segunda-feira, 25 de março de 2013

Pare de lutar contra as mudanças. Lute pelas mudanças





A mudança acontece quer você queira, quer não. Esta é a maneira que o universo funciona. Ou você trabalha mudando algo, ou alguma coisa vai mudar você
Sim. A mudança é inevitável. A cerejeira fica verde, com folhas, brotos se formam, então as flores crescem com cores vibrantes, em seguida, as flores e folhas caem e ciclo volta a se repetir.
A cerejeira não pode evitar essas mudanças.
Às vezes a mudança é imposta a nós por eventos externos e de outras pessoas que não temos controle.
Em outros casos, as escolhas que fizemos nos colocou em uma situação que se clama por mudanças, embora possamos querer resistir. De qualquer maneira, a força da mudança implacavelmente nos move pra frente.
Enquanto não podemos impedir a mudança em nossa vida, podemos controlar como reagimos a essas mudanças e as escolhas que fazemos. Podemos melhorar significativamente a nossa vida, tornando-se a força da mudança, em vez de lutar contra ela.
Tudo começa com a maneira como vemos as situações desenrolarem em nossa vida.
Nós podemos olhar para a mudança como algo a ser evitado a todo custo ou uma oportunidade de fluir com as correntes e seguir em frente criando coisas novas.
Assim como a cerejeira, somos incapazes de lutar contra as mudanças.
Assim como a cerejeira, somos incapazes de lutar contra as mudanças.

Os obstáculos à mudança

Nós temos várias barreiras humanas que se impõem como obstáculos à mudança e precisamos nos tornar conscientes de que elas são necessárias.

#1. Zona de conforto

Este é o lugar em que as coisas são boas o suficiente para que nós não queiramos mudar, ou nos esforçando para isso. Nós podemos viver com o que temos.
Zonas de conforto são também sobre o nosso apego à forma como as coisas estão agora. Podemos nos tornar muito emocionais sobre a nossa vida, o modo que ela funciona, as pessoas ao redor e etc.
A alteração desse cenário pode parecer como uma perda para nós. Ninguém quer jogar por terra tudo que tem e começar algo novo e diferente. Ou quase ninguém.
No entanto, a força da mudança continua a trabalhar no seu ritmo. Quanto mais nos apegamos, quanto mais tempo ficamos na zona de conforto, mais difícil será a mudança para nós.
O mundo continua a mudar em torno de nós. Se aprendermos a aceitar a mudança a vida vai funcionar melhor em todos os níveis. Aí seguiremos o fluxo da mudança.

#2. Temos medo do desconhecido

Podemos preferir menos em uma situação ideal, do que uma situação completamente nova que não sabemos o suficiente. Que surpresas estão nos esperando?
Mais uma vez, se mantermos a atual situação por muito tempo ela vai se deteriorar. Quanto mais cedo você puder se mover para a frente, melhor. Porque em algum momento, a mudança vai bater na sua porta.

#3. Não estamos cientes em como as mudanças ao nosso redor podem afetar o nosso futuro

Podemos segurar o que temos por muito tempo fora da ignorância. Mas, o que não sabemos pode nos deter e nos machucar.
Fora da zona de conforto, com medo, podemos muito facilmente sintonizar todos os sinais que nos rodeiam demonstrando que  a mudança está prestes a bater em nossa porta.
Precisamos manter a janela da consciência aberta às mudanças. É isso que nos permite estar sempre à frente.
Precisamos manter a janela da consciência aberta às mudanças. É isso que nos permite estar sempre à frente.

Continue criando novas janelas para olhar para o seu mundo

Nunca aceite sua visão atual do mundo como a única visão sobre o mundo. É preciso adotar uma nova consciência para ajudar a alterar seu ponto de vista e motivá-lo a ser a força de mudança em sua vida.

A consciência alavanca o nosso potencial

E a partir do momento em que a nossa consciência cresce, nós crescemos. Vamos voltar para a cerejeira: o nível de ar e nutrientes do solo, bem como a maneira com que a árvore é regada e podada e a luz solar, afetam diretamente a sua flor.
O mesmo pode ser aplicado a nós. Prepare-se para lidar com qualquer mudança e transformá-la em algo melhor para a sua vida.
  • Expanda o seu conhecimento sobre si mesmo, sobre sua vida e seu mundo.
  • Construa novas janelas para que você possa ver o mundo sob novas maneiras.
  • Envolva-se em novas experiências que expandam ainda mais a sua consciência.
  • Continue a ter novas informações, ideias e experiências.
Tudo isso possibilita a perspectiva para nos ajudar a enxergar todas as nossas opções, afastar-nos do passado e assumir novos desafios pelo caminho, com mais confiança.
Enquanto não podemos saber o que vai acontecer no futuro, sabemos que o mundo que estamos tentando conquistar está mudando mais rápido do que imaginamos.
Movendo rumo ao desconhecido pode ser mais seguro do que nos agarrarmos ao passado. Quando você muda a si mesmo, o mundo começa a mudar com você.
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Este artigo foi adaptado do original, “Change Happens Whether You Want It to or Not”, do PositivelyPositive.

Autor

Enrico Cardoso – escreveu  posts no Jornal do Empreendedor.
Enrico Cardoso trabalha com criação de marcas online. Expert em marketing de conteúdo e branding, acredita que toda empresa tem uma única oportunidade de se transformar em uma grande marca: contando histórias e criando uma comunidade em torno de sua marca. "Por trás de uma grande marca sempre tem uma grande história".

