segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Vamos por partes A picanha vai para a grelha com a gordura para cima ou para baixo? Como preparar a fraldinha? O que é chuleta, afinal? Lombo de porco pode ir à churrasqueira?


Esclareça essas e outras dúvidas cruéis abaixo

texto Mauro Marcelo Alves | ilustrações Nik Neves
Frango 
Asa, coxa e sobrecoxa São os cortes de frango que se adaptam bem às brasas, ganhando um gostoso toque defumado (a receita de asa de frango também pode ser utilizada com os dois outros cortes).

Peito Muito seco, é mais propício aos espetinhos, com seus pedaços intercalados com bacon (principalmente), ameixa seca, pimentão, abobrinha, tomate e outros legumes.
Porco 
Costelinha Ela é incomparável na brasa: simples, só com sal grosso, ou com variados molhos. O mais famoso deles, criado pelos americanos, é o barbecue, com açúcar mascavo, mostarda, molhos inglês e de tomate, com muitas variações a partir dessa mistura básica.

Lombo Também pode ser churrasqueado direto na brasa, mas o ideal é envolvê-lo em papel-alumínio, para não ressecar. Para obter um efeito semelhante ao do molho barbecue, pode ser temperado só com mostarda e mel (receita aqui).

Pernil e paleta Cortes mais indicados para o lento cozimento no forno.
Cordeiro

Carré 
Formado pelo lombo junto com os ossinhos da costela, é a grande estrela do cordeiro, o chamado corte francês. É estético e pode ser servido em forma de coroa. Seccionado a cada um ou dois ossos, transforma-se na costelinha amada pelos gourmets. É excelente no churrasco, temperado com sal grosso, pimenta-do-reino, alho e alecrim. Há quem goste – influência da culinária inglesa – de servi-lo com um molho à base de menta.

Pernil O outro corte consagrado do cordeiro, o pernil (gigot, para os franceses) é mais apropriado ao cozimento no forno.
Boi

Alcatra 
Um dos cortes mais interessantes, com fibras macias e muito sabor. A peça completa da alcatra, localizada no traseiro do boi, compreende o miolo, a picanha e a maminha. Do miolo, extrai-se o famoso baby beef, macio e suculento. Se assar em bifes, é melhor não fazer cortes finos, que provocam seu ressecamento.

Chuleta Uma das preferidas dos gaúchos, faz parte do contrafilé e tem gosto suave de gordura. Em outras regiões brasileiras, como no Sudeste, é chamada de bisteca. Fica melhor em cortes mais espessos, com textura mal passada por dentro e torrada por fora, o que se consegue deixando-a mais próxima às brasas.

Contrafilé É o corte mais longo e pesa cerca de 4 quilos. Cortado em grossos pedaços na parte da frente, mais alta, é o ojo de bife dos argentinos. Com osso, é a bisteca ou chuleta. Rende ótimos assados, graças à capa de gordura lateral, responsável por manter a umidade da carne. O importante é não deixar a peça muito tempo na grelha, para que não endureça. Deve ser colocada primeiro na parte mais baixa da churrasqueira e, depois de 5 minutos, passada para o alto, por mais uns 10 minutos.

Costela Uma das mais saborosas partes do boi, pelos ossos e a gordura, que lhe dão um caráter diferente. Demanda longo tempo de cozimento longe do fogo forte, para que suas fibras se distendam e ela fique macia e suculenta.

Filé-mignon Praticamente sem gordura e muito macio, pode ser grelhado em pedaços maiores ou em medalhões, com o sal grosso colocado 5 minutos antes de ir à grelha. Exige pouco tempo de cozimento. Ao contrário de outras peças, sua maciez permite ser servido bem passado (na maioria das vezes, para desgosto do churrasqueiro).

Fraldinha Em alguns lugares, é chamada de aba de filé ou vazio, um dos cortes que ganham ao ser preparados no espeto, para ficar mais comprimidos. Com fibras longas, é uma carne bastante gostosa, desde que seja colocada bem perto das brasas, por 4-5 minutos de cada lado e, em seguida, deixada na parte mais alta da churrasqueira, em lento cozimento. Sirva em fatias finas.

Maminha da alcatra Com formato triangular, é bastante macia e suculenta.. Deve ser assada na parte alta da churrasqueira, a pelo menos 40 cm da brasa. Comece a servir pela ponta mais fina e, se necessário, volte o restante ao fogo.

