sábado, 19 de maio de 2012

MILITARES DAS TRÊS FORÇAS SE UNEM E CRIAM COMISSÃO PARA ACOMPANHAR DELIBERAÇÕES DA "COMISSÃO DA VERDADE DO PT"



Militares reformados das três forças resolveram se unir para acompanhar os trabalhos da Comissão da Verdade, instituída pela presidente Dilma Rousseff. 
Uma comissão paralela foi criada pelo Clube Naval para acompanhar os trabalhos da Comissão da Verdade. A cada parecer da comissão do governo, o grupo pretende dar sua versão sobre o tema.
"Escolhemos oficiais e sócios que participam do dia a dia do clube. Decidimos formar um grupo para acompanhar os trabalhos da comissão e as discrepâncias em relação à nossa verdade", disse o almirante Ricardo da Veiga Cabral, do Clube Naval.
Sete militares reformados da Marinha foram escolhidos para integrar o grupo que acompanhará os trabalhos da Comissão da Verdade. Todos tem formação em direito.
Em reunião, na quinta-feira, na sede do Clube da Aeronáutica, no centro do Rio, os presidentes dos clubes militares apoiaram a iniciativa do Clube Naval de criar uma comissão paralela.
Além do almirante Cabral, os presidentes do Clube Militar, general Renato Tibau da Costa e da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista assinaram uma nota em que relatam a visão dos militares sobre a comissão federal.
Na nota, afirmam que as famílias dos militares "são totalmente desamparadas e ignoradas pelo Estado, enquanto que às famílias dos antigos militantes tudo é concedido. Honrarias, pensões indenizações".
O tema será abordado novamente na reunião de junho, que acontecerá no Clube Militar. "Essa comissão criada pelo governo me parece ter uma tendência à esquerda, analisando os interesses dos militantes na época", disse o almirante Cabral.
A Comissão da Verdade do governo irá apurar as violações de direitos humanos de 1946 a 1988, mas com foco no regime militar (1964-1985). Da Folha de S.  Paulo deste sábado

IMPRENSA INTERNACIONAL VOLTA A ALERTAR SOBRE AMEAÇA DE AÇÕES DO TERROR ISLÂMICO NO BRASIL. VENEZUELA É O QG DOS TERRORISTAS.


Sábado, Maio 19, 2012


Hassan Narallah, o chefe da organização terrorista Hezbollah
As suspeitas se acumulam e oferecem cada vez mais certezas. Tudo indica que o Hezbollah e a Força Quds planejam realizar atentados contra alvos judeus e israelenses na América do Sul, segundo matéria do site argentino Infobae, acrescentando que os alvos mais prováveis são Brasil, Colômbia e Bolívia.
Além disso, o governo do caudilho Hugo Chávez na Venezuela, reconhecido aliado internacional do Irã, é considerado por muitos analistas como um verdadeiro refúgio e centro de operações para o Hezbollah e o Quds.
A partir das recentes prisões de militantes de ambas organizações e a desativaçao de sucessivas ações terroristas em diferentes países do mundo, as autoridades de segurança conseguiram obter dados sobre os seus planos futuros, segundo informaram o diário libanês Beirut Observer e analistas internacionais, como Guido Olimpio, do jornal italiano Corriere della Sera.
O Hezbollah é um organização terrorista libanesa e a Força Quds é uma equipe especial que conta com aproximadamente 15 mil militantes ativos em todo o mundo, dependente dos Guardiães da Revolução iraniana, que recebe ordens diretas do Ayatollah Khamenei, a autoridade máxima do Irã. Lutam pela expansão do islamismo radical em todo o mundo.
No início deste ano, agentes do Hezbollah e ativistas iranianos foram detidos em Bangkok, capital da Tailândia. Hassan Atris, um libanês da organização que tem sede em Beirute, tentava atacar  instituiçÕes israelenses quando o prenderam. Sua detenção permitiu que se identificasse Adam Rif, um agente chave da organização terrorista, cuja área de influência é a América do Sul.
O jornal Beirut Observer informou que os países sul-americanos vêm detectando há vários meses o ingresso no continente latino de pedssoas direta ou indiretamente vinculadas com as organizações islâmicas. A partir dos recentes acontecimentos ocorridos na Ásia, e das suspeitas que se acumulam, estaríam implementando todo tipo de medidias de segurança para prevenir ataques a entidades judaicas. Entre elas, o seguimento e o controle das atividades dos militantes que entraram nos últimos meses e dos grupos xiitas que já eram residentes na região. Clique AQUI para ler a reportagem completa - EN ESPAÑOL

Que venha a revolução


Ensino interativo online permite que alunos de todo o mundo façam cursos gratuitos