Dora Kramer: há exigência de ficha limpa para poder entrar no Congresso — mas, lá dentro, deputados processados ou condenados podem ocupar altos postos



Da coluna de Dora Kramer no jornal O Estado de S. Paulo
Há a exigência de ficha limpa para candidatos, mas não há nos regimentos da Câmara e do Senado nada que diferencie um parlamentar do outro para a ocupação de postos importantes: presidências das casas, lideranças de bancadas, comando de comissões e conselhos.
De onde as barbaridades prosperam sem que nada se possa fazer além de pressão que gera desgaste político e pode, ou não, levar a um recuo. Investigações, denúncias e renúncias forçadas não impediram que Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves fossem eleitos presidentes da Câmara e do Senado.
Protestos e paralisação dos trabalhos da Comissão de Direitos Humanos reduzem as chances de o deputado Marco Feliciano continuar na presidência do colegiado, mas não garantem o desfecho.
Se o PMDB não quiser, nada impedirá o deputado Eduardo Cunha de seguir líder da bancada do partido, apesar de ser agora alvo de processo no Supremo Tribunal Federal. Assim como o PT não viu impedimento em indicar dois condenados à prisão pelo STF para a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
Do ponto de vista das regras internas, estão todos e mais alguns com contas abertas na Justiça dentro da legalidade.
E a legitimidade? Esta não conta como critério na escolha dos partidos para a distribuição de posições, embora pudesse passar a valer a partir de um acordo (de cavalheiros?) conduzido pelos presidentes das Casas que prometeram investir na recuperação da credibilidade do Parlamento.
A instituição de uma espécie de norma da ficha limpa para o exercício dos mandatos seria uma sugestão algo utópica. Criaria uma enorme confusão e levaria os preteridos a invocar o princípio do “respeito” aos votos que os levaram ao Congresso.
Situação anômala, verdade. Ocorre, porém, que anomalia maior é a que se estabelece hoje em um Poder Legislativo onde o cardinalato é composto de gente que antes era da turma do baixo clero, não tinha pretensões a comandos nem ocupava espaços de destaque.
Passavam despercebidos, e suas máculas não chegavam a contaminar de todo o ambiente.
Hoje é diferente, esse pessoal manda. Isso determina que obedeçam a exigências mínimas de conduta e aconselharia o Congresso a levar em conta ao menos as aparências.

QUE VERGONHA! Petistas querem “lealdade” do futuro ministro do Supremo — imaginando livrar a cara dos mensaleiros condenados na fase de recursos


Ricardo Setti

Ministros do STF Ricardo Levandowski e Luiz Fux (Foto: Carlos Humberto / STF)
Ministros do STF Ricardo Levandowski e Luiz Fux: para a escolha do novo ministro, na vaga de Ayres Britto, o primeiro é citado por petistas graúdos como "exemplo de lealdade"; o segundo, por sua independência no caso do mensalão, como algo que não se deve repetir (Foto: Carlos Humberto / STF)
O ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto se aposentou em novembro do ano passado, depois de presidir com firmeza e isenção a maior parte do julgamento do caso do mensalão. E até agora, decorridos mais de quatro meses, o governo não dá sinais de movimentação para designar seu substituto.
Pouca gente sabe — e eu sou um dos que NÃO sabe — o que a presidente Dilma vem cogitando antes de focar-se em um nome.
O que, sim, eu sei — e que me cobre de vergonha, como brasileiro — é que, dentro do PT, e mesmo em círculos mais próximos à presidente, o que se comenta não é tanto a competência técnica do futuro ministro, seu currículo, sua experiência. O que se comenta é sobre a necessidade de que o futuro ministro tenha uma misteriosa qualidade: “lealdade” — seja política, seja ideológica, seja o que for. Certamente seria ao governo que o designará.
Quando se cita a “lealdade”, cita-se, ao mesmo tempo, o ministro Ricardo Lewandowski, aquele mesmo que, como revisor do processo cujo relator foi o ministro Joaquim Barbosa, criou todos os casos possíveis para atrasar o julgamento do mensalão e que em geral se pronunciava pela não culpabilidade dos principais figurões do PT envolvidos na roubalheira.
Há também quem sussurre para não se correr novamente o “risco Fux” — uma referência ao ministro Luiz Fux, cujo nome foi indicado pela presidente ao Senado e que tomou posse em março de 2011. Fux fizera intenso lobby para ser alçado do Superior Tribunal de Justiça (para o qual fora nomeado, em lista tríplice, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso). O lobby incluiu reunião e até apelo ao próprio José Dirceu, já fora do governo e denunciado ante o Supremo pelo procurador-geral da República como “chefe da quadrilha” do mensalão — mas ainda influente.
Uma vez no Supremo, porém, Fux, no processo do mensalão, agiu com plena independência e revelou-se um dos ministros mais rigorosos no julgamento e na condenação dos mensaleiros.
Os petistas não querem ver repetido o caso — principalmente num período em que o Supremo, depois de publicado o acórdão (espécie de resumo da sentença) do julgamento, provavelmente até o final de abril, começará a examinar recursos ainda cabíveis interpostos pelos réus. Gostaria, essa gente, de ver um ministro “amigo” na hora de debruçar-se sobre os recursos, para, quem sabe, ajudar a aliviar a pena de alguns dos figurões condenados.
Resta saber, porém, que jurista com um mínimo de dignidade profissional e pessoal se prestaria ao papel de se comprometer a ser “leal” — no mau sentido da palavra — ao governo que o nomeou no mais alto tribunal do país.
Saulo Ramos: depois de chegar ao Supremo, a independência é a regra (Foto: veja.abril.com.br)
O ministro do Supremo, com efeito, é um agente do Estado tão poderoso e com tantas garantias — não pode ser demitido por ninguém (só é afastado se cometer crime), não pode ser aposentado antes de completar 70 anos, não pode ser mudado de cargo, não pode ter os salários reduzidos, tecnicamente não deve nada a ninguém, em tempo algum — que alguém nessa posição só será submisso ao Executivo por razões de péssimo caráter.
Que, naturalmente, incluem a possibilidade de ser corrompido.
Claro que há exceções à regra quase geral do comportamento isento, mas acho que está correto o experientíssimo ex-ministro da Justiça Saulo Ramos, grande advogado e jurista que, em 2010, quando o consultei sobre que influência haveria no Supremo com tantos ministros sendo nomeados por um só presidente – Lula, que àquela altura faria sua nona indicação –, disse, entre outras coisas, o seguinte:
– Na longa história do Supremo Tribunal Federal são muito raros os casos de ministros nomeados por um presidente da República e que a este fiquem subservientes no posterior exercício da função. Houve alguns que até hostilizaram, em votos, seus patronos apenas para demonstrar sua total independência, o que também é mau, pois demonstra parcialidade ao contrário.
Aguardemos e vejamos se a presidente vai se deixar envolver pelo canto de sereia dos petistas que querem livrar a cara dos mensaleiros de alguma maneira, ou manterá a sobriedade e a correção técnica das indicações que fez até agora para o Supremo.

