quinta-feira, 15 de maio de 2014

O STF foi 100% com Lula


Foi bom ele ter deixado claro: o mensalão foi 80% político. Com número não se brinca mesmo

GUILHERME FIUZA
15/05/2014 08h35

Lula disse que o julgamento do mensalão foi 80% político. É bom mesmo deixar esses percentuais bem claros. Com número não se brinca. É por isso que o governo popular está numa fase especialmente zelosa com as estatísticas. O IBGE está levando um banho de loja do PT. Logo antes da Copa, divulgará um novo cálculo do PIB, esse índice neoliberal de direita que vive contrariando os companheiros. O novo PIB se juntará aos novos indicadores de emprego e renda – após a intervenção do governo nas pesquisas nacionais contínuas, que revoltou e paralisou os técnicos do IBGE. São uns burgueses alienados. Não percebem que, de roupa nova (e estrelinha no peito), o IBGE ficará 80% mais bonito.




É importante o esclarecimento de Lula aos brasileiros sobre o que se passou no Supremo Tribunal Federal (STF), com os percentuais exatos. Até então, só se sabia que os ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli eram 100% petistas. E que o ministro Luís Roberto Barroso tinha usado 110% de seus poderes mágicos para fazer sumir a quadrilha que roubou o Brasil.
O esquema conduzido pela santíssima trindade Dirceu-Delúbio-Valério, alinhando de dentro do Palácio do Planalto os cofres de estatais e bancos privados à bocarra do partido do presidente da República, não foi obra de uma quadrilha. Os manifestantes da Primavera Brasileira que engoliram essa decisão sentadinhos no sofá de casa são cerca de 98% trouxas (com margem de erro de 2 pontos para mais ou para menos, dependendo de quantos deles tenham sido gratificados pelo comitê central).
O guru brasileiro do socialismo privado fala do mensalão na hora certa. As eleições estão chegando, e ainda por cima com o crescimento – agora explícito – do “volta, Lula”. É importante lembrar que, depois do mensalão, o PT ganhou duas eleições presidenciais nas barbas do STF, que passou sete anos sentado em cima do processo – mantendo o escândalo 80% abafado e 20% inofensivo. É o momento de desdentar a corte suprema de novo, até porque Lula disse a Dirceu “estamos juntos”, no instante em que o parceiro foi preso. O eleitor precisa sublimar essa prisão. Do contrário, em vez de mandar Lula para o Planalto, pode querer mandá-lo para a Papuda.
A elite golpista está chateando com essa história de investigar telefonemas da Papuda para o Planalto. Por que isso? Para que investigar se há uma linha direta entre o presídio e o Palácio? Lula não disse que está junto com o prisioneiro Dirceu? A companheira presidenta não cerrou o punho para o alto num congresso do PT, em desagravo aos heróis encarcerados? O governador petista do Distrito Federal não virou frequentador da Papuda para despachar com Dirceu, dando beijinho no ombro para os privilégios dos mensaleiros? Se alguém ainda tem dúvida de quem manda em quem, e quem obedece a quem nessa história, não haverá grampo da Polícia Federal que resolva. Os companheiros dirão que as escutas foram 80% políticas, e tudo bem.
O interessante nessas horas é admirar a coesão do time. E entender para que serve um ministro da Justiça. Você pode achar que José Eduardo Cardozo é uma figura meio sumida na paisagem do faroeste brasileiro, mas é engano seu. Nas horas cruciais, ele sempre aparece. Quando foram proferidas as penas dos mensaleiros, declarou que preferia morrer a ficar preso no Brasil. De bate-pronto, foi citado no STF por Dias Toffoli, numa incrível jogada ensaiada para tentar atenuar as penas da quadrilha (depois extinta pelo Tribunal).
Agora, com a farra da Papuda, Cardozo emergiu novamente. Afirmou que não acha legítimo investigar as possíveis ligações telefônicas entre o Planalto e o gabinete de Dirceu na Papuda. Cardozo acha que os indícios não são suficientes para abrir uma investigação. A pergunta é: por que o ministro da Justiça tem de achar alguma coisa sobre esse assunto, se considera a matéria sem consistência? Como diria o rei Juan Carlos: por que não te calas?
Cardozo não se cala porque, como todo petista que ocupa um cargo público, tem de prestar 80% de serviço ao partido. Os outros 20%, é só pedir com jeitinho ao novo IBGE, que ele libera

Professores, acordem! - GUSTAVO IOSCHPE


REVISTA VEJA

Normalmente escrevo esta coluna pensando nos leitores que nada têm a ver com o setor educacional. Faço isso, em primeiro lugar, porque creio que a educação brasileira só vai avançar (e com ela o Brasil) quando houver demanda pública por melhorias. E, segundo, porque nos últimos anos tenho chegado à conclusão de que falar com o professor médio brasileiro, na esperança de trazer algum conhecimento que o leve a melhorar seu desempenho, é mais inútil do que o proverbial pente para careca. Não deve haver, nos 510 milhões de quilômetros quadrados deste nosso planeta solitário, um grupo mais obstinado em ignorar a realidade que o dos professores brasileiros. O discurso é sempre o mesmo: o professor é um herói, um sacerdote abnegado da construção de um mundo melhor, mal pago, desvalorizado, abandonado pela sociedade e pelos governantes, que faz o melhor possível com o pouco que recebe. Hoje faço minha última tentativa de falar aos nossos mestres. E, dado o grau de autoengano em que vivem, eu o farei sem firulas.

