domingo, 19 de julho de 2015

Poesia da Noite - AR DE NOTURNO - GARCIA LORCA




by Marjorie Salu
AR DE NOTURNO
Tenho muito medo
das folhas mortas,
medo dos prados
cheios de orvalho.
eu vou dormir;
se não me despertas,
deixarei a teu lado meu coração frio.
O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!
Pus em ti colares
com gemas de aurora.
Por que me abandonas
neste caminho?
Se vais muito longe,
meu pássaro chora
e a verde vinha
não dará seu vinho.
O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!
Nunca saberás,
esfinge de neve,
o muito que eu
haveria de te querer
essas madrugadas
quando chove
e no ramo seco
se desfaz o ninho.
O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!
FONTE - http://mirandasa.com.br/?p=59511

ACREDITEM SE PUDEREM


Old Man
Old Man

Old Man


A nossa presidente, quando está calada torna-se sábia; mas quando fala é um despautério!
Algumas frases impagáveis da presidente. Para ser arquivado. Valerá para vossos filhos e netos. Que nota ele receberia na redação do Enem? Estão em ordem decrescente. Mas primeiro vejam o jornalista Claudio Lessa, de Brasilia, em cima do salto…


18º lugar. – “Eu sempre escuto os prefeitos. Por que é que eu escuto os prefeitos? Porque é lá que está a população do país, ninguém mora na União, ninguém mora… “Onde você mora?” “Ah, eu moro no Federal”.
17º lugar. – “A única área que eu acho, que vai exigir muita atenção nossa, e aí eu já aventei a hipótese de até criar um ministério, é na área de… Na área… Eu diria assim, como uma espécie de analogia com o que acontece na área agrícola.”
16º lugar. – “A mulher abre o negócio, tem seus filhos, cria os filhos e se sustenta, tudo isso abrindo o negócio.”
15º lugar. – “A Zona Franca de Manaus, ela está numa região. Ela é o centro dela porque ela é a capital da Amazônia.”

14º lugar. – “Vamos dar prioridade a segregar a via de transporte. Segregar via de transportes significa o seguinte: ou você faz metrô, porque o metrô… porque o metrô, segregar é o seguinte, não pode ninguém cruzar rua, ninguém pode cruzar a rua, não pode ter sinal de trânsito, é essa a ideia do metrô. Ele vai por baixo, ou ele vai pela superfície, que é o VLT, que é um veículo leve sobre trilho. Ele vai por cima, ele para de estação em estação, não tem travessia e não tem sinal de trânsito, essa é a ideia do sistema de trilho.”
13º lugar. – “Tudo o que as pessoas que estão pleiteando a Presidência da República querem é ser presidente.”
12º lugar. – “Eu vi. Você veja… Eu já vi, parei de ver. Voltei a ver e acho que o Neymar e o Ganso têm essa capacidade de fazer a gente olhar.”
11º lugar …. “Eu quero adentrar pela questão da inflação, e dizer a vocês que a inflação foi uma conquista desses 10 últimos anos do governo do presidente Lula e do meu governo.”
10º lugar. – “Eu também vou falar… Eu vou falar pouco. Vou explicar por quê: todo mundo, antes de mim, disse que ia falar pouco, não é? E aí, tinha uma senhora ali, na frente, que falou o que todos nós estamos sentindo. Ela disse assim: “Eu estou com fome”. E eu vou levar em consideração ela, que falou uma coisa que todo mundo está pensando, mas não está falando.”
9º lugar. – “A autossuficiência do Brasil sempre foi insuficiente.”
8º lugar. – “Em Portugal, o desemprego beira 20%. Ou seja, 1 em cada 4 portugueses estão desempregados.”
7º lugar. – “Primeiro, eu queria te dizer que eu tenho muito respeito pelo ET de Varginha. E eu sei que aqui, quem não viu conhece alguém que viu, ou tem alguém na família que viu, mas de qualquer jeito eu começo dizendo que esse respeito pelo ET de Varginha está garantido.”
6º lugar. – “Em Vidas Secas está retratado todo problema da miséria, da pobreza, da saída das pessoas do Nordeste para o Brasil.”
5º lugar. – “O meio ambiente é sem dúvida nenhuma uma ameaça ao desenvolvimento sustentável.”
4º lugar. – “Eu quero, então, voltar aonde eu comecei. Eu vou falar agora que aqui tem 37 municípios. Eu vou ler os nomes dos municípios, porque eu acho importante que cada um de vocês possam (sic) se identificar aqui dentro e, por isso… Eu ia ler os nomes, não vou mais. Por que não vou mais? Eu não estou achando os nomes. Logo, não posso lê-los.”
3º lugar. – “Eu ontem disse pro presidente Obama que era claro que ele sabia que depois que a pasta de dente sai do dentifrício ela dificilmente volta pra dentro do dentifrício. Então que a gente tinha de levar isso em conta. E ele me disse, me respondeu que ele faria todo esforço político para que essa pasta de dente pelo menos não ficasse solta por aí e voltasse uma parte pra dentro do dentifrício.”
2º lugar. – “Eu estou muito feliz de estar aqui em Bauru. O prefeito me disse que eu sou, entre os presidentes, nos últimos tempos, uma das presidentes, ou presidentes, que esteve aqui em Bauru.”
E o 1º lugar. – “Se hoje é o dia das crianças, ontem eu disse que criança… O dia da criança é dia da mãe, do pai e das professoras, mas também é o dia dos animais, sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta, que é um cachorro atrás.”


