domingo, 12 de janeiro de 2014

Papuda: mensaleiros do PT têm privilégios e tratam demais presos "como lixo".


Os condenados no julgamento do mensalão que estão presos há quase dois meses no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, comem melhor e não se misturam com os demais apenados, tomam banho de sol o dia inteiro e são mais bem tratados pelos carcereiros. Essa é a versão que corre na cadeia entre os detentos, que apelidaram os colegas ilustres de "petistas", apesar de apenas dois dos oito condenados do esquema que estão na Papuda serem do PT.

Os comentários que correm de boca em boca foram relatados à Folha por um apenado que obteve liberdade condicional na semana passada e que pede anonimato. Segundo a direção da Papuda, a situação não é assim. O presídio diz que as quentinhas servidas às 11h30 e às 17h são todas iguais, com arroz, feijão, salada e carne. Mas os presos do mensalão, de fato, têm rotina diferenciada, com o objetivo de evitar contato com os demais --por razões de segurança.

Presos na mesma cela do CIR (Centro Integrado de Reabilitação), de regime semiaberto, o ex-ministro José Dirceu, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do PL (hoje PR) Jacinto Lamas e os ex-deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Carlos Rodrigues (PR-RJ) estão em ala destinada a ex-policiais.

Já os presos do regime fechado, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza e seus ex-sócios Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, estão em celas individuais. Valério fica no pavilhão de segurança máxima, chamado de "seguro", onde ficam estupradores e presos cujo contato com os demais pode ser perigoso.

O dia na Papuda começa às 6h, quando todos devem estar de pé para o "confere", quando carcereiros verificam as condições dos presos. Às 7h, o café da manhã --pão com manteiga e café com leite-- é servido na cela. Dirceu e os companheiros complementam a refeição com frutas, biscoitos e sucos comprados na cantina. Semanalmente, familiares podem levar até R$ 125 aos presos.

Às 9h, começa o banho de sol, mas o horário varia para cada ala. Nesse ponto, a rotina dos "petistas" é diferente da dos 12 mil presos da Papuda --1.600 deles no CIR. Os condenados do mensalão esperam um dos sete pátios do CIR vagar para ter o banho de sol exclusivo. Todos usam o uniforme da cadeia, com roupas brancas.

O contato com os outros presos é raro. A mulher de um deles relatou à Folha que seu marido, que trabalha como eletricista dentro da Papuda, uma vez foi à cela de Dirceu e tentou puxar assunto, mas não foi correspondido. "Eles acham que a gente é lixo", disse o preso recém-solto, que afirma só tê-los visto nas poucas vezes que passou em frente à cela deles.

Enquanto aguardam decisão da Justiça sobre pedido para trabalhar fora do presídio, passam o tempo lendo. Os condenados que estão no CIR também têm uma TV dentro da cela, regalia geralmente concedida só aos detentos que trabalham. Eles costumam assistir e comentar o noticiário. O aparelho é desligado às 22h --exceção ocorreu no Réveillon, quando passaram da meia-noite.

Dirceu e Delúbio começaram um curso à distância de direito constitucional e estudam juntos entre o almoço e o jantar. No regime fechado, os condenados do mensalão levam uma vida mais árdua. Valério não tem TV e vê sua luz ser apagada às 21h. Já Paz se queixa de eventualmente ficar sem banho de sol.(Folha de São Paulo)

A VIOLÊNCIA “SEM REGRAS” DO UFC: SAUDADES DE MIKE TYSON


Via Opera Mundi -

Embora tenha regras, espírito que prevalece no MMA ainda é o do "vale tudo", onde o que prevalece é a lei do mais forte.

A grave contusão de Anderson Silva e o interesse generalizado pelo destino do ex-campeão expõe, mais uma vez, a popularidade dessa luta incrivelmente aceita que é o UFC, o Ultimate Fight Championship – a grande competição mundial de artes marciais mistas, ou MMA.

