domingo, 9 de dezembro de 2012

A falência do Estado de Direito



Carlos Chagas
Conforme os jornais da semana, em São Paulo e no Rio, conclui-se ser desleal a concorrência entre o estado de Direito e o crime organizado. Porque, se procurar emprego honesto, um jovem desfavorecido economicamente, com pouca ou nenhuma escolaridade, morador da favela, encontrará no máximo o salário mínimo. Caso decida aderir aos bandidos que controlam e até infernizam sua vida, disporá de muitas vezes a merreca que a honestidade lhe oferece.
Quando ingressa nas polícias militares e até nas forças armadas, é tentado pelos barões do crime organizado a transferir seus conhecimentos bélicos ao narcotráfico. Além dos vencimentos, geralmente parcos, dados pelas corporações oficiais, poderá receber dos bandidos um abono bem superior. Conseguindo inscrever-se numa quadrilha qualquer, seja como “instrutor”, “avião”, “soldado” ou “fogueteiro”, sua remuneração poderá chegar a dez vezes a oficial, e por semana.
Precisará ser aprovado em diversos “cursos”, como “informação”, “guerra na selva”, “guerrilha urbana”, “tiro”, “natação em esgoto” e similares. Depois, o céu é o limite, tornar-se “gerente”, “empresário”, “controlador de ponto de venda de drogas” e até “chefe”.
Dá para o humilhado, desprezado e indignado menino hesitar? Do poder público sofre apenas o abandono e a truculência, quando a polícia sobe o morro. Do narcotráfico, proteção para ele e sua família, remédios, alimentação, até ajuda em dinheiro para velórios e festinhas de aniversário. Seus valores são outros, ainda que o risco, infinitamente maior. Mas o que tem a perder o indigitado jovem, senão a própria vida, para a qual dedica importância relativa?
Essa realidade explica porque o crime organizado cresceu, ultrapassou a periferia, desceu o morro e começou a dominar o asfalto.
Fazer o quê, do lado de cá? Os policiais que não se corrompem ganham bem menos do que seus adversários. Sofrem mais, até porque boa parte deles obriga-se a morar nas favelas, mesmo escondendo sua condição profissional e sua farda. Em termos de armamento, perdem sempre. Para não falar na permanente intranqüilidade. Muitos ingressam nas milícias, engodo logo desvendado, pois elas utilizam os mesmos métodos dos criminosos, explorando as comunidades e submetendo-as a constrangimentos parecidos, tudo dependendo da altura em que se encontram os casebres: mais para cima, submetem-se ao narcotráfico. Na subida do morro, às milícias.
Solução não dispõem as autoridades, registrando-se a contaminação da bandidagem junto a parte dos contingentes instalados nas favelas para pacificá-las. É a falência do estado de Direito.

NO QUE VAI DAR ISSO AÍ? - Percival Puggina


                Não sou nenhuma celebridade, nem gostaria de ser. Mas volta e meia alguém me pára na rua. Felizmente não querem autógrafos. Querem saber no que vai dar isso aí. A pergunta se refere a essa coisa em que transformaram o Brasil. Minha resposta acaba sendo comprida. Então, doravante, para simplificar as coisas, passarei a responder por escrito. Andarei com a resposta no bolso.
             O Brasil está no olho de um furacão e não toma conhecimento. Como nunca antes neste país os problemas são graves e têm efeitos cumulativos. Mencionarei apenas os principais, relacionando-os à nossa posição no contexto mundial: a) estamos em 88º lugar no ranking da educação básica e no 66º da educação superior; b) este ano, pela primeira vez, entramos na lista das 50 economias mais competitivas, com um modestíssimo 48º lugar; c) nossas péssimas instituições nos deixam no 79º lugar em relação ao quesito qualidade das instituições nacionais; d) ocupamos o 99º lugar no ranking da liberdade de imprensa; e) somos o país lanterna do BRIC quanto ao número de registro de patentes nos Estados Unidos (apenas 7% do total obtido pela China no ano passado); f) ocupamos o 84º posto entre 187 países no ranking do desenvolvimento humano (IDH); g) somos o 69º país mais corrupto, com uma vergonhosa nota pouco superior a três. Junto com a proverbial impunidade, os sucessivos casos de corrupção, na novilíngua oficial, viraram "malfeitos" - assim como se fossem travessuras de gente grande.
             Não bastasse isso, 2012 foi um ano perdido. Nossa economia cresceu uma ninharia, pouco mais de um por cento, índice que nos coloca em penúltimo lugar entre os 20 países ibero-americanos. Como consolação, ganhamos do Paraguai. As tarefas centrais de qualquer governo - Educação, Saúde, Segurança e Infraestrutura - vão de mal a pior. Um governo desses só pode ser bem pontuado distribuindo dinheiro para os pobres e para os ricos, e mandando a conta para a classe média. Dos primeiros vêm os votos; dos segundos a grana.
             A alegria dos criminosos brasileiros é a falta de policiais e presídios. Milhares de condenados operam livremente, ora por falta de quem os capture, ora porque não tem onde ficar detidos. Assim, convivemos com tenebrosa sensação de insegurança. E o governo aplicou, até o mês de novembro de 2012, apenas um por cento do que estava previsto no orçamento federal para construção de estabelecimentos penais. Aliás, em relação ao orçado para investimentos neste ano, o governo da União, em todos seus setores de atuação, só conseguiu usar 34%. Quanto ao ano de 2013, é visível que o governo esgotou os truques para fazer a economia crescer à base do consumo interno: baixou juros, ampliou prazos de financiamento, concedeu substanciais reduções de IPI e chamou à sociedade ao endividamento. Haverá algo mais, na cartola das demagogias oficiais, além do nunca feito dever de casa?
             Não obstante tudo isso e muito mais, o governo e a população não têm tal percepção. E ninguém está mais longe de resolver um problema do que quem sequer sabe que ele existe. Os sucessivos escândalos que enxovalham o momento histórico e atingem danosamente nossa imagem internacional parecem não afetar as figuras centrais da república. Os patifes vivem à vida regalada, convictos da perenidade do regabofe em que se lambuzam.
             Então, as pessoas me perguntam: no que vai dar isso aí? Minha resposta é política. Quem está no poder só sabe fazer mais do mesmo. As expectativas relacionadas a uma possível implosão do núcleo duro desse poder dependem exclusivamente da combinação de dois fatores: o que vier a acontecer com a imagem de Lula junto à opinião pública e dos rumos que forem tomados pela economia. Se, contrariando todas as probabilidades, a galinha que voou em meados da década passada, sair por aí planando como um falcão,continuaremos com mais do mesmo. O brasileiro, com dinheiro no bolso, pouco quer saber de democracia e de princípios morais. Mas nem a economia, como fator isolado, será suficiente para desconstruir a imagem do governo se a imagem de Lula não desabar.
             E Dilma? É preciso compreender que Dilma, assim como precisou de Lula para subir, precisará de Lula para descer. Se e quando a imagem de Lula desabar, Dilma cai junto. Fora disso não há salvação.
 Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Exército do Egito faz advertência aos partidos políticos. Ou seja, a ditadura pode voltar.



