sábado, 27 de setembro de 2014

Águia pressente que Lava Jato tentará poupar políticos nas suspeitas de lavagem com o tráfico de drogas


Posted: 27 Sep 2014 04:36 AM PDT

Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

O jeitinho brasileiro, promotor das impunidades, já arma para transformar a Lava Jato em uma Pizzaria. O motivo é bem pragmático – segundo fontes de organismos norte-americanos de combate à corrupção e ao tráfico de drogas. A República Sindicalista do Brazil cai de podre se houver rigor generalizado – e não o tradicional rigor seletivo, escolhendo apenas alguns bodes expiatórios para punir. O plano é poupar, ao máximo, os chefões políticos.

Outra intenção tática consiste em desvincular qualquer relação entre a lavagem bilionária de dinheiro e o tráfico nacional e internacional de drogas – grande financiador da governança do crime organizado, conforme tese abertamente defendida pelo esquema anti-drogas dos Estados Unidos da América. A Lava Jato não teria sido viável sem a colaboração invisível das “Águias” do Tio Sam. Os norte-americanos recusam a armação para que todo o trabalho vá por “água abaixo”, em vez de ficar "preta" como outras águas...

O tal “sistema” (tão bem evocado no filme “Tropa de Elite”) já trabalha para conter o ímpeto, o rigor e a velocidade do juiz Sérgio Fernando Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba. Nos bastidores do governo e do topo do Judiciário, fala-se em “ganhar tempo”, “diminuir a pressão”, “focar nos inimigos internos”. O objetivo imediato é garantir que as denúncias da Lava Jato não causem estragos eleitorais agora ou no segundo turno. Quando o caso chegar às instâncias superiores do judiciário, no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal (para os casos de réus com direito à foro privilegiado) a imensidão de recursos postergará o impacto das decisões politicamente mais fatais.   

Os primeiros sinais de retenção do impacto da Lava Jato começam a acontecer. O delator premiado Paulo Roberto Costa já tem tudo para ganhar o direito à prisão domiciliar, mesmo com o inconveniente uso da tornozeleira eletrônica. O Ministério Público Federal já teria dado o sinal verde para que o juiz Sérgio Moro ou o ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, decretem a “liberdade vigiada” do ex-diretor de abastecimento da Petrobras. “Paulinho” (como era tratado pelo ex-presidente Lula da Silva) terá direito à proteção especial. Afinal, depois dos 100 depoimentos que concedeu ao MPF, à PF e a Justiça Federal, é alto o risco de “Paulinho” se transformar em “Celso Daniel da vida”...

A aliviada no colaborador Paulo Roberto Costa seria uma senha para que o sócio dele, o doleiro Alberto Youssef, faça o mesmo. Os dois são os arquivos vivos de várias operações de corrupção envolvendo empreiteiras e fornecedores da Petrobras. Também podem demonstrar como grandes bancos teriam sido coniventes ou lenientes com as operações de lavagem de dinheiro. Como Paulo Roberto e Youssef sabem demais sobre escândalos que mexem com grandes políticos, instituições financeiras, empreiteiras e estatais, o “sistema” trabalha para transformar a Lava Jato em uma Pizzaria que fabrique os menores danos possíveis.

Fora das drogas

O Ministério Público Federal pediu ontem a absolvição do doleiro Alberto Youssef da acusação de lavar dinheiro do tráfico de drogas em um dos processos da Operação Lava-Jato.

O MPF alegou “insuficiência de provas”, com a seguinte tese:

“A atuação de Youssef comprovada nos autos limitou-se à cessão do espaço físico de seu escritório paulista para o recebimento de valores. A absolvição pelo critério in dubio pro reo é a medida de maior justiça”.

A turma da Águia, que atuou forte no caso Banestado (que não puniu poderosos políticos), está gostando nada do desenrolar da história...

Maldição dos 13...



