Um lar grego esculpido na pedra em Mykonos
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A primeira visita da escultora e designer Deborah French a Mykonos, uma das ilhas gregas, foi em 1978. Desde então ela se se tornou uma entusiasta da arquitetura tradicional local. Dois anos depois, Deborah se casou com Vangelis Tsangaris, um ateniense que passou inúmeros verões na infância naquelas ilhas. A decisão de ter um canto próprio em Mykonos foi natural. Assim, entraram em contato com um proprietário de terras da região para angariar para si alguns metros quadrados. Mas qual não foi a surpresa do fazendeiro ao descobrir que o casal queria comprar um espaço no topo dos rochedos.
‘A rocha? Você quer comprar a rocha?’, foi o que ele disse quando Tsangaris apontou para o alto e perguntou o preço do terreno. A compra foi uma pechincha, afinal, se nada poderia ser cultivado ali, porque cobrar caro? – assim pensou o fazendeiro. O próximo passo era gerar o projeto da casa. O casal estava determinado a construir um lar calcado nas tradições locais e, para isso, entraram em contato com os ”Lolos”, os construtores capazes de perpetuar os mais antigos traços das residências de Mykonos. Para que a planta fosse produzida, tornando possível a legalização da obra, chamaram também um arquiteto.
A participação do arquiteto na realização do sonho de Deborah e Tsangaris foi desastrosa e eles logo o dispensaram. Suas ideias eram demais modernas e ortogonais. Deborah concluiu, “vamos esculpir nossa casa na rocha, ou seja, trata-se apenas de uma grande escultura, posso fazer isso sozinha”. A morada faria parte da montanha. A designer começou a criar seu lar em argila, através de um modelo reduzido. Nele ela esculpiu cada porta, janela, nicho e escada que a versão em tamanho natural deveria ter. Os habitantes da ilha consideravam o casal mais atormentado que os “Lolos” (que significa, literalmente, “loucos” em grego).
Conforme a casa ganhava seus contornos, as pessoas mudavam de opinião. “Lembra-me da casa dos meus avós”, costumavam dizer os visitantes. No entanto, houve sim um toque de inovação: o exterior. Deborah decidiu renegar a alvura típica das casas da região em nome da melhor integração de seu lar com a montanha. Foi preciso conseguir um alvará para executar tal alteração. Mas a decisão foi tão acertada que três anos depois, surgiu uma nova lei que exigia que as novas construções executadas nos pontos altos da ilha tivessem acabamento de pedra ou de cimento com tonalidade próxima à do entorno.
No fim, a casa de Deborah e Tsangaris foi finalizada sem nunca terem sido feitos desenhos técnicos. O resultado foi fruto das demandas da rocha e do gênio dos “Lolos” – nem sempre tão fáceis de lidar. A morada tem muitos degraus e passagens estreitas, além de superfícies irregulares. Para a sustentação, foram adicionadas toras de madeira como vigas. No piso há madeira náutica, cerâmica e concreto. O objetivo, de evocar o espírito grego antigo, foi alcançado com sucesso. E se não bastasse a bela arquitetura como recompensa à audácia do casal de sonhadores, o lar ainda oferece-lhes uma vista privilegiada.