sábado, 4 de agosto de 2012

A gangue dos playboys Como agia a quadrilha de 15 jovens que praticavam sequestros relâmpagos em bairros nobres de São Paulo para financiar baladas e comprar carros e roupas de grife



Flávio Costa
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QUADRILHA REUNIDA
Da esq. para a dir. Michael Douglas Nascimento, Lucas Bispo,
Rodolfo Silva,  o menor R., William Santos Góis, Luiz Guilherme
de Souza, Alexandre França Costa e Vítor Mendes Rodrigues Lima
A galera do “rela”, gíria em alusão aos sequestros relâmpagos, queria viver como playboy. Vestia roupas de grife, cujos preços poderiam chegar a R$ 1,8 mil por peça, dirigia carros turbinados, exibia relógios luxuosos e promovia festas particulares no litoral paulista regadas a uísque. Baladas nas melhores casas noturnas também faziam parte da rotina dos 15 jovens, dois deles adolescentes, oriundos de famílias bem estruturadas da zona sul de São Paulo, acusados de formar uma das maiores quadrilhas especializadas em sequestros relâmpagos do País. Alguns cursavam universidades particulares, a maioria trabalhava. Típicos rapazes que costumam ser motivo de orgulho para seus pais. A doce ilusão virou fumaça quando a polícia prendeu nove desses “garotos exemplares”, responsáveis por 30 roubos confirmados no primeiro semestre deste ano em São Paulo. As vítimas preferenciais eram moradores de bairros nobres da zona sul da capital paulista, no momento em que saíam do trabalho ou chegavam em suas residências. Os golpes poderiam render até R$ 20 mil, entre saques a caixas eletrônicos e compras nos cartões de crédito.
O mais audacioso do grupo, Bruno Rodrigues Guedes de Jesus, 21 anos, participou de 19 dos 30 crimes da gangue dos playboys. Preso desde abril, ele morava com a família em uma casa própria na zona sul da capital paulista. Loiro, braço esquerdo tomado por uma tatuagem tribal, era o responsável por abordar as vítimas. “Ele tem um perfil que o camuflava nesses bairros de classe média”, explica Eduardo Camargo Lima, delegado titular da 96º DP (Brooklin), que desbaratou a quadrilha. Os assaltos aconteciam entre 18h e 21h, para aproveitar a troca de turno dos batalhões da Polícia Militar e pegar pessoas desprevenidas na saída dos escritórios. De revólver em punho, dois do bando abordavam a vítima, enquanto um terceiro era responsável por fazer saques em caixas eletrônicos e compras com os cartões de crédito. Um criminoso tomava o volante e rodava no carro com a vítima pela Marginal Pinheiros, via expressa sem blitz policiais. Outro seguia o veículo com um carro, geralmente roubado. Eles se comunicavam por celulares. Após três horas, a vítima era deixada em um lugar de difícil acesso. “Eles falavam o tempo todo que iriam me matar caso não conseguissem sacar dinheiro da minha conta”, afirmou à ISTOÉ um dentista de 28 anos, roubado em R$ 7 mil. “Eles levaram meu carro e me deixaram na entrada da favela de Paraisopólis. Ainda tive um prejuízo de R$ 18 mil nas minhas contas bancárias”, disse outra vítima, um executivo de 30 anos.
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DOCE VIDA
O estudante de Engenharia Vítor Lima (acima, no Rio), 20 anos,
era um dos integrantes mais ativos do bando e foi flagrado por
câmeras de vídeo comprando roupas com cartões de crédito roubados
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A ostentação era uma marca do grupo. A polícia paulistana apreendeu, por exemplo, fotos da gangue segurando maços de notas que somam até R$ 30 mil. Um dos integrantes chegou a presentear a mãe com um carro roubado. Bruno de Jesus, o mais arrojado do bando, que não tinha uma estrutura hierárquica, caiu pela ganância. Ele passou a fazer compras em lojas de conveniência de uísques e vodcas importados com cartões roubados. O descuido possibilitou que várias vítimas reconhecessem o “Alemãozinho” por imagens captadas do circuito interno de vídeo desses locais. Bruno foi seguido pelo investigador Luís Fernando Ferreira de Souza, que se infiltrou em baladas funks, como o Sítio do Ré – uma das músicas preferidas do grupo é “Sequestro Relâmpago”, do MC Zói de Gato. Foi lá que começou a identificar os integrantes da quadrilha, os quais também frequentavam luxuosas casas noturnas na Vila Olímpia, bairro da zona sul. “E aí, mano, como estão os relas? Tá pegando muito grã-fino no Brooklin?”, eram expressões recorrentes na quadrilha. “Depois que foi preso, Bruno chegou a me dizer que eu não conseguiria prender todos os envolvidos nesses crimes, porque era muita gente. Tornou-se o crime da moda em São Paulo”, afirmou Souza.
O sequestro relâmpago causa tamanha dor de cabeça que a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo criou, em fevereiro passado, uma delegacia especializada em combater esse crime. Apenas a gangue dos playboys pode ter sido responsável por 30 assaltos mensais entre janeiro e abril deste ano. Com a prisão de Bruno, e a apreensão de dados no seu computador, a tarefa de identificar o resto do bando ficou mais fácil. Office-boy de escritório de advocacia localizado a poucos metros do 96º DP, Lucas Fernandes de Souza foi preso enquanto pagava uma conta. Alexandre França Costa e Juliano de Souza Rosa foram detidos na divisa entre São Paulo e Rio de Janeiro, com um carro roubado. No porta-malas, várias peças de grife, R$ 1.060, dólares e celulares.
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CADEIA
Mais arrojado do grupo, Bruno Rodrigues Guedes de Jesus está preso desde abril.
Dezenove participações em 30 sequestros relâmpagos da quadrilha
Outros três acusados – o estagiário de uma grande construtora Vítor Mendes Rodrigues Lima, 20, o vestibulando William Santos Góis, 21, e o metalúrgico Temístocles de Souza Oliveira, 21 – foram presos no último dia 18, sob a alegação de trocar tiros com policiais. Oliveira foi atingido por um disparo, passou por uma cirurgia de emergência na quinta-feira 26 e está preso. “Eu nunca percebi qualquer alteração nos horários dele e não conheço nenhum dos rapazes que foram presos com ele”, afirmou à ISTOÉ a mãe de Temístocles, que vive em uma casa simples no Parque Arariba, também na zona sul. Há um ano, ele trancou a faculdade de mecatrônica, na Unip, depois de cursar um semestre. À mãe, havia dito que não gostara do curso e pensava em mudar.
Vítor Lima estudava engenharia na Universidade Anhembi Morumbi, cujas mensalidades custam em torno de R$ 1,2 mil. Morava com a família em uma casa amarela de dois andares no Jardim Macedônia, também zona sul, com um Toyota Corolla na garagem. As posses dos Lima se destacam no modesto bairro. Já William Góis provém de uma família evangélica. O pai chegou a presenteá-lo com um carro e uma moto. “Até os 18 anos, ele nunca me deu trabalho. Mas acho que vai aprender com essa situação”, disse o comerciante, que não quis se identificar.
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MEDO
Vítimas como um dentista e um executivo reconheceram
membros da quadrilha na delegacia, em São Paulo
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Se o antídoto usual à criminalidade consiste nas políticas públicas que cruzam bolsas de auxílio financeiro e escolarização, nesse tipo de crime que emerge da classe média, essa solução deixa de ser eficaz. Rouba-se não por razões objetivas – falta de comida ou bens básicos – mas por desejos subjetivos. “Fica evidente que a motivação não é a desigualdade social, mas a falta de valores morais”, diz a socióloga Carla Diéguez, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Para ela, desde a década de 90 é possível delinear esse tipo de crime protagonizado pela classe média. “São fruto de uma geração que não sabe lidar com o fracasso e almeja a todo custo o sucesso.” “Não adianta ter carro, acesso à universidade ou usar roupas de grife. Resta sempre um desejo de mais.”
No Nordeste, mais dois casos
Estudantes de classe média são presos na Bahia e em Alagoas
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Quadrilhas formadas por estudantes de classe média foram desbaratadas nos últimos dias em dois Estados do Nordeste. Em Salvador, José Rafael Bahia Forte, Rafael Brandão dos Santos, o “Rafaelzinho”, Marcos Felipe de Jesus, o “Lacerda”, e Igor dos Santos Lobo (abaixo) ostentavam um sorriso zombeteiro ao serem apresentados pela polícia como integrantes do grupo criminoso responsável por sete assaltos num condomínio de alto padrão na região metropolitana da capital baiana. Estima-se que eles tenham roubado um total de R$ 100 mil. O fruto dos roubos era gasto em viagens e saídas para casas noturnas. Em uma única noitada, eles chegaram a torrar R$ 15 mil. Filho de um dos moradores, José Rafael Bahia Forte facilitava a entrada dos comparsas no condomínio. Já em Maceió, 19 pessoas foram presas, na maioria, jovens universitários e donos de pontos comerciais, por participarem de um esquema de clonagem de cartões de crédito que rendia R$ 500 mil por semana. Os policiais alagoanos apreenderam ainda 11 carros, duas motos aquáticas, uma moto e os equipamentos de clonagem.
Colaborou Rachel Costa

