quinta-feira, 12 de julho de 2012

93% dos recursos da Justiça Trabalhista são para pagar salários de magistrados e servidores



Roberto Monteiro Pinho
Nenhuma nação do planeta, com exceção do Brasil, dispõe de tamanho complexo para tratar das relações de trabalho, composto do Ministério do Trabalho, Ministério Público do Trabalho e Justiça do Trabalho.
Para dar suporte a este trio estatal, são necessárias, centenas de Delegacias do Trabalho, seccionais do Ministério Público, 24 tribunais e 1,6 mil varas trabalhistas, agregando ainda outros milhares de varas estaduais, que suprem a lamentável ausência da JT em 4,6 mil cidades brasileiras.
O custo anual dessa justiça é de R$ 9,7 bilhões, e pode alcançar este ano R$ 14 bilhões, mas deixa na folha de pagamento dos servidores e juízes 93% desse total, um absurdo denunciado por esta coluna e que jamais foi contestado.
Da mesma forma que detectamos a deformidade material da Justiça Trabalhista, enfrentamos a realidade: decorridos quase dez anos de governo do PT, a reforma trabalhista foi empurrada ano a ano, sem que os principais temas fossem resolvidos. Dois deles: a redução da jornada de trabalho de 44 horas, para 40 horas semanais e a inclusão social dos 65 milhões de informais. Mas quem se interessa?

O cardápio do estadista



Percival Puggina
Vamos ver se consigo. É muito difícil que uma dissertação sobre política não seja lida sem que os leitores se instalem, provisoriamente ao menos, nas respectivas trincheiras. O que hoje trago para este espaço, no entanto, é uma reflexão sobre modos de ver a política que independem de devoções governistas ou oposicionistas e de alinhamentos ideológicos por tal ou qual banda. Estou fazendo uma aposta em que conseguirei ser entendido na perspectiva que proponho.
Vamos lá. Todo governante, sentado na cadeira das decisões, se defronta com esta questão: onde gastar os escassos recursos de que dispõe? Abrem-se, de hábito, dois caminhos. Num deles, os recursos podem ser gastos na conservação do estoque de bens públicos disponível, no aumento da oferta de serviços com ampliação dos empregos do setor, nas despesas de custeio e na distribuição de favores. No outro, priorizam-se os investimentos como forma de ampliar, através deles, as perspectivas do futuro.
O tema é relevante e se expressa na opção entre a possibilidade de governar mais para o presente e menos para o futuro ou de governar mais para o futuro e menos para o presente. Numa analogia bem singela, seria escolher entre comer feijão com arroz hoje ou preparar uma feijoada para amanhã.
A experiência política mostra que o feijão com arroz é eleitoralmente mais bem sucedido que a feijoada, embora a feijoada fique na memória e entre para a história. Há muitos anos, muitos anos mesmo, a feijoada foi parar num canto remoto do cardápio nacional – e no Rio Grande do Sul não é diferente – graças a uma taxa de investimento incapaz de providenciar os mais modestos ingredientes de uma feijoada que mereça essa designação. As propagandas oficiais podem sobrevalorizar o que é investido, mas não passam disso mesmo: propaganda oficial. Aponto para a falência da educação no país e não preciso dizer mais nada para provar o que digo.
É na bandeja do dilema aqui exposto que o prato da oposição é servido. Se o governante optar pela feijoada, a oposição reclamará da falta do feijão com arroz; se ele escolher o feijão com arroz, a oposição cobrará a feijoada. E não há como escapar desse conflito, a menos que – numa situação absolutamente ilusória e imprudente – se proceda como se existissem recursos para fazer bem as duas coisas. É a usina do endividamento, da insegurança e do descrédito.
Não é por outra razão que a política deve ser confiada aos estadistas. Quem vota em qualquer um por razões menores deve, mesmo, ser governado por pigmeus. Para cuidar apenas do custeio, um gerente serve; para decidir sobre investimentos, precisa-se de um planejador; para escolher entre o bem e o mal basta ter uma consciência bem formada. Mas para priorizar despesas, escolher o mal menor (porque o bem nem sempre está disponível ou acessível), fazer na hora certa a opção correta entre custeio e despesa, se requer um estadista.
E nós só os teremos quando os partidos compreenderem que eleição é um episódio do processo democrático. A eleição passa mas a política permanece. E a política só corresponderá às expectativas sociais quando os partidos se preocuparem com formar (e os eleitores com eleger) estadistas. Eles existem e estão por aí, cuidando de outras coisas, porque a política não lhes dá espaço. Enquanto isso, ora falta feijão, ora falta arroz e a feijoada virou um sonho.

Está mais do que na hora de acabar com a figura do suplente de senador


quinta-feira, 12 de julho de 2012 | 19:17


Ricciotti Pianna
Quem é o suplente de senador? Geralmente é aquele figura que bancou financeiramente a campanha do parlamentar e quer algo em troca.
O que tem a ganhar o suplente de senador? Geralmente alguns meses de mandato em substituição ao titular durante o longo período de mandato parlamentar (oito anos), ou até o mandato inteiro, quando o senador é nomeado ministro ou vence eleição de presidente, governador ou senador. E ganha tambem prestígio.
Minas perdeu e muito com esta nefasta figura. Hélio Costa, senador eleito, assumiu o Ministério das Comunicações de Lula. Seu suplente, Wellington Salgado, estranha figura com estranha e exótica cabeleira, dono de Universidade Salgado Oliveira, assumiu o mandato. Não tinha ligações com Minas, não fazia política em Minas e nada fez por Minas. Cuidou apenas de seus interesses.
Na atual Legislatura, Eliseu Resende faleceu e no seu lugar assumiu o suplente Clésio Andrade.
Itamar Franco faleceu e ironia, no seu lugar assumiu um indivíduo autodenominado Perrella embora não seja na verdade da familia Perrela. Falso até no nome. A familia está sendo denunciada em Minas por superfaturamento e licitações no mínimo suspeitas em merenda escolar e na alimentação de presídios. O Ministério Público está correndo atrás.
Em ambos os casos com tais suplentes perdeu Minas. Perdeu muito. Os suplentes não honram, não têm a grandeza e nem chegam perto dos senadores aos quais substituiram. Perdeu Minas.
Perdeu muito. Esta figura de suplente de senador precisa acabar, sumir, desaparecer. Assumem o poder sem ter nenhum voto!
Os políticos eleitos e com mandato, ao assumirem cargos no Poder Executivo deveriam obrigatoriamente ter de renunciar aos seus mandatos no Legislativo para assumirem os novos cargos, como ocorre nos EUA e outros países, sendo a secretária Hillary Clinton um exemplo dessa obrigatoriedade da renúncia. As vagas em aberto seriam preenchidas por suplented que participaram de eleição e que tenham votos. Ou então que haja nova eleição.
Seria melhor para Minas. Seria melhor para o Brasil.