É COLUNISTA, ESCRITOR, GANHADOR DO PRÊMIO PULITZER, THOMAS L., FRIEDMAN, THE NEW YORK TIMES - O Estado de S.Paulo
Andrew Ng é professor assistente de ciências da computação em Stanford, e ele tem uma maneira bastante simpática de explicar como a nova empresa de ensino interativo online da qual ele é cofundador, a Coursera, espera revolucionar o ensino superior ao permitir que estudantes de todo o mundo assistam às aulas dele, recebam tarefas para fazer em casa, sejam avaliados, recebam um certificado de conclusão do curso e então usem isso para conseguir um emprego melhor ou a admissão numa faculdade melhor.
"Normalmente, costumo lecionar para 400 alunos", explicou Ng. Mas, no último semestre, ele deu aula para 100 mil num curso online de aprendizagem de máquina. "Antes, para chegar a tal número de alunos, eu teria de dar as aulas do meu curso normal de Stanford por 250 anos".
Bem-vindo à revolução no ensino das universidades. Grandes avanços ocorrem quando aquilo que se torna subitamente possível encontra-se com aquilo que é desesperadamente necessário. O custo da obtenção de um diploma superior tem aumentado mais rapidamente do que o do atendimento médico e, por isso, a necessidade de oferecer um ensino superior acessível e de qualidade tornou-se mais aguda do que nunca. Ao mesmo tempo, numa economia do conhecimento, a obtenção de um diploma do ensino superior é mais vital do que nunca. E, graças à disseminação da tecnologia de acesso sem fio à internet de alta velocidade, dos smartphones, do Facebook, da computação em nuvem e dos tablets, o mundo passou de conectado a hiperconectado em apenas sete anos. Por fim, uma geração que cresceu cercada por essas tecnologias sente-se cada vez mais à vontade para aprender e interagir com os professores por meio das plataformas online. A combinação de todos esses fatores resultou no nascimento da Coursera.org, lançada em 18 de abril, contando com o apoio de fundos de investimento do Vale do Silício, como informou meu colega John Markoff.
Faz anos que empresas particulares como a Phoenix oferecem diplomas online em troca de uma taxa. E instituições do ensino superior como o MIT e Stanford já oferecem aulas gratuitas online. A Coursera é o próximo passo: a construção de uma plataforma interativa que permitirá às melhores universidades do mundo oferecer não apenas uma ampla gama de aulas e cursos gratuitos na rede como também um sistema de exames, avaliações, ajuda mútua entre os estudantes e concessão de certificados de conclusão de cursos por menos de US$ 100. (Parece ser um ótimo negócio. O ensino normal na Universidade Stanford custa mais de US$ 40 mil por ano.) A Coursera está começando com 40 cursos online - da computação às ciências humanas - ministrados por professores de Stanford, Princeton, Michigan e a Universidade da Pensilvânia.
Plataforma. "As universidades produzem o conteúdo e são donas dele, e nós somos a plataforma que o hospeda e retransmite via streaming", explicou Daphne Koller, professora de ciências da computação em Stanford que fundou a Coursera em parceria com Ng depois de ver dezenas de milhares de estudantes seguindo as aulas de Stanford oferecidas gratuitamente por eles na rede. "Também vamos trabalhar com possíveis empregadores para levar aos estudantes - com o consentimento deles - oportunidades de emprego que sejam apropriadas para suas novas habilidades. Assim, uma empresa de biomedicina, por exemplo, que esteja em busca de alguém com habilidades nas áreas de programação e biologia computacional pode nos procurar para pedir o contato de estudantes que tenham apresentado bom desempenho nos nossos cursos. Trata-se de uma ótima oportunidade para empregadores e empregados - algo que permite a uma pessoa de ensino menos tradicional obter as credenciais que abrem as portas para oportunidades do tipo", disse Koller. O MIT, Harvard e empresas privadas como a Udacity estão criando plataformas semelhantes. Em questão de cinco anos, esta será uma indústria imensa.
Embora as aulas sejam em inglês, os estudantes têm formado grupos de estudo em seus países para ajudarem uns aos outros. O maior número de matrículas vem dos EUA, Grã-Bretanha, Rússia, Índia e Brasil. "Um estudante iraniano enviou-me um e-mail dizendo que tinha descoberto um modo de baixar os vídeos das aulas e os estava gravando em CDs, divulgando-os", disse Ng.
"Acabamos de ultrapassar a marca de um milhão de matrículas." Para tornar o aprendizado mais fácil, a Coursera divide as palestras em segmentos curtos e oferece questionários online, cujo resultado pode ser avaliado pelo próprio aluno, para ajudar na fixação de cada ideia. Tudo funciona com base na crença de que os estudantes vão honrar o compromisso feito, mas a empresa está construindo ferramentas para reduzir as trapaças.
Em cada curso, os estudantes publicam questões num fórum online. As perguntas são vistas por todos, que votam naquelas que deveriam receber mais atenção. "Assim, as perguntas mais úteis logo chegam ao topo da lista, enquanto as perguntas menos interessantes vão parar no fim dela", disse Ng. "Com 100 mil alunos, é possível registrar cada pergunta feita. Trata-se de uma imensa mina de dados." Além disso, se um aluno tiver uma pergunta a respeito da palestra do dia, embora seja manhã no Cairo e em Stanford ainda sejam 3 horas, não há problema. "Sempre há em algum lugar alguém disposto a responder sua pergunta" depois que ela é publicada, disse Ng.
Essas plataformas de ensino de alta qualidade podem permitir que universidades comunitárias americanas "invertam" suas salas de aula.
Ou seja, baixar as melhores aulas do mundo e deixar que seus professores se concentrem no trabalho direto com os estudantes. Quando pensamos na quantidade de problemas em todo o mundo que podem ser atribuídos à dificuldade no acesso ao ensino, vemos que esta é uma ótima notícia. Que tenha início a revolução. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

O fardo da felicidade



Pesquisas mostram como a busca incessante por ser feliz e a negação do sofrimento podem tornar as pessoas cada vez mais angustiadas