Caros professores: vocês se meteram em uma enrascada. Há décadas, as lideranças de vocês vêm construindo um discurso de vitimização. A imagem que vocês vendem não é a de profissionais competentes e comprometidos, mas a de coitadinhos, estropiados e maltratados. E vocês venceram: a população brasileira está do seu lado, comprou essa imagem (nada seduz mais a alma brasileira do que um coitado, afinal). Quando vocês fazem greve – mesmo a mais disparatada e interminável –, os pais de alunos não ficam bravos por pagar impostos a profissionais que deixam seus filhos na mão; pelo contrário, apoiam a causa de vocês. É uma vitória quase inacreditável. Mas prestem atenção: essa é uma vitória de Pirro. Porque nos últimos anos essa imagem de desalento fez com que aumentassem muito os recursos que vão para vocês, sem a exigência de alguma contrapartida da sua parte. Recentemente destinamos os royalties do pré-sal a vocês, e, em breve, quando o Plano Nacional de Educação que transita no Congresso for aprovado, seremos o único país do mundo, exceto Cuba, em que se gastam 10% do PIB em educação (aos filocubanos, saibam que o salário de um professor lá é de aproximadamente 28 dólares por mês. Isso mesmo, 28 dólares. Os 10% cubanos se devem à falta de PIB, não a um volume de investimento significativo).

Quando um custo é pequeno, ninguém se importa muito com o resultado. Quando as coisas vão bem, ninguém fica muito preocupado em cortar despesas. E, quando a área é de pouca importância, a pressão pelo desempenho é pequena. No passado recente, tudo isso era verdade sobre a educação brasileira. Éramos um país agrícola em um mundo industrial; a qualificação de nossa gente não era um elemento indispensável e o país crescia bem. Mas isso mudou. O tempo das vacas gordas já era, e a educação passou a ser prioridade inadiável na era do conhecimento. Nesse cenário, a chance de que se continue atirando dinheiro no sistema educacional sem haver nenhuma melhora, a longo prazo, é zero.

Vocês foram gananciosos demais. Os 10% do PIB e os royalties do pré-sal serão a danação de vocês. Porque, quando essa enxurrada de dinheiro começar a entrar e nossa educação continuar um desastre, até os pais de alunos de escola pública vão entender o que hoje só os estudiosos da área sabem: que não há relação entre valor investido em educação – entre eles o salário de professor – e o aprendizado dos alunos. Aí esses pais, e a mídia, vão finalmente querer entrar nas escolas para entender como é possível investirmos tanto e colhermos tão pouco. Vão descobrir que a escola brasileira é uma farsa, um depósito de crianças. Verão a quantidade abismal de professores que faltam ao trabalho, que não prescrevem nem corrigem dever de casa, que passam o tempo de aula lendo jornal ou em rede social ou, no melhor dos casos, enchendo o quadro-negro de conteúdo para aluno copiar, como se isso fosse aula. E então vocês serão cobrados. Muito cobrados. Mas, como terão passado décadas apenas pedindo mais, em vez de buscar qualificação, não conseguirão entregar.

Quando isso acontecer, não esperem a ajuda dos atuais defensores de vocês, como políticos de esquerda, dirigentes de ONGs da área e alguns "intelectuais". Sei que em declarações públicas esse pessoal faz juras de amor a vocês. Mas, quando as luzes se apagam e as câmeras param de filmar, eles dizem cobras e lagartos.

Existem muitas coisas que vocês precisarão fazer, na prática, para melhorar a qualidade do ensino, e sobre elas já discorri em alguns livros e artigos aqui. Antes delas, seria bom começarem a remover as barreiras mentais que geram um discurso ilógico e atravancam o progresso. Primeira: se vocês são vítimas que não têm culpa de nada, também não poderão ser os protagonistas que terão responsabilidade pelo sucesso. Se são objetos do processo quando ele dá errado, não poderão ser sujeitos quando ele começar a dar certo. Se vocês querem ser importantes na vitória, precisam assimilar o seu papel na derrota.

Segunda: vocês não podem menosprezar a ciência e os achados da literatura empírica sempre que, como na questão dos salários, eles forem contrários aos interesses de vocês. Ou vocês acreditam em ciência, ou não acreditam. E, se não acreditam – se o que vale é experiência pessoal ou achismo –, então vocês são absolutamente dispensáveis, e podemos escolher na rua qualquer pessoa dotada de bom-senso para cuidar da nossa educação. Vocês são os guardiães e retransmissores do conhecimento acumulado ao longo da história da humanidade. Menosprezar ou relativizar esse conhecimento é cavar a própria cova.

Terceira: parem de vedar a participação de terceiros no debate educacional. É inconsistente com o que vocês mesmos dizem: que o problema da educação brasileira é de falta de envolvimento da sociedade. Quando a sociedade quer participar, vocês precisam encorajá-la, não dizer que só quem vive a rotina de "cuspe e giz" é que pode opinar. Até porque, se cada área só puder ser discutida por quem a pratica, vocês terão de deixar a determinação de salários e investimentos nas mãos de economistas. Acho que não gostarão do resultado...

Quarta: abandonem essa obsessão por salários. Ela está impedindo que vocês vejam todos os outros problemas – seus e dos outros. O discurso sobre salários é inconsistente. Se o aumento de salário melhorar o desempenho, significa que ou vocês estavam desmotivados (o que não casa com o discurso de abnegados tirando leite de pedra) ou que é preciso atrair pessoas de outro perfil para a profissão (o que equivale a dizer que vocês são inúteis irrecuperáveis).

O respeito da sociedade não virá quando vocês tiverem um contracheque mais gordo. Virá se vocês começarem a notar suas próprias carências e lutarem para saná-las, dando ao país o que esperamos de vocês: educação de qualidade para nossos filhos.

O silêncio dos nada inocentes - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 13/05

Calmaria na finança nada diz sobre o Brasil 'dois por meia dúzia' (cresce 2% com inflação de 6%)


O LEITOR, QUE é perspicaz, terá notado a falta de más notícias do mundo exterior. Isto é, de notícias de invasões bárbaras dos povos do mercado lá de fora. O fim do mundo parecia próximo em fevereiro, pelo menos a julgar pelas arruaças que os donos do dinheiro grosso promoviam em países "emergentes", como nós. Na falta de especulações negativas e demenciais, o clima parece ter despiorado até por aqui, pelo menos na finança.