FONTE - https://prosaepolitica.wordpress.com/2015/07/19/acreditem-se-puderem/

PRA SAIR DESSA MARÉ - FERNANDO GABEIRA


Fernando Gabeira
Fernando Gabeira

PUBLICADO EM 17.07.2015

A BR-020 é uma estrada radial de longas retas que liga Brasília ao Piauí. Aproveitei o percurso para refletir sobre o rumo dos meus artigos. Vale a pena insistir nos erros de Dilma e do PT, ambos no volume morto? A maioria do povo brasileiro já tem uma visão sobre o tema.

Num hotel do oeste baiano, abri uma revista na mochila e me deparei com uma frase do escritor argelino Kamel Daoud: “Se já não há vida antes da morte, por que se preocupar com a vida após a morte?”. Ele se referia à sorte do septuagenário presidente argelino Abdelaziz Bouteflika, internado num hospital de Paris. Mas sua frase é uma pista para buscar outro rumo.

Visitei a cidade de Luís Eduardo Magalhães (BA), um polo do agronegócio. Ali se tornaram campeões mundiais da produtividade nas culturas do milho e da soja. Construíram um aeroporto com uma pista de 2 mil metros, quase o dobro da pista do Aeroporto Santos Dumont. Numa só fazenda, vi uma lagoa artificial maior que a Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. O número de habitantes ali cresceu 300% em 15 anos. Tudo marchou num progresso acelerado, em níveis chineses – pelo menos os do passado recente. Mas a crise começa a afetar até mesmo essas áreas do agronegócio, que exporta e se favorece com o preço do dólar. Somos todos interligados.

A região depende de um Estado e de um governo federal mergulhados numa grave crise. Mesmo para os que estão bem situados há um desejo de achar o caminho do desenvolvimento, sair dessa maré.

É possível que alguma forma de unidade nacional possa ser alcançada pelos que querem superar a crise. E o ajuste na economia deve ser a base de seu programa. Quando forma de unidade nacional, deixo de fora aqueles que ainda creem que um ajuste seja o caminho errado. Gostaria de incluir aqueles que acham o ajuste um caminho certo, mas agem no Parlamento como se não houvesse amanhã: gastos e mais gastos.

O fator Grécia continua perturbando os que romanticamente acham possível desafiar as leis do capitalismo: aqui se faz, aqui se paga. Admiradores de Cuba e Venezuela se voltam, agora, para a Grécia democrática, sem perceber que estão apenas trocando de fracasso econômico.

A realidade impôs à esquerda grega uma tarefa mais árdua do que seus antecessores. O governo teve de passar no Congresso um projeto mais draconiano do que a direita tentou, sem êxito,aprovar. O plebiscito disse não, o próprio governo de Alexis Tsipras disse não e, no entanto, o acordo com a Europa diz sim às condições dos credores.

O que o exemplo mostra também é que, às vezes, saídas românticas podem conduzir a um processo de humilhação nacional. No caso grego, creio, houve uma diferença de tom entre a França latina e a Alemanha. Os franceses acham que os alemães têm um enfoque vingativo. William Waack, que foi correspondente na Alemanha, lembra do fator cultural. Num país de formação calvinista, a palavra dívida é a mesma de culpa: Schuld.