Blatter, outro ladrão da Fifa, alega que nos anos 90 suborno não era crime na lei suíça


quinta-feira, 12 de julho de 2012 | 19:45


Jamil Chade – (Estadão)
GENEBRA – Pressionado, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, confirmou que ele está citado nos documentos do Tribunal de Zug que, na quarta-feira, revelou o escândalo do pagamento de propinas para João Havelange e Ricardo Teixeira. Pelos documentos, fica claro que Blatter sabia de tudo e ainda defendeu na corte os brasileiros. Nesta quinta, em declaração ao site oficial da entidade, o cartola suíço se defendeu, alegando que nos anos 1990 o pagamento de subornos não era um crime na lei suíça e que, portanto, não tinha o que denunciar.
Blatter dá sinais de que não vai reabrir o passado - Guido Montani/EFE - 23/4/2012
“Sabendo do que?”, questionou ao ser indagado se ele sabia do verdadeiro esquema de corrupção na entidade. Nos documentos, a corte apenas fala de um indivíduo marcado como P1. Mas diante da pressão, Blatter decidiu reconhecer que a referência no documento é sobre ele mesmo. “Sim, sou eu”.
Segundo ele, a decisão de manter seu nome de forma anônima no documento não foi dele, mas da própria corte, que decidiu que pessoas que não estava sendo acusadas teriam sua privacidade protegida. Blatter defende a ideia de que todo o documento fosse publicado, sem tarjas ou letras substituindo nomes, como no caso da empresas ligadas a Teixeira ou os nomes das redes de TV que deram dinheiro aos cartolas, inclusive no Brasil.
Blatter não falou com a imprensa e apenas respondeu perguntas feitas por sua própria assessoria de imprensa, em uma mensagem controlada. “O senhor supostamente sabia (do pagamento de propinas)”, questionou o site da Fifa. “Saber o que? Que comissão eram pagas? Naquela época, tais pagamentos podiam ser deduzidos até mesmo de impostos como gastos de negócios”, disse. “Hoje, seriam punidas pelas lei. Não se pode julgar o passado com base nos padrões de hoje”, indicou. “Caso contrário, acabaria como justiça moral. Eu não poderia saber de uma ofensa que na época não era ofensa”, se defendeu.
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HAVELANGE, PRESIDENTE DE HONRA
Blatter dá todos os sinais de que não vai reabrir o passado. Segundo ele, a comissão de ética da Fifa apenas irá garantir que o mesmo não se repita a partir de agora. Sobre o futuro de Havelange como presidente de honra da entidade, o dirigente insiste que ele não tem poderes para decidir o que acontecerá com o brasileiro e que apenas o Congresso da Fifa pode tomar uma decisão, em 2013. “O Congresso nomeou como presidente honorário. Só o Congresso pode decidir o seu futuro”, disse.

PARA A FIFA, SOMOS TODOS CORRUPTOS


Jamil Chade

Eu, você, minha avó e mesmo um recem formado cheio de sonhos ainda. Para a Fifa, não há diferença. Somos todos corruptos e equivalentes a “Teixeiras” e “Havelanges”.
Hoje, o Tribunal da cidade suíça de Zug publicou seu processo contra os cartolas brasileiros. R$ 45 milhões em subornos passaram por suas contas em oito anos. Mas o que mais surpreende no documento não são os valores ou a constatação da obviedade da corrupção que envolvia Havelange em seu reinado.
Em um dos trechos, o tribunal relata como os advogados da Fifa tentavam convencer os juizes em uma audiência de que não viam problemas com a atitude de Teixeira e Havelange e alegavam que a proposta da Justiça de que os cartolas devolvessem US$ 2,5 milhões para os cofres da organização seria impossível de ser implementada. Entre os vários motivos para não pedir o dinheiro de volta, os advogados da Fifa apresentaram um argumento surpreendente: o de que a “maioria da população” de países da América do Sul e África tem nos subornos e propinas parte de sua renda “normal”
Cito o trecho completo do argumento dos advogados da Fifa para não ficar dúvida: “Os representantes legais da Fifa são da opinião ainda de que implementar a devolução do dinheiro seria quase impossivel. Eles justificam isso, inter alia, com o argumento de que uma queixa da Fifa na América do Sul ou África dificilmente seria aplicada, já que pagamentos de subornos pertencem ao salário recorrente da maioria da população”.
Ou seja, Teixeira não devolveria o dinheiro porque, em nossa suposta “cultura”, todos temos parte da renda completada por subornos.
Não vamos confundir as coisas. A corrupção existe e é endêmica em nossa região e no Brasil, assim como na África. Mas também existe na civilizada Suíça, na gigante Siemens da Alemanha ou nos EUA.
O que une a muitos hoje em nossa região não é o fato de que recebemos um pedaço de nosso salário em forma de subornos, como insinua a Fifa. O que nos une é hoje a indignação diante dessa realidade e o fato de estarmos exaustos de ver dinheiro público enriquecendo certas pessoas.
Querer agora justificar a dificuldade em receber o dinheiro de volta alegando que somos todos assim não é apenas surpreendente como argumento legal, mas uma ousadia que o tribunal simplesmente não aceitou e chegou a ironizar. A entidade sempre soube da corrupção e mesmo Joseph Blatter era o braço direito de Havelange. E a única atitude que tomou foi a de abafar os casos cada vez que surgiam.
Quando Jerome Valcke sugeriu que o Brasil recebesse um “chute no traseiro” pelos atrasos na Copa, ele tinha razão no conteúdo, mas não nas palavras usadas. Um vice-presidente do COI chegou a me dizer que a Fifa havia sido “racista” ao fazer o comentário do “chute no traseiro”, adotando um ar de superioridade. Na época, achei que ele exagerava e que não havia lugar para racismo escancarado assim. Mas lendo agora o comentário dos advogados diante de um tribunal, começo a pensar que ele poderia ter razão.