As disputas de MMA surgiram nos anos 1990, e substituíram em prestígio, especialmente entre o público masculino, o boxe. Embora essas lutas tenham, conforme passaram a se tornar atração televisiva (especialmente no Pay Per View), adotado algumas restrições – proibiu-se o “dedo no olho”, o puxão de cabelos e o ataque a genitais, por exemplo -, o esporte foi criado e prosperou como negócio sob o slogan “There are no rules!”, ou seja, nada de regras.

A proposta inicial era criar uma espécie de competição entre as diversas artes marciais, sem diferenciação de peso (isso foi mudado depois das primeiras edições do UFC), para que os “especialistas” nas modalidades – boxe, kung fu, karatê, kickboxing, jiu-jítsu – se enfrentassem e se chegasse à conclusão de qual seria a mais completa e eficaz arte marcial.

Como na economia neoliberal e na natureza darwinista em sua simplificação mais improdutiva, a lógica era “que vença o mais apto” (Darwin pensa nos limites naturais como um fator de diversificação, a seleção que em geral estimula a diferença e, ao cabo, a convivência, e não a destruição de todos pelo mais forte). Mas o que aconteceu de fato nesse ambiente da luta sem regras pela sobrevivência no octógono?

O MMA não levou ao aprimoramento das artes marciais. Pelo contrário: as artes marciais se dissolveram em um grande vale-tudo. Quando é preciso ter uma regra que iniba o puxão de cabelos e o “dedo-no-olho”, é porque na prática tudo é permitido.

Nesse ambiente, a lesão de Anderson Silva não é um mero acidente, é consequência lógica de um tipo de luta que não tem muito pouco de arte e um excesso de guerra. Não se sabe ainda como não passou pela cabeça dos organizadores a ideia genial de por um homem para lutar com um felino de grande porte. Que vença o melhor, afinal.

Há algo de infantilmente belo em todas as lutas marciais. A ideia de treino, de dedicação, de perfeição pela repetição é algo de fato admirável. É essa beleza que explica sucessos como a série Karatê Kid e que inspira a filosofia que está por trás, por exemplo, do karatê e do judô.

Mas toda essa beleza convive com a ideia do grotesco, especialmente quando o respeito ao saber e ao conhecimento do adversário sucumbe diante da ideia de que o melhor espetáculo não é o do movimento perfeito, mas o da violência absoluta. Aquela que não apenas dá cabo ao adversário, mas que o destrói e o desfigura.

Nunca fui um fã de boxe, mas confesso que, ao abrir os portais de internet neste ano da graça de 2013 que não acaba, fiquei com saudades daquele bom moço chamado Mike Tyson. Para não falar de Mohammed Ali, Sugar Ray Leonard, George Foreman e Éder Jofre.

 * Texto de Haroldo Ceravolo Sereza

ERUNDINA DIZ QUE SISTEMA POLÍTICO ESTÁ EXAURIDO


Marina Silva
Folha
A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) diz que não existe ‘coerência política’ nas alianças regionais que seu partido tem fechado para fortalecer a pré-candidatura do governador Eduardo Campos à Presidência.
Na semana passada, o PSDB de Pernambuco aderiu ao governo de Campos. Erundina critica a natureza das decisões e afirma que elas não passaram pela Executiva Nacional do PSB. Apesar das ressalvas, ela diz que Campos ‘tem o desejo de fazer as coisas de maneira diferente’.
Em que medida a entrada do PSDB no governo de Eduardo Campos altera o acordo entre PSB e Rede?
Cada caso é fruto do sistema político exaurido, esgotado em responder às demandas da sociedade. Mantemos regras, normas e sistemas partidários e eleitorais defasados, sem identidade, e isso explica esse caos que existe nas políticas de alianças locais. A certeza que tenho é que não há coerência política a ponto de se conseguir dar unidade a alianças que podem ser reproduzidas no resto do país.
PSDB e PSB acordaram possíveis alianças em Pernambuco, Minas Gerais, Paraíba, Rio Grande do Sul e São Paulo. Qual é o limite para esses acordos acontecerem?
Isso já está dado. O processo já andou tanto, as conversas já se deram com tanta frequência e não passaram pelas direções partidárias. Marina Silva insiste em encaminhar as coisas de outra forma, mas é uma tentativa muito recente. A junção entre PSB e Rede é salutar, é a construção coletiva de um processo novo e vamos acumular para, se não for nessa eleição, introduzir algo novo num futuro que espero ser próximo.
O presidente estadual do PSB-SP, Márcio França, articula há meses um acordo para ser vice na chapa de Geraldo Alckmin. Mas interlocutores dizem que Marina e Campos conversaram e que essa possibilidade agora ‘tende a zero’.
A partir da aliança PSB-Rede esse quadro se encontra mais complicado.
É mais importante o PSB ter um candidato próprio ou se aliar ao PSDB de Alckmin?
Defendo candidatura própria junto com a Rede para construir uma nova força política e quebrar a polarização PT-PSDB, que é artificial, já que os dois partidos têm muita identidade do ponto de vista de alianças e propostas políticas. Precisamos introduzir novos elementos para renovar a política brasileira. Essa história de palanque duplo, palanque triplo, é um absurdo, é contribuir para esse quadro político caótico.

