segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Gelo do Ártico derrete a nível recorde, dizem cientistas



Segundo o NSIDC, isso supera o recorde de derretimento da plataforma em 2007, quando o gelo foi reduzido a 4,17 milhões de quilômetros quadrados no Oceano Ártico

AFP
Gelo na Groenlândia
Gelo na Groenlândia: a plataforma de gelo da Groenlândia também registrou um recorde de derretimento neste ano
Washington - Os cientistas informaram nesta segunda-feira que a plataforma de gelo no Oceano Ártico derreteu para níveis recordes no verão (boreal) deste ano, que teve um excesso de calor. O Centro Nacional de Dados sobre a Neve e o Gelo (NSIDC, pela sigla em inglês), dos Estados Unidos, informou que a plataforma de gelo no Ártico foi a reduzida a 4,10 milhões de quilômetros quadrados (1,58 milhão de milhas quadradas), e deverá ter um derretimento ainda maior nas próximas semanas. Segundo o NSIDC, isso supera o recorde de derretimento da plataforma registrado em 2007, quando o gelo foi reduzido a 4,17 milhões de quilômetros quadrados no Oceano Ártico. Os dados são baseados em imagens feitas por satélites desde 1979.
O cientista Ted Scambos, do NSIDC, disse que oaquecimento global pode ser em parte responsabilizado pelo derretimento do gelo. Os cientistas dizem que a plataforma de gelo do Oceano Ártico - que é água do mar congelada - ajuda a moderar e tornar mais brandas as temperaturas no planeta e é crucial para a sobrevivência de alguns animais, como os ursos polares. A plataforma de gelo da Groenlândia também registrou um recorde de derretimento neste ano.
As informações são da Associated Press.

Irã usa “terceiro mundo” para romper cerco dos EUA


Internacional

José Antonio Lima

Oriente Médio

27.08.2012 11:01


Membros das delegações do MNA se reúnem em Teerã, no domingo 26, primeiro dia da conferência. Foto: AFP
Acuado pelas sanções e pressão pública dos Estados Unidos e da União Europeia por conta de seu programa nuclear, o Irã encontrou um caminho inusitado para tentar furar o cerco das potências ocidentais. Teerã quer ressuscitar o prestígio do Movimento dos Países Não Alinhados (MNA), criado no auge da Guerra Fria, mas hoje insignificante, para legitimar suas pesquisas atômicas e contrapor o que chama de “política de intimidação” de Washington.
Na estratégia iraniana, esta semana é decisiva. O país sedia a conferência de chefes de Estado do MNA como presidente rotativo da instituição (posto assumido no domingo 26) e receberá em seu território representantes dos 120 membros do MNA, muitos deles chefes de Estado, e de outros 17 observadores, incluindo o Brasil. Diversos locais de Teerã receberam novas pinturas, moradores de rua foram removidos e a cidade terá cinco feriados entre 28 de agosto e 1º de setembro para facilitar o deslocamento das autoridades. A intenção do Irã é impressionar, para buscar seus dois objetivos na conferência: abrir caminhos para romper o isolamento econômico imposto pelas duras sanções ocidentais e moldar o discurso e as causas dos não alinhados a seus interesses particulares.
No campo econômico, a estratégia do Irã será criar parcerias com o “Terceiro Mundo”. O país pretende abrir setores de sua economia para investidores estrangeiros e oferecer ajuda a nações menos desenvolvidas. Segundo afirmou o ministro da Indústria do Irã, Mehdi Ghazanfari, à agência Mehr, os participantes da conferência serão apresentados ao potencial mineral, econômico e industrial do Irã e receberão ofertas para a realização de parcerias técnicas e no campo da engenharia. Não devem faltar interessados. Durante a semana, o secretário do Ministério do Exterior do Paquistão, Munawar Saeed Bhatti, afirmou que as sanções internacionais não podem impedir a cooperação econômica entre os países do MNA.
No campo político, o Irã fará um lobby também intenso. A intenção do país, como afirmou o ministro da Defesa, Ahmad Vahidi, é “pavimentar o caminho para a expansão das causas da República Islâmica”. Para isso, o país pretende transformar a conferência no “ponto de virada” na história do MNA, fazendo da hoje inócua organização um fórum respeitado internacionalmente.

No anonimato



Ele precisa aparecer
Um ano e oito meses após ter pisado na Câmara para descobrir o que faz um deputado, Tiririca, veja só, está em plena crise de identidade.
Na semana passada, ele desabafava com sua colega Jaqueline Roriz, no fundo do plenário da Câmara, e dizia que iria procurar a Record para tentar encontrar uma forma de voltar para a TV.
Tiririca acha que “foi engolido” pela Câmara, virou apenas mais um no parlamento e acabou refém do anonimato. Ele precisa aparecer. Tadinho do Tiririca.
Por Lauro Jardim

Carlos Brickmann: inabilidade do governo em lidar com a onda de greves de funcionários levou a uma situação de perde-perde



Policiais em greve fazem protesto (Foto: Futura Press / AE)
Policiais federais em greve fazem protesto: pode ou não pode? (Foto: Futura Press / AE)
DIREITO À GREVE, DIREITO AO SERVIÇO
Vamos, juntos, imaginar o avanço das tropas aliadas na Alemanha, nos dias finais da Segunda Guerra Mundial. Num determinado momento, o Conselho da Tropa informa que os soldados entraram em greve por aumento salarial e só retornarão aos combates depois que suas reivindicações forem atendidas.
Pode ou não pode?
Pulemos algumas décadas, troquemos o Norte pelo Sul e veremos que agentes federais entraram em greve por aumento salarial, suspenderam o policiamento das fronteiras e colaram cartazes nos pontos de entrada do Brasil informando a contrabandistas e narcotraficantes que podem trabalhar à vontade, pois não serão reprimidos.
Pode ou não pode?
A inabilidade do governo federal, que não se mexeu até a situação chegar a este ponto, levou o país a uma situação de perde-perde: se der o aumento pedido pelos funcionários em greve, não terá como pagá-los; se não der o aumento, a greve continuará gerando problemas insolúveis.
Já há falta de remédios, por causa da greve da Anvisa; já há indústrias com problemas, por falta de componentes importados; as exportações também sofrem, porque estradas e aeroportos, que já não são lá essas coisas, funcionam ainda pior do que antes. Negociação? É com o mesmo pessoal que viu as universidades federais fecharem por três meses e não conseguiu negociar com os professores.
E que é que o governo propõe?
Depende: até agora, pagou direitinho o salário de quem não trabalhou. Hoje ameaça demiti-los. Vai da moleza ao confronto sem passar pela negociação.

Prepare seu coração
Prepare-se: a coisa vai piorar (Foto: Marcelo Camargo / ABr)
Prepare-se: a coisa vai piorar (Foto: Marcelo Camargo / ABr)
Os funcionários em greve rejeitaram até agora as propostas do governo. Isso significa que estradas federais, postos de fronteira, aeroportos, fiscalização de importações e exportações, todos esses setores vão piorar, jogados às traças.