A superpolêmica socióloga Catherine Hakim: “Acho justo que as pessoas bonitas ganhem mais do que as outras”



"A maioria das mulheres não almeja a independência financeira. A utopia feminina moderna é ser uma dona de casa à toa" (Foto: Emiliano Capozoli)
"A maioria das mulheres não almeja a independência financeira. A utopia feminina moderna é ser uma dona de casa à toa" (Foto: Emiliano Capozoli)
(Publicado em VEJA de 25 de julho de 2012, por Nathália Butti)

Catherine Hakim
“ELAS QUEREM UM MARIDO RICO”

A socióloga inglesa Catherine Hakim diz que não há igualdade entre os sexos e incentiva as mulheres a usar todos os seus atributos para ascender na carreira

Pesquisadora da London School of Economics por duas décadas e uma das mais respeitadas estudiosas da inserção feminina no mercado de trabalho, a socióloga inglesa Catherine Hakim, de 64 anos, tornou-se uma das principais expoentes do novo feminismo europeu – uma espécie de feminismo às avessas.
As ideias defendidas por ela e por suas colegas – a maioria intelectuais francesas e alemãs – chocam por sua simplicidade e incorreção política. Igualdade entre os sexos? Bobagem. Marido? De preferência, rico. Barriga de aluguel? Um fluxo de receita inexplorado.
Autora de dezesseis livros, com uma respeitável carreira no governo inglês no currículo (atuou como pesquisadora e foi consultora de vários ministros), Hakim compilou suas teses excêntricas no recém-lançadoCapital Erótico (Ed. Best Business; 336 páginas; 49,90 reais).
O tema central do livro é a importância da beleza na ascensão profissional das mulheres. Justifica a autora: “O feminismo radical deprecia o encanto feminino. Por que não encorajar as mulheres a aproveitar-se dos homens sempre que puderem?”.

Beleza e carreira
“Aristóteles já dizia que a beleza é melhor do que qualquer carta de apresentação. As vantagens de uma boa aparência podem ser percebidas desde a infância. Pesquisas revelam que 75% das crianças que se encaixam nos padrões de beleza aceitos universalmente, como um rosto simétrico, são julgadas como corretas e cativantes, enquanto só 25% das que não têm essas características são vistas dessa forma. Presume-se que os belos são mais competentes – e eles são tratados como tal. Atratividade e beleza são fundamentais para a ascensão profissional das mulheres nas sociedades modernas.”

Os mais belos devem ganhar mais
“Inteligência e beleza são duas habilidades necessárias para o sucesso e muito semelhantes entre si: metade é hereditária, metade é resultado de investimentos de tempo e esforço. Não existe diferença moral entre a aparência e a inteligência. Acho justo que os mais belos ganhem mais. É frequente presumir que quaisquer benefícios concedidos a pessoas atraentes são desmerecidos e injustos. Quando se fala em sucesso, ninguém duvida do mérito dos inteligentes nem questiona a exclusão dos ignorantes. Por que não recompensar também quem se destaca pela aparência, sendo ela natural ou conquistada?”

"Beleza extrema é algo raro, um item de luxo. Nem todo mundo nasce Elizabeth Taylor" (Foto: Acervo / Exame.com)
"Beleza extrema é algo raro, um item de luxo. Nem todo mundo nasce Elizabeth Taylor. Quem não tirou a sorte grande deve aprimorar o seu poder de atração" (Foto: Acervo / Exame.com)

As feias que me perdoem
“Beleza extrema é algo raro, um item de luxo. Nem todo mundo nasce Elizabeth Taylor. Quem não tirou a sorte grande deve aprimorar o seu poder de atração. Na França, é comum o conceito de Belle Laide, a mulher feia que se torna atraen­te graças à forma como se apresenta à sociedade e ao seu estilo.
Christine Lagarde, a diretora do Fundo Monetário Internacional, o FMI, é um exemplo de mulher que não ostenta a beleza clássica, mas é extremamente atraente. Tem personalidade, carisma, charme e boas maneiras. Se você não é bonito, por favor, vá à luta. Cultive um belo corpo, aprenda a dançar, desenvolva habilidades. E distribua sorrisos.
Como Marilyn Monroe sempre soube, o mundo sorri de volta para quem sabe sorrir. O sorriso é um sinal universal de acolhimento, aceitação e contentamento em relação aos demais. Torna a todos mais atraentes.”

Os tipos de feminismo
“O feminismo é uma ideologia abrangente, contém muitos elementos adversos. Há escritoras radicais que adotam o feminismo-vítima, no qual as mulheres sempre saem perdendo. Outras, como Camille Paglia, insistem que o feminismo impõe responsabilidades às mulheres, de forma que elas não podem culpar os homens todas as vezes que algo der errado em sua vida pessoal ou em sua carreira.
Tenho ao meu lado as intelectuais francesas e as alemãs. De maneira geral, elas reconhecem e valorizam o capital erótico das mulheres. As anglo-saxãs repudiam esse conceito. Elas rejeitam tudo o que está relacionado ao sexo e ao prazer e têm aversão à beleza.”

