolvem salvar uma democracia que teria sido ferida de morte com a queda de seu presidente. Começa aí um engano, uma sucessão de enganos, mentiras e desilusões, em proporção e intensidade que bem serve a que se componha uma melodiosa guarânia, mas de gosto extremamente duvidoso.
Sucedem-se fatos bizarros na vida das nações em pleno século XXI. Uma leva de chanceleres, saídos da espetaculosa e improdutiva Rio+20, desembarca de outra leva de imponentes jatos oficiais no início da madrugada de um incomum inverno, e ─ quem sabe estimulados pela baixa temperatura ─ se comportam com a mesma frieza com que a “Tríplice Aliança” dizimou centenas de milhares de guaranis numa guerra que arrasou a mais desenvolvida potência industrial da América Latina.
Surpresos? Não é para menos. Éramos ricos, muito ricos, industrializados, avançados, educados, cultos, europeizados, amantes das artes, dos livros, das óperas, do desenvolvimento. Nossos antepassados brilharam na Sorbonne e assinaram tratados acadêmicos, descobertas científicas ou apurados ensaios literários. A menção de nossa origem não provocava o deboche ou ironia tão costumeiros nos dias tristes de hoje, mas profunda admiração e curiosidade dos que acompanhavam nossa trajetória como Nação vencedora. Não ficamos célebres como contrabandistas ou traficantes, mas como povo empreendedor e progressista. A organização de nossa sociedade, a intensa vida cultural, o progresso econômico irrefreável, a bela arquitetura de nossas cidades, nossos museus e livrarias, a invulgar formação cultural de nossa elite, a dignidade com que viviam nossos irmãos mais pobres (sem miséria ou fome) impressionavam e merecem o registro histórico.
A rainha Vitória, que não destinou ao resto do mundo a mesma sabedoria com que governou e marcaria para sempre a história do Reino Unido, armou três mercenários e eles dizimaram a potência que, com sua farta e boa produção e espírito desbravador, tomava o mercado da antiga potência colonial do lado de baixo do Equador. Brasil, Argentina e Uruguay nos arrasaram. Nossos campos foram adubados pelos corpos de nossos irmãos em decomposição, decapitados à ponta de sabre e com requintes de sadismo. O Conde D’Eu, marido de quem libertaria os negros da escravidão e entraria para a história do Brasil, comandava pessoal e airosamente o massacre. Os historiadores, essa gente bisbilhoteira e necessária, registraram seu apurado esmero e indisfarçável prazer. O nefasto delegado Sérgio Fleury teve um precursor com quase um século de antecedência…
Nossas cidades terminaram por ser habitadas por populações majoritariamente compostas de mulheres e crianças. Poucos homens restaram do genocídio perpetrado. Pedro II, que marcaria a história do Brasil por sua honradez, comportou-se de forma impressionante nessa obscura página da história do Brasil, mas inversamente conhecidíssima na história de meu país: não moveu uma palha ou disse palavra acerca do sadismo de seu genro criminoso. Documentos por mim revirados no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, mostram a assinatura do velho Imperador autorizando a compra de barcos, chatas, cavalos e tudo o que fosse necessário para uma caçada de vida ou morte (mais de morte, certamente) a Lopez. Não bastava derrotar o déspota esclarecido, o republicano que os humilhava, o que havia desafiado os impérios da Inglaterra, do Brasil, da Espanha… Era preciso assinar seu epitáfio e esculpir sua lápide. E assim foi feito.
Derrotados, nunca mais fomos os mesmos. Passamos a ser conhecidos por uma República já bicentenária, mas atrasada em comparação aos vizinhos. Enfrentamos uma guerra cruel com a Bolívia na primeira metade do século passado. Roubaram-nos importante faixa territorial do Chaco, região paradoxalmente inóspita e riquíssima. Ganhamos a guerra. Nossos soldados mostraram a valentia e o patriotismo que brasileiros, uruguaios e argentinos haviam conhecido  mais de meio século antes. Nossa incipiente aviação militar e seus jovens pilotos assombraram os experts norte-americanos pela refinada técnica e pelo sucesso de suas ações contra o agressor. Mas, numa história prenhe de ironias, vencemos a guerra e… jamais recuperamos as terras! Os bolivianos, que jamais olham nos olhos nem das pessoas nem da história, certamente se rejubilam em sua “andina soledad” e, como os argentinos depois da inexplicável Guerra das Malvinas, sabem-se “vice-campeones”…
Mal saímos da Guerra do Chaco e experimentamos a mesma e usual crônica tão comum a rigorosamente todos os outros países latino-americanos. Golpes e contra-golpes, instantes de democracia e hibernações em ditaduras ferrenhas. Presidentes  se sucederam despachando no belíssimo Palácio de Lopez e vivendo na vetusta mansão de Mburuvicha Roga (“A casa do grande chefe”, em guarani). Uns razoáveis, outros deploráveis. Nenhum deles, entretanto, recuperou a glória perdida dos anos de riqueza, opulência e fartura. Um herói da Guerra do Chaco tornou-se ditador e nos oprimiu por mais de três décadas. Homem duro, mas de hábitos espartanos e por demais interessante, o multifacético Alfredo Stroessner não recusou o papel menor de tirano, mas construiu com o Brasil a estupenda hidrelétrica de Itaipu, a maior obra de engenharia de seu tempo, salvando o Brasil de previsível hecatombe energética. Foi parceiro e amigo de todos os presidentes do Brasil de JK a Sarney. Com os militares pós-64 deu-se às mil maravilhas, mas foi de suas mãos que o exilado João Goulart recebeu o passaporte com que viajaria para tratar sua saúde com cardiologistas franceses. Deposto, o velho ditador morreu exilado no Brasil. Nós que o combatíamos (nasci em Buenos Aires, onde meu pai, empresário de sucesso mas adversário da ditadura, curtia seu exílio) jamais soubemos de ação qualquer, uma que fosse, do Brasil em seus governos democráticos contra a ditadura do general que lhes deu Itaipu.
A vez de Fernando Lugo
Depois de duas décadas da derrubada de Stroessner, nos aparece Fernando Lugo. Sua história é peculiar. Era bispo de San Pedro, simpaticão e esquerdista, pregava aos sem-terra e parecia não incomodar ninguém, nem aos fazendeiros da área. Pelos idos de 2007 o então presidente Nicanor Duarte Frutos, um jovem jornalista eleito pelos colorados, resolve seguir o péssimo exemplo de Menem, Fujimori e Fernando Henrique, e deixa clara sua vontade de mudar a Constituição e permanecer na presidência, valendo-se do instituto inexistente da reeleição. Seu governo era mais que sofrível e ─ desculpem-nos a imodéstia lastreada em nossa história ─ nós, os paraguaios, não somos dados ao desfrute de mudar nossa Carta Magna ao sabor da vontade de presidente algum.
