sexta-feira, 6 de julho de 2012

A mais rica e populosa cidade do Brasil não sabe como lidar com seus 15 mil moradores de rua. Primeiro, tentou enxotá-los para longe. Agora, quer coibir o sopão da madrugada. A solução é negar um prato de comida?


“Cuidado com a crítica fácil, potencializada num ano eleitoral”. O alerta de Gilberto Dimenstein, ongueiro profissional e colunista da Folha de S.Paulo, tinha alvo certo: os cidadãos que articulam pela internet um “sopaço” contra o prefeito paulistano, Gilberto Kassab, e o nebuloso projeto de proibir a distribuição de comida a quem dorme debaixo das marquises da capital.

A mais rica e populosa cidade do Brasil não sabe como lidar com seus 15 mil moradores de rua. Primeiro, tentou enxotá-los para longe. Agora, quer coibir o sopão da madrugada. Foto: Fora do Eixo/Flickr
“Está parecendo, pelas manifestações, que Kassab quer que os moradores de rua passem fome. Não é o caso. Ele só está tentando estimular que as pessoas fiquem mais tempo nos abrigos, onde há vagas ociosas”, escreveu na quinta-feira 26. “Essa campanha está cheirando a uma mistura de eleição com falta de informação.”
O jornalista parece ter se afobado na defesa solitária do governo. Com a repercussão negativa da notícia, a própria prefeitura voltou atrás em sua decisão. Kassab desautorizou o secretário municipal de Segurança Urbana, Edsom Ortega, que havia dito que as instituições que insistissem em oferecer comida em via pública seriam “enquadradas administrativa e criminalmente”. Dito pelo não dito, dois protestos organizados em redes sociais continuam marcados para esta sexta-feira 6: um na Praça da Sé e outro em frente à casa do prefeito, em Pinheiros, na zona oeste. Ao contrário de Dimenstein, os manifestantes parecem estar fartos das desculpas esfarrapadas para justificar as políticas higienistas implantadas pela prefeitura. A sopa na rua é o enésimo capítulo de uma longa novela.
Não é de hoje que o governo municipal quer varrer para longe os miseráveis que vivem nas ruas do centro. Em 2005, o então prefeito José Serra iniciou a construção das assombrosas rampas antimendigo debaixo de pontes e viadutos onde os moradores de rua costumam se abrigar da chuva. Depois, a prefeitura, já entregue às mãos de Kassab, sua grande invenção, passou a murar parques e instalar apoios de braços em bancos de praças públicas. Objetivo: impedir que qualquer um pudesse deitar e dormir impunemente por ali. Não satisfeito, iniciou seu polêmico projeto de “descentralizar” as vagas em albergues.
Diversos abrigos foram fechados, e não por conta das estruturas precárias ou da coleção de denúncias de maus tratos. Mais de mil vagas foram extintas no centro, enquanto a prefeitura inaugurava outras unidades na periferia, sobretudo em áreas afastadas da zona leste. Desde 2008, foram desativados ao menos quatro albergues na região central: o Jacareí (antigo Cirineu), com quase 400 leitos; o Glicério, com 300 vagas; uma pequena unidade na República para 85 usuários e o Pedroso, com 400.
Para levar moradores de rua do centro para a periferia, estruturou-se um ineficaz sistema de transporte por Kombis. Os veículos, além de insuficientes para a demanda, só ofereciam a passagem de ida. Era dado como certo que os miseráveis acabariam por fixar residência nos bairros dos novos abrigos. As autoridades municipais só não se atentaram para o óbvio: é justamente o centro que concentra os serviços de assistência social e de saúde voltados a essa população, além das poucas oportunidades de trabalho disponíveis, como as centrais de triagem de material reciclável. A cama digna é importante, mas não indispensável à sobrevivência daquelas pessoas.
Isso talvez explique por que os albergues de São Paulo estão com vagas ociosas, e cada vez mais desvalidos preferem a cama de cimento aos leitos distantes da periferia. De acordo com o Movimento Nacional da População de Rua, são cerca de 15 mil moradores de rua em toda a capital. Mas o que a prefeitura ainda não explicou, tampouco os defensores da versão oficialesca, é como a cidade mais populosa e rica do Brasil, com um orçamento anual de 38,8 bilhões de reais, ainda não apresentou uma solução razoável e digna para essa diminuta população vulnerável.
Ou seria solução negar um prato de comida?
Em tempo: O promotor de Justiça de Direitos Humanos da capital, Alexandre Marcos Pereira, antecipou que não será tolerada a criminalização das entidades que distribuem alimentos para moradores de rua.
“Em se concretizando qualquer arbitrariedade contra as nobres almas que se dedicam a suprir a falta do Poder Público no dever de propiciar alimentação a quem dela necessita, o Ministério Público intervirá em prol de quem tem o direito a seu favor e o amor ao próximo por inspiração”, afirmou por meio de nota.

PSDB estuda recorrer ao STF contra o ‘aval’ do Brasil para ingresso da Venezuela no Mercosul


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O PSDB mobilizou sua assessoria jurídica para analisar a viabilidade de um recurso ao STF contra o ingresso da Venezuela no Mercosul. O partido considera que, ao avalizar a incorporação do país de Hugo Chávez no bloco econômico, Dilma Rousseff flertou com a ilegalidade.
“Se os advogados considerarem que é possível, vamos ao Supremo”, disse ao blog Alvaro Dias, líder tucano no Senado. Segundo ele, participa da discussão interna o professor Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores na gestão FHC.
O Tratado de Assunção, que criou o Mercosul, anota em seu artigo 20 que a entrada de novos membros no Mercosul “será objeto de decisão unânime dos Estados-partes.” E o Paraguai não havia aprovado as boas vindas à Venezuela.
Sob a alegação de que o impeachment-relâmpago de Fernando Lugo representou uma ruptura às regras democráticas, Brasil, Argentina e Uruguai aprovaram a suspensão do Paraguai do Mercosul.
Consumada a suspensão, emitiu-se um comunicado conjunto incorporando a Venezuela ao bloco. Agendou-se para 31 de julho, numa reunião que ocorrerá no Rio, o arremate da providência, praticada à revelia do Paraguai. O tucanato pretende agir antes disso.
Na noite passada, Alvaro Dias voou para Assunção, a capital paraguaia. Disse ter sido convidado por Federico Franco, o vice que assumiu a presidência no lugar de Lugo. Nesta sexta (6), o senador brasileiro cumprirá uma agenda apinhada.
“Terei audiência com o presidente da República, com o presidente da Suprema Corte, do Congresso e com o ministro das Relações Exteriores”, disse. “Também nesta sexta, chega ao Paraguai uma delegação da OEA [Organização dos Estados Americanos]. Está todo mundo tentando se inteirar dos fatos.”
Para Alvaro Dias, o Brasil meteu-se numa dupla “roubada”. Primeiro ao tratar como “golpe” o “asfatamento constitucional” de Lugo. Depois, ao aprovar a entrada da Venezuela no Mercosul à revelia do tratado que constituiu o bloco. O senador disse que espera trazer do Paraguai informações úteis à provável ação judicial do PSDB e dados que pretende “compartilhar” com seus pares.