Picanha Rainha de todos os churrascos feitos no Brasil, tem seu sabor e suculência acentuados pela capa de gordura que a envolve – e que não deve ser retirada, sob pena de torná-la um corte comum e mais duro. Com uma faca fina, faça cortes em diagonal na gordura, formando um quadriculado. Isso facilita a absorção do sal e favorece o efeito da gordura no gosto e maciez. Esfregue o sal grosso nos dois lados, com o excesso sendo retirado no momento de levá-la à grelha. Detalhe importante: primeiro, coloque o lado da gordura para cima, a uma altura de 40 cm, deixando por cerca de 40 minutos. Vire e deixe o lado da gordura por mais 10 minutos, até que fique dourada. Pode também ser grelhada em grossos pedaços com 3 dedos de largura – nesse caso, na parte mais baixa da churrasqueira e com menos tempo de fogo.

Da água

Camarões lindos e crocantes, lulas no espeto, a famosa sardinha na brasa e peixes inteiros com temperos variados. Churrasquear o que vem do mar ou dos rios é também um gostoso exercício diante do fogo. Podem servir de entrada para as carnes ou até mesmo ser protagonistas de uma tarde à beira-mar ou ao lado da piscina. E sempre é bom lembrar que a carne de peixe tem valor nutricional alto e menos calorias que a carne vermelha. Entre os peixes mais adequados à brasa estão badejo, dourado, pargo, Anchova, pescada, atum, salmão e sardinha, mas a lista vai além, de acordo com a região. Do Rio, o pintado, o pacu, o pirarucu e o tambaqui são especiais. Temperados com sal e pimenta ou recheados, os peixes maiores devem ser envoltos em folha de bananeira, alumínio ou papel-manteiga para preservar e intensificar seu gosto.

Churrasco pantaneiro, Por Eduardo Almeida Reis



Ilustração Adriana Alves
Ilustração Adriana Alves
Nos muitos anos que passei no Pantanal, tanto do MS como do MT, constatei que dois ingredientes nos churrascos de lá discrepam dos outros que comemos no mundo inteiro: abstemia e educação. Abstemia, porque as bebidas alcoólicas são proibidas nas fazendas. Educação, por algum mistério pantaneiro, que não descobri até hoje.

Proibir o álcool tem a seguinte explicação: não raras vezes, a polícia fica a uma hora de avião do local das escaramuças. Houve casos de peões, amigos de infância, companheiros de trabalho, que enfiaram suas facas nas barrigas dos colegas só para ver se estavam amoladas. Quando andei trabalhando por lá, só um caçador convidado teve direito ao puro malte destilado na Escócia. Enfartado, era presidente do Banco do Brasil.
Claro que há pessoas educadas em outros churrascos, mas também há muita gente parecida com aquela que se vê nos jantares de nossa “melhor sociedade”: a abertura do salão de refeições corresponde a um salve-se quem puder, e é gente bem alimentada, que não passa os dias em trabalhos exaustivos.

No Pantanal, temos 45 peões, de três comitivas de 15, que montaram às 2 da madrugada para churrasquear no final da tarde. Durante 14 horas no chamado “trabalho do gado”, cada peão estourou três cavalos e passou o dia inteiro movido a guaraná em pó e pedaços de rapadura. Enquanto isso, no acampamento em que se reúnem ao final do dia, um churrasqueiro assa a metade de uma vaca levada do matadouro da fazenda.
Terminado o dia de trabalho, temos cerca de 50 homens em fila para churrasquear: o sócio-diretor da empresa rural, o assessor da diretoria (meu caso), um ou dois convidados, o capataz que também estourou três cavalos e os 45 peões das comitivas. Aí, só vendo para acreditar. Devo admitir que assisti às cenas um monte de vezes e até hoje fico pasmo.

Depois do diretor, do assessor e dos visitantes, que comeram poeira o dia inteiro no curral de trabalho, o capataz tira seu pedaço de carne, um punhado de farinha e o sal necessário. Pedaço pequeno, educadíssimo. Seguem-se os 45 peões que respeitam – pasme o leitor – a ordem de idade. Não há idosos, que teriam morrido durante o dia, mas há vaqueiros de 35, de 40 anos, que entram na frente da peonada. Cada qual tirando, vale repetir, pequeno pedaço de carne. Os peões mais moços, e alguns podem ter 12 ou 14 aninhos, vão às carnes na maior educação, sempre tirando pequenos pedaços, se possível, com os nacos de gordura fumegante.