O país se levantou contra a aventura e ele, o bispo bonachão, justamente por não ser político e garantir que não alimentava qualquer ambição de poder, é escolhido para ser o orador de um grande ato público, com dezenas de milhares de pessoas reunidas no centro de Assunção. Pastoral, envolvente, preciso, o Bispo de San Pedro cativou a multidão, deu conta do recado e  catalisou a imensa indignação da cidadania. A aventura continuísta de Nicanor não foi bem-sucedida, mas, com a sutileza de um príncipe da Igreja nos intricados concílios que antecedem a fumacinha branca no Vaticano, nos aparece um candidato forte à presidência da República: ‘habemus candidatum’! A batina vestia mais que um pastor, escondia um homem frio, ambicioso, ingrato e profundamente amoral.
Seu primeiro problema foi com a Santa Madre Igreja. A Santa Sé, certamente por saber algo que nós não sabíamos, vetou sua disposição política. Não, ele jamais poderia ser candidato. A igreja católica combateu a ditadura do general Stroessner com imensa coragem e ações firmes, mas não queria ocupar a presidência do país. “Roma locuta, causa finita” (“Roma falou, questão decidida”). Mas não para Lugo, que deixou seu bispado, despiu a batina e virou as costas a quem o educou e  acolheu em seu seio. Poucos e corajosos colegas, bispos e padres, ousaram apoiá-lo abertamente. Na última sexta-feira, depois de três anos sem vê-lo ou serem por ele procurados, esses mesmos amigos e apoiadores foram até a residência presidencial pedir ─ em vão ─ que Lugo renunciasse à presidência do Paraguay para que se evitasse derramamento de sangue. Com frieza, o homem seduzido pelo poder disse não, levantou-se e despachou aqueles inoportunos portadores da palavra divina.
Candidato sem partido, favorecido pela simpatia da clara maioria do eleitorado, filiou-se ao centenário e respeitável PLRA, dos liberais, há mais de 60 anos fora do poder e com a respeitável bagagem de uma corajosa oposição à ditadura stroessnista. Como um Jânio Quadros, Lugo filiou-se ao Partido Liberal Radical Autêntico e usou sua bandeira, sua história e sua estrutura capilarizada em toda a sociedade paraguaia. E depois deu-lhe um adeus de mão fechada, frio e indiferente.
Eleito, desfez-se de todos os companheiros de jornada. Um a um. Stalin não apagou tantos nas fotos oficiais do Kremlin como o ex-bispo o fez. Por sinal, demitiu os mais qualificados. Restaram-lhe os cupinchas, os facilitadores de negócios e de festinhas íntimas, os “operadores” e alguns incautos esquerdistas para colorir com as tintas de um risível ‘socialismo guarani’ o governo de um homem que chegou como o Messias e terminaria como um Judas Escariotes.
Lugo poderia emprestar seu nome e sua vida política (e pessoal, também) ao mestre Borges e tornar-se uma das impressionantes personagens da “História Universal da Infâmia”. Um infame, não mais que isso! Mal foi eleito e empossado, sucedem-se escândalos e se revela seu procedimento moral. Filhos impensados para um Bispo supostamente casto. Vários. Todos jamais reconhecidos ou amparados, gerados com mulheres as mais pobres e sem instrução alguma, do meio rural, humilhadas depois de usadas, uma delas com apenas 16 anos quando engravidou. Se traíra a sua Igreja, por qual razão não nos trairia?
Durante seus três anos de governo, não passou um mês sequer sem viajar a um país qualquer. Com razão ou sem nenhuma, tanto fazia, lá se ia ele, o alegre viajante para conferências esvaziadas ou cerimônias de posse de mandatários sem importância para o Paraguay. As pompas do poder o abduziram como a nenhum déspota de república bananeira do Caribe. Os comboios de limusines com batedores estridentes, as festas e beija-mãos, os eternos e maviosos cortesãos do poder, as belas mulheres, as mesas fartas, os hotéis cinco estrelas, a riqueza, a opulência, os “negócios”. O despojado ex-bispo tornou-se grande estancieiro, senhor de terras, plantações e gado. O presidente que tomou posse calçando prosaicas sandálias, símbolo de humildade, revelou-se um homem vaidoso e fetichista. Como que a vestir a mentira em que ele próprio se tornou, passou a envergar elegantes e bem-cortadas túnicas encomendadas a alfaiates da celebérrima e caríssima Savile Row, templo londrino da moda masculina. No detalhe, o estelionato (mais um): colarinhos eclesiásticos. Afeiçoou-se a lindas e jovens, digamos, “modelos”, que floriram sua vida e a imensa banheira Jacuzzi que mandou instalar na austera e velha residência presidencial. Muitas delas o precediam mundo afora, esperando-o em hotéis fantásticos e palácios, nas vilegiaturas internacionais. Viajavam com documentos oficiais. Kaddafi proporcionava passaportes diplomáticos a terroristas, Lugo, a prostitutas.
O veto de Itaipu
Sua afeição pelos jatinhos e jatões chegou às raias do fetiche: passou boa parte de seu peculiar mandato a bordo deles. Fretados a empresas de táxi aéreo de outros países, mandados pelos amigões Hugo Chávez e Lula, outros emprestados por uns tais e misteriosos amigos. Chocou-se com o brasileiro Jorge Samek, fundador do PT e competente gestor, que na presidência brasileira da Itaipu resolveu vetar capricho juvenil do ex-bispo e delirante presidente: a poderosa binacional compraria um jato para seu uso. Um Gulfstream estaria de bom tamanho, quem sabe um Falcon, ou até um brasileiríssimo Legacy, mas ele precisava ardentemente de um jato para chamar de seu. Depois mandou que o comandante da Força Aérea negociasse um Fokker 100, adaptado com suíte e ducha. Nada feito, o raio de ação seria pequeno e ele precisava ganhar o mundo. Por fim, nos estertores de seu governo, entabulava a compra de um Challenger, usado mas chique, de um cartola do futebol paraguaio. O preço, como sempre, mais um escândalo da Era Lugo: pelo menos o dobro de um modelo novo, saído de fábrica…
Obras viárias? Imagine. De infraestrutura? Nenhuma. Modernização do país? Nem pensou nisso. Crescimento econômico? Sim, mas por obra de uma agricultura forte, de empresários jovens e ambiciosos, de uma indústria florescente e de um ministro da economia, Dionísio Borda, que destoou da regra geral do governo Lugo: competente e austero, imune às vontades do presidente e distante da escória que o cercava. A cada novo dia, no parlamento, nas redações, nos sindicatos, nos foros empresariais, nos encontros de amigos, um novo comentário, uma nova história de mais uma negociata dos assessores e companheiros de Lugo. Proporcionalmente, nem na ditadura de Stroessner (mais de três décadas) se roubou tanto quanto no governo pseudo-esquerdista de Fernando Lugo (menos de três anos).  Já com Lugo deposto, seu secretário mais forte, Miguel Lopez Perito, telefonou à diretoria da Itaipu solicitando a bagatela de US$ 300 mil para organizar uma manifestação em defesa do governo. Queria ao vivo e em cores, “na mala”, por fora, não contabilizado, no “caixa 2″. Que tal? O fato, relatado por um diretor da binacional, é revelador do modus-operandi da verdadeira quadrilha que comandava o país.
O impeachment