PENA DE MORTE À BRASILEIRA


Murilo Rocha
O sistema prisional brasileiro já adota há muito tempo a pena de morte. Todos os anos dezenas de detentos são executados em penitenciárias administradas pela União ou pelos governos estaduais. O retrato mais recente e evidente dessa barbárie é o complexo prisional de Pedrinhas, no Maranhão. Só em 2013, 60 presidiários foram mortos na unidade em rebeliões ou brigas entre facções criminosas.
As mortes violentas e a falta de poder dos governos para controlar esses locais – e torná-los centros de ressocialização – não são novidade no Brasil, mas, quase sempre, são ignoradas. Dessa vez, porém, foi impossível esconder essa realidade cruel ocorrida sob a tutela do poder público.
As cenas filmadas e divulgadas de presos decapitados e esfaqueados dentro do presídio de Pedrinhas são chocantes. Evidenciam um local destituído de qualquer humanidade, um amontoado de pessoas em condições miseráveis vivendo em um mundo paralelo, com leis próprias.
O pedido do Comissariado de Direitos Humanos da ONU para uma investigação “imediata e imparcial” soa como mera formalidade. Os presídios brasileiros transformaram-se em espécies de território do crime organizado, onde a polícia e qualquer outro braço do Estado não têm força (ou vontade) para intervir.
REINO DO CRIME
Como será possível investigar as mortes dentro da penitenciária, se não consegue-se evitar os crimes ordenados por detentos, mas realizados nas ruas – vide ônibus incendiados, postos policiais metralhados e assassinatos encomendados.
A crise no Maranhão é uma repetição de fatos já ocorridos em outros Estados do país, como em São Paulo, onde por determinação de presidiários policiais foram executados. São Paulo também foi palco do “Massacre do Carandiru”, quando, em uma ação policial para conter uma rebelião, 111 presos foram mortos.
OMISSÃO
A questão prisional é tratada com omissão pelo poder público porque também encontra respaldo em uma certa conivência da sociedade com o tratamento dado aos encarcerados. Acuada pela violência crescente, boa parte da população reage de forma simplista ao problema e não se incomoda tanto com essa crise interminável do sistema carcerário. Afinal de contas, “ali não tem santo”.
Diante dessa lógica de aceitar a existência de um mundo cruel, sem leis nem dignidade dentro das penitenciárias brasileiras seria melhor introduzir de forma oficial a pena de morte.
É desumano ser conivente com essa matança, com práticas bárbaras, como se fosse um problema distante ou sem solução. Os cerca de R$ 1 milhão a serem gastos pela governadora Roseana Sarney com lagosta, camarão, sorvete e salmão para abastecer sua residência oficial não resolveriam a mazela do complexo de Pedrinhas, mas teriam um emprego mais digno.(transcrito de O Tempo)