O romance do bispo Por Sergio da Motta e Albuquerque


MÍDIA & RELIGIÃO

 03/07/2012 na edição 701 - Observatório de Imprensa

As fotos do bispo argentino Fernando Bardalló, banhando-se em águas mexicanas de Puerto Vallarta e acompanhado de uma bela mulher, espalharam-se pelos noticiários de todo o mundo a partir de 19 de junho. O canal de TV pago A24 (19/6) apresentou as fotos ao mundo. O prelado era presidente da Cáritas para a América Latina desde 2011, tendo sido anteriormente chefe dessa organização em seu país. Trata-se de uma confederação de organizações de caridade ligada à igreja católica e o bispo ainda é um homem muito querido na Argentina.
O par foi fotografado a trocar carícias em janeiro de 2011. Os dois formavam um casal inequivocamente envolvido em relacionamento amoroso. Roma não gostou e o bispo Bargalló, primeiro reticente e a negar tudo, foi nobre, sincero e ao final admitiu tudo sem ressalvas ou dramas desnecessários. Renunciou ao comando de sua diocese, em Merlo-Moreno, perto de San Isidro, bairro abastado situado ao norte da Grande Buenos Aires. O casal que escandalizou a muitos na igreja católica tem sua origem nessa localidade portenha.
Bargalló apresentou sua renúncia junto à Nunciatura Apostólica Argentina (23/06), a representação diplomática do Vaticano no país, que foi aceita três dias depois pelo papa, informou a Ecclesia (26/06), a agência de notícias da igreja católica. A mesma noticiou que Bento 16 nomeou “como administrador apostólico de Merlo-Moreno D. Alcides Jorge Pedro Casaretto, de 76 anos, bispo emérito da diocese de San Isidro”. Fernando Bargalló encontra-se recluso, em retiro espiritual enquanto aguarda o juízo final de Roma.
Prefeito suspeito
O diário argentino Clarín (30/06) ofereceu aos leitores a melhor cobertura do caso ao apresentar uma cronologia de reportagens que vão desde a negativa do bispo argentino (19/06) sobre seu romance, até sua afirmação de que “continuará sendo sacerdote e o romance terminou (30/06)” (ver aqui). Bargalló continuará sendo sacerdote porque padres expulsos da Igreja não podem quebrar seus votos de ordenação sacerdotal. A lei canônica católica assim o diz. O mesmo vale para bispos: aqueles que têm a renúncia aceita por razão de idade (75 anos), ou renunciam a suas dioceses em concordância com o Vaticano, são reconhecidos como “bispos eméritos”. Mas sobre o destino real de Bargalló só o papa poderá decidir. Só ele tem o poder para punir (ou não) um bispo.
Bargalló foi um religioso politicamente moderado, mas sempre presente a apoiar os movimentos progressistas da igreja católica na Argentina. Suas posições políticas o levavam frequentemente a confronto com políticos locais. O periódico espanhol El País (28/06) especulou sobre os motivos de fotos que foram feitas há quase dois anos só virem a público agora. Lembrou as rusgas com o prefeito local, Raúl Othacehé, que o acusava do corrupto, e o desentendimento com a presidenta Cristina Kirchner, em 2008, quando o bispo postou-se ao lado dos médios e grandes proprietários de terras da Argentina. A presidenta declarou então que “a avareza é o pior dos pecados”. O bispo rebateu a acusação e disse que “a soberba era pior”.
Mas a maior suspeita caiu sobre o prefeito de Merlo-Moreno. Bargalló o acusou de tramar contra ele e atribuiu ao político a responsabilidade pela espionagem de sua viagem ao México e pela publicação das fotos em quase todas as mídias e meios que comentaram o caso.
“Uma igreja misógina”
María de las Victorias Martínez Bo, uma divorciada de 55 anos, informou a revista Perfil (24/06), já foi namorada na adolescência do bispo e depois sua noiva. O romance terminou quando Bagalló entrou para o seminário. Posteriormente, “a mulher que ele jamais esqueceu”, segundo a revista argentina, casou-se. Ele mesmo celebrou seu casamento com Ricardo César “Cato” Mastai, médico cardiologista. O casal teve três filhos, dois deles batizados pelo bispo, informou o jornal espanhol El País (28/06). Um amor inesquecível destruiu a posição de Bargalló na hierarquia católica, mas ele não pretende deixar a igreja, segundo sua última declaração ao Clarín (30/06).
Bargalló e Fernando Lugo, presidente paraguaio deposto em condições suspeitas, foram bispos da igreja católica que enfrentaram o mesmo problema: a rejeição da igreja ao casamento de sacerdotes. João Paulo II afirmou sobre este tema polêmico que casamentos de padres “poderiam acontecer, mas não em seu tempo”. Seu sucessor não foi eleito para tomar grandes decisões transformadoras. Escolhido em idade avançada, e sua posição na Igreja espelha o poder financeiro da igreja católica alemã, que custeou as exéquias de João Paulo I, a investidura de seu sucessor e vem em socorro de Roma sempre que necessário quando o assunto é dinheiro. O que é estranho, para um país de minoria católica cujos “fiéis” há muito já deixaram as missas e as ordenações romanas. Resta saber como e por que a igreja alemã é tão rica.
Mas voltemos ao principal: a relação da igreja com a mulher, o sexo e o casamento dos sacerdotes. A revista Veja (27/06) apresentou tradução da matéria originada pela agência EFE de notícias. No pequeno artigo, a revista trouxe o pensamento do teólogo espanhol Juan José Tamayo, estudioso ligado à Teologia da Libertação e um “forte crítico da hierarquia católica”. Tamayo disse que a renúncia do bispo era “resultado de uma igreja misógina, governada por solteiros, que não sabe o que é o amor”. Seu afastamento e retiro obrigatório “é uma prova da incompatibilidade que a Igreja estabelece entre o amor a Deus e o amor a seres humanos”, argumentou certeiramente o teólogo de Espanha.