Febre, por Téta Barbosa



Os homens pré-históricos já sabiam: os dias são dedicados à caça e pesca, enquanto as noites são reservadas ao descanso. Ali, no escurinho da caverna, no silêncio da floresta, eles recuperavam as energias para começar tudo no dia seguinte.
Nós só entendemos a importância deste ritual milenar quando, por um motivo ou outro, somos obrigados a trocar o dia pela noite. Um filho com febre, por exemplo, é razão das mais comuns para nós, mães neuróticas, irmos dormir de manhã, quando a temperatura do corpo desce, mas a do sol sobe.
Depois de fechadas as cortinas e iniciado o protocolo do sono diurno é que descobrimos a existência de uma entidade misteriosa que, apesar de ouvir, você nunca a vê e que, só na hora do descanso matinal, ela se revela em toda sua potência e poder.
Não estamos falando de almas penadas, mas da assustadora furadeira. Sim, aquele equipamento usado na construção civil e na reforma do seu vizinho vai ecoar com decibéis ensurdecedores, lembrando que as manhãs foram feitas para a caça e pesca, ou trabalho e escola, e não para se jogar nos braços de Morfeu.
Há dois momentos distintos em que a furadeira assassina aparece na vida. O primeiro foi descrito no parágrafo anterior e o segundo é quando você, eu no caso, trabalha em publicidade.


Imagine: uma equipe de filmagem monta a cena do comercial numa praça ou praia ou rua. O ator já tem seu texto decorado, o camera man está posicionado e a produtora já tem sua claquete em mãos quando o diretor, eu no caso, grita: câmera, ação!
E é, justamente nesse intervalo de centésimos de segundo entre o ação e a primeira palavra do ator, que ela, a furadeira assombrada, avisa que rapadura é doce, mas não é mole. O som do equipamento elétrico vem sempre seguido do “corta” e da expressão perplexa do operador de áudio.
É quando a produtora larga sua claquete para sair em busca do canteiro de obra e coloca em prática todo seu amor ao próximo enquanto convence o pedreiro de que “essa cena é rapidinha, o senhor pode desligar a furadeira só um pouquinho?”
No quesito atrapalhar o silêncio, as furadeiras ganham dos cachorros, das motos e dos eventuais helicópteros. Não pense o senhor leitor que estou inventando, pois existe uma bem aí, ao seu lado, neste momento. Se você for vigia noturno ou passar uma noite em claro, vai saber do que eu estou falando!

Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e fora dali. Escreve aqui sempre às segundas-feiras sobre modismos, modernidades e curiosidades. Ela também tem um blog - Batida Salve Todos

Cartas de Londres: a complexa relação com os americanos



Maurício Savarese
Mesmo sendo capazes de se adaptarem à modernidade, mais que os outros europeus, os britânicos gostam das suas tradições. Muitos cultivam uma quase secreta admiração pela rainha, não dispensam chá durante o trabalho e se recusam a admitir a falta de sabor na culinária local. Mas se a conversa é com alguém da grande ex-colônia, o que é uma defesa discreta se transforma em desafio pessoal.
A elegância londrina some quando alguém diz falar “americano”, e não inglês. Se há um estadunidense na mesa do bar e ele dispara elogios a si e a seu país (algo nada britânico), é notório como os súditos da rainha colocam um assunto novo em debate -- de preferência um tema bem britânico, como futebol ou críquete. Afinal, é preciso mostrar quem manda em casa.
O capítulo “quem salvou o mundo de Adolf Hitler” não cabe neste texto. Deixo apenas um comentário que ouvi em uma discussão entre vários americanos e dois britânicos: “A maior prova de que o Reino Unido salvou o mundo é o fato de as americanas viajarem até 12 horas para virem aqui só para terem um britânico. As nossas moças não fazem isso.” (Na verdade elas adoram receber os americanos por aqui mesmo.)
Apesar de os EUA lembrarem aos britânicos que seu país já não é o maior império da humanidade, a cultura os reaproxima. Ainda que o Reino Unido seja um dos países com a cena musical mais vibrante do mundo, em qualquer boate o som dos americanos domina. Nos cinemas é o mesmo. Sobra apenas o teatro para fortalecer a cena local -- e na plateia sempre tem montes de americanos fascinados.


