sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Classe C é a mais otimista com situação econômica, diz ACSP




SÃO PAULO – A classe C é a mais otimista com a situação econômica, segundo revelam dados da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), divulgados nesta quinta-feira (20) no INC (Índice Nacional de Confiança).
De acordo com o levantamento, o otimismo deste grupo da população atingiu 167 pontos, ficando acima da média nacional de 161 pontos. As classes A/B aparecem em seguida, com 152 pontos em dezembro, enquanto que as classes D/E registraram 141 pontos.
De acordo com levantamento, o otimismo deste grupo da população atingiu 167 pontos (Wilson Dias/Agência Brasil)
“Mesmo com um pouco mais de cautela, o consumidor se mantém confiante. Isso deve favorecer ainda mais as vendas do comércio”, diz o presidente da ACSP e da Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo), Rogério Amato.
CategoriasNo geral, quando consideradas as categorias, 54% dos entrevistados julgam sua situação financeira atual como boa e 53% acreditam que a situação futura vai melhorar.
Sobre o emprego, 42% se dizem seguros e o número de pessoas conhecidas dos entrevistados que estão desempregadas é de 3,3 pessoas, igual ao apurado em novembro e inferior aos 3,6 registrados em dezembro do ano passado.
O levantamento também indica que 48% das pessoas estão favoráveis em relação à compra de eletrodomésticos, com pouca oscilação em relação aos últimos Natais.

Relatório de Inflação gera incertezas e juros têm alta



Posted: 20 Dec 2012 04:18 PM PST

Os investidores em juros ficaram desconfortáveis com o Relatório Trimestral de Inflação divulgado pelo Banco Central e puxaram as taxas futuras de juros para cima nesta quinta-feira. A leitura é que a autoridade monetária se mostrou otimista com a inflação, diante do atual cenário de pressões de preços e do quadro fiscal do governo, que segue com desonerações e política expansionista. O relatório do Banco Central reforçou que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo "suficientemente prolongado" é a "estratégia mais adequada" para garantir a convergência da inflação ao centro da meta, de 4,5%, afastando a idéia de ajuste da Selic. Ao término da negociação normal na BM&F, o juro do contrato para janeiro de 2014 (317.625 contratos) estava na máxima de 7,14%, de 7,08% no ajuste, enquanto o DI para janeiro de 2015 (229.300 contratos) indicava 7,82%, também na máxima, de 7,69% na quarta-feira. "O relatório deixou incertezas e o resultado é alta das taxas. O documento me pareceu muito passivo para o cenário atual de pressões inflacionárias. Além disso, haverá reajuste dos combustíveis em 2013, o que não foi considerado", afirmou o sócio gestor da Leme Investimentos, Paulo Petrassi. No documento, o Banco Central aumentou a projeção de inflação para este ano, mas diminuiu a estimativa para 2013. Ambas ficaram acima do centro da meta. Para 2012, a previsão é inflação de 5,7%, uma alta de 0,5% em relação ao relatório anterior. A inflação passaria de 5,5% no segundo trimestre de 2013 para 4,9% no terceiro trimestre, mantendo-se ligeiramente abaixo de 5,0% em 2013 e 2014.

Senador Alvaro Dias afirma que Dilma não tem "aptidão" para exercer liderança política


Posted: 20 Dec 2012 04:51 PM PST

Em discurso ao plenário nesta quinta-feira, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que a presidente da República, Dilma Rousseff, não tem "aptidão" para exercer a liderança política que lhe cabe em virtude do cargo. Na avaliação do senador, o Poder Executivo se ausenta de debates e negociações importantes para o País. "A presidente Dilma não tem aptidão para o exercício da liderança política, não exerce a liderança de presidente da República para administrar conflitos. Esteve ausente do debate da redistribuição dos royalties. Não comparece pessoalmente e escolhe mal quem a representa", disse. Ao comentar o livro "Em Defesa da Política", de Marco Aurélio Nogueira, o senador afirmou que nem Executivo nem Legislativo têm contribuído para o resgate da confiança da população na classe política. No livro, comentou Alvaro Dias, o autor questiona como ficaria a sociedade sem os políticos e "quem faria o que eles fazem?". Para o senador, o Poder Executivo é condescendente e conivente com a corrupção, e a atual oposição no Congresso Nacional é a menor da história do País. Alvaro Dias afirmou que o Executivo estimula o fisiologismo, o oportunismo e a desonestidade nas relações com a base aliada. "O governo, ao reduzir o espaço da oposição, reduz o espaço da crítica, da denúncia e da fiscalização. E pode errar mais confortavelmente, pode abrir as portas da corrupção, porque para bancar, para sustentar, para alimentar a enorme base de apoio, é obrigado a abrir os cofres públicos, e o que se vê é a repetição dos escândalos de corrupção", atacou. Alvaro Dias também criticou o fato de o Congresso Nacional ter acumulado mais de três mil vetos presidenciais na fila de votação. Esse dado demonstra, segundo ele, que o Parlamento também está se ausentando de seus deveres. "Ou a presidente Dilma assume a sua responsabilidade e impõe-se como líder, comanda o processo, articula a busca de consenso, administra conflito de interesses entre unidades federativas, ou a crise se aprofundará no próximo ano", disse o senador, referindo-se principalmente às questões do pacto federativo.