HUMOR A Charge de Néo Correia





Léguas a percorrer- Dora Kramer


12 de julho de 2012 | 3h 06



Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
A cassação do mandato de Demóstenes Torres obviamente não piora, mas também não melhora a imagem do Senado que encerrou a carreira política de um de seus pares sem, contudo, quitar a imensa dívida que acumula com a sociedade.
Em pé, de braços cruzados, acompanhando a sessão com um quase imperceptível sorriso no rosto, Renan Calheiros era a materialização de uma evidência: Demóstenes não caiu em decorrência do rigor ético dos senadores, mas por um conjunto de circunstâncias para ele adversas.
Se o critério predominante fosse o zelo ao decoro parlamentar, Calheiros não teria assistido à cena em posição tão privilegiada.
Assistiu porque foi absolvido a despeito de ter tido contas particulares (a pensão da filha) pagas por um lobista de empreiteira, de ter mentido apresentando a seus pares documentos falsos na hora da defesa.
Descontados os detalhes, na essência comportamento tão indecoroso quanto o de Demóstenes, cuja situação se diferenciou basicamente por dois fatores: ausência da rede de proteção - no caso de Renan extensiva do Palácio do Planalto à sustentação de um partido de peso imenso (PMDB) passando pelo receio reverencial de senadores intimidados - e a contradição entre o personagem que encarnava e as ações ocultas que executava.
Ativos importantes com os quais não contou o agora ex-senador. Disso, aliás, deu notícia em seu pronunciamento final recheado de sofismas. Numa desassombrada conversão à lei não escrita da boa convivência na Casa assumiu o que na visão dele foi seu "único erro".
Qual? Ser "intolerante" com os demais, perceber que não vale a pena "buscar a fama" em cima do defeito alheio. Pediu perdão aos que "levianamente" ofendeu e a todos aconselhou: "Não entrem por esse caminho".
Como legado do processo deixa uma lição. A austeridade, ainda que estudada e presumida, não compensa.
Certamente não foi essa a intenção, mas quando se viu perdido por um Demóstenes Torres perdeu-se por mil, confessando que seu rigor ético era mesmo artificial, que almejava com ele notoriedade e que deveria ter-se preocupado menos com as causas que defendeu ao encarnar doutor Jekyll e mais com a tessitura dos laços de amizade que garantiriam proteção à sua face mister Hyde.
Foi-se Demóstenes, mas ficou o Senado às voltas com seu passivo. Suas excelências têm desde já uma chance de escolher se o aumentam ou o reduzem na decisão sobre o que fazer com o suplente do senador cassado.
Se valer o critério aplicado ao suplente de Joaquim Roriz, Gim Argelo, Wilder Pedro de Morais será recebido de braços abertos, não obstante seja acusado de ocultação de patrimônio à Justiça Eleitoral e tenha relações notórias com Carlos vulgo Cachoeira.
Calendas. Se já era difícil a Câmara dar continuidade ao trabalho do Senado que aprovou o fim do voto secreto, a cassação de Demóstenes Torres torna a hipótese ainda mais remota.
Saciados os apetites, arrefecerão as pressões e prevalecerá a alegação de que o voto sigiloso, afinal, não foi obstáculo para a cassação.
Lacuna. Lula, CUT, UNE e os demais sócios da versão de que em 2005 não houve um escândalo que revelou a existência de um esquema de cooptação de partidos e desvio de dinheiro público, mas um golpe "das elites" para derrubar o então presidente, todos incorrem em falha grave de roteiro.
Se não houve fatos, por que não denunciaram a conspiração? Lula, por exemplo, pediu desculpas. Isso antes de ir à televisão propagar a história de que o PT fez o "que todo mundo faz" e de usar a autoridade presidencial para defender o crime eleitoral como atividade corriqueira perfeitamente aceitável.
Daí a extemporaneidade das ameaças de manifestações contrárias ao curso (sem que se saiba qual será) do julgamento do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal.

Morte política, por Merval Pereira



MERVAL PEREIRA12.7.2012 10h52m
O ex-senador Demóstenes Torres já chegou nessa condição à tribuna do Senado quando fez sua defesa final antes da votação. O erro do site do Senado, que antecipou em algumas horas a cassação do senador, é um dos mais comuns em jornalismo, mas desta vez traduzia uma certeza interna.
Prepara-se uma matéria com o resultado mais provável e aguarda-se o momento certo para divulgá-la, bastando para isso apertar um botão. É a competição da notícia em tempo real que faz com que erros como esse aconteçam com certa frequência depois da chegada da internet.
O que impressionou na sessão de ontem do Senado foi o clima de expiação que a cercou, o que levou um político não identificado a defini-la como “o velório de quem já estava morto politicamente”.
E não era apenas Demóstenes Torres o morto político, mas o próprio Senado Federal, mesmo tendo tomado a decisão que coincidiu com o anseio da opinião pública, como vários senadores ressaltaram, na tentativa imediata de recuperação de imagem.
A fala rude do senador Mario Couto pode não ter sido a mais bonita, nem a mais apropriada para um momento de constrangimento generalizado, mas tocou na ferida, refletindo o sentimento no Senado. “Não há moralidade nesta Casa”, apontou o senador que, aliás, já confessara, no decorrer do processo, que trabalhou para um bicheiro antes de entrar na política.
Cassar o senador Demóstenes Torres foi apenas o cumprimento de uma obrigação dolorosa para alguns, mas também a oportunidade de muitos se vingarem do “falso moralista”, que ontem, pateticamente, pediu perdão pelo “dedo em riste” de ontem.
Mas não devolverá ao Congresso a respeitabilidade perdida em muitas manobras corporativas, em inúmeras maracutaias e, sobretudo, na impossibilidade de se impor como parte fundamental do xadrez político. Quando o faz, quase nunca está defendendo conceitos, programas, teses, mas interesses classistas ou medidas populistas, que podem ser trocados por favores palacianos.
Houve indiscutível progresso com a sessão de ontem sendo transmitida ao vivo pela TV Senado, e aberta ao público nas galerias, ao contrário do que aconteceu em 2007, quando o senador Renan Calheiros foi absolvido em uma votação apertada: 40 a 35, com seis abstenções.
Naquela ocasião, numa decisão arbitrária, a presidência do Senado usou o fato de a votação ser secreta para fechar a sessão aos olhos da opinião pública.
O senador Demóstenes Torres, em plena vigência de sua “persona” de defensor da moral e da ética na política, abriu seu voto a favor da cassação de Calheiros, que ontem acompanhou seu discurso de tentativa de defesa em pé no plenário.
Desta vez, não apenas a sessão foi completamente aberta como se realizou sob a égide do fim do voto secreto, que está sendo decidido no Congresso.
Há, aparentemente, o entendimento no Senado de que os limites da imoralidade estão sendo atingidos, o que faz com que o Congresso como um todo seja mal visto pela opinião pública.
Vários foram os senadores que defenderam o voto aberto para as cassações de mandatos, e outros usaram as redes sociais, como o twitter para abrir seus votos.
A defesa do senador Demóstenes Torres variou de tom, entre o técnico e o emocional, em alguns momentos ainda beirando a arrogância, sem encontrar o ponto certo desde o primeiro instante em que foi flagrado em conversas comprometedoras com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Quando subiu à tribuna para explicar os presentes que recebera do bicheiro pelo seu casamento - um fogão e uma geladeira – o senador Demóstenes garantiu a seus pares que não havia mais nada ligando ele a Cachoeira.
Os presentes, diante do que se ouviu, parecem hoje brincadeira de criança, assim como o rádio Nextel. Mas enquanto os presentes poderiam refletir uma relação de amizade questionável, mas não necessariamente criminosa, o rádio registrado em Miami é a prova de que sua relação com o bicheiro era mais do que uma simples amizade descompromissada.
O que se comprovou com a gravação do dia 22 de abril de 2009, quando Demóstenes e Cachoeira conversam sobre a tramitação de um projeto que criminaliza o jogo ilegal, mas que, segundo o contraventor, daria margem também à legalização das loterias estaduais.
Em 2002, o então senador Maguito Vilela apresentara o projeto de lei, que foi aprovado por voto de liderança no Senado e àquela altura estava tramitando na Câmara.
Cachoeira pede que Demóstenes se empenhe junto ao então presidente da Câmara, Michel Temer, para colocar em votação o projeto, que classifica de “interessantíssimo”.
Uma semana depois, a 29 de abril, os dois voltam a conversar sobre o mesmo tema, e Demóstenes pergunta: “Que importância tem a aprovação disso?”. Cachoeira responde – “É bom demais, mas aí também regulamenta as estaduais”.
O senador explica ao contraventor que o projeto de lei não regulamenta nada, que essa será uma segunda etapa, depois do projeto ser aprovado. E adverte Cachoeira de um problema: “O que tá aprovado lá é o seguinte: transforma em crime qualquer jogo que não tenha autorização. Então inclusive te pega né?”.
Nesse simples diálogo, estão provadas duas das mais graves acusações contra o agora ex-senador Demóstenes Torres: o de que ele colocou seu mandato a serviço do bicheiro, e que ele sabia, sim, que Carlinhos Cachoeira continuava na contravenção.
A cassação de Demóstenes Torres, além de ser a decisão justa diante da opinião pública, representa apenas um primeiro e tímido passo do Congresso na busca da credibilidade perdida

