domingo, 14 de junho de 2015

Diplomata Botafogo Gonçalves critica ‘operação abafa’ do Itamaraty para acobertar Lula


Posted: 13 Jun 2015 03:22 PM PDT

Carolina Brígido - O Globo

Para ele, episódio foi um “passo mal dado” e demonstra a partidarização do órgão


O ex-embaixador do Brasil na Argentina José Botafogo Gonçalves criticou a tentativa do Itamaraty de barrar a divulgação de documentos revelando eventuais relações entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a Odebrecht, empreiteira investigada na Operação Lava-Jato. Para o diplomata, o episódio foi um “passo mal dado” e demonstra a partidarização do Itamaraty – um processo que, segundo ele, começou a partir do primeiro governo Lula, em 2003.

— Eu acho que foi um passo mal dado, não há duvida. Ainda bem que o Itamaraty voltou atrás. Não vejo nenhuma justificativa para reclassificar documentos relativos ao ex-presidente Lula. Desde que ele assumiu o poder, o Itamaraty ficou com a política externa muito condicionada ao governo e ao partido de Lula. Lamentavelmente, o Itamaraty, nos últimos anos, deixou de lado o papel de servidor do Estado e passou a servir o governo. Esse episódio foi reflexo dessa característica, inaugurada por Celso Amorim — declarou, lembrando o ex-ministro das Relações Exteriores.

Botafogo Gonçalves explicou que o Itamaraty tem preocupação em divulgar documentos que possam prejudicar as relações do Brasil com outros países. Mas, para ele, o caso Lula não se enquadra nessa categoria.

— Há muito tempo existe uma preocupação dentro do Itamaraty de não divulgar documentos que possam comprometer aspectos das negociações do Brasil com países estrangeiros. É natural que o Itamaraty seja cauteloso na divulgação de documentos que possam provocar desconforto com países estrangeiros. Não é o caso. Como o presidente Lula viaja com estrutura do governo para dar palestras no exterior, deve ter havido excesso de cautela — avaliou.

Na última sexta-feira, reportagem do GLOBO informou que o Ministério das Relações Exteriores deflagrou ação para evitar a divulgação de documentos mostrando ligação de Lula com a Odebrecht. O diretor do Departamento de Comunicação e Documentação, ministro João Pedro Corrêa Costa, chegou a distribuir um memorando determinando que os papéis sobre o assunto fossem reavaliados e pudessem ser considerados secretos, de acordo com o conteúdo de cada documento.

Documentos públicos classificados como “reservados”, por lei, podem ser divulgados depois de cinco anos. O memorando sugeria a reclassificação dos papéis, que seriam viriam a público em apenas em 15 anos. Depois de publicada a reportagem, o Itamaraty voltou atrás e informou que liberaria os documentos. “O Ministério das Relações Exteriores reitera o seu comprometimento inequívoco com o respeito e a observância do princípio democrático da transparência de que se imbui a Lei de Acesso à Informação”, diz nota do ministério divulgada ontem.

Seria melhor se tivessem rompido a aliança, diz Eduardo Cunha sobre congresso do PT

domingo, 14 de junho de 2015


Hostilizado neste sábado no encerramento do congresso do PT, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) utilizou a rede social Twitter para atacar e ironizar o partido da presidente Dilma Rousseff. “O PMDB está cansado de ser agredido pelo PT constantemente e é por isso que declarei que essa aliança não se repetirá”, afirmou o parlamentar. “Talvez tivesse sido melhor que eles aprovassem no congresso o fim da aliança e não sei se num congresso do PMDB terão a mesma sorte”, ameaçou: “No momento temos compromisso com o País e a estabilidade, mas isso não quer dizer que vamos nos submeter à humilhação do PT". Irônico, o deputado comentou que ficaria preocupado se tivesse sido aplaudido pelos petistas, pois esse seria um sinal de que estaria fazendo tudo errado. “E mais uma vez agradeço as hostilidades”, atacou: “E se estão com raiva da pauta, ao invés disso busquem debater e convencer das suas posições e não agredir.”


Os comentários foram feitos em resposta ao deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), que no congresso do PT chamou Eduardo Cunha de “oportunista de ocasião”. Os petistas chegaram a analisar, naquela reunião, uma proposta de ruptura da aliança com o PMDB. A proposta foi rejeitada, mas a emenda que a propunha chamava o presidente da Câmara de “sabotador do governo” e, na ocasião, houve militantes que gritaram “fora, Cunha!” Sem citar o nome de Zarattini, Eduardo Cunha escreveu no Twitter que o deputado que o chamou de oportunista “era vice-líder do governo e relator da MP 664 que tratava do ajuste fiscal e aonde tinha a emenda de mudança do fator previdenciário". Como relator, Zarattini posicionou-se contra a emenda, contou. Porém, depois, votou a favor dela. A posição contrária à defendida pelo governo custou-lhe o posto de vice-líder. “Quem é então o oportunista de ocasião?”, questionou Eduardo Cunha. Ele aproveitou para dizer que não são justas as críticas que tem recebido por desengavetar matérias que estão há anos aguardando apreciação pelos deputados. “Continuarei pautando e ainda não conheço uma maneira melhor do que a democracia, onde a maioria aprova ou derrota alguma matéria” avisou.  Eduardo Cunha afirmou, ainda, que não censurará a manifestação de opinião de parlamentares a respeito de religião. “Ter o Estado laico não significa ter de proibir os parlamentares de se manifestarem nas suas crenças”, defendeu. Ele observou que não há críticas se pessoas invadem o plenário “batendo panela ou cantando samba”, ou se são estendidas faixas contra uma matéria. “Mas basta serem de de alguma crença religiosa aí criticam a manifestação de opinião". No seu entendimento, o papel do presidente da Câmara não é “fazer juízo de censura”, e sim manter a ordem e o respeito em plenário. “Os eventuais abusos e a eventual quebra de decoro tem previsão regimental de punição”, frisou: “Basta representarem"