Todos transportam suas facas às costas, junto com a chaira, peça de aço com cabo de osso ou de madeira, própria para amolar facas. Chaira e faca presas na guaiaca, cinto largo de couro. Ao cair da noite, diretor, assessor e convidados voltam de jipe para a sede da fazenda e a peonada arrancha nas redes lá mesmo, depois da sessão de mentiras, que também faz parte. Dia seguinte, repeteco, mas tem a vantagem de não começar às 2 horas. Podem acordar às 5, que dormiram no campo de batalha. Cavalos recuperados, arreios, pó de guaraná, rapadura e um novo dia de trabalho. E, assim, durante quatro ou cinco dias, sempre terminando com a vaca assada e a espantosa educação, o respeito pelos chefes e pelos mais velhos.

Eduardo Almeida Reis é jornalista e escritor, membro da Academia Mineira de Letras e não tolera carne bem passada. 

INTERNET BRASILEIRA SEGUE PARCIALMENTE SEM LEI COM ESVAZIAMENTO DO MARCO CIVIL


Legislações criminais sancionadas por Dilma, porém, já podem ser aplicadas

Impasse: Molon, relator do Marco Civil, diz que continuará lutando pelo projeto após recesso

O Brasil adentrará 2013 sem uma legislação definida para a internet. Emperrado no Congresso, o projeto do Marco Civil para a rede só voltará a entrar na pauta de votação em fevereiro. Enquanto isso, já foram sancionadas pela presidente Dilma Rousseff duas leis que tratam de crimes digitais — a lei Carolina Dieckmann (12.737), inspirada pelo vazamento de fotos da atriz nua na internet este ano, e a lei Azeredo (12.735), o que já configura ao menos um passo na direção da regulação on-line no país.
Segundo o relator do Marco Civil, deputado federal Alessandro Molon (PT-RJ), o atraso na votação do projeto de lei é prejudicial à internet brasileira. Ele foi retirado da pauta pelo menos três vezes na Câmara, devido a controvérsias sobre pontos como a neutralidade da rede (que reza que o tráfego de dados se deve dar igualitariamente) e a guarda de informações dos internautas.
— A segurança e a privacidade dos dados dos usuários brasileiros dependem do Marco Civil — defende Molon. — Os provedores de conexão (operadoras) acham que a neutralidade prejudica suas oportunidades de negócios, e também querem guardar os dados de navegação dos internautas. Mas é preciso proteger essa navegação em nome da privacidade do usuário.
De acordo com Bruno Magrani, professor e pesquisador do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Fundação Getulio Vargas, que foi um dos redatores do texto do Marco Civil, a dicotomia no texto sobre quem deve guardar quais dados visa a proteger justamente o usuário:
— O texto do Marco Civil estabelece que os provedores de conteúdo guardem os dados de navegação do usuário, e as teles, o seu endereço IP. É preciso juntar as duas coisas para identificar o internauta.

Neutralidade, mas nem tanto
Presidente do Sinditelebrasil, entidade que representa as operadoras, Eduardo Levy diz que as teles entendem perfeitamente que a internet deve ser neutra em relação ao que nela trafega, mas defendem “a liberdade de oferecer de forma transparente qualquer serviço diferenciado” aos clientes:
— Sem isso, teremos necessidade de um investimento maior — afirma. — Seremos obrigados a oferecer o mesmo pacote a quem só acessa e-mail e a quem baixa muitos vídeos, por exemplo.
Enquanto o Marco Civil não é definido, já podem ser aplicadas as leis Carolina Dieckmann e Azeredo, que tratam de crimes cibernéticos. A primeira altera o Código Penal para tornar crime a violação de e-mail de terceiros, ou o roubo via internet de dados pessoais de outrem. A pena mínima é de detenção de três meses a um ano, mais multa, mas é acrescida de um sexto a um terço, no caso de a violação causar prejuízo econômico à vítima. O texto ainda pune quem divulga dados sigilosos. Outro ponto caracteriza o crime de falsificação ou clonagem de cartão de crédito ou débito, com pena de reclusão de um a cinco anos, mais multa. Já a Lei Azeredo define como crime a utilização de dados de cartões de crédito ou débito de forma indevida ou sem autorização. Prevê ainda que mensagens com conteúdo racista sejam retiradas imediatamente do ar na rede.
Para a advogada especializada em direito digital Patrícia Peck, o Brasil deu um primeiro passo para ter uma lei penal “que trate os novos delitos que ocorrem no ambiente digital”, mas precisa avançar mais.
— É preciso garantir a capacidade de guarda de provas de autoria, para a penalização do infrator (e isso passa pela discussão do Marco Civil) — explica Patrícia. — Não basta só o cárcere físico. É preciso criar controles virtuais e investir na reintegração do criminoso à sociedade, até trabalhando suas habilidades para o combate ao próprio crime digital.