A calmaria é suspeita, claro. Está bom demais para ser verdade. As Bolsas mundiais estão no nível mais alto desde 2007 (se medidas pelo índice MSCI All Country World, do Morgan Stanley). O Dow Jones da Bolsa de Nova York está em nível recorde, o S&P 500 pertinho disso. O preço das commodities (matériasprimas e agropecuários cotados em Bolsas de Valores) voltou a subir animadamente.

Não há "fundamento", motivo econômico "real", "crescimento sustentável", para tanta animação (como se fosse necessário, claro. Mas essa era a ideia original da coisa).

Por ora, os povos dos mercados descartam alta de juros nos Estados Unidos, hipótese altista que deu início à série de tumultos vistos entre maio de 2013 e fevereiro de 2014.

Há ainda mais dinheiro sobrando no mundo. Os negócios com abertura de capital (venda inicial de ações de uma empresa, "IPOs") não estavam tão aquecidos desde 2010.

Isso tudo nos contamina. Uma parte da dinheirama pinga aqui, atraída de resto pela nossa maquiagem vistosa, taxas de juros indecentes de altas e um câmbio administrado pelo Banco Central, para nem mencionar os preços de liquidação a que chegaram ações e títulos de dívida brasileiros no tumulto do início do ano.

Então, provisoriamente e de público, os povos dos mercados param de matraquear sobre o fato de o Brasil ser "frágil", embora, para o bem ou para o mal, estejamos na mesma desde o ano passado.

Essa conjunção de maluquices e oportunidades de ganho gordo leva o dólar a R$ 2,21, barato demais para o nosso estado de coisas.

Uma especulação doida adicional, a da hipótese de derrota de Dilma Rousseff, por ora muito incerta, dá uma forcinha ao real e uma vitaminada impressionante no preço das ações, de estatais e da Petrobras em particular.

As empresas brasileiras grandes e boas aproveitam os dias de tempo bom e pegam mais dinheiro emprestado lá fora, a bom preço, dobrando a quantidade de "captações" em relação ao ano passado.

"Na real", continuamos a definhar de modo lento, gradual e seguro. As vendas nos supermercados perdem força, há recessão nas montadoras, a indústria encolheu no trimestre, menos gente trabalha nas grandes metrópoles, a confiança de consumidores e empresários cai ao nível do feio 2009. Dólar mais barato, tabelamentos informais de preços e juros outra vez indecentes seguram a inflação abaixo de 7%.

O Brasil não vai "explodir", como diz a presidente Dilma. Vai dar chabu.

Nada trágico, fundamentalmente nada de novo desde 2012, quando o Brasil entrava num esquema "dois por meia dúzia" (crescimento de 2% com inflação de 6%).

A calmaria não deveria nos iludir. É parte do ciclo de transtorno multipolar dos "mercados".

Ansiedade em vão - MARTHA MEDEIROS


ZERO HORA - 14/05


Não conhecia o Iago, o rapaz que entrou na contramão na ponte do Guaíba e percebeu tarde demais que o vão estava levantado. Ele não conseguiu frear a tempo, caiu e abreviou sua vida por causa de uma aflição.

Não sei detalhes da história, a não ser que ele estava atrasado e que não conhecia bem os meandros de entrada e saída de Porto Alegre. Tinha um carro na mão, um relógio fazendo tic-tac e uma entrevista marcada, e já passava da hora: quem tem o mínimo de responsabilidade sabe que compromissos existem para serem cumpridos.

Uma das razões de o Brasil ser essa bagunça colossal é que a palavra compromisso, para a maioria, não tem o menor valor.

Para Iago, tinha. Mas até onde devemos sucumbir ao desatino? Se o plano inicial começou errado, melhor não emendar com novos erros. Um atraso normalmente acarreta excesso de velocidade, estacionar em local proibido, estresse, e tudo isso para quê? No caso do garoto, o desespero resultou numa fatalidade.

Mais vale aceitar nossos vacilos sem buscar uma correção afobada. Falhou, está falhado. Respire fundo e vá tomar um café. Celular também existe para isso: “Não consegui chegar, desculpe”.

Claro que ele não cogitou morrer. Pensou no máximo na perda de emprego, de oportunidade, de promoção, de seja o que for que a entrevista significasse. Ele apenas quis correr atrás do prejuízo. E no caminho não viu as placas de sinalização, todas de costas para ele.

A aflição é como um sol traidor, aquele que bate de frente e te cega.

Para muitos, foi apenas um acidente com características incomuns. Para mim, foi um aviso: não vale a pena sacrificar a vida pelo bom-mocismo.

Já fiz o que ele fez. Já me perdi por ansiedade, já me senti devedora por não cumprir o combinado, já tentei consertar estragos numa tentativa presunçosa de extirpar o erro da minha biografia. Ora, um erro ou outro, o que é que tem? Aquele que não se permite uns desacertos se desumaniza pela insistência em ser perfeito.

Pressupondo que eu esteja certa a respeito da angústia do Iago, ela me fez sentir total empatia com a situação dele. Naqueles segundos finais antes de cair da ponte, ele deve ter pensado: “O que fui fazer!”. Está feito. Mas ficou o recado: sejamos todos mais atentos, porém menos ansiosos. A ansiedade não serve para nada, ela apenas faz com que tentemos superar a nós mesmos. “Superar a nós mesmos” é uma bonita frase de efeito, mas induz a uma competição besta: o vencedor e o perdedor são a mesma pessoa. 

Humilhação coletiva no país da Copa - VIVIAN CALDERONI E FLAVIO SIQUEIRA JR.


GAZETA DO POVO - PR - 15/05

No mesmo país em que alguns aguardam com ansiedade pela realização de grandes eventos esportivos, 1,5 milhão de pessoas espera desde o fim da madrugada para ingressar em uma repartição pública. Quando chega a sua vez, são obrigadas a retirar, peça por peça, a roupa que vestem. Já nuas, mostram suas partes íntimas a funcionários públicos, agacham três vezes sobre um espelho, contraem os músculos. Nada passa sem ser inspecionado. Quem é aprovado no processo, ganha, como prêmio de consolação, o direito de entrar.

