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quinta-feira, 10 de julho de 2014
FESTA BOA É NOS PALÁCIOS - Carlos Brickmann
O ápice da festa é José Roberto Arruda. Renunciou para não ser cassado pelo Senado, foi o primeiro governador preso durante o mandato (quando o filmaram recebendo propina), perdeu o cargo. É candidato de novo ao Governo de Brasília, pelo PR, e tem chances. Apesar de tudo, acredite, Arruda não é ficha-suja.
carlos@brickmann.com.br
Brasil e Oriente Médio: desgraças paralelas
10 de julho de 2014 § Deixe um comentário
Nesta terça-feira, 8, dia do “Mineiratzen” pelo que pouca gente deve te-lo lido, O Estado de S. Paulo publicou um artigo de Mathieu Atkins, que cobriu para o New York Times a luta entre as inumeras “facções do islamismo” que compõem os grupos armados do “Estado Islâmico no Iraque e no Levante” (o tal “Isil“) e os que lutaram contra ele na cidade de Alepo que foi tomada por esses partidários da ressurreição de um “califado islâmico” modelo Século 7 e, em seguida, retomada por outros grupos armados não necessariamente ligados ao governo desafiado pelos primeiros.
A matéria — “A promessa dos radicais de Alepo” neste link — é uma confusão não porque seja defeituosa do ponto de vista jornalístico mas porque descreve, com a fidelidade possível, uma realidade que é uma tremenda confusão na qual, da Al Qaeda para cima – ela também dividida em diferentes “facções” e “correntes” – o confronto inclui de tudo e mais alguma coisa daquilo que, do Século 7 em diante, quer ser chamado de “variação do islamismo“.
Tentar entender as nuances que separam esses grupos e essas supostas “variações” usando o racional e os padrões de definição política, ideológica ou religiosa das democracias do Ocidente só pode conduzir – seja o jornalista, seja o funcionário do Departamento de Estado, seja o presidente dos Estados Unidos – de erro em erro, a catástrofes que acabam sempre do mesmo jeito: à derrubada de cada tirania estabilizada sucede uma tirania instável que passa a matar muito mais que a anterior para se estabilizar, pois que é, sempre, de medição de forças entre “chefões” e não de qualquer outra coisa mais substancial ou sutil que se trata.
A cada banho de sangue que se procura deter em nome de critérios humanitários, portanto, segue-se em geral um banho de sangue ainda pior. E a dificuldade está em que “to disengage” e deixar isso correr, como Obama anunciou que faria, joga tanta lenha nessa fogueira de vaidades e ambições que, dado o poder das armas de hoje, põe a continuação da humanidade em risco.
Se correr o bicho pega, se parar o bicho come…
Para um brasileiro acostumado a viver no meio de uma guerra que mata mais que qualquer uma das declaradas do Oriente Médio sem sequer se dar conta de que assim é porque aqui a mortandade não está assumidamente relacionada à luta política (embora esteja de fato), não é difícil entender porque as sucessões são como são no Oriente Médio.
Desde que a “hegemonia cultural” socialista morena se instalou nas nossas escolas, igrejas e meios de comunicação no nível requerido para que passasse a se reproduzir sozinha “educando” as classes dominadas a tomar como natural e conveniente a sua submissão à classe no poder, a nossa disputa política passou a ser semelhante às das “variantes do islamismo” em que se fragmenta o Oriente Médio: só ha diferenças de grau de radicalismo em torno da mesma única “verdade” geral admitida nas madraças, “verdade” esta cujo principal objetivo é tornar impossível àquele país e àquela população fugir para a modernidade.
As verdades capazes de conduzir a ela são proibidas sob pena de apedrejamento físico, lá, e de apedrejamento moral, aqui, e de forma tão implacável e eficiente que, depois de algum tempo acabam sendo esquecidas e nem chegam mais a existir no horizonte das possibilidades.
A representação política de toda a rica diversidade humana e mais a da variedade das ambições em disputa — que continuam insistindo em ser ricamente diversa, uma, e variada, a outra, seja como for que se as cerque — fica, portanto, obrigada a se acomodar nesse estreitíssimo espaço que sobra.
Por isso é tão difícil diferenciar uma “corrente” do islamismo da outra entre as que estão, por exemplo, em luta pelos pedaços do Iraque neste momento, quanto definir as diferenças existentes entre os 30 e tantos partidos políticos que disputam os pedaços do Brasil agarrados a alguma “corrente” ou variação do “socialismo“.