De olho na Copa, governo monitora preços

Danilo Fariello e Cristiane Bonfanti, O Globo

A 150 dias da Copa do Mundo, o governo federal redobrou o acompanhamento dos bens e serviços que serão oferecidos aos turistas.
Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff convocou os principais ministros relacionados ao tema para ouvir o que ainda falta resolver, e tarifas e preços ofertados foram um dos assuntos em questão. Agora, depois das passagens aéreas, também estão na mira do governo preços de setores não regulados, a começar pelos de hospedagem.
Ao GLOBO, a secretária Nacional do Consumidor, Juliana Pereira, disse que o governo fará um cruzamento dos valores cobrados pelas diárias em momentos de alta temporada no Brasil e, a partir disso, estabelecerá um parâmetro para definir se um preço é abusivo.
Se for, o governo mobilizará Procons estaduais e municipais e o seu próprio Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) para pressionar as empresas.
A primeira reunião com o setor hoteleiro será realizada no Rio de Janeiro, no próximo dia 16. No caso do Rio, os pontos de comparação serão o carnaval e o réveillon, quando, tradicionalmente, as tarifas chegam a dobrar. Em seguida, serão realizados encontros em Natal, Recife, Manaus e, mais para frente, nas outras capitais que sediarão os jogos da Copa.

                                      Foto: Camilla Maia


Telescópio da Nasa capta imagem apelidada de a ‘mão de Deus’


  • Explosão de estrela cria corpo celeste com formato inusitado e surpreende astrônomos


Corpo celeste com formato de mão foi apelidado de “mão de Deus” por astrônomos da Nasa
Foto: AP
Corpo celeste com formato de mão foi apelidado de “mão de Deus” por astrônomos da Nasa AP
HOUSTON - Uma imagem capturada pelo Telescópio Nuclear Espectroscópico (NuSTAR), da Nasa, uniu religião e astronomia. A nuvem de partículas e radiação formada após a explosão de uma estrela, localizada a 17 mil anos-luz de distância da Terra, criou no céu uma estrutura que quando vista em raios X é semelhante a uma mão, tendo sido assim apelidada de a “mão de Deus”. Em 2010, o telescópio espacial Chandra, também da Nasa, já havia observado a “mão de Deus” em raios X de mais baixa energia, que aparecem na imagem em verde e vermelho, e o NuSTAR acrescentou as porções de mais alta energia, em azul.

A imagem da “mão de Deus” mostra os resultados de uma supernova - nome dado às enormes e extremamente brilhantes explosões de estrelas com mais de 10 massas solares. O que fica para trás destas explosões é um corpo celeste chamado pulsar, que no caso da “mão” foi batizado de B1509 e gira em torno de seu eixo sete vezes por segundo, soprando um vento de partículas e radiação que empurra o material ejetado pelo colapso da estrela.
De acordo com a Nasa, um dos grandes mistérios do objeto é a interação específica das partículas e radiação emitidas pelo pulsar que criaram a aparência da mão. Mas os cientistas não têm certeza se o material ejetado realmente assumiu a forma de uma mão ou foi sua interação com as emissões do pulsar é que fez com que ele seja visto dessa maneira.
“Nós não sabemos se a forma de mão é uma ilusão de ótica”, afirmou Hongjun An, da Universidade McGill, em Montreal, em comunicado. “Com o NuSTAR, a mão se parece mais com um punho, que está nos dando algumas pistas”.
A “mão de Deus” é um exemplo de pareidolia, fenômeno psicológico que faz com que as pessoas percebam rostos e formas familiares em imagens aleatórias ou vagas. Outras exemplos comuns de pareidolia incluem ver animais e objetos em nuvens ou a sombra de um coelho na Lua.