A LISTA BURMANN-SCHLOSSER E O ATIVISMO COMUNISTA ATUAL

domingo, 14 de junho de 2015


Por Luis Milman - jornalista, professor universitário, filósofo
O artigo "Serão os semitas humanos?" (revista Caros Amigos, nº 68, novembro de 2002), do jornalista Georges Bourdoukan, é uma arenga antissemita que, ao leitor atento, judeu ou não, só pode causar repulsa. Mas é importante começar este texto com uma menção a ele porque Bourdoukan, que tem muita influência no meio trotskista, reproduz a revelação de uma história secreta do sionismo, elaborada e difundida ainda pela extinta União Soviética, a partir da metade dos anos 1960, e hoje propagada mundo afora, por movimentos pró-palestinos, como o tal Comitê Santamariense de Solidariedade ao Povo Palestino, ligado ao Foro Social Mundial Palestina Livre. O Foro se reuniu em Porto Alegre, há dois anos, com o apoio do governo Tarso Genro. O texto reproduz, além de outras fabulações, a narrativa de Ralph Schoenmann, um trotskista americano, no livro "The Hidden History of Zionism", de 1988. Em entrevista concedida à revista Teoria e Debates do PT (edição nº 9, janeiro-março de 1989), para Marcus Sokol, líder, até hoje, da tendência petista O Trabalho, ele afirmava que “em 1941, o partido de Itzchak Shamir ( o Likud de Benjamin Netaniahu) concluiu um pacto militar com o 3º Reich alemão, que consistia em lutar ao lado dos alemães e fundar um estado autoritário colonial, sob direção nazista". 

A afirmativa era uma variante do material de propaganda soviético produzido em ampla escala, a partir dos anos 1960. Na militância comunista-confessional, atuante nos campi universitários, no meio cultural e político partidário, difunde-se esta ideologia, que também está na base da fundação do movimento internacional BDS (Boicote, Desenvestimento e Sanções) contra Israel, criado em 2005 e financiado por ONGs internacionais, Irã, Arábia Saudita e Qatar (para detalhes, ver Edwin Black, Financing the Flames, 2013). Artigos e livros como os de Bourdoukan e Schoenmann explicam o recente pedido, feito à Reitoria da UFSM, pelo DCE e associações de alunos e professores da UFSM, por uma lista de alunos e professores israelenses na universidade. No Brasil, este confessionalismo antissemita tem abrigo junto a petistas das tendências Democracia Socialista (DS) e O Trabalho, além do PSOL, PCdoB, PSOL, PSTU e PCO. Todos atacam Israel de forma incendiária, em revistas como Vermelho e Marxismo Vivo. O antissemitismo desta pregação é autoexplicativo, seja pelo uso essencialista, depreciativo, do termo "judeu", na menção que fazem a políticos israelenses, seja porque, entre outras barbaridades racistas, afirmam que os judeus sionistas foram os maiores aliados dos nazistas e corresponsáveis, acreditem, pela criação dos campos de concentração!

Nos últimos 50 anos, o antissemitismo tornou-se mais fácil de ser praticado sob o nome de antissionismo ou anti-israelismo. Basta ler os textos dos seus expoentes, como Roger Garaudy, Robert Faurisson, Pierre Guillaume, David Irwing, Serge Thion, Israel Shamir e Noham Chomsky, para citar alguns dos mais conhecidos antissemitas e antissionistas de hoje, alinhados à esquerda ideológico-confessional, que praticam distorções cínicas e se valem de um arsenal de acusações mentirosas e depravadas para defenderem, alegadamente, a causa palestina. Este ativismo tenta demonstrar a todo custo que Israel não pode existir, porque é racista, fundamentalista, imperialista e por aí vai.

Bourdoukan representa o tipo de militância intelectual profissionalizada antissemita dos atuais comunistas, a exemplo dos franceses Thion e Guillaume, que dizem repudiar o racismo e orientar-se pelo internacionalismo anti-imperalista. Eles reivindicam, obviamente, o marxismo como fonte inspiradora. Há um manifesto de Guillaume, sobre a linha de pensamento da editora antissemita Velha Toupeira (Paris), que invoca a "autoridade do texto fundador de Karl Marx, ‘Sobre a questão judaica’", de 1843, para defender o "antijudaismo radical sempre proclamado urbi et orbi ( ...)". (P. Guillaume, Carta a Phillip Randa, La Vielle Taupe, 1998).