Água da Terra veio de asteroides, indica estudo



Segundo nova teoria publicada na renomada revista Science, a água terrestre teria vindo do Cinturão de Asteroides que fica entre Marte e Júpiter

Do Portal Terra
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Muitos cientistas acreditam que a água que veio parar na Terra foi formada nos confins do Sistema Solar, além de Netuno. Contudo, um estudo divulgado nesta quinta-feira e que será publicado amanhã na Science indica que a substância veio de um região muito mais próxima - o Cinturão de Asteroides (entre Marte e Júpiter) - através de meteoritos e asteroides o que contradiz algumas das principais teorias sobre a evolução do Sistema Solar.
Uma das hipóteses afirma que ela se formou na região transneptuniana (que fica além de Netuno, o último planeta conhecido do sistema) e depois se moveu para mais perto do Sol junto com cometas, meteoritos e asteroides. Contudo, é possível saber a distância em que as moléculas de água se formaram em relação ao Sol ao analisar os isótopos de hidrogênio presentes. Quanto mais longe da estrela, haverá menos radiação e, portanto, mais deutério (o átomo de hidrogênio "pesado", que tem um próton, um nêutron e um elétron, ao contrário do mais comum, que tem apenas um próton e um elétron).
O novo estudo comparou a presença de deutério no gelo trazido por condritos (um tipo de meteorito) e indicou que ela foi formada muito mais próxima de nós, no Cinturão de Asteroides (esses meteoritos não contêm mais água, mas a substância fica registrada através de um tipo de mineral chamado de silicato hidratado, e é o hidrogênio presente nele que é investigado). Além disso, comparando com os isótopos de cometas, a pesquisa indica que esses corpos se formaram em regiões diferentes dos asteroides e meteoritos e, portanto, não atuaram na origem da água no nosso planeta.
 
"Dois modelos dinâmicos têm os cometas e os meteoritos condritos se formando na mesma região, e alguns destes objetos devem ter sido injetados na região em que a Terra se formava. Contudo, a composição da água de cometa é inconsistente com nossos dados de meteoritos condritos. O que realmente deixa apenas os asteroides como fonte da água na Terra", diz ao Terra Conel Alexander, do Instituto Carnegie, líder do estudo.
 
Debate reacendido
 
Em 2011, a hipótese de que os cometas tiveram pouca importância na origem da água na Terra já estava com pouca força. Mas um estudo divulgado na revista Nature usou o telescópio Herschel, da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), para descobrir que a composição do cometa Hartley 2 tem uma quantidade de deutérios similar à encontrada no oceano. Foi o primeiro cometa com essa composição, já que outros seis analisados anteriormente tinham uma quantidade de deutério muito diferente dos mares da Terra.
 
Contudo, o novo estudo também refuta essa possibilidade. Segundo os pesquisadores, o cometa não traz apenas água, mas também outras substâncias (inclusive orgânicas) que contêm hidrogênio. E a quantidade de deutério presente nos cometas ainda fica acima daquela observada no nosso planeta, o que impede que esses corpos sejam considerados como uma importante fonte de água.
"A recente medição do cometa Hartley 2 tem uma composição isotópica de hidrogênio parecida com à da Terra, mas nós argumentamos que todo o cometa, incluindo a matéria orgânica, é provavelmente rica demais em deutério para ser uma fonte da água da Terra", diz Alexander.
 
Sobram duas possíveis fontes, que devem ter atuado juntas: rochas do Cinturão de Asteroides e gases (hidrogênio e o oxigênio) que existiam na nebulosa na qual o Sistema Solar se formou. O estudo foi conduzido por pesquisadores do Instituto Carnegie (EUA), Universidade da Cidade de Nova York, Museu de História Natural de Londres e da Universidade de Alberta, no Canadá.

O movimento pela impunidade dos ladrões companheiros festeja a chegada do primeiro batalhão de combatentes imaginários