Em Goiás, ‘módulos de respeito’ reduzem tensão


Leticia Fernandes, O Globo 
Revista humanizada, progressão de pena pela leitura e oferta de cursos profissionalizantes. Com a instalação desse tripé em alas de 20 dos 86 presídios, chamados de Módulos de Respeito, a Secretaria de Administração Penitenciária e Justiça de Goiás (Sapejus) vem conseguindo economizar dinheiro e reduzir a violência nas unidades prisionais do estado.
Para integrar o Módulo de Respeito, que começou a funcionar em 2009, é preciso que o detento tenha bom comportamento, trabalhe, estude, e cuide da limpeza e conservação da ala, que tem segurança mínima.
Em geral, apenas 10% dos presos de uma unidade são transferidos para os módulos. Se o preso quebrar a rotina, volta à cadeia “normal”.
Secretário da Sapejus, Edemundo Dias Filho, explica que o objetivo é preencher o espaço ocupado pelo crime:
— Se o Estado não fizer o papel social que tem que fazer, as facções criminosas vão fazer, e aí elas controlam o sistema, vira um pacto social num mundo à parte, o cárcere. A gente procura oferecer aos presos os serviços que o Estado tem obrigação de oferecer para que eles não se transformem em massa de manobra dos criminosos profissionais.
Mas nem tudo são flores. Em visita ao Módulo de Respeito da Penitenciária Coronel Odenir Guimarães, a maior do estado, o mutirão carcerário do CNJ destacou, em 2011, a discrepância da ala “com relação a todo o resto do estabelecimento”, além de criticar a falta “de critério objetivo para a inserção naquele local”, onde “havia presos com penas altíssimas a cumprir e custodiados havia bastante tempo, e detentos que haviam sido recapturados em data recente”. 

No Amazonas, maioria dos presos não foi julgada


Leticia Fernandes, O Globo
Além da superlotação e do alto número de rebeliões nos presídios — só em 2013, foram quatro, com a fuga de 176 presos —, o problema mais flagrante no Amazonas é a ausência de juízes e defensores públicos no interior.
Essa carência contribui para o índice considerado mais alarmante pelo Mutirão Carcerário realizado pelo CNJ no ano passado: os processos de presos provisórios (ainda não julgados) correspondem a 78%, um dos maiores índices do país.
Dentro da massa carcerária do estado, de 8.870 detentos (para 3.811 vagas disponíveis), o número de presos provisórios chega a 5.418.
O relatório alerta ainda para a infraestrutura precária da Vara de Execução Penal de Manaus, onde tramitam 9.434 processos, mas há só seis funcionários para movimentá-los.

Presídios brasileiros têm cotidiano de atrocidades e barbárie


Alessandra Duarte e Flávio Ilha , O Globo
As cenas de barbárie no presídio de Pedrinhas, no Maranhão, se repetem em outras prisões do país, diante da falta de controle do Estado sobre o que ocorre no sistema prisional brasileiro, alertam magistrados.
Em inspeções especiais ou no dia a dia nas Varas de Execuções Penais, eles souberam de casos chocantes de decapitação e vísceras espalhadas pelas celas, como no Rio Grande do Norte, governado por Rosalba Ciarlini (DEM).
No outro extremo do país, o governo do Rio Grande do Sul, sob adminitração de Tarso Genro (PT), tem até esta semana para cumprir o prazo estipulado pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e adotar medidas para retomar o controle do Presídio Central de Porto Alegre, onde facções criminosas executam desafetos com doses letais de cocaína, para mascarar os assassinatos, denuncia o juiz Sidinei Brzuska.
Tal quadro de descontrole — em um universo de 548 mil presos para apenas 238 mil vagas em todo o país — precisa ser enfrentado com uma ação coordenada entre Executivo, Judiciário, defensorias públicas e o Ministério Público, afirma o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.