Por André Machado
Fonte O Globo Online

Da série "Virgens com Gonorréia": Senador é réu por pensão e abandono afetivo




deu no Claudio Humberto


Habituado ao ataque, o senador Álvaro Dias (PR), líder do PSDB no Senado, agora está na defensiva: foi condenado na Justiça pelo não pagamento de pensão a uma filha – ainda menor de idade – fruto de seu relacionamento com a funcionária pública Monica Magdalena Alves. O tucano responde a processos, em segredo de justiça, por abandono afetivo e corre risco de ter o seu patrimônio bloqueado.

Pensão paga


Álvaro Dias ficou indignado com a ação judicial contra ele. Conta inclusive que só de pensão paga dez salários mínimos por mês.

Nulidade


Em um dos processos, a filha do senador Álvaro Dias pede anulação da venda de cinco casas dele, no valor de R$ 16 milhões, em Brasília.

Chantagem


Álvaro Dias considera que tem cumprido seu dever de pai “rigorosamente”, o que o leva a concluir: “Isso é chantagem”.

Visão pragmática da problemática, por João Ubaldo Ribeiro



João Ubaldo Ribeiro, O Globo
Há quem acredite que exagero, quando falo nas muitas excelências de Itaparica, tanto as presentes quanto as passadas. Mas é uma impressão falsa, porque, embora não possa ignorar esses grandes predicados, procuro sempre ater-me à imparcialidade e fidelidade aos fatos que devem nortear o bom jornalismo informativo.
Agora mesmo, diante dos acontecimentos nacionais, sou o primeiro a reconhecer que carecemos hoje de juristas capazes de prestar uma contribuição significativa aos debates em curso.
Bem verdade que, se tivessem anel no dedo, Ary de Maninha e Jacob Branco botariam num chinelo muitos desses advogadecos mal-acabados que por aí abundam, mas o fato é que, pelo menos que eu saiba, ninguém na ilha pode alegar notório saber jurídico e pleitear ser ouvido sobre questões constitucionais.
O que não impede, naturalmente, que se registre um pronunciamento marcante ou outro, como o do citado Ary de Maninha, na happy hour das nove da manhã, no Bar de Espanha.
— Os nobres amigos leram? — indagou ele. — Uns porretas aí dizem que a interpretação da Constituição pelo Supremo está errada e que o Supremo não é a única interpretação que vale! A que vale é a deles! Vale a de todo mundo! Cada um chega lá e diz que a Constituição estabelece o que ele quer, pra que Supremo?
Meus caros amigos, Ruy Barbosa acaba de ganhar o apelido de Ruy Carrapeta, de tanto que rola na tumba! Não cumprem a decisão do Supremo e passamos a ter o nome oficial de República Esculhambativa do Brasil, ninguém mais vai cumprir merda nenhuma e as decisões do Supremo doravante serão encaminhadas aos deputados, para ver se eles concordam.
Por que não resolvem logo que pra deputado a Justiça não vale? Por que não acabam logo com juiz, tribunal, essas coisas? Vamos criar a Deputança Judiciária! Vamos criar o Judiciário Cidadão! Cada um é livre para interpretar a lei como quiser.
Eu dou uma dedada no seu traseiro e declaro que, na minha interpretação, a lei me dá direito a isso. Dá direito ao urologista, por que não dá a mim?
Eu digo que meu direito de ir e vir não está sendo respeitado e aí exijo passagens de graça para onde eu quiser, na minha opinião a lei garante! Manolo, eu estou quase morto de sede! Se você não me der uma cerveja de graça pra eu me hidratar, é omissão de socorro!
O sentenciado resolve se aceita a sentença! Oh baderna, baderna, mixordieira deusa do atraso, aqui nos entregamos nós de uma vez por todas, acolhe-nos em teu regaço impudente, afaga-nos com tuas mãos mensaleiras, beija-nos com teus lábios prevaricadores!
Mas, apesar da pungência dessa rendição, a ilha permaneceu irresignada a ficar à margem dos acontecimentos.
Depois de uns três dias de recolhimento, durante os quais quem passava por sua calçada ouvia lá de dentro apenas uma ou outra voz de mulher num momento de alguma exaltação, Zecamunista emergiu na saída da rua dos Patos, sobraçando várias pastas de papelão e, passo firme e queixo empinado, se dirigiu ao Bar de Espanha.
Enganaram-se os mexeriqueiros que haviam atribuído os gritinhos femininos a mais uma reunião do Cialis, não o remédio, mas o Centro Itaparicano de Amor Livre Socialista, de que Zeca é secretário-geral perpétuo e que promove periodicamente o que ele chama de encontros motivacionais e o pessoal despeitado, invejoso e reacionário chama de outras coisas, todas impróprias.
(Aliás, Zeca sustenta que o nome do remédio é plágio e de vez em quando ameaça abrir processo; diz que todas as coroas do Recôncavo testemunhariam a favor dele, pois muitas delas já se beneficiaram do Centro e são sócias atuantes, contribuintes e até sócias atletas).
Os gritinhos eram das voluntárias que se ofereceram para ajudá-lo na formulação de seus planos, ao terminarem alguma tarefa importante.
— Resolvi dar uma mão à burguesia mercantil local, a crise não ajuda ninguém — disse ele, alisando a papelada. — Está tudo detalhado aqui, vou encaminhar à Associação Comercial. As circunstâncias já nos fizeram perder uma oportunidade histórica, mas outras estão se abrindo é só saber enxergar.
Tudo começara com a ideia de oferecerem na ilha acomodações adequadas para a reclusão dos condenados classe A. Essa ideia foi logo encampada por outras cidades Brasil afora, todas sentindo o potencial mercadológico de uma jogada dessas.
A ilha bobeou e vai perder a oportunidade, tinha de ter atirado com todas as armas, era preciso ter unido a Bahia em torno desse manancial turístico incalculável, que iria beneficiar todo o estado, além de elevar sua autoestima, por hospedar tantos nomes nacionais.
Ele já tinha escolhido o sobradão para a nova cadeia, já tinha orçado a reforma, a decoração e as instalações, tudo para inspetor nenhum, nem repórter nenhum, de onde lá fossem, botar defeito.
Mas faltou visão, faltou agilidade, a ilha vai ficar fora dessa. Cadê a classe hoteleira, cadê as agências de turismo?
Infelizmente, a batalha está perdida para competidoras infinitamente mais ricas e poderosas e a vencedora vai ser uma cidade paulista, isso se não abrirem uma concorrência internacional e as Bermudas, Taiti ou Ibiza não ganharem.
Mas o serviço que ele criara, não! A ilha pode sair na frente e a complexa estratégia já estava traçada. A ilha vai oferecer serviços de protestos, passeatas e manifestações diversas com toda a infraestrutura, tudo profissional de alto nível. O freguês especifica a manifestação que quer, faz-se um orçamento e se providencia tudo.
Bastou ele ter dado uma sondada e já tinha sentido a possibilidade de pelo menos duas boas manifestações contra o Supremo, logo no começo do ano. Uma firma de São Paulo telefonou querendo saber datas para o verão, tem muita grana nisso, o mercado está aquecidíssimo.
— Agora é assim — disse Zeca, com aquela risadinha bolchevique. — Não gostou, faz umas boas manifestações e vira o jogo. É a nova democracia.