Tensão capital
Só isso? Não: o Movimento dos Sem-Terra resolveu promover manifestações em Brasília, o que obrigou a presidente Dilma Rousseff a deixar o Palácio do Planalto pela porta dos fundos, com a segurança em alerta total.

Eugênio Bucci: O nosso diploma não era para isso



O nosso diploma não era para isso (Foto: Stock.Xchng)
O nosso diploma não era para isso (Foto: Stock.Xchng)

Artigo do jornalista e professor da ECA-USP e ESPM Eugênio Bucci, publicado no jornal O Estado de S.Paulo
O NOSSO DIPLOMA NÃO ERA PARA ISSO
Eugênio Bucci
Além de jornalista, sou professor universitário. Dou aula em faculdades de Jornalismo, por vocação e também por prazer, por gosto.
Há ainda uma justificativa política para essa minha escolha: acredito ser possível melhorar a imprensa no Brasil e para isso o estudo, a pesquisa e o ensino podem desempenhar papel relevante.
Embora a profissão de jornalista ainda deva muito aos autodidatas, alguns brilhantes, não é mais concebível formar editores e repórteres sem que eles passem pela escola. A formação acadêmica impõe-se, a cada dia mais, como um ingrediente indispensável da imprensa de qualidade.
No mais, tudo o que possa prestigiar e aprimorar os cursos de Jornalismo no Brasil conta com o meu apoio.
Exatamente por isso, por defender uma escola de excelência, não concordo com a ideia de fazer do diploma um documento obrigatório para que um cidadão possa editar o seu jornal, em papel ou na internet. Eu apenas acredito que esse cidadão terá horizontes mais promissores se tiver passado por boas faculdades.
Não devo estar de todo errado. Nos Estados Unidos, país onde não há exigência de diploma para que alguém trabalhe numa redação de jornal, os estudantes de Columbia saem praticamente empregados do curso de Jornalismo – que, por sinal, não é um curso de graduação, mas de pós-graduação. Lá existem boas escolas de Jornalismo – que são boas justamente porque não são obrigatórias: os estudantes que as procuram estão mais interessados no conteúdo que aprenderão do que no certificado, no canudo que receberão ao final do ciclo.
Obrigatoriedade do diploma é caso único entre países democráticos
Henry Luce e Briton Hadden são ícones da imprensa americana. Cursaram Direito, não Jornalismo. Foram colegas de classe em Yale. Tinham por volta de 25 anos de idade quando fundaram a revista Time, em 1923. Naquele tempo, vamos lembrar, já existiam cursos de Jornalismo nos EUA (o de Columbia já tinha pouco mais de dez anos de vida), mas eles preferiram estudar Direito mesmo.
Obrigar jornalistas a ter diploma de graduação em Jornalismo não tem sentido. Não conheço um único país democrático que imponha essa obrigação. Mesmo a França, que tem legislações severas, não é tão dura. Nessa matéria somos um caso único no mundo.
Aqui, em 1969, a Junta Militar que mandava no País impôs a obrigatoriedade do diploma. O Decreto-Lei 972, de 17 de outubro de 1969, assinado pelo general Aurélio de Lyra Tavares (ministro do Exército), pelo almirante Augusto Rademaker (ministro da Marinha) e pelo brigadeiro Márcio de Sousa e Mello (ministro da Aeronáutica), além de Jarbas Passarinho, que respondia pela pasta do Trabalho e Previdência Social, tornou obrigatório o diploma para os profissionais de imprensa.
Sejamos claros: não foi por amor à liberdade de expressão que os ditadores – adeptos da censura e da tortura – baixaram o Decreto-lei 972. Eles queriam apenas impor mais obstáculos ao exercício profissional, assim como pretendiam criar controles governamentais – via Ministério do Trabalho – sobre a atividade jornalística.
No início deste mês, essa mentalidade cravou uma vitória estarrecedora no Senado Federal: por 60 votos contra 4, aprovou a "PEC do Diploma" (Foto: ABr)
No início deste mês, a mentalidade sindical-corporativista cravou uma vitória estarrecedora no Senado: por 60 votos contra 4, aprovou a "PEC do Diploma" (Foto: ABr)
Até 2009 a imposição da Junta vagava por aí, como um zumbi jurídico, quando foi finalmente declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por ampla maioria (8 votos contra 1). O decretão se foi, mas a mentalidade sindical-corporativista a que ele deu origem permaneceu e está prestes a reabilitar a velha obrigatoriedade.
Prolongamento de deformações retrógradas
Em sua maioria, nossos sindicalistas são bem-intencionados e sérios, dedicados à defesa da nossa categoria profissional, mas não se deram conta de que, ao defender uma velha ordem, antinatural, podem defender, mesmo que inadvertidamente, o prolongamento de deformações retrógradas. A imposição do diploma não apenas não ajuda a imprensa, como cerceia os direitos dos que, sem serem jornalistas formados, como Henry Luce e Briton Hadden não eram, têm a intenção de criar e editar uma publicação.
No início deste mês, essa mentalidade cravou uma vitória estarrecedora no Senado Federal: por 60 votos contra 4 – apenas 4 -, os senadores aprovaram a “PEC do diploma”, uma emenda constitucional que insere, no artigo 220 da nossa Carta Magna, a exigência do curso superior de Jornalismo para o exercício da profissão.
É incrível: a atrocidade que a Junta Militar perpetrou pela ferramenta bruta do decreto nossa atual democracia está perto de reeditar por meio de norma constitucional. Agora, se a Câmara dos Deputados aprovar o texto, será assim e ponto. Como é matéria constitucional, não cabe o veto da Presidência da República.
Em 2006 tivemos mais sorte. Naquele ano nossos parlamentares aprovaram algo bem parecido, o Projeto de Lei 79/2004, que definia mais de 20 funções privativas de jornalistas diplomados, entre elas a assessoria de imprensa, o magistério em faculdades de Jornalismo e o fotojornalismo.
Sabiamente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou integralmente o projeto. Agora a chamada “PEC do diploma” vem para se vingar do bom senso de Lula em 2006 – e da decisão do STF em 2009.
Na justificativa da PEC, uma tese maluca
Vale perguntar: o governo de Dilma Rousseff apoia a “PEC do diploma”? A julgar pela passividade dos senadores governistas, parece que sim.
A justificativa da PEC, além de voltar a insistir na tese maluca de que a assessoria de imprensa é função jornalística, argumenta que as tarefas do jornalista são tão complexas (“incluem responsabilidade social, escolhas morais profissionais e domínio da linguagem especializada”) que só um sujeito diplomado daria conta de realizá-las.
Na condição de professor de Jornalismo, eu discordo. Uma pessoa sem diploma pode ser jornalista, assim como pode ser presidente da República. O problema da República e da imprensa não é esse. Vamos tratar do que é essencial. Vamos deixar a imprensa livre cuidar de melhorar a escola, o que é urgente. Será melhor para o Brasil e, principalmente, para os jornalistas.

Perguntar não ofende: será que Marcos Valério vai pagar o pato sozinho — e calado?