Onda de violência no Maranhão constrange apoio do PT a Sarney


Fernanda Krakovics e Paulo Celso Pereira, O Globo
A crise na segurança pública do Maranhão, de repercussão internacional, fortalece os argumentos da ala do PT favorável ao apoio à candidatura de Flávio Dino (PCdoB) a governador do estado contra o PMDB da família Sarney.
A decisão — uma saia justa para o PT — será da Executiva Nacional e vem sendo adiada sucessivamente. A grande preocupação da família Sarney neste momento, no entanto, é com a possibilidade de uma intervenção federal, seja formal ou branca, no Maranhão.
O patriarca do clã, senador José Sarney (PMDB-AP), conversou ontem com o vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer, sobre o assunto.
Sarney reforçou a posição contra qualquer tipo de intervenção, alegando que não haveria sustentação jurídica e nem mesmo política para a medida, considerando que a governadora Roseana Sarney é aliada da presidente Dilma Rousseff.
Apesar da preocupação da família Sarney, os peemedebistas reconhecem que até agora o governo federal tomou todos os cuidados para não constranger Roseana. Mas até aliados da família admitem que a crise na segurança pública complicou a eleição de Roseana para o Senado e a do candidato do PMDB à sua sucessão, Luis Fernando Silva, atual secretário estadual de Infraestrutura.

Presídios: ‘Não falta dinheiro. Falta gestão’, diz Gilmar Mendes


Carolina Brígido e Francisco Leali, O Globo
O ministro Gilmar Mendes, que ajudou a criar os mutirões carcerários quando estava à frente do CNJ, cobra uma atitude, principalmente do governo federal, para acabar com o caos no sistema prisional e diz que contingenciar recursos do setor, em meio à crise atual, “é caso de se pensar em crime de responsabilidade”.
O Fundo Penitenciário (Funpen) tem um estoque de quase R$ 2 bilhões, mas o governo impede que boa parte seja gasta.
Como o senhor vê o sistema penitenciário brasileiro?
Nós temos aumentado significativamente o número de presos. Hoje falamos mais ou menos em 550 mil presos para 340 mil vagas. Só isso já mostra um descompasso. Estamos falando apenas do regime prisional completo. Falta aí talvez 25, 30 mil vagas para o semiaberto. Faltam vagas, há presos amontoados em delegacia, o que é flagrantemente ilegal. Em suma, temos todo um quadro preocupante.
O Judiciário tem parcela de culpa?
Os governadores, os gestores reclamam que a Justiça não consegue dar fluxo. Prende provisoriamente e depois não decide. No caso de homicídio, demora para fazer júri, demora nos julgamentos. Por isso, o tema tem que ser tratado de uma forma integrada, tem que ter uma estratégia global, holística para tratar do tema. Não pode ser nem só o Judiciário, nem só o Executivo, as defensorias públicas, o Ministério Público. Precisaria ter uma estratégia global para tratar dessa temática.
Depois das notícias de mortes bárbaras no presídio de Pedrinhas, no Maranhão, o senhor considera a situação do estado mais grave que a de outros?
Os fatos ocorridos são de extrema gravidade. Mas, por exemplo, na audiência pública que nós tivemos (no STF) sobre o regime semiaberto, o juiz da Vara de Execuções Penais de Porto Alegre disse que ninguém mais tem comando sobre o Presídio Central. Tem um preso que fica encarregado de fechar a sala, e este é um candidato a morrer daqui a pouco, porque está de alguma forma prestando serviço. Acredito que, de alguma forma, um quadro de desorganização, de caos, de falta de controle existe em vários lugares do Brasil.

                                                Foto: Jorge William/O Globo

Tristes feudos, por Mary Zaidan


A política provoca sentimentos antagônicos: acirramento de ânimos e desalento, conformismo e ativismo desenfreado, desinteresse de muitos, indignação de alguns. Seja como for, sem ela não há saída. A equação é cristalina: quanto maiores a participação e a pluralidade na representação política, maiores serão as exigências e as chances de desenvolvimento de uma cidade, região ou país.
Os estados do Maranhão e de Alagoas que o digam. Piores entre os piores, há anos eles travam uma luta árdua pelo último lugar no ranking de Desenvolvimento Humano (IDH), com Alagoas na rabeira e o Maranhão na 26º posição.
São estruturas de poder diferentes, mas de práticas quase idênticas: o Maranhão tem um só dono há mais de cinco décadas, o clã Sarney, e Alagoas alguns, Collor de Mello, Renan Calheiros, Teotônio Vilela. Terras que apostam suas fichas na ignorância -- 22,5% dos alagoanos e 19,3% dos maranhenses são analfabetos. Terras em que a ideologia e o partido são a família, que o Estado é a sala íntima do governante da vez.
Por mais graves que sejam a explosão de violência no presídio de Pedrinhas e o reflexo dela nas ruas de São Luís, com queima de ônibus e morte de uma criança de 6 anos ordenada por facções criminosas, elas são apenas parte do subdesenvolvimento imposto ao povo maranhense.
Reportagem do jornalista Demétrio Weber, publicada em O Globo informa que o Maranhão tem o maior percentual de miseráveis do país, 12,9%, tendo sido, na última década, o que menos conseguiu combater a pobreza extrema.


