terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Conheça a casa do príncipe João de Orleans e Bragança - Casa Vogue

Além de ponto turístico, o casarão de 1850 possui tem agenda badalada e é o despojado lar de dom João de Orleans e Bragança e Claudia Melli

03/01/2017| TEXTO SIMONE RAITZIK | FOTOS ANDRÉ NAZARETH
cv376 editorial joao henrique de orleans (Foto:  André Nazareth) Claudia Melli posa na sacada do sobrado, construído por volta de 1850 em plena rua Fresca, de frente para o mar
                                                                                                                                                                  Difícil acreditar que o endereço do imponente sobrado de portas amarelas emolduradas com alizares verdes, na rua Fresca, um dos pontos mais privilegiados do centro histórico de Paraty, RJ, já não foi tão disputado. Sim, porque no plano urbanístico original dessa cidade fundada no século 17, toda a região voltada para o mar era reservada para o acúmulo de animais e lixo. Mesmo assim e sem nem ver a propriedade, datada de 1850, dom João Maria, pai de dom João de Orleans e Bragança e neto da Princesa Isabel, fechou negócio rapidamente.

cv376 editorial joao henrique de orleans (Foto:  André Nazareth)
                                                                                                                                                                  Na época, em plenos anos 1960, o acesso ao vilarejo ainda era precário e o local permanecia parado no tempo, alheio à especulação imobiliária. “Meu pai comprou o imóvel apenas pela descrição do anúncio, se comunicando por rádio”, conta João. “Ele era um desbravador e empreendedor. Tinha, na ocasião, adquirido uma fazenda bem próxima e pretendia investir para torná-la rentável. Como lá não havia sede, resolveu encontrar algo nas cercanias para se instalar. Foi dessa maneira que esse lugar incrível entrou para a história recente da família real. Quase por acaso. Hoje, moro e sou feliz aqui”, acrescenta.

cv376 editorial joao henrique de orleans (Foto:  André Nazareth)
cv376 editorial joao henrique de orleans (Foto:  André Nazareth)
                                                                                                                                                              Lá se vão quase seis décadas que o affair dos Orleans e Bragança com Paraty começou – mas, pelas aparências, o relacionamento tem ares de caso bem mais antigo. Quem entra agora no casarão, preservado com capricho por João e sua mulher, a artista plástica Claudia Melli, fica com a sensação de que o lugar pertence à dinastia real desde a fundação da cidade, em 1667.
cv376 editorial joao henrique de orleans (Foto:  André Nazareth)
                                                                                                                                                                  Por todos os lados, é possível vislumbrar vestígios de um passado nobre. “Resgato direto móveis, obras de arte e objetos que tenham a ver coma trajetória dos Orleans e Bragança. Reuni muita coisa que estava perdida entre os herdeiros. Acho importante resguardar e valorizar essas memórias”, diz ele, que pretende montar um museu onde vai incluir não apenas relíquias históricas, mas também tudo o que é relacionado com a identidade brasileira, de cultura a meio ambiente. “Sou um viajante, um aventureiro viciado em se embrenhar e descobrir o trabalho de artesãos por aqui e pelo mundo. Por onde passo eu garimpo arte popular. Atualmente, tenho mais de 250 peças”, conta ele.
cv376 editorial joao henrique de orleans (Foto:  André Nazareth)
cv376 editorial joao henrique de orleans (Foto:  André Nazareth)
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     Essa compulsão típica de colecionador acabou rendendo, recentemente, uma reforma na casa da rua Fresca, pilotada por Claudia, em parceria com o arquiteto paulista Renato Tavolaro. Cansada de não ter onde guardar os itens que se acumulavam pelos cantos, ela quis deixar o living mais organizado e leve. “Decidi conter o excesso de pompa e criar um clima confortável, descontraído, para receber os amigos de forma relaxada”, afirma ela, que sempre abre as portas para um almoço badalado durante a Flip.
cv376 editorial joao henrique de orleans (Foto:  André Nazareth)
cv376 editorial joao henrique de orleans (Foto:  André Nazareth)
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      Foi assim que o coração do sobrado assumiu ares contemporâneos, com uma estante de prateleiras finas de aço corten e tora rústica de madeira encaixada na alvenaria. “Colocamos um teto transparente, uma espécie de claraboia, que destaca as peças em exposição. Tudo ficou bem mais arejado e gostoso”, revela a artista, que dispôs ali uma de suas criações mais emblemáticas: um tríptico de nanquim sobre vidro que retrata o mar e o horizonte. “João também é fotógrafo e eu, muitas vezes, transfiro o meu ateliê do Rio para cá. Era essencial que essa casa tivesse um tom mais inspirador. Acho que chegamos no ponto. Nosso refúgio ganhou alma de artista”, arremata.
cv376 editorial joao henrique de orleans (Foto:  André Nazareth)