João Ubaldo Ribeiro é escritor

A receita de veneno do comissariado, por Elio Gaspari



Elio Gaspari, O Globo
Lula e José Dirceu, bem como os comissários Gilberto Carvalho e Rui Falcão, mostraram-se dispostos a botar povo na rua para defender o que chamam de “nosso projeto”.
A ideia é tirar a nação petista do inferno astral em que se meteu com o ronco das praças. Deveriam pensar duas vezes. Talvez três, consultando-se com o senador Fernando Collor de Mello.
Em agosto de 1992, ainda na Presidência, acossado por denúncias de roubalheiras, ele foi à televisão e pediu ao povo que o defendesse, vestindo verde e amarelo no dia 7 de setembro. A garotada ouviu-o e saiu por aí vestindo luto, com as caras pintadas. Em dezembro, Collor renunciou à Presidência.
O que vem a ser o “nosso projeto” em cuja defesa o comissariado quer gente na rua? O pedaço dos dez anos de mandarinato petista que garantem popularidade a Lula e à doutora Dilma nada tem a ver com o infortúnio dos mensaleiros e dos jardins de Rose Noronha.
Há gente disposta a sair às ruas para defender muitas iniciativas realizadas pelo PT desde 2003, mas, se o comissariado acredita que conseguirá uma mobilização popular para proteger delinquentes condenados pelo Supremo Tribunal ou apanhados pela Polícia Federal, pode estar apostando numa radicalização suicida.
O repórter José Casado acompanhou três comícios de Lula durante a última campanha eleitoral. Viu-o nas praças de São Bernardo, Santo André e Diadema. Em cada uma delas, havia algo em torno de duas mil pessoas. Dois terços da audiência eram compostos por uma plateia que havia chegado em ônibus fretados por comissários.
Casado tirou uma prova perguntando a vendedores de água como ia a féria. Muito mal.
Se a ideia é botar povo na rua sem ônibus de prefeituras, dispensando a infraestrutura da Viúva, tudo bem. Se acreditam que podem usar esses recursos sem que ninguém perceba, enganam-se. Produzirão apenas mais situações escandalosas.

Foto: Léo Caldas

Quando Collor teve sua péssima ideia, já existia mobilização popular contra ele. Potencializou-a. Há pessoas indignadas com a postura petista de defesa de delinquentes condenados. Elas ainda estão em casa, quietas. Se o negócio é ir para a rua, elas também podem ir, sem ônibus das prefeituras.