Igualdade entre os sexos
“O mito feminista da igualdade dos sexos é tão infundado quanto a afirmação de que todas as mulheres almejam a total simetria nos papéis familiares, emprego e salário. As feministas insistem que a independência financeira é necessária para a igualdade em casa.
Argumentam ainda que a maior parte das mulheres é carreirista, como os homens, e detesta ficar em casa para criar os filhos. Diversos estudos indicam o contrário. A maioria das mulheres prefere ficar em casa em tempo integral quando as crianças são pequenas, pelo menos até elas começarem a frequentar a escola. Um parceiro bem-sucedido torna essa opção mais viável.”

Belle Laide: sem beleza estupensa, Christine Lagarde esbanja simpatia, (Foto: Julien M. Hekimian / Getty Images)
Sem beleza estupensa, Christine Lagarde, chefona do FMI, "esbanja personalidade, carisma, charme e boas maneiras" (Foto: Julien M. Hekimian / Getty Images)

O marido ideal
“Tornar-se uma dona de casa `à toa’, em tempo integral, é uma utopia moderna para a maioria das mulheres. Em estudos realizados em todo o mundo, quando questionadas sobre as características mais valorizadas em um parceiro, as mulheres afirmam preferir homens com recursos, condição que viabiliza a permanência delas no lar.”

Ter ou não filhos
“Dizer que a mulher é pouco feminina ou não verdadeiramente realizada se ela não tem filhos é difundir um mito patriarcal. Os homens sem filhos raramente são criticados desse modo. Não há nada de errado com a mulher que não quer ser mãe. É cada vez maior o número de europeias que abdicam da maternidade, principalmente na Alemanha e na Inglaterra.”

Déficit sexual masculino
“Desejo sexual é uma questão de gênero. As mulheres têm um nível mais baixo de desejo sexual, de forma que os homens passam a maior parte da vida sexualmente frustrados em vários graus. Existe um sistemático – e, ao que parece, universal – déficit sexual masculino.
Os homens geralmente querem muito mais sexo do que conseguem, em todas as idades. Assim, a capacidade de atração sexual feminina perante os hormônios deles pode ser uma ferramenta valiosa de que as mulheres se beneficiem.
Os homens sempre exploraram as mulheres, razão pela qual o feminismo foi necessário. Nós, mulheres, deveríamos explorar qualquer vantagem que temos sobre os homens, sempre que possível.”

Barriga de aluguel
“Se os homens pudessem produzir bebês, essa seria uma das maiores ocupações pagas do mundo. As leis foram inventadas pelos homens para o interesse deles próprios, e não incluem os interesses femininos. Muitas vezes, a legislação impede que as mulheres recebam integralmente os lucros de seus talentos, com valor comercial adequado. A barriga de aluguel, por exemplo, é um fluxo de receita inexplorado e do qual nós, mulheres, podería­mos nos beneficiar.”

Marilyn Monroe sempre soube, o mundo sorri de volta para quem sabe sorrir (Foto: MUBE / Divulgação)
"Marilyn Monroe sempre soube: o mundo sorri de volta para quem sabe sorrir: (Foto: MUBE / Divulgação)
Pelo fim da hipocrisia
“Sou uma feminista convicta. Sempre busquei o melhor para as mulheres. Dediquei mais de duas décadas de minha carreira a responder a uma questão: por que as mulheres raramente são as heroínas? Há quem não me entenda, mas o que ofereço é uma nova perspectiva feminista, sem hipocrisia.
Muitos dos escritos feministas modernos conspiram a favor das perspectivas chauvinistas masculinas ao perpetuar o desprezo pela beleza e pelo sex appeal das mulheres. O feminismo radical deprecia o encanto feminino. Por que não estimular a feminilidade em vez de aboli-la?”

STF luta contra o relógio para não perder voto de Peluso Na quarta-feira, os ministros devem discutir a adoção de sessões extras para garantir que o magistrado consiga votar antes da aposentadoria compulsória



Laryssa Borges
Julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal, em Brasília
Julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal, em Brasília (Pedro Ladeira/AFP)
Os ministros do Supremo Tribunal Federal mobilizam-se para garantir que o ministro Cezar Peluso - que se aposenta compulsoriamente da corte em 3 setembro, quando completa 70 anos - possa dar seu voto no julgamento do mensalão, o maior escândalo político da história do país. O ministro é considerado um voto certo pela condenação dos mensaleiros, mas os atrasos no cronograma do Supremo colocam em risco sua participação.

Pelo cronograma original, a última sessão de julgamento do mensalão será no dia 30 de agosto. O problema é que o cronômetro da mais alta Corte do país tem agido contra a participação de Peluso. A partir da próxima segunda-feira, começam as sustentações orais da defesa, oportunidade que os advogados terão para tentar desqualificar a acusação e expor argumentos que eximam os denunciados de culpa. Do dia 6 ao dia 10 de agosto estão previstas 25 sustentações orais. As outras 13 manifestações da defesa ocorrem apenas na semana do dia 13 de agosto, terminando, provavelmente, no dia 15.

Se tudo for feito conforme o Supremo previu, o voto do relator da ação penal, o ministro Joaquim Barbosa, começa no dia 16 de agosto. O magistrado compilou seu entendimento sobre a culpabilidade dos réus em cerca de 1.000 páginas. Em uma previsão otimista, precisaria de pelo menos três sessões plenárias, com cinco horas cada, para expor todos os seus argumentos. Como as sessões nesta fase do julgamento estão previstas para serem realizadas três vezes por semana, às segundas, quartas e quintas-feiras, Barbosa poderia levar seu voto a plenário nos dias 16, 20 e 22 de agosto.
Em seguida, o Supremo ouve a manifestação do ministro-revisor, Ricardo Lewandowski. A figura do ministro-revisor é obrigatória em ações penais e serve como uma espécie de contraponto ao relator. Como Lewandowski também elaborou um voto de aproximadamente 1.000 páginas, é de se esperar que ele também precise de três sessões plenárias – nos dias 23, 27 e 29 de agosto.