O Estado precisa de Indiferentes, Fracos e Covardes para Alastrar-se Irrefreadamente - por bordinburke


covarde
Você está caminhando pela calçada, quando, abruptamente, tem início um enfrentamento entre duas pessoas, bem ali na sua frente; é visível que uma delas encontra-se em franca desvantagem, e começa a apanhar copiosamente, de forma covarde (podemos até imaginar a cena do vendedor ambulante espancado até a morte em São Paulo); de súbito, você se dá conta de que a única coisa que pode por fim aquele padecimento é você mesmo. Mas para prestar este auxílio – ou seja, lutar contra o algoz juntamente com a vítima e equilibrar a disputa – faz-se necessário reunir, no mínimo, três elementos sem os quais não há chance de uma reação sequer ser esboçada: empatia, coragem e força.
empatia costuma ser definida como a capacidade psicológica para sentir o que sente outra pessoa caso estivéssemos na mesma situação vivenciada por ela. In your shoes, como dizem os usuários da língua inglesa, ou seja, estamos tratando da predisposição em imaginar como seria levar tamanha surra sem possuir recursos para reverter o quadro – e, consequentemente, concluir que algo precisa ser feito a respeito.
O conceito de coragem, ajustado ao caso em tela, nada mais seria do que a força espiritual necessária para ultrapassar aquela circunstância difícil, ou o destemor requerido para, mesmo ciente da real possibilidade de apanhar feito condenado e ter sua integridade física comprometida, ainda assim partir para o embate.
E a força adquire, nestas circunstâncias, um conceito amplo: seria a energia necessária para subjugar e eliminar a ameaça que põe em risco a vida do cidadão que está sendo massacrado. Pode ser a inteligência (gritar que a polícia está chegando e afugentar o valentão), a habilidade motora (uma gravata bem aplicada), a capacidade de improviso (usar objetos próximos como arma), a potência física (um bom soco no queixo) ou, melhor ainda, uma pistola na cintura (nem precisa explicar). É o espinafre do Popeye, em suma.
Reunidos os três atributos em uma mesma pessoa, ela certamente irá intervir no conflito e evitar o que pode vir a ser uma tragédia – sorte que não teve Luis Carlos Ruas quando da agressão brutal que ceifou sua vida. Mas minha intenção aqui não é julgar os transeuntes que testemunharam a cena na estação de metrô e nada fizeram em socorro do pobre senhor (até porque, humildemente, reconheço que não sei qual seria meu comportamento perante um episódio de tamanha violência), e sim correlacionar esta omissão com a inaptidão de nosso povo em conter o avanço desenfreado do Estado sobre sua vida.
Quando o governo começa a querer ditar regras demais na sociedade, e passa a determinar até mesmo como a pizza deve ser vendida ou proibir o comerciante de dar descontos, certamente é porque já chegou a hora de dar um basta no intervencionismo estatal. O enfrentamento contra esta imoderada invasão da esfera de mútuo entendimento entre os cidadãos já deveria ter sido deflagrado há tempos.
O cenário atual, todavia, mostra que estamos a assistir impavidamente às casas legislativas (e até mesmo o Executivo, com seus decretos draconianos, e o judiciário, com suas decisões teratológicas) emitirem leis e regramentos que nos dizem como criar e educar nossos filhos, especificam quem pode trabalhar ou não em determinada profissão, proíbem estados confederados de cobrarem menos tributos para atraírem empresas, estipulam qual cerveja pode ser vendida na praia, resolvem quanto deve custar para estacionar no shopping, desautorizam a extração de gás de xisto pelo método de fracionamento de rochas (processo que possibilita que os Estados Unidos sonhem com a independência energética), submetem a processo penal quem mata bandido em legítima defesa, e por aí vai.
E lá está o brasileiro, estático na calçada, vendo sua liberdade, sua autodeterminação, ser pisoteada sem misericórdia. E aí vem o questionamento: o que falta ao nosso povo para tomar uma atitude condigna? Empatia? Coragem? Força? Quem aguentou ler até aqui já deve ter deduzido que a situação de nossa autonomia como cidadãos não é animadora; provavelmente ela ainda vai tomar uma sova antes que alguém levante um dedo em seu favor. Mas por quê?
A predileção de nossa cultura por princípios coletivistas nos fornece uma boa pista. Na medida em que se exacerba a renúncia individual (pretensamente) em favor da sociedade, a submissão do cidadão aos supostos interesses comunitários (decididos por meia dúzia de “intelectuais”), perde-se, gradativamente, a noção de cooperação voluntária para com o próximo. Se o natural e aceito passa a ser convergir boa parte de nossos recursos para uma entidade centralizadora a partir da qual, aí sim, nossa ajuda poderá (em tese) chegar aos mais necessitados, a assistência direta de um indivíduo para o outro deixa de ser uma prática comum. Se eu já pago tanto imposto para o Estado, ele que ajude quem está precisado. E este sentimento, após décadas de cultivo no inconsciente coletivo, leva à indiferença mútua.
A empatia, neste cenário, resta deveras comprometida, e escasseia ainda mais quando distrações das mais diversas naturezas desviam o foco dos indivíduos dos reais problemas enfrentados diariamente por seus concidadãos. Enquanto a violência, a falta de saneamento básico, o desemprego, o transporte caótico são adversidades que assolam parcela significativa da população, os demais membros nada podem fazer a respeito, visto que estão “ocupados” demais sendo bombardeados pela mídia com libertinagem sexual, drogas em profusão e a cultura de que a única forma de “aproveitar a vida” é farrear 99% do tempo. É o circo dos tempos modernos – mas neste picadeiro só entram adultos; bom, isso enquanto o tal de “amor intergeracional” não for insuflado mais vigorosamente pela rede progressista de televisão.