Os guerreiros da maldade, por Gaudêncio Torquato


Ao visitar a sagrada montanha de Taishan, Confúcio, o sábio chinês, deparou-se com uma mulher cujos parentes haviam sido devorados por tigres. Indagou: “Por que não se muda daqui?” Ouviu como resposta o lamento: “Porque os governantes são mais ferozes que os tigres”.
A historinha é um libelo contra os políticos. A desilusão com os governos tem atravessado ciclos históricos, ganhando referências e pontuações que marcam o caráter predador de mandatários que se valem da política como escada para a ascensão pessoal.
Saint-Just, um dos jacobinos da Revolução Francesa, executado após a queda de Robespierre, costumava dizer: “Todas as artes produziram maravilhas, exceto a arte de governar, que só produziu monstros”.
Nessa mesma linha, registra-se uma lapidar frase de John Adams, o segundo presidente dos Estados Unidos:
"Todas as ciências progrediram, menos a de governar, que não avançou, sendo hoje exercida apenas um pouquinho melhor do que há quatro mil anos”.
Concorde-se ou não com a moldura expressiva, o fato é que, aqui e alhures, multiplicam-se exemplos da devastação que governantes e políticos provocam nas mais diferentes roças da res publica.
Apesar dos avanços da democracia nos palcos contemporâneos, os atores políticos extrapolam seus papéis.
Fixemos os olhos ao nosso redor. A par da bateria de denúncias que atingem os costados da administração federal, feitos de governantes municipais derrotados no último pleito têm chamado a atenção.
Inconformados por não terem sido reeleitos ou pela derrota de seu candidato, os guerreiros da maldade espalhados pela Federação abrem um vasto arsenal de armas para atirar contra a população.
A vingança se dá por meio de um leque de atos pérfidos: suspensão de serviços básicos (saúde, transporte, limpeza pública, por exemplo), demissões irregulares de funcionários, calote na folha de pagamentos, nomeações de última hora, realização improvisada de concursos públicos, desprezo pela lei de responsabilidade fiscal etc.
Em algumas localidades, a situação caótica ganhou intensidade com o fechamento de postos médicos, suspensão do transporte escolar e até dos serviços de abastecimento de água.
Apesar da iniciativa saneadora do Ministério Público e dos Tribunais de Contas, prefeitos conseguem driblar medidas impostas como Termos de Ajustamento de Conduta (TAC), ações cautelares e preparatórias de ações civis públicas.
Quem não se lembra do folclórico ex-presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, hoje prefeito de João Alfredo, em Pernambuco? Foi obrigado a se submeter a um TAC para regularizar o pagamento de servidores e restabelecer serviços públicos.
E a prefeita de Fortaleza, hein? Luizianne Lins suspendeu o "Réveillon da Paz" por não sentir “legitimada para conduzir uma festa que transcorrerá em meio a uma mudança de gestão". Que cara de pau.
O que explica a vingança contra o eleitorado? Reação ao exercício do voto consciente. Avançamos em matéria de cidadania ativa.
Como se recorda, John Stuart Mill, em suas Considerações sobre o Governo Representativo, divide os cidadãos em ativos e passivos, arrematando que os primeiros fazem bem à democracia, enquanto os segundos são os preferidos dos governantes.
O eleitorado racional se expande, sendo este um dos fatores a explicar o estreitamento de currais eleitorais. Alarga-se a participação do eleitor no processo político, cujos efeitos se fazem ver na renovação dos quadros municipais. Essa nova realidade explica a ação vingativa de prefeitos que receberam o cartão vermelho nas urnas.
jus sperneandi dos derrotados é uma tentativa de puxar para a atualidade traços do ciclo coronelista que Victor Nunes Leal tão bem descreveu em Coronelismo, Enxada e Voto, cujo lema era: “para os amigos, pão; para os inimigos, pau.”
Negar pão e água ao adversário e favorecer os amigos, máximas da República Velha, ainda inspiram a banda jurássica de nossa política.