Quem, tentando compreender tudo isso de fora, for suficientemente realista para sair de dentro do seu próprio sapato e calçar o de quem está dentro dessas realidades falsificadas haverá de concordar com o que diz na matéria referida um chefe de um dos bandos em luta, um certo Abu Bilal, da “Brigada Tawhid”.
“Os comandantes dos supostos grupos seculares do Exército Sírio Livre vinculados ao governo sírio no exílio que os governos ocidentais vêm apoiando“, diz ele, “são como as ONGs: sabem como dizer o que o doador quer ouvir. Mas na realidade são só contrabandistas de diesel que controlam uma parte da fronteira. Não empreendem nenhum combate sério”.
Quem assiste os nossos “Programas Eleitorais Gratuitos” sabe exatamente o que ele está querendo dizer.
La como cá, uma vez no poder, esses grupelhos que não representam mais que as ambições pessoais do seu chefe tanto quanto qualquer “cappo” dono de quarteirão disputando um pedaço de uma cidade dos velhos filmes da Máfia, são todos iguais: os sobreviventes compõem-se entre si e instalam uma mistura de roubalheira com violência institucional na dose que for necessária para não perder o pivilégio de ser ele a comandar o saque da população do território conquistado de que, no fim das contas, todos eles participarão em algum grau para permitir uns aos outros que o saque prossiga, de forma organizada, pelo maior tempo possível.
Não faz grande diferença que uns segurem o território conquistado com kalashnikovs e os outros com dinheiro. O certo é que tudo isso não tem nada a ver, nem com islamismo, nem com socialismo, que é coisa que não existe e hoje todo mundo admite que nunca existiu no universo da realidade, nem, muito menos, com democracia, além de ser sempre muito difícil chegar a uma conclusão sobre qual dessas duas formas de se sustentar no poder mata mais.
Lá como cá, igualmente, estancar a sangria e fugir para a modernidade depende estritamente de colocar as “religiões” e os dogmas nos seus devidos lugares e tratar de por as relações entre os homens e as deles com o Estado dentro dos limites estritos das leis e das instituições as mais impessoais, objetivas e invioláveis possíveis, de modo a permitir que, respeitados esses limites, cada um busque a sua própria felicidade da maneira que melhor lhe aprouver.
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CID GOMES TENTA INVADIR VESTIÁRIO DA SELEÇÃO E É BARRADO POR UM VOLUNTÁRIO A SERVIÇO DA FIFA; RAPAZ DIZ TER SIDO AGREDIDO, GOVERNADOR NEGA. OU: O JEITO "FERREIRA GOMES" DE RESOLVER PENDENGAS
Posted: 08 Jul 2014 05:14 PM PDT
Vejam esta foto. Vocês vão entender o que ela faz aí.
Ai, ai…
Vocês sabem que há gente que gosta muito de futebol, muito mesmo! Gosta de tudo o que envolve este notável esporte em que 20 homens correm atrás da mesma bola, havendo dois outros cuja tarefa é impedir que ela atravesse um pedaço delimitado de cada um dos respectivos lados menores do retângulo. E a admiração irrestrita pelo ludopédio, em alguns casos, não reconhece limites — nem mesmo, ou especialmente, os do vestiário. É o caso do governador Cid (PROS), do Ceará, da família Gomes, que parece ser adepta de um método. Vamos ver.
O busílis é o seguinte. Depois da partida em Fortaleza entre as Seleções do Brasil e da Colômbia, Cid tentou invadir — e a palavra é mesmo essa, como admite, sem querer, nota oficial do próprio governador — o vestiário dos canarinhos. Levava consigo uma “Brasuca”, que, segundo diz, queria que fosse autografada pelos jogadores. Sabem como é… Governador, uma verdadeira “otoridade”, Cid não quis esperar ou, sei lá, recorrer a algum intermediário para que levasse a pelota até os heróis da tarde. Preferiu ir ele mesmo, em pessoa, para experimentar, um pouco que fosse, do calor e da excitação da vitória. A paixão excessiva cega, não é?
Mas Cid não conseguiu entrar. Não tinha credencial. Muita gente reclama do que seria a arrogância apátrida da Fifa, que impõe o seu padrão aonde quer que vá. Até eu, confesso, cheguei a me irritar certa feita. Vejo agora que era um resquício de caipirice da minha parte. A regra imposta pela organização tem ao menos o condão de impedir que arrogantes locais imponham a sua vontade apenas porque são, afinal, “otoridades”.
