sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

A TURMA DOS JATINHOS E HELICÓPTEROS - por Percival Puggina


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Percival Puggina

Sempre que você escutar um economista dito “desenvolvimentista” saia correndo, chame a mulher e as crianças e grite por socorro, SOS, mayday, salve-se quem puder!

Naqueles tempos em que Lula ainda tentava mostrar o petismo à nação como experiência bem sucedida, malgrado o crescimento fosse tipo merengue e a prosperidade não passasse de contas penduradas num prego, ele surtava dizendo que, graças aos governos do partido, pobre já andava de avião. Doze milhões de desempregados depois, contas ainda no prego da inadimplência, as companhias aéreas devolvem aviões e reduzem o número de voos, mas… há uma parcela da elite política brasileira que só viaja de jatinho.

 Ah, as nossas instituições! Desgraçadamente, nos últimos anos, elas se corromperam em proporções ainda não plenamente descritíveis. A sociedade, que não lhes devotava confiança, perdeu-lhes o respeito. Se o leitor destas linhas for parlamentar, ministro de Estado, membro das cortes superiores do Judiciário, agente público de alto escalão e considerar excessivamente duras estas palavras, fale com as pessoas. Ouça o povo nas ruas. Será ainda mais contundente o que vai ouvir. O descaramento e a inépcia de muitos que se instalam nessas posições para os piores fins, totalmente desprovidos de espírito público, atinge a todos e abala os pilares da Ordem, da Política e do Direito. Produz o que hoje se observa no país.

 E não é só por causa da corrupção! A sociedade também não tolera mais os contracheques de centenas de milhares de reais, recheados com “indenizações”, parcelas adicionais, gratificações especiais e jeitosas manobras. Divulgada esta semana, não mostrava a folha de pagamento do TJ sergipano um pouco mais disso, com remunerações de centenas de milhares de reais aos desembargadores? Pergunto: prodigalidades assim não se repetem em toda parte, gerando ganhos impensáveis fora do serviço público, cujo patrão, o povo, desconhece os absurdos que paga? A nação enoja-se desses esbanjamentos, dos cartões corporativos, dos voos em primeira classe, das aposentadorias privilegiadas, e da conduta dessa elite cuja boa vida, ela, a nação, custeia com o gotejado suor de seu rosto e com a sola do sapato gasta nas calçadas do desemprego.

Notórias personalidades, além do privilégio de foro que as oculta da efetiva justiça, desfrutam do raro privilégio de se eximirem do convívio social nos saguões dos aeroportos e nas filas de embarque onde não seriam bem acolhidas pelo Brasil que se leva a sério e exige respeito. Então, os senhores da casa grande republicana, andejam pelo país para reuniões de proselitismo e mentira, festejados por cupinchas à espera da própria vez. E como viajam? Em jatinhos, helicópteros e voos fretados, às custas de terceiros, quartos e quintos, entre os quais, quase certamente, nós mesmos, a turma da senzala.


* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site http://www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

Aplicativo israelense de vídeos em grupo está conquistando a Geração Z


Aplicativo Life on Air
Em recente reportagem, a revista Forbes afirmou o novo aplicativo israelense para conversas por vídeo, o “Houseparty”, é o preferido da Geração Z. Criado pela Life on Air, uma startup de Israel, o app permite que usuários participem de “festas” com até oito pessoas ao mesmo tempo, criando conversas por vídeo nas quais os participantes podem entrar e sair livremente, com os amigos que também estiverem online. A ideia por trás do aplicativo é criar um espaço virtual no qual você pode passar um tempo com seus amigos – em uma “festa em casa” – onde todo mundo que você conhece está convidado. Quando algum amigo seu acessa o aplicativo, você recebe uma notificação, para que você saiba que eles chegaram na casa para a festa. Se você quiser criar uma conversa, você abre o aplicativo e se conecta.
As conversas são organizadas por salas de bate papo e todos os seus amigos no aplicativo possuem um convite virtual para entrar na sua conversa. Os amigos dos seus amigos também podem participar – neste caso, você receberá uma mensagem de alerta (“stranger danger”). Fora isso, o “Houseparty” funciona como qualquer festa, onde você pode conversar com seus amigos. Cada sala de bate papo pode comportar até oito pessoas simultaneamente e você pode transitar livremente pelas salas, interagindo com diferentes grupos de amigos. Quando você quiser restringir o acesso de pessoas a uma conversa privada, você pode simplesmente fechar a sala.
A diretora Sima Sistani afirma: “Constantemente nos surpreendemos com a quantidade de pessoas que nos procuram para dizer o quanto o Houseparty está fortalecendo suas amizades e relações familiares. É uma ótima sensação poder se conectar com amigos ou entes queridos. Ou, melhor ainda, com vários amigos e entes queridos, de maneira totalmente inesperada. Nós adoramos saber como as pessoas estão inserindo o Houseparty em suas rotinas do dia a dia, seja para juntar os amigos do peito para relembrar os melhores momentos de uma série de TV, matar a saudade cozinhando algo para o jantar “com” sua mãe ou pai, ou relembrando os detalhes sórdidos de uma noite agitada com seus melhores amigos”.