O fato é que os avanços do presente, por mais que se multipliquem, não apagaram as marcas do passado. Nos mais diversos campos, da política aos costumes, o Brasil dual se faz ver por meio de uma banda asséptica ao lado de uma banda suja.
De um lado, o cabo de guerra é puxado pelas forças da moral e da ética, sob a bandeira de valores republicanos como o compromisso, a prevalência da coletividade sobre a individualidade, a transparência, a verdade e a justiça; de outro, as forças do atraso se esforçam para ganhar a peleja, usando, para tanto, as armas da emboscada e as curvas dos desvios e ilícitos.
Mas há motivos para comemorar. O Supremo Tribunal Federal chega ao final de um julgamento que, há cinco meses, parecia algo inalcançável. Enxergamos as instituições, malgrado vaidades e querelas entre grupos, funcionarem a contento.
Em um território afamado por impor barreiras quase intransponíveis ao acesso à justiça e onde se edificou gigantesco apartheid social, verificar que os poderosos também podem ingressar no xilindró constitui agradável sensação de que águas cristalinas voltam a banhar o corpo pátrio.
Todos são iguais perante a lei. Essa é a luz que joga claridade sobre instituições e pessoas, pobres e ricos.
Não podemos perder de vista os enclaves do atraso, as teias de maracutaias, as máfias que se incrustam nas malhas da administração nas instâncias federativas. Urge eliminar os focos de corrupção que conectam a burocracia à esfera dos negócios privados.
Holofotes devem ser abertos sobre quadros venais, alguns habitando os mais altos Tribunais, que agem sob suspeita camada de interesses escusos. É bem verdade que os mecanismos de investigação aguçam a percepção e aperfeiçoam as ferramentas de controle. Mas os donos do poder invisível multiplicam garras e escudos de proteção com inimaginável sofisticação.
São trânsfugas morais. Sabem expressar o discurso da honestidade para confundir os incautos. Fazem da hipocrisia a arte de amordaçar a dignidade. Que o Natal ilumine a consciência de todos!

Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter@gaudtorquato

HUMOR A Charge do Amarildo



Canção do exilio - Casimiro de Abreu


POEMA DA NOITE


Se eu tenho de morrer na flor dos anos 
       Meu Deus! não seja já; 
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, 
        Cantar o sabiá!
Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro 
       Respirando este ar; 
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo 
       Os gozos do meu lar!
O país estrangeiro mais belezas 
       Do que a pátria não tem; 
E este mundo não vale um só dos beijos 
       Tão doces duma mãe!
Dá-me os sítios gentis onde eu brincava 
       Lá na quadra infantil; 
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria, 
       O céu do meu Brasil!
Se eu tenho de morrer na flor dos anos 
       Meu Deus! não seja já! 
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, 
        Cantar o sabiá!
Quero ver esse céu da minha terra 
       Tão lindo e tão azul! 
E a nuvem cor-de-rosa que passava 
       Correndo lá do sul!
Quero dormir à sombra dos coqueiros, 
        As folhas por dossel; 
E ver se apanho a borboleta branca, 
        Que voa no vergel!
Quero sentar-me à beira do riacho 
        Das tardes ao cair, 
E sozinho cismando no crepúsculo 
        Os sonhos do porvir!
Se eu tenho de morrer na flor dos anos, 
        Meu Deus! não seja já; 
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, 
        A voz do sabiá!
Quero morrer cercado dos perfumes 
        Dum clima tropical, 
E sentir, expirando, as harmonias 
        Do meu berço natal!
Minha campa será entre as mangueiras, 
        Banhada do luar, 
E eu contente dormirei tranqüilo 
        À sombra do meu lar!
As cachoeiras chorarão sentidas 
        Porque cedo morri, 
E eu sonho no sepulcro os meus amores 
        Na terra onde nasci!
Se eu tenho de morrer na flor dos anos, 
        Meu Deus! não seja já; 
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, 
        Cantar o sabiá!