Mané Garrincha custará o dobro do orçamento original



20:28:19


Projeto: Estádio Mané Garrincha 2014

O novo estádio Mané Garrincha, em Brasília, que custaria R$ 650 milhões, segundo o  governador Agnelo Queiroz, já passou de R$ 1 bilhão. ...

Os valores ali investidos e a investir são da Controladoria Geral da União (CGU) e estão no site do  Governo do Distrito Federal.

Quando contratou a coberura, o GDF atualizou o custo da obra pra R$ 812,2 milhões.

Até agora, o GDF contratou R$ 1.021.648.050,00 para construir o Mané Garrincha. Isto é, R$ 371 milhões a mais do valor anunciado inicialmente.

Mais 444,3 milhões estão no orçamento do GDF de 2013 para aplicar no novo estádio.

O dinheiro para essa obra, segundo o próprio governo, vem da venda de terrenos públicos na capital da República, negociados pela Terracap, que também não apresenta balanços a respeito.

Transparência zero

A falta de transparência no demonstrativo das receitas e despesas do GDF impede analise mais detalhada sobre os valores pagos.

Um comunicado do GDF informou que “os dados sobre os gastos como estádio estão sendo atualizados”.

Disse também que as informações oficiais estão no portal da transparência do GDF, que, na verdade, é a página da CGU.

Orçamento

Com os R$ 687,2milhões pagos, somados ao previsto no orçamento de 2013 (R$ 444,3 milhões) teremos um gasto total de R$ 1,1 bilhão.

Assim, o GDF se aproxima rapidamente do R$ 1,2 bilhão que previ de gastos no estádio de 72 mil lugares.

No orçamento original do governo não estavam cotados gastos com gramado, iluminação, tecnologia da informação, cadeiras etc.

O projeto integral da obra e o respectivo detalhamento de despesas estranhamente nunca foram apresentados, apesar dos insistentes pedidos.

Pior:

Fora do estádio, os projetos de mobilidade urbana, segurança pública e desenvolvimento turístico apresentam execução “zero” na planilha do governo de Agnelo Queiroz.

Os dados oficiais da CGU são os seguintes:

Estádio
Total previsto: R$ 812.200.000,00

Total contratado:  R$ 1.021.648.050,00

Total executado:   R$  687.228.339,18

Mobilidade Urbana
Total previsto: R$ 103.000.000,00

Total contratado: R$ 0,00

Total executado: R$ 0,00

Segurança Pública

Total previsto: R$ 0,00

Desenvolvimento Turístico

Total previsto            R$ 3.874.497,658

Total executado       R$ 0,00

Telecomunicações

Total previsto            R$171.050.000,00

Total contratado       R$ 1.656.832,00

Total executado       R$ 0,00

Finalmente

Ao contrário do discurso oficial, a transparência nas obras do Estádio Mané Garrincha é nula.

Pela terceira vez solicitei informações oficiais.”Estão sendo atualizados”. …
Fonte: Blog do José Cruz - 21/12/2012

Conflito de interesses na Advocacia Geral da União



  • Luís Inácio Adams suspendeu norma e autorizou profissionais da AGU a advogarem para iniciativa privada