Para conseguir votar, Peluso precisaria antecipar seu voto no dia 30 de agosto. Originalmente ele se manifestaria depois dos ministros Rosa Weber, Luiz Fux, Dias Toffoli e Cármen Lúcia. O voto antecipado de Peluso, às vésperas de se aposentar, não é ilegal, mas pode abrir margem para contestações dos advogados dos mensaleiros, já que o magistrado não estaria presente na etapa de definição das penas dos eventuais condenados e tampouco poderia ajustar seu entendimento se, ao ouvir os votos dos demais colegas, considerar necessário.
Para afrouxar o cronograma, os ministros estudam a implementação de sessões extras ou diárias, a partir da terceira semana de julgamento, ou reuniões também pela manhã. Os ministros devem debater essa possibilidade de novas convocações do plenário em uma sessão administrativa agendada para o dia 8 de agosto.
No primeiro dia de julgamento da ação penal do mensalão, o ministro Marco Aurélio Mello já havia alertado para a complexidade dos votos de cada magistrado e sobre a necessidade de agendar sessões específicas para analisar as penas a serem eventualmente impostas a cada réu. “Talvez teremos que reservar sessões para chegar a um resultado, ante a dispersão de votos”, disse na ocasião. O ministro Cezar Peluso, aposentado, não participaria das discussões sobre as sanções aos réus.
O risco de atraso no julgamento também é compartilhado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que admitiu que desistiu de questionar a suspeição do ministro José Antonio Dias Toffoli para evitar mais postergações na análise da ação penal do mensalão. “Decidi não pedir a suspeição. Caso isso acontecesse, poderia resultar na suspensão do julgamento e em um adiamento”, disse nesta semana Gurgel.
Advogados dos réus contam com cada dia de protelação para pressionar o calendário e evitar a participação de Peluso. “Como ficou evidenciado, a defesa se esforça para postergar o julgamento”, avalia o procurador-geral.
As manobras protelatórias devem voltar na próxima semana, com pedidos de impedimento do ministro relator, Joaquim Barbosa, e questionamentos sobre a ausência do ex-presidente Lula como um dos réus. As duas questões serão expostas pelas defesas do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza e de Roberto Jefferson, respectivamente.
Advogados reservas – Para evitar ainda outros tipos de situações que poderiam forçar o adiamento das sessões do mensalão, o presidente do STF, Carlos Ayres Britto, deixou de sobreaviso sete advogados que podem ser convocados para atuar no julgamento. Eles seriam acionados, por exemplo, se algum dos defensores não estiver presente na sessão por quaisquer motivos. Todos estudaram a acusação do Ministério Público e os argumentos de cada réu e poderiam responder pela defesa de qualquer uma das 38 pessoas que respondem à ação penal.
 

Em “Valente”, uma princesinha anticonvencional de indomável cabeleira ruiva — e que não quer casar



A PRINCESA SEM PRÍNCIPE Merida desafia seus pretendentes com sua habilidade para o arco e flecha: em uma ousadia nunca antes tentada no mundo do conto de fadas, ela diz que não está pronta para casar - e talvez nunca venha a estar (Foto: Reprodução)
A PRINCESA SEM PRÍNCIPE -- Merida desafia seus pretendentes com sua habilidade para o arco e flecha: em uma ousadia nunca antes tentada no mundo do conto de fadas, ela diz que não está pronta para casar - e talvez nunca venha a estar (Foto: Reprodução)
(Texto de Isabela Boscov publicado na edição impressa de VEJA)

Qual o pente que te penteia?
A cabeleira rebelde e cor de fogo da escocesinha Merida, de “Valente”, é a mais perfeita tradução visual de uma personagem já alcançada por um desenho animado

Doze filmes, a uma média de 600 milhões de dólares em bilheteria por filme, e nenhum deles com uma personagem feminina como protagonista: se a Disney é o reino das princesas, a Pixar é o quintal dos meninos – brinquedos que percorrem o mundo em aventuras, ratos que querem ser chefs, carros irrequietos, super-heróis irritados por ter de fingir que não são súper.
Um bando de crianças rebeldes, em suma, cheias daquela energia impaciente com que os meninos deixam atrás de si um rastro de adultos exaustos. Desde o início dos anos 2000, no entanto, os animadores da Pixar (que, a começar por seu chefe e mentor, John Lasseter, correspondem integralmente à descrição acima) têm ciência de que a cultura de sua empresa é a de um clube de garotos.
E que, pelo simples fato de esse constituir um ponto cego em seu processo criativo, seria necessário superá-lo. Na Pixar, porém, trabalha-se freneticamente para colher resultados a longuíssimo prazo. Em 2003, Lasseter contratou Brenda Chapman, que havia sido supervisora de roteiro em O Rei Leão. Em maio de 2004, Brenda apresentou seu argumento para um filme sobre uma princesa anticonvencional e recebeu o sinal verde para proceder imediatamente à produção – e, assim, tornar-se a primeira mulher a dirigir um filme na Pixar. Mas só agora há pouco Valente (Brave, Estados Unidos, 2012) chegou aos cinemas.

TERRA DE BRAVOS o país das urzes, da solidão intocada e dos guerreiros indômitos é também ele personagem (Foto: Reprodução)
TERRA DE BRAVOS o país das urzes, da solidão intocada e dos guerreiros indômitos é também ele personagem (Foto: Reprodução)
Merida, a princesa imaginada por Brenda, é uma escocesinha com uma enorme cabeleira ruiva de cachos indomáveis. Resultado da inspiração e do virtuosismo técnico característicos da Pixar, essa juba com vida própria ao mesmo tempo define Merida (não adianta tentar prendê-la, porque ela vai se soltar), ilumina as cenas como uma chama e, mais, torna Merida alegre, impetuosa, vibrante e volúvel.
Toda a força da personagem está nela – e, quando a mãe de Merida, a rainha Elinor, esconde essa maravilha sob uma touca comportada para apresentá-la aos três pretendentes que vão disputar sua mão em casamento, a princesa teima em libertar um cachinho e deixá-lo à vista sobre a testa: sem essa expressão de sua independência, sente Merida, ela não é ninguém.
Ou, pelo menos, não é Merida, a menina que, sob o olhar censurador da mãe mas para orgulho do pai, cavalga pelos bosques e urzes, ri alto demais e tem mira irrepreensível com o arco e flecha. As tentativas de ensiná-la a bordar, cantar ou entreter polidamente visitas formais redundam sempre em fracasso – e mais ainda a tentativa de impor a ela a tradição e fazê-la topar o noivado com o primogênito de um dos três clãs sob guarda de seu pai. Que noivo que nada, resiste a princesa: ela não está pronta para casar, e talvez nunca venha a estar.
Uma princesa sem príncipe – eis algo que faria tremer a Disney. E, segundo se pode peneirar dos rumores, encheu de hesitação também Brenda Chapman. Pelo menos na sua primeira versão do enredo, Merida queria o direito de escolher em vez de ser escolhida – e não o direito de simplesmente dizer não e não.
Após as habituais alegações de “diferenças criativas”, Brenda foi removida da função e substituída por Mark Andrews, um talento em preparação que fora com ela à Escócia em uma viagem de pesquisa por ter certa afinidade com o assunto: toda sexta-feira, Andrews, vestindo um kilt, a tradicional saia escocesa, fica no gramado em frente à entrada principal da Pixar desafiando quem passa por ali para duelos de espadas (de verdade).
Em uma reportagem recente, a revista Time apurou que Andrews adora dar apelidos irritantes aos colegas de trabalho, nunca come a verdura do prato e terminou Valente devendo mais de 1 000 dólares em multas por palavrões. A princesa Merida foi concebida por uma mulher – mas ganhou sua forma final e veio ao mundo pela imaginação de um menino.
Ou isso é o que parece. Na verdade, Andrews teve papel decisivo como supervisor de roteiro de Os Incríveis, uma história de crise conjugal disfarçada em filme de super-heróis. E escreveu e dirigiu um dos mais estupendos curtas da Pixar, One Man Band, sobre uma pequena camponesa ardilosa por cuja moedinha dois homens-banda competem.
UMA DAS PAISAGENS escocesas usadas como base para os cenários virtuais de Valente (Foto: Divulgação)
UMA DAS PAISAGENS escocesas usadas como base para os cenários virtuais de "Valente" (Foto: Pixar)
A camponesinha cheia de opinião é uma espécie de precursora de Merida; e o trajeto seguido por Valente, assim, não resulta de uma imaginária divisão entre meninos e meninas, mas da cultura de crivos brutais e responsabilidade absoluta que é a fundação da Pixar e que responde tanto pelo seu êxito criativo quanto por seu sucesso comercial. Na Pixar, os funcionários podem andar de patinete e decorar suas salas como forte apache ou castelo, mas a brincadeira em serviço termina aí. Todo projeto em andamento é regularmente avaliado – e trucidado – por um conselho independente.
Nenhum diretor é obrigado a acatar as críticas e sugestões do conselho. Mas pode ser deposto a qualquer momento se concluir-se que o trabalho não está satisfatório e sua rota não poderá ser corrigida sob aquela liderança. Além de Brenda, os diretores iniciais de Toy Story 2,Ratatouille e Carros 2 já haviam sido tirados da corrida antes de cruzar a linha de chegada.
Doloroso para o ego e custoso para a empresa, já que quando se demite um diretor é porque será preciso refazer trechos inteiros do desenho, com imenso dispêndio de tempo e dinheiro. Mas tranquilizador para a instituição de excelência criativa em que a Pixar se tornou. Merida, a exemplo da camponesinha de One Man Band, fez Brenda e Andrews trabalhar duro pelo direito à sua recompensa. Mas, generosamente, deixou que os dois a recebessem – não uma moeda, mas ela mesma, uma heroína e pioneira.