E daí? “O Maranhão está indo muito bem, talvez seja o único estado do Brasil que vai ter todas as suas cidades interligadas por asfalto”, diz a governadora Roseana, não deixando dúvidas quanto às escolhas de seu governo: prefere os empreiteiros e as obras visíveis. Isso explica por que dos 1,6 milhões de domicílios maranhenses só 7,6% têm acesso à coleta e tratamento de esgoto; apenas 184 mil residências têm banheiro, coleta e ligação à rede, 570 mil têm fossas rudimentares e 228 mil nem mesmo banheiro e vaso sanitário.
Nesse item, Alagoas está melhor na corrida entre os péssimos: as estruturas de saneamento chegam a 9,6% dos domicílios. Não alcançam 300 mil dos 3,3 milhões de habitantes do estado de Collor, Renan e Teotônio, ainda que este último tenha a seu favor a redução da miséria absoluta de 19% para 7,8% nos últimos 10 anos, sete dos quais sob sua tutela. Um pouquinho melhor, mas anos-luz de distância do que deveria ser.
Não é nada fácil mudar estruturas de poder enraizadas há décadas. Só o voto tem o dom de fazê-lo. Do contrário, continua-se pagando as lagostas de Roseana e a cabeleira de Renan.

Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas. Atualmente trabalha na agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'. Escreve aqui aos domingos. Twitter: @maryzaidan, e-mail: maryzaidan@me.com