Cid não atravessou a linha que dá acesso ao vestiário. Foi barrado por um rapaz chamado Anderson Feitoza, também ele cearense. Era um dos voluntários que estavam trabalhando para a Fifa. Segundo o relato, o governador, “aparentemente embriagado”, lhe desferiu um tapa no pescoço e o chamou de “abestado”, o que teria chamado a atenção do jogador David Luiz, que interveio, então, em defesa do rapaz. Anderson ganhou uma camisa autografada e ainda posou para a foto que se vê lá no alto, em companhia do próprio David Luiz e de Thiago Silva, os dois heróis daquele dia. Leiam o relato que o jovem postou no Facebook. Volto em seguida.
Voltei
Pois é… A Folha procurou a assessoria de Cid Gomes, que emitiu uma nota negando a agressão, mas não a tentativa de invasão do vestiário: “Não procede a informação sobre uma agressão minha a um segurança que atuava na Arena Castelão”. Cid parece achar que sua condição lhe dá, realmente, direitos especiais: “Eu, como governador do Estado, me empenhei pessoalmente para que a Copa do Mundo acontecesse em Fortaleza em clima de paz”. A assessoria admite, sim, que ele tentou levar a bola para ser autografada, que foi barrado por estar sem credencial e que protestou, mas de maneira “contida e civilizada”.
Pois é… A Folha procurou a assessoria de Cid Gomes, que emitiu uma nota negando a agressão, mas não a tentativa de invasão do vestiário: “Não procede a informação sobre uma agressão minha a um segurança que atuava na Arena Castelão”. Cid parece achar que sua condição lhe dá, realmente, direitos especiais: “Eu, como governador do Estado, me empenhei pessoalmente para que a Copa do Mundo acontecesse em Fortaleza em clima de paz”. A assessoria admite, sim, que ele tentou levar a bola para ser autografada, que foi barrado por estar sem credencial e que protestou, mas de maneira “contida e civilizada”.
Sei, sei…
No dia 12 deste mês, Cid se envolveu num quase acidente de carro com o jovem Samir Jereissati, filho de Demétrio Jereissati, que é primo de Tasso. Segundo o rapaz, o governador iria bater no seu carro, e ele, então, buzinou. Cid desceu, cercado por seguranças, para tomar satisfações. Vejam o vídeo.
A situação é meio confusa, sim, mas o fato é que se vê ali o governador, vamos dizer?, tentando resolver a coisa na base da valentia. Há quem diga que o rapaz poderia estar embriagado, o que é negado por familiares. Ainda que estivesse, é evidente que o comportamento que se vê não é adequado à autoridade máxima do Ceará.
Ocorre que esse estilo “saio no braço” parece ser um modo que tem os Ferreira Gomes de fazer política — ou, ao menos, de se mostrar em público. Há um vídeo impressionante de Ciro Gomes, o irmão mais famoso de Cid, num ato político na cidade de Carnaubal. Vejam até o fim:
VolteiDizer o quê? Reparem que, quando ele desce do palanque para pegar alguém no muque, um séquito desce atrás. Ciro já foi considerado, quem diria?, um renovador da política. Pois é… Notem o tom paternalidade e autocrático do discurso. Sem contar que o tempo parece ter se encarregado de lhe conferir também o “physique du rôle” de um “coroné” à moda antiga, não é mesmo? “Estepaiz” ainda vai se transformar numa República, tenho fé! Mas como demora!!! Por Reinaldo Azevedo
Dom Erwin Kräutler: "Do que Lula prometeu, nada foi cumprido"
O bispo do Xingu conversou com papa Francisco em audiência particular. Disse que o ex-presidente não honrou o combinado e que, com Dilma, não há diálogo
BRUNO CALIXTO
13/05/2014 07h00 - Atualizado em 13/05/2014 11h39
O bispo Dom Erwin Kräutler pode caminhar tranquilo quando visita sua família em sua terra natal, a Áustria. Quando viajou para Roma, no começo de abril, também não precisou se preocupar com a segurança. Não pode dizer o mesmo de sua terra adotiva, o interior do Pará. Bispo da prelazia do Xingu e presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Dom Erwin vive com escolta policial há nove anos, ameaçado por pistoleiros. Defensor dos direitos indígenas, Dom Erwin conseguiu uma audiência particular com o papa Francisco. Diz que ele prepara uma encíclica sobre as questões ambientais. Em entrevista a ÉPOCA, também fala sobre os impactos negativos da obra de Belo Monte. Afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não cumpriu o prometido e que Dilma não dialoga sobre o assunto.