Guerra de mentira à corrupção


Dilma Rousseff fortaleceu ontem sua inteligente ofensiva contra a corrupção – calcanhar de Aquiles de seu desgoverno, principalmente na Petrobras.

Além da propaganda eleitoral no rádio e televisão, na qual teatraliza que “a corrupção é uma serpente com sete cabeças”, a presidenta (ou terá sido a candidata?) anunciou ontem medidas de combate à corrupção e à impunidade que seriam tomadas em eventual segundo mandato.

A marketagem de Dilma propôs tornar crime a prática de caixa dois, punição de agentes públicos que apresentem enriquecimento sem justificativa, facilitação da perda de propriedade ou bem adquirido de forma ilícita, agilização do julgamento de processos relativos a desvio de dinheiro público, e criação de uma nova estrutura no Poder Judiciário para agilizar processos contra agentes que possuam foro privilegiado.

Jogo de cena ou recado interno?

Tudo indica que Dilma esteja jogando para a plateia, já que tais medidas dependem de aprovação do Legislativo e de mudanças processuais no Judiciário.

Mas tem gente próxima de Dilma enxergando que, se ganhar a reeleição, Dilma vai aproveitar a “onda moralista de combate à corrupção” para se livrar de “aliados próximos” sob suspeita...

Dilma busca inspiração até nas recentes decisões do Papa Francisco – que resolveu punir, rigorosamente, membros da cúpula da Igreja Católica envolvidos no hediondo crime de pedofilia.

Sumária, mas nem tanto...

Na entrevista coletiva concedida ontem, Dilma Rousseff deu a entender que as medidas propostas não têm um caráter de “justiça sumária” ou de “justiçamento”:

“A agilização e o rigor não significam justiça sumária, prejulgamento ou qualquer outra atitude que não seja a prevista na Constituição. As medidas têm como pressuposto o mais amplo direito de defesa”.

Ou seja, no final das contas, prevalecerá o velho esquema do jeitinho brasileiro que protela, indefinidamente, as tais decisões “transitadas em julgado”...

Cheirando mal...


Sem desculpas

A comandanta em chefa Dilma Rousseff ficou PT da vida manifesto assinado por 27 generais do Exército avisando que "do Exército de Caxias não virão desculpas" dos tempos do regime militar.

Dilma deu um drible verbal para fingir que não responderia a uma pergunta feita por um repórter sobre o assunto:

“Então, eu me permito não responder sua pergunta. Só dizer que nós vivemos numa democracia e que leis serão sempre cumpridas".

Ausência sentida

Alguns militares sentiram a ausência, entre os signatários do “Manifesto á Nação Brasileira” do ex-comandante do Exército Francisco de Albuquerque.

O General de quatro estrelas, desde a gestão Lula, é um dos membros do Conselho de Administração da Petrobras – como representante da União (acionista majoritária) e, por extensão, dos militares.

Assinam o documento (Reproduzido abaixo) os Generais: Leônidas Pires Gonçalves; Zenildo de Lucena; Rubens Bayma Denys, José Enaldo Rodrigues de Siqueira; José Luiz Lopes da Silva; Valdésio Guilherme de Figueiredo; Raymundo Nonato Cerqueira Filho; Pedro Luis de Araújo Braga; Antônio de Araújo Medeiros; Frederico Faria Sodré de Castro; Luiz Gonzaga Schoroeder Lessa; Gilberto Barbosa de Figueiredo; Rômulo Bini Pereira; Claudio Barbosa de Figueiredo; Domingos Carlos de Campos Curado; Ivan de Mendonça Bastos; Paulo Cesar de Castro; Luiz Edmundo Maia de Carvalho; Luiz Cesário da Silveira Filho; Carlos Alberto Pinto e Silva; José Benedito de Barros Moreira; Maynard Marques Santa Rosa; Rui Alves Catão; Augusto Heleno Ribeiro Pereira; Rui Monarca da Silveira; Américo Salvador de oliveira; e Gilberto Barbosa Arantes.