É verdade que o interesse dos britânicos parece mais intenso. Entre os meus quase 50 colegas de classe, mais da metade já foi aos EUA. Se aparece um emprego em Nova York, eles tentam com vontade. Se dá errado, culpam o protecionismo dos americanos. Na maioria das vezes eu só concordo. Com os mais chegados não dá para segurar um “Mas é exatamente isso que vocês fazem aqui!” Eles riem.
Parece que os britânicos gostam mais dos americanos que se esforçam para conhecer a ex-metrópole do que daqueles que encontram em viagens pelo mundo, incluindo nos próprios EUA. Os londrinos têm orgulho de seu ar cosmopolita, forjado em voos de duas horas que os deixam em lugares muito diferentes. Mas são os ex-colonizados que lembram a ex-metrópole que nenhuma tradição é capaz de garantir o futuro.

Maurício Savarese é mestrando em Jornalismo Interativo pela City University London. Foi repórter da agência Reuters e do site UOL. Freelancer da revista britânica FourFourTwo e autor do blog A Brazilian Operating in This Area.Twitter:@msavarese.

Câmara gasta o que economizou



24 de março de 2013 | 2h 06
O Estado de S.Paulo
Três semanas após ter anunciado a moralizadora redução do pagamento de 14.º e 15.º salários para deputados federais, a Mesa Diretora da Câmara encaminhou a seu plenário projetos que criam a Corregedoria Autônoma e o Centro de Estudos e Debates Estratégicos e mais 59 cargos.
Em 26 de fevereiro passado, ainda sob o impacto da eleição com margem folgada, dos presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Henrique Eduardo Alves, ambos do PMDB e sob suspeitas de irregularidades incompatíveis com os cargos, a Casa aprovou, em votação simbólica, projeto do Senado que reduz o pagamento do 14.º e 15.º salários dos parlamentares. No fundo, a solução encontrada foi uma satisfação à opinião pública, mas também um passa-moleque, pois o texto aprovado não acabou definitivamente com o benefício e manteve o pagamento tanto no primeiro quanto no último ano de cada legislatura. Ainda assim, ao final da votação, o presidente da Câmara usou o Twitter para festejar o resultado: "Parabéns a este Plenário, que resgata a altivez e a dignidade do Parlamento brasileiro".
A oposição também exagerou na comemoração. "O pagamento do 14.º e 15.º salários é uma vergonha nacional, é inaceitável. Será o fim imediato desse privilégio", festejou o líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), que pressionou por essa aprovação. Apenas um deputado protestou contra o fim do benefício - o ex-governador mineiro Newton Cardoso, do PMDB. "Estão votando com medo da imprensa, é uma deslealdade com deputados que precisam (do dinheiro)", disse.
Os projetos que criaram os novos órgãos e funções comissionadas representarão um impacto de R$ 7 milhões este ano e de R$ 8,9 milhões em 2014. O reajuste dos valores do chamado "cotão", verba que cobre gastos dos 513 deputados federais com passagens aéreas, telefone e correios, entre outros benefícios, definido pela assessoria técnica da Câmara, será de 12,7%. Hoje, a Casa gasta R$ 170 milhões por ano com o generoso "cotão". Com a decisão de repor a inflação a partir de abril, a despesa aumentará para R$ 38 mil por deputado, o que implica um adicional de despesa de R$ 22,6 milhões. Somente a soma desse aumento com a remuneração do novo trem da alegria chegará a R$ 29,6 milhões, mais do que o dobro dos R$ 12,6 milhões de economia prometida com a redução dos 14.º e 15.º salários.
As decisões da Mesa Diretora só entrarão em vigor depois da aprovação do plenário, mas ninguém em sã consciência espera que os deputados, que engoliram a seco a redução dos dois salários extras anuais, as desautorizem. Afinal, foram os líderes de bancadas que pressionaram Henrique Alves para reajustar o "cotão". Em contrapartida, será reduzido o que se paga de horas extras aos funcionários. Em 2012, a Câmara gastou R$ 47,1 milhões em horas extras noturnas e a intenção manifesta da atual direção é reduzir esse gasto à metade. Hoje os funcionários assinam a presença em folha e o ponto biométrico, ora usado apenas para o controle das horas extras noturnas, passará a ter uso generalizado após adotadas as medidas.
Os novos cargos contemplarão, principalmente, a liderança do PSD, partido criado em 2011 pelo ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, que importou deputados de outros partidos, especialmente o DEM, e ficará com 20 cargos de natureza especial (CNEs) e 10 funções comissionadas (FCs). Há dois anos o PSD já tinha ficado com 66 cargos e funções para sua liderança, mas Henrique Alves cumpriu o acordo que previa a criação de outros mais. A presidência da recém-criada Corregedoria Autônoma também está reservada para o PSD: será ocupada pelo amazonense Átila Lins. O Centro de Debates foi o prêmio de consolação dado ao deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE), em troca de sua desistência de concorrer ao cargo de presidente da Casa, que já ocupara antes, para apoiar a candidatura vitoriosa de Henrique Alves.
Ante as evidências de que o economizado em fevereiro passou a ser gasto em março e de que barganhas são "honradas" à custa do erário, conclui-se que a Câmara segue fiel à versão distorcida do lema atribuído a São Francisco, que deu nome ao novo papa: "É dando que se recebe".