O décimo quinto dia de julgamento da Ação Penal 470, o chamado mensalão, abre com o voto da ministra Rosa Weber, a integrante mais nova no Supremo Tribunal Federal (STF) (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / ABr)
O décimo quinto dia de julgamento da Ação Penal 470, o chamado mensalão, abre com o voto da ministra Rosa Weber, a integrante mais nova no Supremo Tribunal Federal (STF) (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / ABr)
Amigas e amigos, pelo andar da carruagem, pelo menos uma coisa parece mais ou menos certo no julgamento do escândalo do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal — a julgar pelo recém-proferido voto da ministra Rosa Weber: o publicitário Marcos Valério, tudo indica, vai ser condenado, e vai pegar cadeia brava.
A pergunta que não quer calar, e que não ofende, é: será que ele irá para o cadafalso sozinho — e quieto?
Valério: sobre Bastilhas e Marias Antonietas (Foto: Antonio Cruz / ABr)
Valério: sobre Bastilhas e Marias Antonietas (Foto: Antonio Cruz / ABr)
Há quem diga, e gente boa, que se ele falar TUDO o que sabe, mesmo que em outras circunstâncias, e depois do julgamento, como diria Nelson Rodrigues cairão Bastilhas e serão decapitadas Marias Antonietas.

Espanha: recessão leva 8 de cada 10 espanhóis a mudar seus hábitos de consumo



JUVENTUDE NA RUA -- Frequentar bares e restaurantes, só em ocasiões especiais. Para Laura González e Joaquin Rodrígues (na foto, a segunda pessoa à esq. e no centro), o botellón, tradicional costume espanhol de se reunir com os amigos nas ruas para conversar e beber, popular entre os mais jovens, tornou-se o principal entretenimento. Outro ponto de encontro cada vez mais frequente é a casa dos amigos. Em tempo de crise severa, a ordem é economizar. "Ninguém que eu conheça acha que a crise vai acabar em pouco tempo. Na verdade, a única certeza é que o pior ainda está por vir", diz Joaquin, 39 anos, técnico de som, ao lado de seus amigos no boêmio bairro La Latina, em Madri  (Foto: Emiliano Capozoli / VEJA)
JUVENTUDE NA RUA -- Frequentar bares e restaurantes, só em ocasiões muito especiais. Para Laura González e Joaquín Rodrígues (na foto, a segunda pessoa à esq. e no centro), o "botellón", tradicional costume espanhol de se reunir com os amigos nas ruas para conversar e beber, popular entre os mais jovens -- que não raro se transforma em baderna e motivo de intervenção da polícia --, tornou-se o principal entretenimento. Outro ponto de encontro cada vez mais frequente é a casa dos amigos. Em tempo de crise severa, a ordem é economizar. "Ninguém que eu conheça acha que a crise vai acabar em pouco tempo. Na verdade, a única certeza é que o pior ainda está por vir", diz Joaquín, 39 anos, técnico de som, ao lado de seus amigos no boêmio bairro La Latina, em Madri (Foto: Emiliano Capozoli / VEJA)

Reportagem de Marcelo Sakate, de Madri, publicada em edição impressa de VEJA

O DIA A DIA DE UMA RECESSÃO
Os espanhóis se ajustam à realidade de cinco anos de declínio econômico cortando despesas e substituindo os bares pelas ruas
Em uma noite abafada de verão, a Praça Puerta de Moros, no bairro La Latina, em Madri, está tomada por grupos de amigos. Com latinhas de cerveja e pacotes de batatas fritas nas mãos, eles cultivam o hábito espanhol do botellón. A crise econômica mais grave em décadas, no entanto, fez do hábito social de encontrar os colegas na rua a principal forma de entretenimento dos jovens espanhóis. “Não me lembro da última vez em que nos vimos em um bar. Para economizar, só nos encontramos nas praças”, conta a atriz Laura González, 34 anos, ao lado de quatro amigos.
[botellón volta e meia se transforma em baderna, causando brigas e levando moradores a chamar a polícia. Em algumas cidades, é alvo de atenção especial das autoridades.]
É um padrão de comportamento que se alastra. Oito em cada dez espanhóis dizem ter mudado seus hábitos de consumo por causa da recessão e do aumento do desemprego, que atinge um em cada quatro trabalhadores. A rotineira ida ao supermercado é outro exemplo.
As marcas próprias das redes ganharam apelo graças aos preços baixos, em detrimento de mercadorias de fabricantes tradicionais. Já representam quase a metade da cesta de compras.
FUTURO NO BRASIL -- Recém-formada em artes dramáticas, Marina Lledó, 22 anos, planeja viver seus próximos anos fora da Espanha. "Muitos dos meus amigos já se mudaram para outros países." Ela trabalha meio período em uma loja de instrumentos musicais e guarda dinheiro para se mudar no ano que vem para São Paulo, onde pretende fazer carreira como cantora e pianista. Conta com as dicas de seu pai, um músico espanhol que viveu no Brasil nos anos 70 e 80. "Meus pais me apoiam porque sabem que, além da experiência de vida no exterior, terei mais oportunidades profissionais." (Foto: Emiliano Capozoli / VEJA)
FUTURO NO BRASIL -- Recém-formada em artes dramáticas, Marina Lledó, 22 anos, planeja viver seus próximos anos fora da Espanha. "Muitos dos meus amigos já se mudaram para outros países." Ela trabalha meio período em uma loja de instrumentos musicais e guarda dinheiro para se mudar no ano que vem para São Paulo, onde pretende fazer carreira como cantora e pianista. Conta com as dicas de seu pai, um músico espanhol que viveu no Brasil nos anos 70 e 80. "Meus pais me apoiam porque sabem que, além da experiência de vida no exterior, terei mais oportunidades profissionais." (Foto: Emiliano Capozoli / VEJA)
A economia encolhe há 9 meses. Desaba a venda de automóveis
É um comportamento similar ao dos brasileiros no passado, em tempos de colapso econômico. Produtos de valor mais elevado, cujas vendas dependem da confiança dos consumidores no futuro do país, sofrem mais. No ano passado, foram vendidos na Espanha 787 000 carros novos, a metade da quantidade de 2006.
A economia espanhola encolhe há nove meses. Números divulgados na semana passada mostram que boa parte das maiores potências europeias voltou a entrar em recessão, ao acumular dois trimestres consecutivos de queda na atividade. O PIB da Espanha deverá encerrar este ano com o mesmo tamanho que tinha em 2007 – ou seja, terá acumulado meia década perdida.
Na construção civil, o setor que mais cresceu nos anos dourados do país, o número de trabalhadores retornou ao patamar de 1998. As lojas, os bares e os restaurantes sobrevivem em grande medida graças aos turistas estrangeiros (o país é o quarto destino mais visitado do mundo). A mudança de hábitos dos espanhóis reflete a queda na renda da população.
O gasto médio total por domicílio caiu 14% entre 2007 e 2010, de 25 400 euros para 21 800 euros ao ano. As despesas diminuíram em dez das doze categorias de consumo (apenas educação e moradia foram poupadas). O movimento em bares, restaurantes e hotéis foi reduzido em 23%, e 12000 estabelecimentos fecharam as portas em três anos.
Relata o catalão Ignacio Sala, diretor da agência de turismo e entretenimento on-line Atrápalo: “Os espanhóis viajam cada vez menos e escolhem destinos próximos”. As viagens internacionais caíram 15% no último ano, enquanto o turismo doméstico cresceu 6%, segundo dados oficiais. “Em compensação, subiu a procura pelo lazer urbano, como spas e espetáculos”, diz ele.
Não que as atividades culturais estejam incólumes. Ao contrário, entraram no pacote de ajustes das contas públicas. Para cinemas e teatros, o principal tributo espanhol, o imposto sobre valor agregado (IVA), subiu de 8% para 21%. O fundo público que financia as produções cinematográficas teve redução de 35% na sua verba. No instituto de apoio às artes cênicas e à música, o corte é de 17%.
O anúncio causou revolta entre os artistas. “É uma punhalada na cultura”, disse o ator Javier Bardem, que participou de um protesto em Madri em julho.
As manifestações populares já se incorporaram à rotina das cidades, com adesão maciça do funcionalismo. Inicialmente imunes à crise, graças à estabilidade no emprego e aos rendimentos intactos, os servidores públicos se tornaram o alvo das medidas de austeridade do novo governo, do conservador Mariano Rajoy [, no poder desde dezembro passado].
O objetivo é restabelecer as condições para que o país volte a ser competitivo (o déficit nas contas públicas foi de 8,5% do PIB em 2011, o terceiro maior entre as 27 economias da União Europeia). O governo suspendeu o salário de Natal, um dos dois pagamentos extras que os funcionários recebiam, e reduziu o número de folgas e o valor do seguro-desemprego. Ao atingir o funcionalismo, Rajoy amplificou o sentimento de que a crise, desta vez, é para todos.
MUDANÇA DE HÁBITOS -- O empresário catalão Ignacio Sala precisou se adaptar para crescer. Sócio de uma agência on-line de turismo e entretenimento, a Atrápalo, ele conta que os espanhóis substituíram as viagens internacionais por pacotes domésticos, e estes, pelos programas de lazer urbano, como teatro e shows de música. Além disso, Sala diz que os espanhóis passaram a deixar a compra para a última hora, com a esperança de que consigam um emprego ou de que a situação econômica melhore. "Antes, as reservas para as férias de agosto, no verão europeu, eram feitas em maio ou, no máximo, em junho." (Foto: Emiliano Capozoli / VEJA)
MUDANÇA DE HÁBITOS -- O empresário catalão Ignacio Sala precisou se adaptar para crescer. Sócio de uma agência on-line de turismo e entretenimento, a Atrápalo, ele conta que os espanhóis substituíram as viagens internacionais por pacotes domésticos, e estes, pelos programas de lazer urbano, como teatro e shows de música. Além disso, Sala diz que os espanhóis passaram a deixar a compra para a última hora, com a esperança de que consigam um emprego ou de que a situação econômica melhore. "Antes, as reservas para as férias de agosto, no verão europeu, eram feitas em maio ou, no máximo, em junho." (Foto: Emiliano Capozoli / VEJA)
Em um outro efeito da derrocada na economia, em 2011, pela primeira vez em 25 anos, a população espanhola diminuiu de tamanho. Mais de meio milhão de pessoas, na maior parte estrangeiras, saíram do país, superando a entrada de 460.000. O saldo negativo é gritante para um país que se habituou a ser um receptor de estrangeiros nas últimas décadas.
Agora são os jovens espanhóis que pensam em buscar uma sorte melhor no exterior. Marina Lledó, 22 anos, concilia as sessões de piano e os ensaios de canto e de teatro com a jornada de meio período em uma loja de instrumentos musicais, enquanto faz planos para morar em São Paulo no próximo ano. Seu pai viveu no Brasil por mais de vinte anos. Ela conta que a crise foi o empurrão necessário para transformar em decisão o que era apenas uma ideia. Afirma Marina, resignada: “Acho que terei um futuro mais promissor, com mais oportunidades de trabalho”.
Os jovens, como ela, são os mais atingidos pela crise. Metade deles está fora do mercado de trabalho e sobrevive com bicos e a ajuda dos pais. Tão cedo os bares espanhóis não voltarão a lotar.