Liberação. O ministro Luís Inácio Adams assinou o ato que permite também a sociedade de advogados em escritórios particulares
Foto: O Globo / Givaldo Barbosa
Liberação. O ministro Luís Inácio Adams assinou o ato que permite também a sociedade de advogados em escritórios particulares O Globo / Givaldo Barbosa
BRASÍLIA - O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, desconsiderou posições contrárias de colegas da cúpula do órgão e permitiu que advogados da União atuem na advocacia privada, inclusive com a possibilidade de sociedade em escritórios particulares. Desde 2010, quando Adams suspendeu uma norma que vedava a atuação de advogados da União na iniciativa privada, 27 casos de suposto conflito de interesse foram oficialmente julgados pela Corregedoria Geral da Advocacia Geral da União (AGU). Destes, 20 resultaram em suspensão dos profissionais por um período de cinco a 90 dias.
A suspensão da norma ocorreu em abril de 2010, menos de seis meses depois de Adams ter assumido o cargo de advogado-geral. O ministro rejeitou parecer que endossava a norma em vigor, elaborado pela Consultoria Geral da União, órgão de direção superior da AGU. A medida de Adams provocou conflitos de interesse entre as esferas pública e privada, com o surgimento de casos em que integrantes da AGU advogam contra a própria União.
Os membros da AGU interessados podem atuar durante licença para interesse particular ou licença incentivada sem remuneração, conforme o despacho de Adams. O documento suspendeu uma norma editada em 2009 pelo advogado-geral da União em exercício naquele ano, Evandro Gama, que substituiu Dias Toffoli após a ascensão deste último ao cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). “Por óbvio”, o integrante da AGU não pode advogar contra a União, segundo a decisão administrativa de Adams. O despacho contraria a Lei Orgânica da AGU: membros efetivos do órgão não podem “exercer advocacia fora das atribuições institucionais”.
— Em todas as profissões especializadas, como nutricionista, médico e jornalista, existe essa questão. É um tema polêmico, e até por isso suspendi a norma. O conflito de interesse sempre existiu, não foi a suspensão da norma que fez surgir o conflito — disse Adams, em entrevista ao GLOBO.
A decisão é temporária, mas o despacho do ministro não especifica por quanto tempo é válida. A medida cita apenas uma validade “até ulterior deliberação”. Adams afirma que analisará em breve se revoga ou não em definitivo a proibição de advocacia privada para advogados da União:
— Ainda não sei se a norma será revogada. Quero aprofundar a discussão.
Desde o último dia 7, a Procuradoria Geral Federal — outro órgão de direção superior da AGU — apura “possível infração disciplinar” na conduta da procuradora federal Andréa Vulcanis, lotada no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Curitiba. Andréa está de licença para interesse particular, sem receber salário. A advogada passou a fazer parte da sociedade de um escritório de advocacia em Brasília. Pelo menos um dos sócios de Andréa atua em processos contra a União.
A advogada já exerceu o cargo de procuradora-geral do Ibama, entre 2007 e 2010. Segundo Andréa, retaliações políticas impediram sua continuidade no órgão em Brasília. A procuradora afirma que não advoga contra a União e que apenas elabora projetos de consultoria para estados. Ela diz desconhecer a atuação de seus sócios no escritório.
— Essa sociedade é como um condomínio, apenas dividimos despesas. Não atuo com eles, não compartilho discussão de teses nem honorários — afirmou a procuradora ao GLOBO.
Outro ex-procurador-geral de um órgão da União, Marcio Pina Marques, foi nomeado para o cargo de diretor jurídico da Enersul, concessionária de energia de Mato Grosso do Sul e que está sob intervenção da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Marcio é procurador de carreira do órgão e, após ser exonerado do cargo de procurador-geral, assumiu a diretoria da Enersul. Ele diz que toda sua atuação ocorre em prol da União, interventora no caso.
O salário de R$ 35 mil que recebe deve ser pago pela concessionária. Em outubro, porém, o Portal da Transparência registra um pagamento da União de R$ 18,8 mil ao servidor, valor que teria se acumulado com o salário pago pela Enersul. Marcio nega ter recebido do governo federal e diz que houve um erro . Ele pediu à AGU a ficha financeira referente a outubro. Primeiro, o órgão detectou recebimento indevido. Depois, informou ao servidor que o pagamento foi bloqueado.
— Estou numa missão do governo federal, a serviço da Aneel. Assinei um termo de compromisso em que afirmo que não advogarei contra a União — disse Marcio.
Por meio da assessoria de imprensa, a AGU informou que a lei complementar veda a advocacia privada apenas para servidores em “efetivo exercício”. O órgão sustentou que esse é um pleito dos próprios sindicatos da categoria e que um mandado de segurança tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ainda segundo a AGU, a Corregedoria Geral faz um controle da atuação dos advogados públicos licenciados, com um levantamento dos processos em que atuam, inclusive com uma verificação sobre atuações contra a União.

Justiça atrasada não é justiça', por Ruy Barbosa



(...) Mas justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta. Porque a dilação ilegal nas mãos do julgador contraria o direito das partes, e, assim, as lesa no patrimônio, honra e liberdade.
Os juízes tardinheiros são culpados, que a lassidão comum vai tolerando. Mas sua culpa tresdobra com a terrível agravante de que o lesado não tem meio de reagir contra o delinqüente poderoso, em cujas mãos jaz a sorte do litígio pendente.
Nas sejais, pois, desses magistrados, nas mãos de quem os autos penam como as almas do purgatório, ou arrastam sonos esquecidos como as preguiças do mato.
(...) Não acompanheis os que, no pretório, ou no júri, se convertem de julgadores em verdugos, torturando o réu com severidades inoportunas, descabidas, ou indecentes; como se todos os acusados não tivessem direito à proteção dos seus juízes, e a lei processual, em todo o mundo civilizado, não houvesse por sagrado o homem, sobre quem recai acusação ainda inverificada.
Não estejais com os que agravam o rigor das leis, para se acreditar com o nome de austeros e ilibados. Porque não há nada menos nobre e aplausível que agenciar uma reputação malignamente obtida em prejuízo da verdadeira inteligência dos textos legais.
Não julgueis por considerações de pessoas, ou pelas do valor das quantias litigadas, negando as somas, que se pleiteiam, em razão da sua grandeza, ou escolhendo, entre as partes na lide, segundo a situação social delas, seu poderio, opulência e conspicuidade.
Porque quanto mais armados estão de tais armas os poderosos, mais inclinados é de recear que sejam à extorsão contra os menos ajudados da fortuna; e, por outro lado, quanto maiores são os valores demandados e maior, portanto, a lesão argüida, mais grave iniqüidade será negar a reparação, que se demanda.
Não vos mistureis com os togados, que contraíram a doença de achar sempre razão ao Estado, ao Governo, à Fazenda; por onde os condecora o povo com o título de "fazendeiros". Essa presunção de terem, de ordinário, razão contra o resto do mundo, nenhuma lei a reconhece à Fazenda, ao Governo, ou ao Estado.
Antes, se admissível fosse aí qualquer presunção, havia de ser em sentido contrário; pois essas entidades são as mais irresponsáveis, as que mais abundam em meios de corromper, as que exercem as perseguições, administrativas, políticas e policiais, as que, demitindo funcionários indemissíveis, rasgando contratos solenes, consumando lesões de toda a ordem (por não serem os perpetradores de tais atentados os que os pagam), acumulam, continuamente, sobre o tesouro público terríveis responsabilidades.