Carlos Newton
Informa a BBC que o Exército do Egito fez um alerta neste sábado a todas as forças políticas do país, advertindo que não permitirá um “túnel de escuridão” caso não haja acordo entre o partido do presidente Mouhamed Morsi e seus adversários políticos.
  Primavera ou Inverno?
Como se sabe, Morsi agravou o clima de crescente tensão no país nas últimas semanas ao aprovar decretos que aumentam seus poderes, despertando a ira de grande parte da população. Líderes de algumas facções políticas estão reunidos com Morsi, mas as principais figuras da oposição optaram por boicotar as conversações no palácio presidencial.
Segundo o informe da BBC, embora tenha sido enfático em seu pronunciamento, o porta-voz do Exército egípcio disse que isso não significa que os militares pretendam intervir para tomar o poder.
Traduzindo: o Exército egípcio, que desde a queda da monarquia comanda o país, com apoio estratégico e financeiro dos Estados Unidos, está pronto para assumir o poder, porque a crise do país não tem condições de se resolver politicamente. A Primavera Árabe está em clima de chuvas e trovoadas. Já meses que escrevemos aqui no Blog dizendo que isso siria acontecer.

Presidente do Egito anula decreto que lhe dá poderes ditatoriais, mas tensão continua; Constituição abrirá caminho para a islamização da vida política



O presidente do Egito, Mohamed Mursi, anulou o decreto que lhe conferia poderes ditatoriais. É uma coisa boa em si, mas é um truque. O pior está por vir: a Constituição que será submetida a referendo no dia 15 e que abre caminho a islamização da vida política – uma ditadura religiosa… light!!! Ou, como querem alguns tontos, um “jeito egípcio” de viver a democracia…
Leiam o que informa a VEJA Online:
O presidente egípcio, Mohamed Mursi, anulou neste sábado um decreto do mês passado através do qual ampliava e blindava seus poderes, disse o político islamita Selim al-Awa no Cairo. “O decreto constitucional está anulado a partir de agora”, afirmou durante uma entrevista coletiva. Apesar disso, o projeto de Constituição – que é alvo de protestos populares e que vinha recebendo pressão para que fosse adiado – será submetido a referendo em 15 de dezembro, como previsto, disse Al-Awa. A decisão foi tomada em reunião entre Mursi e líderes políticos.
Nas últimas duas semanas, a oposição vinha pedindo a anulação do decreto e o adiamento da consulta constitucional. O decreto, adotado pelo chefe de Estado em 22 de novembro, provocou uma forte onda de contestação no Egito, acompanhada de manifestações que em alguns momentos descambaram para a violência, com a morte de sete pessoas na noite de quarta para quinta-feira no Cairo. As lideranças oposicionistas também criticam o projeto de Constituição. Elas acusam o texto de abrir caminho para uma islamização mais ampla da legislação e de não apresentar garantias às liberdades individuais, principalmente de expressão e de religião. Para tentar reduzir a tensão, Mursi encarregou neste sábado uma comissão composta por juristas e personalidades políticas “de modificar a declaração constitucional”.
MudançaHoras antes, a imprensa internacional chegou a noticiar que Mursi teria aprovado neste sábado uma legislação que instituiria a ‘Lei Marcial’. Por meio dela, o presidente conclamava as Forças Armadas a manter a ordem no país e autorizava soldados a prender civis arbitrariamente. De acordo com o jornal norte-americano The New York Times, que citava os meios de comunicação egípcios, a medida só não teria entrado em vigor porque Mursi adiou sua publicação. Seria uma tática de ameaça. Somente sua preparação era suficiente para exasperar a crescente batalha política entre novos líderes islâmicos egípcios e seus oponentes seculares em torno da proposta de nova constituição nacional Ainda segundo o jornal americano, se Mursi publicasse a medida, a decisão representaria uma reviravolta histórica. Agora, com a decisão de anular o decreto que ampliou seus poderes no mês passado, fica a impressão de que o presidente deu um passo atrás.
O conflitoEm 22 de novembro, Mursi divulgou o decreto que ampliava, sobremaneira, seus poderes. A proposta foi aprovada a despeito do boicote de vários integrantes da Assembleia Constituinte. Liberais, socialistas, cristãos e muçulmanos seculares não suportaram a intransigência da bancada fundamentalista islâmica e ficaram fora da elaboração do texto.
Pelas regras do país, o presidente tem prazo até 15 de dezembro para submeter a nova constituição a um referendo popular. Ante a onda de descontentamento que tomou conta de todo o país, ele chegou a avaliar a possibilidade de adiar a consulta. Agora, com a anulação do decreto, voltou a insistir na data. As eleições parlamentares devem ser realizadas dois meses após o referendo constitucional.
Por Reinaldo Azevedo

O que faz essa multidão diante de um míssil? Ou: “Cada árvore e cada pedra gritará: ‘Oh, Muçulmanos! Oh, servos de Alá! Há um judeu atrás de mim, venha e mate-o’”