Eliminar o judaísmo, o sionismo e o Estado de Israel, como propugna Guillaume, e as seitas confessionais trotskistas que pululam nos campi universitários do mundo todo, em apoio à causa palestina, é uma coisa. Eliminar fisicamente os judeus, como os nazistas pretenderam, é outra. Os sionistas, segundo eles, gostam de embaralhar tudo. Os judeus são pessoas como todo mundo, mas o judaísmo e o sionismo, vade retro. Afinal, qual a razão do sofrimento dos povos, da existência das guerras? Quem está promovendo o genocídio palestino? A dominação judaica (dos governos, dos bancos, da mídia, dos cartéis de petróleo)! Assim, na guerra santa contra os judeus-sionistas e Israel, é preciso revelar como as coisas realmente são. Esta é a missão revolucionária de Bourdoukan e da militância ligada ao movimento BDS, que, diga-se em tempo, a cumprem de maneira metódica, como prova o caso de Santa Maria, onde o DCE e as associações de docentes e funcionários da UFSM se organizaram para solicitar aquela que, agora, é conhecida com a Lista Burmann-Schlosser. Algumas das revelações de Bourdoukan: o hierarca nazista Heirich Heidrych era judeu. A russa judia Golda Meir dizia que as crianças palestinas eram animais de duas patas, e Israel foi criado pelos nazistas. Quem garante é Hannah Arendt e os arquivos da União Soviética!

É verdade que quem, pela primeira vez, passou a propagar a “revelação”, foram os soviéticos, depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967. E qual era a versão soviética para o surgimento do movimento sionista? A campanha antissemita dos soviéticos, um aspecto permanente do regime totalitário depois de 1967, era conduzida pelo nome em código de “antissionismo”, que se tornou uma dissimulação de toda a variedade de antissemitismo. Nesta condição, foi transplantado para a tese do anti-imperialismo leninista (ver o texto de Lênin, canônico para todos os comunistas, Imperialismo, a fase adiantada do capitalismo, de 1916). Os soviéticos, em sua doutrina oficial, adaptaram o conceito de sionismo ao de colonialismo; e o estado sionista a um posto avançado do imperialismo.

Alguém pode lembrar, aqui, que a União Soviética de Stálin foi o primeiro país a reconhecer o Estado de Israel, depois de sua criação, em 1948. Certo. Mas Stálin foi motivado por razões geopolíticas: ele pretendia marcar, através de Israel, a presença russa no Oriente Médio, para contrapor-se aos EUA, Inglaterra e França. Como não conseguiu, desde o começo da década de 1950, a propaganda antissionista soviética sempre foi intensificada e tornada mais abrangente, acentuando os vínculos entre o sionismo, os judeus em geral e o judaísmo. Centenas de artigos, em revistas e jornais por toda a União Soviética, retratavam os sionistas e os líderes israelenses como elementos comprometidos em uma conspiração internacional, lado a lado com as diretrizes dos antigos Protocolos dos Sábios de Sião, o livro apócrifo clássico sobre a existência de um governo mundial judaico, produzido pela polícia secreta czarista, no início do século XX (para mais detalhes, ver Paul Johnson, História dos Judeus, 1987; Walter Laqueur, The Changing Face of Anti-semitism, 2008).

Nos anos que se seguiram à Guerra dos Seis Dias, até o seu colapso, a máquina de propaganda soviética se tornou a fonte principal de material antissemita do mundo. Ela reunia matérias de praticamente todo segmento arqueológico da história antijudaica, desde a antiguidade clássica até o hitlerismo. O volume destes materiais começou a igualar-se com os que os nazistas produziram. O talvez mais famoso livro deste acervo de propaganda (que se espalhava por incessantes e repetitivos artigos e radiodifusões até brochuras orientadas) chama-se "O Judaísmo e o Sionismo', de Trofim Kychko (1968), no qual ele expõe “a idéia chauvinista da escolha de Deus pelo povo judeu, da propaganda do messianismo e idéia de reinar sobre os povos". Em "A Rastejante Contra-Revolução", de 1974, em outro livro clássico desta propaganda, escrito por Vladimir Begun, se lê que “... a Bíblia é um insuperável manual de sanguinolência, hipocrisia, traição, perfídia e degenerescência moral". As mesmas afirmações foram feitas, anos depois, por José Saramago, o conhecido escritor português, que jamais negou seu stalinismo.

Agora, chamo atenção para a pedra de toque deste antissemitismo descarado, de amplitude global, defendido pelos movimentos comunistas pós-soviéticos e trotskistas. A história começou a circular na década de 1970 e apregoava que os sionistas (israelenses) eram sucessores dos nazistas, afirmação “comprovada pela evidência” de que o próprio Holocausto de Hitler fora uma conspiração judaico-nazista para se livrar dos judeus pobres, que não podiam ser usados nos planos sionistas. Na verdade, conforme se alegava, o próprio Hitler tirava seus planos de Theodor Herzl, o fundador do sionismo político, em 1898. A revelação soviética seguia: Os líderes judaico-sionistas, que agiam sob ordens de judeus milionários que controlam o capital financeiro internacional, ajudaram a SS e a Gestapo a arrebanhar judeus indesejados, ou para as câmaras de gás ou para os kibutzim, iniciando a colonização judaica moderna da Palestina, e desterrando a população árabe nativa, dando origem à dramática situação do povo palestino. Essa conspiração judaico-nazista foi usada como fundamento, pela propaganda soviética, para acusações de atrocidades contra os governos israelenses, sobretudo durante e depois da Guerra do Líbano de 1982. A ilação, aqui, era direta: Como os sionistas já haviam se sentido felizes em se juntar a Hitler no extermínio de seu próprio povo (isto foi publicado no Pravda, edição de 17 de março de 1984), não causaria espanto que agora massacrassem árabes libaneses, que eles consideravam sub-humanos. 