Ruy Barbosa de Oliveira, jurista, político, diplomata, escritor, filólogo, tradutor e orador brasileiro.

Revel passou por aqui, por Sandro Vaia



Entre o fim do mundo e o Natal (se este acontecer é sinal que o primeiro falhou) há um bom tempo para dedicar um pouco de atenção a reflexões que não perdem a validade nunca e às vezes parecem mais atuais quanto mais o tempo passa.
O que vem acontecendo na política brasileira nas últimas semanas, desde a condenação dos réus do mensalão às reações desproporcionais que ela vem provocando, nos dá uma boa oportunidade de revisitar aquela que foi uma das inteligências mais agudas que alimentou os debates intelectuais no século passado e o começo deste.
Jean François Revel, que foi filósofo, escritor, jornalista e membro da Academia Francesa, e viveu de 1924 a 2006, ainda é uma referência viva quando se discutem as consequências e as distorções provocadas pela ideologia na vida das nações.
“A necessidade de ideologia” é um dos seus ensaios mais incisivos. Ele é dividido em 3 partes e pode ser encontrado entre outros textos seus no Blog do Orlando Tambosi (otambosi.blogspot.com.br), professor associado da Universidade Federal de Santa Catarina.
Começa perguntando - o que é ideologia? – e respondendo:
É uma tripla dispensa: dispensa intelectual, dispensa prática e dispensa moral.
Resumindo: a primeira consiste em reter apenas os fatos favoráveis às ideias que se defendem, inclusive inventando-os e negando outros, tratando de omiti-los, de esquecê-los, e de impedir que sejam conhecidos; a segunda, suprime o critério da eficácia, tirando todo valor de refutação aos fracassos; a terceira, abole toda noção do bem e do mal para os atores ideológicos.
Vai além Revel: “Os socialistas (usamos a expressão original do ensaio, ainda que no caso brasileiro isso possa ser considerado uma licença poética, se levarmos em conta a diferença entre teoria e prática do partido ao qual nos referimos ) têm um conceito tão elevado da própria moralidade que ao ouvi-los, podemos ser levados a crer que eles tornam a corrupção honrada quando se entregam a ela, em vez de ela empanar a sua virtude, quando sucumbem à tentação”.
Mais adiante: “Em seu começo, uma ideologia é uma fogueira de crenças que, ainda que devastadora, pode inflamar nobremente os espíritos. Em seu término, se degrada em um sindicato de interesses”.
As reações do PT às decisões da Justiça, o discurso revanchista de quem se considera vítima de uma conspiraçao golpista, as ameaças de desobediência e de desordem civil não soam como algo muito familiar a esse texto?
Não parece que Revel andou pelo Brasil na semana passada, ou leu jornais brasileiros nos últimos meses?

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: svaia@uol.com.br

HUMOR A Charge do Chico Caruso



O inusitado e o precedente, por Ilimar Franco



Ilimar Franco, O Globo
A presidente Dilma não aceita terminar o ano sem aprovar o Orçamento para 2013. E pressiona o Congresso para que ele seja votado. Para atendê-la, os líderes aliados trabalham uma saída inusitada: a da Comissão Representativa do Congresso, que funciona no recesso, aprovar o Orçamento da União.
Um líder governista argumentou que o relator do Orçamento, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), conseguiu um milagre, “aprovar o relatório sem contestação”, e que, diante disso, essa alternativa poderia se concretizar.
Mas, para isso, a oposição teria que concordar com a abertura de um precedente, já que isso nunca ocorreu na História do Congresso.

CRÔNICA Cartas de Seattle: Aliança é espanta-paquera



Paquera não escolhe estado civil. No Brasil, não tem essa de ser casada ou solteira: os homens soltam cantada mesmo e não querem nem saber. Mesmo em ambiente de trabalho tem os mais saidinhos – e saidinhas também – que não estabelecem limites nas relações profissionais. Se colar, colou.
Em Seattle a coisa é muito diferente. Primeiro, tem a neura americana com o assédio sexual. Relações amorosas surgidas no trabalho são meio tabu. A primeira coisa que você faz ao entrar numa empresa de médio e grande porte é passar por um treinamento para aprender a não fazer nada que possa ser considerado inapropriado.
Tocar o braço de alguém durante uma conversa, um gesto bem típico brasileiro, está na lista de coisas a não se fazer. Lembrando que só pessoas bem próximas trocam abraços e beijos no rosto por aqui.
Mesmo fora do horário de trabalho, desenvolver uma relação menos superficial pode ser uma tarefa complicada. Já falei aqui da dificuldade de conhecer gente em Seattle, e até que tem curso que ensina a driblar a frieza dos locais.
Se pra fazer amigos é difícil, imagina pra arranjar um(a) namorado(a)? Não é à toa que 55% dos adultos de Seattle são solteiros. A cidade fica em 16º lugar no ranking das cidades grandes com maior percentagem de solteiros na população, segundo a Census Bureau.