ÉPOCA – O senhor já conhecia pessoalmente o papa?
Dom Erwin Kräutler – Conheci o papa na Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe em 2007, em Aparecida. Ele foi o cardeal de Buenos Aires e integrante de redação daquele documento. Claro, se soubéssemos que se tornaria papa, olharíamos mais de perto, não é? (Risos.) Tenho uma lembrança boa da simplicidade dele naquela conferência, a maneira humana e fraterna com que trata os outros.
Dom Erwin Kräutler – Conheci o papa na Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe em 2007, em Aparecida. Ele foi o cardeal de Buenos Aires e integrante de redação daquele documento. Claro, se soubéssemos que se tornaria papa, olharíamos mais de perto, não é? (Risos.) Tenho uma lembrança boa da simplicidade dele naquela conferência, a maneira humana e fraterna com que trata os outros.
ÉPOCA – Como o senhor chegou ao Vaticano?
Dom Erwin – Fui lá na qualidade de secretário da comissão episcopal da CNBB para a Amazônia e como presidente do Conselho Indigenista Missionário, o Cimi. Dom Claudio Hummes incentivou esse encontro. Me hospedei onde o papa mora, na casa Santa Marta. Aí a gente vê a simplicidade do papa. Não teve nada cerimonial, nada de seguir protocolo. Me senti em casa. Um encontro como esse é muito gratificante. Ele é simples, humilde e estou feliz de termos esse papa. Fiquei impressionado pela forma como ele recebe, como a um irmão, muito atencioso. Ele também convoca e diz: “Olha, os bispos têm de vir com propostas concretas, corajosas”. Ele espera isso.
Dom Erwin – Fui lá na qualidade de secretário da comissão episcopal da CNBB para a Amazônia e como presidente do Conselho Indigenista Missionário, o Cimi. Dom Claudio Hummes incentivou esse encontro. Me hospedei onde o papa mora, na casa Santa Marta. Aí a gente vê a simplicidade do papa. Não teve nada cerimonial, nada de seguir protocolo. Me senti em casa. Um encontro como esse é muito gratificante. Ele é simples, humilde e estou feliz de termos esse papa. Fiquei impressionado pela forma como ele recebe, como a um irmão, muito atencioso. Ele também convoca e diz: “Olha, os bispos têm de vir com propostas concretas, corajosas”. Ele espera isso.
ÉPOCA – O senhor levou propostas ao papa?
Dom Erwin – Levei quatro temas. O primeiro é que 70% das comunidades da Amazônia só têm acesso à eucaristia duas ou três vezes ao ano. Isso é lamentável. Faltam padres. No meu caso, Altamira, a prelazia do Xingu tem quase 800 comunidades e apenas 27 padres. Foi nesse contexto que o papa falou que nós, bispos, precisamos pensar em propostas concretas. Não é possível que esse povo todo, milhares de cristãs e cristãos, seja praticamente excluído do centro de nossa fé.
Dom Erwin – Levei quatro temas. O primeiro é que 70% das comunidades da Amazônia só têm acesso à eucaristia duas ou três vezes ao ano. Isso é lamentável. Faltam padres. No meu caso, Altamira, a prelazia do Xingu tem quase 800 comunidades e apenas 27 padres. Foi nesse contexto que o papa falou que nós, bispos, precisamos pensar em propostas concretas. Não é possível que esse povo todo, milhares de cristãs e cristãos, seja praticamente excluído do centro de nossa fé.
"O papa me disse que pensa numa encíclica sobre ecologia humana"
ÉPOCA – O senhor falou sobre temas sociais e da Amazônia?