Rachel Costa
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CERTEZA 
Ser alegre o tempo todo nunca foi uma meta para Jeanne. 
Adepta do zenbudismo, para ela o fundamental
é manter o equilíbrio quando o humor oscila
Depois de devorar mais de 30 livros de autoajuda, a webdesigner Mariana Frioli, 28 anos, chegou a duas conclusões a respeito de sua busca por felicidade. A primeira, de que seria inviável ser feliz 100% do tempo, como sugeriam os títulos. A segunda, de que faltava à maioria das obras esse alerta. “Quase tudo que li apresentava um mundo perfeito, que não correspondia à realidade e onde parecia ser possível ser boa em tudo o que se faz e feliz o tempo todo”, diz. Depois dessa imersão, a webdesigner decidiu aposentar a coleção na estante e resolver por si só os momentos difíceis, sem fugir deles. Nem todos, porém, conseguem fazer como Mariana e tirar da cabeça a obsessão pelo bem estar incessante. “É emblemático esse dogma contemporâneo de que pessoas de sucesso são aquelas que, independentemente de suas perdas, dores e fracassos, se mantêm, aparentemente, inabaláveis e demonstrando que a felicidade é sua companheira permanente”, afirma a consultora Lêda Dutra, que estuda os valores humanísticos no mundo dos negócios. Como a pesquisadora, vários estudiosos engrossam o coro contra a tirania da felicidade. O xis da questão, bem definido pelo filósofo Pascal Bruckner, autor de “A Euforia Perpétua” (Difel), é que não ser feliz se tornou imoral hoje em dia. “Em vez de admitirmos que a felicidade é um evento indireto que nos chega ou não por meio de objetivos secundários, nós a consideramos um objetivo acessível imediatamente, por meio de receitas”, escreveu Bruckner.

Tanta ânsia por uma alegria constante e eterna tem seus efeitos colaterais. O gerente administrativo Celso Riquena, 44 anos, bem sabe disso. “Li livros de autoajuda para tentar ser mais feliz, mas, em um determinado momento, percebi que o efeito dessa busca era contrário: estava mais infeliz”, afirma. O sentimento que Riquena experimentou é comum entre quem elege a felicidade como objetivo de vida, diz a pesquisadora June Gruber, do departamento de psicologia da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Ela é coautora do artigo “O lado negro da felicidade?”, uma revisão científica sobre o tema, publicada no ano passado. “Pessoas que valorizam demais ser feliz podem acabar sendo menos felizes que as demais”, disse à ISTOÉ. “Isso porque, se geram muitas expectativas, acabam se desapontando quando não conseguem atingir a felicidade idealizada.” As mais suscetíveis são justamente as pessoas emocionalmente vulneráveis – com tendência à ansiedade ou à depressão. Nessas, pensar demais sobre o assunto pode acabar agravando o quadro mental, conforme apontou um estudo guiado pela psicóloga Tamlin Conner, da Universidade de Otago, na Nova Zelândia. Para chegar à conclusão, a cientista examinou 162 voluntários durante duas semanas. No período, eles deveriam reportar diariamente como estavam se sentindo. “Eles já estavam experimentando menos felicidade e a necessidade de reportar isso com frequência lhes reforçava o sentimento”, disse Conner à ISTOÉ.
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Outro lado cruel do fetiche por ser feliz é não conseguir enxergar as sutis nuances do que significa felicidade para cada um. A administradora Claudia Cerullo, 42 anos, é exemplo disso. Ela é cotidianamente contestada por sua decisão de viver sozinha. “Já ouvi várias vezes ‘coitadinha da Claudia, não tem namorado’”, diz. “Mas eu não quero me casar, sempre quis morar sozinha.” Some-se a essa perda da singularidade das formas de se viver a felicidade um sintoma ainda mais grave: a recusa ao sofrimento. “A dor não tem sentido nesse contexto em que é obrigatório ser feliz. Ela não é vista como oportunidade de se repensar o que se quer na vida”, diz o filósofo Paulo Vaz, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Encarar a dor pode parecer um caminho difícil, mas aprender a lidar com esse sentimento torna mais fácil encarar as oscilações de humor cotidianas. “Aprendi que, do mesmo modo como os momentos felizes passam, os ruins também acabam”, afirma a farmacêutica Jeanne Pilli, 46 anos. Adepta do zenbudismo, ela busca em algumas ferramentas, como a meditação, meios para enfrentar com mais serenidade as inevitáveis situações de angústia e sofrimento do dia a dia. “A tristeza faz parte da vida”, avalia Araceli Albino, coordenadora do Núcleo Brasileiro de Pesquisas Psicanalíticas e presidente do Sindicato dos Psicanalistas de São Paulo “Quem fica triste é porque foi afetado pelo amor, sentimento que humaniza o homem.” Parece que muita gente esqueceu disso.  
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MUDANÇA 
Depois de ler cerca de 30 livros para aprender a ser mais feliz,
Mariana descobriu que não existe fórmula mágica

Escravidão sem fim



Enquanto os deputados se recusam a votar a lei que pune o trabalho escravo, novos casos de abuso se repetem no País. O último envolve a rede Gregory de moda feminina