Já a coragem torna-se artigo de luxo a partir, especialmente, do conforto proporcionado pelo próprio capitalismo. Se eu posso fazer quase tudo do sofá de casa, a comodidade toma conta do estado anímico do homem médio, e aquilo que, a priori, é extremamente benéfico para nossa evolução, acaba por nos “emascular”. Some-se a isso o efeito do politicamente correto e da ideologia de gênero, que convence a todos que “palavras machucam” e que o sexo das pessoas pode “flutuar” ao sabor do vento, e esse processo de amansamento excessivo dos membros de nossa sociedade ganha contornos de filme de terror. O resultado: marmanjões “pacifistas” protestando contra estupros usando saias e europeus recebendo “refugiados” (de países que não estão em guerra?!) com flores na mão (síndrome de Estocolmo – ou seja, medo – em estado puro).
Na medida, outrossim, em que o contínuo processo de divisão e especialização do trabalho permite que muitas pessoas desempenhem tarefas puramente intelectuais (e mesmo trabalhos outrora pesados foram “amaciados” pela tecnologia), diversos desafios enfrentados pela humanidade em períodos remotos (como caçar para sobreviver, lutar contra invasores de espada em punho, arar a terra manualmente ou até rachar lenha) e que forjavam um caráter beligerante na sociedade deixaram de existir, contribuindo, também, para que a intrepidez se tornasse uma qualidade rara. Quando os “protestos” de nossa era resumem-se a hashtags revoltadas, fica mais fácil visualizar este inconveniente. Podemos terceirizar a segurança de nossas casas, mas o preço disso é o relaxamento do espírito combativo instintivo do ser humano.
E de que servem coragem e empatia, pois, se não possuirmos meios de contrapormo-nos a imposições contrárias a nossos valores? Não por acaso, o desarmamento da população é questão de honra para todo governo com pretensões totalitárias. A noção mais comezinha de qualquer estratégia tirânica é a de que o cidadão ordeiro, cumpridor das leis, não pode portar um artefato com o qual ele possa opor resistência ao detentor do monopólio do uso da força. Ademais, uma vez desarmado, este indivíduo irá sentir-se impotente e amedrontado – dois coelhos com uma cajadada, portanto. Quem assiste ao seriado The Walking Dead e conhece o personagem Negan sabe do que estou falando.
Já o desenvolvimento da inteligência, uma das mais poderosas armas do indivíduo contra a dominação, também é sonegado em nossas paulofreirianas escola: se o conhecimento deve ser “construído” pelo próprio aluno, desobriga-se o professor de transmitir conhecimento e o aluno, em verdade, não constrói coisíssima nenhuma em sua mente; bom, talvez ele saia do colégio entoando canções de cunho marxista. Cidadãos idiotizados não tem como resistir ao avanço do Estado sobre suas vidas. Sequer dar-se-ão conta do que está acontecendo a sua volta.
Outra forma de enfraquecer um povo é levá-lo ao estado de penúria. A miséria humilha o ser humano na medida em que reduz suas ambições a, tão somente, sobreviver mais um dia. Toda sua energia precisa ser canalizada para sua própria subsistência e a de seus dependentes. Não deve estar nada fácil, neste contexto, para que os venezuelanos deem um basta nos desmandos de Maduro.
Já a comunicação entre os potenciais agredidos e a decorrente possibilidade de expressarem publicamente seu descontentamento independentemente da mídia tradicional – recurso materializado pelas ferramentas da grande rede mundial de computadores – também representa uma poderosa arma em favor da liberdade, e, por isso, é alvo de ofensivas constantes, tais quais o medonho marco civil da Internet e, mais recentemente, a lorota do “fakenews” ou “pós-verdade” – mero bater de pés dos descontentes com o avanço do conservadorismo e do liberalismo clássico.
Por fim, existe um núcleo de convivência que costuma agregar muita força quando unido: a família. Eis porque esta sofre ataques constante das milícias “progressistas”, visto ser um dos últimos focos de resistência contra aspirações absolutistas governamentais. Afinal, o paternalismo estatal pode perfeitamente substituir a falta de referências paternas, não é mesmo?
E, neste sentido, torna-se mandatório agredir a cultura judaico-cristã, especialmente permitindo a entrada indiscriminada de muçulmanos no Ocidente, visto serem eles, juntamente com os regimes comunistas, os principais responsáveis pela caça aos “infiéis” no último século – apenas em 2016, foram 90.000 que perderam a vida por sua fé. Ainda, como muitos grupos religiosos costumam promover inúmeras campanhas visando ajudar ao próximo, “usurpando” a competência do Estado em distribuir esmolas, fica mais claro ainda porque eles precisam ser malditos dia e noite por quem nos quer ver debilitados e dependentes da administração pública.
Por nos sentirmos enfraquecidos, acovardados e não contarmos com a empatia de nossos semelhantes, clamamos, pois, por mais e mais proteção estatal – justamente o ente mais interessado e maior beneficiário de nossas insensibilidade, fraqueza e covardia.
E isso tudo, por acaso, faz parte de uma conspiração orquestrada por indivíduos reunidos em uma sala fumando charutos, e que possui agentes em todos os cantos infiltrados? Não creio – muito embora o Foro de SP não corrobore com este entendimento. A maioria das pessoas que colabora com a perpetração deste processo de agigantamento do Estado o faz por...medo, fraqueza e apatia! É, pois, um sistema que se retroalimenta, e cresce como uma bola de neve. E impor obstáculos a livre descida desta bola é dever de todo cidadão dotado de empatia, coragem e força, especialmente transmitindo tais predicados, em suas mais diversas facetas, ao maior número possível de pessoas. Muito embora não seja possível comprá-los na esquina, até o menor dos animais, quando acuado, encontra força e coragem para contra-atacar. E o Leão já nos encurralou na parede faz tempo...