Indagação dos investidores

Aliás, investidores minoritários da Petrobras aproveitam para fazer uma perguntinha incômoda:

“De que forma o General Albuquerque votou e tem votado no Conselhão da Petrobras, e qual o posicionamento dele e das Forças Armadas – que ele representa – sobre todos os desmandos de gestão que vêm ocorrendo na companhia, desde 2003?”.

Tem investidor sugerindo que os Generais de quatro estrelas – que não se identificam com a estrela petista ou petralha – façam uma “manifesto à nação” sobre o caso Petrobras...

Vaga aberta


Pobre Jesus...


Perfumaria bolivariana




© Jorge Serrão. Segunda Edição do Blog Alerta Total de 27 de Setembro de 2014.

O matador arrependido


Por Alberto Dines em 24/09/2014 na edição 817
Editorial do Observatório da Imprensa na TV nº 751, exibido pela TV Brasil em 23/9/2014
 
A Comissão da Verdade precisa ir mais fundo e mais depressa. As Forças Armadas precisam reconhecer o seu erro. Não adianta esconder: houve torturas e mortes nos quartéis. Quanto mais demora o pedido de desculpas, mais dificil será a reconciliação.
Quem faz estas afirmações não é um militante revolucionário, nem um guerrilheiro: é um matador arrependido que esteve a serviço da ditadura durante quase duas décadas. Ele executou gente, depois planejou atentados, falsos confrontos, assassinatos.
É dele a ideia de incinerar cadáveres de vítimas das torturas em fornos de uma usina de açúcar.
Liquidou pessoalmente companheiros que não respeitaram o “código de ética” da delinquência a serviço do Estado. Queimou arquivos, alguns deles com prazer.
Seu nome é Cláudio Guerra, delegado do Dops no Espírito Santo convocado pelo Serviço Nacional de Informações, o funesto SNI – o monstro, como o definiu seu criador. Cláudio Guerra hoje é pastor evangélico, já falou ao Observatório da Imprensa em junho de 2012 (ver aqui).
Quer falar de novo, está com pressa. Não porque esteja com medo de ser queimado, mas porque sabe que a Comissão da Verdade tem um prazo fatal: dezembro de 2014.
Quando o Observatório da Imprensa o ouviu pela primeira vez desfiando os crimes que cometeu, logo nos ocorreu o conceito de “banalidade do mal” criado por Hannah Arendt (1906-1975). Agora, ao ouvir sua exortação calma e serena, nos ocorre que a banalidade do mal só pode ser enfrentada com a simplicidade do bem. 

Dinâmica mortal
O pastor Cláudio Guerra não fez sermões durante o depoimento ao Observatório daImprensa. quer apenas buscar a verdade, não tem medo da verdade, pronto a encarar a justiça. Mas desta conversa de 60 minutos realizada no dia 3 de setembro, no município de Serra, ao lado de Vitória (ES), ficou claro que o erro não tem limites. Erra-se um pouquinho – sempre com bons pretextos – e o erro se acrescenta, cresce, extrapola.
O aparelho da repressão acreditava que poderia delinquir em defesa da segurança do Estado, logo descobriu que a delinquência não tem limites: o inspetor Fleury foi queimado porque não via erros no narcotráfico; Cláudio Guerra executou o tenente Odilon porque começou a matar em causa própria; o coronel do Exército Paulo Malhães, do Doi-Codi do Rio, assassinado recentemente, esteve ligado à contravenção. O malfeito, o ilícito, a corrupção e a delinquência têm uma dinâmica que não pode ser esquecida. 