Dom Erwin – Sim. O segundo tema é ligado aos povos indígenas. Falei ao papa que há uma campanha anti-indígena em curso. Falei da proposta de emenda que quer mudar direitos indígenas já assegurados na própria Constituição Federal. Detalhei alguns pontos sobre a situação dos guaranis-caiovás, em Mato Grosso do Sul. Eles enfrentam uma situação insuportável, com muitas mortes, e sobre o Vale do Javari, no Amazonas, onde os indígenas estão contaminados pelo pior tipo de vírus de hepatite, que não tem cura. Também lembrei do papa que ele recebeu um lindo cocar no Rio, quando veio ao Brasil na Jornada Mundial da Juventude. Pedi, em nome dos povos indígenas, seu empenho em favor dessa causa. O terceiro assunto foi a ecologia. Não podemos deixar para as futuras gerações um deserto. O papa me disse que pensa numa encíclica não só sobre a ecologia, mas também sobre a ecologia humana. A gente não pode separar o meio ambiente do ser humano, também parte do meio ambiente. Ele me disse que pediu ao cardeal Peter Turkson que fizesse um rascunho, um início de conversa sobre esse tema. Disse ao papa para não se esquecer da Amazônia nessa encíclica. O quarto ponto é o Xingu. Disse ao papa que o povo do Xingu lhe quer muito bem. Aí ele disse para também mandar um abraço a cada um, em nome do papa. (Risos.) Depois, ficou sério e afirmou: “Diga a seu povo que reze por mim”.
Dom Erwin – Sim. O segundo tema é ligado aos povos indígenas. Falei ao papa que há uma campanha anti-indígena em curso. Falei da proposta de emenda que quer mudar direitos indígenas já assegurados na própria Constituição Federal. Detalhei alguns pontos sobre a situação dos guaranis-caiovás, em Mato Grosso do Sul. Eles enfrentam uma situação insuportável, com muitas mortes, e sobre o Vale do Javari, no Amazonas, onde os indígenas estão contaminados pelo pior tipo de vírus de hepatite, que não tem cura. Também lembrei do papa que ele recebeu um lindo cocar no Rio, quando veio ao Brasil na Jornada Mundial da Juventude. Pedi, em nome dos povos indígenas, seu empenho em favor dessa causa. O terceiro assunto foi a ecologia. Não podemos deixar para as futuras gerações um deserto. O papa me disse que pensa numa encíclica não só sobre a ecologia, mas também sobre a ecologia humana. A gente não pode separar o meio ambiente do ser humano, também parte do meio ambiente. Ele me disse que pediu ao cardeal Peter Turkson que fizesse um rascunho, um início de conversa sobre esse tema. Disse ao papa para não se esquecer da Amazônia nessa encíclica. O quarto ponto é o Xingu. Disse ao papa que o povo do Xingu lhe quer muito bem. Aí ele disse para também mandar um abraço a cada um, em nome do papa. (Risos.) Depois, ficou sério e afirmou: “Diga a seu povo que reze por mim”.
ÉPOCA – Na época em que a irmã Dorothy Stang foi assassinada (em 2005), o senhor enfrentou ameaças de morte e precisou de escolta. O perigo continua?
Dom Erwin – Sim, continua. Desde 2006, estou sob proteção da Polícia Militar no Xingu, 24 horas por dia. Graças a Deus não estão fardados, não é? Exigi isso na época. Você pode imaginar que perdi minha liberdade. Não posso ir e vir quando quiser. Minha vida social, encontrar pessoas, fazer visitas, fica muito restrita. Não posso ir a um aniversário sem levar dois policiais. Antigamente, eu tinha o costume de andar pela rua, entrar nas casas, conversar com as pessoas. Isso acabou. Agora, uma coisa digo, a liberdade exterior me tomaram, mas a interior não podem levar. A liberdade de dar minha opinião e defender o que for importante na vida do Brasil.
Dom Erwin – Sim, continua. Desde 2006, estou sob proteção da Polícia Militar no Xingu, 24 horas por dia. Graças a Deus não estão fardados, não é? Exigi isso na época. Você pode imaginar que perdi minha liberdade. Não posso ir e vir quando quiser. Minha vida social, encontrar pessoas, fazer visitas, fica muito restrita. Não posso ir a um aniversário sem levar dois policiais. Antigamente, eu tinha o costume de andar pela rua, entrar nas casas, conversar com as pessoas. Isso acabou. Agora, uma coisa digo, a liberdade exterior me tomaram, mas a interior não podem levar. A liberdade de dar minha opinião e defender o que for importante na vida do Brasil.
ÉPOCA – O que mudou na região desde a morte da irmã Dorothy?