Em busca de custos menores, empresas brasileiras abrem fábricas no Paraguai‘

- Reportagem do Estadão de hoje.

China latino-americana’. Com incentivos fiscais, Paraguai quer ser plataforma de produção barata e livre de burocracia para abastecer mercado brasileiro; Brasil responde por dois terços do investimento feito no país, que, em três anos, ganhou 78 indústrias e 11 mil empregos
       
Fernando Scheller (textos) e Daniel Teixeira (fotos), enviados especiais a Assunção (Paraguai) ,

Para exportação. Linha de produção da Texcin foi montada no Paraguai para fabricar peças para a Riachuelo no Brasil; unidade emprega 300 pessoas, mas número pode chegar a 1,5 mil
Enquanto o desemprego no Brasil se aproxima de 12% em meio a dois anos seguidos de encolhimento da economia, há indústrias brasileiras abrindo novas fábricas e criando milhares de novos empregos diretos. Esses investimentos, no entanto, são realizados no Paraguai, país que quer aproveitar a proximidade com o Brasil para ser uma plataforma de produção barata e livre de burocracia para o abastecimento do mercado de consumo brasileiro.
A estratégia de atrair investimentos e empregos ao abrir mão da cobrança de impostos tem dado resultado. A lei da maquila, que garante o pagamento de apenas 1% de tributo às companhias que abrirem fábricas no Paraguai e exportarem 100% da produção, existe desde 1997. Outras vantagens incluem gastos menores com mão de obra e energia elétrica (veja quadro). O salto quantitativo desse programa, porém, se deu nos últimos três anos – justamente quando a economia brasileira começou a andar para trás.
Embora o total de empregos gerado pelas “maquiladoras” ainda seja pequeno em comparação ao tamanho da economia brasileira, o ritmo de migração de investimentos do Brasil para o Paraguai está em aceleração. Das 124 indústrias incluídas no programa de maquilas, 78 abriram as portas desde 2014. Dos 11,3 mil empregos gerados pelo programa, 6,7 mil são fruto dos investimentos dos últimos três anos. E existem mais projetos de expansão que devem gerar milhares de vagas em 2017.
Interesse. O Foro Brasil-Paraguai, sediado em Assunção e dedicado exclusivamente a apresentar as oportunidades do país a brasileiros, recebe dezenas de consultas por semana. A entidade calcula que dois terços dos investimentos no Paraguai nos últimos anos sejam de empresas de capital brasileiro. Mas o País também tem um forte peso no terço restante: as montadoras estrangeiras começaram a produzir peças em solo paraguaio para abastecer as montadoras instaladas no Brasil.
A transformação do Paraguai em uma “China da América do Sul” é um projeto do presidente Horacio Cartes, no poder há três anos. A prioridade de Cartes – que também é um dos empresários paraguaios mais ricos – é gerar empregos para a mão de obra paraguaia. Mais de 70% da população de 6,8 milhões de habitantes tem menos de 30 anos e boa parte ainda atua na informalidade.
Paraguai
Para exportação. Linha de produção da Texcin foi montada no Paraguai para fabricar peças para a Riachuelo no Brasil; unidade emprega 300 pessoas, mas número pode chegar a 1,5 mil
A estratégia é elogiada pelo setor produtivo. Cartes, porém, enfrenta críticas por ter abandonado programas sociais, em especial no interior. Durante a passagem pela reportagem do Estado por Assunção houve um protesto contra o atual presidente – com direito a cartazes “Fora Cartes”. Uma recente pesquisa põe o índice de popularidade do presidente em 23%, um dos mais baixos da América Latina. Além disso, o socialista Fernando Lugo, deposto em 2012, é um nome que ganha força para as eleições de 2018.
O discurso do governo paraguaio é que o programa de maquilas visa a construir uma parceria com o Brasil. “A ideia é que nós venhamos a substituir os produtos que as empresas brasileiras hoje trazem da China”, diz o ministro da Indústria e Comércio do país, Gustavo Leite. Porém, segundo o vice-presidente do Foro Brasil-Paraguai, Junio Dantas, é impossível saber se o investimento no Paraguai substituirá empregos no Brasil ou na China. “É uma decisão do empresário.”
Aceleração. Entre as empresas que estão usando o Paraguai para substituir importações chinesas está a Riachuelo. Foi a rede brasileira que viabilizou a Texcin, indústria montada pelo paraguaio Andrés Gwynn. Hoje, a fábrica emprega 400 pessoas e produz 300 mil peças ao mês. Mas o contrato de dez anos com a Riachuelo prevê que, dentro de um ano e meio, a produção seja elevada a 1 milhão de unidades. Com isso, os funcionários chegarão a 1,5 mil.
Gwynn conta que teve a ideia de atrair a Riachuelo ao Paraguai ao ver a foto do presidente da empresa, Flávio Rocha, em uma banca de revista no Aeroporto de Guarulhos. O empresário ligou para a secretária de Rocha e, após alguns dias de insistência, conseguiu uma reunião de cinco minutos para apresentar as vantagens do Paraguai. “Acabamos conversando o dia todo”, lembra Gwynn.
Indústrias que enfrentam forte concorrência de produtos baratos vindos da Ásia – como materiais plásticos, brinquedos e confecções – estão entre as mais propensas a aproveitar as vantagens da lei das maquilas. Uma das pioneiras do movimento foi a X-Plast, que fechou a unidade no interior de São Paulo e se instalou há três anos em Ciudad del Este, a 4 km da fronteira com Foz do Iguaçu. Procurada, a empresa não respondeu aos pedidos de entrevista.
As marcas brasileiras Bracol e Fujiwara, de sapatos para trabalhadores industriais, decidiram aproveitar as vantagens de custo do Paraguai em 2014. Elas são sócias de Andrés Gwynn na Marseg. A empresa chegou a ter 1,5 mil empregados. Com a crise no Brasil, que afetou em cheio a indústria, cortando mais de 30 mil empregos apenas em montadoras, a Marseg reduziu os funcionários para 800.
Autopeças. As companhias internacionais de autopeças também estão migrando para o Paraguai. O sócio da Riachuelo no país, que também atua como cicerone para empresários estrangeiros, já ajudou a trazer seis fornecedoras de montadoras para o Paraguai. Entre essas companhias está a alemã Leoni, que produz chicotes elétricos.

