(Transcrito do Blog do Miranda Sá ) |
MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br )
Encantei-me na juventude (que já vai longe) pelo dramaturgo alemão Bertold Brecht, levando por muitos anos nos meus cadernos de anotação um aforismo seu, que adotei como meu: “Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. É da empresa o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contentes, querem privatizar o conhecimento, a sabedoria e o pensamento, que só à humanidade pertencem.”
Como intransigente defensor da liberdade de expressão, fui atrás do rico filosofar de Brecht e encontrei o gancho para expressar a minha indignação por ver os donos do poder jogar no lixo a História do Brasil.
"Triste do povo que precisa de heróis" lamentou Brecht na sua peça “Galileu”, acrescentando: “felizes aqueles que os têm”.
Irredutível patriota tenho os meus heróis, e vou citar alguns para ilustrar, Joaquim José da Silva Xavier – o Tiradentes – é um deles. Fundador do movimento independentista nas Minas Gerais junto com Cláudio Manuel da Costa, Inácio José de Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga, defendia a República e discutia a abolição da escravatura. Reprimida a chamada “Inconfidência Mineira”, Tiradentes assumiu toda a responsabilidade por ela e foi condenado à morte.
Outro herói que cultuo (talvez por corporativismo) é o notável jornalista Cipriano José Barata de Almeida - o Cipriano Barata -, fundador dos jornais “Sentinela”, que mudava o complemento original a cada lugar que ia ou prisão que sofria; o primeiro foi o “Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco” que saiu em 1823. Foi o redator do "Manifesto ao Povo Bahiense" que inspirou e norteou a Conjuração Baiana, e um dos líderes da Revolução Pernambucana e inspirador da Confederação do Equador, republicana e anti-escravista.
Não posso esquecer-me também do Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo – o Frei Caneca - que fundou e redigiu no jornal “Tifis Pernambucano”, onde expressou as ideias iluministas, com forte referência a Montesquieu e Rousseau. Frei Caneca agitou e guiou a Revolução Pernambucana, que lançou sob o Império, as bases de uma república, a Confederação do Equador.
Os heróis da TV-Globo e do PT são outros. Uns pela banalização desrespeitosa do tratamento “herói” e outros na defesa fanática e dogmática de assaltantes do Erário condenados e presos pelo Supremo Tribunal Federal.
Esses heróis são fabricados para telenovelistas ignorantes, burocratas partidários ou ativistas aparelhados pelo PT-governo na administração pública.
O professor e escritor Washington Araujo, escreveu no ‘Observatório de Imprensa’ que
“Existem heróis e heróis” – comentando irritado com o tratamento que Pedro Bial, animador do ‘Big Brother Brasil’, dá aos participantes da chanchada: "Boa noite, meus heróis!".
Não menos ridículo, às raias da cretinice, é o desagravo que os dirigentes do PT anunciam que farão aos mensaleiros no seu 5º Congresso, que ocorrerá na próxima semana. Se a militância do partido se reduziu à manada de bezerros de presépio, a proposta será aprovada; senão, abrirá a esperança de que ainda podemos esperar dali uma reação contra o enaltecimento da corrupção e da impunidade como atos heróicos.
Como aclamar como heróis personalidades que adotam a fraude e a desonestidade como o princípio dos fins justificarem os meios? Como enaltecer indivíduos que se sustentam na mentira, repetindo-a sempre para transformá-la em verdade com ensinou herr Goebbles?
Tal infâmia é projetada no mais recente sustentáculo da adulteração ética do lulo-petismo: a desavergonhada (e criminosa) armação do emprego de José Dirceu no Hotel St. Peter, que faz tremer no túmulo os fundadores do PT já falecidos, humilha e desonra os dissidentes ainda vivos, e derruba de vez qualquer credibilidade à organização partidária.
Tristes da TV-Globo e do PT cujos heróis são os “BBs” e os presos da Papuda!