Seu processo de “Juízo Político” ─ algo como um processo de impeachment ─ está previsto na Constituição do Paraguay. Não foi uma travessura histórica de meia dúzia de líderes políticos ou parlamentares, tampouco um revide às descortesias de Lugo para com os partidos, os empresários, os paraguayos todos. Que tipo de presidente era esse que teve 73 deputados votando por sua queda contra apenas 1 solitário voto? Que espécie de chefe da Nação era esse que teve 39 votos contrários no Senado contra apenas 4 de senadores fiéis ao seu desgoverno? Não teve tempo, apenas duas horas para defender-se, dizem. Ora, a Constituição não determina tempo, apenas assegura o direito de defesa, exercido através de competentíssimos advogados, que fizeram exposições brilhantes na defesa do indefensável. Um deles, Dr. Adolfo Ferreiro, admitiu claramente que o processo era legal. De outro, Dr. Emilio Camacho, em imponente ironia da história, os magistrados da Suprema Corte extraíram em um de seus celebrados livros aqueles ensinamentos necessários e a devida jurisprudência para rechaçar chicana jurídica do já ex-presidente contra o processo legal, constitucional e moral que o defenestrou. C’est la vie, Monsieur Lugo!
Em Curuguaty, num despejo de terras ocupadas pelos “carperos” (os sem-terra daquí), houve dezenas de mortes de ambos os lados. Lugo e seu ministro do Interior, o belicoso senador Carlos Filizzola, foram avisados de que havia uma emboscada pronta para as forças militares. Com a empáfia e a absoluta irresponsabilidade que os caracterizaram do primeiro ao último dia, e fiéis aos amigos que manejam o MST daqui e infernizam a vida de nossos produtores rurais (entre os quais os 350 mil brasileiros que aqui plantam, colhem e vivem, nossos irmãos “brasiguayos”), ambos ordenaram a ação que se tornou uma tragédia na história de nosso país. Poderia citar, também, o EPP (Exército do Povo Paraguaio), guerrilha formada por terroristas intimamente ligados a Lugo em seus tempos no bispado de San Pedro. Jamais as forças de segurança puderam fazer nada contra eles. Mapeados, identificados, monitorados e livres! Lugo se manteve fiel aos bandidos pelos quais mostra clara e pública afeição. Como o respeitado Belaúnde Terry, no Peru, que permitiu com seu “democratismo” o crescimento do terror representado pelo Sendero Luminoso de Abimael Guzmán, o nada respeitável Lugo é o pai e a mãe do EPP.
Um hiato na história
Fernando Lugo foi um acidente em nossa história. Necessário, mas sofrido. Seus defeitos superaram suas virtudes. Aqueles eram muitos, essas muito poucas. Nós que nele votamos, sequiosos de um Estadista, nos deparamos com um sibarita. Seu legado é de decepção e fracasso. Não choraram por ele dentro de nossas fronteiras, e os que o defendem fora delas o fazem muito mais pensando no que lhes pode ocorrer do que por solidariedade ao desfrutável governante e desprezível homúnculo que cai.
O fim de seu governo dói mais a um já dolorido Chávez do que a nós. A senhora Kirchner, radical na condenação que nos impõe, se esquece de nossa parceria na importante e gigantesca usina hidrelétrica de Yaciretá, e amplia sua lucrativa viuvez acolhendo em seu seio choroso o decaído amigo. Solidária? Nem tanto, apenas oportunista, e ciente de que se abriu o precedente para que os parlamentos expulsem os incapazes. Na Bolívia, o sentimento popular em relação ao sectário e também bolivariano Evo Morales não é diferente do sentimento dos paraguayos por Lugo no outono de sua aventura presidencial. É pior. O relógio da história irá tocar as badaladas do fim de uma aventura improdutiva, raivosa, racista e liberticida.
A posição brasileira
Não compreendemos a posição do Brasil. Ou não queremos compreender, tamanho é o bem que lhe queremos. O Brasil nos arrasou como sicário da Rainha Vitória. Nós o perdoamos e juntos construímos o colosso de Itaipu. Nós o tratamos bem e ele defende a continuidade de uma das piores fases de nossa história. Em nome do quê? Nega-nos o direito à autodeterminação, mas se esquece do papelão ridículo que fez em defesa de um cretino como Zelaya, um corrupto ligado a grupos somozistas de extermínio e que era tão esquerdista como Stroessner e tão democrata quanto Pinochet.
Foi deplorável o papel do inexpressivo chanceler Patriota (que não se perca pelo nome), saracoteando pelas ruas de Assunção em desabalada carreira, pressionando os partidos Liberal e Colorado em favor de um presidente que caía. Adentrando o Parlamento ao lado do chanceler de Hugo Chávez, o Sr. Maduro, para formular ameaças em benefício de um presidente que o país rejeitava. Ou indo ao vice-presidente Federico Franco ameaçá-lo com imensa desfaçatez, desconhecendo seu papel constitucional e o fato de que ninguém renunciaria a nada apenas por uma ameaça calhorda da Unasul (que não é nada) e outra não menos calhorda do Mercosul (que não é nada mais que uma ficção). O Barão do Rio Branco arrancou seus bigodes cofiados no túmulo profanado pelo Itamaraty de hoje.
O que quer o governo Dilma? Passar pelo mesmo vexame de Lula na paupérrima Honduras? Nós temos imensa disposição de manter uma parceria que se revelou positiva e decente para ambos os países. Mas a austera presidente não nos inspira o mesmo terror-medo-pânico que infunde nos seus  auxiliares e ministros. Cara feia não faz história, apenas corrói biografias. Dilma chamou seu embaixador em Assunção, Cristina fez o mesmo. As matronas radicais só não sabiam que o embaixador brasileiro é um ausente total, passando mais tempo em Pindorama do que aqui. O embaixador Eduardo Santos é tido no Paraguay como alguém que acredita que as melhores coisas em nosso país são ar condicionado e passagem de volta. Recorda o ex-embaixador Orlando Carbonar, que foi pego de surpresa em fevereiro de 1989 pelo movimento que derrubou o general Stroessner. Até meus filhos, crianças naquela época, sabiam que o golpe se avizinhava e que estouraria a qualquer momento. Só não sabia disso o embaixador brasileiro, que descansava no carnaval de Curitiba, onde nasceu. Voltou às pressas, num jatinho da FAB, para embarcar Stroessner rumo ao Brasil. E a Argentina… Bem, a Argentina não tem embaixador no Paraguay faz alguns meses… Ocupadíssima, Dona Cristina não nomeou seu substituto. País de necrófilos (amam Gardel, Che, Evita e Maradona, entre outros defuntos), chamou um embaixador que não existe, um diplomata fantasma, para consultas na Casa Rosada.
O Paraguay fez o que tinha que fazer. Seguirá adiante, como seguem adiante as Nações, testadas e curtidas pelas crises que retemperam a cidadania e reforçam a nacionalidade. O religioso que não honrou seus votos de castidade e pobreza e traiu sua igreja foi por ela rejeitado. O presidente que não honrou nossos votos e nos traiu por nós foi deposto. Deposto por incapaz, por mentiroso, por ineficiente, por desonesto. Mas principalmente por ter traído as esperanças de um país e de um povo que precisaram dele e nele confiaram. Por isso, Lugo não voltará.
(*) Chiqui Avalos é um conhecido escritor e jornalista paraguaio. Combateu a ditadura de Stroessner e apoiou a candidatura de Fernando Lugo. É editor de “Prensa Confidencial”, influente boletim digital editado em Assunção.