12/07/2012
 às 16:55 \ Direto ao Ponto

Augusto Nunes

Fundado por José Dirceu durante o congresso de uma certa União da Juventude Socialista, o Movimento Popular pela Impunidade dos Companheiros Pecadores demorou exatamente um mês para festejar a aparição do primeiro batalhão de voluntários. Formada por combatentes recrutados na  Central Única dos Trabalhadores, dispostos a tudo para livrar da cadeia o bando do mensalão, a tropa é comandada pelo bancário Vagner Freitas, novo presidente da CUT, que melhorou o humor do guerrilheiro de festim com a entrevista concedida à Folha de S. Paulo.
“Todos sabem que esse julgamento é uma batalha política”, viajou José Dirceu em 9 de junho. “O julgamento não pode ser político”, concordou Vagner Freitas em 9 de julho. “Essa batalha deve ser travada nas ruas também, com a mobilização das forças progressistas e dos movimentos populares, porque senão a gente só vai ouvir uma voz, a voz pedindo a condenação, mesmo sem provas”, viajou  Dirceu em 9 de junho. “Se o julgamento não for técnico, nós questionaremos, iremos para a rua, porque a CUT não vai ficar olhando”, concordou Freitas em 9 de julho.
Como as “forças progressistas e movimentos populares” que só Dirceu enxerga, o batalhão de sindicalistas, por enquanto, só existe na cabeça de Freitas. E é provável que nunca saia de lá. Sem as duplas sertanejas, o oceano de tubaína e sanduíches de mortadela em quantidade suficiente para alimentar um Sudão, manifestações convocadas pela CUT juntam menos gente que quermesse de vilarejo. No dia 29 de junho, por exemplo, a entidade tentou vitaminar a candidatura de Fernando Haddad com um ato de protesto contra as carências do transporte público em São Paulo. Atenderam à convocação pouco mais de 2 mil militantes.
“Se eu ficar dez minutos batendo lata no Viaduto do Chá, reúno cinco mil pessoas”, dizia Jânio Quadros. A maior metrópole da América Latina tem público para tudo ─ até para malucos espancando bumbos de alumínio. Mas vai ficando cada vez mais complicado encontrar espectadores para as óperas bufas encenadas por velhacos que, tão dependentes da mesada do governo quanto a pelegagem que desancavam no século passado, não renunciam à pose de fundadores do sindicalismo moderno.
O raquitismo das plateias contrasta com a arrogância da turma no palanque e, sobretudo, escancara o abismo escavado entre o discurso oportunista dos líderes e os reais interesses dos supostos liderados. Pelo que dizem os dirigentes, os trabalhadores filiados à CUT têm no momento uma só preocupação e um único pleito: insones desde que souberam que o julgamento vai começar em 2 de agosto, sonham acordados com a absolvição dos réus. O resto é o resto.
A paralisação das universidades federais, as greves que se alastram por mais de 20 categorias do funcionalismo público, os solavancos da inflação,  o emagrecimento da indústria, o PIB anêmico ─ tudo isso pode esperar. O que importa é obrigar o STF a inocentar os mensaleiros. Para tanto, é fundamental que o julgamento seja “técnico”. “Minha expectativa é que os ministros do Supremo Tribunal Federal julguem segundo os autos”, declamou nesta terça-feira o inevitável Rui Falcão. “E julgando segundo os autos não há base para condenação”, delirou de novo o presidente do PT.
A versão governista da história, diria Stanislaw Ponte Preta, já descambou para o perigoso terreno da galhofa. Investigações realizadas pela Polícia Federal e por uma CPI ergueram um himalaia de provas. A devastadora denúncia encaminhada ao STF pelo procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza foi encampada pelo Supremo. O processo tem quase 70 mil páginas. Mas a tribo dos cínicos não tem compromisso com o real: sem ficar ruborizada, réus e comparsas juram que o mensalão não existiu.
“O que houve foi uma tentativa de golpe contra o meu governo, tramada pela oposição com o apoio de setores da mídia”, mentiu Lula quatro anos depois do desbaramento da quadrilha. O principal beneficiário das bandalheiras deve a permanência no Palácio do Planalto à tibieza e à miopia política da oposição, que não se animou a apresentar o pedido de impeachment. Embora não leia, sabe que a  imprensa independente contou a verdade. E está pronta para noticiar a história do golpe se Lula  identificar ao menos os líderes da conspiração que inventou.
A mentira é declamada de meia em meia hora pelo chefe da seita ou algum devoto. “O que houve foi uma tentativa de golpe contra o presidente Lula”, repetiu nesta segunda-feira o eletricitário Artur Henrique, de saída da presidência da CUT. Ainda indignado com a destituição do companheiro Fernando Lugo, ele lembrou que “esse ataque à democracia pode acontecer no Brasil”. E formulou as perguntas tremendas: “Ou não foi isso que tentaram neste país em 2005?. Ou não tentaram depor e derrubar o presidente Lula com o apoio da imprensa?”
CONVERSA DE VIGARISTA
Se acredita nisso, Artur Henrique precisa comunicar urgentemente a Dilma Rousseff que está ameaçada de despejo do gabinete presidencial por um grupo de conspiradores que junta ministros do Supremo, dois procuradores-gerais da República, FHC e, claro, a mídia reacionária. O ex-ministro Márcio Thomaz também acha que é preciso prender a liberdade de imprensa. “A mídia tomou partido nesse caso e faz publicidade opressiva”, descobriu o ex-ministro da Justiça que prospera colecionando sentenças injustas.
Essa conversa de vigarista foi longe demais, advertem os brasileiros decentes. Como em qualquer julgamento, os ministros do STF devem decidir amparados nos autos. Lá estão as incontáveis provas dos crimes. Lá está a radiografia da quadrilha composta por figurões federais, parlamentares alugados, ministros bandalhos e empresários canalhas.
Quem sempre sonhou com um julgamento político foi Lula. Nestes seis meses, o estadista de eleição municipal andou visitando ministros que nomeou para comunicar que perdoar os pecadores companheiros seria uma bem-vinda demonstração de gratidão. Só soube agora que acrobacias malandras inverteram o sentido das palavras. Se inocentar os réus, o STF terá feito um julgamento técnico. Se optar pela condenação, terá promovido um julgamento político.
O acervo de espantos da Era Lula inclui um presidente que não sabe escrever e nunca leu um livro, uma presidente incapaz de dizer coisa com coisa, um senador que revogou o irrevogável, um ministro da Fazenda especializado no estupro de sigilo bancário e em assessorias de araque, um trem-bala que só apita no PAC, um ministro da Indústria que quebrou uma fábrica de tubaína com dois ou três conselhos, um ministro da Pesca que não sabe colocar minhoca em anzol, um ministro da Educação que acha certo falar errado, um advogado que virou ministro do STF depois de reprovado em dois concursos para o ingresso na magistratura e, entre tantas outras esquisitices, a única central sindical do mundo que se proclama única embora existam mais cinco.
Se tiver algum juízo, a CUT esquecerá a ideia de ampliar a coleção de assombros com o o primeiro  movimento da história assumidamente a favor dos corruptos. Qualquer entidade pode discordar de uma decisão do STF. Nenhuma pode negar-se a respeitá-la, sob pena de virar um caso de polícia intolerável. Se for consumada a afronta inverossímil, a confederação sindical subordinada ao PT se transformará numa organização fora da lei em guerra contra o Estado de Direito.
Nada que uma boa cadeia não resolva.

ANJ condena decisão de juíza de tirar do ar textos de site do ES


A Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgou nota nesta quarta-feira na qual condena decisão da juíza Ana Cláudia Rodrigues de Faria Soares, da 6ª Vara Cível de Vitória (ES). Ela proibiu o jornal digital Século Diário de manter em seu site três notícias e dois editoriais sobre a atuação do promotor de Justiça Marcelo Barbosa de Castro Zenkner, publicadas originalmente entre maio de 2010 e março deste ano. A nota é assinada pelo vice-presidente da ANJ, Francisco Mesquita Neto.
Segundo a ANJ, a juíza ainda teria feito sugestões ao veículo, sobre a linha editorial que deveria ser adotada pela publicação. A entidade recomendou que o Século Diário recorra da decisão, “para que o mesmo Poder Judiciário que decidiu pela censura prévia e pela imposição das abusivas 'recomendações' restabeleça o primado constitucional”.
“A ANJ considera especialmente grave que a juíza Ana Cláudia Rodrigues de Faria Soares, não satisfeita em desobedecer o dispositivo constitucional que veda a censura à produção jornalística, tenha se arrogado o direito de determinar que o jornal digital Século Diário doravante siga 'recomendações' editoriais por ela estipuladas”, afirmou a entidade.

