quarta-feira, 3 de outubro de 2012

CRÔNICA Cartas de Berlim: Gadgets para idosos são febre na Alemanha



Poucas coisas me impressionam tanto quanto a qualidade de vida que os idosos têm aqui na Alemanha. Imagino que nos países escandivanos deve ser bem melhor, mas não são deles que estou falando.
A qualidade de vida é algo que leva à longevidade. E a longevidade do alemão têm feito a festa da indústria em vários setores. Desde agências de viagens especializadas no público da “terceira dentição” (não me julguem, não fui eu que inventei esta expressão), até softwares especialmente pensados para eles.
São serviços todos dedicados às necessidades de um público que não está mais tão “fit” assim - o que é muito relativo, visto que eu fiz um teste dia desses em uma academia e descobriu-se que meu preparo físico é pior que de muitas senhoras que andam de patinete por aqui.
Uma das facetas mais interessantes deste boom é a grande gama de gadgets que estes senhores e senhoras podem adquirir para que sua vida seja ainda mais confortável, mesmo em meio a doenças e solidão – sempre ela. São aparelhos que facilitam o cotidiano e evitam “ajuda de estranhos” no dia-a-dia.
Numa tentativa de inspirar os fabricantes da indústria brasileira, queria comentar aqui sobre alguns destes super acessórios que fazem qualquer vida ficar mais digna.
Para começar, para quê evitar a escada e passar pelo stress de se mudar para um apartamento quando chegar na terceira idade se você pode adquirir o incrívelTreppenhilfe? Com este adereço instalado no seu corrimão, o céu é o limite. É só ligar o botão, sentar na cadeira e o mecanismo te leva trilho acima.
Se o objetivo for não abrir mão dos banhos de banheira, aqueles que muitas vezes acabam em queda, você dispõe de uma série de engenhocas fáceis de instalar. O mais interessante deles é o Badenlifte, uma espécie de mini elevador para a banheira, composto de travesseiros empilhados que murcham para entrar na banheira, e inflam para ajudar a sair. Genial.
Há também a opção de banheiras com portinha, banheiras para ficar sentado e outros tipos de elevadores mais refinados e techs. Contudo, paga-se o olho da cara por esses produtos. Mas, se você realmente for alemão, se preparou financeiramente para esse momento de sua vida.
Mas o mais incrível – e popular! - dos gadgets, na minha opinião, é o Rollator: um andador cheio de recursos, como freio e banco acoplado. Em uma pesquisa informal, foi constatado que é desejo dos consumidores de faixa etária avançada que o fabricante crie um apoio de Tablet para o Rollator.


Com tantos gadgets em uma era de gadgets e até Senioren apps para Tablets, não dá mesmo para lamentar a velhice na Alemanha.

Tamine Maklouf é jornalista e ilustradora nas horas vagas. Mora na Alemanha desde agosto de 2009, onde se encontra na “ponte terrestre” Dresden-Berlim. De lá, mantém o blog www.diekarambolage.wordpress.com