O dia em que a moça da limpeza virou questão de prova


“Em suas carreiras vocês encontrarão muitas pessoas, todas são importantes. Elas merecem sua atenção e cuidado, mesmo que tudo que você faça seja sorrir e dizer oi"

Diego Andreasi
Tempos atrás, escrevi um texto acerca do temaInvisibilidade Social, uma referência ao trabalho de mestrado do psicólogo brasileiro Fernando Braga Costa, no qual o pesquisador concluiu que “as pessoas  enxergam apenas a função  social do outro. Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira uma mera sombra social”, ou seja, caso você não aparentar ser uma pessoa bem sucedida, está correndo um sério risco de se passar como um ser invisível perante os demais.
Uma das causas que leva a esse problema de invisibilidade social está descrita no meu texto, no que segue a passagem: “o mundo anda tão rápido, estamos tão ocupados e temos um dia tão ruim que nos tornamos mimados.  Para nós é muito mais fácil ignorá-las e simplesmente impor às nossas vontades. Convenhamos, é relativamente fácil tratar as pessoas como se fossem invisíveis, contanto que consigamos o que queremos”.
Não por menos, novamente me deparei com essa questão no excelente livro Todos se Comunicam, Poucos se Conectam: desenvolva a comunicação eficaz e potencialize sua carreira na era da conectividade, de John Maxwell, no qual o autor conta uma história que retrata exatamente o tema em questão:
“Durante meu segundo ano da faculdade, nosso professor nos deu um questionário. Passei por todas as perguntas até ler a última:
Qual o primeiro nome da moça que limpa a escola?
Certamente isso era uma piada. Havia visto a moça da limpeza diversas vezes, mas como poderia saber o nome dela? Entreguei meu papel deixando a última questão em branco.
Antes de a aula acabar, um aluno perguntou se a última questão contaria em nossa nota. “Certamente”, o professor disse. “Em suas carreiras vocês encontrarão muitas pessoas, todas são importantes. Elas merecem sua atenção e cuidado, mesmo que tudo que você faça seja sorrir e dizer oi".
Nunca esqueci essa lição. Também aprendi o nome dela, era Dorothy.
Pois bem, e se eu te perguntasse qual o nome do porteiro do seu prédio, você saberia me responder? 

Polícia Federal é do Brasil

quarta-feira, 24 de setembro de 2014



Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Pontes

Quando a presidente Dilma Rousseff diz com orgulho que são os órgãos de seu governo que estão investigando os escândalos de corrupção da Petrobrás ela está, em realidade, esbofeteando os 13.000 policiais federais que compõem o Departamento de Polícia Federal. Trata-se do mais puro uso político do trabalho de uma instituição que transcende a esse ou aquele governo.

Tal afirmação consubstancia-se em verdadeiro escárnio, um desrespeito aos integrantes de uma corporação que só vêm conseguindo algum resultado nesse governo, unicamente em razão da abnegação de seus agentes e delegados.

A sociedade melhor entenderia que, apesar desse governo, a Polícia Federal, órgão permanente do Estado brasileiro, e assim como tal previsto na Constituição da República, conseguiu um sucesso histórico na condução da Operação Lava a Jato, que desvendou a máquina de desviar dinheiro instalada na Petrobrás.

O que de fato vem sendo observado, principalmente por nós, policiais federais, é o empenho do atual governo para controlar politicamente as ações da polícia judiciária da União.

Poderíamos citar um grande número de dissabores aos quais fomos submetidos, todos devidamente disfarçados em medidas “de gestão”, e impostos pelo atual governo à Polícia Federal. Contudo, em se tratando do tema “autonomia”, é imperioso registrar que na administração do atual Ministro da Justiça foi estabelecido o “vazamento institucional” na Polícia Federal.

Explico: a aplicação do Decreto nº 7.689/2012, à Polícia Federal, impõe a prévia autorização ministerial para a concessão de diárias de servidores em missão. Com 123 unidades em todo o país, para atender 5.561 municípios, a Polícia Federal se vê refém do Governo Federal  em ter as suas grandes operações repressivas sendo indiretamente monitoradas por meio deste Decreto.