Duas histórias de governadores



Sebastião Nery
O sábio e saudoso Dinarte Mariz era governador do Rio Grande do Norte e inimigo de Aluisio Alves. Aluisio saiu da UDN, foi candidato pela oposição e ganhou. Dinarte disse que não passava o cargo.
No dia da posse, Dinarte saiu cedo do palácio e entregou as chaves ao porteiro Francisco. Todo importante, paletó e gravata, sapato engraxado, Francisco foi lá para a frente e ficou de pé nas escadarias.
Esperou uma hora, duas, três, o novo governador não chegava. Aluisio estava indo da Assembléia para o palácio, a pé, com o povo. A mulher mandou chamar o porteiro Francisco para o almoço, nada. Ele ali, de pé, cumprindo patrioticamente seu dever cívico.
De repente, à frente da multidão, apareceu Aluisio na esquina. O porteiro Francisco suspirou, aliviado:
- Ainda bem que ele está chegando. Não aguento mais governar essa merda.
Entregou as chaves e o fugaz poder.
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LOMANTO É MANTIDO
“Sergipano, baixinho, gorduchinho, atarracado, ambicioso, o coronel Humberto de Melo era o chefe do Estado Maior da 6ª Região Militar na Bahia, no golpe de 64. Com cursos no Panamá, nos Estados Unidos, era um ‘homem de informações’. Na época, isso queria dizer ligado à CIA.
Bebia muito, detonava uísque. Udenista, tinha sido secretário de Segurança do governo Juracy Magalhães. No golpe, tomou conta do Estado e de Sergipe. O comandante da Região, general Manoel Pereira, era uma simpática e lerda rainha da Inglaterra.
Humberto de Melo resolveu derrubar o governador Lomanto Junior, do PTB, e assumir o governo do Estado. UDN e PSD armaram tudo na Assembleia que, acovardada, já tinha número de sobra para aprovar o impeachment de Lomanto. Marcaram sessão extraordinária para uma segunda-feira, à tarde.
De manhã cedo, desce de surpresa em Salvador, de um avião militar, saído de Recife, com um punhado de oficiais, o general Justino Alves Bastos, comandante do 4º Exército e chefe de Humberto de Mello. Foi direto para o palácio da Aclamação e avisou: – Vim almoçar com meu governador, que vai continuar governador.
E ninguém mais falou em derrubar Lomanto.
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O SANTO
Todo milagre tem seu santo, o de Lomanto foi o simpático e bem falante Paranhos, que se dizia deputado pelo Estado do Rio, mas era apenas suplente, e aterrissou de repente na casa do saudoso Marcelo Gedeon, presidente do Conselho dos Produtores de Cacau e aparentado de Lomanto.
Compadre do general Justino, Paranhos esteve antes às pressas na Bahia e acertou a ficada de Lomanto com Lelivaldo Brito, cunhado do governador, rico e presidente do Banco do Estado (morreu pobre há alguns anos em Salvador).
A filha de Justino ia casar. Lomanto, que nunca tinha visto a filha do general, virou padrinho do casamento e Lomanto e Lelivaldo deram à noiva polpudos presentes, inclusive um resplandecente carro esporte Puma. Por isso Lomanto continuou governador até o último dia”.