HUMOR A Charge do Amarildo



7 motivos para amar uma cidade, por Ruth de Aquino



Ruth de Aquino, ÉPOCA
O que é uma cidade? Não existe definição ideal. A cidade sou eu, é você. Se é o lugar onde se dorme, acorda, trabalha, caminha e trafega, onde se ama, briga e morre, a cidade é bem mais que um amontoado de concreto e verde – é uma experiência de bem-estar ou mal-estar. Alguns se tornam reféns de sua cidade, sequestrados por circunstâncias profissionais, financeiras e familiares. Alguns vivem onde desejam. É aí que os defeitos da cidade incomodam como traições de mulher amada. Só nós podemos criticar – forasteiros não.
Cito dois pensadores visionários de cidades. Um é o inglês Ebenezer Howard (1850-1928), autor de Cidades-jardins de amanhã, em 1898. No século XIX, ele já se preocupava com ar fresco, água, superpopulação e migração do campo. Criou modelos de cidades utópicas, com vantagens urbanas e suburbanas, que significavam “uma nova esperança, uma nova vida, uma nova civilização”. Howard perguntava: “Para onde as pessoas irão?”. Uma questão mais atual que nunca.
Outro pensador é o americano Lewis Mumford (1895-1990), que publicou em 1961 A cidade na história. Seus maiores medos eram o império do automóvel e a megalópole. Para Mumford, a cidade gigante ameaçava a saúde, a dignidade, os valores comunitários, ambientais e espirituais da população. “Antigamente”, dizia ele, “a cidade era o mundo, hoje o mundo é uma cidade”.
Para esta edição especial de ÉPOCA, dedicada às cidades, busquei um professor apaixonado pelo centro urbano em seu sentido ancestral – servir o homem. O arquiteto e urbanista premiado Luiz Carlos Toledo listou “7 motivos para amar uma cidade”:
1. Amo as cidades que sabem se reinventar, como o Rio de Janeiro, que deixou de ser a sede tropical da corte portuguesa, capital do império e da república e, graças a Deus, capital cultural do Brasil, título careta e equivocado num país cuja diversidade cultural não respeita território e dispensa uma capital.
O Rio soube transformar uma decadente Lapa em polo de atração capaz de arrancar os jovens da Barra da Tijuca de seus condomínios para se divertir com outros jovens, do resto da cidade, nas rodas de samba e chorinho. Soube resgatar o carnaval de rua, fazendo do Centro e de cada bairro passarelas tão ou mais atraentes que o Sambódromo globalizado.
2. Amo as cidades que têm esquinas e, principalmente, quando ocupadas por padarias e botequins, para a gente ouvir pela manhã o balconista gritar: “Salta uma média no copo e um pão na chapa”. À noite, na volta para casa, uma rápida parada no boteco predileto, jogando conversa fora com um cara que você nunca viu antes, ouvimos deliciados e com sotaque lusitano: “Salta uma gelada que o freguês tem pressa”.
Leia a íntegra em 7 motivos para amar uma cidade

Arcos da Lapa, Centro, Rio

Os Nabis: Zéfiro transportando Psiché para a Ilha das Delícias (1908)


OBRA-PRIMA DO DIA - PINTURA


Os Nabis não se dedicaram apenas à pintura. Na verdade, seu maior interesse era o design. O estilo do grupo corria paralelo ao movimento art nouveau, e ambos tinham laços com o Simbolismo. Mas além da pintura e escultura, eles se dedicaram à impressão em papel, madeira ou tecido, ao desenho de cartazes, à ilustração de livros, a criar estampas para têxteis, à arte de criar móveis e à cenografia.
Eles se viam como “iniciados” e usavam um vocabulário particular. Chamavam um estúdio de “ergasterium” e terminavam suas cartas com as letras “E.T.P.M.V. et M.P.” que significavam "En ta paume, mon verbe et ma paume" (‘Na palma de tua mão, minha palavra e minha palma’, ou seja, minha confiança).
Maurice Denis era um dos Nabis. Depois que o grupo se dissolveu fez carreira independente e de sucesso. 
Autor de "As Teorias”, anotações de 1920 a 1922, Denis recapitula as intenções dos Nabis, mesmo depois delas já terem sido superadas pelos fauvistas e pelo cubismo. A mais célebre é a que diz ser a pintura “uma superfície plana coberta por cores reunidas numa certa ordem”, o que agradava em cheio aos modernistas.


Denis nasceu em novembro de 1870, numa cidade costeira, na Normandia. As águas e os temas bíblicos seriam sempre seus assuntos favoritos. Para um homem tão envolvido com o movimento avant-garde, Denis tinha convicções religiosas profundas, que nunca abandonou.
Num de seus cadernos, quando estava com 15 anos, ele escreveu: "Sim, é necessário que eu seja um pintor cristão, que eu celebre todos os milagres da Cristandade, sinto que isso é necessário”.
Denis, após a dissolução do grupo Nabis, dedicou-se a pintar murais e figuras religiosas. Em 1922, publicou “Novas teorias sobre a arte moderna e sobre a arte sacra”.
Na maturidade seus trabalhos incluíram muitas paisagens e retratos, especialmente de mães e filhos.
Mas os temas religiosos continuaram a ser seu maior interesse, como se pode constatar em “A dignidade do trabalho”, de 1931, encomenda da Federação dos Trabalhadores Cristãos para decorar a escadaria principal do Centro William Rappard.
Casado com Marthe, com quem teve sete filhos, enviuvou e dois anos depois se casou com Elizabeth, com quem teve mais dois filhos. Morreu em Paris, de ferimentos resultantes de um acidente automobilístico, em novembro de 1943.
Óleo sobre tela, de 1908, painel n° 2 sobre a História de Psiché, 395 x 267,5 cm.

Acervo Museu Hermitage, São Petersburgo