Não creio que as coisas sejam as mesmas entre países tão diferentes como a Grécia e o Brasil. Mas um colapso econômico, com bancos fechados, é sempre uma lição.

Não existe necessariamente uma catástrofe no horizonte brasileiro. Mas seria bom que houvesse uma discussão sobre as premissas para sair da crise e algum compromisso com elas.

A oposição tem seus objetivos eleitorais. Precisa combater o PT. Mas o combate erradamente, quando usa os mesmos métodos do adversário, falando uma coisa, fazendo outra. Buscar uma saída estratégica não jogaria a oposição no volume morto. Muitas pessoas que encontro pelo País estão ansiosas não pela solução imediata da crise, mas por um sentimento de que o barco anda no rumo certo. O grande motor seria a política. A crise econômica depende do impulso favorável do processo político.

Hoje, o quadro é caótico. Dilma, escorregando na rede, na Itália, ilustrou sua própria situação. Meio à Guimarães Rosa, ela disse: “Quando você está lá em cima, você inclina para um lado e, imediatamente, para o outro, você fica balançando mesmo, você consegue se equilibrar. Eu não caí, mas para não cair é preciso ser ajudada”. Quem ajudará Dilma a não cair? Por que ajudá-la a não cair? Em respeito aos seus eleitores? Mas eles já a rejeitam há algum tempo.

Há três frentes acossando o Planalto: TCU, TSE e Operação Lava Jato. Isso tem uma certa autonomia, não depende de ajuda. Dilma se encontrou com Lewandowski em Portugal. Supremo e Planalto se encontram, discretamente, em Porto. Não vou especular sobre o que disseram. Lembrarei apenas que se encontraram em Porto no auge da crise.

Mesmo neste caos, é preciso encontrar saídas. Na política, ela passa pela punição dos culpados de corrupção e campanhas pagas por ela. Simultaneamente, precisava surgir algo no Parlamento e na sociedade, um desejo real de superar a crise, uma unidade nessa direção. No momento, estamos saudando a mandioca e vivendo num parlamentarismo do crioulo doido.

Se estivéssemos vendo o Brasil de uma galáxia distante, até nos divertiríamos. Mas eles estão entre nós.

É preciso pensar o pós-Dilma. Ela fala muito em queda, parece preocupada com isso. Não deve doer tanto. Collor caiu e reaparece – como coadjuvante, é verdade – no maior escândalo do século. E muito mais rico: do Fiat Elba ao Lamborghini.

É preciso, pelo menos, pensar o País sem Dilma, deixá-la balançar na etérea sala do palácio, criar uma unidade em torno de um ajuste possível, recuperar o mínimo de credibilidade no sistema político.

Nas eleições, os políticos gostam da imagem de salvador. Isso não existe. Mas, no momento, ao menos poderiam dar uma forcinha criando um pequeno núcleo suprapartidário  buscando uma saída, apontando para o futuro. Seria ignorado? Por que não experimentar? Um dos piores efeitos da crise são o desânimo e a paralisia. Por onde ando, vejo um compasso de espera. A maioria sabe que uma pessoa que mal se equilibra não consegue liderar o Brasil durante a tempestade. É preciso extrair as consequências dessa incômoda constatação.


Artigo publicado no Estadão em 17/07/2015

CHARGE DO SPON - Podres Poderes


A Coluna de Carlos Brickmann



O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, está correto ao anunciar investigações sobre o BNDES e os Fundos de Pensão: se há dúvidas sobre seu funcionamento, é papel do Congresso investigá-las. Pena que Cunha não faça isso por convicção, mas para vingar-se do Governo, que tentou barrar-lhe a eleição para a Presidência da Câmara, e a quem acusa de insuflar a Procuradoria Geral da República a pedir investigações contra ele. É ótimo que a Procuradoria investigue tanto Cunha quanto o presidente do Senado, Renan Calheiros; pena que, para a Presidência, isso funcione para tentar moderar a oposição de ambos ao Governo.
Deixemos claro, impeachment é medida prevista na legislação. Por mais transtornos que cause, é lei, não é golpe. Mas vamos combinar que é preciso primeiro encontrar um fato que possa levar ao impeachment para depois invocá-lo. Decidir primeiro o impeachment e depois procurar o fato gerador é um erro.
Cabe ao Senado aprovar ou rejeitar o procurador-geral indicado pela presidente. Mas não cabe ao Senado ameaçar Janot de rejeição para vingar-se das investigações contra Renan Calheiros e das ações contra senadores do início da semana.