Foto: Kana @CC

Os tímidos recorrem aos sites de relacionamento – já conheci dois casais felizes da vida que se conheceram através de um serviço desses. No Brasil, não conhecia nenhum.
Seattle está em sexto lugar num levantamento que indica quantidade de solteiros publicando anúncios pessoais na Internet. A lista da Scarborough Research inclui 96 áreas metropolitanas dos Estados Unidos.
O segredo do flerte na cidade pode ter sido desvendado outro dia, sem querer, por uma amiga.
A amiga em questão, muito bem casada, estava um dia fazendo compras sem a aliança e aconteceu um fato inédito nos seus anos de moradora de Seattle. Foi abordada com homens com aquela conversinha mole que a gente conhece bem.
Semanas depois de anonimato no supermercado, sem ser notada por ninguém do sexo oposto, lá vem alguém puxar conversa novamente. E ela percebeu que, nas duas ocasiões, estava sem aliança. Bingo! Paquera em Seattle escolhe estado civil, sim.
Aos solteiros à procura de um amor em Seattle, dois conselhos com eficácia comprovada: 1) supermercado; 2) sites de relacionamento. O cupido haverá de estar em algum desses lugares.

Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Conteúdo e de Mídias Sociais em Seattle, de onde mantém o blog Preview e, às sextas, escreve para o Blog do Noblat.

Criaturas do Estado, por Miriam Leitão



Miriam Leitão, O Globo
O governo criou mais uma estatal. Não é notícia velha. Fez isso de novo ontem. Ao anunciar que privatizará os aeroportos do Galeão e de Confins, o governo deu à luz a Infraero Serviços.
Quando divulgou o plano de investimento em ferrovia, criou a Empresa de Planejamento e Logística. Criou também a Segurobrás e a Amazul. Elas nascem do nada e são criaturas que se reproduzem.
Alguém tem que avisar à presidente Dilma Rousseff que o modelo econômico do governo militar fracassou.
Naquele finado regime, que ela combateu, foram criadas estatais que se tornaram gigantes, deficitárias, ineficientes. Com raras e honrosas exceções.
Para que mesmo se quer uma segunda Infraero na hora que o governo está privatizando aeroportos? Pela explicação do responsável de plantão, a nova criatura vai atuar em parceria com operadores internacionais na prestação de serviços.
Uma estatal que mal presta os serviços que deveria prestar cria agora uma nova empresa para especificamente prestar serviços.
Em agosto, criou-se a Agência Brasileira Gestora de Fundos e Garantias. Sua função era fazer o seguro dos riscos envolvidos no pacote de infraestrutura.
O pacote, aliás, trouxe a bordo a estatal Empresa de Planejamento e Logística (EPL). A EPL nasceu da Etav, que havia sido criada para gerir o trem-bala. Além disso, o governo aumentou as funções da Valec, que vinha de escândalos e ineficiências.
Dias antes, também no mês de agosto, nasceu a Amazul, a empresa de número 126 no coletivo de estatais brasileiras. A Amazul, por sua vez, nasceu da Engepron. Ou seja, as engenhocas se reproduzem.
O nome completo das distintas: Amazul, Amazônia Azul Tecnologias de Defesa; Engepron, Empresa Gerencial de Projetos Navais. Se você não está ligando o nome ao projeto, não está sozinho.
Em levantamento feito meses atrás, o jornal “Estado de S. Paulo” falava em oito estatais criadas nos governos Lula/Dilma. Mas a fábrica continuou ativa. Há as que não sobrevivem, mas antes de deixarem esse mundo consomem recursos públicos.
Foi o que aconteceu com o Banco Popular do Brasil, que nasceu no final de 2003, teve prejuízo em 2004, começou a ser desativado em 2005 e foi oficialmente sepultado em 2010.
Outras sobrevivem, como a Petro-sal, que será responsável pela gestão dos contratos de partilha de produção e comercialização de petróleo e gás do pré-sal. Isso faz com que o Brasil tenha duas estatais de petróleo.
Foi criada uma empresa para fazer hemoderivados e outra para administrar unidades hospitalares, a EBSERVH. Uma para fazer chips, a Ceitec.
Foi lançada também uma Empresa Brasileira do Legado Esportivo Brasil 2016. Ela já foi extinta e deixou como legado um prejuízo de R$ 4,6 milhões.
Uma das criaturas tem nome inesperado: Agnes. Quer dizer: Águas de Integração do Nordeste Setentrional. Como se pode imaginar, cuidará do Rio São Francisco quando ele for transposto.
A Empresa de Planejamento Energético, ao contrário de várias das suas irmãs, tem existência no mundo real, mas uma parte do seu financiamento acaba de falecer. Recebia 3% da Reserva Global de Reversão, um penduricalho da conta de luz que foi extinto na última mudança do setor elétrico.
Empresas para produzir derivados de sangue, administrar hospitais, gerir águas de um rio, fabricar chips, criar equipamentos para a Marinha, cuidar de trens, comprar a oferta de carga dos trens, oferecer seguros para projetos estatais e prestar serviços aeroportuários dentro da estatal de infraestrutura aeroportuária.
Você pode não saber para que servem, mas é seu o dinheiro que pagará a conta dos extemporâneos delírios estatistas de Brasília.