Pode parecer uma cena de filme surrealista, mas não é: todas as semanas, esses brasileiros e brasileiras abdicam da própria dignidade para acessar uma repartição pública. E por que alguém se sujeitaria a isso? Ocorre que essa repartição abriga mais de 500 mil presos, acusados ou condenados de terem cometido crimes. É o sistema prisional brasileiro.

O martírio acomete qualquer um que queira visitar o familiar que está do lado de lá das grades. Até mesmo crianças, idosos e gestantes passam pelo procedimento medieval conhecido como revista vexatória.

Para as autoridades, a manutenção da segurança das unidades justifica a humilhação coletiva. Dados apresentados pela Rede Justiça Criminal, baseados em documentos oficiais do governo paulista, revelam a fragilidade do argumento: em apenas 0,03% das revistas são encontrados objetos proibidos, ou seja, três casos a cada 10 mil revistas.

Além de inócuas, as revistas vexatórias têm como cruel consequência a redução no número de visitas, já que os próprios presos não querem submeter suas mães, esposas e filhos ao procedimento. O Estado, assim, coloca em risco os laços afetivos das pessoas sob sua custódia e mina suas chances de reintegração na sociedade.

De acordo com a ONU, as revistas vexatórias devem ser proibidas por constituírem maus-tratos e podem ser até consideradas tortura, dependendo da forma como são praticadas. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos também já condenou o procedimento, assim como a Corte Europeia de Direitos Humanos.

Não precisamos nos apegar ao que dizem os organismos internacionais, no entanto, para saber que a revista vexatória deve deixar de existir. A própria Constituição já a proíbe, ao garantir a dignidade humana e a inviolabilidade da intimidade como direitos fundamentais.

A Rede Justiça Criminal, em parceria com o Núcleo Especializado de Situação Carcerária da Defensoria Pública de São Paulo, lançou uma campanha nacional para pôr fim à revista vexatória no país. Aos incrédulos, é bom destacar que os estados de Goiás e Espírito Santo, assim como as cidades de Joinville (SC) e Recife (PE), já proibiram esse tipo de revista. Não se registraram aumentos na insegurança em suas unidades prisionais.

É necessário acabar com essa prática cruel no país que, se de um lado anuncia com pompa a Copa das Copas, do outro humilha mulheres, crianças e idosas todos os dias, apenas por serem familiares de presos.

PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA - Tristeza não é Depressão


CARLOS VIEIRA
“Minha funda tristeza, minha tristeza/ de todos os momentos, disse: queres casar comigo?/ Hoje estás tão esquiva e tão vulgar,/ tão quotidiana, tão humana/ minha pobre tristeza./ Ouve: quero beijar-te/ toda; beijar-te dos pés à cabeça,/ doidamente, num arrepio./ E possuir o teu pequenino corpo,/ teu frágil e pequenino corpo,/ onde se esconde uma alma tiritante de frio.
Minha tristeza de porcelana,/ és como um vaso chinez, onde floresce, longo,/ o lyrio artificial da minha dor./ Se alguém te esphacellasse/ se alguém, um pobre alguém, te apertasse entre os dedos,/ e eu te perdesse/ que seria de mim?/ Não tenho o luxo dos prazeres ricos,/ não tenho o dinheiro que é preciso/ para vestir a minha alma um pyjama de seda/ com que ella passaria o seu tédio na alameda.
Vazia e branca da minha vida./ Vê: eu só tenho dois olhos/ para te olhar, minha tristeza;/ só tenho uma boca/ para te beijar, minha tristeza;/ só tenho duas mãos/ para apertar as tuas mãos.”
Poema de Carlos Drummond de Andrade – “Minha tristeza de Porcelana”
*usei a grafia publicada em “Os  25Poemas da TristeAlegria”, Ed. CosacNaif, 2012.
Numa depressão, a pessoa fica impedida de pensar sobre o próprio estado mental, a pessoa fica sem condições de tirar algum proveito dos seus pensamentos e sentimentos. Na depressão, tudo parece estar desinvestido, não há força física nem psíquica para se ligar às pessoas e aos afazeres da vida quotidiana. O depressivo fica enredado por seus sentimentos pessimistas, falta de perspectiva e descrença, perda da ideia de futuro, sentimento de ruína e às vezes, desespero.
Na tristeza a pessoa está desanimada, triste mesmo, por alguma perda, por algum fato que a desapontou mas há mais integração. A tristeza é um estado cinzento, não entra a angústia demasiada, o desespero, a ideia de ruína e até de suicídio. A tristeza está em alguém enlutado, saudoso, carente de alguma coisa, desamado e solitário. A sua solidão ainda que sofrida, pode ser sentida, pode ser acompanhada de pensamentos a respeito da experiência que se está vivendo. Sente-se triste em ser finito, triste por se sentir abandonado, triste pela tristeza do outro querido, triste por não poder ajudar, por ser limitado, por sentir em sua própria pele psíquica que onipotência é uma fantasia. Tristeza pela pobreza, pelo pão que pessoas nesse nosso Brasil não tem para comer; triste pela evidencia de que a sociedade perdeu a noção de solidariedade, comunidade, humanidade. Mais triste ainda pelo desamparo nas expectativas de uma nação mais justa, com direitos humanos não atendidos, pela mentira, pelo cinismo, pela corrupção. Triste por não acreditar na classe política, na capacidade da Justiça funcionar diante da impunidade. Triste pelos dias atuais, pela animalidade do ser humano, pela violência desvairada contra os semelhantes, com os preconceitos, com a marca, cada dia mais real, de que o mundo se divide numa minoria muito rica e uma maioria muito necessitada: a distribuição de renda nos quatro cantos do mundo é imoral, cada dia mais desnivelada. No entanto, apesar disso tudo, necessariamente essa tristeza pode em algumas pessoas não se transformar em depressão.
Vamos ao poema do nosso Drummond:  o poema descreve de uma maneira singela, lírica e meticulosa, a experiência da Tristeza. Longe de adentrar numa crítica literária mais profunda, o que me chama mais a atenção nesse belo poema do Itabirano é a  capacidade de acolhimento à tristeza. A tristeza não é um desespero, uma loucura desvairada – “minha tristeza de porcelana,/ és como uma vazo chinez, onde florece, longo/ o lyrio artificial da minha dor.”
Drummond sabe que a experiência emocional é frágil, mas acredita que possa ser elaborada numa situação mais integrada, que possa advir, ainda que dentro da dor, um “lyrio”, algo sublimado, criativo. No decorrer de todo o poema fica claro uma coisa: a metáfora do feminino, um feminino que mostra como se acolhe uma mulher. Vive-se uma experiência de “sofrença”, pois todos os órgãos dos sentidos, tanto físicos quanto os da alma, aceitam o tristemente como algo tolerável, suportável, humano, fazendo parte da vida como algo inevitável.  Drummond sabe o que é ser triste, “brinca” com a tristeza, e faz do seu vazio um belo poema. A tristeza não se pode perder, é algo intrínseco, mas nem sempre acolhido. O movimento imediato da mente  é querer se livrar da experiência de estar triste. Nós nunca fomos educados para acatar, acolher, não ter medo de sentimentos ditos estranhos e “ruins”, como estar triste, ter ódio, por exemplo. O poeta ensina que existem recursos para suportar o sofrimento sem necessariamente enlouquecer. Aliás, é bom que se frise que a mente não é tão fraquinha quanto muitas pessoas pensam. Temos recursos em estado de poupança, a questão é que temos preguiça mental de se dedicar ao trabalho de elaboração dos nossos conflitos inevitáveis.
Carlos de Almeida Vieira - psicanalista e psiquiatra.