O gerente da unidade da Leoni no Paraguai é o brasileiro Fábio Lopes da Silva. Ele conta que a maior parte da produção vai para montadoras instaladas no Brasil, onde a empresa mantém uma planta em Itu (SP), com 500 funcionários. Embora não haja planos para desativar a fábrica no Brasil, Silva diz que, com o tempo, a planta paraguaia se tornará mais importante. “Hoje, empregamos aqui 300 pessoas, mas o projeto é ampliar para mil colaboradores.”

Guerra Santa da Suécia contra Livros Infantis

  • Levado ao extremo, o impulso desenfreado de limpar uma cultura de elementos que não estejam a altura da ortodoxia politicamente correta atualmente em voga na política, desconcertantemente ecoa a fé do Talibã e do ISIS de destruir tudo aquilo que não esteja de acordo com suas visões alcorânicas. O desejo de "não ofender", levado a sua conclusão lógica, é um impulso totalitário que ameaça destruir tudo aquilo que está em discordância com suas doutrinas. Basicamente, quem vai decidir o que é ofensivo?
  • A pergunta que não quer calar é a seguinte: quanta expurgação e expiação são necessárias para tornar a cultura de um país politicamente correta?
  • "Quando houver festa à fantasia e música, o objetivo é que estes dias sejam experimentados de maneira positiva por todos. Não é permitido o uso da bandeira sueca em trajes de festa à fantasia. ... Sensações positivas e animadas devem ser o foco. ... Nas fotos escolares obviamente não devem constar símbolos nacionais". — Escola sueca em Halmstad.
  • Roma cobriu suas clássicas estátuas de nus em razão da visita do Presidente do Irã Hassan Rouhani, em janeiro de 2016. Quem poderia ter imaginado uma bajulação dessas há uma década?
Em 1966 Jan Lööf, um dos mais estimados escritores de livros infantis da Suécia, publicou Vovô é um Pirata, um livro infantil ilustrado que destaca entre vários personagens Omar, o pirata malvado e Abdullah, o camelô. O livro é um best seller desde então, sendo traduzido para o inglês, espanhol, francês e outras línguas. Há dez anos 100.000 cópias foram distribuídas ao público sueco juntamente com as refeições do McDia Feliz do McDonald's, como parte de uma iniciativa para estimular a leitura nas crianças.
Ah, mas esses foram os dias de outrora! Hoje, cinquenta anos depois, não é mais nem aceitável. O autor, já com 76 anos de idade assinalou aos veículos de comunicação suecos que a editora o informou recentemente que a menos que ele o reescreva e dê uma nova cara às ilustrações, o livro será retirado do mercado. A editora também ameaçou retirar outro de seus livros a menos que ele o refaça: o livro salienta a ilustração de um músico negro de jazz que dorme sem tirar os óculos.
A editora de Lööf', a gigante sueca Bonnier Carlsen, ressaltou que ainda não tinha tomado a decisão final e que considera a "adaptação", tanto escrita como ilustrativa, apenas "uma opção". Não resta dúvida, no entanto, que a editora considera os livros em questão um assunto extremamente delicado.
"Os livros estereotipam outras culturas, o que não causa espécie, já que todas as ilustrações são criadas dentro de um contexto, em sua própria época; os tempos mudam", ressaltou Eva Dahlin, chefe do departamento literário de Bonnier Carlsen.
"Mas, por exemplo, se você vem do Oriente Médio, é possível que você fique incomodado de quase nunca ver personagens do Oriente Médio de forma positiva nas retratações literárias. Os livros infantis são um caso à parte porque são lidos e relidos durante um longo espaço de tempo e as normas do passado vivem neles, inalteradas. Como adulto é possível ver as coisas sob um prisma nostálgico e não se dar conta de que determinados aspectos podem ser vistos como problemáticos pelos outros".
Dahlin explica adiante que a editora passa um tempão revisando publicações antigas, com o objetivo de averiguar se há esse tipo de passagens "problemáticas". Ela acrescentou que a editora não procura apenas passagens culturalmente sensíveis:
"Há um sem número de revisoras e, por conseguinte, somos provavelmente mais naturalmente cônscios no tocante a retratações preconceituosas quanto ao gênero do que a esse tipo de problema. Agora porém temos mais insights e maior conscientização em relação a esses problemas".

Jan Lööf, um dos mais queridos escritores de livros infantis da Suécia foi informado recentemente, pela sua editora, que a menos que reescreva o livro e redesenhe as ilustrações do seu best seller de 1966, Vovô é um Pirata, para que sejam mais politicamente corretas, a publicação será retirada do mercado.