Milhares na praça para saudar os 25 anos de Hamas e… o fim de Israel. Majestoso, um foguete assistia a tudo!
Khaled Meshaal, o líder mais importante do Hamas, que vive no Catar – esta estranha tirania que dá apoio à dita Primavera Árabe… –, visitou neste sábado a Faixa de Gaza. Falando a uma multidão, que se estimou em 500 mil pessoas, sob as bênçãos de um foguete M75, de fabricação iraniana, Meshaal deu a sua contribuição à paz: afirmou que o Hamas jamais reconhecerá Israel, que todo o território é palestino “do rio ao mar, do Sul para o Norte”, referindo-se ao Rio Jordão e ao Mar Mediterrâneo. Segundo ele, os palestinos não darão um centímetro de terra a Israel – que, nessa hipótese, desapareceria. “Nunca vamos reconhecer a legitimidade da ocupação israelense e, portanto, não há legitimidade para Israel”. Volto a ele daqui a pouco. Vamos lembrar aqui algumas coisinhas.
A ONUEnquanto todos os progressistas e as pessoas boas do mundo, inclusive do Brasil, aplaudiam de pé a admissão da Autoridade Palestina como estado observador da ONU, eu, que não sou nem progressista nem bom (segundo os sábios da militância ao menos), advertia que as consequências caminhariam num sentido oposto ao pretendido. Haveria mais dissabores do que soluções. Aliás, fui mais longe do que isso e afirmei que mais lucrariam os terroristas do Hamas do que Mohamed Abbas, o presidente da Autoridade Palestina. Reproduzo um trecho do artigo publicado no dia 30 de novembro: 
“É uma tolice supor que a decisão de ontem vá fortalecer a sua posição [de Mohamed Abbas] contra o Hamas. A facção que governa Gaza também comemorou o resultado (…) É evidente que as nações que votaram em favor do reconhecimento expressaram uma espécie de censura ao país que se defende, o que é um escândalo moral. Como é o Hamas a força que hoje se apresenta para o confronto, mais os terroristas lucraram com o evento aloprado de ontem do que Abbas.”
Pois é…
Não tenho bola de cristal, só lógica elementar. Era, como se vem mostrando, estupidamente imprudente aceitar a existência de um estado que, por razões que nem preciso demonstrar, estado não é. Quando menos, seria necessário que esse ente estivesse sob um só comando, o que é falso. Os terroristas do Hamas governam a Faixa de Gaza; a Cisjordânia é governada pelo Fatah. Em seu discurso, Khaled Meshaal pregou a união das duas correntes. Como o Hamas não abre mão de sua forma de luta, o acordo só acontecerá se Abbas voltar ao terrorismo.
Pois é… Que sentido faz a ONU reconhecer a Palestina como estado, ainda que observador, se essa condição depende, necessariamente, de negociações bilaterais – no caso, com Israel? É evidente que se tratou de uma ação hostil, e isso sempre enseja reações. O governo israelense cortou repasse de recursos à Autoridade Palestina e decidiu construir mais três mil residências em Jerusalém Oriental, na Cisjordânia.
Ouvi certo alarido: “Você não vai condenar Israel? Não vai?”. É inegável que a decisão não colabora com a paz, mas me pergunto se alguém, de fato, esperava que não houvesse uma reação… Ora, se a Autoridade Palestina acha que o interlocutor não é Israel, por que Israel deve achar que é a Autoridade Palestina? Tem início a escalada da irracionalidade. E antevi alguma grande bobagem palestina como fruto da excitação. Pimba! Antes que continue, uma lembrança: o governo brasileiro, seguindo os passos de alguns outros, chamou o embaixador de Israel para cobrar explicações. Dos companheiros do Hamas, ninguém vai cobrar nada…
Os terroristas não querem negociar, deixa claro seu líder máximo. Querem a destruição de Israel e fim de papo! Eu sei disso faz tempo porque já li o Estatuto do Hamas, publicado neste blog.  O Artigo 2º é de lascar! Eis aí o que o PT gostaria de ser (em vermelho):
“Art. 2º O Movimento de Resistência Islâmica é um dos ramos da Irmandade Muçulmana na Palestina. A Irmandade Muçulmana é uma organização global (universal) e é o maior movimento islâmico nos tempos modernos. Ela se distingue por seu profundo entendimento e sua precisão conceitual e pelo fato de englobar a totalidade dos conceitos islâmicos em todos os aspectos da vida, em ideias e crença, na política e na economia, na educação e assuntos sociais, em matérias judiciais e em matérias de governo, na pregação e no ensino, na arte e nas comunicações, no que deve ser secreto e no que deve ser transparente, bem como em todas as áreas da vida.
Uau! É o que o PT quer ser quando crescer: cuidar de tudo! O que vai acima é a síntese de uma ditadura religiosa. Pois bem! A cada vez que leio sugestões para que Israel negocie com o Hamas, eu me lembro das palavras do seu estatuto. Logo na introdução, a gente lê:
“Israel existirá e continuará existindo até que o Islã o faça desaparecer, como fez desaparecer a todos aqueles que existiram anteriormente a ele.”
Leiam agora o que diz o Artigo 7º:
Art. 7º Em todos os países do mundo encontram-se muçulmanos que seguem o caminho do Movimento de Resistência Islâmica, e tudo fazem para apoiá-lo, adotando seu  posicionamento e reforçando a sua Guerra Santa (jihad). Por isso, é um Movimento universal, qualificado para esse papel devido à clareza de sua ideologia, superioridade de seus fins e sublimidade de seus objetivos. Nessas bases é que deve ser visto e avaliado, e é nessas bases que seu papel deve ser reconhecido.
(…)
o Movimento de Resistência Islâmica aspira concretizar a promessa de Alá, não importando quanto tempo levará. O Profeta, que as bênçãos e a paz de Alá recaiam sobre ele, disse: “A hora do julgamento não chegará até que os muçulmanos combatam os judeus e terminem por mata-los e mesmo que os judeus se abriguem atrás de árvores e pedras, cada árvore e cada pedra gritará: “Oh, Muçulmanos! Oh, Servos de Alá, há um judeu atrás de mim, venha e mate-o”.
Voltei
Esse é o Hamas que muitos pretendem que esteja se tornando menos radical. Quando a ONU reconhece o estado palestino como observador, queira ou não, está admitindo tanto esse horizonte como os métodos empregados para alcançá-lo.
Assim, saibam os senhores, enquanto o Hamas estiver no comando de uma parte do povo palestino, não há nem o que negociar. E o tal Khaled Meshaal deixou isso bastante claro! Ele foi mais longe: anunciou que o movimento pretende praticar novos sequestros de soldados israelenses para obter a liberação de terroristas palestinos presos.
Não obstante, quem é chamado a dar “explicações” no Brasil e em alguns outros países é Israel. O Hamas, como se nota, não precisa explicar nada. Basta tentar matar judeus atrás de pedras e árvores e cultuar um míssil com devoção quase religiosa.
Eis aí um dos desdobramentos práticos daquela votação irresponsável, que contou com o apoio entusiasmado do governo Dilma: em vez da paz, bomba!
Por Reinaldo Azevedo

Netanyahu reage a declaração de líder do Hamas. Ou: Querem que Israel negocie as condições de seu próprio fim? Não acontecerá!