É verdade, também, que o espetáculo para a TV da apreensão dos carros de Collor não era necessário para as investigações. Se bem que, como disse o jornalista Sandro Vaia, “se Collor repudia com veemência, coisa ruim não deve ser”.
Deus, reza o provérbio, escreve certo por linhas tortas. Escrever errado por linhas certas não é coisa de Deus, mas de seu grande inimigo.

É triste, sim
Para boa parte dos políticos brasileiros, e para tristeza de boa parte dos cidadãos, aqui até as coisas boas são feitas por motivos errados.

Lula lá
A abertura oficial de investigações sobre o ex-presidente Lula, pela Procuradoria da República no Distrito Federal, abre nova temporada de acirramento da crise: independentemente do que dizem as leis, Lula é intocável para grande número de pessoas. Mais do que líder político, é um ídolo a ser defendido a qualquer custo. As forças petistas podem ter-se descuidado na defesa de José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, João Vaccari Neto e outros expoentes do partido, mas certamente estarão unidas em defesa de seu líder maior.
É a hora do “mexeu com ele, mexeu comigo”. Mesmo que Rodrigo Janot seja o mais votado na lista tríplice do Ministério Público para procurador-geral, Dilma será pressionadíssima para não reconduzi-lo ao cargo; e é até provável que os senadores petistas se unam à bancada pró-Renan para, caso Janot seja indicado, vetá-lo.
O que se investiga é a possibilidade de que Lula tenha feito tráfico de influência para beneficiar a Odebrecht, o que incluiria acesso mais desburocratizado a recursos oficiais, em seus negócios com Governos estrangeiros.

Quem fica na lojinha?
Dilma e Temer foram citados em delações premiadas sobre dinheiro sujo em campanha, o que pode gerar a anulação da chapa inteira, presidente e vice. Renan e Eduardo Cunha, presidentes das duas casas do Congresso, estão sendo investigados (Renan por corrupção passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro) – e ambos estão em rota de colisão com o Governo e a Procuradoria Geral da República, pelas investigações contra eles e pelas ações contra senadores e deputados. O principal líder petista entra na lista dos investigados. As campanhas de Aécio, presidente nacional do PSDB, e do senador Aloysio Nunes, seu vice na chapa, foram citadas em delação premiada como receptoras de recursos ilegais.
Com grande parte dos dirigentes em dificuldades, quem é que está tomando conta da lojinha?

Pertinho, pertinho
Agosto começa dentro de pouco menos de duas semanas. A tradição de agosto na política brasileira é temida: no dia 22 (1976), o ex-presidente Juscelino Kubitschek morreu num acidente de carro na estrada; no dia 24 (1954), o presidente Getúlio Vargas se suicidou com um tiro no peito, no Palácio do Catete, Rio; no dia 25 (1961), o presidente Jânio Quadros renunciou ao cargo.

Quando setembro chegar
Está marcado para o início de setembro o programa nacional de rádio e TV do PMDB. Renan, Temer e Eduardo Cunha devem ancorar a propaganda do partido, que se apresentará à população como garantia de estabilidade moral.

Imposto na veia
Por falar em estabilidade, Governo e Oposição parecem ter a mesma opinião sobre o papel do eleitor: é o de pagar as contas, e sem reclamar. Em São Paulo, a fortaleza tucana, o governador Geraldo Alckmin, além de reduzir uma devolução de impostos implantada por seu antecessor, o também tucano José Serra, ainda a adiou por seis meses. Devolve menos, mais tarde. Ao identificar-se pelo CPF, na Nota Fiscal Paulista, o contribuinte tinha direito à restituição de 30% do ICMS pago na compra (para o Governo, é ótimo: o próprio comprador exige a nota).
Alckmin reduziu a restituição para 20%, a ser paga não em outubro, conforme a praxe, mas em abril de 2016. E diz que o dinheiro será usado na Saúde. Então, tá.