A charge de Amarildo



 

Confirmado: Lula levou diretor da Odebrecht em viagem oficial à África



(do jornal O Tempo)
Na única viagem internacional em que o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva foi designado representante oficial do governo Dilma Rousseff, o petista pôs, entre os membros da delegação, o diretor da empreiteira Odebrecht, Alexandrino Alencar.
A relação de Lula com empreiteiras é próxima: elas pagaram quase a metade de suas viagens internacionais como ex-presidente.
O pedido para a inclusão do diretor da construtora na delegação que iria a Guiné Equatorial foi feito ao Itamaraty em 2011. A Odebrecht entrou no país após a visita de Lula, sendo favorita para obras na parte continental do país, onde está sendo construída uma capital administrativa.
O pedido de Lula causou estranhamento no Itamaraty, que cobrou, em 27 de junho de 2011, informações sobre o caso à assessoria do ex-presidente. A assessoria de Lula disse que ele é acompanhado em suas viagens por “diretores do Instituto Lula, lideranças políticas, sindicalistas, empresários e intelectuais”.
Segundo a construtora, “assuntos de interesse da Odebrecht não constaram da pauta dos encontros e das reuniões das quais o ex-presidente Lula participou”.

Só no Brasil, mesmo



Percival Puggina
Convivemos no Brasil com uma extraordinária e inconcebível contradição. No mundo inteiro, a esquerda sempre teve alergia, palpitações e dispneia ao ouvir falar em democracia, liberdade de expressão e direitos humanos.
Que essa aversão persiste é algo que fica evidente quando: 1º) observamos onde recaem os grandes afetos do governo petista em suas relações externas; e 2º) no fato de que jamais vemos nem veremos o PT ou o PCdoB e assemelhados tecerem louvores a uma democracia liberal.
No entanto, aqui no Brasil, a esquerda, que pegou em armas para impor uma ditadura do proletariado, com seus ferrolhos e paredones, faz poses de defensora da democracia, da liberdade de expressão e dos direitos humanos. E de tanto afirmarem essa fraude, as pessoas acabaram acreditando.
(do Blog do Puggina)

O apodrecimento do homem público brasileiro



Almério Nunes
O empobrecimento da vida pública brasileira é nítido e indiscutível. Mas, isto decorre de todo um universo, que alcança a Vida como um todo: o empobrecimento da pessoa, do ser humano (algo que, com exatidão, jamais saberei ou saberemos o que é), em todos os quadrantes deste sempre inquieto mundo.
O materialismo assumiu proporções impensáveis, e levou tudo de roldão. É claro que todos queremos uma fatia do progresso, do desenvolvimento tecnológico, das coisas que nos tragam bem-estar e às nossas famílias. E… surgem as vozes que prometem de tudo, para todos, sem qualquer escrúpulo ou responsabilidade. Acontece no Brasil e em todos os lugares. Apenas uns poucos, entretanto, desfrutam destes avanços formidáveis que a tecnologia traz. “Fazer sonhar” com um amanhã melhor é o discurso de sempre.
Há quem aplauda as políticas mais hediondas, considerando que “o pobre nasceu pobre e como pobre morrerá” e… que “os ricos se fizeram ricos e como ricos morrerão”. Isto é novo? Claro que não. Nem a mentalidade doentia dos que aplaudem tais políticas. Para estes, não há salvação.
LEVANDO VANTAGEM
O empobrecimento da vida pública brasileira deve-se ao fato de que a Lei de Gerson, na qual devemos levar vantagem em tudo, parece ser a única, institucionalizada que é. Nos países nórdicos o Estado administra tudo e… os resultados que obtém são por demais conhecidos: são líderes em quase todos os índices de desenvolvimento humano.
E quais são os líderes populares, os homens que comandam a massa, lá? Eles não atentam para isto, e sim para as políticas sociais em vigor. Um deputado na Suécia mora num pequeno apartamento, anda de ônibus, lava e passa sua roupa, não tem empregados pagos pelo Estado e por aí vai. Aqui, os “legisladores”, os “juízes”, os “executivos” são do nível que conhecemos e sabemos como agem.
O empobrecimento das pessoas nem chega a ser um fenômeno sociológico: é um desdobramento de toda uma situação, na qual vence quem é amigo de alguém, consegue uma indicação de alguém, e rapidamente se acumplicia com o status quo vigente. Quem está na parte de baixo da pirâmide que trate de (bem) sustentar quem está em cima.
Eu trocaria a palavra empobrecimento para apodrecimento do homem público do Brasil e de muuuitos outros países. Enquanto escrevo, ouço gargalhadas dos que conseguem êxito na vida, sempre ou quase sempre às custas dos que nunca terão uma justa oportunidade para crescer e ter acesso a uma vida digna.
Dinheiro para investir no povo, há. Mas as aves de rapina nunca estão dispostas a dividir nada com ninguém, é da natureza delas.

Mais concorrência, menos carro 1.0 básico



O número de montadoras instaladas no Brasil passou de 15 para 49 desde 2000. Com mais concorrência, cada vez menos gente topa dirigir um carro 1.0 básico — e quem não se adapta perde mercado