Em 2005, o então primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, odiado como o símbolo do que a “direita israelense” teria produzido de pior, decidiu sair unilateralmente de Gaza. Comprou briga com alguns colonos israelenses e os retirou da região, à força.  Sharon enfrentou a resistência de seu então partido, o Likud, hoje no poder, e contou com apoio dos trabalhistas. Pouco depois fundou o Kadima, um partido que pretendia centrista, entre, então, o Likud e o Trabalhista (mais à esquerda).
Pois bem. Israel saiu, e o resto é conhecido. O Hamas deu um golpe em Gaza, expulsou o Fatah à bala e transformou a região em base de lançamento de mísseis contra Israel, como aquele que adornou, num simbolismo impressionante, a manifestação do grupo terrorista no sábado, que reuniu, segundo o movimento, 500 mil pessoas.
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, reagiu neste domingo ao discurso feito por Khaled Meshaal, líder do Hamas (ver post da manhã): “Fomos expostos à verdadeira face de nossos inimigos. Eles não têm a intenção de se comprometer conosco. Eles querem destruir o nosso país”. Ele deixou claro que não cometerá o erro de sair unilateralmente da Cisjordânia e afirmou sobre a pressão internacional que sofre hoje o país: “Estou sempre consternado com as desilusões dos outros, que estão preparados para seguir nesse processo e chamá-lo de paz”.
Chamo a atenção de vocês para o silêncio internacional que se seguiu à declaração de guerra do Hamas – incluindo o anúncio de que o grupo pretende sequestrar novos soldados israelenses para trocar por terroristas presos. E agora? O mais impressionante é que o blog recebeu alguns comentários culpando, pasmem!, o primeiro-ministro israelense pelas declarações de Meshaal. Um deles sustenta: “Tudo o que Netanyahu queria era um discurso como aquele; agora ele pode fazer o que bem entende e culpar os palestinos”. Epa! Parece lógica, mas é outra coisa. O israelense agora tem de responder por aquilo que diz o palestino? Tenham paciência!
A manifestação do Hamas é consequência direta da decisão absurda da Assembleia Geral das Nações Unidas, que elevou a Autoridade Palestina à condição de “estado”, ainda que “observador”. Como é o Hamas a força que lidera a resistência armada a Israel, é evidente que o grupo considera que sua luta tem sido bem-sucedida até aqui. Pior: Mohamed Abbas pediu a mudança de status da Autoridade Palestina, inicialmente contra a vontade de seus inimigos internos, que eram contrários à iniciativa. Quando estes perceberam que havia chances de sucesso, não hesitaram e se colocaram como os principais beneficiários do processo.
Quem não quer a paz? Quem pode ser a favor da guerra? A resposta a essas perguntas vai ao cerne da questão. Como estado organizado, é evidente que o fim das hostilidades interessa a Israel, que tem outras coisas de que cuidar: saúde, educação, saneamento básico, varrição de rua, arrecadação de impostos etc. – essas coisas de que costumam se ocupar os governos. A guerra permanente interessa a quem só existe por causa da guerra permanente: ao Hamas, que não tem, como é sabido, nenhuma daquelas outras preocupações. Afinal, seu horizonte não é deste mundo.
Aqueles que defendem com tanta energia, mundo afora e no Brasil também, que Israel negocie com o Hamas – negociar o quê??? – poderiam tentar dar uma interpretação alternativa ao que disse Meshaal. Eu sempre fico encantado quando tentam provar que o diabo não é tão feio como se pinta, a despeito de sua cara, de suas intenções, de seu programa. Foi Meshaal a reunir 500 mil pessoas, sob os auspícios de um míssil, para anunciar que o destino de Israel é um só: o fim.
O que querem que Israel negocie com o grupo? As condições de seu próprio extermínio? Acho que isso não acontecerá.
PS – Na era da estupidez militante, cumpre observar: é claro que sou favorável à criação do estado palestino! Por que não seria? Se critico a ONU, é porque não faz sentido uma decisão como aquela fora de uma negociação entre palestinos e israelenses. O entendimento bilateral vem primeiro. Sem ele, o que se faz, argumentei então, é incentivar o confronto. Eu estava obviamente certo, como se vê: dadas as ações posteriores ao “reconhecimento”, os palestinos estão agora mais longe de um estado de verdade do que antes. Verdade ou mentira?  DE RESTO, É FÁCIL PROPOR A PAZ FAZENDO A GUERRA. QUERO VER É PROPOR A PAZ FAZENDO A PAZ.
Por Reinaldo Azevedo

Brasil pode ser destino do dinheiro sujo de Assad e de seu bando; em 2007, PT assinou um acordo de cooperação com partido do ainda ditador sírio