Quatro ministros do STF são contrários a limitar poderes do MP


Julgamento foi interrompido após pedido de vista do ministro Luiz Fux



Plenário do Supremo Tribunal Federal durante o julgamento sobre as atribuições do Ministério Público
Foto: STF
Plenário do Supremo Tribunal Federal durante o julgamento sobre as atribuições do Ministério PúblicoSTF
BRASÍLIA - O julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) de uma ação que discute o poder de investigação do Ministério Público (MP) foi adiado novamente nesta quarta-feira, após pedido de vista do ministro Luiz Fux. Hoje, quatro ministros anteciparam sua posição contra a restrição aos poderes do MP: Gilmar Mendes, Celso de Mello, Joaquim Barbosa e o presidente Ayres Britto.
Mas mesmo entre eles, há diferenças de posição. Celso de Mello e Gilmar Mendes entendem que o MP pode conduzir investigações de matéria penal, por exemplo, em casos de crimes contra a administração pública, além de investigações complementares. Já Ayres Britto e Joaquim Barbosa defendem poderes mais amplos ainda para o Ministério Público.
Na semana passada, o relator Cezar Peluso e o ministro Ricardo Lewandowski votaram em sentido contrário, limitando as funções do órgão. Os dois alegaram que a Constituição Federal dá exclusividade às polícias Federal e Civil para conduzir investigações criminais. Nesta quarta, Marco Aurélio Mello também se disse contrário à condução de investigações crimiais pelo MP.
Logo no começo da retomada do julgamento nesta quarta, o ministro Fux seria o primeiro a votar, mas ele pediu vista, algo que adiaria a análise do caso para outra sessão. Mas mesmo após o pedido de vista, alguns ministros resolveram se pronunciar.
O assunto está sendo debatido em um recurso do ex-prefeito de Ipanema (MG) Jairo de Souza Coelho. Ele foi condenado por crime de responsabilidade. Peluso defendeu a anulação da condenação, porque o processo havia sido totalmente conduzido pelo Ministério Público do estado.
Se o voto do relator nesse julgamento prevalecer, há risco de outras condenações resultantes de investigações do Ministério Público serem também anuladas. Para Peluso, o MP só poderia atuar em investigações contra policiais, contra membros do Ministério Público e em casos nos quais, mesmo avisada, a polícia deixou de investigar.

Um pouco de música - Albert King - I'll Play The Blues For You






PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA Uma reflexão sobre a Dor da Interdição



CARLOS VIEIRA
O ser humano vem ao mundo numa alternância de dor e prazer. A dor do parto, ainda que profunda e angustiante, anuncia a satisfação da existência da vida pós-uterina. Os gritos sucedâneos de uma mãe, as contrações uterinas e o choro aflito de um bebê se misturam com o sorriso e a alegria de um nascimento. 
Com o nascimento vêm os impulsos, as necessidades e os desejos. Os primeiros movimentos instintuais e desejosos são em busca de sobrevivência, segurança física e psíquica. O ato de mamar revela a necessidade de aplacar a fome e ser acolhido afetivamente pela mãe. Essa experiência marca a equação ideal: o outro é aquele que satisfaz a minha necessidade e o meu desejo. Uso aqui, caro leitor, necessidade como algo corporal, físico, instintual; desejo com expressão do psíquico. Somos, afinal, seres psicossomáticos.
Feito esse preâmbulo, vou me restringir à experiência de interdição do desejo, da sua dor mental, consequências e alternativas criativas.
Vivemos de sonhos, fantasias e expectativas de vivencias satisfatórias. Ninguém, diga-se de passagem, deseja conscientemente sofrer ou ser privado de qualquer desejo. O mito da alma gêmea é a evidência da ânsia pela completude. Ser completo é não ter falta, não ter limitações, ter tudo e conseguir tudo, realizando desse modo um outro mito – o mito do paraíso. Paraíso no sentido de uma vida permanente em estado de prazer. Acontece que a realidade nem sempre atende àquilo que almejamos. 
Uma mãe que gratifica é a mesma mãe que frustra – a vida começa assim. Um desejo é satisfeito e outro é interditado, não porque seja contra alguém, mas sim, por uma questão de impossibilidade real da satisfação. Instala-se dessa maneira a experiência de frustração do desejo. E agora, como procede a pessoa que se sente interditada? É claro que sente dor, dor psíquica. Sente na “própria pele” a impotência, a limitação, o vazio, a ausência da sua expectativa, a dor que Freud cunhou como angústia de castração, angústia da falta. No instante da “interdição do desejo” a mente mostra pelo menos duas alternativas: ou adiar e tentar alterar a realidade, para que a mesma possa atender ao desejo: alternativa criativa; ou enlouquecer de ódio e violência: alternativa destrutiva.
Inferimos aqui duas saídas: uma, como movimento criativo, sublimatório e sadio, ainda que atravessando e suportando a dor psíquica; outro, a recusa, o ódio à frustração, a incapacidade de tolerar e esperar, apontando para mecanismos psicopatológicos tais como: bulimia, anorexia, neuroses graves, psicoses, drogadições, roubo, crime etc.
A expressão poética de Manuel Bandeira, e sua competência em ter convivido com a dor mental, são um exemplo da alternativa criativa, acima mencionada. Deguste, caro leitor, a beleza desse poema, chamado de “Desencanto”:
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca
- Eu faço versos como quem morre.
A capacidade de pensar, a inspiração artística, a competência de conviver com momentos de desencantos, como nosso Poeta Maior, adiar o desejo e procurar alternativas possíveis, ainda que pequenas e limitadas, a ciência, a arte, a literatura e a “civilização dos instintos” (Freud), são expressões sadias de uma mente que não sucumbiu à interdição.
O psicanalista Juan-David Nasio, em seu belo livro “O livro da dor e do amor” (Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1977), escreve no começo do seu texto uma frase brilhante e realista: “O amor é uma espera e a dor, a ruptura súbita e imprevisível da espera.”
Passeando por questões relativas à impossibilidade de realizar – o desejo – Nasio aponta para uma saída: “Vê-se bem que a carência não é apenas um vazio que aspira o desejo; ela é também um polo organizador do desejo. Sem carência, quero dizer, sem esse núcleo atraente que é a insatisfação, o impulso circular do desejo se perturbaria e então só haveria dor. Vamos nos expressar de outra maneira. Se a insatisfação é viva, mas suportável, o desejo continua ativo e o sistema psíquico continua estável”.
Ainda vale a pena ter Esperança! Algum leitor pode me achar um “romântico beleza”. Não, sou um romântico com idealismo por um mundo mais justo socialmente que acredita numa Justiça menos “cega”; que nutre a fantasia de realizar sonhos quase impossíveis; que ainda nutre a possibilidade de uma reforma política sem ingerência de corrupções e falta de ética; que visualiza ainda a possibilidade de o homem não destruir tanto a si próprio nem ao seu Planeta Terra. Que a Rio+20 não tenha naufragado na Baía da Guanabara.
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasilia e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.