Silvio Gioia/Quatro Rodas
Hyundai apresenta o novo HB20X no Salão do Automóvel de São Paulo
HB20 (Hyundai, 2012): com itens de série como air bag, ar-condicionado, computador de bordo e direção hidráulica, é o quarto carro mais vendido do país 
São Paulo - Há pouco mais de 20 anos, uma frase dita pelo então presidente da República, Fernando Collor de Mello, marcou a indústria automotiva nacional.
Durante uma viagem à Europa, depois de dirigir os carros do Velho Continente, Collor tascou: “Comparados com os carros do mundo desenvolvido, os carros brasileiros são verdadeiras carroças”. A frase de Collor deixou empresários do setor enfurecidos. Mas fazia muito sentido.
Na época, o Brasil era apenas o 12o maior mercado de automóveis do mundo e estava longe de ser prioridade para as multinacionais do setor.
O mercado doméstico era abastecido exclusivamente por  um punhado de companhias instaladas por aqui, como Autolatina (uma sociedade entre a Volkswagen e a Ford), General Motors e Fiat.
Nesse ambiente, algumas inovações da indústria, como o câmbio automático, levavam mais de 30 anos para chegar ao país.
Com a abertura do mercado para a importação de veículos, conduzida pelo próprio Collor no início da década de 90, os brasileiros começaram a se dar conta de que, em termos automotivos, não haviam saído dos anos 70.
As coisas começaram a melhorar, mas em marcha lenta. Nas décadas seguintes, o grande símbolo da indústria automotiva nacional foi o carro “popular”, com motor 1.0 e sem opcionais como ar-condicionado e direção hidráulica.
Uma carroça, portanto — alguns desses modelos saíam da fábrica sem mesmo o retrovisor direito. Mas o brutal aumento da competição na última década está transformando o mercado brasileiro. Há 20 anos, existiam seis marcas no país. Em 2000, o número aumentou para 15, e atualmente 49 montadoras vendem seus carros por aqui.
Hoje, os brasileiros têm um leque de opções que inclui mais de 1 000 modelos. As carroças continuam aí, mas cada vez menos gente topa levá-las para casa. 
O brasileiro está mais exigente. Segundo uma pesquisa do setor automotivo da empresa global GfK, 93% dos consumidores brasileiros priorizam o conforto na hora de escolher um carro e 71% desejam um veículo com tecnologia inovadora. São percentuais mais elevados do que no exterior. A média global mostra que 80% têm o conforto como prioridade e 64% não abrem mão da inovação. É normal que seja assim.
Nossa percepção do que é luxo é distorcida pelo efeito carroça. Lá fora, os consumidores dão como certo que seu carro virá completo. Portanto, quando pensam em inovação, têm na cabeça produtos distantes, como carros elétricos ou que dirigem sozinhos.
Aqui, inovador ainda é ter câmbio automático e vidro elétrico. E, hoje, todos querem ter carros com esses itens. Passamos tantos anos dirigindo velharias que ter um primeiro carro com direção hidráulica é uma descoberta, e a percepção de conforto ao dirigir vai às alturas.
Depois, ninguém cogita voltar a suar a camisa para estacionar. O número de carros vendidos no Brasil com direção hidráulica de série aumentou de 39%, em 2000, para 62%, no ano passado. Os motores 1.0, que já representaram mais de 60% do mercado nos anos 2000, perderam espaço: representam hoje apenas um terço das vendas. 
O que ajudou o Brasil
Muita coisa conspirou a favor do desenvolvimento do mercado brasileiro. A crise de 2008, que abalou os Estados Unidos, e a recessão que ainda atinge a Europa derrubaram as vendas de carros nesses mercados em até 25%. Para continuar a crescer, as montadorasforam obrigadas a tratar com mais carinho os países emergentes. E o Brasil, hoje o quarto maior mercado de automóveis, virou a bola da vez da indústria.
A expansão da renda e o acesso ao crédito fizeram a venda de carros crescer 37% no país nos últimos cinco anos. Com um mercado crescendo desse jeito, não há montadora no mundo que não queira estar aqui.
E os novos entrantes estão bagunçando as coisas para os tradicionais líderes. A chinesa JAC Motors, que chegou ao Brasil em 2010 com carros que custavam a partir de 35 000 reais, decidiu que todos os seus modelos sairiam de fábrica com os “opcionais” incluídos — de ar-condicionado e direção hidráulica a air bag.  
Em nenhum nicho essa transformação é tão nítida quanto no segmento de compactos, que responde por 66% das vendas de carros no país. O Gol, da Volkswagen, e o Uno, da Fiat, os dois vendidos a partir de 28 000 reais, brigam pela liderança há mais de duas décadas.
Mas novos lançamentos estão mudando a percepção do que é um carro popular no Brasil. Os mais bem-sucedidos, invariavelmente, são aqueles que saem da fábrica do jeito que o novo consumidor brasileiro gosta.
O maior símbolo dessa nova fase é o lançamento do hatch HB20, da coreana Hyundai, em outubro do ano passado. Mais de 41 000 unidades foram emplacadas de lá para cá: é o quarto carro mais vendido no Brasil hoje. Com air bag, direção hidráulica, computador de bordo e outros itens tecnológicos de série, o carro se tornou um fenômeno no mercado nacional.
É vendido a partir de 33 000 reais, cerca de 20% mais do que os 1.0 básicos. “O segredo está em não subestimar o consumidor. Os coreanos estão entendendo o recado”, diz Letícia Costa, sócia-diretora da Prada Consultoria, especializada no setor automotivo.
 A Toyota, por outro lado, sentiu como está difícil empurrar os modelos mais basicões no mercado brasileiro. Em setembro, a japonesa lançou no país o compacto Etios, cujo modelo mais simples sai da fábrica com ar-condicionado e direção hidráulica. Até agora, foi um fiasco. Apesar de o carro partir de versões com motor 1.3 e ser 10% mais barato do que o HB20, o modelo vendeu 65% menos.
“O mercado nem sempre responde como a gente deseja”, diz Luiz Carlos Andrade Júnior, vice-presidente da Toyota Mercosul. Líder do segmento de sedãs de luxo por oito anos no país, com o Corolla, a Toyota estava convicta de que iria abocanhar boa parte da categoria de compactos. Mas o resultado não apareceu, e a montadora está repensando a estratégia para o Etios.
Segundo a Toyota, o carro vendeu pouco por falhas na distribuição. A ideia é aumentar o número de unidades disponíveis para o consumidor. “Ainda estamos aprendendo como o segmento funciona e estamos aumentando os estoques”, diz Andrade Júnior.
Segundo a consultora Letícia Costa, os concorrentes diretos do Etios — HB20, da Hyundai, e Onix, da GM — têm mais itens de série e um acabamento percebido pelo consumidor como melhor. 
Apesar de o atraso nas versões disponíveis no Brasil estar diminuindo na comparação com os carros vendidos na Europa e nos Estados Unidos, a distância ainda é grande.
Enquanto os brasileiros só agora começam a se acostumar com itens tidos como básicos no resto do mundo há décadas, americanos e europeus têm acesso a mimos como controle de voz ou estacionamento automático. Um dos limitadores para a chegada dessas tecnologias ao Brasil é o preço. Aqui, o volume de impostos equivale a 30% do preço final de um carro.
Enquanto isso, países como México (18%), Alemanha (16%), Japão (9%) e Estados Unidos (5,7%) convivem com taxas mais normais. Esse é, por exemplo, um dos desafios da Ford, que adotou uma estratégia global de lançamentos simultâneos nos países onde tem operação. O novo sedã Fusion, que vem de fábrica com oito air bags e computador de bordo com tela de 8 polegadas, custa a partir de 93 000 reais no Brasil.
Nos Estados Unidos, o mesmo carro pode ser comprado por menos da metade disso. “Temos necessidade de adicionar tecnologia aos carros brasileiros, mas não podemos aumentar muito o preço porque a competição está acirrada e 500 reais já fazem diferença.
Esse é o grande desafio da indústria”, diz Rogelio Golfarb, vice-presidente de assuntos corporativos para a Ford América do Sul. A disputa entre as montadoras tem sido tão apertada que nos últimos oito anos o preço dos carros diminuiu.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) evoluiu 51,5%, enquanto o IPCA de veículos caiu 8,2% no período. O governo federal também não ajuda. Em 2011, o aumento da taxação para a entrada de veículos importados no país — que respondem por cerca de 25% do mercado — soou como retrocesso.
Sob a alegação de proteger a indústria nacional, o governo fez com que os carros importados ficassem até 30% mais caros, e a venda de veículos em algumas marcas, como Kia e JAC Motors, que saem de fábrica com todos os opcionais incluídos, caiu pela metade.
Parecia um sinal do retorno das carroças — afinal, por mais exigente que esteja o consumidor brasileiro, ninguém está disposto a pagar fortunas para não sentir calor dentro do carro. Em 2012, o governo condicionou o fim das barreiras à instalação de fábricas no Brasil. Quem topar produzir no país ganha o direito de importar uma cota de veículos até que a fábrica esteja funcionando.
Até agora, quatro montadoras já anunciaram sua intenção de ter fábricas no Brasil — entre as que estudam fazer o mesmo estão a alemã Mercedes-Benz e a indiana Jaguar Land Rover, duas das mais conceituadas empresas do setor. Mais um sinal de que o tempo das carroças está ficando para trás.