O Estadão publica hoje uma reportagem de Lourival Sant’Anna que merece ser lida com cuidado. Vocês vão entender por quê. Reproduzo um trecho. Prestem atenção!
Assessora de Assad esteve secretamente no BrasilBussaina Shaaban, principal assessora pessoal do presidente sírio, Bashar Assad, esteve secretamente em São Paulo, no Rio e em Buenos Aires, no fim de novembro. Não cumpriu nenhuma agenda oficial, nem com o governo brasileiro nem com os diplomatas sírios nem com as entidades que representam a comunidade síria no Brasil. Bussaina conversou com grandes empresários sírios no Brasil – alguns com atividades legais, outros, mais obscuras – sobre a possibilidade de transferir pessoas e grandes quantidades de dinheiro da Síria para cá. A missão secreta de Bussaina coincide com a notícia, publicada pelo jornal israelense Haaretz, de que o vice-chanceler sírio, Faiçal Mekdad, esteve na semana retrasada em Cuba, Venezuela e Equador, averiguando a possibilidade de Assad exilar-se em um desses países.
Em comum com o Brasil e a Argentina, os governos das três nações ostentam simpatia pelo regime de Assad, embora o Itamaraty tenha, nos últimos meses, mantido uma posição mais reservada sobre o tema. A própria Rússia, parceira do Brasil nos Brics (junto com Índia, China e África do Sul), e aliada da Síria, onde mantém sua última base naval no Oriente Médio, está distanciando-se de Assad, diante das evidências de que seus dias estão contados.
Duas fontes, uma de oposição e outra favorável ao regime, confirmaram ao Estado a vinda secreta de Bussaina. De acordo com a fonte que apoia Assad, a assessora do presidente veio fazer tratamento médico em São Paulo. O que não explicaria por que ela esteve também no Rio e em Buenos Aires. (…) Os movimentos de Assad e de seu círculo íntimo na direção de uma fuga da Síria coincidem com avanços do Exército Sírio Livre (ESL) sem precedentes em 21 meses de rebelião na Síria, que resultam numa asfixia econômica do governo e num cerco militar das forças leais. De acordo com fontes sírias ouvidas pelo Estado, o ESL tomou entre 30 e 35 bases do Exército perto de Damasco, num raio de 30 a 5 km do centro da capital, 3 bases aéreas e 12 instalações antiaéreas. Na avaliação dessas fontes, as forças terrestres leais ao regime estão muito reduzidas, a ponto de “200 combatentes” serem capazes de ocupar, pelo menos por um tempo, uma instalação estratégica. Os insurgentes já chegaram a até 500 metros da pista do Aeroporto de Damasco, que está fechado, e forma forçados a recuar, mas mantêm um cerco a seu redor. Com o uso de granadas e foguetes portáteis, neutralizaram 37 aviões no solo.
(…)
VolteiComo o mundo era muito complexo e depois foi ficando mais complicado, sabem os leitores que não sou exatamente um entusiasta do que se passa na Síria – o que se estende a toda a dita “Primavera Árabe”. Assad já era! O melhor – ai, ai… – que pode acontecer ao país é cair nas mãos da Irmandade Muçulmana, depois que esta vencer o embate interno, e vencerá, com os jihadistas. Dito isso, avancemos. Assad, qualquer que seja a motivação e os métodos dos que se opõem a ele, é um tirano asqueroso, um facínora. A sua queda é uma boa notícia em si, sem que isso implique uma visão otimista sobre o que virá depois. O risco de um confronto religioso também sangrento no país é grande. De volta ao cerne da notícia do dia.
Como se vê, o Brasil é um potencial destino do dinheiro sujo de Assad e de seu bando. Vejam as demais nações que estão no grupo: Cuba, Venezuela, Equador e… Argentina! São países governados hoje por delinquentes políticos. O que Banânia faz aí? Bem, o governo petista andou ajustando suas posições em relação ao governo sírio, mas Assad tem Dilma Rousseff – na verdade, o PT – como uma aliada. E essa proximidade não é de hoje.
Em 2007, o então presidente do PT, Ricardo Berzoini, assinou um acordo de cooperação com o partido Baath, de Assad, cujo nome completo é “Partido Baath Árabe Socialista”. O tal acordo com o partido do carniceiro incluía sete compromissos, dentre os quais se destacavam os seguintes: incentivar a troca de visitas,  coordenar os pontos de vista quando os partidos estiverem presentes em congressos e fóruns regionais e internacionais, promover a troca de publicações e de documentos partidários importantes e fortalecer a cooperação entre organizações populares e representantes da sociedade civil para intercâmbio de experiências.
É isso aí… Assad, como a gente nota, sempre foi considerado um “bom companheiro”. Imaginem se chegar, então, com as malas cheias de dinheiro…
Por Reinaldo Azevedo

Recomendação de Livro - “CLARO COMO O DIA”, de Eugene O’Kelly: como a certeza da morte mudou a minha vida


Blog Verdes Trigo


Neste livro, um executivo de sucesso descobre, quando alcança o ponto máximo de sua carreira, que tem apenas três meses de vida. O curto prazo foi dado em maio de 2005 a Eugene O’Kelly, então presidente de uma das maiores empresas de consultoria do mundo, a KPMG. O diagnóstico de câncer no cérebro não o fez perder o hábito de planejar tudo, mas foi mudando sua maneira de encarar a vida que conseguiu transformar seus últimos dias nos melhores que já tinha vivido, superando o peso da morte anunciada. As lições que aprendeu são contadas em “Claro como o dia– Como a certeza da morte mudou a minha vida”. Aos 53 anos, a notícia do fim próximo também serviu para o executivo rever toda a vida. Descobriu que poderia ter acompanhado melhor o crescimento das filhas e convivido mais com a esposa. Pessoas que, por causa do trabalho, se alimentam mal, não se cuidam, viajam, mas não conhecem de fato os lugares, vivem ligados nos e-mails e nas chamadas do celular vão se identificar profundamente com o relato de “Claro como o dia