Ponto de inflexão
O comportamento da hierarquia católica e sua própria doutrina atual mantêm uma relação muito pouco saudável com o sexo e as mulheres. Mas nem sempre foi assim. A revista Anagrama (vol.1, 2007), da USP, apresentou o pensamento de Elisabeth Fiorenza, a famosa teóloga feminista que mostra que a atitude dos católicos em relação ao papel da mulher passou de uma parceria igualitária, no cristianismo primitivo, à subordinação das mulheres, no presente. E um dos responsáveis por esta mudança no status da mulher foi o estabelecimento do primado do texto escrito sobre a tradição oral. Ou seja, foi através da escrita que se concretizou a dominação da mulher e o comportamento misógino da igreja católica.
O bispo Irineu de Lyon foi o responsável pelo fim da diversidade dos textos escritos que predominavam no Oriente e no Ocidente, durante o cristianismo primitivo. Sua data de nascimento é incerta, mas alguns autores a situam no final do século 2. Ele foi o responsável pelo banimento dos chamados evangelhos gnósticos e outros textos místicos que davam ao cristianismo uma indesejável, porém quase infinita, diversidade de fontes de leitura. A partir do bispo Irineu, as doutrinas católicas e ortodoxas mudaram completamente. O antigo papel essencial de parceria entre a mulher e o homem deu lugar à subordinação das mulheres. E isso aconteceu por força da palavra escrita. É importante que fixemos esta ideia. Enquanto prevaleceu o discurso oral, a mulher manteve uma condição de quase igualdade dentro do cristianismo. Com a censura do bispo Irineu, a doutrina católica fortaleceu o poder papal, em detrimento do poder das comunidades locais cristãs nascentes e da posição da mulher dentro da Igreja.
É necessário acrescentar que o bispo Irineu de Lyon, que nasceu em Grécia, é venerado por diferentes denominações além da católica: luteranos, anglicanos e ortodoxos gregos igualmente adotam a escolha bibliográfica do bispo de Lyon. Irineu foi o editor e censor de toda a principal leitura cristã disponível até os dias de hoje. Seu trabalho está presente em cada culto das denominações religiosas acima citadas E nas principais congregações protestantes também. Seu esforço levaria a igreja católica à estagnação atual e ao ponto de inflexão a que esta chegou em nossos tempos. Irineu foi o sacerdote que escolheu os quatro evangelhos que os católicos, ortodoxos, luteranos e anglicanos adotam até hoje.
Mundo leigo
Apesar da absoluta oposição ao casamento de sacerdotes, a igreja de Roma desde João Paulo II vem discretamente absorvendo padres casados dentro do clero. A maioria é composta de sacerdotes anglicanos, insatisfeitos com a igreja da Inglaterra – que não é considerada herética por Roma, mas como cismática, ou separatista, como a ortodoxa grega. A igreja grega pode representar um bom exemplo para a igreja católica, que necessita urgentemente de mudanças, não propriamente no sentido de adaptá-la às conveniências sociais do momento, mas reorientá-la em direções mais pragmáticas e mais realistas. Os gregos aceitam o casamento dos padres. Bispos e todos os que almejam postos mais elevados na hierarquia da igreja grega não podem fazê-lo. Acredito que a igreja de Roma possa ceder nos mesmos termos, num futuro próximo.
A necessidade das mulheres da vida de um homem não deveria representar nenhum tipo de impedimento ou interdição por parte da hierarquia católica. Mas a realidade é visível no retiro forçado do bispo argentino. Enquanto isso, a rigidez aumenta na mesma proporção que as transgressões dentro do clero e o número de praticantes do catolicismo diminui em todas as partes. A BBC postou (20/06) os resultados do censo de 2010. O número de católicos no Brasil diminuiu para 123 milhões de pessoas, ou 64,6% da população. Eram 73,6% da mesma no ano 2000. E a tendência é de queda.
Não é prevista nenhuma mudança na questão do casamento dos sacerdotes durante o atual papado, que não foi eleito para lidar com controvérsias e vem de uma tradição extremante conservadora. Mas uma coisa é certa: a igreja vai continuar seu declínio enquanto não confrontar o corpo a corpo ágil que os evangélicos realizam todos os dias nas comunidades pelo mundo afora, nas metrópoles e no interior, a indiferença de um mundo cada vez mais leigo e menos interessado em religião e mudar seu credo para aceitar a realidade da sexualidade humana sem temor de violar regras que já não deveriam mais existir.
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[Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em Planejamento urbano, consultor e tradutor]

Dúvidas sobre o Twitter Por Umberto Eco


PLANETA DIGITAL

03/07/2012 na edição 701 - Observatório de Imprensa

Reproduzido do Estado de S.Paulo/The New York Times, 2/7/2012; intertítulos do OI; intertítulos do OINo mês passado, circularam centenas de notas online sobre o suposto falecimento de Gabriel García Márquez. Algumas fontes chegaram a afirmar que euforaoautor da primeira notícia sobre a morte do autor, via a minha conta no Twitter. Evidentemente, pouco depois, as mesmas fontes – e outras, inclusive algumas totalmente fidedignas – descobriram e informaram que, na realidade, eu sequer estava inscrito no Twitter, e que alguma outra pessoa estava enviando tweets com o meu nome.