Lewandowski deveria aplicar em João Paulo Cunha o mesmo rigor do caso do pescador de camarões.


Carlos Newton

Circula na internet um texto muito interessante, que nos foi enviado pelo advogado Celso Serra, em que se faz uma comparação sobre dois processos em que atuou o ministro Ricardo Lewandowski. Um deles, o habeas corpus de um pescador; o outro, o processo do deputado João Paulo Cunha.
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O PESCADOR E O DEPUTADO
Brasileiros e brasileiras alfabetizados, o jornal O Estado de S. Paulo publicou editorial no dia 25/agosto/2012, no qual revela que a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou um pedido de habeas corpus impetrado por um pescador de Santa Catarina, condenado a um ano e dois meses de detenção por ter pescado 12 camarões, por violação da lei.
Relator do caso, o ministro Ricardo Lewandowski foi mais rigoroso com o pescador do que com o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), notório réu no processo do mensalão.
Lewandowski negou o habeas corpus pedido pelo pescador, alegando que a rede por ele usada tinha “malha finíssima”. Assim, o pescador deveria continuar preso.
Ora, 12 camarões no máximo pesariam 1/2 quilo; no máximo valeriam R$ 10,00 (dez reais). A grana flagrada sendo embolsada por João Paulo Cunha no Valerioduto foi de R$ 50 mil, em apenas uma mensalidade.
E o impoluto ministro absolveu João Paulo Cunha sob a esfarrapada alegação que todos conhecem…
A Justiça, no caso do pescador atacado por Lewandowski, foi salva, pois os demais integrantes da 2.ª Turma do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso e Gilmar Mendes, aplicaram ao caso o princípio da insignificância.
“É evidente a desproporcionalidade da pena aplicada, pois a causa é de crime famélico. É preciso encontrar outros meios de reprimir condutas como a dos autos, em que não parece razoável que se imponha esse tipo de sanção (a pena privativa de liberdade)”, afirmou Gilmar Mendes.
Resumo da ópera bufa: para Lewandowski, quem pescar 12 camarões (equivalente a R$ 10,00) para comer deve ir para a prisão e lá permanecer; o político que embolsar R$ 50.000,00 de origem ilícita deve ser absolvido e permanecer no cargo de deputado federal e também, se for eleito prefeito, deve assumir e “cuidar” dos cofres municipais.
Se for filiado ao PT, é claro…, pois Paulo Maluf não teve nada a ver com essas decisões.

A pirata pela qual os alemães estão apaixonados



Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)
LONDRES – E então vejo jovens lideranças políticas surgindo em várias partes. Nesta semana, fiquei particularmente impressionado com Marina Weisband, 24 anos, do Partido Pirata da Alemanha.
 Marina, a pirata alemã
Vi uma longa entrevista com ela numa emissora alemã e, se não fosse um homem já experiente, ficaria de queixo caído. (A entrevista foi em inglês.) Marina, judia ucraniana praticante, foi com os pais para a Alemanha depois da desintegração da União Soviética. Tinha nove anos. Hoje é uma celebridade política na Alemanha.
O Partido Pirata está em vários países da Europa. É como um clube internacional. Apareceu na Suécia, em 2006, pelas mãos de um jovem brilhante, Richard Falkvinge, e se espalhou por várias partes. Tem sido um sucesso eleitoral. Conquistou assentos em muitos parlamentos europeus. Cresce vigorosamente. É visto como o fato novo da política, formado por gente de mente aberta que não é mais do mesmo.
O Pirata do nome foi uma forma que seus fundadores na Suécia encontraram de desmistificar a palavra “pirata” no mundo digital. Mais ou menos como os homossexuais americanos fizeram ao adotar o termo “gay” para subtrair a carga pejorativa.
O partido defende, essencialmente, acesso livre e universal das pessoas às informações. Demanda, também, transparência dos governos. Os piratas combatem também o que julgam ser a invasão de privacidade dos governos e das corporações nas vidas privadas dos cidadãos por meio da tecnologia.
“Na geração dos nossos pais, as pessoas podiam sentar numa mesa e conversar sem que ninguém soubesse o que elas falavam falando”, diz Falkvinge. “Queremos a mesma privacidade hoje, quando a comunicação mudou e se dá quase sempre pela internet.”
Empresas como o Facebook e o Google têm uma quantidade enorme de informações pessoais de você sem que você provavelmente faça ideia. Governos monitoram emails pessoais e sites em nome de coisas que ninguém sabe quais são exatamente. Os piratas são contra tudo isso.
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NOVO CICLO POLÍTICO
Falkvinge faz uma digressão histórica interessante. Segundo ele, a cada quarenta anos se abre um novo ciclo na política. Quarenta anos atrás, foram os verdes que chegaram. Oitenta anos atrás, o que hoje é conhecido como social-democracia. Cento e vinte anos atrás, os holofotes estavam nos adeptos do livre mercado.
Direito autoral é um ponto controverso na plataforma pirata. Eles reconhecem que o autor tem que ser remunerado. Mas entendem que uma vez que você, suponhamos, paga por uma música na internet pode passá-la por cópia a quem quiser.
Lembra na faculdade, quando você mimeograva um livro da biblioteca ou de um amigo? “Copiar sempre foi um hábito na história da humanidade”, diz Marina. Ela mora com o namorado, e se afastou momentaneamente do cargo de porta-voz do partido depois de um estresse. Está se dedicando integralmente à conclusão dos seus estudos na área da psicologia.
No final da entrevista que vi com Marina, apareciam perguntas que pediam respostas curtas. Gostei de uma, em especial. “Política: problema ou solução?” Marina não hesitou: “Solução”.
Clap, clap, clap.
Política existe para que se resolvam problemas. Quando as pessoas de boa fé perdem a fé na política e se afastam dela, acabam sem se dar conta passando o controle de sua vida para vigaristas que em nome do “interesse público” rapinarão a sociedade.

Governador diz que não subornou PM, apenas comprou um carro dele e depois devolveu...



