domingo, 22 de abril de 2012

Depois da pressão para queda dos juros, agora é a vez das tarifas



Governo fará ofensiva em bancos contra taxas, que variam de R$ 31 a R$ 390 pelo mesmo serviço.

BRASÍLIA — O governo prepara uma nova ofensiva para reduzir o custo financeiro no país. Depois da estratégia bem-sucedida de usar os bancos públicos para derrubar os spreads (diferença entre o custo de captação e as taxas cobradas pelos bancos) e os juros, o Palácio do Planalto tem como próximo alvo as tarifas bancárias. Um estudo do Banco Central (BC) mostra a enorme diferença entre as tarifas cobradas por bancos privados e públicos, mas, ainda assim, o governo avalia que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal podem liderar um movimento de queda generalizada dos valores cobrados por esses serviços, como aconteceu com os juros.



Segundo dados do BC, um DOC custa, em média, R$ 15,31 nas instituições públicas e R$ 81,34 nos bancos privados. Já o turista que pretende viajar ao exterior tem de pagar uma tarifa de R$ 62,86 para comprar moeda estrangeira nos bancos públicos. O custo médio desse serviço nas instituições privadas chega a R$ 145,60.O estudo do BC revela, por exemplo, que para fazer um cadastro e abrir uma conta em um banco público, os correntistas desembolsam, em média, R$ 31,67, enquanto esse mesmo serviço custa, em média, R$ 390 nas instituições privadas. Nos extremos, dependendo do perfil do cliente e do banco, esta mesma tarifa pode variar de zero a R$ 5 mil.


Os valores das tarifas cobrados pelos bancos oscilam tanto no país porque o BC não tabela esses preços. Em 2007, o Conselho Monetário Nacional (CMN) determinou que alguns serviços, considerados essenciais, não poderiam ser cobrados. Por exemplo, fornecimento de cartão de débito, quatro saques por mês, duas transferências entre contas no mesmo banco e utilização de caixas eletrônicos e internet.

Sem grandes amarras nas demais tarifas, as instituições fixam os valores de forma a compensar os serviços gratuitos. No caso das tarifas liberadas, o BC estabeleceu apenas alguns critérios para os reajustes e para a comunicação aos clientes. Os bancos estão obrigados a avisar aos correntistas com, no mínimo, um mês de antecedência quando forem aumentar as tarifas, que podem ser reajustadas a cada seis meses.
O professor Alberto Borges Matias, da USP, considera que as tarifas são caras no país, porque os bancos repassam para o correntista os custos do setor, que são muito elevados em relação aos seus ativos:
— A forma como o sistema opera gera pobreza para o país. Você não empresta, não vende, inibe as pessoas de consumir e restringe investimento.

Estudo revela falta de eficiência
Um estudo da consultoria Engenheiros Financeiros & Consultores (EFC) dá a medida desses custos. Mostra que, no Brasil, os cinco maiores bancos nacionais gastam quase o dobro do valor dispendido pelas grandes instituições estrangeiras (Europa, EUA e Ásia) em custos administrativos e operacionais.
O estudo baseia-se no chamado Índice de Eficiência — que mede quanto o banco consome de seu faturamento em despesas de pessoal e administrativas. Em média, esse índice é de 0,61 no caso brasileiro (ou seja, para cada R$ 100 em receita são gastos R$ 61), enquanto nas grandes instituições estrangeiras o indicador é de 0,35.
O economista Carlos Coradi, da EFC, autor do levantamento, explica que as instituições brasileiras são menos eficientes do que as estrangeiras porque emprestam menos e têm um leque de outros negócios (tesouraria, câmbio, fusões) mais restrito. Ele vê com bons olhos a competição entre os bancos para reduzir os custos.
— A competição entre eles, como está acontecendo agora pode gerar ganhos de escala — disse Coradi.
Ricardo Anhesini, da área de Serviços Financeiros da consultoria KPMG, menciona ainda o custo elevado da mão de obra no setor financeiro como exemplo de ineficiência. Segundo ele, embora o número de bancários tenha reduzido drasticamente, nos últimos 10 anos os gastos com pessoal subiram 190%.
— O custo de mão de obra no Brasil é um dos mais altos do mundo — afirmou.
Procurada, a Febraban, a federação dos bancos, não quis se manifestar sobre o tema.