Nem sempre Paris é uma festa..., por Maria Helena RR de Sousa



Em tempos idos e bem vividos, Paris era uma festa que até hoje rende livros, filmes, canções, poemas, quadros, histórias deliciosas.
Antes ainda, bem antes, Paris valia uma missa e o herdeiro protestante, para ser coroado rei em Paris, não hesitou em se converter ao catolicismo e declarar aos quatro ventos: "Paris vaut bien une messe!"
Hitler não sossegou o facho enquanto não passeou na Champs Elysées; de Gaulle desceu a avenida depois de desinfetar o Arco do Triunfo dos ares nazistas; John Kennedy eu vi subir a avenida depois de um lauto almoço na Prefeitura de Paris onde ele se apresentou assim: “I am the man who accompanied Jacqueline Kennedy to Paris – and I’ve enjoyed it".
Quem gosta de cinema há de lembrar a expressão de alegria do Humphrey Bogart descendo a avenida ao lado de sua adorável Ilse/Ingrid. Paris é a cidade dos amores e namorar ali faz até um durão, como o Bogart, sorrir embasbacado.
Paris também é, como o Rio, terra dos pardais. E vai ver foi por isso que aquele carioca sem graça, e seu bando de amigos, andaram cobrindo a cabeça na Place Vendôme. Nunca se sabe e mais vale prevenir que remediar...
Mas, de um modo geral, os pardais e os parisienses sempre gostaram do Brasil. Foram muito solidários com quem precisou lá se abrigar e gostam de nossa terra, de nossa música, de nossa gente. Gostam até do que não deviam gostar, daquilo que lá não gostariam de jeito algum, mas que aqui acham interessante, por ‘typique’.
Ou será que gostavam? Reparem, de 2005 para cá brasileiro com B maiúsculo (você não quer que eu me compare, por exemplo, com nossas altas autoridades, quer? Eu sou brasileira, essas figuras distintas são Brasileiras), rebobinando a fita, essesBrasileiros quando em Paris estão sempre com a cara amarrada.
Lula no jardim do Marigny, ainda presidente do Brasil, tinha uma expressão de velório. Cheguei a procurar na imagem onde estava o caixão. Podem olhar aí no You Tube. Agora, ex-presidente em exercício num forum organizado pelo Instituto Lula para ensinar aos franceses como sair da crise, ele discursou tão aborrecido, de dar dó. Também linkei.
Mas o mais impressionante foi dona Dima ao chegar a Paris passando em revista as tropas que a homenageavam. Ninguém diz que ela estava sendo saudada por amigos, e sim por inimigos. Olhem sua expressão:


Peço daqui ao ministro Patriota, que não se perca pelo nome, que por favor diga à dona Dilma que não é preciso essa cara de poucos amigos ao revistar uma tropa. Era só não rir animadíssima como quando revistou as tropas cubanas.

 

Bastava um ar suave. Afinal, Paris vale o esforço!

Conta-gotas - DORA KRAMER



21 de dezembro de 2012 | 2h 10

DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
Concluído o julgamento do mensalão, começam a ser revelados detalhes da negociação de delação premiada entre Marcos Valério Fernandes de Souza e o Ministério Público; aparecem também as primeiras provas materiais.
As tratativas estão em andamento desde que o Supremo Tribunal Federal decidiu pela condenação dele a 40 anos de prisão, mas foram mantidas em sigilo para não perturbar o processo em curso.
Primeiro soubemos que houve um depoimento no dia 24 de setembro. Recebido com bastante descrédito devido ao histórico do depoente, especialista em ameaças não cumpridas. Os ministros do STF mantiveram-se discretos, embora alguns (Joaquim Barbosa, Carlos Ayres Britto e Celso de Mello, pelo menos) tivessem pleno conhecimento do que se passava.
O lance seguinte veio já na reta final do julgamento, quando tomamos conhecimento de que, para tentar conseguir regime especial de execução das penas presentes e futuras, Valério acrescentou novidade ao caso, incluindo o ex-presidente Lula no rol dos beneficiários do mensalão.
Agora surgem os documentos, relata reportagem do Estado. O braço executivo da quadrilha entregou à procuradoria o número de três contas no exterior nas quais diz ter feito depósitos para pagamento de serviços de artistas e publicitários para campanhas eleitorais do PT.
Anexou também às declarações feitas ao MP cópia do cheque no valor de R$ 98.500, emitido pela já notória SMPB à empresa Caso, de propriedade de Freud Godoy, amigo, guarda-costas-chefe de Lula.
A ofensiva de protestos contra a inclusão do nome do ex-presidente na história do mensalão parece ter o intuito de intimidar o candidato a delator.
Inclui até governadores, mas não terá efeito prático se as provas de Marcos Valério forem consideradas suficientemente robustas para convencer a procuradoria a recomendar à Justiça a concessão de benefícios pela delação.
A rigor o desagravo seria desnecessário, pois se as declarações dele forem infundadas, vão cair no vazio. O Ministério Público só atenderá aos apelos do condenado se obtiver dele o máximo.
Valério, por sua vez, não teria iniciado o processo de negociação sem ter como comprovar ao menos em parte o que diz. De 2005 até setembro passado, quando afinal caiu-lhe a "ficha", houve alguns ensaios. Chegou a ocorrer ao menos um encontro não oficial com um procurador, mas nada prosperou.
Mas agora o operador do mensalão não está mais na fase das meras ameaças. Nessa altura são inúteis para ele.
Abaixo da crítica. Difícil saber o que é mais vergonhoso: o acúmulo de 3.060 vetos presidenciais na pauta do Congresso para serem apreciados ou os congressistas se disporem a votá-los ao ritmo de toque de caixa para atender a um interesse específico e imediato.
Quis o bom senso que a intenção não se materializasse em gesto. Mas ficou a constatação, de resto batida, de que o Parlamento não se constrange com nada.
Disse ao País que regra ali existe para ser quebrada e que o costume é deixar por incompleto o processo legislativo, cujo início se dá com a apresentação de um projeto e se conclui com a apreciação de vetos da Presidência, quando há.
Admitiu a hipótese de examiná-los agora sem o menor critério sobre o mérito de cada um e demonstrou também seu total menosprezo pela Constituição, que dá prazo de 30 dias para o exame de vetos.
Esse mesmo Congresso pretende ensinar padre-nosso ao vigário dando lições de legalidade ao Supremo.
Nasce torto. Ademais, é como reza a velha máxima: não se pode fazer tudo errado e esperar que no fim dê certo. Aplica-se à CPI do Cachoeira e também ao processo (in) decisório sobre a lei de distribuição dos royalties do petróleo.