OS MEDOS - Cúpula do PT traçou a 'estratégia do medo'


O GLOBO - GERMANO OLIVEIRA e TATIANA FARAH
"Propaganda foi vista previamente por Lula e Dilma; partido fará pesquisas para checar se tática deu certo"
SÃO PAULO e brasília Foi em conversas com a alta cúpula petista, que inclui o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da sigla, Rui Falcão, e o ex-ministro Franklin Martins, que o marqueteiro João Santana teve a ideia do vídeo "Fantasmas do passado", que gerou polêmica por criar um clima de medo nos eleitores. Falcão conversou com integrantes da direção do PT no encontro nacional do partido, há 15 dias, em São Paulo, entre eles José Américo Dias, secretário nacional de Comunicação, e o deputado José Guimarães (CE), vice-presidente do partido. Eles traçaram as linhas gerais do que pretendiam e as repassaram para Santana, que criou a peça publicitária.
A propaganda foi vista previamente por Rui, Lula e pela presidente Dilma Rousseff. Dirigentes explicam que, apesar da confiança em João Santana, é regra no PT que todas peças sejam aprovadas por esse núcleo.
— Antes de ir ao ar, a campanha foi passada para todos eles por e-mail e causou grande impacto. Mostra a linha da nossa campanha: comparar o que foi feito por Fernando Henrique Cardoso e as conquistas obtidas nos governo Lula e Dilma. Não é a exploração do preconceito que foi feita pelo PSDB em 2002, mas compara as conquistas dos governos FH e do PT — disse Dias.
Ontem, Falcão negou que a propaganda seja apelativa e instaure medo:
— Terrorismo é querer acabar com a valorização do salário mínimo, com os juros subsidiados, é dizer que vão baixar a inflação por decreto. Acho surpreendente que tenham vestido a carapuça — disse o petista.
A partir de hoje, o PT começa a testar nas ruas, com pesquisas cujos resultados serão divulgados internamente, se a estratégia deu certo. Na propaganda de um minuto, apresentada nas inserções gratuitas de TV, personagens são confrontados com suas imagens de um suposto passado. De terno, um trabalhador se vê desempregado. Uma adolescente se vê moradora de rua. O narrador diz que não se pode voltar atrás.
Guimarães disse que a peça é resultado da "construção política do PT":
— Vamos usar essa linha neste momento inicial da campanha eleitoral. O vídeo tocou muito a militância do partido. Estamos virando o jogo, que começou com o discurso de Dilma no 1º de Maio e culminou com o encontro do PT em São Paulo, no qual o "Volta, Lula" foi sepultado.
Essas ações já haviam sido antecipadas por Falcão no documento "Tática eleitoral e política de alianças" elaborado por ele e aprovado no encontro nacional, em São Paulo há 15 dias. No item 12 do documento, o PT diz que o "primeiro desafio político da campanha é articular a defesa das grandes conquistas obtidas pelo povo brasileiro durante os governo Lula e Dilma com a proposta de um novo ciclo de desenvolvimento e inclusão, que amplie a aprofunde os avanços anteriores".
Reação de campos surpreende
No Planalto, a surpresa ficou por conta da reação do ex-governador Eduardo Campos, pré-candidato do PSB à Presidência e ex-aliado do PT, pois o recado não era para ele, e sim para o tucano Aécio Neves, também pré-candidato à Presidência. A estratégia do PT é polarizar o debate político com Aécio, e não com Campos, e mostrar a diferença entre os dois projetos de governo.
A socióloga Vera Chaia, do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC-SP, explica que a "estratégia do medo" é uma constante nas campanhas eleitorais e foi usada pelo PT em outras eleições, como em 2006, quando a sigla disse que havia risco, em caso de vitória de Geraldo Alckmin (PSDB), de se retomar o programa de privatizações e acabar com o Bolsa Família.
— O medo é uma moeda forte nas campanha porque mexe com as emoções do eleitor. Em 2002, quando o PSDB mostrou Regina Duarte dizendo que tinha medo e foi dito que Lula fecharia as igrejas evangélicas, o PT fez um trabalho fantástico em termos de estratégia, até na definição do candidato a vice-presidente, José Alencar, que era religioso. Fez a "Carta aos brasileiros" e tomou outras medidas.
Autora do estudo "Eleições no Brasil: o medo como estratégia política", Vera explica que os partidos trabalham com esse sentimento também nos subterrâneos das campanhas, quando apontam que o adversário pode tomar atitudes contrárias aos princípios do eleitorado.
O vídeo é o mais compartilhado da página do PT no Facebook. Até ontem à noite, eram mais de 8.700 compartilhamentos e 3.600 curtidas. Os comentários, porém, estavam divididos: entre os que são a favor, o tom era de euforia; mas houve também uma chuva de críticas. A avaliação no Youtube é negativa: dos 930 que avaliaram o vídeo, 660 não gostaram, e 270 aprovaram.
Publicado no Globo de hoje. Colaborou Luiza Damé.