A Suécia está acostumada com "revisões literárias" desse tipo ou com qualquer outra revisão cultural em nome da correção política. Pippi Longstocking bem como outros livros infantis passaram por uma série de revisões ou até mesmo foram retirados do mercado. Na série televisiva Pippi Longstocking, uma cena na qual Pippi força a vista para parecer chinês foi totalmente cortada para que ninguém se sinta ofendido. Em 2013, o prestigiado e premiado livro infantil dinamarquês O Quiosque de Mustafá, de Jakob Martin Strid, foi retirado do mercado na Suécia após críticas nas redes sociais de que era racista e "islamofóbico". Ironicamente o autor o escreveu em 1998, como uma "declaração antirracista", quando se encontrava na Indonésia, o país muçulmano mais populoso do mundo. De forma reveladora, o livro permaneceu nas estantes das livrarias desde 2002, sem reclamações. Em resposta às críticas, o escritor dinamarquês observou que uma sociedade igualitária e não racista advém somente "quando é permitido zombar (carinhosamente) de todos". "Eu também brinco com os noruegueses", assinalou ele.
Em 2014, após reclamações nas redes sociais suecas de que alguns de seus doces eram "racistas", a empresa Haribo resolveu mudar um de seus produtos, o "Skipper Mix", que era composto de doces em forma de souvenirs de marinheiro, incluindo máscaras africanas.
A pergunta que não quer calar é a seguinte: quanta expurgação e expiação são necessárias para tornar a cultura de um país politicamente correta?
Esta questão levanta outra ainda maior: quão alto é o preço da correção política em termos de "limpeza" do passado e do presente, de insultos aparentes, em qualquer que seja o lugar, para que agrade a todos?
Levada ao extremo, o impulso desenfreado de limpar uma cultura de elementos que não estejam a altura da ortodoxia politicamente correta atualmente em voga na política, desconcertantemente ecoa a fé do Talibã e do ISIS de destruir tudo aquilo que não está de acordo com suas visões alcorânicas. O desejo de "não ofender", levado a sua conclusão lógica, é um impulso totalitário que ameaça destruir tudo aquilo que está em discordância com suas doutrinas. Basicamente, quem vai decidir o que é ofensivo?
O que começa de maneira totalmente inocente, como tirar passagens de livros que podem ferir as susceptibilidades de alguém, pode acabar em algo bem mais sinistro, como de fato aconteceu na Suécia. O ex-primeiro-ministro sueco Frederik Reinfeldt, de maneira memorável, declarou em 2014 que a Suécia pertence aos imigrantes, não aos suecos que estão aqui há muitas gerações. Com isso ele externou que acredita que o futuro da Suécia não será moldado pelos suecos, mostrando um curioso desprezo por sua própria cultura.
Esse desprezo se espalhou por toda a Suécia governamental. Em 2014, uma escola sueca em Halmstad proibiu a exibição da bandeira sueca depois que um estudante pintou o rosto com as cores suecas em uma festa à fantasia. De acordo com as novas regras, a escola especificou porque:
"A maioria dos estudantes querem as tradições escolares. Quando for a época de festa à fantasia e música, o objetivo é que estes dias sejam experimentados de maneira positiva por todos. Não é permitido o uso da bandeira sueca em trajes de festa à fantasia. ... Sensações positivas e animadas devem ser o foco. ... Nas fotos escolares obviamente não devem constar símbolos nacionais".
O "precedente" para esse tipo de regra, contudo, já tinha sido estabelecido há dez anos, em 2004, em uma escola em Vaargaarda, quando duas meninas usavam blusas de moletom impressas com a bandeira sueca e com a palavra "Suécia". Disseram às meninas que este tipo de vestimenta não era permitido na escola. Uma das meninas contou aos repórteres que cantar o hino nacional também tinha sido proibido na escola.