Houve até alguns idiotas que se apoderaram da primeira informação e, sem se dar ao trabalho de verificá-la, continuaram moralizando sobre a minha suposta brincadeira (vocês sabem como são os escritores, com seus conflitos e rivalidade dramáticas); mensagens posteriores revelaram que foram criadas várias contas no Twitter com o meu nome, sem o meu conhecimento.
Não se trata de algo fora do comum– em muitos sites, qualquer um pode se inscrever como “Leonardo da Vinci” e ninguém o impedirá. Portanto, é fácil imaginar o que acontece com os nomes de escritores contemporâneos. Neste caso, alguns sugeriram que o verdadeiro autor da invencionice foi Tommaso De Benedetti, o criador de várias brincadeiras do gênero. Ele faz este tipo de coisa justamente para demonstrar, como revelou certa ocasião ao jornal The Guardian, que “a mídia social é a fonte de informação menos passível de verificação no mundo”.
Verdade essencial
Evidentemente, todo sabem disso há muito tempo – basta pensar no típico sujeito que se apaixona por uma linda jovem pela internet, e depois descobre que ela na realidade é um idoso funcionário da Alfândega aposentado, com um grave problema de herpes. Ou, pior ainda, o pedófilo que usa um perfil inventado para seduzir um menor ingênuo e crédulo.
O episódio do Twitter me lembrou do que aconteceu no final dos anos 60 – antes da existência dos e-mails e do fax –quando alguém enviou um artigo ao jornal italiano Corriere della Sera, com a assinatura do cineasta Pier Paolo Pasolini.O artigo foi publicado e gerou um enorme escândalo por ser um falso, uma pilhéria de mau gosto, que Pasolini desconhecia totalmente. A primeira reação foi de terror: a partir daquele momento, de que modo os jornais poderiam ter a certeza de que uma colaboração tinha sido escrita de fato pela pessoa cujo nome constava no papel, se não fosse entregue pelo próprio autor?
Na época, escrevi um artigo no qual assegurava os leitores que não deveriam temer. A sociedade pode aceitar a existência de mentiras e de falsos, mas ela se baseia em um acordo mútuo de que, em geral, as pessoas dizem a verdade.
Do contrário, jamais poderíamos fazer planos para apanhar um trem, porque não saberíamos se o horário das ferrovias estava cheio de mentiras ou não; quando chamássemos os bombeiros na nossa casa, eles poderiam suspeitar que se tratava de um trote e não atenderiam ao nosso pedido de socorro; talvez não depositássemos o nosso dinheiro no banco, por medo de que este fosse uma encenação, planejada para nos enganar (como o local da jogatina preparado com esta finalidade no filme Golpe de Mestre); poderíamos achar que o nosso médico conseguiu seu diploma em algum país onde estas coisas podem ser compradas, ou que nossa mãe tivesse mentido quando disse que tínhamos nascido dela. (Não importa de que maneira a Virgem Maria reagiu à notícia do anjo Gabriel de que ela estava grávida).
Como escrevi na época, a sociedade sabe que o compromisso recíproco com a verdade essencial para todos nós, e que se deixar de existir, estaremos todos perdidos. É por isso que pilhérias como o falso artigo de Pasolini podem ser usadas uma vez, mas depois, por uma espécie de instinto societário, as pessoas param. E, de fato, foi o que aconteceu.
Mundo fictício
Hoje,com o advento da internet, há uma ampla aceitação da comunicação com o propósitodo logro, e as pessoas estão se tornando cada vez mais desconfiadas. É verdade que o Twitter e o Facebook já hospedam inúmeros políticos e outras figuras públicas dos quais em geral desconfiamos.
Mas com o passar do tempo, até os solitários que recorrem à internet para preencher sua necessidade absoluta de contato humano começarão a se dar conta de que vivem num universo de desconfiança generalizada – e de que deveriam duvidar de todos os que os cercam. Seria como viver no mundo fictício das histórias em quadrinhos, no qual uma pessoa só poderá contar consigo mesma para defender-se na eventualidade de, a qualquer momento, uma pessoa recém conhecida revelar-se uma diabólica vilã.
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[Umberto Eco, para The New York Times]

Sociólogo que ajudou a fundar o PT diz que Lula é oportunista e não tem caráter


sexta-feira, 06 de julho de 2012 | 08:56
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O comentarista Mário Assis nos envia material sobre o programa Roda Viva, da TV Cultura, que esta semana recebeu o sociólogo Chico de Oliveira, professor emérito da Universidade de São Paulo. Na pauta, estiveram temas da política, as eleições municipais deste ano e a proximidade do início do julgamento do Mensalão no Supremo Tribunal Federal.
Um dos fundadores do PT, Chico de Oliveira abandonou o partido em 2003. Fez parte do grupo de dissidentes que ajudou a criar o PSOL, com o qual também viria a romper. Autor de diversos livros, foi premiado com um Jabuti em 2004, pela obra Crítica a Razão Dualista – O Ornitorrinco. Para o professor, “O ornitorrinco é um fracasso de Darwin” e por isso pode ser comparado ao Brasil, que alcançou a modernidade, porém ainda vive em atraso – “uma necessidade de como o país foi formado”.
No período de ditadura militar, Chico foi torturado em São Paulo e preso em Pernambuco. O esquerdista defende que os que cometeram crimes devem ser julgados e afirma que sabe quem foram os seus torturadores. Durante o programa, Chico citou o nome de dois delegados.
O sociólogo diz que o Estado tem que ir atrás dessas pessoas e que se a Comissão da Verdade quiser o seu depoimento ele está disposto a falar. “A minha tortura não vale um tostão, só vale se foi sofrida em nome da liberdade”, declarou ainda.
Chico. que participou efetivamente de partidos políticos, hoje afirma que não tem interesse em fazer parte do meio governante. “Eu não sirvo a nenhum governo. Não quero nada com o Poder, estou sempre contra ele”.
Além de criticar o governo, Chico fez declarações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Lula é muito mais esperto do que vocês pensam. O Lula não tem caráter, ele é um oportunista”. O sociólogo defende que Lula não liderou greves dos metalúrgicos. “Se ele quiser, que me processe. O Lula é uma vocação de caudilho, a ante-sala do ditador”.
Para o professor, a diminuição da pobreza é a parte fundamental de um governo de esquerda, mas não foi o Lula que fez. “Essa condição de benefícios sociais vem desde José Sarney”.
Sobre Fernando Henrique Cardoso, Chico disse o presidente se esqueceu do que o sociólogo sabia. “FHC foi de esquerda e foi até do Partido Comunista. Ele resolveu mudar porque decifrou que no Brasil ninguém chega ao poder sendo totalmente de esquerda”.
Já sobre Dilma, ele questionou se ela tem feito mesmo um governo de esquerda e disse ainda que a presidenta não consegue governar porque “Lula não deixa”.

