terça-feira, 23 de abril de 2013

A charge de Néo Correia



Rosas de abril - DORA KRAMER



O ESTADÃO

A sindicância interna do Palácio do Planalto cujo resultado – parcial ou integral – está na revista Veja desta semana revela mais detalhes sobre a sem cerimônia com que Rosemary Noronha tratava de seus interesses no governo Luiz Inácio da Silva, valendo-se de mordomias e destratando subordinados com a arrogância tosca dos deslumbrados e a insolência decorrente da segurança das costas mantidas quentes por ninguém menos que o presidente da República.

A história cria uma situação e suscita duas indagações. Primeiro, é mais um fator de constrangimento para o ex-presidente.

Acrescenta-se à abertura de inquérito na Procuradoria da República no Distrito Federal para esmiuçar o depoimento de Marcos Valério de Souza sobre a participação de Lula no mensalão e à investigação do Ministério Público da Costa Rica em contratos da construtora Odebrecht no país obtidos com o apoio assumido de Lula.

Afinal de contas, Rose só agia como agia, só tinha todas as portas abertas, só operava livremente, só era bajulada por autoridades, lobistas e aspirantes a beneficiários de traficâncias, só foi mantida pela presidente Dilma Rousseff na chefia do gabinete da Presidência em São Paulo em função de sua proximidade com o homem que governou o Brasil por oito anos, carrega uma popularidade imensa e dita os rumos do partido locatário (que se considera proprietário) do poder central.

Não por outro motivo que a intenção de amainar o desconforto de tal ligação entre causa e efeito, assim que encontrou uma brecha no escândalo Rosemary, Lula entrou em cena falando na eleição presidencial de 2014 a fim de mudar o assunto e atrair para o campo da política as atenções até então voltadas para um caso de polícia.

Vamos às indagações: uma que fica no ar diz respeito às razões pelas quais o governo, tão avesso a sindicâncias, notadamente as produtivas em termos de resultados, de alguma forma possibilitou que as informações chegassem à imprensa.

A outra dúvida é se essas informações chegaram completas ou incompletas. O relatório fala sobre mordomias, favorecimento indevido a amigos e parentes, obtenção de vantagens pessoais, falsificação de documentos, mas não se sabe se há neles alguma narrativa sobre outras e mais ações ilegais.

Rosemary Noronha, não se pode esquecer, é alvo de pedido de indiciamento em inquéritos da Polícia Federal, acusada por falsidade ideológica, corrupção ativa e tráfico de influência. Quer dizer, tem passivo policial substantivo.

A oposição cobra do governo a divulgação da íntegra do resultado da sindicância e tem razão. É preciso que o Planalto diga se é só isso ou se há mais. Se não há, a investigação não se deu por completada. Caso haja, trata-se de pasta de dente que não volta ao tubo.

Se o Planalto ajoelhou, tem que rezar. A recusa levaria à suposição de que aceitou revelar uma parte da história apenas para dar uma satisfação a cobranças inevitáveis na campanha eleitoral, com o intuito real de encobrir o restante de uma narrativa bem mais familiar ao Código Penal que afagos indevidos de diplomatas subservientes, escambo de favores com postulantes a benesses de governo e grosserias que em altos escalões da República são vistos como sinal de autoridade.

Síntese.
Em seu artigo de domingo no jornal O Estado de S. Paulo sobre Margaret Thatcher, o prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa inclui entre os atributos que admirava na “Grande Dama” a capacidade de dizer sempre aquilo em que acreditava e agir sempre de acordo com o que dizia.

Vargas Llosa diz ter conhecido poucos políticos com essa característica. Teve sorte de conhecer algum, porque nós – para falar só do Brasil – não conhecemos nenhum.

Agora, não há mais dúvida: o Planalto quer destruir Rosemary e levar Lula de roldão, para inviabilizar a candidatura dele em 2014.