Mesmo o mais singelo senso de prudência é mandado às favas pelo fervor militante do antissemitismo comunista, gestado na extinta União Soviética e, hoje, representado pelas revistas Caros Amigos, Vermelho, ou Marxismo Vivo. Golda Meyer jamais se referiu aos palestinos de forma desreipetosa, como Bourdoukan af[irma. E o conhecido texto de Hannah Arendt, "Eichmann em Jerusalém", foi conspurcado pelo racismo hidrófobo do articulista de Caros Amigos.e pela milícia da esquerda confessional. As críticas de Hannah Arendt ao julgamento de Eichmann a antipatizaram com a liderança do Mapai (o partido social-democrata, à época no poder em Israel, sob a liderança de Ben Gurion), mas nem de forma remota respaldam as sandices que Bourdoukan escreve, nos passos de Schoennman e dos propagandistas soviéticos, entre elas a de que Israel, pasmem, foi criado pelos nazistas!

O antissemitismo é uma patologia moral e política, mas já produziu desastres suficientemente conhecidos para ser tolerado, seja lá a que pretexto for. A verdade é que seus propagadores comunistas sempre o exercitaram metodicamente com cinismo, em nome da fraternidade dos homens, e com isto obtêm respaldo de organizações e grupelhos de fanáticos prosélitos adeptos de um marxismo-leninismo apodrecido, engajado na luta contra o opressivo Estado judeu 

Bourdoukan é antissemita e escreve em Caros Amigos, uma revista de esquerda, adepta do mesmo trotstkismo internacionalista sindical proletário camponês libertário guevarista maoísta humanista revolucionário, que distingue a militância da Democracia Socialista/PT, PSOL, PC do B, PSTU, PCO e do MST. Entre outros referenciais, faz parte deste ideário a cartilha da conspiração judaico-sionista-capitalista, difundida por Caros Amigos, Vermelho e Marxismo Vivo.

A obsessão antijudaica nestes, digamos, setores ideológicos, chegou a tal ponto que, em 1998, o jornalista José Arbex Junior, editor especial da revista Caros Amigos, que se diz ultra-pacifista e também é muito ligado ao Movimento de Trabalhadores sem Terra (MST), de João Pedro Stédile, escreveu longo comentário sobre uma notícia do Sunday Times, de Londres, segundo a qual os israelenses haviam sintetizado um vírus que liquida apenas os árabes e poderia ser propagado por ar ou água. Assim, a disseminação não apresentaria qualquer risco aos judeus, se viesse a ocorrer nos territórios palestinos ocupados. A tolice era explícita: para atingir o objetivo, o tal vírus teria que ser imbecil a ponto de se achar capaz de distinguir entre o DNA de árabes e de judeus ou de seja lá quem for. O ponto aqui é que vírus não têm crenças, logo não podem ser imbecis. Por isto, jamais haverá um tão idiota como os antissemitas que acreditam, como Arbex, que um vírus étnico possa existir. Dias depois de sua publicação no Sunday Times, descobriu-se que a notícia reproduzia parte uma novela de ficção de terceira-linha, jamais publicada e escrita por um ex-funcionário de um instituto de pesquisas israelense.

A asneira, inspirada na acusação medieval de que os judeus envenenavam os poços durante a época da Peste Negra, na Europa, serviu para Arbex discorrer sobre a sinistra ciência praticada secretamente pelo governo israelense. O jornalista advertia para a degeneração moral dos genocidas sionistas, capazes de criar um monstro que faria Hitler babar de inveja. E, obviamente, esbravejava contra o silêncio da mídia mundial sobre a revelação alarmante.

O artigo de Bourdoukan foi publicado no lugar certo. Depois de oferecer uma antevisão do Armagedon racial made in Israel, Caros Amigos revelou que os sionistas foram co-responsáveis pela criação dos campos de concentração nazistas. Afinal, alguém duvida do que são capazes os sionistas? Não dizia o judeu polonês Menachem Begin, segundo Bourdoukan, que as crianças palestinas são bestas caminhando sobre dois pés? Os anti-semitas sempre foram assim mesmo. Se há algo degenerado que ninguém seria capaz de fazer, então aparece algum judeu ou sionista, como Golda Meir, e faz. Nada que venha a causar estranheza. Afinal, os judeus-sionistas eram os maiores aliados dos nazistas e inventaram um vírus que dizima os árabes. Resta-nos esperar que o Ministério Público Federal, logo depois o Poder Judiciário, revelem as razões pelas quais essa gente, que acredita e propaga esta espécie de lixo pelos campi universitários, digam seus motivos para obter uma relação de israelenses na UFSM. Talvez seja em nome de um antissemitismo inofensivo que até hoje é desconhecido.