Fazenda endurece negociações e quer novas regras para Previdência


sex, 06/07/12

por Gerson Camarotti 
Nos bastidores, há forte impasse para uma solução negociada com o Congresso Nacional para a votação do fim do fator previdenciário. O Ministério da Fazenda deixou pouca margem para um acordo. Para evitar um rombo nas contas da Previdência, a orientação do governo é de não ceder em dois pontos polêmicos: a idade mínima móvel para a aposentadoria e uma reforma no sistema de pensões.
Por essa proposta, a idade mínima seria alterada de acordo com a mudança da expectativa de vida no Brasil. Ou seja, poderia começar em 60 anos para as mulheres e 65 anos para os homens, mas sofreria alterações com o envelhecimento da população brasileira.
Já a reforma no sistema de pensões mudaria a atual regra para os benefícios que são pagos para os viúvos e viúvas. Uma das idéias é de que, ao invés da pensão integral, o pagamento seria de reduzido para 70% desse valor para cônjuges sem filhos menores. Também seria criado um prazo de validade para viúvos e viúvas com menos de 35 anos.
Esse estudo já está pronto. Mas havia resistências de setores do próprio governo.  Isso pode dificultar as negociações abertas pelo Palácio do Planalto com líderes aliados e sindicalistas. Está marcada para a próxima semana uma reunião no Ministério da Fazenda com os líderes governistas para discutir o fim do fator previdenciário.
O fator previdenciário é uma fórmula criada em 1999 e que leva em consideração a idade, o tempo de contribuição e a expectativa de vida do brasileiro para o cálculo do valor da aposentadoria. Entre outras coisas, o instrumento visa reduzir o valor do benefício de quem se aposenta por tempo de contribuição antes de atingir 65 anos, no caso de homens, ou 60, no caso das mulheres.
Publicada às 08h19

Fantasmas no caminho. A imprensa vê nuvens cinzentas e o governo, céu azul. O que vejo eu, com tão precários instrumentos de observação?


Num intervalo de meus compromissos visitei um shopping center em São Paulo. As lojas estavam vazias. Eram 14 horas. Os compradores já se foram ou ainda não chegaram, pensei. Nos restaurantes os garçons perfilavam-se à espera do primeiro visitante para cercá-lo de todo o excedente de atenção que as circunstâncias permitiam. Alguma coisa estava acontecendo com o consumo. Li que o índice de inadimplência atingira o nível mais alto dos últimos tempos e as famílias brasileiras comprometem um quinto de sua renda com dívidas. Um articulista do Financial Times vê uma bolha de crédito e alerta para o perigo de estourar. Será que havia relação entre alguns dados e o que eu via nas lojas desertas? ...


O olho pode enganar. O governo reduziu impostos de carros, lançou um pacote de compras, continua apostando no estímulo ao consumo, como em 2008. Os limites vão sendo empurrados para a frente. Podem ser mais elásticos do que parecem. O governo não estaria, como costumam fazer alguns generais, travando hoje a batalha da guerra passada?

Vejo nuvens cinzentas no céu azul. Será que vai chover? O otimismo político traz-me insegurança em certos momentos.

A Petrobrás, por intermédio de Graça Foster, admitiu a necessidade de tornar mais realistas os seus planos estratégicos. Com isso reconheceu ser preciso pôr os pés na terra. Alguns observadores acham que nem na terra ainda ela pôs os pés, só se aproximou dela. O ex-presidente José Sérgio Gabrielli já se prepara para disputar eleições. Na nova profissão vai poder sonhar à vontade: construir uma nova Bahia, meu rei. O bilionário Eike Batista também sentiu o frio na barriga com a queda de sua empresa da área do petróleo. Só que Eike é o dono da empresa e tem de segurar a onda.

Saí de São Paulo com medo do fantasma da bolha e encontrei em Goiás o fantasma da casa - a casa do governador Marconi Perillo, que teria sido comprada por Carlinhos Cachoeira. Nos quatro dias em que convivi com os goianos na bela cidade de Cora Coralina duvidei, de novo, dos meus olhos. É que levava de São Paulo a impressão que me passou um editor de jornais de TV: quando entra a CPI do Cachoeira, cai a audiência. Achava natural. A maioria da CPI joga como um time que não quer jogar, dando chutões para cima e muita bola para a lateral. São aqueles jogadores que parecem nos dizer: "Olha, o jogo já acabou, é melhor ir saindo porque você não vai perder nada, não corre o risco de ouvir um grito de gol já no ponto do ônibus".

Em Goiás, quando entra a CPI do Cachoeira, quase todos se aproximam da TV. Isso diz respeito à vida de um dos Estados mais importantes do Brasil. Nas telas há um fantasma da casa, povoada de inúmeros fantasminhas vestidos de cheque bancário. Eles passam e voltam, mas os espectadores estão atentos. A casa e os cheques envolvem o governador do Estado.

O impacto do escândalo Cachoeira pegou Goiás em cheio. Quem conheceu o senador Demóstenes Torres ou votou nele ficou chocado, até mesmo com o tom subalterno com que tratava Cachoeira. Goiás merecia um bom trabalho do Congresso. Como merece o País, sobretudo após a divulgação de que sete empresas fantasmas receberam R$ 93 milhões da Delta.