A TOMADA DO BRASIL



            Percival Puggina


            A nação está com as mãos erguidas e não é para rezar. Ninguém escapa à sanha dos bandidos aos quais o Estado, miseravelmente, se rendeu. Era previsível. Foi prenunciado por uns poucos, entre os quais eu mesmo. Agora está aí e todos percebem. Num país com 200 milhões de habitantes, a atividade contra o patrimônio alheio, por exemplo, tornou-se tão intensa que, do pirulito da criancinha à minguada pensão mensal da vovozinha, tudo já foi levado e todos já foram assaltados. Alguns, muitas vezes.

            Tenho nostalgia, já falei antes, do tempo dos trombadinhas. Eram meninos. Quase digo que eram meninos de boa formação, que sabiam estar fazendo coisa errada. Esbarravam na vítima, tomavam-lhe algo e saíam correndo. Tinham medo da vítima, da polícia, e de que outros transeuntes os detivessem. De uns tempos para cá, o ladrão é bandido que ataca, ofende, maltrata e mata, motivada ou imotivadamente.

            Por uma dessas coisas da memória, vem-me à lembrança a descrição da Queda de Constantinopla, que o grande Daniel-Rops fez em sua História da Renascença e da Reforma. Após oito séculos da jihad contra a Roma do Oriente, Maomé II comandara a arremetida final. Quando a orgulhosa cidade caiu, o sultão entregou-a aos seus janízaros por três dias e três noites, conforme prometera. Sobrou pouca gente para contar a história. Encerrado o prazo, sangue escorria pelas calhas das ruas e era impossível encontrar, em Bizâncio, um simples pires de porcelana.

            Pois é isso que está acontecendo no Brasil, com a diferença de que o prazo é mais elástico. Sirvam-se os vitoriosos pelo tempo que quiserem! O que nos estão tomando são despojos de uma nação derrotada pelo que de pior nela existe. É a prerrogativa dos vencedores, quando os vencedores são criminosos. Sempre foi assim na história. A vitória dos bandidos representa estupro, morte e pilhagem. Coube-nos a fatalidade de viver nestes anos da Tomada do Brasil pelos maus brasileiros.

***

            Ensinaram ao trombadinha de ontem que ele é a vítima. Sopraram-lhe uma ideologia de boca de fumo, que fala aos "manos" de seus direitos humanos. Vivendo, ele aprendeu que o crime compensa. Percebeu, com fartura de exemplos, que roubar é direito de todos e dever do Estado - mão grande e hábil para cobrar impostos, miúda e inábil para as tarefas que lhe cabem. À sociedade, esse Estado confessou, por inúmeros modos, sua rendição. Num dia, a polícia fecha pela quarta vez um desmanche de automóveis e prende o mesmo sujeito. No outro, o bandido sai da delegacia antes de o lesado preencher o BO. Não faz muito, um exército de policiais foi mobilizado para prender bandidos que ... estavam presos. Deveriam estar, mas o semiaberto, sabe como é. Num assalto a mão armada, a ação do Poder Público começa e termina em burocrático "registro no sistema". É crime de baixa lesividade, sabe? E volta e meia a pistola dispara sem quê nem porquê e matam. Soltam-se presos porque os presídios estão superlotados. Por excesso de presos? Não. Por excessiva falta de presídios, que diabo! As vítimas, antes de mais nada, são vítimas da inutilidade do Estado. Do Estado que quer desarmar os cidadãos de bem, não move palha pelos lesados e enlutados, mas lastima a morte de cada bandido em confronto com sua polícia. E veja, leitor, eu apenas falei do submundo. Não disse uma palavra sobre o grand monde.