Big bang binário (História do Computador)



Por Alice Rawsthron em 17/04/2012 na edição 690
Turing’s Cathedral: The Origins of the Digital Universe, de George Dyson, 432 pp., Pantheon Books; reproduzido do suplemento “Link” do Estado de S.Paulo, 16/4/2012
Um dos muitos mitos sobre a Apple reza que o nome da empresa é uma referência à maçã comida pela metade que teria sido encontrada ao lado do corpo do cientista da computação britânico Alan Turing depois de ele se suicidar, em 1954, poucas semanas antes de fazer 42 anos.
Turing, que completaria 100 anos de idade no dia 23 de junho deste ano, fora condenado por “ato obsceno” com outro homem e forçado a se submeter a um tratamento hormonal. A causa precisa de sua morte é desconhecida, mas acredita-se que ele tenha se envenenado colocando cianureto na fruta.
Por mais duradouro que seja o mito da Apple, ele provavelmente não é verdadeiro. O nome foi escolhido logo depois que Steve Jobs, cofundador da empresa, passou um fim de semana podando macieiras num pomar orgânico e porque, segundo suas próprias palavras, “era divertido, espirituoso e não intimidava demais; além disso, ficaríamos antes da Atari na lista telefônica”. O primeiro logotipo corporativo da Apple retratava Isaac Newton, cientista britânico do século 17, criando a teoria da gravidade depois de observar uma maçã cair da macieira, não a trágica morte de Turing.
Contudo, Turing, a quem o governo britânico fez um pedido formal de desculpas em 2009, teve uma influência substancial na Apple por meio de seus produtos. Quase todo computador produzido pela Apple e seus rivais foi baseado numa máquina construída na Universidade de Princeton no final dos anos 40 e começo dos 50, inspirada nas ideias descritas por Turing num estudo de 1936, “On Computable Numbers” (Sobre Números Computáveis). Nesse texto, Turing descrevia uma máquina que poderia realizar incontáveis tipos de tarefas trocando-se seu software, não o hardware.
A história de sua influência no projeto de Princeton é contada por George Dyson, norte-americano historiador da tecnologia, no livro Turing’s Cathedral: The Origins of the Digital Universe (A Catedral de Turing: As Origens do Universo Digital, em tradução livre; ainda sem previsão de publicação no Brasil).
Livro cativante, embora com trechos enigmáticos, ele descreve como uma equipe de jovens matemáticos e engenheiros capitaneados por John von Neumann, do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, aplicou as ideias de Turing para desenvolver não o primeiro computador eletrônico, mas a máquina mais veloz de sua época e uma das primeiras com o tipo de memória de acesso aleatório (RAM) que usamos até hoje.