Natália Martino
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FLAGRA
Fiscais fecham uma das oficinas terceirizadas da 
Gregory: situação de trabalho degradante
Na semana passada, a Câmara dos Deputados mostrou que sua sintonia com a sociedade não está bem afinada. Pela segunda vez em menos de 15 dias, parlamentares de todas as matizes políticas adiaram a votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438, já aprovada pelo Senado. Trata-se da lei que prevê a expropriação de imóveis rurais e urbanos, cujos donos sejam flagrados usando trabalho escravo. Para procurar justificar os seguidos adiamentos, líderes de vários partidos dizem que a dificuldade está em definir o que é trabalho escravo. Um discurso que não encontra respaldo na realidade. O Ministério do Trabalho e Emprego tem regras muito claras que determinam como deve ser a relação entre empregadores e empregados. Ao fugirem do tema, os deputados parecem ignorar que, em pleno século XXI, ainda existe no Brasil situação de escravidão. E não são apenas casos isolados nos rincões do País. As fiscalizações do Ministério têm encontrado esse tipo de prática em grandes centros urbanos e a serviço de fortes grupos econômicos. Este mês, os fiscais encontraram 12 trabalhadores submetidos a condições semelhantes às da escravidão em São Paulo e em Itaquaquecetuba, no interior paulista. São bolivianos que produziam peças para a marca de roupas femininas Gregory, presente nos principais shopping centers do País.
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GRIFE
Roupas da rede feminina espalhadas pelo barracão: R$ 3 por peça
De acordo com o relatório da fiscalização da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em São Paulo (SRTE-SP), os 12 trabalhadores bolivianos eram mantidos em condições precárias de segurança e saúde, com ausência de pagamento justo e cerceamento de liberdade. Sem a aprovação da PEC, os responsáveis por casos como esse estão sujeitos ao pagamento de verbas trabalhistas e indenizações. Na esfera criminal, a pena é de dois a oito anos de prisão, o que em geral é substituído por doação de cesta básica ou prestação de serviço comunitário. A fiscalização que flagrou a Gregory se deparou, em barracões precários, com situações como a de uma imigrante amamentando seu filho de um mês e meio enquanto trabalhava. Em uma das oficinas, o armário de alimentos ficava trancado. Em outra, os trabalhadores precisavam de autorização para sair, que nem sempre era concedida. Em todos os casos, iluminação precária, cadeiras improvisadas e jornadas de trabalho de 12 horas.

De acordo com Andrea Duca, diretora de marketing da rede fundada em 1981, que possui 80 lojas em 21 Estados brasileiros, a empresa não tinha conhecimento prévio sobre a situação e não possui o controle sobre o que acontece dentro das oficinas dos seus fornecedores, que são terceirizadas. “A fiscalização fez uma associação indevida do nosso nome ao problema”, afirma. O relatório, porém, é incisivo ao afirmar que a empresa “é inteiramente responsável pela situação encontrada”. De acordo com o documento, as notas fiscais das oficinas eram emitidas em nome de um CNPJ artificial como estratégia para eximir a Gregory de responsabilidades pela forma como a produção era conduzida. Essa não é a primeira vez que a grife se vê envolvida em denúncias. Em 2011, durante investigação que flagrou trabalho escravo a serviço da Zara, também foram encontradas etiquetas da Gregory nas oficinas fechadas pela fiscalização.
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AÇÃO 
Artistas e líderes de movimentos sociais entregam manifesto 
em Brasília a favor da PEC do trabalho escravo
“A empresa define o que vai ser produzido e o preço que vai pagar: apenas R$ 3 por peça, a ser dividido entre os donos das oficinas e os trabalhadores. É ela que efetivamente lucra com a exploração, não os intermediários”, diz Luis Alexandre de Faria, auditor da SRTE-SP. Os fiscais agora aguardam que a Gregory assine um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para regularizar o trabalho dos seus fornecedores. A rede assegura que resolverá o problema com o fim das compras de material de fornecedores que terceirizam o trabalho. 

Os trabalhadores resgatados já receberam as verbas trabalhistas devidas, quase R$ 55 mil, mas ainda resta a incerteza sobre o futuro. “O Brasil tem que avançar muito no pós-resgate. Se a si­tuação de vulnerabilidade não acaba, o trabalhador é aliciado de novo”, diz Luiz Machado, coordenador do projeto de combate ao trabalho forçado no Brasil da Organização Internacional do Trabalho (OIT). “Temos que lembrar que o fato de a vida dessas pessoas ser precária não é argumento para que o trabalho seja uma continuidade dessa condição”, afirma Leonardo Sakamoto, coordenador-geral da Repórter Brasil, ONG que atua no combate ao trabalho escravo. 

Das áreas rurais, onde as denúncias costumam envolver tortura física e falta de acesso a água potável, vem as maiores críticas em relação à PEC. O adiamento da votação é encabeçado pela bancada ruralista no Legislativo. De acordo com o deputado Moreira Mendes (PSD- RO), um dos integrantes dessa bancada, falta uma definição do que é escravidão. “As denúncias costumam ser um exagero absoluto”, afirma o deputado. Atualmente, os fiscais seguem as normas do Ministério do Trabalho e Emprego e o artigo 149 do Código Penal, que criminaliza o cerceamento de liberdade, trabalho degradante e as jornadas exaustivas. “Trabalho escravo é aquele que coisifica a pessoa e tira dela a dignidade. Não é irregularidade trabalhista, é afronta aos direitos humanos”, diz Luiz Camargo, procurador-geral do trabalho. Foram esses argumentos que tomaram conta da Câmara dos Deputados no dia 8 de maio, quando a PEC deveria ser votada. A data havia sido escolhida por se tratar da semana de 13 de maio, data em que a Lei Áurea foi assinada há mais de um século. A PEC seria uma nova abolição da escravatura no Brasil. Mas não foi desta vez. Agora os deputados afirmam que voltarão a falar sobre o assunto na terça-feira 22.
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Não é por aí - por Míriam Leitão