Cartas de Nova Iorque: Espaço pessoal, por Luisa Leme


Manhattan, a região principal das cinco nova-iorquinas, tem quase 22 quilômetros de comprimento e um pouco menos que quatro de largura. A ilha não é muito grande e tem a maior densidade de todos os condados no país, quase 26 mil pessoas por quilômetro quadrado. A maioria dos 8.3 milhões de habitantes de Nova Iorque se espreme por lá diariamente.
A falta de espaço faz com que as pessoas dividam não só o metrô, ônibus, filas em farmácias e mesas em restaurantes. Quem vive aqui acaba dividindo momentos com estranhos, pela falta do que os americanos chamam de “personal space”. Em Nova Iorque, a gente chora em público.
A primeira vez que acontece é muito estranho. Os olhos molhados embaçam a visão da gente, que não consegue reconhecer quem nos olha, com curiosidade, pena, ou indiferença. Depois, uma vergonha repentina invade, e a tentativa de esconder a vulnerabilidade numa cidade tão agressiva e dura faz com que o corpo pare de se mexer. Ficamos imóveis, com vontade de que ninguém nos perceba. Olhos baixos, lenço nas mãos.
Depois que isso acontece algumas vezes a situação e a falta de ter um canto para ficar sozinho se torna parte de morar na cidade. A vergonha passa. Nova Iorque, depois de um tempo, dá segurança e proporciona que as pessoas exibam sua identidade. Veteranos choram e olham nos olhos de quem assiste.
E o orgulho de viver algo forte e chorar sem timidez, ou a vontade de sumir durante um momento de emoção, são respeitados.


Quando choramos em Nova Iorque, as pessoas que estão tão perto e ao mesmo tempo são tão estranhas fingem que não estamos ali. A única vez que chorando em público me acudiram na cidade, foi uma brasileira! Ela entendeu a conversa do telefone enquanto dividíamos uma mesa num café e depois de desligar, disse que tudo ficaria bem e me ofereceu um abraço. A nossa gente é especial nesse aspecto. No meio da cidade mais populosa, cheia de pessoas mal humoradas que as vezes chegam a ser preconceituosas, brasileiros oferecem abraços desconhecidos.
Para quem está acostumado com esse calor humano, a discreção nova-iorquina é interpretada como individualismo, frieza, agressividade. Mas depois de presenciar muitos choros em Nova Iorque, acredito que entendi qual é a regra. Chorar em público acontece em qualquer lugar do mundo, mas aqui há um código social, um respeito maior para que a falta de privacidade não nos deixe ainda menos humanos.
Quase como um sinal de que não importa o que aconteceu, a vida continua sem a opção do nosso controle. Assim como se faz com a falta de espaço, precisamos nos adaptar. Porque a cidade ainda se move, e o choro, ou a razão para as lágrimas, não passam de mais um momento no meio da multidão.

Luisa Leme é jornalista e produtora de documentários. Passou pela TV Cultura e TV Globo em São Paulo, e pelas Nações Unidas em Nova York. Mora nos Estados Unidos há sete anos e fez mestrado em relações internacionais na Washington University in St. Louis. Escreve aqui sempre às quintas-feiras. Mantém o blog DoubleLNYC com imagens e impressões sobre Nova York. Twitter: @luisaleme

A ira vence o delírio - DORA KRAMER


15 de maio de 2014 | 2h 05

Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Fiel ao seu lema de que política é encenação, o artífice da propaganda do Planalto, João Santana, trocou o cenário do otimismo de governo pelo embate na arena do pessimismo na campanha eleitoral.
A celebração do paraíso em contraposição às críticas dos que apontavam equívocos na condução da política e da economia do País não foi suficiente para cumprir o vaticínio feito pelo mesmo Santana de que no fim de 2013 a presidente Dilma Rousseff não só recuperaria todo capital de popularidade como seria eleita no primeiro turno, batendo com facilidade os "anões" da oposição.
Conforme atesta também o mago do marketing em sua teoria, política é teatro, mas não é ficção. De onde, a realidade se impôs e contrariou suas previsões indicando a necessidade da mudança de rumo na estratégia.
"Não está tudo bem com os preços", começou dizendo a presidente em recente encontro com jornalistas. Nesta semana, reconheceu que o governo "subestimou" a complexidade e os prazos das obras do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco. Pegou leve diante do quadro real, mas fez uma inflexão menos delirante do ufanismo costumeiro.
Na mesma linha, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, rendeu-se à "frustração" ante ao atraso das obras da Copa e admitiu que o governo foi "incompetente" no diálogo com a sociedade. De fato, monologou o tempo todo e atuou na base do "venha a nós".
O comercial do PT exibido na terça-feira faz referência aos "fantasmas do passado", genericamente representados por perdas de benefícios obtidos durante os governos comandados pelo partido.
Há quem veja nisso a repetição com sinal trocado do medo versus esperança que dominou a cena da eleição de 2002.
A comparação, contudo, não resiste a um exame racional. Na época havia um receio real a respeito do que faria o PT no governo. Tanto que o partido precisou se comprometer por escrito com os fundamentos da estabilidade econômica para ganhar a eleição.
Hoje as incertezas têm origem justamente nas atitudes do governo, que ao longo do tempo vem abandonando os compromissos firmados na Carta aos Brasileiros e se aproximando cada vez mais de seu programa original. Com receio de perder o poder, deixou de lado a leveza do modelo da fantasia paradisíaca e ficou bravo de novo.
Há receio quanto à crença firme do governo na manutenção de uma inflação baixa, na necessidade do controle de gastos públicos, na correção de rumos equivocados, na oitiva aos apelos à racionalidade, na capacidade de enfrentar com realismo situações adversas e de fazer o que precisa ser feito para o País avançar.
A estratégia do medo pode render boas propagandas, mas só terá resultados se refletir a realidade. João Santana tem razão: política é teatro, mas não é ficção.
Devido processo. Líder da corrente mais transigente no julgamento de crimes eleitorais, defensor da mínima interferência da Justiça nos embates entre partidos, o novo presidente do TSE não considera que a atual movimentação de candidatos configure campanha eleitoral antecipada.
Na concepção do ministro Dias Toffoli, só incorreria em infração à lei em vigor aquele que dissesse "eu sou candidato, vote em mim".
Embora seja louvável a ideia de não interditar o debate político, a revogação de leis não é ato de vontade, é prerrogativa do Poder Legislativo.
Logo, consente. Não seria o caso, ainda que para cumprir uma formalidade civil, de o PT repudiar as ameaças de filiados e militantes à integridade física do ministro Joaquim Barbosa?
Em silêncio, o partido avaliza o espírito de intolerância e o caráter violento desse tipo de manifestação.