Dyson é particularmente bem preparado para contar esta história, pois cresceu em Princeton depois que o pai, o físico Freeman Dyson, entrou para o instituto em 1953, mesmo ano em que o “computador de programa armazenado” de von Neumann foi concluído. Ele traça um retrato vívido da vida no campus: desde o classicista esnobe que reclamava do “desânimo” ao saber que “um grupo de especialistas em eletrônica” chegara ao instituto, até o costume de servir chá em xícaras de porcelana todos os dias às 15 horas.
Turing’s Cathedral é um livro sobre inovação científica, não design. Porém, como um dos papéis mais importantes do design sempre foi traduzir tais progressos em coisas que pudessem ser úteis ou agradáveis para o resto de nós, revoluções científicas como essa são intrínsecas à história do design. E poucos feitos científicos tiveram um impacto tão dramático quanto a invenção do computador com programa armazenado, cuja influência dominou o desenho industrial por mais de meio século.
Nascido em Budapeste numa família judia abastada, von Neumann fez fama como jovem matemático promissor na Hungria antes de ser recrutado por Princeton em 1930. Urbano e gregário, ele logo se tornou uma figura influente dentro da universidade e começou um papel duradouro como consultor da IBM.
Durante a 2ª Guerra Mundial, von Neumann foi consultor sênior do exército norte-americano, que investia pesadamente para acelerar o desenvolvimento de computadores eletrônicos como parte do esforço de guerra.
Bomba H virtual
Quando o conflito terminou, von Neumann ocupava a melhor posição para convencer o governo norte-americano de que a verba destinada a construir um computador, que poderia realizar testes teóricos da bomba de hidrogênio, deveria ser concedida a ele em Princeton.
Turing, que tinha conhecido e impressionado von Neumann quando ele estudara nos Estados Unidos em meados dos anos 30, se envolveu em uma pesquisa semelhante na Grã-Bretanha. Durante a guerra, ele trabalhou no centro para decifração de códigos de Bletchley Park. Depois participou do desenvolvimento de uma máquina de programa armazenado no Laboratório Nacional de Física, em Teddington, antes de entrar na Universidade de Manchester, em 1948, e contribuir para projetos similares. Brilhante como teórico, Turing não tinha o pragmatismo e a astúcia política que se mostraram indispensáveis a von Neumann.
Um aspecto crítico do sucesso de von Neumann foi a decisão de montar uma equipe com mais matemáticos do que engenheiros, invertendo a visão convencional na esperança de criar uma cultura que incentivasse ideias originais e audaciosas. Ele teve a sorte de poder escolher colegas entre os exilados talentosos que haviam fugido para os EUA da Europa devastada pela guerra.
Dyson descreve como o casal Ulan comia em lanchonetes baratas ao chegar, pois eram “pobres demais” para pagar os restaurantes norte-americanos, mas que tinham sido “ricos demais na Polônia para aprender a cozinhar”.
Outro golpe de sorte foi acelerar o processo de desenvolvimento usando componentes existentes, como as válvulas produzidas em massa, em vez de desenvolvê-los da estaca zero como as equipes rivais. A IBM adotou uma abordagem similar em 1980 quando completou o design do bem-sucedido 5150 Personal Computer em questão de um ano, empregando peças produzidas por outras empresas.
Cosmopolita, a paixão de von Neumann era a pesquisa, não o comércio, e o desenvolvimento do computador ocorreu da mesma forma. O trabalho da equipe foi totalmente documentado e publicado na sequência, para dividir os resultados com os colegas matemáticos, cientistas e engenheiros, como os projetos de design de código aberto fazem hoje em dia. Ele e seus colegas também decidiram não patentear a máquina, para garantir que as ideias tivessem a aplicação mais ampla possível.
Boa decisão
Quando von Neumann deixou Princeton em 1954 para se juntar à Comissão de Energia Atômica, seus críticos se uniram contra o projeto do computador, que foi a pique. Naquela altura, diversas cópias e adaptações da máquina original já estavam sendo construídas, incluindo o primeiro computador eletrônico da IBM, o 701. E é por meio dessas máquinas que ainda nos beneficiamos do pensamento visionário de Turing e da engenhosidade da equipe de John von Neumann.
Secular
O centenário de Turing tem motivado homenagens. Um abaixo-assinado pede a inclusão de sua efígie na nova versão da cédula de 10 libras. Dez mil assinaturas já foram colhidas. O correio britânico lançou um selo com Turing em fevereiro. O cientista também será vivido por Leonardo Di Caprio no cinema. Sociedades científicas da Índia aos EUA planejam tributos. No Brasil, a universidade gaúcha UFRGS fará palestras, exposição e concurso de criptografia. E também será homenageado pela parada gay de Manchester, cidade onde viveu seus últimos anos.
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[Alice Rawsthron, do The New York Times]

Itaú Unibanco abole o uso do terno e gravata



Por Guilherme Barros
Como parte do processo de uma nova cultura que vem implementando desde a fusão, em 03 de novembro de 2008, o Itaú Unibanco decidiu agora abolir o uso diário do terno e gravata a todos os seus executivos.
Antes, o Itaú Unibanco só autorizava não se usar o terno e a grava nas sextas-feiras, o tradicional “casual day”, cujo modelo nasceu nos EUA e foi adotado no Brasil com sucesso.
Na nova regra do Itaú Unibanco, o que vai prevalecer é o bom-senso dos executivos para usar o terno e gravata. Para aquelas áreas com contato mais rotineiro com clientes, é de bom tom que use o terno e a gravata. Mas essa regra não existe mais.
A partir de agora, todos do conselho de administração, desde Roberto Setúbal, e Pedro Moreira Salles (na foto), até quem começa a dar os primeiros passos no banco, já estão livres para trabalhar sem terno e gravata.