Enviado por Míriam Leitão -
19.5.2012
 |
9h00m

COLUNA NO GLOBO

O PIB ficou estagnado no primeiro trimestre. É isso que mostraram os dados divulgados ontem pelo Banco Central. O governo vai agir e de novo pensa em medidas casuísticas e que beneficiem a indústria automobilística. A lei da oferta e da procura deveria valer para as montadoras. Se há carro demais no pátio, as empresas deveriam dar desconto, oferecer vantagens para atrair o consumidor, em vez de pedir socorro ao governo.
O Brasil não tem política industrial, tem política para a indústria automobilística. A cada engasgada da economia, os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento desenham medidas para ajudar as montadoras, e a presidente aprova. O que está sendo pensado agora é uma sucessão de erros. A Fazenda quer a redução do recolhimento compulsório ao Banco Central, para haver mais dinheiro para financiamento de automóveis; determinou que a Caixa e o Banco do Brasil facilitem os empréstimos; quer ampliar para mais de 60 meses as prestações para compra de carros. Vai conversar com os bancos para que eles ofereçam mais crédito.
O que está errado aí? Tudo! Recolhimento compulsório é para fazer política monetária. Quem deve decidir qual o volume de dinheiro que os bancos precisam manter no Banco Central é o Banco Central. É um regulador que ele sobe ou desce dependendo da necessidade de combater a inflação ou reativar a economia. Não pode ter como objetivo vender carro.
A carteira de financiamento de automóveis teve um aumento de mais de 100% na inadimplência. Saiu, no começo do ano passado, de 2,5% de atrasos com mais de 90 dias para 5,7%. Não é muito, mas o ritmo do crescimento assusta. É natural que os bancos — todos eles, inclusive os públicos — sejam mais seletivos na concessão dessa carteira até entender o que está acontecendo.
Cinco anos para comprar um automóvel é um prazo mais do que razoável. Incentivar o superendividamento das famílias por prazo longo demais apenas para esvaziar o pátio das montadoras é insensatez.
Banco do Brasil e Caixa não devem ser empurrados para aumentar a concessão de crédito. Devem fazê-lo se for o caso. A Fazenda tem que demonstrar que confia nos executivos aos quais delegou a administração dos dois bancos, ou então demiti-los. Mas o ministro da Fazenda não pode ser o executivo dos dois bancos. Só os administradores têm a visão global completa do que acontece nas instituições. A excessiva interferência já deu problemas.
No movimento de redução de juros, o governo acertou. Conversei com banqueiros privados que admitem que o spread estava alto demais. “Estávamos acomodados”, disse-me um. Hoje, todos estão reduzindo as taxas. A decisão do governo quebrou a inércia e a acomodação, mas é preciso muito cuidado para evitar os excessos dos bancos públicos que os levem a desequilíbrios que já tiveram no passado. As bondades feitas pelos bancos públicos por ordem do governo no período inflacionário exigiram grandes capitalizações da Caixa e do Banco do Brasil no governo Fernando Henrique. As instituições foram saneadas com o seu, o meu, o nosso dinheiro. A Caixa passará por nova limpeza de ativos por decisões tomadas recentemente.
A briga com os bancos é boa quando travada no campo técnico. Politizada e formatada para enfeitar palanques, vira um risco. Que o governo fique apenas na trincheira técnica, onde tem ido muito bem. Os altos spreads começaram a ser enfrentados no período Armínio Fraga, no Banco Central, quando o órgão começou a dar mais transparência às taxas, apostando que isso levaria à maior competição. Não deu o resultado desejado, ainda que a informação tenha ajudado o país a tomar mais consciência do problema.
O governo Lula, com o consignado e várias mudanças regulatórias na área do crédito imobiliário e na carteira de veículos, abriu o caminho para o aumento do crédito em relação ao PIB, que foi de 25% para 49%. Isso ajudou a começar a derrubar as taxas dos juros bancários. Mesmo assim, permaneceram altas demais. O governo Dilma, ao debater o tema abertamente e — aí sim — incentivar os bancos públicos a tomarem a dianteira na redução das taxas, criou um círculo virtuoso que já provocou frutos.
É fácil saber que o spread é alto demais, basta olhar as estatísticas. Há duas formas de medir o spread no Brasil — essa diferença entre o que os bancos pagam pelo capital que entregamos a eles e o que cobram quando pedimos dinheiro a eles. A primeira marca 28% e é divulgada na Nota de Política Monetária, mensalmente, pelo Banco Central. É ela que vale, porque abrange o crédito livre, que são as transações definidas livremente pelos bancos com pessoas físicas e jurídicas. Não entram na conta, por exemplo, o crédito imobiliário, que faz parte do Sistema Financeiro Habitacional, ou o crédito concedido pelo BNDES. Esse tipo de dinheiro é direcionado, tem taxa de juros pré-definidas. No caso do BNDES, o spread é negativo porque o banco empresta a uma taxa menor do que capta. A segunda metodologia, que marca 10%, é apenas regulatória, abrange todo o sistema financeiro, incluindo o crédito direcionado. É divulgada pelo BC de seis em seis meses no Relatório de Estabilidade Financeira, com o objetivo principal de medir a qualidade do sistema financeiro.
O país está crescendo pouco e o crédito é uma das ferramentas para reativar a economia. Mas ela tem que ser usada com precisão. Do contrário, cria problemas no futuro.