O artigo 7º do aludido Decreto acaba sendo, de fato e de direito, um mecanismo que viabiliza o conhecimento prévio e o controle das operações da Polícia Federal, uma vez que o deslocamento de 3 a 10 servidores por período superior a 40 dias indica uma possível operação de inteligência, bem como o arregimentação de mais de 10 servidores para o mesmo evento por 2 a 5 dias indica a deflagração de uma grande operação.

Por exemplo, na solicitação para um contingente de 250 policiais federais, percebendo três dias e meio de diárias na cidade de João Pessoa/PB, fica claro que encontra-se em curso medidas visando deflagração de uma operação repressiva de grande porte na capital paraibana. Tal situação é uma afronta aos princípios da compartimentação e sigilo das operações policiais.

É importante que a sociedade brasileira saiba que o orçamento da Polícia Federal no Governo Dilma caiu drasticamente. E assim também está ocorrendo com os recursos das diárias e passagens e, igualmente, diminuíram substancialmente os recursos das operações sigilosas, de modo que as ações policiais contra políticos são realizadas com verba não sigilosa, exatamente esta que depende dessa autorização do Ministério da Justiça.

Obrigar a Polícia Federal a pedir autorização para pagar diárias de policiais, e, por conseguinte, dar conhecimento prévio a servidores do Ministério da Justiça, sobre as operações em andamento, é uma forma indireta de o Governo controlar as operações do DPF.

Em qualquer academia de polícia de qualquer país do planeta, ensina-se que as operações policiais têm seu sucesso garantido na medida em que o seu sigilo absoluto é preservado.

Talvez, aqui no Brasil, em razão de não termos quase ninguém do estamento político-governamental envolvido no cometimento de crimes graves, a coisa seja um pouco diferente.


Jorge Barbosa Pontes é Delegado federal e ex-diretor da Interpol.

CHARGE DO SPON - Na ONU


ABENÇOADO POR DEUS E ROUBADO COM NATURALIDADE


Fernando GabeiraFernando_Gabeira

Artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo em 12/09/2014

Tá lá o corpo estendido no chão. Acabou uma época imprensada entre a crise econômica e uma profunda desconfiança da política. Não quero dizer com isso que o atual governo federal, com sua gigantesca capacidade, milhões de reais e a máquina do Estado, perderá a eleição. Não o subestimo. Quando digo que acabou uma época quero dizer que algo dentro de nós se está rompendo mais decisivamente, com as denúncias sobre o assalto à Petrobrás.

De um ponto de vista externo, você continua respeitando as leis e as decisões majoritárias. Mas internamente sabe que vive uma cisão. A contrapartida do respeito à maioria é negada quando o bloco do governo se transforma num grupo de assaltantes dos cofres públicos.

Uma fantástica máquina publicitária vai jogar fumaça nos nossos olhos. Intelectuais amigos vão dizer que sempre houve corrupção. Não se trata de um esquema de dominação. Ele tem seus métodos para confundir e argumentar.

O elenco escolhido pelo diretor da Petrobrás para encenar o grande assalto na política não chega a surpreender-me. O presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente da Câmara, Henrique Alves, são atores experimentados. A diferença agora é que decidiram racionalizar. Renan e Alves viveram inúmeros escândalos separadamente. Agora estão juntos na mesma peça. Quem escreve sobre escândalos deve ser grato a eles. Com a presença num mesmo caso, Renan e Alves nos economizam um parágrafo. Partimos daí: os presidentes do Senado e da Câmara brasileira são acusados de assaltar a Petrobrás.

Deixamos para trás um Congresso em ruínas e vamos analisar o governo. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, foi acusado, o tesoureiro do PT também foi denunciado. As declarações deixam claro que Lula levou o diretor para o posto e elogiava seu trabalho na Petrobrás.

Em termos íntimos, não há governo nem Congresso para respeitar. Ambos já mudaram de qualidade. Os que se defendem afirmando que sempre houve corrupção não percebem a fragilidade do argumento. É como se estivessem diante do incêndio do Rio e alguém sussurrasse: “O Nero, lembra-se? O Nero também incendiou Roma”.