Em 2012, dois membros do parlamento sueco sugeriram que as estátuas dos reis suecos Carl XII e Gustav II Adolf deveriam ser removidas, porque elas representam a época na qual a Suécia era uma grande potência militar, "um período negro em nosso país, assim como em outros países que sofreram com a agressão sueca", conforme os parlamentares apontavam na moção. No lugar das estátuas, segundo a sugestão dos parlamentares, as praças no centro de Estocolmo deviam ser decoradas de modo que "sinalizem paz, tolerância, diversidade, liberdade e solidariedade".
Em 2013, uma pintura barroca da deusa Juno despida foi retirada do restaurante do parlamento sueco, com a clara intenção de evitar ofender as suscetibilidades feministas e muçulmanas.
Os casos acima não devem ser descartados como práticas excêntricas peculiares à Suécia. Muito pelo contrário, eles apresentam um perfeito estudo de caso sobre as consequências da cultura do politicamente correto levada ao extremo.
A bem da verdade, essas consequências já estão proliferando em todo o mundo ocidental. Uma instância particularmente digna de nota ocorreu quando o presidente iraniano Hassan Rouhani visitou Roma em janeiro de 2016. Para evitar que Rouhani fosse acometido por um "choque hormonal e rasgasse os contratos que acabavam de ser assinados com nossas indústrias italianas", conforme ressaltou o colunista italiano Massimo Gramellini: Roma cobriu suas clássicas estátuas de nus. Quem poderia ter imaginado uma bajulação dessas há uma década?
Recentemente na Grã-Bretanha estudantes fizeram campanha para a remoção de símbolos do imperialismo britânico, como a estátua de Cecil Rhodes na Universidade de Oxford. Esses estudantes alegam que a campanha não se restringe apenas à estátua propriamente dita, mas que se trata de "...uma campanha contra o racismo em Oxford, do qual a estátua de Rhodes é apenas mais uma peça simbólica". Já no ano 2000, o prefeito de Londres Ken Livingstone sugeriu que as estátuas de dois generais britânicos do Século XIX deveriam ser removidas da Trafalgar Square em Londres, fundamentado em sua própria ignorância:
"As estátuas posicionadas nos pedestais na principal praça da nossa cidade capital deveriam ter a identificação para a população em geral. Eu não faço a menor ideia de quem são esses dois generais e nem o que eles fizeram. Eu imagino que sequer uma entre 10.000 pessoas que vão à Trafalgar Square sabe alguma coisa sobre a vida desses dois generais. Talvez já esteja na hora de removê-las e colocar em seu lugar figuras que os cidadãos de Londres e de outros países ao redor do mundo saibam quem são". O problema envolvido em tudo isso, é óbvio, é que a riqueza e grandeza de Londres em termos de arte e arquitetura se devem em grande medida ao colonialismo britânico, de modo que a questão é: exatamente quantas construções permanecerão em pé na capital britânica se esta questão for levada a sério até o fim da sequência lógica.
O problema em querer apagar por completo a história e a cultura, por assim dizer, é que, obviamente, países não têm condições de simplesmente pressionar a tecla "delete" em sua cultura e história. Uma medida dessa envergadura acarretaria não só na remoção de livros, pinturas e estátuas e sim em um expurgo total. As pessoas que realmente se importam com a história sabem que esse tipo de experiência já foi tentado anteriormente, não uma, mas diversas vezes, por vários movimentos comunistas e nazistas do Século XX. Embora não haja comparação entre aqueles movimentos e a cultura da correção política, o impulso por trás deles, no entanto, permanece o mesmo: Forjar e impor uma "verdade" singular em todos e arrancar pela raiz tudo aquilo que não se encaixa no molde utópico. Isso não é nem "diversificação" nem "tolerância".
Judith Bergman é escritora, colunista, advogada e analista política.