Sermão Secular e a Corrupção


Padre Antônio Vieira

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Hélio Duque

Mais de três séculos depois, o sermão sobre corrupção do Padre Antonio Vieira é de uma atualidade inacreditável no Brasil contemporâneo. A lembrança do grande pregador decorreu do fato de há algum tempo ter revisitado o inesquecível Colégio Antonio Vieira, em Salvador, primeira instituição de ensino criada no Brasil pelos jesuítas.

Ao longo de séculos, no ginasial e no colegial, gerações recolheram sólidos valores no aprendizado, incorporando a ética como princípio intocável para a vida. No século XVII, era levado para Portugal, por imposição da intolerante e odiosa Santa Inquisição. Foi perseguido político, pelo único delito de nos seus extraordinários sermões condenar o ilícito, a corrupção e a ladroagem dominantes nas terras coloniais.

A elegante e bem elaborada pregação e os seus escritos integram páginas notáveis na literatura brasileira. A obra completa do Padre Vieira, na coleção de 30 volumes acaba de ser publicada pela Edições Loyola, incluindo os textos de história, filosofia, direito, economia, literatura, filologia e, fundamentalmente futurologia. Enfrentou a intolerância, fazendo da palavra a sua arma.
                  
Em Lisboa, desafiando a Inquisição, em 1655, na Igreja da Misericórdia, proferiu histórica pregação, de grande valor nesse século XXI. É o “Sermão do bom ladrão”, que terá aqui alguns dos seus grandes momentos transcritos. O espaço hoje será do Padre Antonio Vieira.
                  
1 – “Bem quisera eu que o que hoje determino pregar chegara a todos os reis. Todos devem imitar ao rei dos reis, e todos têm muito que aprender nesta última ação de sua vida. Pediu o bom ladrão a Cristo que se lembrasse dele no seu reino. E a lembrança que o Senhor teve dele foi que ambos se vissem juntos no paraíso. Esta é a lembrança que devem ter todos os reis. Que se lembrem não só de levar os ladrões ao paraíso, senão de os levar consigo. Nem os reis podem ir ao paraíso sem levar consigo os ladrões, nem os ladrões podem ir ao inferno sem levar consigo os reis. Isto é o que hei de pregar.”
                  
2 – “Navegava Alexandre Magno em sua poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia, e como fosse trazido à sua presença um pirata que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício. Porém, ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: - Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muitos faz, os Alexandres. Se o rei da Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata, o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.”
                  
3 – “Ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno. Os que não só vão, mas levam, de quem eu trato, são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera; os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue muito bem S.Basílio Magno. Diógenes que tudo via com mais aguda vista que outro homem viu que uma grande tropa de varas e ministros da justiça levava a enforcar uns ladrões e começou a bradar: - Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos. Ditosa Grécia que tinha tal pregador! Quantas vezes se viu  Roma ir a enforcar um  ladrão por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um Cônsul ou ditador, por ter roubado uma província. E quantos ladrões teriam enforcado estes mesmos ladrões triunfantes.”
                  
4 – “Conjugam o verbo rapio por todos os modos. Começam a furtar pelo modo indicativo. Furtam pelo modo imperativo, porque, aplicam despoticamente às execuções da rapina. Furtam pelo modo mandativo, porque aceitam quando lhes mandam. Furtam pelo modo optativo. Furtam pelo modo conjuntivo. Furtam pelo modo potencial. Furtam pelo modo permissivo, porque permitem que outros furtem. Furtam pelo modo infinitivo. Furtam juntamente por todos os tempos, para incluírem no presente o pretérito e o futuro do pretérito desenterram crimes, de que vendem os perdões. Furtam, furtavam, furtaram,  furtariam e haveriam de furtar mais, se mais houvesse.”
        
Como se vê, o Padre Antonio Vieira, enxergava séculos à frente do seu tempo. Sua atualidade é estonteante.


Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.