Grande parte dos analistas se interessa pela repercussão do escândalo na corrida presidencial. Meu foco é outro: a repercussão na sensação de ser brasileiro. Quem talvez conheça melhor essa sensação são as pessoas que vivem em favelas, dominadas pelo tráfico ou pela milícia.

Existem diferenças entre as favelas e o Brasil que as envolve. Diante de escândalos políticos somos livres para protestar, o que não é possível nos becos e vielas. E contamos com a Justiça.No caso do mensalão, o processo foi conduzido por um juiz obstinado e com dor nas costas, pouco tolerante a artifícios jurídicos. Neste caso da Petrobrás há indícios de que o juiz Sérgio Moro, competente em analisar crimes de lavagem de dinheiro, pretende avançar nas investigações. E avançar por um território que não é virgem, mas extremamente inexplorado: o universo das empreiteiras que subornam os políticos.

Lembro-me, no Parlamento, dos esforços do velho Pedro Simon para que se investigassem também as empreiteiras nos escândalos de suborno. Falar disso no Congresso é falar de corda em casa de enforcado. Ele não conseguiu. Mas Simon queria mostrar também que os políticos não se corrompem sozinhos. Desgastados, polarizam tanto a rejeição que poucos se interessam por quem deu dinheiro e com que objetivo.

Leio nos jornais que as empreiteiras fizeram um pool de excelentes advogados e, pela primeira vez na história, vão se defender de forma coordenada. Vão passar por um momento crucial. Ainda no Congresso, apresentei projeto regulando suas atividades no exterior. A presunção era de que mesmo no exterior o suborno era ilegal para uma empresa brasileira. Alguns países já adotam essa política.

Sinceramente, não sei se o caso das empreiteiras é apenas de bons advogados. Em muitos lugares do mundo, algumas empresas assumem seus erros e se comprometem com um novo tipo de relação com as leis. Isso no Brasil seria uma decisão audaciosa. Sem o suborno, devem pensar, não há chance de ter contratos com o governo.

Se, como no mensalão, a justiça for aplicada com severidade, também as empreiteiras serão punidas. Mais uma razão para pensar numa mudança de comportamento para a qual o País já está maduro. Todo esse processo de corrupção pode ser combatido, parcialmente, a partir de nova cultura empresarial. Os outros caminhos são transparência, Polícia Federal, Justiça, liberdade de imprensa e internet.

Quando afirmo que uma época acabou, repito, não excluo a vitória eleitoral das forças que assaltam a Petrobrás. Mas, neste caso, o governo sobreviverá como um fósforo frio. Maduro, na Venezuela, vê Chávez transfigurado em passarinho. Esse truque não vale aqui, pois Lula está vivo. E no meio da confusão.

Não creio que o Congresso será melhor nem que a oposição, que não soube combinar a crítica econômica com a rejeição moral, possa realizar algo radicalmente novo. O próprio Supremo não é mais o mesmo. Modestamente, podemos esperar apenas alguma melhoras e elas vão depender de como o povo interpretará o saque à Petrobrás. Na minha idade já não me posso enganar: Senado, Câmara, governo, tudo continua sendo formalmente o que é; no juízo pessoal, são um sistema que nos assalta.

O PT, via Gilberto Carvalho, acha que a corrupção é incontrolável e propõe financiamento público de campanha. Bela manobra, como se o dinheiro da Petrobrás não fosse público. Os adversários têm tudo para desconfiar da tese. Ficariam proibidos de arrecadar com empresas, enquanto dinheiro a rodo é canalizado das estatais para o PT, que se enrola na Bandeira Nacional e grita: “O petróleo é nosso!”.

Na medida em que tudo fique mais claro, talvez possamos até economizar palavras, como Renan e Alves nos economizaram um parágrafo participando do mesmo escândalo. Poderíamos usar a frase do mendigo em Esperando Godot, ao ser questionado sobre quem o espancou: os mesmos de sempre.