Nesse mundo povoado de fantasmas a realidade vai penetrar, como o fez na economia. Num jogo de futebol é possível retardar a partida, truncá-la até o apito final. Mas na CPI do Cachoeira não haverá apito final. Uma parte da audiência pode ter-se perdido, porque o jogo é muito feio. Goiás, Tocantins, Brasília tendem a ficar de olho, mesmo se os congressistas continuarem jogando a bola para a lateral, mesmo que caia a audiência da CPI nos jornais noturnos.

É simples assim: muita gente no País sabe que está sendo roubada, gostaria de saber quanto roubaram, quem será punido e como devolver o dinheiro aos cofres públicos. Se isso for negado, viveremos numa bolha de outra natureza, que só um movimento popular pode estourar. O limite de endividamento foi atingido, por que não o seria o da paciência? A estrutura política, além de ostensivamente dispendiosa, recebe milhões de reais em propinas. E, ainda por cima, retorna muitos milhões de dinheiro público para retribuir a quem a suborna. Esse mecanismo perverso não pode durar. É uma ilusão esperar que seja um fato natural, aceito como a sucessão das estações do ano.

Talvez eu me tenha iludido com o que vejo ou mesmo sido levado a pensar assim por causa do percurso São Paulo-Brasil Central, do centro econômico às bases de operação de Cachoeira. Nuvens cinzentas ou apenas um relâmpago no céu azul? País fantástico ou fantasmagórico? Chega um momento em que é preciso contar com os próprios olhos: a decadência política e o aparente esgotamento de um modelo econômico são muito volumosos para passarem despercebidos. O enlace dos dois e os filhos que vão gerar são apenas a intuição da viagem.

Em 2014 o golpe militar fará meio século. Será o ano da sétima eleição direta para presidente. Melhorou muito a situação do nosso povo mais pobre. Mas a realidade eleitoral aprisionou o processo político e o levou a amplo descrédito. A maioria dos políticos seguirá vendo a história como uma eleição depois da outra. Um expoente como Lula, que conheço desde o meio da década de 1980, não elabora sobre os caminhos nacionais, dispõe-se a morder a canela dos adversários na eleição paulistana.

Às vezes, no exílio, julgava estar delirando. O amigo Francisco Nelson me confortava: "Você está lúcido". Chico Nelson, infelizmente, morreu há alguns anos. Será que estou vendo mesmo o homem reputado internacionalmente como um estadista mordendo canelas numa eleição municipal? Saudades do Chico Nelson. Chegamos juntos do exílio, em 1979. Nesses momentos aparece para mim, confirmando a frase de um escritor francês: não visitamos os mortos, eles é que nos visitam.

Por Fernando Gabeira

Fonte: Jornal Estado de S. Paulo - 06/07/2012

‘Era como um trófeu de guerra’, diz um dos roubados pela ditadura


Sequestrado em 1977 relata maus-tratos por falso pai, condenado a 15 anos de prisão


MADARIAGA E e o pai, Abel: eles conseguiram se reencontrar há dois anos Foto: Divulgação
MADARIAGA E e o pai, Abel: eles conseguiram se reencontrar há dois anosDIVULGAÇÃO
BUENOS AIRES — Francisco Madariaga pôde comemorar nesta quinta-feira seus 35 anos ao lado do pai, Abel, que conheceu há pouco mais de dois anos, no último dia do julgamento sobre a existência de um plano sistemático de roubo de bebês durante a ditadura. Madariaga nasceu numa maternidade clandestina de Buenos Aires, em 1977. Sua mãe, Silvia Quintela, fora sequestrada pelos militares quando estava grávida de quatro meses e continua desaparecida. O bebê foi entregue a Victor Alejandro Gallo - na época um oficial do Exército - e sua mulher, Susana Colombo, condenados ontem a 15 e 5 anos de prisão, respectivamente. Madariaga foi registrado como filho biológico deles e recebeu nome de Alejandro Ramiro. Assim começaram uma história de abusos e maus tratos e uma busca que terminou em fevereiro de 2010, quando Francisco descobriu sua verdadeira identidade e teve a sorte de ter um pai vivo e que o estava esperando.
O GLOBO: Como era sua vida antes de conhecer sua identidade?
FRANCISCO MADARIAGA: Fui roubado e para os que me roubaram eu era como um troféu de guerra. Recebi maus-tratos físicos e psicológicos desde muito pequeno. O militar que me roubou me agredia como se eu fosse seu inimigo. Cada vez que voltava do trabalho, ele praticava violência contra mim e fazia coisas terríveis. Foram anos de muito sofrimento. Lembro-me de que ele me fez pendurar no pescoço, como um colar, uma bala que usou numa operação contra opositores da ditadura. Perversões nunca vistas.
Você pode contar como era exercida essa violência física?
MADARIAGA: Ele tentou me afogar numa piscina, fazia comigo as mesmas coisas que fazia com presos políticos nos centros clandestinos de tortura.
Quantos anos você tinha quando começou a se perguntar se realmente era filho dessas pessoas?
MADARIAGA: Demorou muito, pois fui criado com medo, eles fizeram o possível para que eu nunca soubesse a verdade. Tentaram me doutrinar, para que eu pensasse como eles, mas comigo não conseguiram.
Quando as dúvidas começaram?
MADARIAGA: Na escola meus amigos me diziam que eu não me parecia com ninguém da minha família e aos 20 anos eu já sentia que carregava um peso muito grande nas minhas costas. Demorei outros 12 anos para me aproximar das Avós da Praça de Maio, e nesse período minha vida ficou paralisada.
Como era a sua relação com o casal que o criou?
MADARIAGA: Aos 16 anos fiquei sozinho com meus supostos irmãos, porque meu suposto pai foi preso por diversos delitos e minha mãe foi internada numa clínica psiquiátrica. A partir desse momento perdi contato direto com eles. Minha suposta mãe era uma pessoa desequilibrada, e hoje ela tenta se defender dizendo que também era maltratada pelo marido, que estava ameaçada, mas é tudo uma grande mentira. Ela nunca explicou por que e como eu fui roubado. Meu suposto pai é um criminoso, que nunca se arrependeu do que fez. Os advogados da acusação pediram 25 anos de prisão para ele e 16 para ela, espero que sejam condenados (a entrevista aconteceu horas antes da sentença).
Esse é um julgamento histórico para a Argentina...
MADARIAGA: Somos parte de um plano orquestrado pela ditadura para torturar suas vítimas e as famílias de suas vítimas. Porque a busca de um filho ou de um neto também é um tipo de tortura. Esse julgamento é importantíssimo porque a Justiça julgou e condenou os militares e seus cúmplices pelo crime que as avós estão denunciado há mais de 30 anos. Finalmente foi provado que existiu um grupo dedicado a roubar bebês e entregá-los a famílias ligadas aos militares. A sociedade sabe o que aconteceu, mas faltava a palavra da Justiça.
Como é sua relação com o seu pai?
MADARIAGA: Trabalhamos juntos (na associação das Avós da Praça de Maio) e nunca falamos sobre os 32 anos durante os quais estivemos separados. Pensamos apenas em estar juntos e aproveitar o presente que a vida nos deu. Em meu coração tenho um pedaço escuro, pois não conheci minha mãe e minha avó, mas o resto deve ser preenchido com vida.