Sinal amarelo - por Miriam Leitão


Enviado por Míriam Leitão - 
27.6.2012
 | 
15h00m
COLUNA NO GLOBO - 


Se forem somadas todas as diferenças e peculiaridades, ainda assim é preciso ter atenção ao crescimento do crédito e da inadimplência no Brasil. O país é sólido, o crédito imobiliário é pequeno, os imóveis sobem porque há demanda, e não por especulação. Ainda assim, sistematicamente o total de pessoas que atrasam seus pagamentos tem crescido e o governo ainda aposta na ampliação do crédito.

O Banco Internacional de Compensações (BIS) fez um alerta cuidadoso que o Brasil deveria ouvir. Mas há pouca esperança. As autoridades, inclusive as que deveriam zelar pela parcimônia do crédito, estão convencidas que assim é que turbinarão o PIB.

O estoque de crédito inadimplente, com atraso acima de 90 dias, subiu para R$ 81 bi, com alta de 2,4% de abril a maio. Segundo a informação do Banco Central, a inadimplência da pessoa física chegou a 8% e cresce no cheque especial, no consignado e nos empréstimos para aquisição de bens. A inadimplência em veículos bateu novo recorde. O número parece pequeno, 6,1% do total, mas no começo do ano passado era de 2,6%.

Tudo parece o enredo que levou outros países para crises das quais ainda não saíram. Mas não é exatamente. O Brasil não cometeu os excessos cometidos em outras economias, não criou as exóticas criaturas que esconderam o grau de risco dos papéis vendidos ao mercado, e tem medidas prudenciais mais rígidas.

Uma notável diferença é o mercado de crédito imobiliário para pessoas físicas, que é de apenas 5,3% do PIB, aqui. Mas o que espanta é o ritmo de crescimento: alta de 41,9% em 12 meses. O que os especialistas garantem é que, depois de tanto tempo sem crédito para compras de imóveis, esse aumento é natural, saudável, sustenta o crescimento. Garantem também que a valorização dos imóveis — que em algumas cidades afronta o senso comum e desafia comparações internacionais — é apenas resultado da demanda e não de manobras especulativas alimentadas por crédito baixo.

Nem por isso o país deveria continuar apostando no aumento do crédito como elemento central da elevação do ritmo de crescimento. A ina- dimplência da pessoa física tem números que assustam. O atraso no cheque especial subiu para 11,3% e está em dois dígitos desde outubro de 2011. Ficar devendo nessa modalidade significa comprometer uma parte maior da renda com o pagamento de juros e correr riscos de ter que governar uma bola de neve. Mesmo com a queda do custo em alguns bancos, esse é o dinheiro mais caro do mercado. Na aquisição de outros bens que não veículos, o atraso de 90 dias é de 13,9%.

O governo aposta nas diferenças entre o mercado de crédito do Brasil com o mundo para continuar com seu estímulo ao endividamento. Mas a avaliação externa é de que algumas semelhanças começam a se formar.

Refletindo o Golpe de Estado no Paraguai, por Bruno Lima Rocha



Como é sabido, o governo eleito do Paraguai, tendo como presidente o ex-bispo Fernando Lugo, foi derrubado pela via de um processo célere de impeachment. Poderíamos analisar o tema através de um ângulo do direito constitucional, da meta de perseguir estabilidade política em democracias frágeis ou mesmo pela via das relações no Continente.
Todos estes caminhos são válidos para um debate em profundidade, mas ainda assim limitariam a abordagem. Lugo não caiu apenas por uma série de fatores complexos, mas principalmente por arriscar-se a modificar uma parcela da ordem social sem ter um dispositivo popular de pronta resposta.
Parece uma sina latino-americana. As esquerdas passam a crer na democracia liberal como se fora um pensamento mágico. De uma ora para outra, as oligarquias de sempre (como as máfias do Partido Colorado), exércitos reacionários e corruptos (o paraguaio), interesses de população exportada (a exemplo dos brasilguaios) e o Departamento de Estado dos EUA simplesmente deixariam de operar ou o fariam de maneira tênue, sem correr riscos de rompimento da ordem.
Desde o início do ano de 1973, como é sabido, o serviço de inteligência cubana vinha alertando o governo do socialista Salvador Allende no Chile, da necessidade urgente de organizar um mecanismo de pronta-resposta para um golpe que se avizinhava. Allende morreu no Palácio de La Moneda, sofrendo bombardeio e ataques múltiplos, acompanhado apenas de parte da guarda técnica.
Agora foi pior. Lugo caiu com o rosto na televisão, diante de um Senado impávido e traído pelo vice-presidente. A grande solução foi juntar-se em gabinete paralelo e acreditar que a pressão da Unasur e demais organismos latino-americanos poderão exercer suficiente peso contra o governo recém empossado.
As únicas forças sociais mobilizáveis, o conjunto de organizações camponesas, sem terra e de povos originários (termo reivindicado pelos movimentos indígenas), além de não serem convocadas para defender o governo legítimo derrubado sem o direito de ampla defesa, serviram de bode expiatório para a celeuma político-midiática pró-Golpe.
Serve como aprendizado político. Nenhum governo latino-americano, ainda que eleito, modificará impunemente a ordem social, mesmo que de forma parcial.
No caso, Lugo ousou dar vazão às demandas históricas de organizações camponesas. Teve como resposta um Golpe de Estado sem quartelada, espetacularizado, rápido, eficiente e com rosto civil. Já a ação rumo ao contra-Golpe, ainda está devendo.