Pinherinho: A vida depois da desocupação



Quatro meses depois da desastrada operação da PM, as famílias desalojadas ainda não conseguiram retomar a rotina. Mobílias destruídas, crianças sem pais e sem escola formam o triste mosaico de sonhos despedaçados

Rachel Costa
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“A gente sabe que casa para todo mundo o governo não tem condição de dar. Desse então 
o terreno e a gente construía a casa”

Tanice Rosemere dos Santos, 44 anos, salgadeira, vivia na rua 2, 
bloco C, casa 41 de Pinheirinho desde 2003 e hoje mora no Rio Comprido
Para entrar na casa de Tanice Rosemere dos Santos, 44 anos, no bairro de Rio Comprido, periferia de São José dos Campos, interior de São Paulo, não é preciso bater. No barracão onde ela mora com a filha Isabelle, de 1 ano e 2 meses, uma colcha de xadrez azul e verde faz as vezes de porta. Rompido o portão improvisado, chega-se ao primeiro cômodo, um espaço de não mais de 10 m², misto de sala e cozinha, com fogão antigo, botijão de gás, geladeira, máquina de lavar quebrada, um sofá velho de dois lugares, uma cadeira e uma televisão de 20 polegadas. Logo após há o banheiro e o único quarto da casa, um ambiente escuro, sem janelas. A cama de casal divide espaço com o berço de Isabelle e uma dúzia de caixas usadas como armário, abrigando o que sobrou da residência anterior, bem mais espaçosa, com dois quartos, sala, banheiro, cozinha e quintal. Não foi tempestade nem avalanche o que dizimou o lar de Tanice. Ela era uma das cerca de seis mil pessoas que viviam na ocupação de Pinheirinho, também em São José dos Campos, e tiveram de abandonar suas casas às pressas no dia 22 de janeiro, um domingo, durante o processo de reintegração de posse do terreno (leia quadro acima) feito por dois mil homens armados da Polícia Militar. Três dias depois da retirada, tratores da prefeitura passaram pelo local e destruíram tudo. Desde as casas, incluindo parte do que havia dentro delas, até as hortas caseiras dos moradores. Hoje a área de 1,3 milhão de metros quadrados se resume a um monte de entulho e as 1,7 mil famílias que viviam no local não conseguiram, assim como Tanice, reconstruir suas vidas em uma moradia digna.

A operação de retirada das famílias de Pinheirinho tal qual foi feita tem sido muito criticada. “Há uma equipe de juristas trabalhando para finalizar o texto da denúncia que será encaminhado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos”, fala o defensor público Jairo Salvador, que acompanha o caso. Quando a polícia bateu à porta de Tanice, por exemplo, só houve tempo para ela pegar a pasta com documentos, um punhado de roupas para Isabelle, o carrinho e a banheira da bebê e a cachorra vira-lata Kelly. “Ainda levei muito. Teve gente que não conseguiu tirar nem os documentos”, diz. Desde então, ela iniciou uma romaria em busca de um novo lar. Já passou por abrigo, cortiço e agora está em um barracão numa área desocupada pela Defesa Civil em 2011, após um deslizamento. Ali estão algumas das famílias de Pinheirinho, o que vem sendo investigado pela Defensoria Pública. Há uma denúncia de que a própria prefeitura teria levado cerca de 20 famílias para essa área de risco. O poder público nega. Em meio à polêmica, resta a incerteza para quem está lá, pois há uma liminar pedindo a reintegração do local.
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RISCO 
Sem ter para onde ir, vários ex-moradores de Pinheirinho estão em
área desapropriada pela Defesa Civil após deslizamento em 2011
Refazer a casa é um exercício diário de ignorar as perdas e lutar para ter de volta o que foi perdido. Todos os meses, o boleto das prestações a vencer lembra Tanice do guarda-roupas, da cômoda e da máquina de lavar que ela havia acabado de comprar e ainda lhe custam R$ 230 mensais. Ela já não tem mais nenhum dos bens, mas deve ainda oito parcelas à loja. Além deles, se foram as duas batedeiras profissionais, os bicos de confeitar, as formas, o liquidificador e os vasilhames que usava para cozinhar. Tanice é salgadeira e doceira profissional e vivia da renda dos seus quitutes. Sem o equipamento, improvisa tecendo encomendas de crochê e com o auxílio-moradia de R$ 500 – pago a 1.630 famílias de Pinheirinho, de acordo com a Prefeitura. Para trabalhar fora, precisaria deixar Isabelle em uma creche, mas, mesmo com o papel assinado pela assistente social, ela não consegue vaga. Desde que perdeu a casa, Tanice gasta seus dias tentando resolver problemas. Do lar em Pinheirinho, restou só um cartão com o número 633, etiqueta dada pela polícia durante a desocupação e que lhe valeria o direito de recuperar todos os bens que estavam dentro do imóvel, o que nunca aconteceu. “Pus essa casa de pé com o dinheiro do meu trabalho. A gente sabe que casa para todo mundo o governo não tem condição de dar. Desse então o terreno e a gente construía.”

Não só bens materiais foram perdidos com a remoção. O convívio social também foi reduzido a frangalhos. O êxodo forçado fez os moradores se espalharem por mais de uma dezena de bairros de São José dos Campos. “Quando falamos em direito à moradia, não estamos dizendo apenas da casa. Ela é uma espécie de porta de entrada para os outros direitos, como educação, saúde, trabalho, privacidade”, afirma Raquel Rolnik, relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o direito à moradia adequada. Ouvir os relatos dos retirados de Pinheirinho é atestar que nada disso foi levado em conta durante a operação policial. Há 620 processos de ex-moradores correndo na Justiça – reclamando desde a perda do mobiliário, até a morte de animais de estimação e denúncias de violência policial. “Eles não podiam ter feito a remoção de uma hora para a outra”, critica Raquel, que, como relatora da ONU, enviou uma carta ao governo brasileiro pedindo ao poder público federal que se posicione sobre o assunto.
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A história da família de Tanice ilustra bem o impacto da reintegração de posse na vida dos ex-moradores. Enquanto viveu em Pinheirinho, ela e a irmã Tânia Rosilene Martins, 48 anos, eram vizinhas. Agora cada uma está em um canto da periferia de São José dos Campos, distantes 20 quilômetros. “Ligo para a Tanice todos os dias”, diz Tânia. Além da irmã, Tânia teve de se separar da filha do meio, Gisele, 26 anos, grávida e que foi morar com a avó paterna. Restou só a filha mais nova, Tainara, de 11 anos. As duas vivem em uma espécie de cortiço onde pagam R$ 400 de aluguel mais R$ 40 por pessoa para custear água e luz. O valor dá direito a menos de 30 m² de um espaço precário. “Tem goteiras na sala e no quarto. Quando a gente liga o chuveiro, cai a luz”, afirma Tânia. 