E os meninos foram enganados
Se a cabeleira de Merida não viesse a incendiar Valente, os meninos de todas as idades que vinham assistindo aos filmes da Pixar talvez nunca houvessem tomado cons­ciência da ausência de uma protagonista feminina entre as animações do estúdio.
MAMÃE NÃO ME ENTENDE A família real de Valente: uma versão feminina das dores do crescimento já encenadas em Como Treinar seu Dragão (Foto: Divulgação)
MAMÃE NÃO ME ENTENDE -- A família real de "Valente": uma versão feminina das dores do crescimento já encenadas em Como Treinar seu Dragão (Foto: Divulgação)
Tão felizes estávamos todos com o caubói e o astronauta de Toy Story(Barbie só ganharia destaque no terceiro filme da série) e com as máquinas falantes de Carros! A inovação, porém, é relativa. Sim, a Pixar tem sua cultura empresarial masculina. Foi criada por um colecionador de brinquedos, John Lasseter, em parceria com um genial criador de gadgets eletrônicos (i.e., brinquedos de adulto), Steve Jobs.
Mas Lasseter ganhou sólidas credenciais feministas ao supervisionar produções da Disney estreladas por princesas pró-ativas: A Princesa e o Sapo e Enrolados. Se não houve protagonistas mulheres, a galeria feminina da Pixar já era variada e expressiva, da desmiolada peixinha Dory em Procurando Nemo à high-tech EVA em Wall-E.
E as meninas, elas estariam mesmo sentindo falta de uma heroí­na? Bem, gênios do mercado – do mercado cultural, inclusive – são aqueles que dão ao público aquilo que ele desejava sem saber que o desejava. Aí está Merida, a revolucionária princesa sem príncipe.
A questão agora é outra: os meninos que até aqui acompanhavam a Pixar vão aceitá-la? A resposta tende a ser positiva. Merida é aquela menina com quem talvez gostássemos de brincar (não, não de médico: brincar mesmo, inocentemente), mesmo com o risco de sairmos da brincadeira humilhados pela desenvoltura física dessa garota espoleta.Valente é uma versão com sinais trocados de uma animação tipicamente “de menino”: Como Treinar o Seu Dragão, do estúdio rival DreamWorks.
O herói daquele filme era um garoto magrelo oprimido pelas expectativas de seu pai machão; a heroína de Valente é uma garota atlética sufocada pelas imposições de sua mãe dondoca. E os dois desenhos têm um elenco de extras muito parecidos: guerreiros violentos mas pueris (escoceses em Valente, vikings em Como Treinar o Seu Dragão, e nos dois casos a matriz estará nos irredutíveis gauleses de Asterix) que adoram se espancar afetivamente.
Bem pesadas as coisas, Valente, mesmo centrado nas sutilezas do relacionamento entre uma mãe e uma filha, será talvez o filme em que a Pixar quase abandonou uma certa delicadeza feminil. John Lasseter e sua turma, afinal, vinham enganando os meninos havia muito tempo: no fundo, sempre fizeram animações de mulherzinha. Até em Os Incríveis, um filme de super-herói, o que estava em causa na verdade era um casal “discutindo a relação”.

Lição para a História, por Ruy Fabiano


De tudo o que já disse do recém-iniciado julgamento do Mensalão, há um aspecto óbvio que o permeia desde sempre: o sistema político brasileiro – o chamado presidencialismo de coalizão. Ele, ao lado dos mensaleiros, está no banco dos réus.