O livro de Marco Antonio Villa atesta que o mensalão encontrou o seu historiador



Marco Antonio Villa é homem disciplinado: único do grupo de convidados do site de VEJA que participou de todos os 40 debates sobre o julgamento do mensalão, chegou invariavelmente na hora combinada ─ depois de ter acompanhado a sessão do Supremo Tribunal Federal e refletido sobre os temas a discutir.
O professor da Universidade Federal de São Carlos também não é de perder tempo com palavrórios e fatos irrelevantes: sabe separar o essencial do acessório e, com clareza e concisão, conta o caso como o caso foi.
A soma dessas virtudes desvenda o mistério aparente: como é que Villa conseguiu escrever entre um debate e outro, sem interromper a colaboração regular com os principais jornais do país nem suspender suas múltiplas atividades, um livro indispensável sobre um julgamento que nem terminou?
É uma proeza de bom tamanho. Mas não foi a única consumada com a publicação de Mensalão ─ O julgamento do maior caso de corrupção da história política brasileira. 
Olhar honesto e impiedoso
Quem acompanhou os debates no estúdio da Editora Abril descobriu que Villa fala como se estivesse escrevendo. E escreve como se estivesse conversando, atesta o livro. O autor se dispensa de minuetos retóricos para criticar a impontualidade, as tradições empoeiradas ou a linguagem pedante e verborrágica cultivadas pelos ministros, desmontar a argumentação indigente dos advogados de defesa, demolir o palavrório dos cúmplices de toga, exasperar-se com o cinismo dos comandantes da quadrilha e celebrar o triunfo da decência.
Marco Antonio Villa: dispensando minuetos retóricos para criticar e até para exasperar-se (Foto: Roberto Setton)
O olhar honesto do historiador é especialmente impiedoso com personagens como José Dirceu, que seria o presidente da República se não houvesse um mensalão em seu caminho, ou Ricardo Lewandowski, um advogado de defesa disfarçado de juiz.
Mas não poupa sequer os que contribuíram para tornar o Brasil menos cafajeste. O decano Celso de Mello, por exemplo, não escapa de observações irônicas sobre a mania de recuar alguns séculos para justificar a decisão que vai anunciar na primavera de 2012. Em contrapartida, é homenageado com a reprodução parcial, na página de abertura, do voto em que fez um demolidor resumo da ópera:
“Esse quadro de anomalia revela as gravíssimas consequências que derivam dessa aliança profana, desse gesto infiel e indigno de agentes corruptores, públicos e privados, e de parlamentares corrutos, em comportamentos criminosos, devidamente comprovados, que só fazem desqualificar e desautorizar, perante as leis criminais do país, a atuação desses marginais do poder”.
Trama mensaleira tropeçou na independência do Judiciário e na imprensa livre
Num Brasil afrontado pela institucionalização da mentira em dimensões orwellianas, envilecido pela supremacia das versões malandras, ultrajado pelos sucessivos assassinatos da verdade factual, Villa vê as coisas como as coisas são. Sempre viu. Desde 2005, quando o Brasil foi confrontado com o escândalo inverossímil, ele vem defendendo com coragem e brilho teses que o STF acaba de ratificar.
Agora com o endosso da ampla maioria dos ministros, o livro conclui a implosão de monumentos ao embuste erguidos nos últimos sete e escancara o que os delinquentes cinco estrelas e seus comparsas tentaram inutilmente esconder: o mensalão não só existiu como foi muito mais que um caso de caixa dois. “Este livro conta a história de uma tentativa ─ fracassada ─ de tomada do Estado”, resume Villa já no início da tomografia do esquema criminoso.
Nas páginas seguintes, o brilhante historiador descreve a conspiração armada pelo alto comando do lulopetismo para aparelhar as instituições, capturar os três Poderes, algemar a oposição pusilânime e submeter o país ao domínio de uma seita incapaz de aceitar o convívio dos contrários. “O único projeto da aristocracia petista ─ conservadora, oportunista e reacionária – é perpetuar-se no poder”, constata o último capítulo.  “Para isso, precisa contar com uma sociedade civil amorfa, invertebrada”.
Segundo Villa, a trama mensaleira seria bem sucedida se não tivesse tropeçado na independência do Judiciário e na liberdade de imprensa, “que acabaram se tornando, mesmo sem querer, os maiores obstáculos à ditadura de novo tipo que almejam criar”. O perigo não passou, adverte. “As decisões do Supremo permitem imaginar uma república onde os valores predominantes não sejam o da malandragem e o da corrupção”, anima-se. “Mas para que isso aconteça é preciso refundar a República”.
Depois de verem Villa em ação, muitos espectadores dos debates deduziram que o pai de todos os escândalos havia encontrado seu historiador. O livro atesta que estavam certos.

Justiça é coisa séria



Mauro Santayana
Vamos deixar a um canto o julgamento da Ação 470. Trata-se de um fato consumado. Ao julgar os réus daquele processo, o Supremo Tribunal Federal passou a ser julgado – não pelos meios de comunicação, que o têm aplaudido; não pelos setores da classe média do Sul e do Sudeste, que se sentem ressarcidos moralmente, com a condenação de correligionários de um apedeuta nordestino, operário metalúrgico, que conseguiu eleger-se e governar o país. Para todos esses, o Supremo foi o Areópago dos tempos míticos, com os juízes sob a presidência, invisível, mas infalível, da deusa Atena. Mas há quem examine as a situação com outros olhos.
 Fux revelou o esquema…
O jornalista mineiro José das Dores Vital acaba de publicar um ensaio delicioso, “Como se faz um bispo”, mostrando o jogo que se esconde na escolha de um novo prelado na hierarquia católica. As revelações do Ministro Luis Fux, publicadas no fim de semana pela Folha de S. Paulo, sobre os seus esforços a fim de se tornar Ministro do STF, sugerem um best-seller, como o de Vital.
Seria muito interessante mostrar como se escolhem alguns dos mais elevados magistrados da República. Muitos deles, pelo que andam anunciando, pretendem ser os arcontes do Estado Nacional, e pairar sobre todos os seus poderes, assentados no monte de Ares (ou de Marte, em latim), dedicado ao deus da guerra.
Fux conta como pediu a Deus, e a todo mundo, que o indicassem para ocupar uma vaga no Supremo: de João Pedro Stédile, do MST, a Delfim Neto, incluindo José Dirceu e outros réus da Ação 470 que ele, Fux, julgaria. Segundo a Folha de S. Paulo, um seu emissário, em seu nome, solicitou ao jornal que ele fosse ouvido. E foi muito bem entrevistado, por uma das mais argutas e ferinas jornalistas brasileiras, Mônica Bérgamo.
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PROVAS CONTRA DIRCEU
Diz o juiz que ficou “estarrecido” com as provas contra Dirceu e os outros e, assim, votou pela condenação dos réus. Estarrecidos estamos todos nós, com as suas revelações. Fosse ele um juiz de tempos mais antigos, é provável que se declarasse suspeito e se eximisse de participar do julgamento. Não por se sentir tentado a absolver, por gratidão; mas, sim, por se sentir tentado a condenar exatamente por ter sido ajudado. Há uma desconfiança universal e muito antiga de que muitos, ao receber um favor, passam a odiar quem os ajuda. Não se trata de uma regra, mas, sim, de exceções. Não para Ulysses Guimarães, que dizia: “O dia do benefício é a véspera da ingratidão”.
Há dois mecanismos mentais que explicam esse paradoxo. Um deles é a soberba do favorecido, sobretudo nas indicações políticas. O outro é o de compensação do sentimento de humilhação do imaturo ao pedir o favor ao poderoso – tão mais forte a ponto de lhe conceder o pedido. No primeiro caso, o ajudado passa a acreditar que não foi escolhido como um favor, mas sim, pelo reconhecimento de seus méritos. “Ele só podia me ter escolhido, porque, dentre todos os outros, só eu sou capaz”.
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CONSTRANGIMENTO
Assim também poderia pensar Fux, embora seu confessado pranto de regozijo, junto ao Ministro da Justiça, não sugira essa espécie de sentimento. Resta o outro – o do constrangimento pela súplica do apoio. Se o juiz Fux condenou os réus com a convicção de julgador, ou não, importa pouco, nesta fase do processo. O que qualquer cidadão pode condenar é a forma pela qual ele e outros foram escolhidos. Que um candidato a qualquer cargo peça apoio, é natural – mas deve preservar um pouco de decoro em sua postulação.
Lula, submetido a duras provas pessoais nos últimos meses, ao aprovar o nome de Fux junto a Dilma, não soube desconfiar de quem trazia indicações tão amplas, que provinham de todas as direções ideológicas. Em Minas, a idéia é a de que aquele que tem a recomendação de todos não tem recomendação alguma.
O passado de um candidato ao STF deve ser examinado ao microscópio. Os juízes do Supremo Tribunal são a última instância na defesa das pessoas contra o Estado e na defesa do Estado contra seus inimigos. Eles devem ser personalidades de indiscutível probidade, mas, da mesma forma, mostrar o saber necessário para atuar com toda a isenção possível.
Os juízes não são anjos vingadores, celebridades do showbusiness, nem cúmplices dos criminosos. São, ou devem ser, cidadãos acima dos interesses e das paixões, para assegurar a todas as pessoas justas o direito à vida, na segurança da paz. É preciso encontrar critérios mais rigorosos, transparentes e universais, para a indicação e aprovação, pelo Senado, dos Ministros do STF.