Pânico em Brasília - LAURO JARDIM


Bené
Bené não foi o único alvo da Operação Acrônimo
Uma parte importante de Brasília está em pânico. No bojo da Operação Acrônimo, que flagrou as traficâncias de Benedito Rodrigues, o Bené, ligado a Fernando Pimentel, a PF cumpriu mandados de apreensão de documentos no escritório de contabilidade de João Appel, um dos mais renomados da capital. De lá, os policiais levaram não apenas o material referente a Bené. Levaram tudo o que viram pela frente. Por Lauro Jardim

ESQUEMA DESVIOU R$ 256 MILHÕES NA TRANSPETRO

domingo, 14 de junho de 2015



Balanço de 2014 da Transpetro - subsidiária da Petrobrás para as áreas de transporte e logística - reconheceu um rombo de R$ 256,6 milhões no caixa da companhia por conta dos desvios descobertos pela Operação Lava Jato. "Com base em metodologia desenvolvida em conjunto com a Controladora (Petrobrás), a Companhia (Transpetro) reconheceu, no terceiro trimestre de 2014, uma baixa no montante de R$ 256,6 milhões de gastos capitalizados referentes a valores pagos na aquisição de ativos imobilizados em períodos anteriores", informa o documento "Demonstrações Contábeis 2014", do dia 29 de abril. Em seu balanço, a Transpetro considerou os contratos de R$ 8,8 bilhões, feitos entre 2004 e 2012, com 27 empresas suspeitas de cartel e corrupção nas investigações da Lava Jato e aplicou um porcentual de 3%. "Representa os valores adicionais impostos pelas empreiteiras e fornecedores, utilizados por essas empresas para realizar pagamentos indevidos", diz o documento. Os beneficiários elencados são "partidos, políticos em exercício e outros agentes políticos, empregados de empreiteiras e fornecedores, além de ex-empregados do Sistema Petrobrás". O documento tem como base os trabalhos da empresa de auditoria PricewaterhouseCoopers, que não cita nomes da subsidiária nem detalha quais ativos estão envolvidos: "As informações disponíveis para a Companhia são, de maneira geral, consistentes com relação à existência do esquema de pagamentos indevidos às empresas envolvidas, aos ex-empregados da Petrobrás". É a primeira vez que a Transpetro reconhece oficialmente que houve perdas sob a rubrica "reflexos da Operação Lava Jato". O ex-presidente da empresa Sergio Machado é o principal nome sob suspeita. Machado ocupou o cargo por 12 anos - desde o início do governo Lula. Ex-senador do PMDB do Ceará, Machado era indicação pessoal do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Em fevereiro, ele deixou a presidência da empresa após ter sido apontado como recebedor de R$ 500 mil de propina em espécie, do ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa. Em nova etapa de investigações, a força-tarefa da Lava Jato tem elementos para acreditar que o esquema descoberto nos contratos de obras de construção de refinarias, que envolvia propinas de 1% a 3% para partidos e políticos, por meio de agentes públicos indicados, tenha se reproduzido no setor naval, na Transpetro. Estão na mira contratos com estaleiros para construção e afretamento de navios e de operações de oleodutos, gasodutos e terminais marítimos. Dos R$ 256,6 milhões desviados da subsidiária, o balanço considera que "R$ 217 milhões dizem respeito às possíveis perdas nos contratos da área de transporte marítimo". A maior parte dessas licitações auditadas diz respeito ao Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), lançado em 2004, por Machado, que previa o investimento de R$ 11 bilhões para construção de 49 navios e 20 comboios hidroviários. Oito dessas embarcações entraram em operação, entre elas o navio petroleiro Anita Garibaldi, que fez sua viagem inaugural no dia 3, saindo do estaleiro Eisa Petro-Um, em Niterói (RJ). Essas obras são conduzidas por estaleiros alvo de investigação da Lava Jato conduzida pelo juiz Sérgio Moro, como o Estaleiro Atlântico Sul - Camargo Corrêa e Queiroz Galvão.

GOVERNO PETISTA ESCONDE ROMBO DOS FUNDOS SOB O TAPETE

domingo, 14 de junho de 2015


Dos 23 autos de infração da Previc (órgão fiscalizador dos fundos de pensão), que é controlado por petistas, apenas nove foram relativos a gestores anteriores a 2012. Outros 14, dizem fontes da Previc, seriam de grandes fundos administrados pelo PT: Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa) e Petros (Petrobras). A ordem no governo e no PT é proteger e evitar o desgaste dos dirigentes desses fundos. Audiência no Senado tratou do rombo no Postalis, que atormenta os servidores dos Correios, mas ignorou a situação dos grandes fundos. O governo teme os vínculos desses grandes fundos de pensão – Previ, Funcef e Petros – no escândalo de corrupção da Lava Jato. Os maiores fundos de pensão federais, chefiados por petistas, fizeram investimentos bilionários estranhos, nos setores de petróleo e energia.

A democracia se exerce à luz do dia - REVISTA ÉPOCA


Para alguns setores do Itamaraty, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se tornou um cidadão comum no Brasil ao deixar o poder, como é normal e razoável em países civilizados. No mês passado, o repórter de ÉPOCA Filipe Coutinho requisitou, pela Lei de Acesso à Informação, documentos públicos relativos a negócios envolvendo a empreiteira Odebrecht. São documentos que já deveriam estar disponíveis para consulta por qualquer pessoa. Pelos critérios legais, o prazo para atendimento é de 20 dias corridos, prorrogáveis por mais dez. Quando os dois prazos se esgotaram, o Itamaraty informou ao repórter que precisaria de mais dez dias úteis para atendê-lo. A justificativa era que “a consolidação dos dados demandará trabalho adicional”. Nesta sexta-feira (12), o jornal O Globo revelou a verdade: a documentação já estava pronta, mas um diplomata tentava manipular as regras para torná-la inacessível.

