05/05/2013
Marc Aubert
Coisa de vinte anos atrás fui ao borracheiro especializado em vulcanização de pneu rasgado, retirar o que eu havia deixado lá dois dias antes, porque não dava para comprar um novo. Sobrava mês no fim do salario. Atendeu um garoto de uns quinze anos, perguntou o que eu queria e depois, entreabrindo a porta que dava para a oficina, gritou: – Pai, tem um “véio” que veio buscar um pneu.
Foi um choque, mas mesmo assim não pude conter o riso, pois pensei que esse tipo de coisa só ia acontecer dali a uns vinte anos. Acostumado a você, rapaz, moço, jovem, o primeiro choque vem com o primeiro senhor. Que eu me lembre, o meu veio quando virei gerente e ganhei uma secretária; não incomodou muito, mas concedo que a transição não se deu sem traumas. Senhor também é substituído, em geral pelas suas costas, por “aquele véio ali”, num momento de raiva ou desprezo, quando você não estiver ouvindo. Se você produziu filhos, assinou compulsoriamente o termo aditivo que lhe empurrará automaticamente o epiteto “véio” quando seus filhos (netos também) alcançarem a adolescência, que é o extremo oposto desse estado de decadência galopante em que você se encontra, do ponto de vista deles, claro. Descobrirá por si mesmo que existe música de véio, dança de véio, roupa de véio e até gírias tão véias quanto você. Existe até um olhar que trocam entre si ou quando ouvem algo que não se enquadra em sua visão do mundo, meio que rolando o globo ocular para o alto e que, traduzido, lhe coloca de volta no mesmo lugar, a velhice ignorante e burra.
Foi um choque, mas mesmo assim não pude conter o riso, pois pensei que esse tipo de coisa só ia acontecer dali a uns vinte anos. Acostumado a você, rapaz, moço, jovem, o primeiro choque vem com o primeiro senhor. Que eu me lembre, o meu veio quando virei gerente e ganhei uma secretária; não incomodou muito, mas concedo que a transição não se deu sem traumas. Senhor também é substituído, em geral pelas suas costas, por “aquele véio ali”, num momento de raiva ou desprezo, quando você não estiver ouvindo. Se você produziu filhos, assinou compulsoriamente o termo aditivo que lhe empurrará automaticamente o epiteto “véio” quando seus filhos (netos também) alcançarem a adolescência, que é o extremo oposto desse estado de decadência galopante em que você se encontra, do ponto de vista deles, claro. Descobrirá por si mesmo que existe música de véio, dança de véio, roupa de véio e até gírias tão véias quanto você. Existe até um olhar que trocam entre si ou quando ouvem algo que não se enquadra em sua visão do mundo, meio que rolando o globo ocular para o alto e que, traduzido, lhe coloca de volta no mesmo lugar, a velhice ignorante e burra.
Os operadores de telemarketing nos legaram duas grandes mudanças vernaculares: frases com três verbos, tipo “A gente vai estar fazendo uma requisição técnica”, e o uso de senhor como forma de etiqueta no trato com o público, tipo “não posso fazer nada, senhor” recitado entre dentes e que na realidade significa “vai se foder, véio chato do carai”. E não adianta, a partir do momento que você é enquadrado na categoria de véio, não tem volta; tem atenuantes como véio charmoso se você for parecido com Sean Connery (depois de véio); véio simpático, se lembrar Ziraldo; véio bonito, se o seu tipo for o de Stewart Granger, que o leitor nem sabe quem foi, um famoso artista de Hollywood. Tem também agravantes: véio metido a besta, se dirigir um buggy; véio seboso, se você for careca e usar um rabo de cavalo e uma barba mal cuidada; véio enxerido, se resolver jogar charme em cima de ninfetas; e tem o imbatível: aquele véio barrigudo, auto explicativo.