OBRA-PRIMA DO DIA (ARQUITETURA) Igreja de Nossa Senhora das Graças no Plateau d'Assy

Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 
13.5.2014
 | 12h00m

O Mont Blanc, a mais alta montanha da Europa, une a Savoia à Alta-Savoia e faz com que essas cadeias de montanhas pareçam menores do que são, tal sua grandeza. A paisagem diante de nossos olhos é um deslumbramento. Parques, lagos, reservas naturais, pequenas aldeias e lindas cidades alpinas, flora e fauna riquíssimas, são um brinde para nosso coração que se eleva a Deus, seja qual for o Deus no qual confiamos. O que me parece difícil é estar ali e não acreditar em Deus...
A capital da Alta-Savoia é Annecy e suas fronteiras são ao norte o Lago Geneva (ou Léman) e a Suiça; ao sul e a sudeste o Mont Blanc e a cadeia de montanhas Aravis. É região apreciada para os esportes de inverno, com algumas das estações de ski mais charmosas dos Alpes.


E é nessa região abençoada que fica a comunidade de Passy, onde, em um plateau, foi erguida uma igreja dedicada à Nossa Senhora das Graças (abaixo).


Entre as duas Grandes Guerras, o Plateau d 'Assy foi o local escolhido para a construção e manutenção de sanatórios. A altitude, o ar seco e puro, a calma, o isolamento, eram o ideal para o tratamento da tuberculose, doença até então sem cura definitiva.
Dois sacerdotes, o Padre Couturier e o Clérigo Dévémy, convencidos que a Arte em sua expressão mais alta tem algo de sagrado já que exprime a luz interior que Deus deu ao homem, resolveram se empenhar para erguer no Plateau d' Assy uma outra igreja, desta vez sem as barreiras religiosas da primeira igreja ali construída, a Igreja do Fayet. O importante era que os hóspedes dos sanatórios encontrassem um lugar para rezar e meditar.
Em 1937 os maiores artistas da época colaboraram com os padres, que contaram com o arquiteto Maurice Novarina para o desenho de sua igreja. Não havia nenhum restrição à fé professada pelo artista.
Alguns dos artistas estavam doentes e moravam há anos nos sanatórios. Outros colaboraram por terem amigos nessa situação e outros ainda por acreditarem na força da Fé para a cura das pessoas, o fato é que a Igreja cujo nome original é Notre Dame de Toute Grâce, é uma obra-prima repleta de obras-primas.
Eis algumas das obras mais extraordinárias que podem ser vistas nessa linda igreja:



Acima a imagem emocionante da Virgem que é criação de um artista judeu, Jacob Lipchitz, que assim assinou sua obra: "Judeu, fiel à fé de seus ancestrais, criou esta Virgem para o bom entendimento entre os homens, para que o espírito reine".
A fachada oeste (abaixo), é um mosaico de Fernand Léger, com o sol negro, branco e ouro que se integra plenamente à paisagem:

 


Abaixo, vista do interior da igreja, com a tapeçaria O Apocalipse, de Lurçat, que ocupa a parede atrás do altar-mor.


Abaixo o painel em azulejos que ornamenta o batistério,  da autoria de Chagall:



Notre Dame de Toute Grâce, Plateau d' Assy, Haute-Savoie, França


Cozinhas turbinadas com design - VOGUE


Os melhores apetrechos para o gourmet com estilo

11/05/2014 | ESTILO ADRIANA FRATTINI; PRODUÇÃO NATÁLIA MARTUCCI; FOTOS FILIPPO BAMBERGHI

A hora de cozinhar pode ser um momento de socializar, de se divertir ou simplesmente mais uma das tarefas do dia-a-dia. Mas a vida é curta e cada momento deve ser aproveitado em seu melhor. Por isso, Casa Vogue escolheu peças transformadas pelo design para deixar esse momento ainda mais especial e divertido. Veja abaixo!
Apetrechos para a cozinha (Foto: Filippo Bamberghi)
Massa, peixe e basta!