Imperdível artigo de Fernando Gabeira: “Do mel às cinzas”



Publicado no jornal O Estado de São Paulo de 7 de dezembro de 2012 
Esse é o título de uma obra do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, um ensaio de grande alcance intelectual. Não deveria estrear abrindo um texto como este. Mas ele me parece muito mais forte do que o título de um romance. Além do mais, contar de forma romanesca o que se passa na cena política brasileira nos levaria à banalidade do “a madame saiu às 5 horas”.
O mel – com seu duplo sentido para os ameríndios, alimento e sexo, daí a expressão lua de mel – é um ponto de partida mais rico para chegarmos às cinzas de um projeto que se intitulava de transformação, no princípio do século. O mel como sexo não é o tema aqui. Com o tempo, aprendi que a química humana é irredutível a um esquema lógico. Pessoas se aproximam e se afastam de forma surpreendente e, em vez de pensar em algum controle mental desse processo, é melhor deixar que se desenrole com suas inevitáveis surpresas.
Também não interessa aqui a questão quem está dando para quem. Interessa saber o que está sendo dado. O ex-senador Gilberto Miranda quer duas ilhas, uma onde construiu uma casa e outra onde pretende construir um porto particular.
De ilha em ilha, os senadores acabam ocupando um arquipélago. Lembro-me da discussão pública que tive com o então senador Ney Suassuna, que queria ocupar uma ilha na Estação Ecológica de Tamoios, em Angra dos Reis (RJ). De modo geral, eles compram um barraco ou qualquer instalação modesta de um eventual morador da ilha e, em seguida, reivindicam seu pleno uso, como se fossem, realmente, os donos.
Concordo com o poeta quando diz que nenhum homem é uma ilha. Mas acrescento: nenhum homem deveria ter uma ilha. Entregar uma ilha é mais concreto do que a corrupção que desvia recursos. Não se trata de dinheiro, mas de um pedaço do território nacional.
O homem-chave desse processo, Paulo Vieira, disse numa ligação interceptada que as coisas seriam facilitadas por um funcionário desde que se colocasse “mel na chupeta”. O mel ressurge aí não exatamente como alimento, mas com seu poder de sedução. Ele é a forma enganadora de tornar suportável o conteúdo da mamadeira. Nas cinzas de uma promessa de renovação, instala-se uma difusa certeza de que a vida só é tragável com a chupeta empapada de mel. E que só tem sentido participar do governo para enriquecer.
Como na canção de Chico Buarque, aparece uma mulher que diz sim por uma coisa à toa, uma noitada boa, um cinema, um botequim. Uma cirurgia, um emprego, um cruzeiro com Bruno e Marrone.
Não se pode reduzir a análise à trajetória da secretária Rosemary Nóvoa de Noronha. O nome de Paulo Vieira foi rejeitado pelo Senado, mas o governo decidiu forçar a barra, tanto do ponto vista político como regimental. Ao tomar uma decisão dessa ordem, o governo não sabia por quem estava atropelando o Congresso Nacional? Será que, no convívio com Rosemary, Lula nunca questionou: mas quem é esse cara que foi rejeitado pelo Congresso, por que vale a pena insistir nele?
A manobra para garantir o cargo a Paulo Vieira a qualquer custo contou com o apoio de senadores. Romero Jucá articulou e agora diz que nem se lembra do caso. Magno Malta fez um recurso para tornar viável a nova escolha de Vieira. Se lhe perguntarem, dificilmente dirá alguma coisa. José Sarney, então, é uma esfinge.
Acreditar que todo esse processo tenha tido como dínamo apenas o poder de sedução feminino bloqueia outros caminhos para conhecer o que se passou. Um governo não atropela o Congresso para impor uma indicação se não a considerar de grande importância estratégica. Vendo por outro ângulo, um governo não deixa de reexaminar uma indicação quando ela é rejeitada pelo Senado.
Os franceses aconselham a procurar a mulher (“cherchez la femme“) nesses casos intrincados. Mas aqui talvez valha a pena distanciar-se dela e olhar para a montanha de cinzas que o projeto de renovação nos legou.
O governo e alguns senadores foram cúmplices objetivos de uma quadrilha em formação. Eles estavam negociando ilhas, patrimônio físico do Brasil. A entrega, por meio da chupeta melada, de uma parte do território nacional é algo muito grave para se reduzir a um folhetim, apesar da beleza dos versos de Chico Buarque.
O Congresso parece que não tem condições de investigar. Talvez nem queira. Mas um dia isso cai nas mãos de um setor independente da Justiça. E de novo todos ficarão angustiados com a palavra dosimetria, pensando no remédio amargo depois de anos de “mel na chupeta”.
Da minha parte, afirmo apenas que objetivamente a quadrilha imposta pelo governo ao Congresso estava negociando uma parte do Brasil. Dose dupla.
Não adianta insinuar que o coração tem razões que a própria razão desconhece. Quando começam a levar nossas ilhas, é preciso dizer basta.
A quadrilha que negociava ilhas é apenas uma irrupção na montanha de cinzas. É preciso dinheiro para manter a máquina partidária, garantir eleições, pagar marqueteiros. É preciso dinheiro para se manter no poder. Só assim se faz dinheiro. Para continuar no poder.
Do mel às cinzas, vão-se desfazendo os mitos políticos. A apuração e a publicidade do episódio vão ajudar a compreender melhor a atmosfera de um governo de coalizão de partidos e algumas facções, como a que opera no Porto de Santos.
Não sei o que sairá disso. Mas é preciso, pelo menos, salvar as ilhas dos piratas. O governo foi na direção certa quando mandou examinar todos os outros processos que passaram pelo grupo. Mas não respondeu a uma pergunta que deveria ter sido dirigida ao próprio governo: como foi possível fazer essa indicação, atropelar o Congresso por ela e não monitorar uma escolha tão polêmica?
No mínimo, foi um delírio autoritário. É difícil pensar que sejam tão inocentes as pessoas que dirigem o Brasil hoje. Muitas têm uma longa trajetória. Quando vão encarar a realidade de uma vez por todas, sem tergiversar?