Carlos Newton
O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), deu uma desculpa muito criativa à suspeita de que teria pago R$ 7,5 mil ao policial militar João Dias Ferreira para que não fosse revelado um suposto esquema de desvio de recursos públicos no Ministério do Esporte, que foi comandado pelo petista entre 2003 e 2006.
 Agnelo bola mais uma desculpa
Segundo nota distribuída pelo porta-voz do governador, o valor corresponde à compra de um carro usado. “A transação foi feita em fevereiro de 2008, mediante a entrega de 10 cheques nominais pré-datados, mas acabou desfeita pouco mais de dois meses depois, com a devolução do carro e a restituição dos cheques”, diz a nota, sem explicar por que o carro foi devolvido ao PM.
O pior é a justificativa pode até ser aceita, porque em outra acusação de suborno, quando era diretor da Anvisa, Agnelo Queiroz alegou que havia emprestado dinheiro vivo ao lobista do laboratório e ficou tudo por isso mesmo.
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COINCIDÊNDIA?
Os depósitos dos R$ 7,5 mil foram identificados a partir dos dados bancários encaminhados por Agnelo Queiroz à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira. O pagamento foi feito em três parcelas de R$ 2,5 mil em 1º de fevereiro, 31 de março e 4 de março de 2008. Ou seja, nem eram prestações mensais…
O levantamento foi feito pela liderança do PSDB. De acordo com o líder Álvaro Dias (PR), “o repasse desses recursos ocorreram coincidentemente no período em que o João Dias ameaçava o governador na eventual participação dele naquele episódio de recursos no Ministério do Esporte”, declarou.
Como se sabe, em 2007, uma auditoria do Ministério do Esporte apurou irregularidades em convênios firmados com organizações não-governamentais (ONGs) comandadas por João Dias. Em 2008, quando a Pasta já era comandada pelo ex-ministro Orlando Silva, as investigações a respeito dos desvios no Programa Segundo Tempo foram abafadas e o caso culminou com a saída de Orlando Silva do cargo.
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REPRESENTAÇÃO
O senador Álvaro Dias disse que a assessoria do PSDB está formulando uma representação criminal para pedir ao Ministério Público Federal para investigar o caso. Segundo ele, não deve ser feita nenhuma ação no âmbito da CPI, mas ressaltou que Agnelo “faltou com a verdade” em seu depoimento à Comissão.
“Não estamos cogitando reconvocação [de Agnelo Queiroz à CPI] e sim uma medida extra CPI que seria esta representação criminal”, afirmou. “Ele faltou com a verdade, desqualificou o policial e aí cabe seu indiciamento, pois ele já responde a dois processos no Superior Tribunal de Justiça”.

Vargas e a presença do Estado na economia


Mauro Santayana

Em 24 de agosto de 1954, os homens de minha geração chegavam à maioridade. Naquele dia, pela manhã, cheguei ao Rio, enviado pelo Diário de Minas, de Belo Horizonte, a fim de cobrir o velório de Vargas e a reação do povo carioca ao suicídio do Presidente. A Presidente Dilma Rousseff era uma menina de seis anos. Não poderia saber o que significava aquele gesto de um homem que mal passara dos 70, e ocupara o centro da vida brasileira naqueles últimos 24 anos.
As jornadas anteriores haviam sido enganosas, o que costuma ocorrer na História, desde o episódio famoso da frustrada queda de Richelieu.
Os meios de comunicação haviam ampliado o suposto atentado contra Carlos Lacerda – obscuro até hoje – e atribuído a responsabilidade ao Presidente, tentando fazer crer que o Palácio do Governo se transformara em valhacouto de ladrões e assassinos. Houve quase unanimidade contra Getúlio. Quando passei pela Praça 7, em Belo Horizonte, a caminho do aeroporto da Pampulha, entre manifestantes de esquerda, um jovem sindicalista, meu amigo, pedia aos gritos, pelo megafone, a prisão do Presidente. Desci do táxi e lhe dei a notícia, com os avisos de meu pressentimento: dissolvesse o grupo, antes que os trabalhadores, ao saber da morte do Presidente, reagissem na defesa do líder desaparecido.
Durante a viagem ao Rio, que durava hora e meia, organizei minhas idéias. Entendi, em um instante, que a ação coordenada contra Vargas nada tinha a ver com o assassinato de um oficial da Força Aérea, transformado em guarda-costas do jornalista Carlos Lacerda – isso, sim, ato irregular e punível pelos regulamentos militares. Lacerda, ferido no peito do pé, não permitiu que o revólver que portava fosse periciado pela polícia. Açulada e acuada pela grande imprensa, a polícia nunca investigou o que realmente houve na Rua Tonelero.
Vargas fora acossado pelos interesses dos banqueiros e grandes empresários associados ao capital norte-americano. Ao ouvir, pelo rádio, a leitura de sua carta, não tive qualquer dúvida: Getúlio se matara como ato de denúncia, não de renúncia. Morrera em defesa do desenvolvimento soberano de nosso povo.
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LOBOS E CORDEIROS
Sei que não basta a vontade política do governante para administrar bem o Estado. Mas uma coisa parece óbvia a quem estuda as relações históricas entre o Estado e a Nação: o Estado existe para buscar a justiça, defender os mais frágeis, uma vez que não há igualdade entre todos. Por isso, algumas medidas anunciadas pelo governo inquietam grande parcela dos brasileiros bem informados. É sempre suspeito que os grandes empresários aplaudam, com alegria, uma decisão do governo. Posso imaginar a euforia dos lobos junto a uma ninhada de cordeiros. Quando os ricos aplaudem, os pobres devem acautelar-se.
O regime de concessões vem desde o Império. As vantagens oferecidas aos investidores ingleses, no alvorecer da Independência, levaram à Revolução de 1842, chefiada pelo mineiro Teófilo Ottoni e pelos paulistas Feijó e Rafael Tobias de Aguiar, e conhecida como a Revolução do Serro, em Minas, e de Sorocaba, em São Paulo. O Manifesto Revolucionário, divulgado em São João del Rei por Teófilo Ottoni, e assinado por José Feliciano Pinto Coelho, presidente da província rebelde, é claro em seu nacionalismo, ao denunciar que os estrangeiros ditavam o que devíamos fazer “em nossa própria casa”.
A presidente deve conhecer bem, como estudiosa do tema, o que foi a política econômica de Campos Salles e seu ministro Joaquim Murtinho, em resposta à especulação financeira alucinante do encilhamento. O excessivo liberalismo do governo de Prudente de Moraes e de seu ministro Ruy Barbosa, afundou o Brasil, fazendo crescer absurdamente o serviço da dívida – já histórica –, obrigando Campos Salles (que morreria anos depois, em relativa pobreza) a negociar, com notório constrangimento, o funding loan com a praça de Londres.
O resultado foi desastroso para o Brasil. Os bancos brasileiros quebraram, um banco inglês em sua sucursal brasileira superou o Banco do Brasil em recursos e operações e, ainda em 1899, a Light iniciava, no Brasil, o sistema de concessões como o conhecemos. O Brasil perdeu, nos dez anos que se seguiram, o caminho de desenvolvimento que vinha seguindo desde 1870.
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CONCESSÕES
Durante mais de 50 anos, a energia elétrica, a produção e distribuição de gás e o sistema de comunicações telefônicas no eixo Rio-SP-BH foram controlados pelos estrangeiros. Ao mesmo tempo, os combustíveis se encontravam sob o controle da Standard Oil. A iluminação dos pobres se fazia com o Kerosene Jacaré, vendido em litros, nas pequenas mercearias dos subúrbios, cujos moradores não podiam pagar pela energia elétrica, escassa e muito cara. O caso das concessões da Light é exemplar: antes do fim do prazo, a empresa, sucateada, foi reestatizada, para, em seguida, ser recuperada pelo governo e “privatizada”. Como se sabe foi adquirida pela EDF, uma estatal francesa, durante o governo de Fernando Henrique. Novamente sucateada, foi preciso que uma estatal brasileira, a Cemig, associada a capitais privados nacionais, a assumisse, para as inversões necessárias à sua recuperação.
Vargas não tinha como se livrar, da noite para a manhã, dessa desgraça, mas iniciou o processo político necessário, ainda no Estado Novo, para conferir ao Estado o controle dos setores estratégicos da economia. Só conseguiu, antes de ser deposto em 1945, criar a CSN e a Vale do Rio Doce. Eleito, retomou o projeto, em 1951 e o confronto com Washington se tornou aberto. O capital americano desembarcara com apetite durante o governo Dutra, na primeira onda de desnacionalização da jovem indústria brasileira. Getúlio, na defesa de nossos interesses, decidiu limitar a remessa de lucros. Embora os banqueiros e as corporações estrangeiras soubessem muito bem como esquivar-se da lei, a decisão foi um pretexto para a articulação do golpe que o levaria à morte.
O Estado pode, e deve, manter sob seu controle estrito os setores estratégicos da economia, como os dos transportes, da energia, do sistema financeiro. Concessões, principalmente abertas aos estrangeiros, em quase todas as situações, são um risco dispensável. O Brasil dispõe hoje de técnicos e de recursos, tanto é assim que o BNDES vai financiar, a juros de mãe, os empreendimentos previstos. Se há escassez de engenheiros especializados, podemos contratá-los no Exterior, assim como podemos comprar os processos tecnológicos fora do país.
Uma solução seria a das empresas de economia mista, com controle e maioria de capitais do Estado e a minoria dos investidores nacionais, mediante ações preferenciais. Por mais caro nos custem, é melhor do que entregar as obras e a operação dos aeroportos, ferrovias e rodovias ao controle estrangeiro. O que nos tem faltado é cuidado e zelo na escolha dos administradores de algumas empresas públicas. Não há diferença entre uma empresa pública e uma empresa privada, a não ser a competência e a lisura de seus administradores. Entre os quadros de que dispomos, há engenheiros militares competentes e nacionalistas, como os que colaboraram com o projeto nacional de Vargas e com as realizações de Juscelino, na chefia e composição dos grupos de trabalho executivo, como o GEIA e o Geipot.
E por falar nisso, são numerosas e fortes as reações à anunciada nomeação do Sr. Bernardo Figueiredo, para dirigir a nova estatal ferroviária. Seu nome já foi vetado pelo Senado para a direção da Agência Nacional dos Transportes Terrestres. E o bom senso é contrário à construção do Trem Bala, que custará bilhões de reais. O senso comum recomenda usar esses recursos na melhoria das linhas existentes e na abertura de novos trechos convencionais. Não podemos entrar em uma corrida desse tipo com os países mais ricos. Eles podem se dar a esse luxo, porque já dispõem de armas atômicas enquanto nós não temos nem mesmo como garantir as nossas fronteiras históricas.
(Do blog de Santayana)