OBRA-PRIMA DO DIA - GRAVURA Francisco de Goya: A razão e os sonhos de um gênio



Em um dicionário de 1729, capricho era notada como palavra oriunda do italiano, uma palavra composta de caput e hecho, isto é, feito com a própria cabeça. Em pintura tinha o sentido de conceito.
Goya, segundo ele mesmo dizia, foi um homem de capricho, i.e. aquele que tem “perspicácia para criar ideias originais, novas, e que resultam bem”.
Hoje o dicionário diz que capricho é uma decisão que se toma arbitrariamente, inspirada por uma fantasia, ou pelo humor do momento, ou por se encantar com algo original ou extravagante. Mas também diz que capricho é obra de arte na qual o engenho e a fantasia rompem as convenções.
A intenção de Goya ao lançar Os Caprichos, em 1799, foi a de mostrar que a crítica aos vícios e erros humanos, matérias com a qual a poesia e a eloquência lidavam muito bem, podia também ser objeto da pintura. E isso ele o conseguiu largamente. Não há o que duvidar ao olhar para suas gravuras.
Sabemos que as pessoas tentavam adivinhar quem o artista desenhara aqui ou ali, como se Os Caprichos fossem um roman a clé. Com frequencia diziam que as mulheres eram um retrato da rainha Maria Luisa e seu amante Manuel Godoy: uma mulher manipulativa e seu amante sequioso de poder.
As morenas, que chamam a atenção em suas gravuras, todos acreditavam ser a Duquesa de Alba, sua amante por longo tempo e sua grande paixão.
Entretanto, no texto que acompanha o catálogo de Os Caprichos, Goya declara que em nenhuma de suas pranchas teve a ideia de apontar ou ridicularizar alguém em particular... “ a pintura, como a poesia, escolhe no universal o que julga mais a propósito para seus fins”.
Na Espanha qualquer ambiguidade ou desconfiança podia levar o artista às barras do Tribunal ou, o que era pior, diante de um inquisidor. A ausência de uma lei regulando a Liberdade de Expressão favorecia um clima onde os artistas podiam ser processados por difamação por qualquer motivo.
Muitos dos críticos de hoje acham que à exceção de uma ou duas gravuras que parecem retratar especificamente uma determinada pessoa, a maioria dos Caprichos, como Goya declarou em 1799 “fala das loucuras e fraquezas que podem ser encontradas em qualquer sociedade civilizada: os preconceitos e as práticas de logro que o costume, a ignorância e a necessidade de levar vantagem em tudo acabaram por tornar um hábito corriqueiro”.
Alguns críticos pensam que Goya usou o artifício de muitos artistas: certos indivíduos eram modelos para certos “tipos” humanos.
Francisco de Goya viveu 78 anos. Uma vida longa, muito acidentada, mas que legou ao mundo um verdadeiro tesouro. No ano passado a Obra-Prima postou um retrato dele onde se pode ver, muito nitidamente, toda a sua força vital e inteligência. Está linkado para quem não viu.
Hoje encerro a semana com o Capricho nº 1, que é um autorretrato e com o 43.

Fran.co de Goya y Lucientes, Pintor, Capricho nº 1
Legenda no Museu do Prado: Verdadeiro retrato seu, de mau humor e semblante satírico. 
Estava com 43 anos.

O sonho da razão produz monstros, Os Caprichos nº 43

Goya adormece. Sua razão, sem freios, libera seus fantasmas e seus monstros. Ele sonha e depois põe em sua arte o mundo fantástico que encontrou em seus sonhos. Que todos encontramos nos nossos. Mas é preciso ser um Goya para, como ele diz, unir o sonho à razão e criar uma maravilha como Os Caprichos.
Legenda no Museu do Prado: A fantasia, quando abandonada pela razão, produz monstros impossíveis; unidas, as duas são a mãe das artes e a origem das maravilhas.
Legenda na Biblioteca Nacional: quando os homens não ouvem o grito da razão, tudo é só visão.