A confissão em quatro palavras, por Augusto Nunes



Em Berlim, um jornalista quis saber se a Operação Porto Seguro surpreendera o ex-presidente Lula. O autor da pergunta já se preparava para anotar a repetição da lengalenga sobre a facada nas costas quando foi surpreendido pela resposta:   “Não, não fiquei surpreso”. Grávido de irritação, Lula encerrou a conversa e foi cuidar dos problemas do mundo. Não tinha tempo a perder com um caso Rose.
Nem precisou: já dissera o suficiente. Quem não fica surpreso com um traiçoeiro ataque pela retaguarda não pode surpreender-se com nada. Não se espantou com o que fizeram a antiga parceira e os quadrilheiros que apadrinhou por conhecer  intimamente a vigarista indiciada por corrupção, tráfico de influência, falsidade ideológica e formação de quadrilha.
Com uma frase de quatro palavras, o colecionador de tapas na cara do Brasil decente confessou que sabia de tudo. Sempre soube. Ou é cúmplice ou é comparsa.

No que vai dar isso aí?


Percival Puggina

Não sou nenhuma celebridade, nem gostaria de ser. Mas volta e meia alguém me pára na rua. Felizmente não querem autógrafos. Querem saber no que vai dar isso aí. A pergunta se refere a essa coisa em que transformaram o Brasil. Minha resposta acaba sendo comprida. Então, doravante, para simplificar as coisas, passarei a responder por escrito. Andarei com a resposta no bolso.
O Brasil está no olho de um furacão e não toma conhecimento. Como nunca antes neste país, os problemas são graves e têm efeitos cumulativos. Mencionarei apenas os principais, relacionando-os à nossa posição no contexto mundial: a) estamos em 88º lugar no ranking da educação básica e no 66º da educação superior; b) este ano, pela primeira vez, entramos na lista das 50 economias mais competitivas, com um modestíssimo 48º lugar; c) nossas péssimas instituições nos deixam no 79º lugar em relação ao quesito qualidade das instituições nacionais; d) ocupamos o 99º lugar no ranking da liberdade de imprensa; e) somos o país lanterna do BRIC quanto ao número de registro de patentes nos Estados Unidos (apenas 7% do total obtido pela China no ano passado); f) ocupamos o 84º posto entre 187 países no ranking do desenvolvimento humano (IDH); g) somos o 69º país mais corrupto, com uma vergonhosa nota pouco superior a três. Junto com a proverbial impunidade, os sucessivos casos de corrupção, na novilíngua oficial, viraram “malfeitos” – assim como se fossem travessuras de gente grande.
Não bastasse isso, 2012 foi um ano perdido. Nossa economia cresceu uma ninharia, pouco mais de um por cento, índice que nos coloca em penúltimo lugar entre os 20 países ibero-americanos. Como consolação, ganhamos do Paraguai. As tarefas centrais de qualquer governo – Educação, Saúde, Segurança e Infraestrutura – vão de mal a pior. Um governo desses só pode ser bem pontuado distribuindo dinheiro para os pobres e para os ricos, e mandando a conta para a classe média. Dos primeiros vêm os votos; dos segundos a grana.
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CRIMINALIDADE
A alegria dos criminosos brasileiros é a falta de policiais e presídios. Milhares de condenados operam livremente, ora por falta de quem os capture, ora porque não tem onde ficar detidos. Assim, convivemos com tenebrosa sensação de insegurança. E o governo aplicou, até o mês de novembro de 2012, apenas um por cento do que estava previsto no orçamento federal para construção de estabelecimentos penais. Aliás, em relação ao orçado para investimentos neste ano, o governo da União, em todos seus setores de atuação, só conseguiu usar 34%.
Quanto ao ano de 2013, é visível que o governo esgotou os truques para fazer a economia crescer à base do consumo interno: baixou juros, ampliou prazos de financiamento, concedeu substanciais reduções de IPI e chamou à sociedade ao endividamento. Haverá algo mais, na cartola das demagogias oficiais, além do nunca feito dever de casa?
Não obstante tudo isso e muito mais, o governo e a população não têm tal percepção. E ninguém está mais longe de resolver um problema do que quem sequer sabe que ele existe. Os sucessivos escândalos que enxovalham o momento histórico e atingem danosamente nossa imagem internacional parecem não afetar as figuras centrais da república. Os patifes vivem à vida regalada, convictos da perenidade do regabofe em que se lambuzam.
Então, as pessoas me perguntam: no que vai dar isso aí? Minha resposta é política. Quem está no poder só sabe fazer mais do mesmo. As expectativas relacionadas a uma possível implosão do núcleo duro desse poder dependem exclusivamente da combinação de dois fatores: o que vier a acontecer com a imagem de Lula junto à opinião pública e dos rumos que forem tomados pela economia.
Se, contrariando todas as probabilidades, a galinha que voou em meados da década passada, sair por aí planando como um falcão, continuaremos com mais do mesmo. O brasileiro, com dinheiro no bolso, pouco quer saber de democracia e de princípios morais. Mas nem a economia, como fator isolado, será suficiente para desconstruir a imagem do governo se a imagem de Lula não desabar.
E Dilma? É preciso compreender que Dilma, assim como precisou de Lula para subir, precisará de Lula para descer. Se e quando a imagem de Lula desabar, Dilma cai junto. Fora disso não há salvação.
(Do Blog do Puggina)