A alguns isso poderá soar como um atenuante às trapaças perpetradas pela “organização criminosa”, termo cunhado pelo procurador-geral anterior, Antônio Fernando de Souza, e endossado pelo atual, Roberto Gurgel. Não se trata, porém, de atenuar nada; apenas de ir à raiz dos fatos.
No sistema em voga, não se governa sem maioria – e obtê-la tem um custo, não necessariamente financeiro. O PT, no rastro da euforia da primeira eleição de Lula, poderia (e deveria) ter posto em prática a reforma política, com a qual, a exemplo dos partidos que o precederam no poder após o regime militar, havia se comprometido. A falha aí, como é óbvio, não foi apenas dele, PT.
O que o distingue negativamente dos demais foi a opção que fez - a mais fácil e nociva: manter o sistema à base da compra de votos e torná-lo permanente. O Mensalão.
A engenharia perversa que montou – e que o procurador-geral ontem esmiuçou com detalhes espantosos – se pretendia inabalável. Era, aparentemente, o crime perfeito e só poderia – como de fato o foi – ser destruído de dentro para fora.
Não fosse a delação de Roberto Jefferson e possivelmente não se teria conhecimento daquela engrenagem, que surrupiou milhões dos cofres públicos.
O governo tinha não apenas a garantia de maioria parlamentar, como, pelo controle de cada recebimento de cada um dos beneficiários, os tinha também como reféns. Em tese, ninguém faria qualquer denúncia, sob pena de incriminar-se também.
Napoleão dizia que a um soldado podia se pedir qualquer coisa, menos que se sentasse sobre a baioneta. Eis, porém, que não há lógica onipotente. Roberto Jefferson, por exemplo, optou por outra: a de que um homem acuado é capaz de qualquer coisa, até de sentar-se sobre a baioneta.
A denúncia do Mensalão foi precedida de recados. Jefferson, antes da célebre entrevista à Folha de S. Paulo, havia sido alvo de reportagens que o responsabilizavam pela corrupção nos Correios.
As imagens de um servidor recebendo propina - e que dizia estar ali por nomeação dele, Jefferson - correram a internet e os telejornais, e o empurraram para o centro das atenções.
Supunha-se que se conformaria com o papel de boi de piranha para não se comprometer ainda mais, negociando uma saída honrosa de cena. Ele, porém, teve outra compreensão. Optou pela solução kamikaze e, como um Sansão às avessas – e dentro do princípio do “perdido por um, perdido por mil” -, quebrou as colunas do templo e sucumbiu sob os escombros.
Preservou Lula por ver nele uma instância extrema de negociação, como deixa claro em seu livro “Nervos de Aço” - e já o ameaçara, antes, no discurso na Câmara, com que tentou escapar da cassação. Na ocasião, disse que “o Rei (Lula) estava nu”.
Essa nudez, no entanto, até aqui, continua preservada, embora o próprio Lula, ao abordar ministros do Supremo Tribunal Federal, na tentativa de adiar o julgamento, tenha promovido por conta própria seu strip-tease particular. 
É claro que ninguém que, direta ou indiretamente, lida com a política ignora o seu envolvimento.
Cabia-lhe, como líder monocrático que é, o comando da estrutura que pôs em cena a engenharia do Mensalão, cujas reuniões mais importantes, segundo revelou ontem o procurador Roberto Gurgel, ocorriam no Palácio do Planalto. Nada menos.
A esta altura, a condenação dos réus principais não é o essencial. A simples exposição da lambança - e ninguém duvida dos fatos narrados e documentados pelo procurador – já lança mancha indelével sobre o governo Lula.
A condenação de José Dirceu, à luz do direito anglo-saxônico, em que bastam as evidências das conexões, seria inevitável. No direito brasileiro exige-se mais: o documento, a impressão digital, que documente materialmente a ação.
Como nesses casos – e o procurador o lembrou ontem – não se passa recibo, nem se deixam rastros, é possível que o mentor da organização saia ileso, como Fernando Collor, depois de sofrer o impeachment, saiu.
O sistema político é ruim, disfuncional, não há dúvida. Mas enfrentá-lo com as armas do crime não é outra coisa senão crime. E é esse o registro que o julgamento, desde já, passa à História. Não importa o resultado.

Ruy Fabiano é jornalista

O grande golpe, por Miriam Leitão


Miriam Leitão, O Globo

O Banco Central foi citado várias vezes na peça de acusação apresentada ontem. O publicitário Marcos Valério teve oito reuniões no BC com diretor. Uma vez, nem precisou marcar, tal a intimidade. O que ele queria, não levou. O estouro do escândalo impediu que bancos em liquidação fossem transferidos para os operadores do mensalão. Isso daria a eles o bilhão que procuravam.
Eles, como disse Sílvio Pereira, pretendiam arrecadar R$ 1 bilhão.
Enquanto operaram o escândalo que é objeto da Ação Penal 470, os réus cometeram vários delitos: tráfico de influência, ganhos em contratos de prestação de serviço, lavagem de dinheiro. Mas preparavam um bote muito maior.
Estavam de olho nos restos dos bancos que haviam sido liquidados pelo Proer. Primeiro, a ideia era entregar o Banco Mercantil de Pernambuco ao Banco Rural. Depois, o espólio do Banco Econômico entraria no esquema. Ambos liquidados pelo Proer. Alguns bons ativos foram vendidos, os com menos liquidez ficaram no Banco Central. Nos anos que se seguiram ao Proer, o Banco Central foi realizando o trabalho de liquidação de passivos e recuperação de ativos.
Bastaria a mudança de fatores de correção, a reinterpretação das regras, uma manipulação de balanço, para que essas instituições em liquidação virassem uma mina de dinheiro. O Banco Rural queria o Banco Mercantil de Pernambuco, do qual tinha 20%. Queria suspender a liquidação. Marcos Valério queria fazer negócios com o Econômico.
Na época, o Banco Central estava sendo pressionado a aceitar os negócios. A diretoria resistiu às pressões. Mas Marcos Valério parecia estimulado a continuar tentando. Tudo foi abortado pelo estouro do escândalo. Portanto, a denúncia do ex-deputado e réu Roberto Jefferson acabou impedindo o grande golpe que daria a eles os recursos necessários para os seus projetos.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, apresentou uma peça forte em que fez acusações sólidas a 36 dos 38 réus, exibiu a hierarquia da organização criminosa e explicou o “mais atrevido e escandaloso caso de corrupção”. Mostrou relação entre votos no Congresso e saques em dinheiro pelos envolvidos. Ele se baseou mais em provas testemunhais, apesar de dizer que as provas documentais são peças contundentes.
O que os advogados de defesa apostam é que as provas documentais serão consideradas fracas para comprovar, por exemplo, o comando do então ministro-chefe da Casa Civil. Gurgel se baseou nos abundantes depoimentos que mostram o comando do ex-ministro José Dirceu e seu envolvimento em reuniões ou decisões que não se imagina que um ministro da Casa Civil tenha participação, como a defesa feita dos interesses de um banco no Banco Central e que são intermediadas por um publicitário.
A acusação foi cristalina. Chamou os réus de quadrilha e refez conexões entre as pessoas e os episódios que, tantos anos depois, estão um pouco esquecidos. Alguns são bizarros, como os saques no Rural feitos por Simone Vasconcelos, ex-diretora financeira de Marcos Valério, que em uma das vezes chegou a R$ 600 mil. O dinheiro foi levado em carro forte para a sede da SMP&B, de Valério.
Deveria ter causado espanto à então diretoria de Liquidação e Desestatização o pedido do publicitário. Ele não pertencia a qualquer instituição financeira, mas pediu reuniões com um diretor para falar dos interesses de um banco. O mensalão já foi um escândalo suficientemente grande, mas o grupo queria muito mais e por isso mirou o Banco Central. Felizmente, o escândalo estourou antes.