Golpe de agência de turismo deve deixar 6 mil pessoas sem viajar


Estudantes que pagaram pacotes para a Trip & Fun não embarcaram para Cancun, México


Na foto, grupo de amigas que iria para Cancun pela Trip & Fun Foto: Wagner Meier / O Globo
Na foto, grupo de amigas que iria para Cancun pela Trip & FunWAGNER MEIER / O GLOBO
SÃO PAULO — A agência de viagens Trip & Fun pode ter aplicado golpe em seis mil passageiros, que haviam comprado pacotes turísticos para Disney (Estados Unidos), Bariloche (Argentina), Cancun (México), Florianópolis, Sauípe e Atibaia (São Paulo). Este é o número estimado, segundo um funcionário da agência, que conversou com O GLOBO, via rede social, na manhã desta quinta-feira. Os três escritórios da empresa em São Paulo estão fechados.
O drama dos passageiros começou na noite de segunda-feira (2), quando um voo fretado que levaria adolescentes para férias em Cancun, no México, foi cancelado no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, Grande São Paulo. Os 34 adolescentes que haviam comprado o pacote não conseguiram embarcar.
A polícia de São Paulo abriu um inquérito para investigar o caso como estelionato depois que um grupo de vítimas registrou um boletim de ocorrência, em São Bernardo do Campo, Grande São Paulo. A viagem do dia 30 de junho foi cancelada e remarcada para o dia 2, segunda-feira, mas também não ocorreu, segundo relato das vítimas à polícia.
As vítimas contam que pagaram o pacote de viagem para Cancun em nove parcelas de R$ 478,50, uma parcela de R$ 977, com entrada de R$ 780. Não viajaram nem receberam o dinheiro de volta.
Além de aproveitar as férias, os jovens iriam comemorar a formatura do ensino médio. Boa parte fechou a viagem em agosto do ano passado.
Em Campinas, a 94 km da capital, um grupo de pais de alunos registrou queixa nesta quinta-feira contra a agência, que não cumpriu os contratos. Só naquela cidade cerca de 400 pessoas compraram pacotes para a Disney, Cancun e Bariloche.
Drama semelhante vivem 70 estudantes do Rio de Janeiro, que embarcariam no próximo dia 19 e souberam que a viagem está cancelada. A arquiteta Claudia Jannuzzi, mãe da estudante Raquel, de 16 anos, conta que teve um prejuízo de R$ 5 mil. - A minha filha está arrasada. É uma frustração grande. Num ano de vestibular, essa viagem seria um escape para eles - conta a arquiteta, que havia pago para a filha um pacote de oito dias para Cancun., com direito a passeios e uma entrada na casa noturna Cocobongo, uma das mais badaladas.
Ela disse também ter ouvido de alguns colegas da filha que, na Cidade do México, adolescentes brasileiros que conseguiram embarcar em São Paulo estão sendo retirados do hotel em que ficaram hospedados. E cobrados pelos custos de alimentação e hospedagem que teriam deixado de ser pagos pela Trip&Fun.
No site da agência aparece a mensagem: “informamos que todas as viagens, para todos os destinos, serão remanejadas”. O GLOBO telefonou para os telefones celulares das duas pessoas apontadas como sócios da agência, mas eles não atenderam as ligações. No escritório em São Paulo as ligações também não são atendidas.
Na página do Facebook da agência, há clientes que xingam os donos ou deixam mensagens como “cadeia”, “prisão”.
Segundo o representante da agência no Rio de Janeiro, Julio Mantovani, das seis mil pessoas que devem ficar sem viajar, duas mil tinham Cancun como destino. E cerca de 100 passageiros são do Rio de Janeiro. Ele, que também diz que foi surpreendido e ficou sem receber salário e comissões, tem respondido e-mails dos clientes e mensagens via redes sociais.
O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens de São Paulo (Abav-SP), Edmar Augusto Bull, enviou ofício para a agência de viagens Trip & Fun, cobrando esclarecimentos da empresa em virtude do cancelamento da viagem de um grupo de jovens de São Paulo a Cancun, no México.
A entidade tem recebido e-mails de vários clientes que compraram pacotes. As mensagens estão sendo encaminhadas para o departamento jurídico da entidade. A Trip & Fun pode ser desfiliada da Abav.