El sueño da la razón produce monstruos, Los Caprichos, nº431799, aquaforte e aquatinta, 21.8 x 15.2
Fran.co Goya y Lucientes, Pintor, Los Caprichos nº 1, 1799, aquaforte, aquatinta e ponta seca, 22.0 x 15.3

Charge do Duke (O Tempo)



O perigo mais imediato é a questão indígena



Gelio Fregapani
Não é de hoje que o estabelecimento mundial tenta dividir nosso País usando os índios como pretexto. No caso do Pirara, a Inglaterra, então a potência hegemônica, argumentou falsamente que os índios de uma tribo independente, os macuxis, se declaravam súditos da monarquia britânica e pediam proteção contra os brasileiros. O fraco governo brasileiro de então aceitou sem luta o laudo do rei da Itália, que, contra todas as provas, decidiu ajudar a Inglaterra. Desde então não mudaram muito de tática. Insuflam os índios, falam em nome deles e os usam como argumento diplomático para conseguir o que querem.
Assim também se foi a área ianomâmi com o obediente Collor, área hoje independente de fato do Brasil, mas dependente das ONGs. Com a covardia do Lula também foi cedida a Raposa-Serra do Sol, ainda não de todo perdida porque nem os índios a querem mais e a valente população de Pacaraima insiste em permanecer lá.
O passo seguinte foi a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, que como sabemos, virtualmente lhes concede independência.
Como fomos assinar isto contra nós mesmos? A representação do Brasil, nas Nações Unidas sempre tinha sido contra a aprovação da “Declaração”. Açodadamente mudou de posição, colocando o espaço territorial brasileiro em risco, um verdadeiro ato de traição. Quem era o traidor? Nós sabemos, Amorim e Lula foram os autores da maior mancada diplomática da História do Brasil, mas pouco interessa. O que interessa é o futuro.
Nosso chanceler caiu na conversa. Era contra o tratado e foi convencido a mudar de idéia por representantes da França e Grá-Bretanha, que não têm mais populações nativas, quando lhe foi mostrado o artigo 46, que dispõe: “Nada do disposto na presente Declaração será interpretado no sentido de conferir a um Estado, povo, grupo ou pessoa qualquer direito de participar de uma atividade ou de realizar um ato contrário à Carta das Nações Unidas ou será entendido no sentido de autorizar ou de fomentar qualquer ação direcionada a desmembrar ou a reduzir, total ou parcialmente, a integridade territorial ou a unidade política de Estados soberanos e independentes”.
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INGENUIDADE OU IGNORÂNCIA?
Na sua ingenuidade ou ignorância, Amorim achou que esse dispositivo seria suficiente para impedir que as reservas indígenas pudessem se declarar independentes. E mandou aprovar o tratado. Se tivesse lido as outras dezenas de normas da Declaração da ONU, perceberia que o texto foi redigido de forma propositadamente ardilosa, e veria que o objetivo era outro.
Entre os demais dispositivos, muitos repetitivamente atribuem às nações indígenas autonomia total sobre o território, com fronteiras fechadas, onde nem mesmo as forças armadas dos países hospedeiros podem ingressar sem autorização. A autonomia é irrestrita, abrangendo os aspectos políticos, econômicos, tecnológicos, culturais e espirituais. E um povo que tem território fechado, com autonomia política, econômica, social, cultural e religiosa, sem dúvida alguma é um povo independente. Esta é a definição de independência nacional.
O Governo se arrependeu, mas era tarde. Incentivadas pelas ONGs estrangeiras, muitas tribos tinham começado a campanha pela independência. E algumas delas recorreram à Organização dos Estados Americanos. Covardemente em vez de denunciar o acordo, o Governo fingiu esquecer de enviar o acordo internacional para ser referendado pelo Congresso, condição indispensável para que possa entrar em vigor. Deixou problema para o futuro. Assim conseguiu que não entrasse ainda em vigor, mas um dia teremos que enfrentar o problema. A espada de Dâmocles continua sobre a nossa integridade territorial.
Certamente a atitude correta seria enviar ao Congresso e se empenhar para que fosse recusado.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Fregapani cita um gravíssimo incidente ocorrido em 1810, quando ingleses, irregularmente na Região do Pirara, outrora território brasileiro, foram detidos por uma guarnição do Forte São Joaquim instalado no Rio Branco, nordeste de Roraima. Nessa época o Brasil era maior do que hoje, tinha a Planície do Pirara (15.087 km²) que permitia os brasileiros atingirem as Antilhas por meio do afluente do Rio Branco, rio Rapumani, e do rio Essequibo, que deságua no Mar das Antilhas ou Caribe. Mas em 1904 o governo brasileiro (presidente Rodrigues Alves) aceitou, na maior displicência e covardia, o laudo arbitral do Rei da Itália, a favor da Inglaterra, e dessa maneira  perdemos o acesso ao Mar do Caribe, enquanto a Inglaterra ganhava, por meio do Pirara, o acesso à Bacia Amazônica, bastando descer o Rio Tacutu, afluente do Rio Branco. E a fronteira do Brasil, que era no rio Tacutu encolheu para o rio Mahú. (C.N.)