OPOSIÇÃO? ORA, OPOSIÇÃO!



          Percival Puggina
             Não, o senador Demóstenes não matou a oposição. Não se mata o que não existe. De tempos para cá, em Brasília, só há governo. As pessoas me param na rua: "Cadê a oposição?". Pois é. A construção da hegemonia chegou ao telhado e já faz os arremates da cumeeira, com o total sumiço da oposição como força política perceptível. O discurso oposicionista é quase confidencial.

            Nem durante os governos militares a oposição foi tão reservada. Ao contrário do que os atuais comissários da história querem fazer crer, aquela atividade oposicionista, comparada com a atual, era estrepitosa. Havia interesse e espaço nos meios de comunicação suficientes para que se afirmassem lideranças. Embora a época fosse menos midiática, todos conheciam Tancredo, Brossard, Ulysses, Simon, Montoro, Covas, Teotônio, bem como os cassados - Brizola, Arraes, Juscelino, Lacerda. Eram tratados assim. Um nome só bastava, tal a intimidade. Sabia-se o que pensavam e faziam.

            Não se atribua a anomia e a anemia oposicionistas à falta de atrativos da direita, tipo assim: se a direita fosse moça, num baile do tempo antigo, passaria a noite fazendo tricô. Definitivamente não. Quaisquer pesquisas que investiguem opiniões sobre temas específicos revela que os brasileiros se posicionam, majoritariamente, do centro para a direita do arco ideológico. A maioria é a favor da ordem e contra a violência como instrumento da política. Quer um Código Penal severo e que as penas sejam cumpridas. Deseja reduzir a maioridade penal. Defende o direito de propriedade e rejeita invasões. É contra a proibição à posse de armas de defesa. É contra o aborto (as mulheres ainda mais do que os homens). Reconhece o valor da instituição familiar e da religião. Rejeita tipos como Fidel, Chávez e Morales. Quer que seja preservada a vida privada e não admite marcos regulatórios para a mídia. Em outras palavras, recusa de A a Z a agenda do partido do governo. Este, no entanto, usou a cabeça. Primeiro, assumiu o programa econômico que derrotara nas urnas. E, depois, foi ao mercado comprar quase toda a esquerda, quase todo o centro e quase toda a direita. Bastaria isso para esvaziar a oposição. Só não está no governo quem não quer. Bombom tem para todo mundo.

            O presidencialismo brasileiro, tão ruim que só fica de pé se bem escorado, fornece ambiente ideal às hegemonias. Ao longo da Primeira República, foi sustentado pela política dos governadores. Quando ela se rompeu, manteve-se pela ditadura de Vargas. Quando ele renunciou, seguiu-se um tempo de balança mas não cai, até cair. Reergueu-se com a política dos generais. E desde 1985 temos isto que agora alcança seu orgasmo: o presidencialismo de coalizão, com longo arco de abrangência e grande capacidade financeira de atrair interesses. Entenda-se: o grupo hegemônico é a fonte do poder, dos privilégios, dos cargos e contratos, e dos maiores favores que se possa conceber. É um poder do qual poucos admitem ficar longe, mormente os bandidos. Nada que não se explique pelo mais elementar conhecimento da natureza humana.

            Como resultado, quem quiser saber o que a oposição nacional está pensando ou fazendo terá que acessar os canais de tevê do Congresso e ver - o que é improvável - se algum dos poucos oposicionistas está na tribuna.  Atingimos em Brasília, simultaneamente, o cúmulo da hegemonia, da hipocrisia e da venalidade. Na nossa política só o dinheiro manda e como só o governo tem dinheiro, só existe governo. A oposição, então, que fale baixo e não atrapalhe os negócios.

Zero Hora, 22/04/2012