O Globo mostrou um documento no qual o diplomata João Pedro Costa toma por base reportagens de ÉPOCA relativas às ligações entre Lula e a Odebrecht e escreve a um superior: “Estes documentos já seriam de livre acesso público”, diz. E complementa: “(...)o fato de o referido jornalista já ter produzido matérias sobre a empresa Odebrecht e um suposto envolvimento do ex-presidente Lula em seus negócios internacionais, muito agracederia a Vossa Excelência reavaliar a anexa coleção de documentos e determinar se há, ou não, necessidade de sua reclassificação para o grau de secreto.” Pelo que se depreende do documento, um funcionário do Itamaraty queria driblar a lei com o intuito de preservar Lula.

A atitude demonstra que, pelo menos para uma facção de servidores, as atividades empresariais de Lula estão acima da transparência obrigatória devida pelo Itamaraty – e por todo governo – ao público que paga por seus serviços e salários. É temerário para a democracia que um burocrata se sinta à vontade para driblar a lei mediante a simples possibilidade de dados públicos criarem constrangimento a um político. Lula é um cidadão comum. Suas atividades privadas estão sujeitas ao escrutínio público porque seus passos como prestador de serviços da Odebrecht em viagens ao exterior contaram com o apoio da diplomacia brasileira. Como ÉPOCA noticiou em reportagem de capa em maio deste ano, o Ministério Público Federal abriu investigação sobre tais viagens. Não houve, até agora, abertura de inquérito – mas, para o Ministério Público, Lula é suspeito de tráfico de influência internacional.

A Lei de Acesso à Informação é um avanço civilizatório. Estabelece critérios para que o cidadão possa saber o que o governo, eleito com seus votos e sustentado por seus impostos, faz em seu nome. Documentos são classificados de acordo com seu grau de sensibilidade e liberados em prazos definidos; os mais delicados, que tratam de questões de segurança nacional, ficam ocultos por mais tempo. Uma reclassificação de documentos segue critérios e é feita por uma comissão. É difícil imaginar que as viagens de Lula toquem em alguma questão de segurança nacional. Funcionários do Itamaraty não podem, por critérios políticos pessoais, sugerir que a lei seja subvertida para preservar a imagem de quem quer que seja.

 

Muitas autoridades ainda não se acostumaram com a transparência que está no cerne da democracia. O então ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e hoje governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, classificou como secretos os acordos entre Brasil e Cuba para construção do Porto de Mariel – outra obra da Odebrecht. A desculpa é o sigilo empresarial, mas a atitude é no mínimo questionável. No episódio revelado pelo Globo nesta semana, um representante do Itamaraty tentou decidir o que o público pode saber a respeito das relações entre Lula e a Odebrecht. A censura oficial terminou com a Constituição de 1988. Como disse a ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal por ocasião do julgamento das biografias, nesta semana, “Cala a boca já morreu, quem disse foi a Constituição”.

O filósofo italiano Norberto Bobbio descreveu a democracia como “o governo do poder público em público”. Exercer a democracia à luz do dia é a tarefa dos órgãos de Estado. Guardada a exceção da segurança nacional, atos realizados longe dos olhos e do escrutínio dos eleitores são, por definição, antidemocráticos. Só seremos uma democ
racia de verdade quando nossos diplomatas e políticos incorporarem essa verdade simples.

CHARGE DO HEITOR


"Di" Menor - inocente ou delinquente - Bernardo Campos Carvalho


Muito se discute a respeito da maioridade penal do Brasil. Por conta disso, pelo clamor popular, a Câmara dos Deputados deve votar nos próximos dias a nova lei sobre a redução da maioridade penal.

Entendo, com a devida vênia, que tal matéria deveria estar decidida há muito tempo e não somente agora ir a plenário.

O mundo mudou, tudo evoluiu. Se compararmos os costumes antes da década de 20 com os de agora, não existe semelhança. A história nos mostra que um garoto naquele tempo era verdadeiramente uma criança, não tinha o discernimento,  o conhecimento e a vivacidade das crianças atuais, não exercia as funções sociais e nem tinha responsabilidade, portanto, não era cobrado como hoje.

O adolescente mudou muito. Hoje tem tanto ou mais conhecimento que um maior de idade, pratica crimes hediondos, chefia quadrilha de criminosos, tanto na venda de drogas, quanto em assaltos ou sequestros. Tem mais periculosidade e inteligência para o crime que muitos criminosos com mais idade.

Se o menor hoje é considerado capaz para tantos atos da vida civil, destacando-se, inclusive,  para votar e eleger governadores e presidente da República, por que o absurdo de ser isento da responsabilidade penal  pelos crimes bárbaros que praticam?

Ora, se assim fosse, mostrariam fragilidade e não arrogância e prepotência quando presos. Outro dia, conversando com um amigo, membro do Poder Judiciário que defende a não redução da menoridade penal, lhe falei: "Se o menor é tão bonzinho, porque você não o leva para sua casa?”, confesso, não obtive resposta.