Dom Erwin – Não digo que continua do mesmo jeito, mas nunca foi dada uma solução real. Uma reforma agrária que realmente pudesse ter esse nome nunca ocorreu. Sempre o latifúndio e as grandes extensões de terra são favorecidos nas políticas públicas. O pequeno produtor depende apenas dele mesmo. Como não têm estrutura para produzir, eles vêm para as cidades, que incham. Vivemos em Altamira o caos da hidrelétrica de Belo Monte. Em todos os setores: saúde, educação, transporte, segurança e habitação. Muitos crimes. Assaltos todos os dias. Um homicídio atrás do outro. Claro que vem gente boa para a cidade, mas também
vem bandido.
Dom Erwin – Não digo que continua do mesmo jeito, mas nunca foi dada uma solução real. Uma reforma agrária que realmente pudesse ter esse nome nunca ocorreu. Sempre o latifúndio e as grandes extensões de terra são favorecidos nas políticas públicas. O pequeno produtor depende apenas dele mesmo. Como não têm estrutura para produzir, eles vêm para as cidades, que incham. Vivemos em Altamira o caos da hidrelétrica de Belo Monte. Em todos os setores: saúde, educação, transporte, segurança e habitação. Muitos crimes. Assaltos todos os dias. Um homicídio atrás do outro. Claro que vem gente boa para a cidade, mas também
vem bandido.
ÉPOCA – O senhor falou de Belo Monte com o papa?
Dom Erwin – Sim, sim. Quando falamos da questão indígena e da questão da ecologia, falei de Belo Monte. Belo Monte é responsável agora pela transferência de 40 mil pessoas. A maioria vivia em casas bem-feitas, de alvenaria ou madeira. Poucos moravam em palafitas. Colocam essa gente em casas feitas em série. Verdadeiras gaiolas, sem pensar na maneira de o povo se relacionar. O paraense tem uma cultura de família não só com pais e filhos, mas também vovô, vovó, uma enteada, um parente de passagem, alguém que se hospeda. Nossas famílias são assim. Confinar essas famílias àquelas gaiolas é uma agressão tremenda. Claro que os construtores dizem que é o melhor do mundo.
Dom Erwin – Sim, sim. Quando falamos da questão indígena e da questão da ecologia, falei de Belo Monte. Belo Monte é responsável agora pela transferência de 40 mil pessoas. A maioria vivia em casas bem-feitas, de alvenaria ou madeira. Poucos moravam em palafitas. Colocam essa gente em casas feitas em série. Verdadeiras gaiolas, sem pensar na maneira de o povo se relacionar. O paraense tem uma cultura de família não só com pais e filhos, mas também vovô, vovó, uma enteada, um parente de passagem, alguém que se hospeda. Nossas famílias são assim. Confinar essas famílias àquelas gaiolas é uma agressão tremenda. Claro que os construtores dizem que é o melhor do mundo.
ÉPOCA – Essas casas são de responsabilidade da empresa?
Dom Erwin – O governo fecha os olhos e tapa os ouvidos diante dos gritos. Antes de começar a hidrelétrica, havia a exigência de cumprir condicionantes. O Ibama exigia 40 delas, e a Funai 23. De repente, deram a licença para instalar o canteiro de obras, e essas exigências não foram cumpridas. Querem cumpri-las concomitantemente com a obra. O que deveria ter sido feito em termos de hospital, escola, saneamento básico, se faz agora, enquanto Altamira está um caos. Tenho a impressão de que não terminarão
de fazer tudo.
de fazer tudo.
ÉPOCA – O senhor ainda acha que é possível parar Belo Monte?
Dom Erwin – Não. O estrago já está feito. O que fazemos agora é lutar para que esse povo seja tratado humanamente.
Dom Erwin – Não. O estrago já está feito. O que fazemos agora é lutar para que esse povo seja tratado humanamente.
ÉPOCA – O senhor já tentou dialogar com o governo sobre essa situação?
Dom Erwin – Estive com o presidente Lula duas vezes, em 2009. Do que o Lula me prometeu, nada foi cumprido. Ele prometeu que não empurraria o projeto goela abaixo, que haveria diálogo. Não houve. Disse que não repetiríamos o monumento à insanidade que era Balbina, que o Brasil tem uma grande dívida com os atingidos por barragens e que essa dívida tem de ser paga. Quero ver onde já pagou. E disse que o projeto só sairia se fosse do agrado de todos. Isso é impossível. Tudo o que ele falou foi simplesmente para agradar ao bispo, e pronto. Fiquei muito magoado.