O insulto pelo verbo

Dorrit Harazim, O Globo

“O comentário é livre, mas os fatos são sagrados”, ensinou o liberal britânico C.P. Scott, homem forte do “Manchester Guardian” por mais de meio século. Embora dirigida à tribo dos jornalistas, alguma serventia genérica a frase deveria ter para outros bípedes. Até mesmo para políticos.
Não foi o que norteou a governadora Roseana Sarney ao finalmente apresentar-se em público e dar sua primeira entrevista coletiva desde a exposição do Maranhão brutal. O país jamais havia visto imagens como as do açougue humano no qual se transformara o Complexo Penitenciário de Pedrinhas antes do Natal.
E São Luís ainda não desmobilizara de todo o temor de novo surto de violência comandada pelos detentos. O enterro da menina Ana Clara no início da semana, queimada no incêndio ao ônibus em que viajava com a mãe, servia de lembrete.
A entrevista da primeira mandatária do estado poderia ter tido função múltipla. Em primeiro lugar, dirigir-se à sua gente, aos maranhenses — sem esquecer de manifestar pesar público à família da menina incendiada. E por que não lamentar a morte dos detentos mortos sob a custódia do estado? Depois, responder às perguntas da mídia. Com fatos.
Roseana Sarney preferiu outro caminho. Se é verdade que a coragem pode ser contagiosa em determinadas circunstâncias, a tibiez certamente contagia o homem bem mais. Prova disso é a própria falência endêmica do sistema prisional brasileiro — com raras exceções, demandas são respondidas pelo poder público com empenho semelhante ao de atendentes de telemarketing.
A governadora inovou. Conseguiu ofender a razão ao alinhavar uma sucessão de frases que não fazem nexo nem soltas nem em conjunto. Vejamos:
Após passar à vol d’oiseau pelo choque que sentiu com a matança de presos em outubro, ressalvou que “até setembro, Pedrinhas tinha 39 mortes, estava portanto dentro do limite que se esperava”. Caso ela tenha se expressado bem, isso significa que apesar de estar no comando do estado há cinco anos a governadora opera com a expectativa de uma taxa anual de 39 presos chacinados em seus presídios.
“O Maranhão está indo muito bem. Talvez seja o único estado do Brasil que vai ter todas as suas estradas interligadas por asfalto.” Antes de asfaltar também os Lençóis Maranhenses seria bom a governadora se debruçar sobre os indicadores sociais do estado: segundo pior índice de mortalidade infantil do Brasil, metade da população sem rede de esgoto, quase 40% da população sem acesso a água tratada, segundo pior expectativa de vida do Brasil, dez piores escolas com piores índices no Enem.
Outras afirmações dispensam comentários: “O Maranhão está atraindo empresas e investimentos. Um dos problemas que estão piorando a segurança é que o estado está mais rico, o que aumenta o número de habitantes.”
Ou ainda: “Nosso sistema de saúde é muito bom para os presos.” Curiosamente, no plano de ação anunciado conjuntamente com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, um dos onze itens é justamente “Melhoramento no atendimento à saúde”.
Dado que promessas não poderiam faltar, ouvimos que seu governo vai investir R$ 131 milhões de reaparelhamento do sistema. Em dezembro, falou-se em erguer onze presídios em seis meses.
Talvez isso explique a singular interpretação da atual crise feita pelo secretário estadual de Justiça e Administração Penitenciária, Sebastião Uchôa, a propósito da construção de presídios. “Tem até males que vêm para o bem”, declarou em entrevista à Rádio Bandeirantes. “Por causa dos acontecimentos, olha os investimentos que estão sendo feitos!”
A governadora tampouco acertou ao se insurgir contra a divulgação, pela “Folha de S.Paulo”, do vídeo em que detentos filmam a barbárie cometida com três presos decapitados. Trata-se de imagens estarrecedoras, obrigatórias para quem quer entender e encarar o problema.
“A divulgação é repudiante”, disse Roseana através de nota, “pois fere todos os preceitos de direitos humanos e as leis de proteção aos cidadãos e à família (dos detentos mortos), que se vê novamente diante de uma exposição brutal”. Cabe a pergunta se quem feriu a lei de proteção aos três presos não foi o poder público, ao não impedir que eles fossem retalhados sob sua custódia.
Domingos Pereira Coelho é vendedor de frutas em São Luís. É pai de Dyego, 21 anos, um dos decapitados. A compostura, a precisão e a honradez com que respondeu às perguntas da repórter Juliana Coissi, da “Folha”, são desconcertantes em meio a tanta verborragia oca. Sim, ele assistiu ao vídeo uma vez, era preciso e foi embalar o filho pela última vez. Contou, um a um, 180 furos na parte da frente do corpo deitado de bruços.
O entregador de frango abatido Marcio Ronny da Cruz Nunes ainda não fala. Tem 37 anos, é pai de cinco filhos e voltava para a sua Minha Casa quando o ônibus em que viajava foi parado e incendiado. Salvou duas crianças, uma delas a menina Ana Clara, que estava em chamas e não conseguia sair. Marcio retornou ao fogo para resgatá-la.
Hoje ele está num hospital de Goiânia com queimaduras em 75% do corpo enquanto campanhas se multiplicam através de redes sociais para fornecer roupas, calçados e alimentos para seus filhos. Já é chamado de “Herói do Fogo” pela população local.
Segundo “O Imparcial”, o governo do Maranhão fez doação de cesta básica.
Até a noite de sexta-feira, a governadora não teve tempo de fazer uma visita de alento à família Nunes. Nem à da menina Ana Clara. Mas fez um pronunciamento gravado no dia da morte da menina:
“Reafirmo minha determinação em combater o crime. Não seremos subjugados nem nos deixaremos amedrontar por criminosos. Não fugirei à minha responsabilidade. Peço ao povo maranhense que não dê ouvidos a essa rede de boatos que tenta tumultuar o dia a dia da cidade.”
Roseana Sarney legítimo.

Dorrit Harazim é jornalista.