Zero Hora24 de março de 2013      

Uma cidade machista


Posted: 24 Mar 2013 11:36 AM PDT

POR FERNANDA M. POMPERMAIER
Existem pessoas que realmente acreditam que machismo não existe. 

A verdade é que essas pessoas não percebem as sutis atitudes machistas presentes no nosso dia-a-dia. 


Falta de informação, de percepção e um mínimo de empatia são alguns dos motivos.

Tem quem não veja o tratamento diferenciado que dedicam ao filho homem e à filha mulher; a estúpida idéia de que existe mulher para casar e mulher para sei-lá-o-que; o pensamento ultrapassado de que a mulher é que deve ser responsável pelos filhos e pela casa; que mulher tem que ser magra e bonita para mostrar para aos amigos; que mulher deve "se comportar, ser feminina" ou seja, não protestar, ficar quieta e aceitar; que mulher não tem o direito de se irritar ou reclamar que "já está de tpm" ou é "mal amada" (ninguém fala isso de um homem, não é?!); que vivemos numa cultura que legitimiza o estupro em "certas ocasiões" e até culpabiliza a mulher citando a roupa que estava usando ou o lugar onde estava na hora do crime.  Para ficar claro, isso não existe. Estupro é sempre um crime e se a mulher disse Não! apenas uma vez, é motivo suficiente para o parceiro párar tudo. 

Esses julgamentos ignorantes e machistas dão suporte para homens ciumentos e possessivos agredirem suas parceiras todos os dias no Brasil, essa semana, infelizmente, em Joinville. 


Uma mulher de 28 anos, que deixa 2 filhos, assassinada pelo marido, por ciúme, alimentado pelo machismo. 


E o mais revoltante, desculpa a família enlutada, é saber que a tragédia foi anunciada e as pessoas não reagiram. Sabe por que? Porque em briga de marido e mulher não se mete a colher.  Mete sim! Principalmente quando você vê sua filha, cunhada, irmã, sobrinha ou vizinha levando empurrões e pontapés do marido. ISSO NÃO É ACEITÁVEL! Em nenhum tipo de relacionamento. Nunca. Quem cala é conivente. 

Ele era um homem bom e perdeu a cabeça? Me poupe. Ele sempre foi um doce de marido respeitador e amável mas de repente solta o braço na mulher? Como assim?
Alguns trechos da reportagem do Anotícia do dia 20/03:

"Andreza morreu na madrugada de terça. Ela havia sido vítima de agressões do marido na tarde de segunda-feira. Como o casal estava na casa do pai dela, João Cardoso Amaral, 63 anos, a cena foi presenciada por outras pessoas da família. (...)

 Em depoimento, Luís confessou que agrediu a mulher, porém sem a intenção de matá-la. Ele contou que tinha bom relacionamento com a esposa, mas que perdeu a cabeça depois de descobrir uma traição." 

Na frente da família! Na casa do pai! E o cara nunca demonstrou nenhum comportamento de ciúmes, possessividade e agressividade? Ele era super bonzinho e de repente, do nada, ele chuta a mulher.


"À polícia, Luís Carlos Mellies admitiu que chegou a agredir Andreza, mas que teria agido apenas para controlar a mulher, supostamente agitada. Conforme o delegado Wanderson, o marido reconheceu que as discussões começaram por causa de mensagens trocadas pela mulher com outras pessoas na internet. (...) Investigadores levaram Luís Carlos até a casa dele na manhã de terça-feira para recolher o computador e vistoriar a suposta cena do crime. Andreza deixa dois filhos. O pai de Andreza, João Carlos Amaral, diz ter se surpreendido com o desfecho da briga porque considerava o genro um segundo filho. — Era um homem bom. Não pude mais ver o que aconteceu depois da briga na minha casa, mas acredito que ele tenha perdido a cabeça —, lamenta."


Ou seja, o pai da vitima sente compaixão pelo cara, que, coitado, deve ter perdido a cabeça. O comportamento do genro não foi reprimido pelo sogro, que deve ter pensado: Quem nunca, né.?! Quem nunca bateu na mulher? Eu lembro muito bem da polêmica quando o Bruno (ex goleiro do flamengo, lembra?) fez uma declaração apoiando o amigo Adriano que tinha batido na mulher, dizendo o famoso mantra dos machistas extremos:"quem nunca, né". Deu no que deu. 


O machismo mata!


E ele começa a plantar seus fundamentos dentro das nossas casas, quando reprimimos as meninas e mandamos os meninos às casas de mulheres (famosas Marlennes) para ele aprender direitinho que mulher é objeto pra gente usar. Que algumas merecem respeito e outras não, e a distância entre essas duas podem ser algumas mensagens na internet. 


Reportagem: http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/noticia/2013/03/marido-que-agrediu-companheira-e-indiciado-por-homicidio-em-joinville-4080470.html


Foto: http://juntos.org.br/2012/11/25-de-novembro-dia-internacional-de-combate-a-violencia-contra-a-mulher/combate-violencia-domestica/