Bruno Lima Rocha é cientista político 

OBRA-PRIMA DO DIA - PINTURA Hieronimus Bosch - A tentação de Santo Antão (1505/6)


Enviado por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 
27.6.2012
 | 12h00m

Esse artista extraordinário se destaca entre os magníficos pintores da tradição flamenga por seu estilo único, inteiramente livre e por um simbolismo vivo, curiosíssimo, inconfundível e sem paralelo até nossos dias.
Maravilhando e aterrorizando, Bosch expressou um forte pessimismo e as ansiedades de seu tempo, marcado por muitas revoltas políticas e distúrbios sociais.
Sua vida, tão enigmática quanto algumas de suas obras, foi marcada por um fato raro até o século 20: a fama em vida. Sua obra, quase toda marcada por seres fantásticos e eivada de cenas demoníacas, é pequena mas continua recebendo a mesma atenção desde que foi criada. Hieronimus Bosch não sai de moda.
Bosch viveu entre 1453 e 1516; Leonardo da Vinci entre 1452 e 1519 e Michelangelo entre 1475 e 1564. O que isso quer dizer? Que os três gênios estavam em atividade na mesma época? Só isso?
O trabalho de Bosch não tem a mais mínima relação com a obra dos dois italianos e não há nenhuma evidência de que o holandês soubesse da existência dos outros dois.
Não sei o que isso significa, nem sei se tem algum significado. Lembro que quando a Itália só tinha tribos Platão era professor de Aristóteles... Mas não deixa de ser interessante saber que quando o Brasil foi descoberto, lá na Europa três dos maiores gênios das Artes Plásticas criavam obras imorredouras.
O período em que eles viveram foi farto em acontecimentos que levaram a uma mudança de atitude em relação à Igreja. O protestantismo surgia graças a Martin Luther lá pelo fim da vida de Bosch, mas os motivos e fatos que levariam a isso estavam em gestação há algum tempo.

As imagens de hoje são de uma das mais importantes obras do pintor: o tríptico As Tentações de Santo Antão. Nela, através de símbolos, o artista nos relata os tormentos espirituais e mentais que o santo enfrentou. Em nenhuma de suas outras obras Bosch nos mostrou as vicissitudes da vida espiritual mais vividamente do que nesse tríptico.
Quem primeiro falou nas tentações sobrenaturais que Santo Antonio sofreu durante seu retiro no deserto egípcio foi Atanásio de Alexandria e desde então são tema recorrente na literatura e nas artes plásticas (não confundir com Santo Antonio de Lisboa, ou de Pádua – justamente por isso em Lisboa ficou conhecido como Santo Antão).
Bosch se prende ao relato de Atanásio para criar sua obra. Santo Antonio, abrigado nas ruínas de um forte está ameaçado de um lado pelo fogo e do outro pela água. Os demônios tentam de tudo para quebrar sua Fé. Bosch para dar vida às palavras de Atanásio se utilisa de símbolos da alquimia e da magia.
Nos painéis central e esquerdo, o pintor nos apresenta o horror do pecado e dos desatinos, um retrato pavoroso do Inferno e imagens de uma Missa Negra (detalhe à esquerda); no painel direito, o santo firme em sua resistência às tentações do Mundo, da Carne e do Diabo. Numa era quando se acreditava piamente no Céu e no Inferno, e na iminente aparição do Anticristo, a postura serena de santo Antonio, o Eremita, nos olhando de dentro de seu abrigo assombrado, com certeza oferecia esperança e confiança na Fé.
O extraordinário em Bosch é que ele retrata as bizarrices e criaturas estranhas com o mesmo óbvio realismo dos animais e dos seres humanos. Vejam o homem cuja cabeça é um cardo (abaixo, foto maior, detalhe); o peixe que é metade gôndola; a mitra da sacerdotisa recoberta por víboras (detalhe na Missa Negra). Por mais estranhas que nos pareçam essas imagens, elas faziam parte de antigos provérbios flamengos e da terminologia religiosa. 
O que é magnífico é a convicção com que são retratados e o inexplicável poder sobrenatural de que estão revestidas essas imagens de pesadelo.
Quando fechado, o tríptico apresenta o sofrimento de Cristo, Sua prisão e o caminho para o Calvário. É a redenção do Homem.
Não há como "ver" os detalhes sem ampliá-los, o que é impossível aqui. Recomendo vivamente que copiem a imagem e a ampliem. Ou, melhor ainda, a compra de um livro da Taschen. Não costumam ser caros e é obra para ser revista muitas vezes.
Óleo sobre painéis de madeira. O central mede 131,5 x 119 cm e os laterais 131.5 x 53 cm.

Acervo Museu de Arte Antiga de Lisboa, Portugal

SAÚDE NO RIO - Homem morre aguardando atendimento no Hospital Pedro Ernesto



O Globo


RIO - Um homem de 63 anos morreu na tarde desta terça-feira, quando aguardava para ser atendido na emergência do Hospital Pedro Ernesto, em Vila Isabel. Segundo testemunhas, o homem, que teria passado mal dentro de um ônibus e procurou socorro no hospital, esperou quase 40 minutos para ser atendido por um médico.

Em nota, a direção do Hospital Universitário Pedro Ernesto afirma que a unidade, apesar de não possuir serviço de emergência, atendeu o paciente ainda dentro do ônibus, de onde ele foi transferido para o interior do hospital.

"Após completar quarenta e cinco minutos de massagem cardíaca externa e constatando-se a não recuperação da assistolia foi constatado o óbito", afirma trecho da nota.

Policiais da 20ªDP (Vila Isabel) estiveram no local apurando as circunstâncias da morte da vítima. Seu corpo foi levado para o Instituto Médico Legal (IML), e ainda não há informações sobre a causa da morte.

Na última sexta-feira, o gerente de vendas Marcelo de Araújo, de 41 anos, passava de moto pela Rua Marquês do Paraná, no Centro do Rio, quando foi atingido por um carro que atravessava uma via perpendicular, a Rua Professor Clementino Fraga. Marcelo ficou 30 minutos estirado no chão, à espera de socorro. O Quartel Central do Corpo de Bombeiros fica a três quadras do local do atropelamento, na Praça da República.