Presidente do Tribunal de Justiça capixaba culpa o Judiciário por impunidade


O presidente do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, desembargador Pedro Valls Feu Rosa, afirmou em palestra na V Conferência Internacional de Direitos Humanos, que a corrupção no Brasil já configura ameaça à ordem pública e atribuiu a culpa pela impunidade ao próprio sistema judiciário, a quem acusou de “injusto ou cúmplice” pela impunidade dos corruptos.

 Feu Rosa diz a verdade
“Ou nosso sistema está a conferir benesses que a lei absolutamente não contempla, ou estamos diante de um sistema legal injusto ou cúmplice – injusto na medida em que não aplica as leis de forma uniforme, ou cúmplice quando cria a impunidade para alguns poucos abonados”, afirmou o desembargador durante o painel Dignidade e Sistema Prisional.
O desembargador afirmou que “a corrupção no Brasil suga dos cofres públicos, anualmente, o equivalente a 1,35% do Produto Interno Bruto (PIB), o que representa também o orçamento de sete ministérios”. E acrescentou: “E esse é o mesmo país sobre cujo solo morrem 20 crianças a cada dia por falta de saneamento básico. Essa praga (corrupção) está disseminada por todo o País, conforme pesquisas e relatórios produzidos. Desiludida, quase metade da população tem declarado a institutos de pesquisa que desconfia da democracia e diz preferir a ditadura, o que configura grave ameaça à ordem pública”.
Na opinião do presidente do TJ-ES, em uma palestra marcada pelo tom crítico ao Judiciário brasileiro, “a sábia voz das ruas não está errada: nosso sistema legal tem sido omisso ou cúmplice; não saberia dizer qual o pior, pois temos sido voluntaria ou involuntariamente instrumento dos maus. Nossas interpretações não raramente tem jogado por terra a justiça e direitos humanos os mais elementares; abusamos com freqüência das leis e ainda chamamos em nossos pomposos acórdãos de devido processo legal. Nos especializamos em fazer com que o que esteja nos autos não chegue ao mundo – e o que esteja no mundo não chegue aos autos”.
Na mesma linha, o desembargador afirmou que o princípio de que a lei é igual para todos não tem sido, a rigor, aplicado pela Justiça brasileira que, ao permitir brechas para que os mais ricos utilizem de “filigranas jurídicas” para escapar a punições, pune de forma dura os mais pobres.
Ao criticar o que chamou de ordem jurídica e social injusta, ele indagou: “Se a lei é igual para todos por qual motivo todas as filigranas processuais não são estendidas aos miseráveis? Quantos acusados em grandes casos de corrupção respondem presos hoje em seus processos? Afinal, falamos de um mesmo sistema legal”.
“Um semelhante nosso que jaz abandonado num corredor fétido de um hospital sabe perfeitamente que lá está por conta dessa ordem jurídica e social injusta”, prosseguiu Valls Feu Rosa. “A mãe que segura no colo um filho morto e devorado por ratos em alguma favela sente com clareza que aí está mais uma vítima do desvio impune de recursos públicos. O pai que enterra o filho, morto por causa da péssima infraestrutura oferecida por este país, compreende que ele foi assassinado por omissão de alguns. Nenhum desses personagens externa ou sequer definem esses sentimentos, mas eles estão lá, no coração de tão pobre povo que habita tão rica terra”.
“E assim como toda ação tem conseqüência – concluiu ele com um alerta -, estamos criando uma sociedade cada vez mais conflituosa cujos reflexos já se projetam nas portas de nossas casas e colorem de cinza nossas vidas e a dos nossos entes mais queridos”.
(Reportagem enviada por Mário Assis)

Toffoli faz o dever de casa e absolve todo mundo: 3 a 2


Como era de se esperar, o ministro Dias Toffoli, com seu notório saber jurídico, seguiu o voto do revisor Ricardo Lewandowski e absolveu João Paulo Cunha,  Marcos Valério e os sócios do publicitário mineiro. Seu voto foi chatíssimo, citando o tempo toda as defesas, sem citar as acusações. Não merece comentários..