O POEMA PERDIDO DE FERNANDO PESSOA



Fernando Pessoa é uma mina de diamante inesgotável. Quando se acredita que não há mais nada a descobrir, aparece alguma coisa, e relevante. Agora, surge um novo e belo poema, pelas mãos do advogado brasileiro José Paulo Cavalcanti Filho. O biógrafo do bardo português adquiriu um “livro de autógrafos”, no qual, durante uma travessia marítima, em 1918, o adolescente José Osório de Castro Oliveira (1900-1964) colhia recordações de seus companheiros de viagem.
No lugar de uma anotação trivial, Fernando Pessoa escreveu um poema:
Cada palavra dita é a voz de um morto.
Aniquilou-se quem se não velou
Quem na voz, não em si, viveu absorto.
Se ser Homem é pouco, e grande só
Em dar voz ao valor das nossas penas
E ao que de sonho e nosso fica em nós
Do universo que por nós roçou
Se é maior ser um Deus, que diz apenas
Com a vida o que o Homem com a voz:
Maior ainda é ser como o Destino
Que tem o silêncio por seu hino
E cuja face nunca se mostrou.
Fernando PessoaO poema foi publicado pelo jornal “Folha de S. Paulo” e alcançou repercussão em Portugal. O jornal “Público”, do país de Fernando Pessoa, menciona que o poema havia sido recolhido por “João Dionísio na edição de 2005 da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, ‘Poemas de Fernando Pessoa: 1915-1920’. Só que a versão que agora veio a lume é anterior e substancialmente diferente da já publicada, e tudo leva a crer que é a versão definitiva do poeta. Foi escrita, aparentemente de uma só penada, em 1918 — tinha Pessoa 30 anos”.

FONTE - http://www.revistabula.com/6742-o-poema-perdido-de-fernando-pessoa/