COMO SABER A HORA DE PARTIR?

http://www.revistabula.com/3180-como-saber-a-hora-de-partir/

Como saber a hora de partir?


Chega um instante em que você tem que decidir o seu destino. Permaneço no meu querido sofá rasgado que já tem a forma do meu corpo? Ou pego a mochila, umas mudas de roupa, e saio de fininho antes do amanhecer? Todos passam por momentos de decisão onde um passo pode levar tanto para a glória, quanto para a beira de um abismo.
A sensação que tenho é que quanto mais amadurecemos, mais precisamos tomar as rédeas da nossa vida. Quando somos crianças sempre existem alguém que decide por nós; o que vamos comer, aonde ir, o que vestir… Com o passar do tempo o fato de ser pessoa começa a nos cobrar decisões. Vem bem de mansinho e sem que a gente se dê conta passamos a decidir com quem nos relacionar, que profissão escolher, fazer um plano de carreira. Vamos pouco a pouco tomando o controle da nossa existência, conduzindo nossos caminhos, até que, num piscar de olhos, somos pilotos de Fórmula 1 disparados na carreira da vida, entre ultrapassagens e colisões lutando para chegar ao podium. Você é o piloto, o condutor, quem tem a posse da direção. A vida é representada pelo carro. Os seus adversários e companheiros de equipe são as pessoas que você interage. Todos buscam a vitória. A vitória afetiva, a vitória profissional, o reconhecimento, a recompensa. Mas cuidado, porque o percurso é escorregadio, chuvas torrenciais surgem sem trovoadas. Preste atenção quando houver neblina e tente não se dispersar com a paisagem.
Na vida a gente só muda diante do novo. Livros já lidos, músicas que a letra se sabe de cor, receitas que não precisamos mais espiar… Isso faz parte da nossa essência, do que construímos, são parte de nós e da nossa estrutura como indivíduo. No passado nós já arriscamos ao ler aquele livro, escutar aquela canção e preparar aquela receita.
Na maioria das vezes o que nos mantém em pé diante das dificuldades não é o que temos, mas sim, o que queremos ter. Temos quem nos ama, temos amigos. Essas pessoas são pivôs na nossa existência, pilastras que nos ancoram e nos escoram. Gratidão a parte, mas para ex
ercer o ofício do novo é fundamental arriscar. O que nos faz sair do lugar é exatamente a busca pelo desconhecido, perseguir a melhoria, vislumbrar a mudança. É sonhar.
Como saber que é hora de mudar? Pergunta difícil, cheia de possibilidades. Ir ou ficar? Se ir, para onde? Esquerda, direita, em frente? Ficar é mais fácil porque não exige nada de nós. Entretanto é provável que, mais adiante, você terá que conviver com as dores do reumatismo por ter ficado tanto tempo no sofá da vida.
Eu costumo dizer que a hora de soltar as correntes e dar o primeiro passo é justamente quando se sentir incomodado. Atenção à luz amarela do semáforo. Quando ela começar a piscar e você se descobrir enfadado, molestado na situação na qual vive é hora de mudar o trajeto. O incômodo gera infelicidade, frustração, te sucumbe à sensação de incapacidade. Ele é como a febre que denuncia quando algo vai mal no organismo. É o pisca-alerta da vida. Esse peso faz enxergar que aquilo que andava bem e te fazia feliz, já não te completa mais. O que era bom transformou-se em algo penoso, enfadonho, inoportuno. Chegou a hora de botar mais combustível, trocar o óleo, calibrar os pneus, ou talvez só mudar o trajeto para evitar um acidente de percurso lá na frente.
A vida é sua e ninguém tem o direito de governá-la. Portanto, segure firme o volante. Derrape, mas ultrapasse lá na frente. Esbarre, mas faça a curva com segurança. Tenha precaução em tempos de chuva, mas acelere nas retas quando o sol brilhar!