Maus dias para a casa de Rio Branco, por Sandro Vaia


Enviado por Sandro Vaia - 
6.7.2012
 | 9h44m
POLÍTICA


Punhos de renda é uma boa metáfora para a diplomacia.
Significa suavidade, bons modos, boa educação, lhaneza de trato e acima de tudo fidelidade a compromissos assumidos.
Durante muitos anos o Itamaraty carregou essa classificação como se punho de renda fosse um arabesco sem significado para definir um enfeite comportamental supérfluo.
Mas não é.
A diplomacia de um país carrega o significado da atitude que ele assume diante da realidade cultural e política das nações com as quais esse país se relaciona.
Durante décadas, a casa de Rio Branco, como o Itamaraty se tornou conhecido, construiu uma reputação impecável no universo diplomático internacional graças à coerência com a qual administrou a inserção civilizada do Brasil na tarefa de administrar a convivência entre as nações.
A diplomacia brasileira defendeu durante anos o princípio de não-intervenção como um dos seus conceitos fundadores e através dele marcou a sua inserção no jogo diplomático internacional independentemente de quem estivesse ocasionalmente ocupando o poder.
Uma diplomacia profissional e ideologicamente neutra construiu um histórico sólido de independência em relação aos ocupantes ocasionais do poder.
Até no regime militar o Itamaraty se manteve distante do mood ideológico dominante e tomou decisões contrárias aos interesses geopolíticos imediatos dos militares.
O histórico de anos de altivez do Itamaraty começou a ser manchado nos últimos anos de diplomacia oportunista do governo petista, quando a confusão entre política de Estado e de governo começou a se sobrepor aos princípios institucionais do Itamaraty.
E mais do que uma política de governo - o que em si já seria uma anomalia - o ministério de Relaçoes Exteriores passou a praticar uma política de partido, deixando os interesses nacionais a reboque dos interesses ideológicos do partido no poder.
Foi assim com a crise em Honduras, foi assim na relação com o governo teocrático do Irã, foi assim na condescendência com o regime autoritário de Cuba, e foi escandalosamente afrontoso no episódio da condenação do suposto “golpe” no Paraguai, usado como pretexto para romper com todos os tratados internacionais, permitindo a entrada da Venezuela no Mercosul pela porta dos fundos.
O artigo 32 do Tratado de Ouro Preto, que trata do ritual de admissão de novos membros do Mercosul, exige a concordância de todos os membros.
O truque da “suspensão” do Paraguai foi um golpe baixo e a pressão denunciada pelo chanceler e pelo vice-presidente do Uruguai pela entrada forçada da Venezuela foi vergonhosa.
Ou seja: deixa-se artificialmente um membro do Mercosul a nocaute, provisoriamente, a pretexto de um golpe que não houve, pressiona-se o outro, a ponto de ele denunciar o incômodo com a pressão, e consegue-se a inserção do novo membro, que era vetado até então.
Nem é porque o Mercosul, como união aduaneira, valha uma missa em termos econômicos ou estratégicos. É pura birra ideológica, para dar ao bolivarianismo uma aparência de poder que ele não tem pelo consenso, mas só pela força.
A política de não-ingerência nos assuntos de outros países foi relativizada por uma não-ingerência de acordo com a cara do freguês.
Usar o Itamaraty para uma manobra tão rasteira como essa é uma humilhação para a casa de Rio Branco.

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mailsvaia@uol.com.br

OBRA-PRIMA DO DIA - PINTURA Hieronimus Bosch: A Adoração dos Magos (1495/1499)


Enviado por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 
6.7.2012
 | 12h00m

A Adoração dos Magos, ou A Epifania, é um tríptico encomendado para um altar por Agnes de Gramme e Peter Scheyve. São muitos os trípticos com o mesmo fim pintados ou esculpidos nos Países Baixos, mas os de Bosch se destacam por conterem elementos únicos.
Jesus pequenino está no colo de Maria na presença dos três reis. O celeiro em péssimo estado onde eles estão e as figuras com aspecto tenebroso dão ao espectador a sensação de perigo iminente. Na metade do painel central seguidores de dois dos reis parece que vão entrar em batalha uns contra os outros. Um terceiro grupo cavalga em direção a Jerusalém. Ao fundo, um moinho, símbolo que Bosch quase sempre incorporava a suas paisagens.
Os paineis laterais retratam os santos patronos dos doadores, Agnes (Inês) e Peter. Apesar das paisagens não terem continuidade espacial com a do painel central, cronologicamante os acontecimentos estão em concordância. A divisão ocasionada pelas molduras não separam uma cena da outra, nem um tempo do outro.


Esse é o único tríptico do pintor no qual os doadores são retratados. São Pedro e o doador ocupam o painel esquerdo, que fica do lado direito de Jesus Cristo, o lugar de honra. Ao fundo, São José seca panos perto do fogo. Figuras curiosas que moram no campo aparecem dançando.
No painel direito, Santa Inês está atrás da doadora que, ajoelhada, tem perto de si um carneiro, símbolo da santa. Lá atrás, uma mulher corre pela estrada fugindo de um lobo, enquanto um homem mais perto do espectador não consegue escapar das garras de outro lobo.


Quando os paineis se fecham, vemos a imagem de uma missa pregada por São Gregório (acima), também com o retrato de um outro doador. Fechado, o tríptico é emgrisaille (grisalha), pintura monocromática, comummente executada em tons de cinza, branco, castanho e preto, que visa produzir efeito de baixo-relevo. 
Óleo sobre madeira, mede 138 cm x 33 cm

Acervo Museo del Prado, Madrid

HUMOR A Charge do Amarildo




Mundo louco: em fotos e vídeo, uma casa transparente em Tóquio


Ela tem paredes, cômodos, cozinha, banheiro, garagem, iluminação e água encanada. E moram pessoas. E fica em uma rua residencial, em Tóquio. Mas, definitivamente, não é uma casa como as outras.
Projetada por Sou Fukimoto Arquitects, a estrutura, que é conhecida por House NA, espanta pela ausência total de paredes. Outra ausência que vem à mente é a de privacidade: tendo todas suas paredes de vidro, além da abundância de luz durante o dia, a impressão que se tem é de que é impossível manter hábitos secretos – quase tudo dentro de casa é exposta aos vizinhos e transeuntes. Até o banheiro é em boa parte transparente.
Há uma estrutura interna de metal e também se utilizou, em seu interior, madeira e aglomerado de madeira.
A estética é elegante, com apelo aventureiro. O design parece haver-se inspirado remotamente em uma árvore, além de lembrar muito um beliche — escala-se, passa-se de um cômodo a outro sem realmente sair de um local diferente ou nele ingressar. O edifício possui três andares, e como uma estrutura de blocos segmentados, possui vários níveis de espaço, tanto interna quanto externamente.
Pode-se dizer que a House NA é uma releitura de uma casa na árvore em versão adulta – e só que transparente.
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House NA
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