Saiba como eram as sentenças da Justiça brasileira 220 anos antes do Mensalão


by Fábio Pannunzio

Os mensaleiros que vierem a ser condenados e presos pelo STF não terão do que reclamar. Tivessem nascido 220 anos antes, teriam que se defrontar com a iminência de uma sentença duríssima como a que determinou a morte por enforcamento de Tiradentes e dos demais inconfidentes.
Ainda que se diga que os jacobinos comendados por José Dirceu não tenham querido conspurcar a Coroa, senão apropriar-se dela, e a despeito do fato incotestável de que a Derrama mensaleira era para dentro do partido, e não para os cofres da Corte, os réus do Mensalão deveriam agradecer pelo fato de não terem nascido dois séculos e pouco antes.
A sentença que condenou os inconfidentes:
(...) "Portanto condenam ao Réu Joaquim José da Silva Xavier por alcunha o Tiradentes Alferes que foi da tropa paga da Capitania de Minas a que com baraço e pregão seja conduzido pelas ruas publicas ao lugar da forca e nella morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Villa Rica aonde em lugar mais publico della será pregada, em um poste alto até que o tempo a consuma, e o seu corpo será dividido em quatro quartos, e pregados em postes pelo caminho de Minas no sitio da Varginha e das Sebolas aonde o Réu teve as suas infames práticas e os mais nos sitios (sic) de maiores povoações até que o tempo também os consuma; declaram o Réu infame, e seus filhos e netos tendo-os, e os seus bens applicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Villa Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique e não sendo própria será avaliada e paga a seu dono pelos bens confiscados e no mesmo chão se levantará um padrão pelo qual se conserve em memória a infamia deste abominavel Réu; igualmente condemnam os Réus Francisco de Paula Freire de Andrade Tenente Coronel que foi da Tropa paga da Capitania de Minas, José Alves Maciel, Ignácio José de Alvarenga, Domingos de Abreu Vieira, Francisco Antonio de Oliveira Lopez, Luiz Vás de Toledo Piza, a que com baraço e pregão sejam conduzidos pelas ruas públicas ao lugar da forca e nella morram morte natural para sempre, e depois de mortos lhe serão cortadas as suas cabeças e pregadas em postes altos até que o tempo as consuma as dos Réus Francisco de Paula Freire de Andrade, José Alves Maciel e Domingos de Abreu Vieira nos lugares de fronte das suas habitações que tinham em Villa Rica e a do Réu Ignácio José de Alvarenga, no lugar mais publico na Villa de São João de El-Rei, a do Réu Luiz Vaz de Toledo Piza na Villa de São José, e do Réu Francisco Antonio de Oliveira Lopes defronte do lugar de sua habitação na porta do Morro; declaram estes Réus infames e seus filhos e netos tendo-os, e os seus bens por confiscados para o Fisco e Câmara Real, e que suas casas em que vivia o Réu Francisco de Paula em Villa Rica aonde se ajuntavam os Réus chefes da conjuração para terem os seus infames conventiculos serão também arrasadas e salgadas sendo próprias do Réu para que nunca mais no chão se edifique. Igualmente condemnam os Réus Salvador Carvalho de Amaral Gurel, José de Resende Costa Pae, José de Resende Costa Filho, Domingos Vidal Barbosa, que com baraço e pregão sejam conduzidos pelas ruas públicas, lugar da forca e nella morram morte natural para sempre, declaram estes Réus infames e seus filhos e netos tendo-os e os seus bens confiscados para o Fisco e Câmara Real, e para que estas execuções possam fazer-se mais comodamente, mandam que no campo de São Domingos se levante uma forca mais alta do ordinario. Ao Réu Claudio Manoel da Costa que se matou no carcere, declaram infame a sua memoria e infames seus filhos e netos tendo-os e os seus bens por confiscados para o Fisco e Câmara Real. Aos Réus Thomás Antonio Gonzaga, Vicente Vieira da Morta, José Aires Gomes, João da Costa Rodrigues, Antonio de Oliveira Lopes condemnam em degredo por toda a vida para os presidios de Angola, o Réu Gonzaga para as Pedras, o Réu Vicente Vieira para Angocha, o Réu José Aires para Embaqua, o Réu João da Costa Rodrigues para o Novo Redondo; o Réu Antonio de Oliveira Lopes para Caconda, e se voltarem ao Brasil se executará nelles a pena de morte natural na forca, e applicam a metade dos bens de todos estes Réus para o Fisco e Camara Real. Ao Réu João Dias da Morta condemnam em dez anos de degredo para Benguela, e se voltar a este Estado do Brasil e nelle for achado morrerá morte natural na forca e applicam a terça parte dos seus bens para o Fisco e Camara real. Ao Réu Victoriano Gonçalves Veloso condemnam em açoutes pelas ruas publicas, tres voltas ao redor da forca, e degredo por toda a vida para a cidade de Angola, achado morrerá morte natural na forca para sempre, e applicam a metade de seus bens para o Fisco e Camara Real. Ao Réu Francisco José de Mello que faleceu no carcere declaram sem culpa, e que se conserve a sua memória, segundo o estado que tinha. Aos Réus Manoel da Costa Capanema e Faustino Soares de Araújo absolvem julgando pelo tempo que tem tido de prisão purgados de qualquer presumpção que contra elles podia resultar nas devassas. Igualmente absolvem aos Réus João Francisco das Chagas e Alexandre escravo do Padre José da Silva de Oliveira Rolim, a Manoel José de Miranda e Domingos Fernandes por se não provar contra elles o que basta para se lhe impor pena, e ao réu Manoel Joaquim de Sá Pinto do Rego Fortes fallecido no carcere declaram sem culpa e que conserve a sua memória segundo o estado que tinha; aos Réus Fernando José Ribeiro, José Martins Borges condemnam ao primeiro em degredo por toda a vida para Benguela e em duzentos mil para as despesas da Relação, e ao Réu José Martins Borges em açoutes pelas ruas publicas e dez annos de galés e paguem os Réus as custas. Rio de Janeiro,18 de Abril de 1792".

Um relator na berlinda


Vera Magalhães
O relator do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Joaquim Barbosa, virou o inimigo número um do PT.
A berlinda começou quando, ainda em 2007, Barbosa deu um voto duríssimo recebendo a denúncia dos então 40 réus do mensalão, que foi acompanhada, nos principais pontos, pelos demais ministros da corte.
Mas nem sempre foi assim. A nomeação do primeiro negro para o Supremo foi propagandeada como grande avanço institucional do governo Lula. A cor da pele foi condição preliminar estabelecida pelo próprio Lula, que pediu aos conselheiros, Márcio Thomaz Bastos à frente, currículos de negros com notório saber jurídico e reputação ilibada.
Quem participou do processo lembra que os títulos de Joaquim Barbosa e sua carreira acadêmica internacional o colocaram quilômetros à frente dos demais nomes levantados.
Ele ainda foi festejado pelo PT pelos embates que travou com Gilmar Mendes, um dos alvos preferenciais do partido, por ter sido nomeado por Fernando Henrique Cardoso.
Setores do petismo consideram a indicação para a mais alta corte da Justiça do país equivalente à colocação de "companheiros" em postos do governo. Não lhes passa pela cabeça que, uma vez investido da toga, o indicado passa a ser magistrado, membro de um Poder independente.
Ao afirmar a existência do mensalão e, ao que tudo indica, se preparar para pedir a condenação da grande maioria dos réus, Barbosa passa a ser vítima de campanha difamatória.
O acadêmico brilhante de antes vira "despreparado", um "promotor em pele de juiz". Advogados e políticos dizem que o ministro só chegou ao STF graças ao "sistema de cotas".
Caberá ao relator manter o sangue frio para fundamentar seu voto e driblar a tentativa de desestabilizá-lo.
Episódios como o embate com Ricardo Lewandowski na abertura do julgamento, dizem seus pares, não ajudará a legitimar sua posição no caso ao qual se dedica há sete anos.