"O strip-tease da República", por Ruy Babiano


Posted: 18 Jul 2015 04:41 PM PDT
Com Blog do Noblat - O Globo


O encontro secreto entre Dilma e Ricardo Lewandowski, para discutir a operação Lava-Jato e o impeachment foi, por exemplo, promiscuidade institucional pura

A crise política agrava-se e transcende as que a precederam. Não há paralelo possível entre a queda de Collor ou o Mensalão e o que se passa agora. Há uma crise de credibilidade nas instituições, que dificulta a construção de uma saída pacífica ou previsível.
Nenhum dos poderes está sendo poupado na guerra institucional que está sendo travada. Nenhum escapa à decepção popular. Na raiz do problema, está a promiscuidade que marca as relações entre eles. A Constituição fala em poderes independentes e harmônicos, mas harmonia não é promiscuidade.
O encontro secreto, em Portugal, entre a presidente Dilma e o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, para discutir a operação Lava-Jato e o impeachment – temas que chegarão àquela corte –, foi, por exemplo, promiscuidade institucional pura.
Maculou sobretudo o Judiciário, sobre o qual recai, ainda por cima, a desconfiança da opinião pública quanto à isenção de alguns ministros com recente passado partidário.
O Executivo, cuja titular será alvo de processo de impeachment, já confirmado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o elenco de acusados e suspeitos começa no seu entorno: seu chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e seu ministro da Comunicação Social (e ex-tesoureiro de campanha), Edinho Silva, foram citados na delação de Ricardo Pessoa, na Lava-Jato.
No Congresso, o mais aberto dos poderes, a bagunça (para dizer o mínimo) é geral. Não bastasse haver ali 29 partidos – a maioria representando coisa nenhuma -, nenhum se apresenta de maneira unívoca quanto ao que acontece.
Os presidentes da Câmara e Senado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, têm em comum o incômodo da Lava-Jato, que os transfigurou em oposicionistas, depois de mais de uma década como aliados incontestes do petismo.
O PSDB, maior partido de oposição – ou por outra, o segundo maior, já que o PMDB deve migrar para a mesma trincheira – diverge internamente quanto ao desfecho da crise.
Aécio Neves sonha com a cassação da chapa Dilma-Temer, o que provocaria novas eleições, em que as pesquisas o mostram como franco favorito. Já o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também postulante à presidência, quer manter Dilma sangrando até 2018, período de que carece para firmar sua candidatura presidencial em âmbito nacional.
O PMDB, que, independentemente de crises, é um saco de gatos, também tem sonho duplo: ou o impeachment de Dilma, que lhe daria o comando do país, com Michel Temer, ou o parlamentarismo, segundo propõe Eduardo Cunha.
O problema do parlamentarismo, um sistema efetivamente mais funcional, é a credibilidade do presente Parlamento, que as pesquisas, em que algumas dezenas de integrantes andam às voltas com o Código Penal.
O Tribunal de Contas da União (TCU), órgão de apoio ao Legislativo – e que irá julgar as contas do governo Dilma em agosto -, teve sua credibilidade abalada pela denúncia de tráfico de influência do filho de seu presidente, Aroldo Cedraz, acusado por Ricardo Pessoa de fornecer informações reservadas sobre processos que lá tramitam. Acusação séria e documentada. Questionam-se (expressão moderada) suas condições de continuar onde está.
Não há, em suma, um projeto para o país, mas tão somente para cada qual dos protagonistas, que não percebem – ou pelo menos parece – que esta crise, diferentemente das outras, tem povo, que promete voltar às ruas no dia 16 de agosto e já se manifesta com veemência nas redes sociais.
Nenhuma das propostas até aqui conhecidas tem consenso – e nenhuma é indolor. Qualquer delas provocará reações das facções derrotadas, não se devendo subestimar a tropa de choque do PT, que perdeu popularidade, mas não organicidade.
O “exército do Stédile” promete entrar em cena e a militância já convoca os black blocs, assumindo, num ato falho (ou de desespero) sua paternidade, antes negada.
Supondo que, em vez de impeachment, haja a cassação da chapa eleitoral, alvo das denúncias da Lava-Jato, a linha sucessória está contaminada: Eduardo Cunha e Renan Calheiros podem até já não estar ocupando as respectivas cadeiras naquela ocasião.
Para complicar, já se anunciam as CPIs do BNDES, da Eletrobras e dos fundos de pensão. Nada menos. Sabe-se que irão mexer em vespeiros assemelhados aos da Petrobras, com os mesmos métodos e personagens em ação.
Como pano de fundo, a crise econômica, que se retroalimenta da crise política e não dá sinais de melhora.
Bandeira do Brasil rasgada (Foto: Arquivo Google)