A grande alegria de Tânia atualmente é ter novamente Elisângela Silva, 39 anos, morando ao seu lado. “Pulei quando a vi chegando aqui”, diz, relembrando o dia em que se deparou com a ex-vizinha de porta subindo as escadas do cortiço. A mesma reação teve Iane, filha mais velha de Elisângela e amiga de Tainara. “Estava com medo de chegar aqui e não ter ninguém da minha idade”, conta ela, que tem 11 anos, assim como a filha de Tânia. Foi uma dor a menos reencontrar a amiga de Pinheirinho. “Na escola nova já tinha sido muito difícil fazer amizades”, diz a menina, que teve de ser transferida. Iane foi uma das crianças que presenciaram a desocupação. Ela se lembra do policial mandando a família sair e da angústia de não conseguir fazer caber seus pertences na sacolinha em que pôs tudo o que pôde nos 15 minutos de prazo para desocupar a casa onde viveu por cinco anos. Sobre as coisas que perdeu e sente falta, é singela: sente saudade das amigas que nunca mais viu e queria de volta o diploma de participação nas oficinas do Proerd, programa de resistência às drogas da Polícia Militar.
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Mesmo após quatro meses da retirada das famílias de Pinheirinho, muitos moradores ainda batalham para ter de volta os bens recolhidos pela prefeitura antes da passagem dos tratores. Uma delas é a costureira Sônia Maria da Silva, 43 anos. Depois da saída forçada, ela voltou por três dias consecutivos à área para tentar pegar sua mobília. Não conseguiu e recebeu a informação de que suas coisas seriam enviadas para um galpão, à beira da rodovia Presidente Dutra. Desde então, realiza com frequência um cansativo périplo até o local na esperança de reaver seus bens. Nas mãos, leva sempre o cartão em que se vê impresso “718”, número colocado pelos policias na sua casa. “Já paguei carreto duas vezes para pegar minhas coisas, R$ 100 cada, e até agora não consegui tirar nada”, afirma Sônia, que desistiu de chamar o caminhão e agora vai sozinha ao galpão. Lá, a cena se repete semanalmente: ninguém vem atendê-la. Enquanto não consegue refazer o lar, a costureira deixa a filha Giselia, 8 anos, e a sobrinha Raíssa, 12, com a irmã, em São Paulo. “Minha filha chora até hoje e pede para voltar. Na cabeça dela, a casa ainda existe.” Mas Pinheirinho não passa de um retrato desbotado estampado nas camisas de protesto de seus ex-moradores.

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Falando dos nordestinos - NIVALDO CORDEIRO


A sentença proferida pela Justiça, condenando Mayara Petruso por ter manifestado repulsa aos nordestinos, por terem votado em Lula, exige uma meditação. A simplória Mayara nem percebeu que quem elegeu Lula foi a massa dos votos paulista, inumeráveis. Ela é paulista e não é fácil ser nordestino em São Paulo, menos hoje que no passado, penso eu. Eu não votei em Lula e o repudio não por ser nordestino, mas por ser revolucionário populista, pondo em perigo as próprias instituições democráticas, a economia de mercado e a higiene política do Brasil, coisas sobre as quais a Mayara nem pensou. Nem por instinto. Apenas não gosta de nordestinos.
Preconceito antigo. Que é ser nordestino? Nada. E tudo. Não é raça. Nem religião. É tudo porque há um traço característico do nordestino migrante: a miscigenação. Como a cantou Ary Barroso na linda Aquarela do Brasil. Música incompleta, porque a nossa miscigenação é também mameluca e cafuza. Mayara é portadora de preconceito antigo contra os “brasileiros”, que assim eram chamados os mestiços no século XIX, em oposição aos brancos colonizadores, que se consideravam europeus. E atribuíam aos mestiços as más qualidades de sua sombra psíquica. Mayara deu o azar de viver em tempos outros e de escrever no Twitter, gerando contra si prova inconteste do seu racismo.
Ô abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do cerrado
Tira a mãe índia do esquecimento também, poderíamos dizer. O que é certo. O sangue do bugre corre nas veias de cada um de nós.
O racismo contra os mestiços está presente em toda a parte, inclusive em nossa literatura mais vistosa. Sérgio Buarque de Holanda, ao falar do nosso homem cordial, outra coisa não fez que não gravar, em letras góticas, essa visão negativa do mestiço. Euclides da Cunha, sob o espanto da resistência em Canudos, também o fez. Coube a Guimarães Rosa escrever em letras garrafais a língua dos mestiços, agora elevada à condição universal por sua arte literária. Mas nem ele, em seus primeiros exercícios literários – no já monumental Sagarana – escapou de chapar esse mestiço com as cores fortes do preconceito. Seu Salatiel e sua Jiní, deliciosos personagens moldados desde as páginas do Raízes do Brasil e do Casa Grande e Senzala, são expressão dessa visão negativa do mestiço.
Guimarães Rosa redimiu-se pela eternidade ao criar o Riobaldo, esse herói universal com cara de sertanejo, mestiço, matuto. Heroico.
Gilberto Freyre terá sido o primeiro a ir além de todos e dizer que o mestiço, além de dar cor à nacionalidade, podia ser visto como um ser humano igual aos demais. Se o mestiço singulariza nossa gente, não é mais e nem menos que qualquer outra pessoa, portador de qualidades e defeitos. Ele escreveu quando o Brasil não era nada e todo nosso atraso era tido como obra da mestiçagem, um grande mérito do pernambucano. Depois de ocupar o lugar de uma das dez maiores economias do planeta, o Brasil materializa seu destino manifesto de grande país mestiço. O mesmo matuto construiu a prosperidade e superou o atraso.
O racismo é algo atávico porque se torna uma explicação simples e identifica a suposta causa imediata de todas as mazelas. É a ferramenta dos estúpidos.
De tanto tempo em São Paulo por vezes eu sou confundido com um da terra. E sou o eventual confidente de preconceitos, ditos a boca pequena, de paulista para paulista. Aí o susto: faço pior que o juiz da sentença de Mayara, sou o juiz e o vingador. Alguns casos hilários, outros de franco pugilato. Divirto-me, mas sou implacável. Ser conivente com o preconceito contra os nordestinos é ser conivente com o preconceito contra os brasileiros enquanto tal.
Brasil, meu Brasil Brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
Ô Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingar
Ô Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor

Vaccarezza mostrou que no peito de assassinos da verdade também bate um coração: ‘Você é nosso e nós somos teu’



A mensagem enviada por Cândido Vaccarezza a Sérgio Cabral, interceptada pelo SBT, é sobretudo um caso de polícia: o deputado federal do PT promete ao parceiro do PMDB que Fernando Cavendish não será interpelado na CPI do Cachoeira sobre as relações mais que perigosas entre a Delta e o governador do Rio. A promessa foi cumprida na mesma quinta-feira (com a ajuda do PSDB, interessado em salvar a pele de Marconi Perillo). Cabral pode dormir tranquilo e desfrutar sem sobressaltos das noitadas em Paris. A Turma do Guardanapo escapou de mais uma.
A prova material do crime não se limita a reiterar que o parlamentar paulista trata a pontapés os valores morais, as normas éticas, os bons costumes e o Código Penal. Como registra o comentário de 1 minutopara o site de VEJA, o recado cafajeste também desmascara um impiedoso inimigo da língua portuguesa. O sumiço dos dois pontos entrepreocupe e você, por exemplo, denuncia o torturador da gramática. E a amputação do s na última palavra do “nós somos teu” avisa que Vaccarezza juntou-se ao chefe Lula na guerra de extermínio movida contra o plural.
Não é pouca coisa. E não é tudo. A menção ao PMDB revela que o acasalamento do PT com o maior partido da base alugada atravessa outra zona de turbulência. Em contrapartida, o tom do recado confirma que a seita já não considera obrigatório o casamento consanguíneo. Até a descoberta do mensalão, os devotos só podiam manter relacionamentos afetivos com gente do rebanho. Transferida do templo das vestais de araque para o bordel da base alugada, a companheirada foi liberada para cair na farra com qualquer parceiro.
Antes do escândalo do mensalão, Vaccarezza não escaparia da expulsão sumária por ter cometido dois crimes hediondos: adultério interpartidário e violação do primeiro mandamento da seita, enunciado de meia em meia hora por José Dirceu: “O PT não róba e não deixa robá”. Agora rouba e deixa roubar. Defeito virou virtude. Não existe pecado do lado de baixo do Equador. Só é feio perder eleição. E bandidos de estimação não podem ser sequer convidados a explicar-se em CPIs.
Nesta sexta-feira, Vaccarezza nem ficou ruborizada com a descoberta de que no peito da bandidagem também bate um coração. Tranquilo como todos os condenados à impunidade, acariciou o PMDB com uma imaginosa reinterpretação da mensagem. “Vai azedar, podia azedar… ali foi um momento de irritação meu”, fantasiou. E se negou a discutir a relação com Cabral. “Eu não quero declarar. Isso é uma correspondência privada. Eu não vou contribuir para mostrar a outra parte da conversa. É uma correspondência privada entre duas pessoas”.
“Bonito, o amor”, resumiria o grande Zózimo Barroso do Amaral na legenda sob a foto da dupla. Os velhos jornais sensacionalistas repetiriam a manchete politicamente incorretíssima: PACTO DE MORTE ENTRE ANORMAIS. Como o Brasil já não se surpreende com nada, Vaccarezza foi castigado com um sic depois teu. E sentiu-se à vontade para celebrar o assassinato da CPI com outro afago no melhor amigo do parceiro. “Aquela foto foi editada, a dos lenços na cabeça”, mentiu o comparsa de Fernando Cavendish. “Aparece uma mão que ninguém sabe de quem é. Eu sei o que tem nas fotos inteiras, mas não vou falar também”.
Vaccarezza é de Cabral, que é de Cavendish, que é da Turma do Guardanapo, que é a cara do Brasil que perdeu a vergonha. Merece um convite para a próxima noitada em Paris. Se ainda não tiver recebido a carteirinha de sócio,  entra como acompanhante.