Como advogado criminalista há mais de 30 anos, diuturnamente presenciamos nas delegacias a polícia se desdobrar para descobrir o criminoso e, quando prende,  ouve a célebre fase "não me toque sou ‘di’ menor". Às vezes, infelizmente, o menor criminoso sai da delegacia antes das testemunhas e da vítima, pois a polícia pouco ou nada pode fazer.

A sociedade não pode continuar calada, não pode permitir esse descaso legal, verdadeiro absurdo. É necessário pressão em cima dos nossos legisladores, em movimento nacional, semelhante a de um  Impeachment, para que se opere mudanças e a sociedade possa dar um passo à frente, buscando um pouco de paz.

Se nada fizermos e continuarmos somente reclamando para nos mesmos, vamos continuar a conviver com esse estado de coisas, com os crimes violentos praticados, perda de entes queridos e importantes em nossas vidas, sabendo de antemão que o menor não é inocente, mas sim delinquente, e o que é pior, será solto sumariamente, dando risadas de nossa caras. E a polícia, mais uma vez, será desmoralizada e ridicularizada, com a palavra mágica “sou ‘di’ menor".

Reforma política e o fim da reeleição - Gazeta do Povo-PR


A Câmara dos Deputados vem votando individualmente, em primeiro turno, itens da reforma política e aprovou, no fim de maio, o que até agora é o mais relevante dos pontos analisados pelos deputados: o fim da reeleição para cargos no Poder Executivo. No entanto, a julgar pelos argumentos apresentados pelos parlamentares, parece-nos que eles podem ter acertado em alguns diagnósticos, mas falham redondamente ao apontar o fim da reeleição como solução para os problemas que o sistema político brasileiro atravessa.

O uso da máquina administrativa pelos governantes foi apontado por diversos parlamentares como o principal motivo para extinguir a reeleição. Eis o exemplo mais perfeito do que descrevíamos anteriormente: identifica-se corretamente o problema, mas propõe-se o remédio errado. A reeleição não criou o uso da máquina; ela já existia no Brasil muito antes de 1997, ano em que o Congresso aprovou a proposta de emenda constitucional permitindo a reeleição para cargos do Executivo, e não necessariamente depende de o candidato beneficiado ser aquele que já exerce mandato – basta observar como Lula empenhou mundos e fundos na eleição de Dilma Rousseff. Essa falta de escrúpulo na identificação entre patrimônio público e patrimônio privado/partidário teria ocorrido ainda que nunca tivesse havido reeleição no Brasil.
É preciso aceitar, no entanto, que a população pode, sim, reeleger governantes incompetentes ou corruptos; esse fenômeno tem as mais diversas origens, entre as quais a permanência da mentalidade conhecida como “rouba, mas faz”. Mas, ainda que seja assim, essa constatação jamais deveria ser motivo para extinguir a reeleição. Os eleitores precisam ter a liberdade de poder dar mais tempo, através de um novo mandato, para que o governante possa implementar seu plano de governo. Podem ser estabelecidos limites, como a possibilidade de o incumbente só poder buscar um novo mandato, como acontece atualmente no país para cargos no Executivo para evitar exageros, mas não há motivos suficientes para pôr fim à reeleição. Democracias muito mais amadurecidas que a brasileira mantêm a possibilidade de reeleição em seus sistemas eleitorais sem que isso coloque em risco a legitimidade do processo democrático.
Na pretensão dos parlamentares de colocar fim à reeleição, manifesta-se aquele paternalismo típico da cultura política brasileira (como no caso da recente lei capixaba que proíbe saleiros nas mesas de bares e restaurantes): uma convicção de que o cidadão não sabe cuidar de si próprio e precisa que o Estado lhe diga o que é melhor. No caso da reeleição, trata-se de considerar o eleitor incapaz de distinguir entre o bom governante, que conquista um novo mandato por seus méritos, e aquele que só se reelegeu por usar a máquina pública. É uma presunção absurda, ainda mais considerando que a reeleição está em uso no país há menos de 20 anos, tempo insuficiente para avaliar com clareza seus efeitos.
Como afirmamos no início, o fim da reeleição é a mais significativa das mudanças decididas pelo Congresso na reforma política, o que dá uma ideia da pouca diferença que as demais alterações (idade mínima para concorrer a cargos eletivos, duração de mandatos, doações de empresas para partidos e não para candidatos) farão no panorama político-eleitoral. Medidas realmente importantes para aperfeiçoar a política, como a adoção do voto distrital misto – em nossa opinião, o melhor sistema, por reforçar o vínculo entre eleitores e eleitos sem enfraquecer os partidos nem gerar risco de sub-representação –, acabaram descartadas. Também não há nada que permita vislumbrar um fim para o uso eleitoral da máquina pública. Reformas desse tipo, que só acabam mudando a fachada e conservando a estrutura, de pouco adiantam para sanar os graves problemas da cultura política nacional.

Uma vaca profanada - Carlos Heitor Cony


RIO DE JANEIRO - Era uma vaca palustre e bela –não, não era bem isso, era simplesmente uma vaca como todas as vacas costumam ou devem ser: admito que nunca me preocupo com vacas, meu arroubo pastoral nunca foi além da fazenda de Itaipava, mais pelo sino de sua capela do que pela fazenda em si.