Uma equipe do GLOBO que passou pelo local logo após o acidente ligou para a central de atendimento dos Bombeiros (193) e só conseguiu completar a ligação após 20 minutos. Uma moradora da região optou por chamar o Samu (192). As duas equipes, bombeiros e Samu, chegaram em dez minutos, totalizando meia hora de espera. Procurada pelo GLOBO, a assessoria do Corpo de Bombeiros não atendeu às ligações.

Meu cliente fechou com outro corretor de imóveis: o que fazer?


Postado por  em jun 26, 2012 

Meu cliente fechou com outro corretor de imóveis: o que fazer?


“O que eu fiz de errado? Mostrei o imóvel, respondi a todas as dúvidas do cliente, expliquei os detalhes da documentação necessária, mas na hora de fechar a venda, o cliente negociou com outro corretor”. Essa situação ou algo parecido já aconteceu com você?
Pois casos assim são mais comuns no dia a dia da corretagem imobiliária do que você possa imaginar. O tema do post de hoje foi sugerido por um leitor do blog e fico muito feliz por poder abordar esse assunto, uma vez que a ideia desse espaço é exatamente esta: compartilhar saberes e experiências sobre o mercado imobiliário e colaborar para a melhoria contínua do nosso segmento.
Com mais de 15 anos de atuação no setor de imóveis, passei por diversas situações que fizeram com que eu aprendesse e evoluísse profissionalmente e essa experiência de ter uma venda que era praticamente certa ser fechada por outro corretor foi uma delas.
Confesso que o sentimento que me envolveu naquela situação foi de revolta, de frustração e até mesmo de desejo de mudança de profissão e a pergunta “o que eu fiz de errado” era inevitável. Chegava até mesmo a esbravejar “esse cliente é doido”.
Ao ver o “meu cliente” fechando o contrato com outro corretor a minha vontade era de interromper a negociação e questioná-lo, “porque você está fazendo isso, não fui eu quem lhe mostrei o imóvel e respondi as suas dúvidas?”.
Entretanto, superados os momentos de indignação inicial, voltava a pensar mais racionalmente e menos emocionalmente e passei a refletir sobre como reverter esse tipo de ocorrência.
Cheguei à conclusão de que o meu processo de mostragem era feito de forma correta, contudo, eu não estava em sintonia com o que eu chamo de CRS – Ciclo de Relacionamento Social do cliente. Você pode se perguntar: o que é isso e qual impacto causa no meu relacionamento com o cliente?
Você já esteve com uma pessoa  com a  qual nunca havia tido contato anteriormente, mas nos primeiros minutos de conversa teve a sensação de que já a conhecia a vida inteira? Pois isso é estar dentro do CRS do cliente, é conseguir fazer o alinhamento de percepções e de ideais, é estabelecer uma afinidade.
Essa sintonia com o cliente é fundamental para criar um envolvimento mais efetivo ao ponto de se tornar referência profissional para ele. Isso é possível por meio da identificação de algumas características marcantes da personalidade do cliente que são percebidas por meio de diferentes comportamentos.
Você já ouviu falar em clientes visuais, auditivos ou sinestésicos? Cada um deles tem uma postura e são estimulados de maneiras diferentes. Entender esses comportamentos é primordial para potencializar o seu atendimento e, dessa forma, se inserir no CRS do cliente. Vamos entender, separadamente, cada um desses comportamentos.
1. Clientes Visuais
Como o próprio nome diz, esse é um cliente que reage, predominantemente, por estímulos visuais. Em geral, não é bom ouvinte, se irrita quando tem que esperar, faz várias coisas ao mesmo tempo, costuma ser precipitado, se incomoda com um ritmo mais lento e pode até passar a impressão de ser um pouco grosseiro.
Normalmente, é aquele tipo de cliente que te cumprimenta e fala logo “posso ver?”.  Ao lidar com esse perfil é importante que o corretor de imóveis seja pontual. Não interrompa enquanto o cliente visual estiver falando e valorize o que ele diz. Use os argumentos dele a seu favor.
Seja objetivo e sucinto em suas argumentações. Explorar e valorizar as imagens do empreendimento é vital, é isso que despertará a atenção do seu cliente. Trabalhe a objetividade potencializada pelos recursos visuais.
Para fazer parte do CRS desse cliente, até mesmo a aparência do corretor de imóveis tem influência. Roupa amassada ou suja, cabelo desarrumado e unhas mal tratadas são pontos a menos para o corretor de imóveis.
2. Cliente Auditivo
A comunicação verbal, nesse caso, é o ponto principal desse atendimento. Na maior parte do tempo o cliente auditivo é bastante detalhista, prefere ouvir a falar, costuma pensar muito antes de dar uma resposta e se incomoda com um atendimento mais agressivo ou em um ritmo muito acelerado.
É bastante observador. Geralmente será muito difícil compreender se está gostando ou não do imóvel. Demonstra ser frio. É o famoso “cara de passagem”.
São pessoas que se comunicam por palavras e não por gestos. Com esse cliente o corretor de imóveis precisa evidenciar que está atento a tudo que é dito e buscar argumentações seguras e corretas.
O cliente auditivo é mais especialista. Dessa forma, ele lê mais e tem como referência seus aprendizados e experiências, portanto esteja vigilante e valorize os detalhes das informações passadas pelas pessoas com esse perfil predominante. É importante estimular esse cliente a falar para assim captar o que para ele é essencial. Faça perguntas abertas.
3. Cliente Sinestésico
São pessoas ligadas a sensações e a movimentos. Reagem aos estímulos relacionados ao olfato, paladar, tato, mas também à visão e audição. Gostam de sentir o espaço em que estão inseridas, têm facilidade para se relacionar, gostam de comprar com pessoas conhecidas, tocam nas pessoas enquanto conversam com elas, são mais emotivos.
Para os clientes sinestésicos, uma cadeira macia, uma temperatura agradável, um ambiente com cheiro agradável são importantes para criar o CRS. Fazer com que o cliente sinta as sensações que o imóvel poderá provocar é o diferencial nesse tipo de atendimento.
Se o imóvel é próximo da praia, por exemplo, explore a sensação de interagir com as pessoas ao andar pelo calçadão, a possibilidade de fazer novas amizades, pois o cliente sinestésico valoriza a criação de novos relacionamentos.
Fale do prazer de ouvir o barulho do mar pela manhã ao acordar, da brisa refrescante que a região propicia, da alegria de ver o azul do horizonte durante uma caminhada matinal para revigorar as energias antes de enfrentar mais um dia de trabalho.
Esse cliente precisa sentir que mais do que uma relação de vendas, o que está sendo construindo no atendimento é uma nova amizade.
Diante disso, é importante que o corretor de imóveis perceba que não existe uma postura rígida desses tipos de clientes. Os visuais não reagem apenas a estímulos visuais e nem tão pouco os auditivos somente a estímulos sonoros, contudo existem predominâncias de alguns canais de percepção que colocam o cliente mais fortemente dentro de uma dessas categorias.
Entender o que é mais marcante dentro desses canais e fazer assim um alinhamento no atendimento a fim de se inserir mais facilmente no Ciclo de Relacionamento do Cliente e com ele criar uma afinidade, pode ter a certeza, trará um grande diferencial competitivo para o profissional da intermediação imobiliária.
Saber identificar qual o canal de comunicação predominante no seu cliente e ativá-lo de forma correta será imprescindível para não rotulá-lo de “louco” ao vê-lo fechando negócio com outro corretor.
E você, já percebeu os diversos tipos de características em seus clientes? Já perdeu alguma venda por não conseguir identificar esses canais de percepção e assim não entrar no Ciclo de Relacionamento do seu cliente? Faça como o nosso colega de profissão que sugeriu o tema do post de hoje, participe! Sua experiência e suas sugestões e ideias são muito importantes.