Casimiro José Marques de Abreu ( Barra de São João, Rio de Janeiro 4 de janeiro de 1839 - Nova Friburgo, Rio de Janeiro 18 de outubro de 1860) - Foi um dos poetas mais populares do Romantismo Brasileiro. Colaborou com as revistas O Espelho, Revista Popular, A Marmota e com o Jornal do Correio Mercantil. Foi escolhido por Teixeira de Melo para patrono da cadeira nº 6 da Academia Brasileira de Letras no momento de sua fundação. 

Polícia Federal desvenda nova forma de fraude em pareceres da União



Fernando Mello (Folha de S. Paulo)
Fraudes em pareceres técnicos de órgãos da União provocam prejuízos milionários ao erário, segundo documentos inéditos da Polícia Federal. A Operação Porto Seguro, que desarticulou um grupo acusado de vender pareceres do governo, não foi a única a demonstrar os desvios de recursos causados por documentos fraudulentos.
Relatório de outra investigação da Polícia Federal, a Perímetro, mostra que uma área de 344 hectares, cujo valor foi avaliado em R$ 380 milhões, seria liberada pela União para uma empresa privada após fraude em documentação. O terreno seria repassado a uma construtora.
Os peritos da PF descobriram que os laudos técnicos elaborados pela SPU (Secretaria de Patrimônio da União) eram irregulares. Por exemplo, a medição do terreno deveria ter sido feita para o lado esquerdo do terreno, mas os técnicos da União foram para o lado direito, aumentando o tamanho da terra e, com isso, o prejuízo.
A Polícia Federal chamou a perícia de “um fato incomum”. Segundo os peritos, a SPU passou a considerar referências diferentes na medição do terreno, o que propiciou um “plus agrário”.
A história remonta à construção de Brasília. Naquela época, foram medidos 1.807 hectares, e o governo pagou uma indenização pela terra à família dona do local.
Ocorre que a SPU fez novas medições em 2008 e concluiu que a área a ser desapropriada seria de 2.152 hectares. A SPU atribuiu a diferença a avanços tecnológicos. Ou seja, deveria ser devolvida uma área de 344 hectares ao espólio da família dona da terra.
A PF chamou a justificativa tecnológica de “falaciosa”. “Os presentes métodos de medições de terra são mais precisos. No entanto, o excesso não se dá pela melhoria dos métodos geodésicos, mas parte dele se dá pela alteração deliberada de limites”, escreveram os peritos.
De acordo com a PF, a SPU “executou uma demarcação de terras sem o formalismo necessário, eivada de vícios materiais graves”.
A PF viu “inovação artificiosa do estado do marco pertencente ao limite fundiário do imóvel”. O laudo 1.185 vai além. Afirma que os integrantes da comissão de demarcação da SPU não tinham “habilitação formal para os atos”.
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EX-DEPUTADA ENVOLVIDA
A Polícia Federal indiciou sete servidores públicos, entre funcionários da Secretaria de Patrimônio da União e da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap).
Uma das indiciadas foi a superintendente da Secretaria de Patrimônio da União do Distrito Federal, Lucia Helena de Carvalho, ex-deputada distrital pelo PT, sob acusação de formação de quadrilha e fraude processual. Apesar do indiciamento, ela permanece no cargo.
A SPU afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que não iria se pronunciar sobre o relatório da PF porque não teve acesso ao material.
Sobre a servidora Lúcia Helena de Carvalho, o órgão informou apenas que ela “continua exercendo sua função”. Lúcia Helena não respondeu aos contatos da reportagem.
A Companhia Imobiliária de Brasília afirmou que “toda a documentação emitida pela empresa e a atuação de seus empregados encontram-se rigorosamente de acordo com o que preceitua a lei”.

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