Primo incriminou ex-goleiro Bruno em carta Sérgio Sales, morto semana passada, escrevera aos pais sobre ameaças que teria sofrido





Carta de Sérgio Sales enviada aos pais: ‘Outros advogados estão vindo aqui talves (sic) mandado por outros advogados para mudar a minha cabeça no meu depoimento’, disse.
Foto: Reprodução TV GLOBO
Carta de Sérgio Sales enviada aos pais: ‘Outros advogados estão vindo aqui talves (sic) mandado por outros advogados para mudar a minha cabeça no meu depoimento’, disse.REPRODUÇÃO TV GLOBO
RIO — Uma carta escrita em 2010 traz novas informações ao caso Bruno. Conforme exibiu o “Fantástico”, da TV Globo, na noite de ontem, Sérgio Rosa Sales, primo do ex-goleiro Bruno Fernandes que foi assassinado na quarta-feira, contou aos pais, em carta, que sofrera ameaças para que alterasse o teor de seu primeiro depoimento, que envolvia Bruno na morte de Eliza Samúdio. O texto, de julho de 2010, foi escrito por Sérgio logo após a reconstituição do crime, feita pela polícia. Porém, o primo do goleiro deu uma nova versão três dias depois, declarando ter sido procurado para alterar a sua versão sobre o crime:
“O meu advogado é e continuará sendo o doutor Marco Antonio Siqueira. Só falei a verdade. O doutor não me mandou falar isso ou aquilo. Eu não confio em outros advogados. Não mande aqui outros advogados porque eu não vou trocar o meu. Tudo que eu falei para polícia no meu depoimento para polícia eu falei porque quiz (sic). Outros advogados estão vindo aqui talves (sic) mandado por outros advogados para mudar a minha cabeça no meu depoimento”, escreveu ele aos pais.
Na carta, Sérgio ainda confirma que Bruno estava no carro com Macarrão e um menor quando voltaram ao sítio com Eliza morta, e que ele não quis vê-la. Sérgio afirma ainda que o goleiro foi informado de que o corpo de Eliza fora jogado aos cães.Francisco Simin, um dos defensores do goleiro, negou ao “Fantástico” que tivesse ocorrido qualquer tipo de pressão para que Sérgio alterasse seu depoimento à polícia.
Na segunda versão, Sérgio inocentou o atleta e disse que estava com Bruno no sítio no momento do crime. E a rescentou que testemunhou uma discussão entre Bruno e Macarrão após a morte de Eliza.

 

Vida com dois pais e duas mães IBGE já detectou 60 mil famílias homoafetivas pelo Brasil. A maioria, 53,8%, é formada por mulheres





Marcela Matos, Daya Lima e as filhas Lisa Matos Lima e Nina. Mães decidiram mudar Nina de escola
Foto: Eliaria Andrade / Eliária Andrade
Marcela Matos, Daya Lima e as filhas Lisa Matos Lima e Nina. Mães decidiram mudar Nina de escolaELIARIA ANDRADE / ELIÁRIA ANDRADE
RECIFE, SÃO PAULO E RIO — Eles somam 60 mil, segundo o Censo 2010 do IBGE. Já oficializadas do ponto de vista legal (ainda falta o casamento), as relações homoafetivas são mais um exemplo dos novos arranjos familiares no Brasil, conforme mostra a série de reportagens “A Nova Família Brasileira”, iniciada ontem no GLOBO. E as mulheres são maioria nesses arranjos, respondem por 53,8% dos lares.
— Há uma subnumeração. As mulheres têm mais facilidade de reportar a condição ao recenseador. Duas mulheres juntas sofrem menos discriminação — afirma Ana Saboia, coordenadora de Indicadores Sociais do IBGE
Um bom exemplo dessa nova realidade é o casal de empresários Mailton Albuquerque, 35 anos, e Wilson Albuquerque, 40, residentes em Recife. No mês de março, eles apresentaram Maria Tereza, a primeira criança com dupla paternidade do país, nascida de barriga de aluguel. Na sua certidão de nascimento não há nome de mãe, só dos pais, que vivem juntos há 15 anos. Afirmam ter certeza que pretendem permanecer assim até o fim da vida. Por isso, decidiram constituir família.
A menina, hoje com seis meses, é filha biológica de Mailton, que recorreu a uma clínica de inseminação artificial e contou com o óvulo de uma doadora anônima. Uma prima que nunca quis se identificar cedeu o ventre para a gestação. Ambos já têm embriões congelados, caso queiram aumentar a prole. O próximo projeto é um filho biológico de Wilson, que deve ser gerado a partir de outubro. Uma pessoa da família já se prontificou a abrigar o embrião e no momento se submete à bateria de exames necessários ao procedimento.
— Não queremos dar um intervalo muito grande. Vamos criar os filhos juntos e esperamos que seja um anjo como Maria Tereza — diz Wilson, lembrando que pensaram em adoção, mas desistiram diante da burocracia.
Mailton diz que os dois querem que a criança se espelhe na educação e no afeto dos pais, e por esse motivo têm se dedicado muito à menina, ao ponto de levá-la duas vezes por semana à empresa deles em Recife:
— Queremos que nós e não babás sejam sua referência, e que Maria Tereza tenha intimidade com a gente.
Lésbicas, católicas e felizes
O capacho da porta de entrada da família Matos Lima é um arco-íris, numa alusão à bandeira dos movimentos gays. No amplo apartamento da Zona Oeste de São Paulo, minuciosamente decorado, vivem quatro mulheres: as mães Marcela Matos, de 43 anos, e Daya Lima, de 30, profissionais do ramo de comunicação, e as filhas Nina, de 16 anos, e Lisa, que completará dois. Marcela e Daya estão juntas há 10 anos.
Nina foi adotada por Marcela quando tinha dois anos. Daya entrou na vida de ambas no ano em que a garota completara seis anos. A certidão de nascimento de Nina, assim como a de Lisa, leva o sobrenome das duas mães, graças a um processo judicial.
Quase todos os domingos a família vai junta à missa. A experiência que tiveram ao manter Nina em um colégio católico, porém, não foi boa. As mães contam que, quando a filha tinha cerca de 10 anos, a professora pediu que os alunos escrevessem uma redação relatando como eram as suas famílias.
— Todos leram o texto em voz alta na sala. Mas, quando chegou a vez de a Nina ler, a professora não deixou. Foi neste episódio que decidimos trocar de escola — conta Marcela, que agora está feliz pois sua filha estuda em um colégio sem preconceitos, onde as colegas dela curtem a ideia de ter duas mães.
Sete anos depois de morarem juntas, o instinto materno de Daya aflorou e ela decidiu que queria engravidar. Elas tentaram fazer uma inseminação artificial, mas não deu certo. Em seguida, mudaram o método, arriscaram a fertilização in vitro e tiveram sucesso. Diferente do comum, elas não procuravam homens de cabelos lisos e olhos azuis, mas algum com profissão interessante.
— Havia um que era taxista. Eu achei tão romântico e sensível um cara ser taxista, que é uma profissão que não exige formação complexa, e doar o sêmen. Queria esse — diz Daya, mas sem revelar se esse foi o escolhido.
Preconceito ainda persiste
Um casal de homens, que também teve a rotina acompanhada pelo GLOBO, disse desde o primeiro encontro que não queria ser identificado nem fotografado. Um deles é executivo de uma grande multinacional e mantém sua opção sexual em sigilo. Só se assumem quando viajam ao exterior.