A leviana diplomacia do espetáculo, por Elio Gaspari



Elio Gaspari, na Folha de São Paulo
POUCAS VEZES a diplomacia brasileira meteu-se numa estudantada semelhante à truculenta intervenção nos assuntos internos do Paraguai. O presidente Fernando Lugo foi impedido por 39 votos a 4, num ato soberano do Senado.
Nenhum soldado foi à rua, nenhuma linha de noticiário foi censurada, o ex-bispo promíscuo aceitou o resultado, continua vivendo na sua casa de Assunção e foi substituído pelo vice-presidente, seu companheiro de chapa.
Nada a ver com o golpe hondurenho de 2009, durante o qual o presidente Zelaya foi embarcado para o exílio no meio da noite.
Quando começou a crise que levou ao impedimento de Lugo, a diplomacia de eventos da doutora Dilma estava ocupada com a cenografia da Rio+20.
Pode-se supor que a embaixada brasileira em Assunção houvesse alertado Brasília para a gravidade da crise, mas foi a inquietação da presidente argentina Cristina Kirchner que mobilizou o Brasil.
A doutora achou conveniente mobilizar os chanceleres da Unasul, uma entidade ectoplásmica, filha da fantasia do multilateralismo que encanta o chanceler Antonio Patriota.
As relações do Brasil com o Paraguai não podem ser regidas por critérios multilaterais. Foi no mano a mano que o presidente Fernando Henrique Cardoso impediu um golpe contra o presidente Juan Carlos Wasmosy em 1996. Fez isso sem espetacularização da crise. A decisão de excluir o Paraguai da reunião do Mercosul é prepotente e inútil. Quando se vê que o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, cortou o fornecimento de petróleo ao Paraguai e que a Argentina foi além nas suas sanções, percebe-se quem está a reboque de quem. Multilateralismo no qual cada um faz o que quer é novidade. Existe uma coisa chamada Mercosul, banem o Paraguai, mas querem incluir nele a Venezuela, que não está na região e muito menos é exemplo de democracia.
Baniu-se o Paraguai porque Lugo foi submetido a um rito sumário. O impedimento seguiu o rito constitucional. Ao novo governo paraguaio não foi dada nem sequer a palavra na reunião que decidiu o banimento.
Lugo aceitou a decisão do Congresso e agora diz que liderará uma oposição baseada na mobilização dos movimentos sociais. Direito dele, mas se o Brasil se associa a esse tipo de política, transforma suas relações diplomáticas numa espécie de Cúpula dos Povos. Vai todo mundo para o aterro do Flamengo, organiza-se um grande evento, não dá em nada, mas reconheça-se que se fez um bonito espetáculo.
O multilateralismo da diplomacia da doutora Dilma é uma perigosa parolagem. Quando ela se aborreceu, com razão, porque um burocrata da Organização dos Estados Americanos condenou as obras da hidrelétrica de Belo Monte, simplesmente retirou do foro o embaixador brasileiro. A OEA é uma irrelevância, mas para quem gosta de multilateralismo, merece respeito.
A diplomacia brasileira teve um ataque de nervos na bacia do Prata. O multilateralismo que instrui a estudantada em defesa de Lugo é típico de uma política externa biruta. O chanceler Antonio Patriota poderia ter se reunido com o então vice-presidente paraguaio Federico Franco 20 vezes, mas se a Argentina queria tomar medidas mais duras, ele não deveria ter ido para uma reunião conjunta, arriscando-se ao papel de adorno.

SUBIU À CABEÇA (Cachoeira)

Giulio Sanmartini
Desde que foi preso, (29/2/2006) pela Operação Monte Carlo da Polícia Federal PF, o contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, vulgo Carlinhos Cachoeira,  vem espalhando prepotência. Tem dado a entender que tem homens fortes da política em sua folha de pagamento, assim se comporta como um bandido privilegiado.
Foi revoltante a forma  debochada como se apresentou na CPMI, sob orientação de seu advogado Márcio Thomas Bastos, ex ministro da Justiça e  cúmplice, pois está sendo regiamente pago com dinheiro proveniente do crime.
Todavia, de repente, toda essa sua pose desmoronou. O meliante, que está no Presídio da Papuda (Basília), queria continuar assistindo pela Tv o julgamento de seu “hábeas corpus”, mas como estivesse fora do horário permitido, o aparelho foi desligado pelo agente penitenciário em serviço.
O contraventor se descontrolou e xingou o servidor. Outros agentes vieram em auxílio, mas foram igualmente destratados. O bicheiro disse que tinha amigos influentes, que logo sairia da prisão e que depois iria à forra com quem o tratasse mal. Todavia, o agente não se intimidou, autuando-o  por desacato a autoridade e  desobediência.
A advogada Dora Cavalcanti, da equipe que defende Cachoeira, tentou atenuar o incidente, afirmando que ele “teve uma descompensação séria” e não estava bem desde aquela manhã  e explicou: “O psiquiatra foi lá reavaliar medicamentos e o que nos preocupa é a saúde mental”.
Fato é, que no dia da discussão o Tribunal de Justiça do DF tinha decidido mantê-lo preso, e o ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça, cassou liminar que lhe dava liberdade. Ele que tinha como certa sua soltura e poder estar nos braços de sua jovem e bonita mulher, quando percebeu que isso não aconteceria, que a abstinência permaneceria “sine dia”, a coisa subiu-lhe à cabeça e ele surtou.