Carlos Newton
Ninguém esperava por isso. Acreditava-se que o caso Rosemary estivesse caindo no esquecimento. Mas de repente tudo mudou. E o próprio Plaácio do Planalto passou a atacar Rosemary e trazê-la ao noticiário, depois de cinco meses de sigilo total.
Primeiro, foi anunciado que a Comissão de Ética da Presidência  iria apurar as implicações da Operação Porto Seguro. Depois, o próprio Planalto vazou a informação de que Rosemary Noronha já foi alvo de uma investigação sigilosíssima, solicitada pela ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que, ao ler o relatório, determinou a instauração de um processo administrativo contra a ex-funcionária e recomendou que o Itamaraty apurasse o episódio.
Ato contínuo, o Planalto também vazou a informação de que, com apoio da Controladoria-Geral da União, “técnicos do governo apuraram que a ex-chefe do Gabinete da Presidência da República não foi a Roma a trabalho”, referindo-se a uma visita à cidade eterna, quando se hospedou na Embaixada com o marido.
Vazou mais ainda o Planalto, divulgando que os tais “técnicos” recomendaram que Rosemary fosse investigada por suspeita de enriquecimento ilícito.
Traduzindo: o Planalto (leia-se: Dilma Rousseff e seus seguidores) quer arrebentar com Rosemary Noronha, não há a menor dúvida, e o alvo na verdade nem é ela. As baterias atiraram nela, mas querem acertar o ex-presidente Lula e detonar definitivamente qualquer possibilidade de candidatura dele, deixando Dilma Rousseff sozinha na escuderia do PT.
Alguém ainda tem dúvida? Essa é a jogada, que era de bastidores e agora é executada abertamente, mostrando que não há mais a dupla Lula/Rousseff. O que existe hoje é Dilma contra Lula, e isso significa Lula contra Dilma, e ninguém sabe nessa briga quem é Darth Vader ou Lucky Skywalker.
O assunto abala as estruturas do poder e amanhã a gente volta a focalizá-lo, analisando a estratégia dos dois grandes advogados contratados por Rosemary – Fábio Medina Osório e Aloisio Zimmer Junior. O Planalto não esperava o contra-ataque de Rose, que agora realmente está bem assessorada, para o que der e vier.

PT E A IMPRENSA LIVRE



Magu
Foi novidade para mim descobrir que o Ricardo Setti, da revista Veja, inclui um “post do leitor” em sua coluna na revista. E detonou forte, publicando o leitor Milton Simon Pires. Intitulado Controle de Imprensa – Emir Sader e as Ilusões Garantidas, utilizando-se de uma antítese com Honoré de Balzac, as Ilusões Perdidas, mostra que tem preparo.
Ricardo Setti
Ricardo Setti
Com um subtítulo meio longo, O PT não pode permitir uma imprensa livre por que esta é incompatível com seu plano de poder e de controle da informação na sociedade, o leitor demonstra uma percepção afiada. Não bastasse seu bom artigo, em comentários ao mesmo post acaba por produzir mais dois “tratados”, que não devem ser deixados de lado. O direcionamento da matéria tem tudo a ver com o que pensam nossos leitores delinqüentes geriátricos, anti-petralhas na medula e, para não ser injusto, também aqueles leitores que não são geriátricos. Delinqüentes, no bom sentido, naturalmente, já não posso afirmar (frouxos de risos)…
Romance que tem como personagem principal o jovem Lucien Chardon, é uma crônica social da França do século XIX no período da Restauração. Narra principalmente a decepção do jovem poeta interiorano que, em meio a hipocrisia de Paris e tendo falhado como escritor, procura no jornalismo o caminho para o sucesso.
Sem Lei de Imprensa ou Fórum Nacional para Democratização das Comunicações, imagino que o sofrimento de Lucien ao enfrentar os interesses da mídia privada seria um prato cheio para o nosso Emir Sader quando escreveu “Imprensa livre é imprensa privada?”

Leia mais:Post doLeitor“OPT não pode permitirumaimprensa livre

CHARGE DO SINFRONIO




Esta charge do Sinfrônio foi feita originalmente para o