Dom Erwin – Estive com o presidente Lula duas vezes, em 2009. Do que o Lula me prometeu, nada foi cumprido. Ele prometeu que não empurraria o projeto goela abaixo, que haveria diálogo. Não houve. Disse que não repetiríamos o monumento à insanidade que era Balbina, que o Brasil tem uma grande dívida com os atingidos por barragens e que essa dívida tem de ser paga. Quero ver onde já pagou. E disse que o projeto só sairia se fosse do agrado de todos. Isso é impossível. Tudo o que ele falou foi simplesmente para agradar ao bispo, e pronto. Fiquei muito magoado.
ÉPOCA – E com a presidente Dilma?
Dom Erwin – Com a presidente Dilma, você tem de fazer uma pauta com assuntos relacionados à conversa. Se um desses pontos for Belo Monte, mandam cortar. Não tem conversa sobre esse assunto. Quase tive uma audiência com o ministro Gilberto Carvalho. Quinze dias antes da audiência, ele já disse que Belo Monte era irreversível. Então me neguei a ir. Se, de antemão, ele já tem posição firme e diz que não tem conversa, não vou lá bater foto e dizer que o bispo visita e que o governo dialoga, quando não faz isso.
Dom Erwin – Com a presidente Dilma, você tem de fazer uma pauta com assuntos relacionados à conversa. Se um desses pontos for Belo Monte, mandam cortar. Não tem conversa sobre esse assunto. Quase tive uma audiência com o ministro Gilberto Carvalho. Quinze dias antes da audiência, ele já disse que Belo Monte era irreversível. Então me neguei a ir. Se, de antemão, ele já tem posição firme e diz que não tem conversa, não vou lá bater foto e dizer que o bispo visita e que o governo dialoga, quando não faz isso.
Porque o Brasil é pobre
http://vespeiro.com/2014/07/03/porque-o-brasil-e-pobre/
3 de julho de 2014
A Rodovia Regis Bittencourt que vai de São Paulo até a divisa entre Paraná e Santa Catarina, com 496 quilometros, é a única ligação entre o Brasil e o Mercosul, “bloco” de economias ao qual o PT restringiu quase todo o comércio internacional que restou ao país.
É portanto uma das principais “turbinas” da economia brasileira.
A obra de duplicação da antiga “BR-2” construída por ordem de Juscelino Kubitschek inclui, somente nos 32 quilômetros da Serra do Cafezal, no Sul de São Paulo, 16 viadutos de grande extensão e quatro túneis erguidos ou cavados sobre o terreno altamente instável e a topografia fortemente acidentada da Serra do Mar de que ela é parte, com estruturas ainda mais complicadas pelas intrincadas exigências ambientais impostas aos construtores. Esse trecho vai custar um pouco menos de 1 bilhão de reais aos concessionários privados a que foi entregue contra a exploração dos pedágios por 25 anos.
Embora ela seja a única ligação existente entre quatro dos Estados mais ricos do país e entre estes e a Argentina e o Uruguai, essa obra teve de esperar 54 anos para sair do papel desde a inauguração da precária via de mão única que ela era em 1961 quando Juscelino a inaugurou e continuou sendo até “ontem”.
A arena Mané Garrincha, de Brasília, orçada em 745 milhões e construída sobre um terreninho plano de dimensões modestas se comparada a essa obra, acabou “custando” R$ 1,4 bilhão, quase uma vez e meia a duplicação desse trecho da Regis Bittencourt, aí incluídas todas as suas monumentais “obras de arte”. O Itaquerão, orçado em 820 milhões, saiu por 1,2 bilhão. As 12 arenas feitas ou reformadas para a Copa, orçadas em 5,97 bilhões, “custaram” 8,48 bilhões até onde se sabe até o momento. E isso é só um pedacinho do que se gastou nessa festa com que o PT quer fazer o país esquecer o que mais ele é.
Mas se o PT é indisputavel em matéria de “multiplicação” dos custos de todo e qualquer “peixe” que lhe caia na rede das obras do PAC, “filho” da Dilma, a ordem das prioridades não mudou grande coisa no Brasil deles e no dos anteriores.
Até 11 anos depois que o estádio do Maracanã foi inaugurado na “Brasília” de 1950 que era o Rio de Janeiro, a ligação entre São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul ainda tinha de ser feita “de jegue” ou no tipo de veículo da época que fosse capaz de atravessar em “estrada de chão” as serras encharcadas e cobertas de Mata Atlância que estão espalhadas por todo esse percurso.
O que prova que por aqui sempre se fez a festa antes de dar ao povo a condição de ganhar o pão.
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