1 Ralador Todo, de aço inox e madeira, design Richard Sapper para Alessi, na Benedixt, R$ 371 2 Pano de prato Divertido, 100%algodão, na Coisas da Doris, R$ 35 3 PanelaRedonda, da coleção Antique Rose, de ferro fundido com revestimento cerâmico antiaderente, da Le Creuset, na Coqueluche Presentes, R$ 783,90 4 Escumadeira Passtoo, de aço inox, design Philippe Starck para Alessi, na Benedixt, R$ 388 5 Rolo para massa Exact, ajustável, de plástico, da Gefu, na Doural, R$ 129,90 6 Prato Azul (2014), de porcelana, de Paula Juchem para Bambola, no Studio Esther Giobbi, R$ 82 7 EsculturaPeixe Golden P (2014), de resina, na Le Lis Blanc Casa, R$ 59,50 8 Tábuas de carne (anos 1960), comtampos de fórmica, no Acervo Bruto, R$ 90 (vermelha), R$ 250 (azul) e R$ 350 (amarela) 9 Faca de pão da coleção Old Fashion, de polipropileno, da Sabre, na Conceito: Firma Casa, R$ 140 10 Caçarola de ferro fundido, 2,8 l, da KitchenAid, R$ 549,90 11 Pilão de granito, de Jamie Oliver, na Bololô, R$ 109,99 Produtos alimentícios do Empório Santa Maria.
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Apetrechos para a cozinha (Foto: Filippo Bamberghi)
Aperitivo com mais sabor

1 Porta-mantimentos de vidro, da Weck Jars, na Amoreira, R$ 35 (o menor) e R$ 45 2 Latas (anos 1940) francesas, de ferro pintado, na Acervo Bruto, R$ 350 o conjunto com três 3 Lâminas de madeira fóssil, para uso decorativo ou para servir, na Orbi Brasil, R$ 2.095 (a menor) e R$ 3.140 4 Moringas de alumínio, da NDT Brazil, na Mixtape Design, R$ 155 cada 5 Torradeira 2 Fatias (2014), da coleção Pro Line, de aço inox, da KitchenAid, R$ 899 6 Bowl com tampa e alça, da coleção Shokki, de argila, design Laurent Corio para Les Guimards, na Benedixt, R$ 612 7 Pote Soho, de cerâmica vitrificada e silicone, da Salt & Pepper, na Raul’s, R$ 120 8 Copo (anos 1950) de origem americana, de vidro, design Fred Press, na Acervo Bruto, R$ 210 9 Garrafa térmica (anos 1960), de plástico e alumínio, na Acervo Bruto, R$ 300 10 Porta-ovos de cerâmica, da Tavares, R$ 59 11 Porta-guardanapos da coleção Estetico Quotidiano – Gold Edition, de porcelana, design Alessandro Zambelli para Seletti, na Conceito: Firma Casa, R$ 120 12 Guardanapos Write Your Own Story, da coleção Sketchbook, de papel, da Donkey, na Amor.Art, R$ 40 o pacote com20 unidades 13 Tábua Stone Chopping Board, de mármore, da Tom Dixon, na Conceito: Firma Casa, R$ 701 14 Saleiro ou pimenteiro Par, de cortiça e vidro, design Nendo para Materia Amorim, na Benedixt, R$ 488 o par 15 Faca de pãoColor Days, de aço inox com revestimento antiaderente, na Tok & Stok, R$ 29,90 16 Pano de prato de algodão, da Amoreira, R$ 35 17 Prato Bola Azul G, da coleção Prataria, de porcelana, design Roberta Cardoso, na Galeria Nacional, R$ 450 18 Azulejo para descanso (anos 1970), da Amoreira, R$ 28. Os livros, a escultura de mão, a mesa, a cadeira, o drinque, o sanduíche e os alimentos são do Riviera Bar.
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Apetrechos para a cozinha (Foto: Filippo Bamberghi)
Geometrias à mesa

1 Timer da coleção Vintage Cream, de plástico e aço inox, da Typhoon, na Doural, R$ 57,90 2 Moedor de pimenta Pepper Mill, de madeira de bordo, design Peter Zumthor para Alessi, na Benedixt, R$ 582 3 Prato Triângulo P, da coleção Prataria, de porcelana, design Roberta Cardoso, na Galeria Nacional, R$ 310 4 Prato (anos 1960) polonês, de porcelana, na Acervo Bruto, R$ 1.500 5 Tábua de cortar Chop Paddle, de carvalho maciço, da Tom Dixon, na Conceito: Firma Casa R$ 810 6 Talheres de servir Pati G, de coco e madeira pati, da Marcenaria Trancoso, na Galeria Nacional, R$ 120 a dupla 7 Escultura Peixe Golden G (2014), de resina, na Le Lis Blanc Casa, R$ 99,50. Produtos alimentícios do Empório Santa Maria
Cozinha Boêmia.

Essas fotos foram realizadas no Riviera Bar, em São Paulo, cuja arquitetura traz a assinatura de Marcio Kogan, do Studiomk27, e a cozinha, do chef Alex Atala. 

POVOAMENTO DA BAHIA


​ Manoel José


 A Torre do Tombo é o local onde se guardam todos os documentos antigos. Está situada em Lisboa, junto à Cidade Universitária.

SENTENÇA PROFERIDA EM 1587 NO PROCESSO CONTRA O PRIOR DE TRANCOSO

(Autos arquivados na Torre do Tombo, armário 5, maço 7)

Padre Francisco Costa de Trancoso

“Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas. Total: duzentos e noventa e nove, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres”.

Não satisfeito tal apetite, o malfadado prior, dormia ainda com um escravo adolescente de nome Joaquim Bento, que o acusou de abusar em seu vaso nefando noites seguidas quando não lá estavam as mulheres. Acusam-lhe ainda dois ajudantes de missa, infantes menores  que lhe foram obrigados a servir de pecados orais, completos e nefandos, pelos quais se culpam em defeso de seus vasos intocados, apesar da malícia exigente do malfadado prior.

[agora vem o melhor:]

“El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou pôr em liberdade aos dezessete dias do mês de Março de 1587, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo e, em proveito de sua real fazenda, o condena ao degredo em terras de Santa Cruz, para onde segue a viver na vila da Baía de Salvador como colaborador de povoamento português. El-rei ordena ainda guardar no Real Arquivo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo”.

Postado por Anhangüera