Em dia: a disparada dos valores nos grandes leilões de arte

Funcionários da Sotheby's seguram a tela 'O Grito', de Munch, que bateu um recorde em leilão realizado em Nova York: 120 milhões de dólares
Um leilão realizado na noite de quarta-feira em Nova York quebrou um recorde histórico: uma obra de arte foi arrematada por 120 milhões de dólares, o maior valor já registrado numa disputa desse tipo. A tela, uma das quatro versões de O Grito, de Munch, entra na lista das obras de arte mais caras da história. O assunto foi tema de uma reportagem de capa de VEJA em 8 de abril de 1987. Na ocasião, o valor que assombrava o mundo era muito menor: 36 milhões de dólares por um Van Gogh. Hoje, 25 anos depois, essa tela não está nem entre as vinte mais caras do mundo.
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O que dizia a reportagem de VEJA
Noventa e sete anos após seu dramático suicídio com um tiro no peito, Vincent Van Gogh arrebentou todas as barreiras financeiras do mercado de arte imagináveis até hoje. Um de seus sete quadros intitulados Girassóis – mais precisamente uma tela de 100 centímetros por 76 centímetros pintada em janeiro de 1889 – foi arrematado pela estratosférica cifra de 36 milhões de dólares. Mesmo para um mercado de arte galopante, que ao longo dos últimos doze meses ultrapassou três vezes a mítica barreira dos 10 milhões de dólares, o arremate da semana passada pareceu assombroso. Paira sobre os Girassóisuma pergunta: afinal de contas, o que há neles que valha 36 milhões de dólares? Resposta: nada. No entanto, se 36 milhões de dólares forem pendurados numa parede, só poderão atrair curiosidade, enquanto uma obra de arte, de qualquer valor, permite ao espírito humano aqueles momentos de visita ao interior de suas sensações e deixa estranhas marcas em sua memória. A perseguição que o dinheiro faz à arte continuará, mas sempre terminará por mostrar aquilo que as pessoas que acreditam nele acima de tudo menos gostam de ver: a sua incapacidade de servir como medida universal. Afinal de contas, é até possível que o dinheiro possa comprar tudo. O que ele não consegue é medir tudo.
O que aconteceu depois
O recorde batido pelos Girassóis de Van Gogh foi apenas o primeiro numa longa série de negócios com valores espantosos no mercado internacional de arte. No mesmo ano em que a reportagem de VEJA foi publicada, uma outra tela do mestre holandês, Os Íris, foi arrematada num leilão da Sotheby’s, em Nova York, por 53,9 milhões de dólares. Em 1990, um magnata japonês, Ryoei Saito, tornou-se o proprietário das duas telas mais caras do mundo na época – ele pagou 78,1 milhões de dólares por um Renoir na Sotheby’s e outros 82,5 milhões pelo Retrato do Doutor Gachet, de Van Gogh, na casa Christie’s. Nos anos seguintes, a valorização continuou e novos recordes foram quebrados – a disputa tornava-se cada vez mais acirrada. O mercado se expandiu de vez na virada do século, com a atuação cada vez mais forte de compradores da Ásia, da Rússia e do Oriente Médio, que se juntaram aos colecionadores tradicionais na briga pelas obras mais valiosas. Para esses novos milionários, as telas dos grandes mestres tornaram-se importantes símbolos de status, objetos que representam seu crescente poder financeiro. Se antes os leilões eram disputados por colecionadores de três ou quatro países, agora são representantes de vinte ou trinta nações, e não apenas de continentes desenvolvidos. Com o aumento da procura por obras de arte famosas e a enorme valorização desse tipo de peça, mais e mais colecionadores colocaram trabalhos importantes à venda. Resultado: um mercado ainda mais quente. E nem a crise financeira internacional iniciada nos anos 2000 freou essa valorização – afinal, para os maiores bilionários do mundo, obras de arte famosas são um investimento seguro e cobiçado, pois, além do valor material que não varia de acordo com as marés das bolsas, há o status de possuir uma imagem conhecida no mundo todo.
Esse processo culminou em três quebras de recorde consecutivas em 2006. Foram três vendas privadas, fora de leilão: um Gustav Klimt de 135 milhões de dólares, um Willem de Kooning de 137,5 milhões e, finalmente, um Jackson Pollock de 140 milhões de dólares. A tela do pintor americano, de 1948, tornou-se a mais cara da história à época – seu preço foi equivalente ao dobro do valor atualizado dos Girassóis de Van Gogh. Vinte anos depois do leilão histórico que foi assunto de capa em VEJA, os leilões com altos valores já eram muito mais comuns: em maio de 2007, em uma só semana, duas telas foram arrematadas por valores similares ao preço atualizado dos Girassóis: 71,7 milhões de dólares pela obra Green Car Crash (Green Burning Car I), de Andy Warhol, e 72,8 milhões de dólares por White Center (Yellow, Pink and Lavender on Rose), de Mark Rothko, ambas de propriedade do magnata David Rockefeller e leiloadas pelas casas Sotheby’s e Christie’s em Nova York. A tela de Rothko custou três vezes mais que o recorde anterior para um trabalho desse artista. A de Warhol custou quatro vezes mais que a antiga recordista do ícone da pop art (um retrato de Mao vendido por 17,4 milhões de dólares em 2006). Em valores atualizados até 2007, os Girassóis de Van Gogh eram apenas a 26ª tela mais cara do mundo. Entre as 20 primeiras da lista, cinco eram Van Goghs e outras cinco eram Picassos. O quadro mais caro de toda a história é The Card Players ,de Paul Cézanne, vendida por 250 milhões de dólares em 2011 à família real do Catar. A transação, porém, foi privada, e não em leilão. Em disputa aberta entre compradores, o recorde foi batido na noite de 2 de maio de 2012, quando uma das quatro versões de O Grito, de Edvard Munch, bateu nos 120 milhões de dólares na Sotheby’s, em Nova York.

PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA Rebeca e o Avião



CARLOS VIEIRA
No exato momento em que escrevo estou voando pela TAM com destino a Aracaju. Um voo sem escalas. É uma manhã de quinta-feira de julho. Um céu entremeado de um azul-piscina, com nuvens esparsas ainda sem delinear carneirinhos, como via quando criança. Criança, criança linda ao meu lado. Rosto com traços indígenos mesclado com aparência japonesa. Rebeca é minha parceira de viagem. Estamos na primeira fila, ela na janela e eu no corredor. Uma poltrona vazia nos separa. Rebeca tem a suavidade da infância, denunciando um fácies meio ensimesmado, parecendo receosa de alguma ameaçada. Ouso me apresentar:
- Tudo bem com você? (no começo da decolagem)
- Tô com medo, é a primeira vez, nunca viajei de avião... E se ele (o avião) não tiver forças para subir, como vai ser?
De imediato pedi sua mãozinha e a segurei na minha. Apertei bem para quem sabe, através da minha linguagem corporal, transmitir gesto afetivo de ternura e de segurança dentro da segurança relativa da vida. Ele me pareceu que gostou, sorriu, mostrou um sorriso pálido, mas mesclado de um certo conforto.
Estamos subindo, a aeronave decolando, alguma turbulência implícita. Meus olhos nos olhos de Rebeca; seu olharzinho no meu. Mãos apertadas, corações em parceria. Naquele momento realizei o que o poeta chama de “cumplicidade amorosa” numa situação na qual alguém espera um receptáculo para sua angústia. Angústia de morte, terror do desconhecido, uma menina inconsciente ainda da condição de mortalidade humana. Olhos nos olhos, volto a falar com minha companheirinha de voo:
- E aí, legal a subida, não? Olha cidade lá embaixo, olha o lago, olha a ponte. Eu duvido que você já tenha visto a cidade dessa altura!
- Você já voou muito?
- Vou lhe revelar um segredo, Rebeca. Eu atualmente voo muito, mas já tive muito medo, mais do que você, sabia? No entanto um dia pensei: isso aqui é mais seguro do que viajar lá embaixo de automóvel; o avião foi feito para voar como os pássaros. Ele tem a mesma artimanha dos passarinhos: abrem as asas e voam. Eu tinha medo, mas acho que no fundo era medo de morrer, concorda?
- É, tio, é mesmo. É medo de morrer. E eu ainda sou muito pequena. Eu quero viver muito, como você, ou mais do que você.
- E vai viver sim, vai viver muito.
O olhar de Rebeca mostrava já, “a calma do desespero”. Saquei que aquela menina moça, de uns dez anos sofria em função da percepção da “vulnerabilidade humana”. Claro que ela não tinha a consciência verbal, mas intuía através do sintoma da sua angústia. De repente, mas que de repente, ela fez um movimento tremular como quem entrava em espanto.
- Voltei segurar a sua mãozinha e falei: apavorou-se, Rebeca?
- Tá tremendo, disse ela, o avião está tremendo. Será que vai cair? O que é isso?
- Isso se chama turbulência. São movimentos que o avião faz quando tá ventando muito, Outra coisa: sabe os tremores que o carro faz ao passar em algum buraquinho na estrada, em algum asfalto com defeito? Aqui em cima também tem buraquinhos. Viu, passou!
- É mesmo tio, passou. Posso ouvir música no meu Ipod? Não prejudica o motor do avião? Dizem que a energia dos aparelhos podem desequilibrar o avião. É verdade, tio?
- Você não escutou minutos atrás que a partir de agora podemos usar aparelhos eletrônicos? Pode e deve ouvir sua musiquinha.
Rebeca mais alentada, mais descontraída, recostou a poltrona e foi ouvir sua música. O voo era ótimo, um belo deslizar na estrada virtual em o céu e a terra.
-Tio, exclamou a menina dos olhos de japonês e de carinha de índio, segura novamente na minha mão enquanto ouço minha música.
A linguagem do corpo, a comunicação que se estabelece aquém das palavras, às vezes é mais verdadeira, mais profunda, transmite mais conforto do que a fala. O corpo não mente, não escamoteia. Rebeca não queria conversar, queria presença afetiva através de gestos, atitudes, olho no olho, mão na mão: Rebeca queria “colo”. O colo que transmite consideração, respeito, amor, cumplicidade e mais do que isso – parceria afetiva. O pavor da morte, penso, ficou adiado; a angústia da finitude, esquecida; a fobia deu lugar ao medo e o medo deu espaço para conviver com o “risco da vida”. Viver é mesmo perigoso, cantava em prosa o nosso Guimarães através da sabedoria do personagem, Riobaldo. 
Rebeca retirou o fone de ouvido, foi ao banheiro, olhava pela janela a beleza do Universo, sorria para mim, sorriso que devolvia a beleza de sua juventude, seus olhinhos negros e seus cabelos pretos, lisos, escorrendo sobre sua testa como água cristalina, caído numa cascata mostrando a beleza de um arco-íris.
- Estamos começando a descer Rebeca, olha o mar! O mar é bonito, não acha? Olha como ele é colorido!
- Tio, vou lhe contar um segredinho, não fala para ninguém: eu nunca tinha visto o mar, bonito, não?
-Rebeca, você está começando a ver como a vida é bela – você já pode voar, ver o mar e mais, conhecer o mundo. 
-É, tio, segura na minha mão pra gente descer!
A aeronave fez um pouso perfeito. Logo após nos despedimos e Rebeca exclamou:
- Amanhã pela manhã vou ver o mar e de lá vou ver um avião no céu. Obrigado por tudo.
Rebeca me fez pensar num poema de Affonso Romano de Sant’Anna.
No Labirinto
“As perguntas que, criança eu me fazia/ continuam na idade adulta/ a prosperar./ O labirinto agora me é familiar/ tenho conversado com o Minotauro e Ariadne/ tem infindáveis novelos/ para me emprestar./Sou capaz de guiar um cego/ por algumas quadras/ e alguns sinais abstratos/ chego a decifrar./ Habito o mistério que me habita/ e isto/ - é caminhar.”Do livro “Sísifo desce a Montanha”. Ed. Rocco, RJ, 2011.
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasilia e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.

Juros: inflação baixa e economia fraca indicam novos cortes - por Mirim Leitão


Enviado por Míriam Leitão - 
12.7.2012
 | 
10h15m
NA CBN


O Copom reduziu a taxa básica de juros, ontem, pela oitava vez seguida, para 8% ao ano. Se a inflação estivesse alta, mesmo com a atividade fraca, o BC não reduziria os juros. Agora, felizmente, a inflação está caindo, seguindo em direção ao centro da meta (4,5%); por isso, os juros podem ser reduzidos para tentar dar um gás na economia.
O IPCA caiu por fatores internos e externos, como nível de atividade mais fraco, menor demanda. O consumo estava se segurando, apesar da produção industrial em queda, mas as vendas do comércio caíram em maio, mês considerado muito bom para o comércio.
Inflação baixa e atividade fraca apontam para novas quedas de juros nas próximas reuniões do Copom. Há analistas prevendo que a Selic poderá chegar a 7% ao ano no fim de 2012. Acho que o BC pode fazer isso.
O importante, agora, é saber que estamos numa nova fase na relação com o dinheiro, de juros baixos, não estávamos acostumados com isso. Temos de olhar com mais atenção as taxas cobradas pelos bancos, estudar bem onde colocar o nosso dinheiro; a caderneta de poupança, por exemplo, ainda ganha em muitas situações dos fundos de renda fixa.
É hora de negociar, ir atrás de taxas de juros menores e remuneração maior para o nosso dinheiro.