Agora, diante da vaca, a primeira lembrança que me veio foi desagradável. Visitava a Índia e aluguei um carro para conhecer cidades do interior. Numa delas, esbarrei com uma vaca no caminho, enorme e escura, que lambia vagarosamente o chão da estrada. A vaca era um animal sagrado naquelas paragens.

Fiquei sem saber como superar o problema e a vaca. Se buzinasse, ela podia se assustar e eu teria criado um caso. Não havia ninguém perto. Sair do carro e meter um pontapé na vaca seria perigoso, ela poderia revidar com uma chifrada. Mesmo assim, saí do carro e fiquei olhando o animal, até que ele se decidisse a ir embora.

De repente, apareceram uns mendigos de estrada, que ficaram estupefatos com a cena: uma vaca, um carro e um forasteiro. Para que não me levassem a mal, tive a péssima ideia de bajular a vaca. Aproximei-me de sua garupa, fazendo-lhe um afago. Os mendigos começaram a gritar, brandindo seus cajados.

Pouco a pouco surgiu mais gente, uma pequena multidão, cada vez mais encolerizada. Eu tinha razões para suspeitar de que era o objeto daquela cólera. Felizmente apareceu um guarda que me afastou da turba e me levou a uma autoridade.

Depois de alguma confusão –eu falava um péssimo francês e ali ninguém falava nenhuma língua ocidental– consegui entender o motivo da indignação: eu profanara a vaca com minha suja mão de ímpio, comedor de comidas proibidas, fornicador de mulheres impuras, enfim, eu fizera o equivalente a um selvagem que chega a Jerusalém e urina nas pedras do Muro das Lamentações.

"A Primavera" de Sandro Botticelli - Análise da obra


A Primavera, obra também conhecida como Alegoria da Primavera é um quadro de Sandro Botticelli que utiliza a técnica de têmpera sobre madeira. Pintado cerca de 1482, mede 205 cm x 314 cm.
A história da obra não é muito conhecida; parece ter sido encomendada por um membro da família Médicis. É provável que Botticelli se tenha inspirado nas odes de Ângelo Poliziano para realizar esta obra. As outras fontes são da Antiguidade: os "Faustos" de Ovidio e "De rerum natura" de  Tito Lucrécio. Desde 1919 a pintura faz parte da colecção da Galeria Uffizi, em Florença, Itália.
  
O quadro representa e festeja a chegada da Primavera. No meio do bosque de laranjeiras Vénus, a deusa do Amor, surge num prado, por cima do qual o seu filho Eros atira as  flechas de amor, com os olhos vendados.Soberana do bosque, Vénus encontra-se um pouco atrás. A atitude e o movimento das personagens demonstram uma harmoniosa unidade entre o homem e a natureza. Por cima de Vénus, as laranjeiras fecham-se em semicírculo, como uma auréola que circunda a deusa, principal personagem do quadro.
O lirismo também terá servido de inspiração a Botticelli e assim, surge a divindade de Zéfiro, brisa que banha as planícies de orvalho, as cobre de doces perfumes e veste a terra de inúmeras flores. Esta personagem está representada à direita do quadro sob a forma de um ser alado, azul esverdeado. É Zéfiro que persegue uma ninfa com vestes transparentes (Clóris) que olha para o deus com horror. Da sua boca caem flores e misturam-se com as que decoram o vestido de uma outra personagem que avança ao lado dela. Esta nova personagem tira do regaço um punhado de rosas que coloca no jardim.
Do lado esquerdo, vemos as Três Graças (Aglaia, Tália e Eufrósina), que representam a beleza, a castidade e a sensualidade, dançando numa roda cheia de encanto. A seguir está Mercúrio, o mensageiro dos deuses, que fecha o quadro à esquerda. É reconhecido pelas suas sandálias aladas e o caduceu que tem na mão direita. A presença do sabre que Mercúrio transporta, demonstra a sua função de guardião do bosque.
Esta obra destaca-se tanto pelo seu  realismo que encontramos nas figuras e também no estudo  detalhado da anatomia, como pelo seu naturalismo; é também um claro exemplo de retrato. No quadro poderão estar representandas algumas figuras importantes da época: a Graça da direita é Catarina Sforza, a  Graça do meio poderá ser Semiramide Appiani, esposa  de Lourenço o Popolano que está representado como Mercúrio, (alguns autores referem que é Juliano de Médicis quem aparece representado como Mercúrio) esta Graça olha fixamente para o seu  marido (Mercúrio). Tem sido proposto que o modelo de Vénus foi Simonetta Vespucci, musa de Sandro Botticelli.
Fontes: www.uffizi.org
wikipedia (Imagens)
 Ficheiro:Botticelli-primavera.jpg
File:Sandro Botticelli 041.jpg
Lourenço O Popolano ou Juliano de Médicis, representado como Mercúrio
Ficheiro:Primavera 04.jpg
Flora
Ficheiro:Sandro Botticelli 039.jpg
As Graças
 File:Primavera 05.jpg
Zéfiro e Clóris

FONTE - http://estoriasdahistoria12.blogspot.com.br/2013/06/a-primavera-de-sandro-botticelli.html