À espera dos finais, por Zuenir Ventura


Zuenir Ventura, O Globo
Dois sucessos do momento continuarão em cartaz por cerca de mais um mês, mantendo o público em suspense sobre o final. Quem não está interessado em descobrir como vai terminar “Avenida Brasil” e quem não quer saber qual será o desfecho do julgamento do mensalão? Que destino terão Carminha e Nina? O que acontecerá com José Dirceu? Pra só falar dos personagens principais.
Com “Primo Basílio”, Eça de Queirós tinha a “ambição de pintar a sociedade portuguesa” do fim do século XIX, composta por uma burguesia que ele considerava decadente. Não se sabe se, com sua novela livremente inspirada naquele romance, João Emanuel Carneiro tem também a pretensão de refletir o país da CPI do Cachoeira e dos mensaleiros.
De qualquer maneira, pode-se estabelecer alguma analogia entre o clima moral do folhetim e o da realidade política atual, nos quais predominam boas doses de cinismo, mentira e hipocrisia. A diferença é que no folhetim quase todo mundo age um pouco como vilão; em Brasília, todos se esforçam para parecer inocentes mocinhos, inclusive os vilões.
Eça construiu uma trama que levou Luísa, a patroa adúltera, a sucumbir à tortura psicológica imposta por Juliana, a empregada, que descobre cartas de amor entre os amantes e com elas vai chantagear sua vítima até a morte por medo, culpa e desespero.
João Emanuel repete o esquema, mas faz de Nina uma Juliana muito mais perversa e, de Carminha, uma Luísa menos frágil e ingênua, e que está mais disposta a matar a chantagista do que morrer de desgosto.
Já Max é um canalha ainda mais bandido do que Basílio, que, segundo Eça, era “antes um pulha pobre, depois um pulha rico”.
Ao contrário, porém, do que se passa no romance e na novela, onde abundam provas materiais (cartas num caso e fotos no outro), no espetáculo que começou a se desenrolar no STF esta semana a defesa alega que há falta delas para produzir uma justa condenação. Será?
Será que daqui a 20 anos vamos ter no Senado 38 novos Collors? Ou 20? Que seja apenas um? Será que vão prevalecer as chamadas razões técnicas (ou seriam razões cínicas?).
Se isso acontecer, não se sabe como reagirá uma sociedade saturada pela corrupção e pela impunidade, e cansada dos escândalos e da “falta de provas”. Afinal, os tempos são outros.
O Brasil pós-leis da Ficha Limpa e da Transparência Pública parece estar trocando a indignação pela ação.
Pode ser ingenuidade política, mas acho que o país está mais participativo e não dirá, como Lula: “Tenho mais o que fazer.”

O Passional Cívico do Supremo, por Vitor Hugo Soares


POLÍTICA


A expressão do título destas linhas de opinião é tomada de empréstimo ao saudoso Raimundo Reis, no texto de um dos cronistas maiores do cotidiano da Bahia e do País, sobre um daqueles apaixonados torcedores bissextos que aparecem a cada disputa de Copa do Mundo. Aqui, no entanto, serve para definir a imagem e atuação de um magistrado nesta primeira semana de agosto, na abertura do julgamento dos réus do caso Mensalão.
“Passional cívico” casa perfeitamente com o perfil e a definição do desempenho do ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, que salvou do engodo e da apatia - com sua implacável e indignada reação ética - o espetáculo de abertura do julgamento dos quase 40 acusados no polêmico e explosivo processo.
Na tarde de quinta-feira (2), país na frente da tela da TV. A atenção dividida entre os jogos olímpicos de Londres e o torneio jurídico, político e midiático em Brasília. No plenário do STF, tudo parecia caminhar para o mais indesejável. 
“Um espetáculo de quinta (categoria)”, como definiu irritada ao meu lado minha mulher, também jornalista, ao receber telefonema da irmã impaciente e mais brava ainda diante do que estava vendo e ouvindo em sua casa, em Salvador, na transmissão direta do palco dos ilustres juristas.
Margarida (também formada em direito) tentava conter sua fúria pessoal e acalmar a irmã do outro lado da linha. Falava sobre a previsível questão de ordem levantada (mal iniciada a sessão), pelo advogado e ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, em defesa do desmembramento dos processos acusatórios contra os 38 réus, na hora H de começar o julgamento.
Manobra ladina, de aplicação comum por figurões do direito nos tribunais de província -, mas visivelmente precária tentativa de um dos mais caros e requisitados defensores de gente de poder, fama e dinheiro no Brasil, de jogar areia no ventilador e confundir os ministros do mais vistoso e importante fórum de justiça do Brasil.
A manobra do advogado dos réus do Banco Rural no Mensalão, entretanto, foi surpreendentemente apoiada de pronto por um dos nomes mais pomposos e acatados entre seus pares no STF: o ministro Ricardo Lewandowski. 
Como se não bastasse o simples e estranho acatamento efusivo à tese de Bastos, o ministro sacou do bolso da toga (esta é apenas uma figura de retórica, esclareço) longo, enviesado e cansativo parecer para justificar a injustificável e já superada tese.
Era essa a causa principal do espanto e dos muxoxos de incômodo no plenário, na sede do Supremo, no Distrito Federal. E da irritação manifestada até com impropérios, que se espalhava pelas redes sociais no resto do país como faísca lançadas por ouvintes irados diante das imagens, enquanto o ministro Lewandowski destrinchava o seu interminável arrazoado.
Mas veio do ministro Joaquim Barbosa, caprichoso e eficiente relator do caso Mensalão, a mais ética e indignada reação. Diante da proposta do advogado famoso e do inesperado voto de apoio de seu colega e revisor do montanhoso processo, o ministro Barbosa foi direto ao ponto, sem meias palavras ou filigranas da retórica habitual nos tribunais.
“Nós precisamos ter rigor no fazer das coisas no País. Eu não vejo razão (para o desmembramento do processo unificado) e me parece até irresponsável voltar a discutir esta questão”, reagiu o relator, ao votar contra a proposição de Thomaz Bastos.
Mas o ministro Barbosa seria ainda mais duro ao se opor ao apoio à tese do advogado, partida do ministro que o acompanhara mais de perto e com quem dialogara mais direta e francamente por mais tempo, durante os tensos e desgastantes quase dois anos de preparação do gigantesco processo.
Mal comparando (ou bem?) era lancinante e dolorida como a punhalada inesperada da tragédia shakespeariana. Era o golpe partido de quem menos se espera e de quem mais se confia. Era como se o parceiro tentasse jogar na lixeira tudo que fora arduamente construído em conjunto, para começar tudo de novo.
Com nervos e emoção à flor da pele, o firme e destemido jurista mineiro lembrou tudo isso em breves e candentes palavras, para arrematar com a sentença mais exemplar da abertura do tão aguardado julgamento:
“Isso me parece deslealdade”, questionou Joaquim Barbosa a Ricardo Lewandowski. Palavras de firmeza de caráter e dignidade profissional, que repercutiram intensamente no placar elástico da derrubada da questão de ordem levantada por Thomaz Bastos: 9 a 2.
Palmas para o Relator (com R maiúsculo) no começo do espetáculo. Próximos capítulos a conferir.

Vitor Hugo Soares é jornalista. E-mailvitor_soares1@terra.com.br