Bem mais iguais, por Carlos Brickmann



O desembargador Hélio Maurício de Amorim, do Tribunal de Justiça de Goiás, foi punido por unanimidade pelo Conselho Nacional de Justiça por assediar uma senhora cujo processo estava julgando. E qual a pena? O meritíssimo foi punido com aposentadoria compulsória: fica sem trabalhar, recebendo vencimentos proporcionais ao tempo de serviço. Nada de fator previdenciário, essas coisas aplicáveis a cidadãos comuns: todos os cálculos são feitos sobre o salário integral da ativa.
Há certas coisas a que é difícil dar divulgação: por exemplo, o tratamento especial que magistrados recebem quando punidos por suas falhas. No caso, experimente um civil comum assediar uma empregada de seu escritório, ou uma colega de trabalho, para ver se a pena será aposentadoria integral.
Ou mate alguém, como ocorreu com um juiz paulista, condenado por assassinar a esposa e ocultar o cadáver: por muito tempo ainda recebeu o salário integral. Mas os repórteres não podem esquecer quem é que os julga, caso sejam processados: vale a pena criticar alguém cujos colegas determinarão indenizações ou penas de prisão?
Promotores também costumam ser bem tratados pelos colegas. Um deles, considerado culpado por ter pedido licença para um pós-doutoramento na Europa e não ter aparecido em nenhuma aula, foi condenado a um dia de suspensão – exatamente, um dia de suspensão, 24 horas, não mais. Posteriormente, foi absolvido. Mas, no momento em que o consideraram culpado, a pena foi aquela.
Tente um funcionário público comum pedir licença para estudos e ser desmascarado por tirar folga com dinheiro público, para ver se a pena será de 24 horas de suspensão.
É também pouco provável que um cidadão comum, bêbado, em excesso de velocidade, guiando na contramão, batendo em outro carro e matando uma família, tenha tido a pena que foi aplicada a um promotor por seus pares: uma transferência para São Paulo, numa vaga ardorosamente disputada por profissionais de qualidade reconhecida e entregue a ele, cuja carreira atingiu o ponto mais alto depois de sabe-se lá quantas latas de cerveja e garrafas de bom uísque.
Mas promotores, como os magistrados, não são bem tratados apenas por seus pares. A imprensa cuida de todos com grande carinho – o que inclui, seja lá qual for sua idade, seja lá qual for seu temperamento, os adjetivos “jovem e combativo”. Um delegado, de conduta bastante discutível, era chamado de “ínclito”. Mas como combater uma fonte tão preciosa de informações?
É um tema que vale debate nos meios de comunicação. Afinal, como diz a Constituição, somos todos iguais perante a lei? Ou, como diz brilhantemente George Orwell, todos são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros?

Carlos Brickmann é jornalista e diretor da Brickmann&Associados Comunicação

OBRA-PRIMA DO DIA - ENGENHARIA MILITAR Fortalezas Portuguesas - Castelo de Montemor-o-Velho


Enviado por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 
12.7.2012
 | 12h00m

Na margem direita do Mondego, rio que tem a honra de banhar Coimbra, ergue-se em um ponto estratégico para a defesa do rio, o maravilhoso castelo de Montemor-o-Velho. Como acontece com todos os castelos portugueses, este também foi erguido em local que na pré-história já era considerado muito importante. Romanos, visigodos e muçulmanos ocuparam aquela área, interessados pelo local que dava boa visão de toda a região, mas sobretudo pelo estanho escoado pelo Mondego.
As primeiras referências à povoação datam do século IX. Cristãos e mouros alternavam a posse do local e isso continuou até o século XI. Em 1064, com a conquista definitiva de Coimbra, Montemor-o-Velho não voltou mais para as mãos dos mouros.
A importância militar e estratégica deste castelo manteve-se ao longo dos séculos seguintes, afirmando-se que as suas grandes dimensões permitiam aquartelar até cinco mil homens de armas em seu interior.
A povoação e a fortaleza estão intimamente ligados à História de Portugal e aqui não há espaço para contar todos os espisódios, heróicos uns, menos bonitos outros. O que nos interessa é a magnífica engenharia que resultou nesse castelo, obra prima em pedra.
Abro uma exceção: o fato de que foi aqui, na sua alcáçova, a 6 de Janeiro de 1355 que D. Afonso IV se reuniu com seus conselheiros para decidir a sorte de D. Inês de Castro, daqui tendo partido, no dia seguinte, para o ritual da macabra execução.
O castelo apresenta planta quadrada, com muralhas de cerca de sessenta metros de lado, reforçadas, nos ângulos Oeste e Leste, por grandes torreões de planta circular. A sua face Noroeste e parte da Nordeste eram comuns à muralha da vila. Em seu interior ergueu-se a igreja matriz, sede da primeira paróquia da vila, e que hoje é o Santuário de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, proclamada padroeira de Portugal em 1646.
A Torre de Menagem só foi erguida sob o reinado de D. Fernando, afastada do castelo, diante de uma porta rasgada a meio do trecho Sudoeste da muralha. Delimitando uma área de cerca de três hectares, a muralha, de planta pentagonal irregular, é rasgada por diversas portas, entre as quais as chamadas Porta de Évora, Porta de Estremoz e Porta de Olivença.
As Lendas das Arcas: há muito, muito tempo os primeiros habitantes de Montemor-o-Velho enterraram dentro das muralhas do Castelo, duas arcas. A primeira arca continha a felicidade e a riqueza. Tinha tanto ouro que se aberta fartaria todo Portugal. A outra arca é a arca maldita que contém a peste. Uma vez aberta trará a desgraça, a febre, a miséria e a fome, não tendo dó nem piedade por ninguém. Muitos, movidos pela audácia ou pelo desespero de tempos difíceis, aproximaram-se das arcas. Em épocas de crise muitos se juntaram para abrir a arca da fortuna… Mas… logo paravam atónitos e perplexos petrificados com o medo de abrir a arca da peste pois esta se aberta traria ainda mais desgraça e miséria… E as arcas lá continuam à espera de um dia alguém ter a ousadia de as procurar e a imprudência de as abrir... (wikipedia).
O maior tesouro creio que é o fato de não haver uma nesga de terra mal aproveitada... Acima, arrozal banhado pelo Mondego.

Concelho de Montemor-o-Velho, Distrito de Coimbra

HUMOR A Charge de Amarildo